Biota Amazônia
Levantamento de briófitas bioindicadoras de perturbação ambiental do
campus
Marco Zero do Equador da UNIFAP
Klissia Calina de Souza Gentil1 e Cristiane Rodrigues Menezes2
1. Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNIFAP. Estagiária do Laboratório de Botânica e Educação Ambiental – LABOT. E-mail: klissia19@gmail.com
2. Mestre em Botânica. Laboratório de Botânica e Educação Ambiental. Universidade Federal do Amapá. E-mail: (labot@unifap.br).
RESUMO: No mundo todo são conhecidas cerca de 18.000 espécies de briófitas. Para o Brasil são citadas 3.125 espécies, distribuídas em 450 gêneros e 110 famílias. O Norte do Brasil possui 264 espécies identificadas. Os estudos para esta região do Brasil abrangem áreas restritas e ainda são escassos, como é caso do estado do Amapá, que se destaca por apresentar o menor número de espécies identificadas (74 espécies), baseando-se em tal afirmativa, o presente trabalho realizou o levantamento e a identificação taxonômica de briófitas do Campus Marco Zero do Equador, da Universidade Federal do Amapá, fazendo a analise de espécies bioindicadoras de perturbação ambiental. A Coleção de briófitas com 25 espécies das 122 amostras analisadas foram devidamente acondicionadas no herbário didático do Laboratório de Botânica, da universidade, distribuídas nas seguintes famílias: Calymperaceae, Dicranaceae, Fissidentaceae, Leucobryaceae, Leucomiacea, Pottiaceae e Sematophyllaceae, apresentando prováveis 03 novas ocorrências para o estado. Neste trabalho observou-se a carência de estudos de briófitas.
Palavras-chave: Calymperaceae; Leucobryaceae; Sematophylaceae.
ABSTRACT: Survey of bryophytes bioindicators of environmental campus disruption of Ecuador's Marco Zero UNIFAP. Worldwide there are approximately 18,000 species of bryophytes. For Brazil were cited 3,125 species belonging to 450 genera and 110 families. The North Brazil has 264 species identified. Studies in this region of Brazil cover limited areas and are still scarce, as is the case of Amapa, which stands out due to the lower number of identified species (74 species), based on this assertion, this paper carried the survey and taxonomic identification of bryophytes from the Campus Ground Zero Ecuador, Federal University of Amapá, making the analysis of bioindicators of environmental disturbances. The collection of 25 species of bryophytes with 122 samples have been properly stored in the herbarium of the Laboratory textbook of Botany, University, distributed in the following families: Calymperaceae, Dicranaceae, Fissidentaceae, Leucobryaceae, Leucomiacea, and Pottiaceae Sematophyllaceae, featuring 03 new cases likely to state. In this study, the lack of studies of bryophytes.
Keywords: Calymperaceae; Leucobryaceae; Sematophylacea.
Macapá, v. 1, n. 1, p. 63-73, 2011 Disponível em http://periodicos.unifap.br/index.php/biota
1. Introdução
As briófitas são o segundo maior grupo de plantas terrestres do planeta e constituem parte importante da biodiversidade total de plantas na região neotrópica; nesta área, o grupo totaliza aproximadamente um 1/3 das espécies de plantas amplamente distribuídas pelo planeta. O Brasil, maior país da região neotrópica, apresenta rica brioflora. Cerca de 78% das espécies de briófitas ocorrem no neotrópico e 24 % de Briófitas ocorrem no globo terrestre (GRADSTEIN et al., 2001).
São conhecidas mundialmente cerca de 18.000 espécies; para o Brasil são citadas 3.125 espécies, distribuídas em 450 gêneros e 110 famílias, segundo Yano (1996). Para o Norte do Brasil são citadas 264 espécies. Os estudos de briófitas para algumas regiões do Brasil ainda são escassos ou abrangem áreas restritas, como é o caso da região Norte. Essas lacunas de conhecimento não permitem um maior embasamento para discutir a riqueza de espécies entre diferentes regiões brasileiras com detalhes (SHEPHERD, 2003). Na região Norte, o estado do Amapá destaca-se pela pequena quantidade de informações a respeito da sua brioflora. É o estado que apresenta o menor número de espécies identificadas (74 espécies) e apenas quatro publicações, (YANO et al.,
1988), (CHURCHILL, 1998),
GRADSTEIN et al., 2003) e (LISBOA et al., 2006).
As briófitas são componentes principais em tundras, tufeiras e durante curtos períodos em comunidades sucessivas e efêmeras. Já em florestas temperadas são elementos conspícuos, principalmente sobre o solo onde formam densos tapetes; nas regiões tropicais como é caso do Brasil, exibem sua maior exuberância e diversidade em florestas úmidas, sobretudo
naquelas de altitude superior a 1.500 m.s.m (GRASDTEIN et al., 2001); (RAVEN et al., 2001).
Algumas espécies suportam temperaturas abaixo de 0OC e, outras,
climas áridos e semi-áridos; algumas são flutuantes em lagos e açudes e outras podem viver submersas; contudo não são encontradas em água salgada. Colonizam larga faixa de substratos naturais, como troncos, ramos galhos (corticícolo “vivo” ou epíxilo “morto”) e folhas (epifilo), além de solos (terrícolos), rochas (rupícolos), fungos não linquenizados (epimicontes) e substratos artificiais (casmófito), (BATES, 2000; SCHOFIELD, 1985).
As briófitas são plantas com grande potencial bioindicador (uma das principais importâncias ecológicas das briófitas), estando diretamente relacionadas com a qualidade do ar e alterações decorrentes da urbanização, mesmo existindo vários métodos que permitem avaliar a concentração e efeitos contaminastes no meio ambiente, a bioindicação tem sido o método mais usado nas últimas décadas. (FILGUEIRAS, 1993).
De acordo com Lisboa e Ilkiu-Borges (2001), as briófitas em alguns habitats assimilam e estocam muito mais carbono que todo o caule das árvores, liberando para a atmosfera muito mais oxigênio; controlam a erosão do solo, a umidade do ar, inundações; são bons indicadores ambientais, como da qualidade do solo em florestas, das condições de pH, da presença de cálcio, da altitude, de depósitos minerais, como minérios do cobre, zinco, ferro e chumbo, de fontes de enxofre, de poluição da água e de poluição do ar.
Diante dos dados e dificuldades anteriormente apresentadas este trabalho visou realizar o levantamento, identificação taxonômica e armazenamento de briófitas do Campus Marco Zero do Equador, da
Universidade Federal do Amapá, fazendo analises das briófitas indicadoras de ambientes perturbados por intermédio da distribuição dos grupos briocinecologicos e por fim a criação de uma coleção didática para manuseio de cunho cientifico do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amapá.
2. Materiais e métodos 2.1. Área de trabalho
Esse estudo se deteve ao Campus da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), localizado na rodovia Juscelino Kubitschek de Oliveira, km 02, Bairro Marco Zero do Equador, na cidade de Macapá, com área de 906.722,44 m2,
caracterizada como zona de transição, internamente a vegetação local possui presença de árvores de grande e pequeno porte (MENEZES et al., 2006). A área do campus está dividida em cinco zonas interligadas por trilhas com as seguintes identificações: Estéril, Cerradão, Área Construída, Mata do Sussurro, Sitio Arqueológico (MORAES, 2006) (Figura 1).
Figura 1. Foto aérea do Campus da UNIFAP com a identificação da divisão das zonas. A: Sítio Arqueológico; B: Mata do Sussurro; C: Área Construída; D: Cerradão; E: Estéril. Fonte: Google Earth, adaptado por MORAES (2006).
A coleta de briófitas foi realizada na Mata do Sussurro (Figura 2) que
georeferenciada por trabalhos anteriores apresenta aproximadamente seis hectares. A mata localiza-se numa depressão, onde há maior retenção de água, possuindo um excelente potencial de espécimes frutíferas, ornamentais, medicinal e a presença de populações de pequenos mamíferos, insetos, répteis, anfíbios, aranhas e aves.
Figura 2. A) Imagem de satélite da Zona da Mata do Sussurro. Google Earth (2008); B) Imagem da trilha principal da Mata do Sussurro. Fonte: GENTIL (2009).
2.2. Métodos
No primeiro momento houve o levantamento de literaturas. As coletas foram feitas na mata do Sussurro com uma distância de oito metros para cada lado das trilhas e coletas aleatórias, foram realizadas nove coletas no Campus, quatro em período seco e cinco em período chuvoso de Setembro de 2008 a Abril de 2009. As técnicas de coletas, preservação e herborização foram baseadas em Yano (1984). As classificações dos grupos cinecológicos foram realizadas baseadas em Schofield (1985) e Bates (2000), como corticícola, epíxila, rupícola, terrícolo e epifila
No segundo momento foram realizados os tratamentos dos dados. A identificação e confirmações foram realizadas de acordo com os trabalhos de Buck (2000), Gradstein (2001), Griffin III (1979); Lisboa (1993); Lisboa e Ilkiu – Borges (1995; 1996; 1997; 2001); Lisboa e Maciel (1994; 1999); Ilkiu-Borges e Lisboa (2002); Ilkiu-Borges et al. (2004); Sharp et al.
(1994); Yano e Câmara (2004).Yano e Mello (1992).
O sistema de classificação adotado foi baseado em Goffinet et al. (2009) para Briophyta. Na identificação dos filos foi necessária a observação das amostras em lupa microscópica, posteriormente para identificação dos táxons restantes são confeccionadas e analisadas as lâminas para descrições morfológicas em microscópio óptico.
O material descrito e classificado foi incorporado ao herbário do laboratório de botânica acondicionados em caixas de papel craft com aproximadamente dez envelopes cada, contendo amostras identificadas, as descrições dos indivíduos coletados são registradas em uma ficha de identificação na qual são anotados os táxons, número de registro, características dos indivíduos, coletor, local de coleta e grupos briocinecologicos entre outras informações.
3. Resultados
Foram identificadas 25 espécies das 122 amostras analisadas, as quais estão distribuídas nas seguintes famílias: Calymperaceae, Dicranaceae, Fissidentaceae, Leucobryaceae, Leucomiacea, Pottiaceae, Sematophyllaceae e Thuidiaceae, divididas em 75 coletas do campus durante o projeto de pesquisa, 25 coletas também do campus, entretanto realizadas por acadêmicos e as 22 coletas restantes de áreas urbanas próximas ao campus da universidade, armazenadas no Laboratório de Botânica, identificadas no período da execução do projeto (Figura 3).
Figura 3. Número de amostras por local de coleta e coletores. (CCP) Coleta do Projeto; (CCA) Coleta do Campus-Acadêmicos; (CUL) Coleta de Áreas Urbanas-Laboratório de Botânica da UNIFAP. GENTIL (2009).
A coleção foi armazenada no Laboratório de Botânica (criada para fins de consultas de acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Amapá). O Filo identificado no material analisado foi Briophyta obtendo-se identificação taxonômica da maioria do material em nível específico e todas as amostras identificadas a nível genérico. O único registro de coleção de briófitas depositada no estado do Amapá, além da coleção do Laboratório de Botânica da UNIFAP, são os materiais botânicos cadastrados no herbário do Instituto de Estudos e Pesquisas do Estado do Amapá (IEPA), com 81 amostras, e duplicatas no Herbário Paraense Emílio Goeldi, instituição de referências em taxonomia de briófitas para o Norte do Brasil e conseqüentemente para a Amazônia. (LISBOA et al., 2006).
Os musgos acrocárpicos tiveram menor ocorrência com apenas 43 amostras apresentando quatro famílias com está características morfológicas: Calymperaceae (06 espécies), Dicranaceae (01 gênero), Fissidentaceae (01 gênero), Leucobriacea (03 espécies), Pottiaceae (02 espécies). Os musgos pleurocárpicos identificados foram 79,
maior quantidade de amostras, distribuídas em três famílias sendo respectivamente às seguintes: Leucomiacea (01 espécie), Thuidiaceae (02 espécies) e Sematophyllaceae (09 espécies). (Tabela 1-em anexos).
Os exemplares de famílias coletados e identificados do campus foram os seguintes: Calymperaceae, Dicranaceae, Fissidentaceae, Leucobryaceae, Leucomiaceae, Pottiaceae, Thuidiaceae e Sematophyllaceae (Tabela 2-em anexos). As famílias Calymperaceae, Leucobryaceae e Sematophyllaceae foram coletas em grande número tanto em área urbana como no campus da Universidade Federal do Amapá. De acordo com trabalhos publicados para o Amapá por Yano & Lisboa (1988); Churchill (1998); Gradstein & Costa (2003) e Lisboa et al. (2006), os seguintes gêneros não são citados para o estado, podendo ser prováveis novas ocorrências de gêneros: Campylopus sp; Pyladelpha sp. e Tortula sp.
Comparando os indivíduos estudados com trabalho de Yano e Câmara (2004), realizado em Manaus em áreas urbanas, pôde-se observar que as famílias Calymperaceae, Leucobryaceae e Sematophyllaceae são típicas de ambientes perturbados, principalmente o gênero Calymperes.
Pela utilização humana, foram encontradas diversas espécies de musgos típicas de ambientes alterados. Dentre estas, Calymperes palisotii, Octoblepharum albidum var. albidum, O. pulvinatum, Sematophyllum. subsimplex e Taxithelium planum, são tolerantes a grandes intensidades de luz, altas temperaturas e poluição do ar, o que lhes dá uma amplitude ecológica muito grande (LISBOA e ILKIU-BORGES, 1996; LISBOA e ILKIU-BORGES, 2001; PORTO e BEZERRA, 1996; SANTOS e
LISBOA, 2003). Ainda para o Brasil há alguns trabalhos que referem-se a briófitas que crescem nas áreas urbanas e para todos são citados a família Calymperaceae, Leucobryaceae e Sematophyllaceae como predominante a ambientes perturbados (BASTOS e YANO, 1993; HELL, 1969; LISBOA e ILKIU-BORGES, 1995;
VISNADI e MONTEIRO, 1990;
VISNADI e VITAL, 1997).
A fragmentação de florestas tropicais é um processo decisivo que leva à perda de diversidade e extinção de espécies (KAGEYAMA e LEPSCH-CUNHA, 2007). Após a fragmentação, o ambiente é alterado em seu microclima, na dinâmica das comunidades, na diversidade de espécies e na abundância original de suas populações, que podem aumentar diminuir ou extinguir - se localmente (RICKLEFS, 1993). Assim, um modo de detectar e monitorar os padrões de mudança na biodiversidade provocados por ações humanas é utilizar espécies, ou grupo de espécies, que funcionam como bioindicadoras de degradação ambiental (SANTOS et al., 2006).
Segundo Gradstein et al. (2001), as florestas secundárias com maior diversidade florística podem reter de 50– 70% das espécies de briófitas das florestas não perturbadas, ressaltando, portanto, a importância da conservação destes ecossistemas para a sobrevivência dessas espécies. Zartman (2003), ao estudar a brioflora epifila e fragmentos na Amazônia Central, ele confirma que as Briófitas são negativamente afetadas pela fragmentação do hábitat e sugere que o tamanho crítico do fragmento para a preservação da sua composição, riqueza e diversidade situa-se entre 10 e 100 hectares, comprovando assim a credibilidade do presente trabalho de pesquisa que apresenta uma área de aproximadamente (6) hectares, não
apresentando composição, riqueza e diversidade de espécies epifilas.
No período seco de Setembro a Outubro foram realizadas quatro (04) coletas com apenas vinte dois (22) indivíduos coletados como espaço amostral, havendo ocorrências das seguintes famílias: Leucobryaceae, Sematophyllaceae e Thuidiaceae. A família Sematophyllaceae teve maior ocorrência neste período. No período chuvoso de Março a Maio foram realizadas cinco (05) coletas com cinqüenta e três (53) indivíduos, representados pelas seguintes famílias: Calymperaceae, Fissidentaceae,
Leucobryaceae, Leucomiacea,
Sematophyllaceae e Thuidiaceae. As famílias que tiveram maior ocorrência no período chuvoso foram Calymperaceae, Sematophyllaceae e Thuidiaceae. Havendo ocorrência das famílias Leucobryaceae, Sematophyllaceae e Thuidiaceae nos dois períodos de coletas. (Figura 4).
Figura 4. Gráfico de incidência de exemplares dos períodos seco e chuvoso do da Zona da Mata do Sussurro GENTIL (2009)
O menor número de amostras coletadas foi no período seco visto que as briófitas apresentam dificuldade de reprodução na ausência de água, enquanto que maior quantidade de amostras em período chuvoso deve-se ao foto de possuírem uma camada externa estério ao redor das células protetora dos gametângios femininos e
masculinos e das células produtoras de esporos as quais na presença de água reidratam-se permitindo a reprodução (o anterozóide nada até o arquegônio por intermédio de uma película continua de água). (RAVEN et al., 2001). Outro fator é que a ausência de sistema vascular e de cutícula as torna sensíveis às alterações do micro clima e aos fluídos e poluentes ambientais tornando-as plantas de estimável importância no sensoriamento de perturbações do hábitat (HALLINBACK e HODGETTS, 2000; SCHOFIELD, 1985).
O grupo cinecológico que apresentou maior ocorrência foi corticícolo com 55% para as famílias Sematophylaceae, Calymperaceae e Leucobryaceae. O segundo grupo foi Epíxilo com 23% para as famílias Leucobryaceae e Sematophylaceae. Terceiro foi rupícolo com apenas 15 % para as famílias Potiaceae, Thuidiaceae e Sematophylaceae e por fim 7% para terrícolo as famílias Fissidentaceae e Dicranaceae. (Figura 5).
Figura 5. Gráfico da distribuição dos Grupos Briocinecológico. Corticícolo (tronco de árvore vivo); Epíxilo (Tronco de árvores morto); Rupícolo (Rocha) e Terrícolo (Solo). GENTIL (2009).
A família Calymperaceae apresenta tronco de árvore vivo (Corticícolo) como substrato ambiental; Dicranaceae e Fissidentaceae, Terrícolo (solo); a família Leucobryaceae tem como substratos ambientais tronco de árvore vivo (Corticícola) e tronco de árvore morto (Epíxilo); Leucomiaceae, corticícolo; Pottiaceae, apenas rochas (rupícolo); Sematophyllaceae, corticícolo (troncos vivos) e epíxilo (troncos mortos) e Thuidiaceae apenas rupícolo (rochas) (Tabela 3-em anexos).
De acordo com Richards (1984); Germano et al. (1998) em florestas tropicais úmidas, as briófitas podem ser classificadas de acordo com o substrato ocupado em epífilas (colonizadoras de folhas), epífitas (de troncos vivos) e epíxilas (de troncos mortos), afirmam que os troncos vivos seguidos por troncos mortos, são os preferidos para o estabelecimento das briófitas, isto pode ser observado nos resultados do trabalho (Figura 6), onde não foram encontradas nas coletadas espécies epífilas.
A ausência de espécies epífilas pode ser explicada por estas serem consideradas de ‘sombra’ e particularmente vulneráveis a distúrbios no ecossistema, estando entre as primeiras briófitas a desaparecer e terem suas riquezas e abundâncias reduzidas com a perturbação do hábitat quando a cobertura das florestas é aberta (GRADSTEIN, 1997; 2001). Em vegetações abertas onde há insolação intensa, as briófitas são encontradas preferencialmente colonizando casca ou tronco de árvores e arbustos e fendas das rochas, ou seja, em locais onde há alguma proteção contra uma rápida dessecação. Finalmente, epíxilas parecem ser apenas mais ameaçadas que as terrícolas (VANA, 1996).
4. Conclusão
As ausências de plantas epíxilas indicam distúrbios no ecossistema. Os táxons que colonizam exclusivamente folhas têm esta preferência confirmada em literaturas, o mesmo ocorre com táxons típicos de troncos vivos, estes dados sugerem que ausência de epifilas e grandes quantidades de corticícolas na Zona da Mata do Sussurro, é devido à perturbação do ecossistema primário.
As amostras coletadas anteriormente por acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas foram devidamente identificadas e classificadas. O trabalho comprova a carência de estudos da Divisão Briophyta com prováveis três ocorrências para Estado do Amapá em apenas nove hectares estudados de fragmento de floresta tropical no Campus da Universidade Federal do Amapá.
5. Agradecimento
Ao Laboratório de Botânica e Educação Ambiental (LABOT) da Universidade Federal do Amapá, e ao Programa Institucional de Iniciação Científica (PROBIC) pela cedência de Bolsa de Iniciação Científica para execução da pesquisa.
6. Referências bibliográficas
BASTOS, C. J. P. & Yano, O. Musgos da zona urbana de salvador, Bahia, Brasil: Hoehnea 20(1/2): 23-33,1993.
BATES, J.W. Mineral nutrition substratum ecology and pollution. Pp. 248-299. In: J.A. Shaw & B. Goffinet (Ed.). Bryophyte Biology. Chapman & Hall, London: 2000.
BUCK, W.R. Plerocarpous mosses of the West Indies. Memoirs of the New York Botanical Garden:, 82: 1-400, 1998.
CERQUEIRA, G.R. Levantamento da brioflora de um trecho de floresta ombrófila aberta no campus José Ribeiro Filho, Porto Velho, Rondônia, Brasil. Porto Velho, Fundação Universidade Federal de Rondônia, 40 p. 2008.
CHURCHILL S. P. Catalog of Amazonian Mosses. Missouri Botanical Garden, Box 299, St. Louis, USA. 1998)
FILGUEIRAS, T. S. & PEREIRA, B. A. S. Briófitas
in Flora do Distrito Federal. Pp. 364-366. In: (M. N.Pinto, org.). Cerrado: Caracterização Ocupação e Perspectivas, 1993.
GERMANO, S.R. & PÔRTO, K.C. Briófitas epíxilas de uma área remanescente de floresta atlântica (Timbaúba, PE, Brasil). 2. Lejeuneaceae. Acta botanica brasilica 12(1): 53-66, 1998.
GRIFFIN III, D. Guia Preliminar para as Briofitas freqüentes de Manaus e Adjacentes. Manaus: INPA. Acta Amazônica. Vol. 9 (3). 6, 1979.
GRADSTEIN, S.R. The taxonomic diversity of epiphyllous bryophytes. Abstracta Botanica 21(1): 15-19, 1997.
GRADSTEIN, S.R.; et al. How do sample the epiphytic diversity of tropical rain forests. Ecotropica 2: 59-72, 1996.
GRADSTEIN, S.R. et al. Guide to the Bryophytes of Tropical 143 America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577, 2001.
GRADSTEIN, S. R. et al. Hepáticas e Antoceros do Brasil. New York: Memoirs of the New York Botanical Garden, 1-318, 2003
GOFFINET, B. et al Morphology and classification of mosses. In Bryophyte Biology. Shaw, A.J. & Goffinet, B. (eds). Cambridge University Press: 1-123, 2009.
HALLINBACK, T & HODGETTS, N. (compilers) Mosses, Liverworts and Hoernworts. Status Survey and Conservation Action Plan for
Bryophytes. Bryophyte Specialist Group.
Cambridge: IUCN. 160, 2000.
HELL, K. G.. Briófitas talosas dos arredores da cidade de São Paulo (Brasil). Boletim de Botânica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo 335(25): 1-187, 1969 ILKIU-BORGES, A. L. & LISBOA, R. C. L. Os gêneros Lejeunea e Microlejeunea (Lejeuneaceae) na estação científica Ferreira Penna, estado do Pará, Brasil, e novas ocorrências, Belém, Acta Amazonica 32(4): 541-553, 2002.
ILKIU- BORGES, A. L.; TAVARES, A. C.C.; LISBOA, R.C.L.. Briófitas da Ilha de Germoplasma, reservatório de Tucuruí, Pará, Brasil. Acta Botânica Brasílica 18 (3): 689-692, 2004.
JOLY, A. B.. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. São Paulo. Ed. Nacional.134-186, 1993
KAGEYAMA, P. & LEPSCH-CUNHA, N.M. 2001. Singularidade da Biodiversidade nos Trópicos. In: GARAY, I.E.G. & DIAS, B.F.S. (Eds.). Conservação da Biodiversidade em
Ecossistemas Tropicais. Rio de Janeiro: Editora
Vozes. p. 199- 214. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, 243-245, jul. 2007.
LISBOA, R. C. L. Musgos Acrocárpicos do Estado de Rondônia. Coleção Adolpho Ducke. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi. 272, 1993.
LISBOA, R. C. L. Musgos (Bryophyta) e hapáticas (Marchantiophyta) da zona costeira do Estado de Amapá, Brasil. 2006
LISBOA, R. C. L. & ILKIU – BORGES, A. L. Diversidade das Briófitas de Belém (PA) e seu potencial como indicadoras de poluição urbana.
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Botânica 11 (2):199-225, 1995.
LISBOA, R. C. L. & ILKIU –BORGES, F. Briófitas da Serra dos Carajás e sua possível utilização como indicadoras de metais. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Botânica. 12 (2): 161-181, 1996.
LISBOA, R. C. L. & ILKIU – BORGES, A. L. A Família Sphachnobryaceae (Bryophyta) no Estado do Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Botânica. 13 (2): 103:110, 1997. LISBOA, R. C. L. & ILKIU – BORGES, A. L. Briófitas de São Luis do Tapajós, município de Itaituba, com novas adições para o Estado do Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, serie Botânica 17 (10): 75-91, 2001.
LISBOA, R.L, & MACIEL, U. N. Musgos da Ilha de Marajó I - Afuá, Pará. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, série Botânica 1(1): 43-56, 1994.
LISBOA, R.L, & MACIEL, U. N. Musgos da Ilha de Marajó II - Afuá, Pará. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, série Botânica 29(2): 201-206, 1999.
MENEZES, C. R.; NOBRE, F. R. O paisagismo no Campus Marco Zero do Equador da UNIFAP: diagnóstico preliminar das espécies existentes. In: 57º Congresso Nacional de Botânica, 2006, Gramado/RS. 2006
MORAES, M. C. N. Implementação de trilhas interpretativas para a educação ambiental no campus Marco Zero do Equador da UNIFAP. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) - Universidade Federal do Amapá, 2004.
MORAES, E. N. R.; LISBOA, R. C. L. Musgos (Bryophyta) da Serra dos Carajás, estado do Pará, Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 1, p. 39-68, jan-abr, 2006. PALMIERI, H. E.L. et al. Briófitas como bioindicadores de Hg, As, Sb e elementos terras raras na Estação Ecológica do Tripuí, Ouro Preto, Minas Gerais. Ouro Preto, Sociedade Brasileira de Química (SBQ), 1999.
PÔRTO, K. C. & Bezerra, Mª F. A. Briófitas da caatinga. 2. Agrestina PE. Acta botanica brasilica 10(1): 93-102, 1996.
RAVEN, F.H. et al. Biologia Vegetal. 6ª ed. Ed. Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 2001. RICHARDS, P.W. The ecology of the tropical forest bryophytes. Pp. 1233-1270. In: R.M. Schuster (Ed.). New Manual of Bryology. The Hattori Botanical Laboratory, Nichinan, 1984. RICKLEFS, R.M. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A. 505, 1993. SANTOS, M.S. et al. Riqueza de formigas (Hymenoptera, Formicidae) da Serrapilheira em Fragmentos de Floresta Semidecídua da Mata Atlântica na Região do Alto do Rio Grande, MG, Brasil. Lheringia 96(1): 95-101, 2006.
SANTOS, R. C. P dos & LISBOA, R. C. L. Musgos (Bryophyta) do Nordeste paraense Brasil-1 Zona Bragantina, Microrregião do Salgado e Município de Viseu. Acta Amazonica 33 (3) 415-422, 2003.
SANTOS, R. C. P dos & LISBOA, R. C. L.. Musgos (Bryophyta) do Nordeste paraense Brasil-1 Zona Bragantina, Microrregião do Salgado e Município de Viseu. Boletim do Museu Emilio Goeldi; série Botânica. Vol. 7 (2) 05-10, 2003. SCHOFIELD, W. B. Introduction to Bryology. Macmillan Publishing Company. 431, 1985. SHARP, A.J.; Crum, H. & Eckel, P.M. The moss flora of Mexico I e II. Memoirs of the New York Botanical Garden 69(1-2): 1-1113, 1994.
SHEPDER, G. J. Conhecimento de Diversidade de Plantas Terrestres do Brasil. Relatório final entregue ao Departamento de Botânica do Instituto de Biologia, UNICAMP. 1-54, 2000.
SOUZA, A. P. S.; LISBOA, R. C. L. Aspectos florísticos e taxonômicos dos musgos do município de Barcarena, Bol. Mus. Paraense. Emílio Goeldi. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 1, p. 81-104, jan-abr, 2006.
VANA, J. Notes on the Jungermaniineae of the World. Anales del Instituto de Biologia, ser. Botanica 67: 99-107, 1996.
VISNADI, S. R. & MONTEIRO, R. Briófitas da cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 17(1): 71-84, 1990.
VISNADI, S. R & VITAL, D. M. Bryophytes from greenhouses of the Institute of Botany, São Paulo, Brazil. Lindbergia 22: 44-46, 1997.
VITAL, D. M. & VISNADI, S. R. Bryophytes of Rio Branco municipality, Acre, Brazil. Tropical Bryology 9: 69-74, 1994.
YANO, O. Distribuição Geográfica de Leucobryaceae (Bryopsida) na Amazônia. Acta. Amazonica 12(2):307-321, 1982.
YANO, O. Briófitas. Pp. 27-30. In: O. Fidalgo & V. Bononi (coord.). Técnicas de coleta, Preservação e Herborização de Material botânico. Série Documentos, Instituto de Botânica de São Paulo, 1984.
YANO, O. A checklist of brazilian bryophytes. Boletim do Instituto de Botânica 10: 47-232, 1996. YANO, O.; CÂMARA, P. E. A. S. Briófitas de Manaus, Amazonas, Brasil. Manaus: Acta Amazonica. Vol. 34(3) 2004: 445 – 457, 2004. YANO, O. & LISBOA, R. C. L. Briófitas do Território Federal do Amapá, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Série Botânica 4: 243-270, 1988.
YANO, O. & MELLO, Z. R. Briófitas novas para o Estado de Roraima, Brasil. Acta Amazonica. 22: 23-50, 1992.
ZARTMANN, C.E. Habitat, Fragmentation Impacts on Epiphyllous Bryophyte. Communities in Central Amazônia. Ecology 84(4): 948-954, 2003.
ZARTMAN, C. E; ILKIU-BORGES, A.L. Guia para as Briofitas Epífilas da Amazônia Central. Manaus: INPA, 140, 2007.
7. Anexos
Tabela 01: Classificação Morfológica segundo Sharp (1994). (*) Indicam prováveis novas ocorrências.
Família Espécies Acrocárpicos Pleurocárpicos CALYMPERACEAE Calymperes palisotii ssp richardii (C. Mull) S. Edwards X
DICRANACEAE Campylopus sp. X
FISSIDENTACEAE Fissidentes SP X
LEUCOBRYACEAE Octoblepharum albidum (Dozy & Molk.) Mitt Octoblepharum pulvinato (Dozy e Molk.) Mitt X Octoblepharum SP
POTTIACEAE Tortula sp X
Hyophila involuta (Hook.) Jaeg
SEMATOPHYLLACEAE
Trichosteleum fluviale (Mitt.) Jaeg
X Trichosteleum sp.
Taxithelium porturicense (Brid.) Mitt. Taxethelium planum (Brid.) Mitt Taxithelium sp.
Sematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt. Sematophyllum subpinatum (Brid.) Britt Pyladelpha sp.
THUIDIACEAE Thuidium sp. Cyrto-hypnum sp. X
Tabela 02: Classificação Taxonômica segundo o sistema de classificação de Buck e Goffinet (2000); (*) Representa as famílias indicadoras de ambientes perturbadas.
Ordem Família Gênero Espécie
FISSIDENTALES FISSIDENTACEAE Fissidentes Fissidentes sp.
DICRANALES LEUCOBRYACECE* Octoblepharum Octoblepharum albidum (Dozy & Molk.) Mitt;
Octoblepharum pulvinato (Dozy e Molk.) Mitt.
Octoblepharum sp.
DICRANACEA Campylopus Campylopus sp.
POTTIALES CALYMPERACEAE* Calymperes Calymperes erosum CMull Calymperes lonchophyllum Schwagr
Calymperes palisotii ssp richardii (C. Mull) S. Edwards
Calymperes platyloma Mitt
Syrrhopodon Syrrhopodon sp
POTTIACEAE Tortula Tortula sp
Hyophila Hyophila involuta (Hook.) Jaeg
HYPNALES THUIDIACEAE Thuidium Thuidium sp.
Pelekium Pelekium schistocalix (Mull. Hall.) W. R. Buck & H. A. Crum.
SEMATOPHYLLACEAE* Pterogonidum Pterogonidum pulchellum (Hook) Mull. Hal
Pyladelpha Pyladelpha sp
Sematophyllum Sematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt.
Sematophyllum subpinatum (Brid.) Britt
Sematophyllum sp
Taxithelium Taxithelium concavum (Hook) Spruce
Taxithelium planum (Brid.) Mitt
Taxitheliumum sp
Trichosteleum Trichosteleum horschuchii (Hamp.) A. Jaeger
Trichosteleum papilosum (Hornschii)
Tabela 3: Classificação dos Grupos Cinecológicos de acordo com os substratos ambientais. Schofield (1985) e Bates (2000).
Família e espécies Corticícolo Epíxilo Rupícolo Terrícolo
CALYMPERACEAE
Calymperes erosum CMull X
Calymperes lonchophyllum Schwagr X
Calymperes palisotii ssp richardii (C. Mull) S. Edwards X
Calymperes platyloma Mitt
Syrrhopodon sp DICRANACEAE Campylopus sp. X FISSIDENTACEAE Fissidentes sp X LEUCOBRYACEAE
Octoblepharum albidum (Dozy & Molk.) Mitt X X
Octoblepharum pulvinato (Dozy e Molk.) Mitt X X
Octoblepharum sp X X
LEUCOMIACEA
Leucomium strumosun (Hornsch.) Mitt
X POTTIACEAE
Tortula sp. X
Hyophila involuta (Hook.) Jaeg X SEMATOPHYLLACEAE
Pterogonidum pulchellum (Hook) Mull. Hal X X
Pyladelpha sp X X
Sematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt. X X
Sematophyllum subpinatum (Brid.) Britt X X
Sematophyllum sp X X
Taxithelium concavum (Hook) Spruce X X
Taxithelium planum (Brid.) Mitt X X
Taxitheliumum sp X X
Trichosteleum horschuchii (Hamp.) A. Jaeger X X
Trichosteleum papilosum
THUIDIACEAE
Thuidium sp. X
Pelekium schistocalix (Mull. Hall.) W. R. Buck & H. A. Crum. X