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Roberta Werlang Isolan Cury

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Roberta Werlang Isolan Cury

Análise da fala na acromegalia

DOUTORADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem sob a orientação da Profa. Dra. Zuleica Camargo

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de Estudos Pós Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem LAEL-PUC SP

Tese de Doutorado

Análise da fala na acromegalia Data da defesa: 24/06/2014 Roberta Werlang Isolan Cury

Orientadora: Profa. Dra. Zuleica Camargo

ERRATAS:

• Na página 32, na primeira linha, leia-se maior ao invés de menor. Na mesma página, 32, no título da tabela 1, excluir a palavra sexo.

• Na página 34, no título do quadro 3: aonde está escrito “caracterização dos falantes do grupo estudado (GE)”, leia-se “caracterização do grupo controle (GC)”.

• Na página 57 no título da figura 16: Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes (C1,C2 e C3) originadas pela análise

aglomerativa hierárquica de cluster para o GE-Sexo Feminino para os

ajustes de qualidade vocal (VPAS-PB). Ao invés de GE-sexo feminino,

leia-se GC-sexo masculino.

• Na penúltima linha da página 81, aonde está escrito figuras 12 e 13, leia-se figuras 13 e 14.

• Na página 85, na quarta linha, aonde está escrito F1 e F3, leia-se F1 e F2.

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  II   PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem – LAEL

Coordenação do Curso de Pós-Graduação:

Profa. Dra. Angela Brambilla C. T. Lessa

Vice Coordenação: Profa. Dra. Sandra Madureira

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  III  

(5)

  IV  

DEDICATÓRIA

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  V  

AUTORIZAÇÃO

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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  VI  

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Aos meus filhos: Gabriel e Leonardo pela enorme paciência comigo ao longo destes 4 anos, simplesmente por existirem! Eu cresço e aprendo a cada dia junto com vocês...meus amores. Amor imensurável...

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  VII  

AGRADECIMENTOS

Aos pacientes que participaram deste estudo.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) pelo recurso financeiro para a concretização desta pesquisa.

À Profa. Dra. Zuleica Camargo, exemplo de ser humano, mestre e profissional, me acolheu e caminhou ao meu lado com dedicação inquestionável e excelente. Obrigada por todas as orientações, daquelas mais suaves até as mais rigorosas! O seu apoio foi importante para que eu conseguisse finalizar esta tese. Foi um enorme privilégio ser orientada por você. Minha profunda e sincera gratidão.

À Profa. Dra. Sandra Madureira, por todas as contribuições ao longo do projeto e da pesquisa, por todas as aulas e seminários ministrados com maestria e serenidade contagiantes, por todos os apontamentos durante as etapas de qualificação que foram fundamentais para a construção desta tese.

À Profa. Dra. Nilza Scalissi: inicialmente pela acolhida, confiança e pela porta aberta no ambulatório de Endocrinologia e Metabologia da Santa Casa de São Paulo. Por todas as discussões e contribuições ao longo da pesquisa e nos momentos de qualificação. Muito obrigada pelo apoio!

(9)

  VIII   Ao Dr. José Viana Júnior e Dra. Carolina Ferraz por todas as discussões ao longo

da coleta dos dados no ambulatório de Neuroendocrinologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rusilo pela atenção e disponibilidade para o tratamento estatístico dos dados e por todas as discussões e apontamentos fundamentais para a discussão dos dados, muito obrigada!

À Profa. Dra. Irene Marchesan pela importante discussão nas etapas de qualificação da tese.

Ao Prof. Dr. Chin Nan Pai pelas discussões iniciais sobre o projeto de pesquisa.

Aos meus queridos colegas de LIAAC, pelo divertido e enriquecedor convívio ao longo destes quatro anos: Aline Neves Pessoa Almeida, Cristina Canhetti Alves, Luciana Oliveira, Maria Augusta Forte Svicero, Solange Vieira Lapastina, Marilea Fontana, Paulo Sergio Menegon, Sergio Augusto Mauad, Marcelo Henrique Barbosa, Alice Rodrigues Crochiquia, Lilian Cristina Kühn Pereira, Fabiana Gregio, Layla Penha, Maria Lúcia da Cunha Waldon, Gabriela Daneluci, Amaury Flávio Silva, Natália Escamez, Cristiane Magacho e Renata Vieira.

(10)

  IX   Ao estagiário Felipe Magalhães Bonel pelo auxílio sobre os tutoriais e manutenção

durante o curso online do VPAS-PB disponibilizado durante o treinamento para as juízas da pesquisa.

À minha colega doutoranda Andréa Baldi por todos os papos descontraídos e divertidos sobre a arte de educar meninos! Por todo o apoio e disposição para ajudar em todas as etapas do trabalho e principalmente por ter me ajudado a organizar os dados de percepção na planilha em um momento crítico!

À querida e competente fonoaudióloga Luciana Oliveira, que me orientou sobre o uso do paquímetro e sobre as medidas antropométricas faciais, muito obrigada!

À querida secretária do LIAAC PUC/SP, Maria de Fátima Albuquerque, sempre pronta para ajudar em todos os momentos!

À Maria Lúcia dos Reis pela atenção e dedicação na secretaria do LAEL.

À Marcia Martins, pelo apoio, paciência e torcida na etapa de avaliação do artigo para o término da Qualificação Complementar.

(11)

  X   Aos meus queridos amigos e também ex-colegas de trabalho: Andreia Rauber, Armando Silveiro, Magnum Rochel, Fernanda Reis e Carina Cadoná pela alegre e sábia parceria!

Ao meu querido “filho adotivo” Armando Silveiro pelo olhar atento e cuidadoso sobre a tese! Você foi essencial!

Para a incansável dupla para ajudar em casa e com as crianças: Doquinha da Silva e Nathália Ribeiro Lobato, sem elas, seria impossível!

Às queridas amigas: Celina de Camargo Costa Batista, Daniela Uziel, Luciana Cerboncini, por terem me acompanhado em todos os momentos de tese! Obrigada pela amizade, pela força e pela amizade!

À querida amiga e vizinha Fernanda Levy e toda a sua querida família: Ricardo, Bia e Gabí: por todas as quebradas de galho com os meninos e pela amizade simples e verdadeira!

Aos meu pais: Floriano e Nara Isolan, mesmo morando um pouco distantes geograficamente, sempre presentes e atentos a minha vida! Obrigada pela confiança, presença e torcida.

(12)

  XI   Aos meus sogros Raquel e Pedro Cury pela presença, torcida e apoio.

À todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram desta etapa da minha formação profissional.

E a Deus, força maior, seja ele de qualquer, raça, forma ou energia, sempre presente e iluminando o meu caminho.

(13)

  XII  

Não esconder a voz, mas projetá-la no espaço-tempo

onde só tu habitas. Não consentir

que nada

e ninguém possa rompê-la Igual às aeronaves,

-que defendem seu campo de vôo e de pouso-

defender teu campo de som. E nele,

construir mil e uma formas de liberdade

(14)

  XIII  

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Roteiro para avaliação fonética da qualidade vocal para o português brasileiro VPAS-PB: Parte I(Camargo and Madureira 2008)...22

Figura 2. ilustração representativa das vogais orais do português brasileiro (Barbosa and Albano 2004)...28

Figura 3. Registro fotográfico dos falantes do Grupo Estudado de ambos os sexos: visão frontal e perfil...34

Figura 4. Representação da forma de apresentação das sentenças-veículo aos falantes participantes da pesquisa...37

Figura 5. Ilustração da localização correspondente aos pontos facias: glabela, sub-nasal e gnatio de uma paciente do grupo estudado, sexo feminino, para a mensuração das medidas antropométricas faciais...39

Figura 6. Intervalos de confiança para os juízes J1 a J4 com todas as análises e desvio padrão (DP)...43

Figura 7. Intervalos de confiança para os juízes J1 a J4 para as observações não nulas...44

Figura 8. Intervalos de confiança para os julgamentos intra-juízes e seus respectivos erros e intervalos de confiança...45

(15)

  XIV  

Figura 10. Tela Extraída do software Praat no momento de posicionamento do cursor no período de estabilidade do traçado da vogal [a] da sentença “Diga papa baixinho” da primeira repetição da paciente GE-P1 para a extração das medidas de frequências formânticas. A janela superior representa a forma de onda e a janela inferior, o espectograma de banda larga. A tela intermediária representa a extração manual medidas no software Praat ...47

Figura 11. Ilustração sobre os grupos analisados: grupo controle e grupo estudado separados por sexo...48

Figura 12 Perfil médio de ajustes da qualidade vocal por meio do roteiro VPAS-PB para os falantes do sexo feminino, GC-sexo feminino sexo masculino e GE-sexo masculino...52

Figura 13. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes (C1,C2 e C3) originadas pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GE-Sexo Feminino para os ajustes de qualidade vocal (VPAS-PB)...54

Figura 14. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes (C1,C2 e C3) originadas pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GC-Sexo Feminino para os ajustes de qualidade vocal (VPAS-PB)...55

Figura 15. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes (C1,C2, C3 e C4) originadas pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GE-Sexo Masculino para os ajustes de qualidade vocal (VPAS-PB)...56

(16)

  XV  

Figura 17. Gráficos representativos dos intervalos de confiança das frequências formânticas (F1, F2, F3 e F4) dos falantes do sexo feminino de ambos os grupos: grupo controle e grupo estudado...62

Figura 18. Gráficos representativos dos intervalos de confiança das frequências formânticas (F1, F2, F3 e F4) dos falantes do sexo masculino de ambos os grupos: grupo controle e grupo estudado...65

Figura 19. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GE-sexo feminino para as frequências for ânticas (F1, F2, F3 e F4) ...66

Figura 20 Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GC-sexo feminino para as frequências formânticas (F1, F2, F3 e F4)...66

Figura 21. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GE-sexo masculino para as frequências formânticas (F1, F2, F3 e F4)...67

Figura 22. Dendrograma representativo do agrupamento entre as classes pela análise aglomerativa hierárquica de cluster para o GC-sexo masculino para as frequências formânticas (F1, F2, F3 e F4)...68

Figura 23. Distância dos centroides e impacto na segregação das frequências formânticas entre GE-1 e GC-1,F1 e F2 representam: eixo 1 e eixo 2, respectivamente denominados como Fator 1 e Fator 2...70

(17)

  XVI  

Figura 25. Distância dos centroides e o impacto na segregação das frequências formânticas entre GE-3 e GC-3: aonde F1 e F2 representam: eixo 1 e eixo 2, respectivamente denominados como Fator 1 e Fator 2...73

Figura 26. Distância dos centroides e o impacto na segregação das frequências formânticas entre GE-4 e GC-4: aonde F1 e F2 representam: eixo 1 e eixo 2, respectivamente denominados como Fator 1 e Fator 2...74

Figura 27. Representação da configuração do trapézio das vogais orais originada pela extração automática das frequências formânticas por meio do plug in Akustik para todos os falantes do grupo estudado (GE) e respectivos pareamentos com o grupo controle (GC)...75

Figura 28 Distribuição das variáveis perceptivas e acústicas originadas da análise de correlação canônica entre os dados perceptivos e acústicos do GE-sexo feminino...76

Figura 29. Distribuição das variáveis perceptivas e acústicas originadas da Análise de correlação canônica entre os dados perceptivos e acústicos do GC-sexo feminino

....77

Figura 30. Distribuição das variáveis perceptivas e acústicas originadas da Análise de correlação canônica entre os dados perceptivos e acústicos do GE-sexo masculino...78

(18)

  XVII  

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Descrição das sete vogais orais do português brasileiro (Camargo e Navas 2009)...27

Quadro 2. Caracterização dos falantes do Grupo Estudado (GE) conforme sexo, idade, ocupação, presença ou não de macroglossia, naturalidade e níveis de GH e IGF-I e momento da doença (em atividade ou em remissão)...33

Quadro 3. Caracterização dos falantes do grupo estudado (GE) conforme sexo, idade, naturalidade e ocupação...34

(19)

  XVIII  

LISTA DE TABELAS

Tabela1. Valores de Referência para GH e IGF-1 conforme sexo e idade (Laboratório NUCLIMAGEM - método IRMA...32

Tabela 2. Valores da média das medidas antropométricas em milímetros (mm) dos falantes do grupo estudado (GE) e do grupo controle (GC)...38

Tabela 3. Matriz de Confusão para os dados de validação cruzada de análise discriminante para estimação do sexo dos falantes a partir das variáveis perceptivas para o GE...59

Tabela 4. Matriz de Confusão para os dados de validação cruzada de análise discriminante para estimação do sexo dos falantes a partir das variáveis perceptivas para o GC...59

Tabela 5. Valores médios das frequências formânticas (F1,F2,F3 e F4) das sete vogais orais do português brasileiro(PB) para o GE-sexo feminino, desvio padrão, limite inferior e limite superior...60

Tabela 6. Valores médios, das frequências formânticas (F1,F2,F3 e F4) das sete vogais orais do português brasileiro(PB) para o GC-sexo feminino, desvio padrão, limite inferior e limite superior...61

Tabela 7. Valores médios, das frequências formânticas (F1,F2,F3 e F4) das sete vogais orais do português brasileiro(PB) para o GE-sexo masculino, desvio padrão, limite inferior e limite superior...63

(20)

  XIX  

Tabela 9. Matriz de confusão para os resultados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação do falante GE-1 e GC-1 a partir das medidas formânticas...69

Tabela 10 Matriz de confusão para os resultados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação do falante GE-2 e GC-2 a partir das medidas formânticas...69

Tabela 11. Matriz de confusão para os resultados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação do falante GE-3 e GC-3 a partir das medidas formânticas...69

Tabela 12. Matriz de confusão para os resultados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação do falante GE-4 e GC-4 a partir das medidas formânticas...69

Tabela 13. Matriz de Confusão para os dados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação das vogais pareadas entre os falantes GE-1 e GC-1 do sexo feminino a partir das medidas formânticas...70

Tabela 14. Matriz de Confusão para os dados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação das vogais pareadas entre os falantes GE-2 e GC-2 do sexo feminino a partir das medidas formânticas...71

Tabela 15. Matriz de Confusão para os dados de validação cruzada da análise discriminante para a estimação das vogais pareadas entre os falantes GE-3 e GC-3 do sexo feminino a partir das medidas formânticas...72

(21)

  XX  

RESUMO

Análise da Fala na Acromegalia

Roberta Werlang Isolan Cury

Orientação: Profa. Dra .Zuleica Camargo

A acromegalia é uma doença insidiosa com características clínicas resultantes da exposição anormal dos tecidos e sistemas ao excesso de hormônio do crescimento

(growth hormone/GH). Ocorrem tipicamente modificações fisionômicas como o

alargamento do nariz, aumento dos lábios, prognatismo, má-oclusão dentária, macroglossia, além do aumento das extremidades. Em particular interesse para fonoaudiólogos, e na área de linguística aplicada à fala, há citações das duas maiores alterações estruturais do trato vocal, as quais tendem a promover alterações de fala e voz: o alargamento das estruturas laríngeas e a hipertrofia lingual. Objetivo: analisar a fala de pacientes com acromegalia dos pontos de vista perceptivo e acústico. Após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Santa Casa de São Paulo (CEP número 324/11), foram analisadas as amostras de fala de pacientes com o diagnóstico clínico e laboratorial da doença e em tratamento no serviço de Endocrinologia da Irmandade da Santa Casa de São Paulo. Corpus para o estudo: três repetições aleatorizadas de sentença veículo, contendo palavras chaves com as sete vogais orais do português brasileiro[a][e][ε][i]

][o],[ɔ] e [u]. Também foram extraídas as medidas antropométricas orofaciais (terço

médio da face, terço inferior da face e altura da face). As amostras de áudio foram posteriormente analisadas por meio do Plug in Akustik disponível no software Praat

para a extração de medidas de frequência dos formantes (F1,F2,F3,F4). As amostras de áudio foram também analisadas por meio do roteiro VPAS-PB (Vocal

Profile Analises Scheme–VPAS) por três juízes experientes. Os dados foram

submetidos à análise estatística multivariada e discutidos quanto às correlações entre os dados perceptivos e acústicos com base no modelo fonético da qualidade vocal. A análise estatística evidenciou os ajustes de qualidade vocal relevantes para os falantes com acromegalia: mandíbula extensão diminuída e protraída, hipofunção laríngea, corpo de língua recuado. No âmbito acústico, as medidas de F1 e F2 revelaram diferenças diferentes entre as mulheres e os homens. Para ambos os sexos foram detectadas correlações significativas com o movimento e postura lingual entre os falantes acromegálicos. Os valores de F3 e F4, por sua vez, mostraram correlação com ajustes de dimensão faríngea e altura da laringe, reforçando os achados de qualidade vocal para o grupo de falantes acromegálicos. Os dados integrados, perceptivos e acústicos, contribuem para a compreensão da qualidade vocal, propiciada pela abordagem fonética e pela análise das frequências formânticas. Os achados deste estudo foram além da questão do rebaixamento do

pitch, e trouxeram informações específicas e fundamentais para uma abordagem de

(22)

  XXI  

ABSTRACT

Speech Analysis and Acromegaly

Roberta Werlang Isolan Cury

Advisor: Prof. Zuleica Camargo, PhD.

Acromegaly is an insidious disease with clinical features resulting from abnormal exposure of tissues and systems to excess growth hormone (GH). Physiognomic changes typically occur such as the enlargement of the nose and the lips, prognathism, malocclusion, macroglossia, in addition to increased extremities. Two major structural changes in the vocal tract are particularly relevant for speech therapists and linguists working on speech disorders: enlargement of laryngeal structures and hypertrophy of the tongue, which tend to cause changes to speech and voice. Objective: perform perceptual and acoustic analyses of the speech of acromegalic patients. After the study was approved by the Human Research Ethics Committee of the Santa Casa Hospital in São Paulo (REC Code number 324/11), analyses were made of the speech samples of acromegalic patients that had been given clinical and laboratory diagnosis and treatment provided by the Endocrinology department of the abovementioned hospital. Corpus for the study: three randomized repetitions of carrier sentences containing keywords with the seven oral vowels found in Brazilian Portuguese: [a][e][ε][i]][o],[ɔ] and [u].  Anthropometric orofacial measures (middle facial third, lower facial third, and face height) were also taken. The audio samples were subsequently analyzed using the add-on Akustik available on the

software Praat for measurements of formant frequencies (F1,F2,F3,F4). The audio samples were also analyzed with the VPAS-PB (Vocal Profile Analysis Scheme–

VPAS) script by three experienced raters. The data underwent multivariate statistical

analysis and were discussed for correlations between perceptual and acoustic data based on the phonetic description of voice quality model. The statistical analysis showed significant voice quality adjustments for acromegalic speakers: protruded jaw, laryngeal hypofunction, retracted tongue body. Acoustically, measures of F1 and F2 showed differences between men and women. For both sexes, significant correlations were detected between tongue movement and position for the acromegalic speakers. The values of F3 and F4, in turn, were correlated with adjustments of pharynx size and larynx height, thus reinforcing the findings of voice quality for the group of acromegalic speakers. The integrated perceptual and acoustic data contribute to the understanding of vocal quality, aided by the phonetic approach and the analysis of formant frequencies. The findings of this study went beyond the issue of pitch lowering as they brought up specific and fundamental information for an approach to speech aimed at people with acromegaly.

(23)

  XXII  

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...1 1.1 Objetivo Geral...5 1.2 Objetivos Específicos...5

2. REVISÃO DE LITERATURA...6 2.1 Acromegalia...6 2.1.1 Acromegalia: sinais, sintomas e aspectos diagnósticos ...6 2.1.2 Formas de tratamento ...13 2.1.3 Aspectos da qualidade de vida dos pacientes com acromegalia ...15 2.2 Análise da qualidade vocal com motivação fonética...17 2.2.1 Aspectos perceptivos...17 2.2.1.1 Modelo fonético de descrição da qualidade vocal...17 2.2.1.2 Análise Perceptivo-auditiva da qualidade vocal por meio do roteiro Vocal Profile Analysis Scheme para o Português Brasileiro ( VPAS- PB)...21 2.2.2 Aspectos Acústicos: qualidade vocálica...25 2.2.2.1 Modelo fonte-filtro para a descrição das vogais...25 2.2.2.2 Medidas acústicas aplicadas à avaliação da qualidade vocal ...28

(24)

  XXIII   3.4.1 Análise perceptivo-auditiva...40 3.4.2. Análise acústica...45 3.4.3 Análise estatística dos dados...48

4. RESULTADOS...51 4.1 Dados de natureza perceptiva (Vocal Profile Analysis Scheme-VPAS-PB)...51 4.2 Dados de natureza acústica: análise das frequências formânticas por grupos (GE e GC) e por pareamento entre os falantes de ambos os grupos...60 4.2.2 Análise Discriminante (AD) para a estimativa das amostras dos grupos

estudado e controle...68 4.2.3 Análise Discriminante (AD) das medidas de frequências formânticas para estimativa das vogais em amostras dos grupos GE e GC (a partir do pareamento entre os falantes)...70 4.3. Análise Integrada entre os dados perceptivos (VPAS-PB) e acústicos

(frequências formânticas)...76

5 DISCUSSÃO...80

6. CONCLUSÃO...86

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...88

(25)

1. INTRODUÇÃO

A acromegalia é uma doença que se manifesta por características

clínicas resultantes da exposição anormal dos tecidos e sistemas ao excesso de

hormônio do crescimento (GH, do inglês growth hormone). Ocorrem tipicamente

modificações fisionômicas como o alargamento do nariz, aumento dos lábios, dos

seios da face, prognatismo, má-oclusão dentária, macroglossia, além do aumento

das extremidades, ou seja, o crescimento das mãos e pés que é descrito pelos

pacientes, observado no aumento dos números dos sapatos e anéis (Ben-Sholmo,

Sheppard et al. 2011).

Com o particular interesse para fonoaudiólogos e foneticistas,

encontra-se a descrição de duas alterações estruturais do trato vocal nas pessoas

com este diagnóstico, as quais tendem a promover mudanças na fala e na voz.

São elas: o alargamento das estruturas faciais e a hipertrofia lingual (Raisova and

Marek 1988).

A investigação sobre as manifestações de fala, decorrentes de

algumas doenças que determinam alterações anatômicas, ganharam projeção nas

últimas décadas (Cukier-Blaj, Camargo et al. 2004; Magri, Cukier-Blaj et al. 2007).

Os estudos publicados, até o momento, sobre a acromegalia e as

suas prováveis alterações na produção vocal, restringiram-se apenas em abordar

(26)

deste trabalho, outros estudos que se dedicaram à análise mais detalhada de fala,

ou seja, sobre o que de fato ocorre e como se percebe a fala destes indivíduos.

No presente estudo, a abordagem da qualidade vocal debruça-se

sobre a fonética clínica para compreender dados de produção em falantes com

acromegalia.

A abordagem fonética da qualidade vocal, conforme o modelo

proposto por John Laver (Laver 1980), preconiza a análise por meio do princípio da

susceptibilidade dos segmentos aos ajustes de qualidade vocal, ou seja, a relação

entre os ajustes fonatórios (ou laríngeos) e articulatórios (supralaríngeos) e os

diferentes segmentos da produção de fala.

O diálogo entre a linguística aplicada e os estudos da linguagem com

diferentes especialidades médicas, pode proporcionar maior compreensão do

quanto as alterações do âmbito comunicativo podem afetar a qualidade

comunicativa destas pessoas (Camargo 2002; Oliveira 2011; Medina 2012). Ao

mesmo tempo, trazem respaldo científico sobre como pensar na atuação clínica

fonoaudiológica frente a determinadas alterações, sejam elas de linguagem, fala,

audição ou deglutição.

O modelo proposto por Laver (Laver 1980) fundamentou a proposição

do roteiro de descrição fonética da qualidade vocal, denominado Vocal Profile

Analysis Scheme, o qual integra os aspectos fonatórios (laríngeos), articulatórios

(27)

2005).

A proposta respalda-se na análise detalhada sobre as mobilizações

de longo termo e, mais especificadamente, na qualidade vocal, não somente de

natureza fonatória, mas aquelas articulatórias e ressonantais e de tensão muscular

(Mackenzie-Beck 2005).

São escassos os trabalhos que buscam entender e descrever as

alterações vocais em falantes acromegálicos. Além disso, os poucos estudos

existentes fundamentaram-se apenas em análises sobre a emissão sustentada de

vogais para analisar a voz e limitaram-se a relatar a percepção de rebaixamento da

frequência fundamental (Kinnman 1976; Razvi and Perros 2007; Aydin, Turkyilmaz

et al. 2013).

Parece ser limitado o fato de se abordar somente um aspecto vocal,

por exemplo: analisar somente o rebaixamento de pitch, quando se pretende

estudar a qualidade vocal, como consequência ou sinal, de qualquer doença e,

neste estudo, na acromegalia. Na acromegalia, as alterações morfológicas que

ocorrem em estruturas importantes para a produção e modelamento sonoro como

por exemplo: a protrusão mandibular e o aumento do volume lingual podem

impactar na mobilidade dos denominados órgãos fonoarticulatórios? E com isto

podem afetar a sua produção sonora final?

Diante de tal descrição, destacam-se as seguintes questões de

(28)

1. A abordagem fonética da qualidade vocal permite descrever o

impacto das alterações mandibulares e linguais na fala dos pacientes

acromegálicos?

2. A qualidade vocálica, mensurada por meio da descrição das

frequências formânticas, permite delinear a configuração articulatória entre os

falantes com acromegalia?

3. Quais são os achados perceptivos e acústicos que diferenciam um

grupo de falantes com acromegalia e outro sem na doença ou grupo controle?

4. Os dados de fala podem colaborar para a convenção e atuação de

manifestações clínicas da acromegalia?

Tendo em vista estas questões de pesquisa, levantam-se algumas

hipóteses:

a) A abordagem fonética da qualidade vocal, por meio da análise

perceptivo-auditiva, poderá trazer mais informações detalhadas sobre quais seriam

os ajustes mais frequentes que caracterizariam a fala dos acromegálicos.

b) Os ajustes de qualidade vocal de natureza mandibular e lingual

poderão serão frequentes na referida população.

c) A análise acústica pode apresentar resultados que forneçam

inferências sobre a configuração do trato vocal supraglótico destes falantes.

d) Em relação ao alongamento do trato vocal, descrito na literatura,

(29)

mandibular. Assim, os dados da presente pesquisa poderão contribuir para a

discussão de tais questões.

Considerando as questões e as hipóteses descritas neste tópico, os

objetivos traçados para esta pesquisa foram os seguintes:

1.1 Objetivo Geral: Analisar a fala de pacientes com acromegalia

dos pontos de vista perceptivo e acústico.

1.2 Objetivos Específicos:

1.2.1 Analisar as características perceptivo-auditivas da

qualidade vocal de pacientes com acromegalia;

1.2.2 Analisar a qualidade das vogais, por meio das

frequências formânticas, produzidas pelos pacientes com

acromegalia;

1.2.3 Analisar de forma integrada os achados perceptivos e

(30)

2. REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura é apresentada em duas sessões: a primeira

sessão aborda a acromegalia, seus sinais, sintomas, aspectos diagnósticos, as

suas formas de tratamento e alguns aspectos da qualidade de vida dos pacientes.

No segundo tópico, é explanada a análise da qualidade vocal com motivação

fonética, tanto com relação aos seus aspectos perceptivos quanto aos seus

aspectos acústicos.

No campo dos aspectos perceptivos, serão referenciados o modelo

fonético da qualidade vocal e o roteiro Vocal Profile Analysis Scheme para o

Português Brasileiro. Do ponto de vista acústico, serão abordados os preceitos do

modelo fonte-filtro para a descrição das vogais, além das medidas acústicas

aplicadas à avaliação da qualidade vocal.

2.1 Acromegalia

2.1.1 Acromegalia: sinais, sintomas e aspectos diagnósticos

A acromegalia resulta normalmente do excesso de GH (do inglês

growth hormone, hormônio do crescimento) produzidos por tumores hipofisários

(adenoma) (Williams, Richards et al. 1994). A doença em questão é acompanhada

por multicomorbidades e alterações metabólicas, podendo ser diagnosticada em

(31)

(Holdaway and Rajasoorya 1999; Donangelo, Une et al. 2003; Reid, Post et al.

2010).

Estudos epidemiológicos na Europa revelaram uma prevalência de 40

a 70 casos/milhão e uma incidência anual de 3 a 4 casos/milhão de habitantes.

Como não há estudos na população brasileira, estima-se que cerca de 650 novos

casos de acromegalia sejam diagnosticados anualmente no Brasil (Donangelo,

Une et al. 2003).

O diagnóstico é tardio, na maioria dos casos, sendo que o tempo do

início dos sintomas até o diagnóstico pode levar vários anos (Reid, Post et al.

2010).

Comumente, após a suspeita clínica pelos clássicos sinais e

sintomas, é realizada a investigação laboratorial, como critérios diagnósticos, dos

valores de GH basal, IGF-1 (do inglês insulin-like growth factor-1/ fator de

crescimento semelhante à insulina) e dosagem de GH durante o Teste Oral de

Tolerância à Glicose (TOTG). Este último é considerado o padrão ouro para o

diagnóstico da acromegalia. É importante ressaltar que o GH é secretado de forma

pulsátil. Em pessoas sem acromegalia, 70% a 80% dos valores de GH em 24

horas são indetectáveis, mas podem ocorrer picos de secreção com valores que

excedem várias vezes o limite de normalidade. Assim, os pacientes acromegálicos

(32)

A interpretação dos valores de dosagem de GH deve ser cautelosa

justamente devido às dificuldades de estabelecimento da faixa de normalidade

para o GH basal (ou randômico), para diferenciar indivíduos com e sem

acromegalia (Vieira Neto, Abucham et al. 2011).

O rastreamento para a doença deve ser realizado com as dosagens

basais, tanto de GH quanto de IGF-I (do inglês insulin-like growth factor / fator de

crescimento semelhante à insulina): níveis séricos randômicos de GH < 0,4 ng/mL

e de IGF-I normais para a idade excluem o diagnóstico de acromegalia. Além

disso, nos pacientes em que o diagnóstico não pode ser afastado com as

dosagens basais, está indicado o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), com a

administração de 75g de glicose anidra, e dosagens subsequentes de GH e

glicose, a cada 30 minutos por duas horas, quando normalmente deve ocorrer a

supressão do GH (Vieira Neto, Abucham et al. 2011). Valores de GH menor ou

igual a 0.4ng/mL em qualquer ponto da curva descartam a doença(Aydin, Cinar et

al. 2014).

Não existem diretrizes estabelecendo, de forma específica, quantos

sintomas e sinais clínicos devem estar presentes para submeter o paciente ao

rastreamento para acromegalia. Naqueles pacientes com características típicas da

doença, como mudanças faciais e aumento das extremidades, o diagnóstico clínico

da acromegalia é, em geral, facilmente estabelecido e confirmado pelo valor alto de

(33)

independente do valor de GH basal ou do teste oral de tolerância à glicose (Aydin,

Cinar et al. 2014).

O exame de imagem é indicado para todos dos pacientes, por

Ressonância Magnética (RM) ou Tomografia Computadorizada (Melmed 2009;

Melmed, Colao et al.) de sela túrsica, já que o adenoma de hipófise é responsável

por quase todos os casos de hipersecreção de GH (Donangelo, Une et al. 2003).

Quanto ao diagnóstico precoce, é discutível se, em uma doença de

baixa prevalência, seria custo-efetivo o rastreamento em pessoas assintomáticas

ou com sintomas inespecíficos (Neto, Araújo et al. 2011).

As características clínicas que compõem o diagnóstico de pacientes

com acromegalia não mudaram nos últimos 25 anos (Reid, Post et al. 2010). As

razões pelas quais a acromegalia tem sido tradicionalmente sub- reconhecida não

são claras, mas pode-se incluir desde o seu curso lento e progressivo até as suas

mudanças serem notadas pelo paciente, familiares ou clínicos. Os pacientes

geralmente visitam alguns ambulatórios até receber o diagnóstico em algum centro

especializado.

Em um estudo sobre os fatores diagnósticos (Neto, Araújo et al.

2011), foram analisados 324 casos entre os anos de 1981 e 2006. Os pacientes

tinham, em média 43 anos, sendo 44% do sexo masculino e 56% do sexo

feminino. Os dados de evolução clínica, bioquímica e radiográfica foram coletados

(34)

e o diagnóstico da acromegalia ocorreram após as mudanças faciais em 15,2%

dos casos, e após o alargamento das mãos e dos pés em 16,8%.

No mesmo estudo, mudanças faciais como engrossamento, e

aprofundamento da rima nasolabial, alteracões tireoideanas e entre os anos de

1981 e 2006. Os aumento do volume das glândulas salivares também são

descritos como achados típicos da doença. Não houve diferença significativa na

presença de queixas nos pacientes com diagnóstico recente ou tardio.

Em dois estudos (Miller, Learned-Miller et al. 2011; Schneider,

Kosilek et al. 2011) sobre instrumentos que auxiliem e documentem o

reconhecimento clínico da acromegalia, os pesquisadores utilizaram dois softwares

similares para comparar as modificações faciais na acromegalia. O primeiro

estudo, com 59 participantes acromegálicos, utilizou uma foto de cada um deles

para classificá-los em três grupos: modificações faciais discretas, moderadas e

severas e, paralelamente, as mesmas imagens foram analisadas por meio do

software FIDA (facial image identity). Os pacientes classificados com modificações

faciais discretas também apresentaram as menores concentrações de GH. Ao

correlacionar ambas as análises, clínica-visual e fotográfica-digital para o

reconhecimento e diagnóstico clínico, a acurácia foi maior do que 80%.

No segundo estudo, foram analisadas, pelo clínico e em paralelo

pelo software, 24 fotografias em três dimensões. Em ambas as análises, as

(35)

limitações, pois não se pode afirmar que possa ser aplicado de forma generalizada

a outras populações. O software por ser utilizado como auxílio para o registro ou

análise no diagnóstico e durante o acompanhamento da doença (Miller,

Learned-Miller et al. 2011; Schneider, Kosilek et al. 2011).

As mudanças na face, decorrentes da exposição a quantidade

elevada de GH, foram descritas como um provável motivo da mudança estética ou

funcional que podem levar até mesmo à necessidade de cirurgias reparadoras

(Kunzler and Farmand 1991). O objetivo desses autores foi estudar a taxa de

ocorrência, assim como a expressividade dos estigmas faciais presentes nas

alterações de crescimento dos ossos da face, alargamento do queixo e da

protrusão mandibular principalmente. Para tanto, estudaram 31 pacientes de

ambos os sexos com média de 52,7 anos, todos tratados por cirurgia transfenoidal.

Três diferentes tipos de radiografias (RX) foram avaliadas: cefalograma padrão

lateral do crânio inteiro, ortopantograma e tomografia linear das articulações

temporomandibulares, para realizar a seguinte classificação: hiperplasia

hemimandibular e alongamento hemimandibular (Obwegeser and Makek 1986). Os

primeiros sinais e sintomas apontados neste estudo, foram os seguintes:

alargamento dos pés, mudanças na aparência, amenorreia, síndrome da túnel do

carpo, dor de cabeça, cardiomiopatia, diabetes, alargamento da mandíbula e

hipertranspiração. Como mudanças intraorais ocorrem: mordida cruzada anterior,

(36)

dentes. Na análise de imagem, houve diferença significativa entre o grupo controle

e o grupo estudado; principalmente a classe III (protrusão mandibular evidente)

(Morewood, Belchetz et al. 1986; Murrant and Gatland 1990; Razvi and Perros

2007).

Além das alterações faciais descritas, a hipersecreção prolongada de

GH pode causar várias complicações, como doenças vasculares (cardiovasculares

e cerebrovasculares), respiratórias, neoplásicas, endócrinas e metabólicas. As

complicações respiratórias são a segunda causa mais comum das mortes

registradas na acromegalia. Prognatismo, lábios grossos, macroglossia e

hipertrofia da mucosa e das cartilagens laríngeas, calcificação traqueal e artropatia

da junta cricoaritenóidea, presente em casos mais raros, contribuem para a fixação

uni ou bilateral das pregas vocais ou até mesmo para estenose laríngea, o que

pode levar às mudanças vocais e, de forma mais severa, à obstrução das vias

aéreas superiores (Melmed, Bonert et al. 2009).

A voz “agravada” ou apenas citada como “grave e rouca” é descrita

como achado na acromegalia há anos. Os primeiros estudos foram relatos de caso

e focaram para a questão do rebaixamento da frequência fundamental vocal

(Weinberg, Dexter et al. 1974; Barcelo, Salto et al. 1976; Kinnman 1976), porém

sem discussões sobre os demais aspectos da dinâmica e ajustes da qualidade

(37)

A partir da década de 90, estudos se propuseram a investigar o

rebaixamento de f0, tremor e instabilidades, mas ainda baseados no registro e na

análise de vogais sustentadas, sem o enfoque de seus aspectos articulatórios ou

dos mecanismos supraglóticos da fala (Williams, Richards et al. 1994; Razvi and

Perros 2007).

Em um recente estudo, as amostras de vogais sustentadas de 37

pacientes com acromegalia foram analisadas por meio do software MDVP (

Multi-Dimensional Voice Program). Os dados foram comparados com um grupo controle.

Apesar de terem encontrado diferenças entre ambos os grupos, os autores não

relataram diferenças significativas entre os pacientes que não haviam sido

submetidos a hipofisectomia (Aydin, Turkyilmaz et al. 2013).

2.1.2 Formas de tratamento

O tratamento da acromegalia pode ser cirúrgico, medicamentoso e

radioterápico (RT) (Donangelo, Une et al. 2003). A doença causa uma importante

morbidade e redução da expectativa de vida. Consequentemente, o tratamento

multidisciplinar com endocrinologistas, neurocirurgiões e radioterapeutas,

representa a melhor escolha para os pacientes, em vez da opção por uma única

modalidade terapêutica.

As metas do tratamento são: ablação ou redução da massa tumoral

com preservação da função adeno-hipofisária, prevenção da recorrência tumoral,

(38)

cardiovasculares, respiratórias e metabólicas (Melmed, Colao et al. 2009; Barkan,

Bronstein et al. 2010)

O tratamento de escolha do tumor hipofisário é a remoção cirúrgica

por meio da cirurgia transfenoidal. Os medicamentos representam a segunda

opção do tratamento, com o emprego dos análogos de somatostatina, agonistas

dopaminérgicos e os antagonistas do receptor de GH. São usados também no

periodo pré-operatório e podem reduzir em até 48% o tamanho do tumor. Os

análagos de somatostatina, quando usados neste período, reduzem a morbidade

dos pacientes. Ao melhorarem a função cardíaca, diminuem a chance de arritmias

ventriculares e podem melhorar o controle da hipertensão arterial e das glicemias

nos diabéticos, bem como facilitar a intubação orotraqueal pela redução do edema,

do espessamento das vias aéreas superiores e do tamanho da língua (Stevenaert

and Beckers 1996). Outra modalidade de tratamento é a radioterapia (RT),

indicada quando as terapias medicamentosa e cirúrgica não são suficientes para

reduzir os níveis séricos de GH e IGF-I (Barkan, Bronstein et al. 2010).

A radioterapia de megavoltagem pode ser a convencional ou a

radiocirurgia. A RT convencional é dirigida ao tumor com uma margem de

segurança 1 a 2 cm, para a proteção do nervo ópitico, por dois feixes laterais e um

frontal. Já na radiocirurgia, é administrada uma dose elevada de radiação ionizante

em uma única sessão e com alta precisão dirigida ao tumor, com mínimo efeito

(39)

de acelarador linear (Barkan, Bronstein et al. 2010). O Gamma Knife é uma

modalidade de radiocirurgia que utiliza fontes emissoras de cobalto-60 (60Co) gama

focadas no alvo tumoral.

O prognóstico dos pacientes com acromegalia dependerá da

efetividade do tratamento que objetiva a normalização de GH e IGF-I. Com isso,

busca-se o maior controle das comorbidades que acompanham a doença

(Stevenaert and Beckers 1996).

Ao longo da última década, os critérios bioquímicos que definem o

controle da doença tornaram-se cada vez mais rigorosos. Durante o tratamento

clínico, considera-se a doença controlada quando GH é < 0.4ng/mL após TOTG. E

quando GH < 1 ng/mL, em uso de Sandostatin LAR; GH após TOTG < 0.4ng/mL

após cirurgia (hipofisectomia); e a normalização de IGF-I por idade para todos os

tipos de tratamentos (Clemmons 2011).

2.1.3 Aspectos da qualidade de vida dos pacientes com

acromegalia

A acromegalia vêm sendo estudada também sob o ponto de vista

psicológico, frente aos estigmas provocados pela doença. As alterações nas

caraterísticas faciais podem levar o paciente à reclusão social e profissional.

Além dos estigmas faciais, as comorbidades que acompanham a

doença trazem prejuízos à qualidade de vida. Em um estudo que objetivou

(40)

doenças crônicas, foi utilizado o protocolo QoL ( Quality of Life) e não houve

diferenças entre os dois grupos. Porém, quando comparado o grupo dos pacientes

com acromegalia com os 40 indivíduos do grupo controle, os pacientes com

acromegalia apresentaram características psicológicas significativamente

diferentes em relação ao grupo controle: tensão, depressão, fadiga e irritabilidade.

O estudo destacou, ainda, a maior incidência destes achados no gênero feminino e

quando esses eram associados à radioterapia (Anagnostis, Efstathiadou et al.

2014). Existe um protocolo específico para avaliar o impacto dos aspectos físicos e

psicológicos da acromegalia, o AcroQoL (Qualidade de vida na acromegalia-

Anexo 1). O protocolo é composto por 22 questões e uma delas é destinada à

questão articulatória. Por exemplo:

(Questão 17: “é difícil articular algumas palavras devido ao tamanho de minha

língua”) (Badia, Webb et al. 2004).

Os estudos que abordaram o AcroQoL tiveram por objetivo identificar

a relação entre sintomas e comorbidades com a melhora do tratamento clínico e

cirúrgico. A maioria dos resultados apontam para a melhora dos sintomas

depressivos, tensão e irritabilidade; porém, em nenhum estudo aponta-se melhora

significativa dos demais aspectos, como os articulatórios e de estigmas facias

(“dificuldade em articular palavras” e “sentir-se feio”) (Badia, Webb et al. 2004;

Tiemensma, Kaptein et al. 2011; Kepicoglu, Hatipoglu et al. 2013). Como pode-se

(41)

é por vezes longo e carrega consequências físicas e psicológicas estigmatizantes.

2.2 Análise da qualidade vocal com motivação fonética

2.2.1 Aspectos perceptivos

A abordagem dos aspectos perceptivos centra-se nos aspectos do

modelo fonético de descrição da qualidade vocal (Laver 1980) e do roteiro para a

avaliação da qualidade vocal VPAS-PB (Laver, Wirs et al. 1981; Camargo and

Madureira 2008).

2.2.1.1 Modelo fonético de descrição da qualidade vocal

A qualidade vocal de um indivíduo traduz as suas características

físicas, culturais, sociais e pode revelar características da sua identidade, bem

como de sua personalidade. Ao contrário das abordagens impressionísticas, o

modelo fonético de descrição da qualidade vocal proposto por (Laver 1980) não

restringe a qualidade vocal a único evento isolado da fala, ou apenas ao resultado

sonoro da passagem do fluxo aéreo através das pregas vocais. Descreve que as

condições vibratórias de pregas vocais (aspectos laríngeos), de tensão muscular

em conjunto com os ajustes do trato vocal supralaríngeos e de tensão, moldam e

determinam a qualidade sonora final. Ou seja, a qualidade vocal final corresponde

a um conjunto de ajustes musculares quase permanentes ao longo de uma

sequência sonora. Desta forma, o termo qualidade vocal integra a produção sonora

(42)

Para compreendermos melhor o modelo (Laver 1980), é fundamental

conhecermos a sua base analítica: primeiramente, a definição da unidade de

análise: setting . O termo setting articulatório pode ser interpretado como o

conjunto de características articulatórias que compõem a postura articulatória

correspondente ao ajuste muscular de cada falante dentro de qualquer língua

(Mackenzie-Beck 2005; Camargo and Madureira 2008).

A análise da qualidade vocal por meio deste modelo não preconiza a

discussão entre padrões de normalidade versus alteração, mas respeita o conjunto

dos ajustes laríngeos, supralaríngeos e de tensão muscular que podem ocorrer

concomitantemente ao longo da fala. Para esta modalidade de análise, é

considerado um ajuste de referência: o ajuste neutro.

O ajuste neutro não se refere ao padrão normal, ou de repouso dos

articuladores, e sim compõe um conjunto de características que deve ser

considerado como padrão intermediário de atividade das estruturas do trato vocal.

Com base na descrição de Laver (1980), o ajuste neutro

caracteriza-se pelas caracteriza-seguintes características:

 Os lábios não estão nem protraídos nem estirados.

 A laringe não está nem elevada nem abaixada.

(43)

 As articulações anteriores são realizadas pela ponta ou lâmina da língua.

 O corpo da língua, não se encontra nem avançado, nem recuado.

 Não há constrição de trato vocal pelos músculos constritores faríngeos.

 A mandíbula não se encontra nem fechada, nem aberta indevidamente.

 O uso do sistema velofaríngeo causa nasalidade apenas quando a nasalidade é inerente ao segmento produzido.

 A vibração das pregas vocais é regular, sem crepitância ou escape de ar excessivo.

Vários ajustes de qualidade vocal podem ocorrer de forma

simultânea. O modelo teórico prevê os princípios de relacionamentos dos ajustes

de qualidade vocal entre si. Dentro desta esfera, surge o conceito da

compatibilidade entre os ajustes e a sua interação com a anatomia individual de

cada falante, que não pode ser descartada.

Apesar de serem apresentados isoladamente, existe a

interdependência e a relação entre eles; por exemplo, quando diferentes ajustes

(settings) competem para o uso de mesma parte do trato vocal ou quando em

(44)

A susceptibilidade refere-se a um princípio que aborda a seleção

entre ajustes de qualidade vocal e segmentos. Pode ser explicada como um

conceito baseado em graus de manifestação de mecanismos sucessivos da fala

sobre o efeito de uma determinada configuração nos segmentos (Mackenzie-Beck

2005).

Outro ponto importante do modelo se refere à conjunção da ação dos

fatores intrínsecos e extrínsecos na determinação da qualidade vocal.

No âmbito dos fatores intrínsecos, pode-se considerar que todos os

seres humanos nascem com características anatômicas: ósseas, cabeça, peito,

comprimento do trato vocal da laringe aos lábios, tamanho da língua, formato do

palato, dentição e pregas vocais. Tais estruturas podem passar, em todas as

etapas do crescimento, por mudanças e também por consequência da presença de

determinados distúrbios que afetem seus aspectos morfológicos (Mackenzie-Beck

2005; Thomas 2011).

Já os fatores extrínsecos são representados pelas possibilidades de

usos que os falantes fazem das estruturas de seu trato vocal, de forma a

assumirem variadas configurações ou ajustes na dinâmica de fala (Camargo 2002).

Tradicionalmente, dentro das ciências da comunicação humana, os

termos voz e fala são apresentados distintivamente na maioria das discussões que

(45)

estudos dentro da linguística voltados para o aprofundamento de uma visão mais

ampla em termos da abordagem fonética da qualidade vocal.

Esta abordagem propicia a análise integrada tanto dos ajustes

glóticos, como supraglóticos e de tensão muscular que moldam a qualidade vocal,

no campo prosódico (Camargo 2002; Camargo and Madureira 2009).

2.2.1.2 Análise Perceptivo-auditiva da qualidade vocal por meio

do roteiro Vocal Profile Analysis Scheme para o Português Brasileiro ( VPAS-

PB)

O modelo fonético de descrição da qualidade vocal fundamentou a

proposição de um roteiro de avaliação dos aspectos de qualidade e de dinâmica

vocal, contemplados na proposta intitulada Vocal Profile Analysis Scheme-VPAS

(Laver, Wirs et al. 1981). Tal proposta propiciou a combinação entre a articulação e

os aspectos fonatórios com base na influência dos fatores anatômicos e

fisiológicos.

Os princípios gerais da aplicação do VPAS envolvem a consideração

da atividade de todo o trato vocal para a avaliação da qualidade vocal, ou seja: a

análise dos ajustes vocais enquanto tendências musculares de longo termo nos

planos fonatório, do trato vocal e de tensão muscular.

O roteiro é periodicamente revisado. A versão para a língua

(46)

utilizada com êxito nas pesquisas do Grupo de estudos sobre a Fala

LIAAC/GEFala da PUC–SP, com resultados que permitem validar a sua

aplicabilidade clínica (Camargo 2012). O roteiro é subdividido em descrição da

qualidade vocal e dinâmica vocal, a ser abordado neste estudo. A parte I

contempla os ajustes de trato vocal (supralaríngeos), os elementos fonatórios

(laríngeos) e de tensão. (Figura 1).

Figura 1. Roteiro para avaliação fonética da qualidade vocal para o português brasileiro VPAS-PB: Parte I(Camargo and Madureira 2008)

QUALIDADE VOCAL PRIMEIRA PASSADA SEGUNDA PASSADA

Neutro Não neutro AJUSTE 1 Moderado 2 3 4 Extremo 5 6 A. ELEMENTOS DO TRATO VOCAL

1.Lábios Arredondados/protraídos Estirados Labiodentalização Extensão diminuída Extensão aumentada 2. Mandíbula Fechada Aberta Protraída Extensão diminuída Extensão aumentada

3.Língua ponta/lâmina Avançada Recuada

4. Corpo de língua

Avançado Recuado Elevado Abaixado Extensão diminuída Extensão aumentada

5.Faringe Constrição Expansão 6.Velofaringe

Escape nasal audível Nasal

Denasal

7. Altura de laringe Elevada Abaixada B. TENSÃO MUSCULAR GERAL 8. Tensão do trato vocal Hiperfunção Hipofunção 9. Tensão laríngea Hiperfunção Hipofunção C. ELEMENTOS FONATÓRIOS AJUSTE

Presente Graus de escala Neutro Não Neutro 1 Moderado 2 3 4 Extremo 5 6 10. Modo de fonação

Modal Falsete

Crepitância/ vocal fry Voz crepitante

11. Fricção laríngea Escape de ar Voz soprosa 12.Irregularidade laríngea Voz áspera

(47)

Os ajustes de qualidade vocal auditivamente identificados, tendo

sempre como correspondência o ajuste neutro, são graduados em uma escala que

pode variar de 1-2-3 dentro de manifestações moderadas a 4-5-6 consideradas,

manifestações de grau mais acentuados.

A aplicabilidade do roteiro VPAS-PB para a avaliação

perceptivo-auditiva da qualidade vocal e de elementos de dinâmica vocal é defendida em

diferentes estudos e sob diferentes perspectivas (Camargo 2002; Gregio 2006;

Magri, Cukier-Blaj et al. 2007; Fernandes 2011; Forte-Svicero 2012; Lima-Silva

2012; Pessoa 2012; Queiroz 2012).

Em um estudo recente com professores, nas amostras de fala de um

grupo de 25 profissionais de rede pública de ensino de uma cidade do interior de

São Paulo, foram descritos os achados acústicos e perceptivos referentes às

principais alterações vocais de indivíduos com alterações laríngeas. Os principais

ajustes de qualidade vocal encontrados auxiliaram a comprovar os principais

comportamentos vocais realizados por estes profissionais: hiperfunção laríngea,

laringe elevada, hiperfunção de trato vocal, mandíbula fechada, constrição

faríngea, corpo de língua elevado, voz áspera e escape de ar (Lima-Silva 2012).

Outros estudos baseados no modelo fonético para a descrição da

qualidade vocal (Fernandes 2011; Queiroz 2012) em populações sem queixas

(48)

determinados ajustes, tais como a voz áspera em associação ao ajuste de escape

de ar ou hiperfunção laríngea e a voz soprosa; expansão faríngea combinada à

laringe abaixada, o que reforça o modelo de descrição fonética da qualidade vocal,

e o princípio de interdependência entre os ajustes (Laver 1980). Estes autores

apontaram para a estreita relação entre os ajustes de hiperfunção laríngea e voz

soprosa, escape de ar e a voz áspera.

No âmbito dos estudos multidisciplinares, em uma investigação da

qualidade vocal em indivíduos com disfunção paradoxal das pregas vocais, foram

descritas as combinações entre os ajustes de hiperfunção, voz crepitante, voz

áspera e escape de ar e a ocorrência em curto termo de quebras e diplofonia

(Cukier 2006).

O enfoque sobre os aspectos da dinâmica vocal, foi incorporado

encontra-se a tese que objetivou analisar a correlação de achados perceptivos e

acústicos em crianças com perda auditiva usuárias de implante coclear. Neste

estudo, destacaram-se os achados de hiperfunção laríngea combinadas àqueles

referentes à diminuição da extensão de movimento dos lábios, mandíbula e língua,

além de corpo de língua recuado, com variações entre abaixado e elevado (Pessoa

(49)

2.2.2 Aspectos Acústicos: qualidade vocálica

2.2.2.1 Modelo fonte-filtro para a descrição das vogais

As mudanças comumente descritas no trato vocal dos acromegálicos

podem influenciar, de forma intensa, a produção dos segmentos vocálicos,

assumindo-se que serão afetados por ajustes de longo termo da qualidade vocal.

As descrições de alterações de qualidade vocálica podem colaborar

para a compreensão do impacto das alterações anatômicas dos acromegálicos na

produção da fala. Para tanto, as contribuições da teoria acústica da produção da

fala, e, especialmente, do modelo fonte-filtro serão relevantes (Fant 1960).

A partir desta teoria, o trato vocal funciona como um filtro que

transfere algumas frequências produzidas a partir da atividade vibratória das

pregas vocais. A teoria contempla a descrição detalhada dos fenômenos acústicos

no domínio das frequências. Os formantes são descritos como faixas de freqüência

com maior concentração de energia que, durante o seu percurso pelo trato vocal,

poderão ser amplificadas ou atenuadas em decorrência de determinadas

configurações vocálicas. São definidos como as ressonâncias do trato vocal

supraglótico. Acusticamente, são identificados como picos de energia na curva que

representa as amplitudes da frequência fundamental (primeiro harmônico) e de

seus subsequentes harmônicos (Kent and Read 1992).

Antes de explanar sobre a análise vocálica em acromegálicos, é

(50)

dependem do formato e do volume dos chamados espaços ressonantais do trato

vocal supraglótico. Este volume e estes espaços são determinados por

características anatômicas (comprimento total do trato vocal, altura e largura do

palato duro) e por ajustes articulatórios dos lábios, da língua e da faringe (Kent and

Read 1992).

Os sons das vogais são classificados quanto à conformação dos

espaços supraglóticos, uma vez que as pregas vocais vibram no momento de sua

produção e não há obstáculo à passagem do ar (Camargo and Navas 2008).

O sistema respiratório é responsável por esta passagem do ar de

forma controlada pelo trato vocal supraglótico (faringe, língua, cavidade nasal), e

cabe às pregas vocais converterem esta energia aerodinâmica em energia

acústica. Os falantes podem modificar as frequências formânticas em decorrência

dos movimentos mandibulares, linguais ou do palato mole, pelo tensionamento dos

músculos faríngeos ou pelo formato dos lábios (Kreiman and Sidtis 2011).

Logo, as vogais podem ser classificadas, articulatoriamente,

(51)

1. Postura da língua em relação à altura: altas, médias (alta e

baixa) e baixas;

2. Postura da língua em relação ao deslocamento

ântero-posterior (anterior, central ou ântero-posterior);

3. Postura dos lábios (arredondados ou não);

4. Postura do palato mole (oral-elevado; nasal-abaixado);

5. Abertura (abertas e fechadas, intermediárias: semiaberta e

semifechada).

Resumidamente, a seguir temos a classificação articulatória das

vogais para o português brasileiro;

Quadro 1. Descrição das sete vogais orais do português brasileiro (Camargo and Navas 2008)(Camargo e Navas 2009)

(52)

Esta classificação pode ser representada por meio do trapézio

conforme, conforme a Figura 2.

Figura 2. ilustração representativa das vogais orais do português brasileiro (Barbosa and Albano 2004)

2.2.2.2 Medidas acústicas aplicadas à avaliação da qualidade vocal

Abordados os aspectos da configuração articulatória das vogais,

modela-se, do ponto de vista acústico, o trato vocal como um tubo flexível,

moldável pela ação dos articuladores. As pregas vocais, ao entrarem em vibração,

produzem uma série de ondas periódicas. O número de ciclos glóticos produzidos

por segundo determinam a frequência fundamental (f0) vocal, que corresponde, do

ponto de vista perceptivo, ao pitch vocal. Ou seja, quanto maior o número de ciclos

vibratórios por segundo, maior a frequência fundamental (mais agudo o pitch da

voz). Quanto menor os ciclos por segundo, mais baixa será f0 (mais grave o pitch

a voz) (Kent and Read 1992).

(53)

velocidade da fase de fechamento de cada ciclo glótico é maior que a velocidade

da fase de abertura. Graças a essa assimetria natural do pulso glótico, não há a

produção apenas da frequência fundamental (primeiro harmônico), mas de uma

série harmônica onde a frequência de cada componente é um múltiplo inteiro da

frequência fundamental (f0), conhecidos como os harmônicos da voz (Vieira 2004).

O processo da produção da fala envolve a mudança no formato do trato

vocal ajustada principalmente pelo formato e posição lingual, mandibular e labial.

Esses ajustes resultarão em resultados, tanto acústicos, quanto auditivos. Como

por exemplo: resultarão em diferentes ajustes do trato vocal supraglótico e

consequentemente nas frequências formânticas (formantes).

Teoricamente, é infinito o número de formantes, mas para propósitos

práticos, apenas os três mais baixos são frequentemente investigados em

caracterização fonética das línguas. São identificados por números: F1, F2, F3 e

assim sucessivamente (Kent and Read 1992). O padrão dos formantes é definido

pela frequência, intensidade e largura de banda dos formantes.

A frequência do primeiro formante (F1) varia de forma inversamente

proporcional à altura da língua e está relacionado com a dimensão da cavidade

faríngea, ou seja: quanto mais baixa estiver a posição da língua, menor será a

cavidade faríngea e, consequentemente, maior será o valor da frequência do

primeiro formante (F1) e vice-versa. A frequência do segundo formante(F2) se

(54)

quando a língua estiver avançada dentro da cavidade oral, a cavidade oral estará

menor e consequentemente, maior será o valor de F2 e vice-versa. A frequência do

terceiro formante também representa aspectos individualizados do trato vocal de

cada falante. Seu valor é dependente da constrição língua-faringe. Quanto menor a

cavidade oral, mais elevado será o valor de F3, e quanto maior a cavidade oral,

menor será o seu valor (Stevens 2000; Fant 2004). Já F4 é descrito como o

formante mais relacionado à laringe. As demais ressonâncias sofrem influências de

fatores individuais do falante e da estrutura de seu trato vocal (Vieira 2004).

As frequências formânticas também sofrem influências de forma

generalizada do comprimento do trato vocal (Fant 1960).

Diferentes estudos propuseram-se a analisar as frequências formânticas

(variante paulistana) com a metodologia fonética. O estudo mais recente, no qual

foi contemplada a análise de fala das frequências formânticas do português

brasileiro e as suas diferenças entre os sexos associou dados preliminares de

análise vocálica com imagem de ultrassonografia (Forte-Svicero 2012). Estes

resultados podem ser consultados no Anexo 2. Em outra pesquisa anterior, foi

realizada uma análise do trato vocal supraglótico por meio de imagens de

ressonância magnética das vogais orais e nasais do português brasileiro, o que

permitiu analisar o movimento dos articuladores durante a produção das vogais

Imagem

Figura 3. Registro fotográfico dos falantes do Grupo Estudado de ambos os sexos:
Figura  4.  Representação  da  forma  de  apresentação  das  sentenças-veículo  aos  falantes participantes da pesquisa
Tabela 2. Valores da média das medidas antropométricas em milímetros (mm) dos  falantes do grupo estudado (GE) e do grupo controle (GC)
Figura  6. Intervalos de confiança para os juízes J1 a J4 com todas as análises e  desvio padrão (DP )
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Referências

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