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Desastre, atenção psicossocial e saúde mental: desafios para formação médica no internato de saúde coletiva. / Disaster, psychosocial attention and mental health: challenges for medical training in the collective health internate.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.18440- 18445 apr. 2020. ISSN 2525-8761

Desastre, atenção psicossocial e saúde mental: desafios para formação

médica no internato de saúde coletiva.

Disaster, psychosocial attention and mental health: challenges for medical

training in the collective health internate.

DOI:10.34117/bjdv6n4-133

Recebimento dos originais: 09/03/2020 Aceitação para publicação: 09/04/2020

Bethania do Carmo Caetano da Silva

Assistente Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora Mestranda Profissional em Atenção Psicossocial -IPUB

Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro Endereço: Ladeira João Henriques, 47- Centro -Carmo-RJ

E-mail: bethaniacaetano257@gmail.com

Carla Patricia André Pinto de Oliveira

Enfermeira pela Universidade Serra dos Órgãos Instituição: Centro Universitário Serra dos Órgãos

Endereço:Rua Whilhelm Cristian Kleme,320 bloco 04/304 Ermitage E-mail: carlapatriciatere@hotmail.com

Elaine de Souza Ramos Vidigal

Médica pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos Instituição: Centro Universitário Serra dos Órgãos

Endereço: Rua Padre Tintório 408, casa 27, Várzea, Teresópolis-RJ, Brasil. Email: srv.elaine@gmail.com

Rachel Pires Habib

Psicóloga com Formação em Teoria Psicanalítica pela Universidade Estácio de Sá Instituição: Universidade Estácio de Sá de Nova Friburgo

Endereço: Av. Presidente Tancredo Neves, 189- Progresso- Carmo-RJ E-mail: rachelhabib@yahoo.com.br

RESUMO

O internato de saúde coletiva reforça a vinculação entre estudantes de medicina e pacientes através de um acompanhamento de base territorial uma vez que sua compreensão perpassa também pela produção coletiva das relações sociais e subjetivas.O objetivo deste artigo é de apresentar estratégias de ensino aprendizagem na formação do profissional da área da saúde tendo em vista o território e as especificidades da população vítima do desastre que acometeu a cidade e região de Teresópolis com as chuvas de 2011. A inserção mensal de acadêmicos de medicina com suporte de preceptores com formação diferenciadas junto a uma unidade móvel da secretaria municipal de saúde atende aproximadamente oito mil habitantes que foram

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.18440- 18445 apr. 2020. ISSN 2525-8761 desalojados de suas casas distribuídos por sete condomínios. Alguns resultados já são vislumbrados na análise do processo ensino-aprendizagem. A contribuição para formação se dá através da construção de um olhar integral sobre os usuários em um território de vulnerabilidade social que aglomera inúmeras demandas clínicas e de atenção psicossocial decorrentes de sofrimentos pelas experiências de perdas vivenciadas na tragédia. Pretende-se publicizar os resultados desta proposta de formação a fim de qualificar o percurso formativo e a assistência prestada. A relevância está nos benefícios que este pode trazer para o repensar da formação médica e garantir a qualidade dos serviços prestados a esta população.

Palavras Chaves: Desastre. Formação Profissional. Saúde Coletiva. Saúde Mental.

ABSTRACT

The collective health internship reinforces the link between medical students and patients through territorial-based monitoring, since their understanding also involves the collective production of social and subjective relationships. The objective of this article is to present teaching and learning strategies in training of health professionals in view of the territory and the specificities of the population victim of the disaster that affected the city and region of Teresópolis with the rains of 2011. The monthly insertion of medical students with the support of preceptors with differentiated training from a mobile unit of the municipal health department serves approximately eight thousand inhabitants who have been evicted from their homes spread over seven condominiums. Some results are already seen in the analysis of the teaching-learning process. The contribution to training occurs through the construction of a comprehensive view of users in a territory of social vulnerability that brings together numerous clinical demands and psychosocial care resulting from suffering due to the experiences of losses experienced in the tragedy. It is intended to publicize the results of this training proposal in order to qualify the training path and the assistance provided. The relevance is in the benefits that this can bring to rethink medical training and guarantee the quality of services provided to this population.

Keywords: Disaster. Professional qualification. Collective Health. Mental health.

1 INTRODUÇÃO

O impacto das chuvas no estado do Rio em janeiro em 2011 foi sentido e ainda o é pelas vítimas principalmente no que diz respeito à saúde. Necessário se faz refletirmos sobre novas práticas e saberes que contemplem a ação e o cuidado em saúde dessa população bem como construir estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem na formação do profissional de saúde para lidar com essa demanda.

A saúde coletiva foi inserida na grade curricular do décimo segundo período do curso de medicina do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) a partir de janeiro de 2019 em atendimento à definição emanada a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais 2014, quanto à reestruturação da composição do Estágio Curricular Obrigatório de Treinamento em Serviço em Regime de Internato, dentre os quais, o de Saúde Coletiva. O módulo de saúde coletiva se divide em três cenários de prática em Teresópolis: Hospital das Clínicas Constantino Otaviano, Ambulatório da UNIFESO e Fazenda Ermitage.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.18440- 18445 apr. 2020. ISSN 2525-8761 A introdução do cenário da Fazenda Ermitage, local onde vivem aproximadamente oito mil pessoas vítimas da chuva, fornece novas experiências em relação à saúde coletiva. A grande quantidade de pacientes e os problemas de adoecimento clínico e psíquico demonstram o perfil da demanda local que tem como referência a unidade de saúde móvel do local.

Segundo EMERICH e ONOCKO-CAMPOS (2019, p.12):

A formação deve-se dar para o SUS e pelo SUS, tendo nos equipamentos de saúde o mais fértil terreno para o aprendizado e experimentação das práticas, a partir das reais demandas e desafios que se colocam no encontro com os usuários e com os territórios. Ao mesmo tempo em que os sujeitos transformam os serviços nos quais se formam, por meio de críticas e das necessárias proposições e invenções de modos de lidar com os problemas, por eles são transformados.

2 A CHEGADA

Em janeiro de 2019 iniciou- se o Internato em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UNIFESO com acadêmicos do décimo segundo período na Fazenda Ermitage, cenário que abriga vítimas da tragédia de 2011 da cidade e região de Teresópolis. A inserção de aproximadamente 20 acadêmicos a cada rotatório com suporte de três preceptores com formação em Medicina, Serviço Social e Psicologia se dá junto a uma Unidade Móvel da Secretaria Municipal de Saúde inaugurada em setembro de 2018. Sua equipe é composta por um médico, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, uma auxiliar de enfermagem, uma auxiliar de serviços gerais e uma recepcionista, que atendem a uma população de aproximadamente oito mil habitantes, que perderam suas casas, distribuídos por sete condomínios.

Segundo AGRELI et al (2016, p.911):

À medida que os profissionais centram atenção no usuário e suas necessidades de saúde em todo processo de trabalho, construindo a Atenção Centrada no Paciente na prática de cuidado, operam, simultaneamente, um deslocamento de foco para um horizonte mais amplo e além de sua própria atuação profissional, que se restringe ao âmbito da profissão e da especialidade. Este deslocamento dirige-se à prática compartilhada com profissionais de outras áreas.

Neste sentido, busca-se direcionar os trabalhos a fim de promover um espaço de formação médica em Saúde Coletiva que atenda as especificidades da população. Garantir a aproximação ensino/serviço/comunidade voltado para as vítimas do desastre; potencializar a intervenção precoce em saúde; identificar e traçar uma linha de cuidado para os casos de transtornos mentais e clínicos na Atenção Básica são algumas das frentes de trabalho que tem como prioridade o empoderamento do próprio usuário.

Para EMERICH e ONOCKO-CAMPOS (2019, p.3,4):

Superar a relação objetivante com o usuário e discutir dilemas do exercício profissional frente ao mandato social que convida à reprodução de práticas excludentes são questões fundamentais no trabalho, assim como reconhecer o usuário como sujeito, contraditório, que experimenta novas ligações com o outro,

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com o contexto, com o mundo. Ao invés de dizer ao usuário o que ele deve ou não fazer, estar ao lado dos sujeitos nos caminhos que eles trilham para suas vidas. Esta posição profissional não é fácil. Exige reflexão, recuo, invenção e ousadia. Convida ao questionamento do lugar da certeza, tão valorizada nas formações profissionais dos cursos da saúde.

A equipe multiprofissional de preceptores tem nos estudos de caso e nos espaços de discussão clínica com os acadêmicos um momento rico de troca e provocações para o repensar da prática ampliada do cuidado e do olhar quanto a demanda do usuário e a escolha horizontal do tratamento, considerando o desejo do paciente.

3 O IMPACTO NO SERVIÇO

O impacto do trabalho e das discussões introduzidas nos espaços de reflexão coletiva mesmo com pouco tempo, já podem ser registrados: garantia de um espaço inovador para a formação médica; ações de diálogo com a rede de serviços aumentando a circulação dos pacientes na mesma; ampliação de atendimentos na Unidade de Saúde; realização de ações coletivas de educação em saúde; agenda específica de acolhimento imediato aos sofrimentos pela Atenção Básica em Saúde Mental; ações intersetoriais visando à integralidade do cuidado; discussão e direcionamento de casos clínicos de forma transdisciplinar e centrada no paciente; seleção de casos traçadores para acompanhamento em longo prazo na rede garantindo a qualidade da atenção.

A contribuição para formação se dá através da construção de uma perspectiva ampliada do cuidado em saúde, de um olhar integral sobre os usuários em um território de vulnerabilidade social que aglomera inúmeras demandas clínicas e de atenção psicossocial decorrentes de sofrimentos pelas experiências de perdas vivenciadas na tragédia. Conforme AGRELI et al (2016,p.907):

(...) Compreendemos integralidade como um termo polissêmico que se refere a: capacidade de resposta às necessidades, não restrita a condições morfológicas ou funcionais do organismo; integração e não-segmentação das ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde; articulações interdisciplinares, intersetoriais e interprofissionais que proporcionem melhores condições na atenção à saúde, e a necessidade de qualidade das interações no cotidiano da atenção à saúde, com condições que permitam o diálogo entre as pessoas envolvidas no cuidado.

O foco está nas interações para o fortalecimento do vínculo, como forma de garantia da continuidade, aumento e qualidade dos atendimentos. Nos espaços de socialização para empoderar a comunidade a se identificar como tal, no olhar ampliado do médico em formação através das discussões com preceptores de diferentes formações a fim de garantir a participação da comunidade no acesso aos poucos serviços disponíveis no local, potencializando-os.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta é apontar e ressaltar aspectos relevantes que possibilitem uma reflexão no sentido de promover melhores aprofundamentos acerca da prática médica junto aos usuários com sofrimento mental na Atenção Básica e verificar de que forma esses sofrimentos se manifestam clinicamente.

A partir do mestrado profissional em atenção psicossocial-IPUB buscou-se os avanços e as fragilidades pelo que ainda se tem a aprimorar. Identificam-se apontamentos para melhoria da formação da atenção no trato ao sujeito e das relações que se estabelecem com intuito de tornar possível à melhoria dos indicadores de saúde em nosso território.

SCHMIDT e FIGUEREDO (2009, p. 130) sinalizam “os eixos acesso, acolhimento e

acompanhamento como elementos fundamentais para a análise da assistência e para a qualificação permanente dos serviços...”.

Apropriarmo-nos desses eixos para analisar as práticas do internato neste território de atenção pública em saúde, o que possibilitou um repensar do acesso livre de barreiras, uma acolhimento a partir da queixa do paciente – escuta ativa e a garantia do acompanhamento em longo prazo mesmo com a mudança dos grupos de rotatórios.

A relevância do tema abordado está nos benefícios que a prática compartilhada e centrada no usuário pode trazer para o repensar da formação médica no SUS bem como potencializar o cuidado junto ao usuário de forma ampla e contínua. No entanto, muitos ainda são os impasses: espaço físico inadequado para o atendimento da população; precariedade na consciência de unidade comunitária devido à fragilidade nas construções de vínculos entre os moradores; identificação de grande número de pacientes em uso de medicação psicotrópica sem prescrição médica; resistência de alguns acadêmicos na percepção do cenário da Fazenda Ermitage como lócus privilegiado na construção de possibilidades para o atendimento holístico do paciente na perspectiva da Saúde Coletiva e fragilidade do número de servidores da Fazenda Ermitage.

Neste sentido, podemos citar ROCHA et al (2012):

A convicção de que tudo o que acontece no mundo deve ser compreensível, pode levar-nos a interpretar a história por meio de lugares comuns. Compreender não significa negar nos fatos o chocante, eliminar deles o maldito ou, ao explicar fenômenos, fazer uso de analogias e generalizações que diminuam o impacto da realidade e o choque da experiência. Compreender quer dizer, antes de tudo, examinar e suportar conscientemente o fardo que os acontecimentos têm sobre nós, sem negar sua existência, nem vergar humildemente ao seu peso. Em suma, compreender equivale a encarar a realidade sem preconceitos e, com atenção, resistir a ela, independentemente de suas cores e feições.

Propõem-se assim, avanços para melhoria da qualidade dos serviços prestados: reuniões mensais de Educação Permanente com os diversos atores do cenário para entendimento das diretrizes de cuidado; trabalho em parceria com a Medicina Natural Integrativa de vertente não governamental; pesquisa acadêmica no território sobre transtornos mentais comuns; trabalho de conscientização sobre a potência da população enquanto comunidade para a

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.4,p.18440- 18445 apr. 2020. ISSN 2525-8761 reinvindicação de direitos e melhorias; garantia de um espaço próprio de cuidado e ampliação do olhar do profissional médico.

Ao final, todos são beneficiados, preceptores, médicos em formação, equipe e população que tem cada vez mais buscado acesso à unidade, fornecendo através de suas vivências, lócus privilegiado de sentido as práticas médicas que não esgotam em si mas ampliam-se à medida que entendem a singularidade de cada morador daquele território para além das questões clínicas.

REFERÊNCIAS

AGRELI, H., PEDUZZI, M e SILVA, M.C., Atenção Centrada no Paciente na Prática

Interprofissional Colaborativa, Interface. .Botucatu, 2016, v. 20, n.59, p905-916.

EMERICH, B. F., ONOCKO-CAMPOS, R, O. Formação para o Trabalho em Saúde

Mental: Reflexões a Partir das Concepções de Sujeito, Coletivo e Instituição. Interface -

Botucatu, 2019

ROCHA, T. e LOYOLA, C. (orgs) Cuidando do Futuro - Redução da Mortalidade Materna e Infantil no Maranhão, Introdução. Belo Horizonte, 2012 Rev. Bras. Enferm. vol.71 supl.3 2018.

SCHIMIDT, M.B., FIGUEIREDO, A.C : Acesso, Acolhimento e Acompanhamento: Três

Desafios para Cotidiano da Clínica em Saúde Mental, em Revista Latinoamericana de

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