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O serviço social e a inclusão da pessoa com deficiência no mundo do trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TANIA MARA ORTIGA TURNES

O SERVIÇO SOCIAL E A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO DO TRABALHO

Palhoça 2008

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TANIA MARA ORTIGA TURNES

O SERVIÇO SOCIAL E A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientador: Profª. Msc. Maria de Lourdes da Silva Leite Basto.

Palhoça 2008

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TÂNIA MARA ORTIGA TURNES

O SERVIÇO SOCIAL E A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO DO TRABALHO

Esse Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo Curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 26 de novembro de 2008.

______________________________________

Profª e Orientadora Maria de Lourdes da Silva Leite Basto, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________ Profª Salete Salete Cecília de Souza Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________ Profª. Janice Merigo, Msc.

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Dedico esse trabalho, aos meus pais Olegário e Terezinha, a meu esposo Antonio, e minhas filhas Winie e Keny.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelos valores que me transmitiram da vida. Ao meu esposo, companheiro e incentivador de todas as horas. As minhas filhas como motivador de não desistir nunca.

Aos meus irmãos como integrantes de minha jornada. Aos meus amigos, em especial à Ana por sua dedicação.

Aos meus professores, especialmente a Profª Maria de Lourdes, que foram muito mais que mestres; foram grandes amigos.

A amiga Marli Tiago, ao meu genro Duda e a Tânia, como parceiros incondicionais, principalmente durante a elaboração deste.

E essencialmente a Deus, por permitir que estas pessoas façam parte da minha vida.

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A impotência é fatal; a tirania é odiosa. Portanto, é necessário pôr a justiça e a força juntas; é para isso que a política serve e é isso que a torna necessária [...]. O que é justo? É alguém que põe sua força a serviço do direito e dos direitos. (COMTE – SPONVILLE)

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RESUMO

A trajetória das pessoas com deficiência na sociedade foi marcada por práticas de exclusão que negaram por muito tempo o direito à cidadania. Porém nos últimos anos em decorrência de leis e movimentos sociais, busca-se modificar conceitos que se encontram cristalizados em nossa sociedade. O reconhecimento à igualdade de oportunidades principalmente no trabalho vem contribuindo de forma significativa para que estas pessoas passem a se integrar no meio social e conseqüentemente desenvolver suas potencialidades. Para tanto é necessário o desempenho da sociedade como um todo, com o envolvimento da família, da escola, das empresas buscando modificar o olhar que a sociedade criou sobre estas pessoas. Reconhecê-las como cidadão, significa avançar para uma sociedade mais humanizada, com maior justiça social e mais igualitária. Este trabalho trata de um estudo sobre o processo de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, mais especificamente a inclusão pelo trabalho, onde é apresentada uma pesquisa com três empresas do ramo varejista/supermercadista, as quais contam em seu quadro de colaboradores pessoas com deficiência. Também são abordados aspectos históricos e conceituais, bem como a explanação da proteção especial estabelecida na legislação brasileira e nas políticas sociais dirigidas à este segmento da sociedade. Outrossim, apresenta o Serviço Social na afirmação da cidadania da pessoa com deficiência e promoção de sua inclusão social, apresentando também a Fundação Catarinense de Educação Especial, locos do estágio.

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LISTA DE SIGLAS

APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

CAP - Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento as Pessoas com Deficiência Visual

CAS - Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento a Surdez

CEDUF - Centro de Educação Física

CENAE - Centro de Avaliação e Encaminhamento CENAP - Centro de Ensino e Aprendizagem CENER - Centro de Educação e Reabilitação CENET - Centro de Educação e Trabalho CEVI - Centro de Educação e Vivencia

FCEE - Fundação Catarinense de Educação Especial IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística NAAHS - Núcleo de Atividades de Altas Habilidades OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde ONU – Organização das Nações Unidas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

2 CONTEXTUALIZANDO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL... 12 2.1 CONCEITOS E SIGNIFICADOS DE DEFICIÊNCIA... 12

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A DEFICIÊNCIA... 15

2.3 A QUESTÃO SOCIAL DA DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO BRASILEIRO.... 20

2.4 DA SEGREGAÇÃO À INCLUSÃO... 21

2.4.1 Família e inclusão social... 24

2.4.2 Escola e inclusão social... 27

2.4.3 Trabalho e inclusão social... 30

2.4.3.1 Concepções sobre o trabalho... 30

2.4.3.2 O processo de inclusão das pessoas com deficiência... 35

2.5 O ESTADO E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA... 38

2.6 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL... 42

3 O SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE... 46

3.1 APRESENTANDO A FUNDAÇÃO CATARINENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, LOCUS DO ESTÁGIO... 49 3.2 APRESENTANDO O CENET E O TRABALHO DE SERVIÇO SOCIAL... 51

3.3 PRATICA VIVENCIADA... 55

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3.4.1 Caracterização da pesquisa... 59

3.4.2 Sujeitos da pesquisa... 59

3.4.3 Instrumento de coleta de dados... 60

3.4.4 Apresentação e análise dos dados... 60

3.5 RESULTADO DA PESQUISA... 60

3.5.1 Apresentação da análise e descrição dos dados quantitativos... 61

3.5.2 Apresentação da análise e descrição dos dados qualitativos... 70

3.5.2.1 Funções mais requisitadas... 70

3.5.2.2 Avaliação da condição física para preenchimento do cargo... 70

3.5.2.3 Quanto à adequação ao nível de escolaridade... 71

3.5.2.4 Quanto à concepção do cargo... 71

3.5.2.5 Quanto à integração... 72

4 CONSIDERAÇÕES... 76

REFERÊNCIAS... 79

APÊNDICE (S) ... 84

APÊNDICE A - Questionário para coleta de dados... 85

ANEXO... 87

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1. INTRODUÇÃO

A história da pessoa com deficiência foi construída sob a égide de seres inúteis, que em muitas culturas eram exterminados. Até o século XX essas pessoas foram segregadas, estigmatizadas, sem nenhum valor para a sociedade, sendo, portanto, tolhidas de seus direitos. Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que proclamou a igualdade, a liberdade e a fraternidade, foi lançada a semente para que a sociedade passe a vê-las como sujeito de direito, buscando eliminar, as formas preconceituosas existentes na sociedade.

O presente trabalho de conclusão de curso é resultado da articulação entre a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I e II e Estágio Supervisionado I, II e III, cujo lócus do estágio foi realizado na Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), mais especificamente na unidade Centro de Educação e Preparação para o Trabalho (CENET).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) traça normativas para todas as atividades educativas, inclusive, a educação profissional na Educação Especial, e com base nesse aparato legal é que o CENET estabeleceu a inclusão de seus educandos através da educação profissional, utilizando as Oficinas Protegidas Terapêuticas e Educação Profissional/Mercado de Trabalho.

Diante do contexto atual em que o trabalho vem se apresentando como um desafio, sendo cada vez mais requisitado um perfil de trabalhador que atenda as exigências do mercado, onde a pessoa com deficiência deve romper com barreiras físicas e atitudinais para o reconhecimento desse direito.

O trabalho é um direito inerente a todo o homem, contemplado na constituição de 1988, e como um direito social, tem o dever de estender a todos os membros da sociedade, sem descriminação. Os preceitos da Constituição devem também, servir de base na elaboração de políticas públicas que atendam os indivíduos na sua integralidade, contribuindo para o seu pleno desenvolvimento e inserção social. Sendo assim, cabe ao Serviço Social garantir os direitos, principalmente aos grupos que se encontram excluídos.

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Em vista disso, a presente pesquisa pretende refletir e divulgar sobre as questões que permeiam o acesso ao trabalho à pessoa com deficiência, apresentando as leis existentes que asseguram o direito ao trabalho e também as principais barreiras sociais existentes entre a pessoa com deficiência e o mercado de trabalho, analisando a aceitação das pessoas com deficiência por este, bem como contextualizar o trabalho como forma de inclusão. Visto que ainda se trata de um assunto, pouco abordado pela sociedade, mostrando que apesar da proteção legal, ainda deverá ocorrer avanços significativos a fim de garantir a cidadania das pessoas com deficiência, as quais dependem do efetivo papel do Estado, da sociedade, mas também, das próprias pessoas com deficiência.

No primeiro momento deste trabalho é abordada a questão da deficiência com seus aspectos conceituais, históricos e sociais relevantes que influenciam na inclusão social, bem como os fatores relacionados a legislação, apresentando mais especificamente a proteção legal para as pessoas com deficiência e as políticas públicas para promoção de seus direitos .

No segundo momento, é apresentado o papel do Serviço Social enquanto profissão comprometida com a promoção da dignidade, da igualdade e justiça social, como também, o campo de estágio e o resultado da pesquisa junto as Empresas do ramo varejista/supermercadista, além das considerações referentes a este trabalho.

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2. CONTEXTUALIZANDO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL

A sociedade criou para as pessoas com deficiência um mundo a parte, sem direitos; portanto sem dignidade. Ainda hoje se traduz nos gestos e palavras os preconceitos, e que os impede de serem reconhecidos como cidadãos.

Os padrões de homem estabelecidos socialmente para o reconhecimento da sociedade estão baseados em ideais de beleza e eficiência, onde quem não os possui ficam marginalizados. As pessoas com deficiência em função de sua particularidade não atendem tais padrões e conseqüentemente são excluídos.

O mundo contemporâneo está cada vez mais envolvido por princípios de competitividade, onde se apresenta bem evidente, na indústria, no comércio e conseqüentemente no mundo do trabalho.

Dentro do panorama que vive a atual sociedade se encontram aqueles cuja trajetória histórica já havia sido de exclusão. Porém há algumas conquistas em prol da inclusão social da pessoa com deficiência a partir do processo de sua integração social. Porém o processo de inclusão social tem suas bases dentro dos princípios constitucionais, que deve sobrepor qualquer forma de ordem econômica.

A inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, a torna mais justa e solidária, onde cada homem deve ser respeitado dentro de suas particularidades.

2.1 CONCEITOS E SIGNIFICADOS DE DEFICIÊNCIA

No decorrer da história várias denominações foram atribuídas ao tratar da pessoa com deficiência. Ao longo do tempo foram utilizados termos como aleijado, inválido, incapacitado, defeituoso, desvalido, na Constituição de 1934, excepcional, na Constituição de 1937, e pessoa deficiente na Emenda constitucional 12/78 (GUGEL, 2006)

Porém foi em 1975 que a ONU institui a Declaração dos Direito da Pessoa Com Deficiência para apoio e proteção de seus direitos, introduzindo o

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termo “pessoa com deficiência”. Foi a partir da década das Nações Unidas para as pessoas com deficiência (1982-1992) que o termo pessoa com deficiência entra na constituição brasileira de 1988. (GUGEL, 2006)

O termo “pessoa com necessidades especiais” é também utilizado, mas de forma equivocada, pois a ele deve ser atribuído para a área da educação que designa não só as pessoas portadoras de deficiência, mas superdotados, obesos, idosos, pessoas com distúrbios de atenção e outros. (MARANHÂO, 2005)

A Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas com deficiência, assim defini deficiência: “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social” (GUGEL, 2006, p. 30)

A Organização Mundial da Saúde também conceitua a deficiência como “toda perda da normalidade de toda estrutura de função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”.

Contudo, há um mito entre deficiência e incapacidade, sendo que se atribuí a pessoa deficiente a uma pessoa incapaz. A incapacidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde como:

uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios de recursos especiais para que a pessoa com deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal, e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. (MARANHÃO, 2005, p. 39)

Também há outras inadequações com relação à palavra deficiência que a deprecia. Conforme relata Areosa (2004), existe uma tendência comum da população em considerar o termo Deficiência como oposto de Eficiência quando na verdade o seu oposto é ineficiência. A utilização do termo “incapacitado” na questão conceitual leva alguns juristas como Diniz (apud Alves, 1992, p. 43) colocar que:

se uma pessoa é colocada como incapaz estritamente dentro do Direito do trabalho, podemos entender que tal pessoa está impossibilitada ou mesmo em condições adversas para desempenhar atividades que lhe são delegadas em função de um contrato de trabalho ou por circunstâncias da vida.

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Na sua visão, o termo incapacitado deve ser substituído por condições físicas limitante para designar as impossibilidades de desempenho de trabalho.

No Brasil, a Lei nº 7842/93 em seu Artigo 20, parágrafo 2, preceitua que “[...] a pessoa com deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho”.

Cabe ressaltar que para o Direito do trabalho, o que importa é o impacto que a deficiência causa sobre a capacidade de trabalho do indivíduo e de que forma ela pode interferir em sua integração social. (MARANHÃO, 2005)

As deficiências físicas podem ser divididas em duas espécies: congênitas, aquelas que acompanham o indivíduo desde a concepção; e adquirida, todas as que vierem a se estabelecer ou afetar os modos do ser do físico da pessoa “normal” ao longo de sua existência”. (ALVES, 1992, p.35)

No primeiro caso, há formas de prevenção através de vacinas, tratamentos clínicos ou cirurgias, medicamentos e outros. Já no segundo caso, grande parte é decorrente de acidentes de trabalho, existindo o sistema de reabilitação que procura readaptar o indivíduo a novas situações, e pela atenção devida as normas de segurança e Medicina do Trabalho. Além dos acidentes de trabalho, se apresentar de forma expressiva como causadores de deficiência, há também os acidentes de trânsito, sendo que o Brasil está entre os recordistas mundiais. (ALVES, 1992)

Gugel (2006) afirma que o Artigo 70 do Decreto nº 5296 de 02 de dezembro de 2004 que regulamentou as chamadas Leis de Acessibilidade apresentam as seguintes categorias de deficiências: deficiência física, deficiência auditiva; deficiência visual; deficiência mental e deficiência múltipla.

Contudo, a questão cultural leva os indivíduos a tratarem os homens dentro de um padrão de classificação, e isso se apresenta de forma marcante para as pessoas com deficiência, sendo que, ao tratar destas pessoas é importante não se generalizar, pois se deve levar em conta, principalmente, o aspecto individual, inerente ao homem.

As circunstâncias de cada um é o mundo de cada um, compreendendo o próprio corpo singular de cada homem, a natureza física, psíquica, e biológica circundante e a realidade social, concreta em que cada um se encontra se compondo de fatores econômicos, éticos políticos, etc. (DINIZ apud ALVES, 1992, p. 67)

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Portanto, para se entender as questões que permeiam as pessoas com deficiência e seu processo de exclusão, são necessários considerarmos aspectos históricos que contribuem para a materialização dos preconceitos.

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A DEFICIÊNCIA

Para Maranhão (2005), as várias formas de compreender a deficiência são explicadas e apreendidas de acordo com as concepções de que dispõe a sociedade em cada momento histórico, bem como, também os são, as atitudes e comportamentos sociais em relação a estes indivíduos.

A identificação do estigma em torno da pessoa com deficiência leva a uma reflexão sobre o processo histórico, que de acordo com Fonseca (1997) é possível entender uma sociedade tomando como base as coisas com as quais ela se identifica, ou se assemelha, sendo possível compreendê-la por aquilo que ela rejeita e que é objeto de sua exclusão.

Na civilização egípcia, Maranhão (2005) relata que era atribuída penas mutiladoras como a das mãos, genitálias, nariz, língua e das orelhas. Geralmente as mutilações atendiam parte do corpo com as quais os condenados cometiam seus crimes, enquanto que para o povo hebreu, deficiência física ou metal significava certo grau de impureza e pecado. Pode-se citar também que a Lei de Talião que constituía o código dos hebreus e o Código de Hammurabi previa como forma de punição a amputações em partes do corpo.

Com relação ao comportamento da civilização grega, mais especificamente em Atenas, quanto aos deficientes, Silva, apud Maranhão 2005, p. 23) descreve:

quando nascia uma criança, o pai realizava uma festa [...]. Os costumes exigiam que ele tomasse a criança em seus braços, dias após seu nascimento, e a levasse solenemente à sala para mostrá-la aos parentes e amigos e para iniciá-la ao culto aos deuses. A festa terminava com banquete familiar. Caso não fosse realizada a festa, era sinal que a criança não sobreviveria. Cabia, então, ao pai extermínio do próprio filho.

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Dizia que em Esparta e Atenas (Grécia), crianças com deficiências físicas ou mentais eram consideradas subumanas, sendo eliminadas ou abandonadas, em conseqüência da valorização dos padrões de beleza atlética daquelas culturas (Giordano, 2000). Neste contexto, Maranhão (2005) acrescenta que nas duas cidades oficialmente era determinado que soldados feridos gravemente ou mutilados, bem como seus familiares, receberiam diversas vantagens, inclusive sendo alimentados pelo Estado.

Portanto, neste sentido, esta atitude de amparo do Estado já pode ser vista como uma “política de assistência” e são atribuída à civilização Grega as primeiras atitudes de proteção do Estado às pessoas com deficiência.

No povo romano, a vida era garantida ao recém nascido em função de sua vitalidade ou compleição física, sendo que a Lei das XII Tábuas estabelecia a eliminação do recém nascido pelo pai caso nascesse deformado ou com sinais de monstruosidades. (MARANHÃO, 2005)

A prática de eliminação ao nascimento de pessoas com deficiência vinculáva-se a um valor social, pois povos que possuíam exércitos expressivos atribuíam à força física como fundamental.

Na Idade Média, as pessoas com deficiência intelectual eram tidas ora como “crianças do bom Deus”, ora como “bobos da Corte” e considerados por Lutero e Calvino, durante a Reforma Protestante, como “indivíduos possuídos por Satanás”, conforme contextualiza Mazzotta (1996, p.16), afirmando também que “até o século XVIII, as noções a respeito da deficiência eram basicamente ligadas ao misticismo e ocultismo”.

Cabe salientar que os “Bobos da Corte” na maioria anões e corcundas, eram as pessoas que realizavam atividades de entretenimento aos nobres, portanto podem ser consideradas como uma das primeiras profissões de pessoas com deficiência.

Contudo, este período recebeu grande influência do cristianismo. Maranhão (2005, p. 25) afirma que:

o conteúdo da doutrina cristã baseava-se na caridade – virtude que tinha como base sentimentos de amor ao próximo, o perdão, a humildade e a benevolência – conteúdo este pregado por Jesus Cristo e que, cada vez mais, conquistava sobremaneira os desfavorecidos. Entre estes estavam aqueles que eram vítimas de doenças crônicas, defeitos físicos e mentais.

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Atribui-se a sobrevivência das pessoas com deficiência neste período como muito remota, tendo em vista a sua relação com o misticismo; em contrapartida a Igreja passa a tomar as primeiras atitudes positivas de assistência para com estas pessoas.

Entretanto, Mazzota (1996) afirma que a religião, ao colocar o homem enquanto “imagem e semelhança de Deus”, sugeriu a idéia da perfeição física e intelectual. Logo, aqueles que não eram “parecidos com Deus”, as pessoas com deficiência ou imperfeitas, por exemplo, eram colocadas à margem da sociedade.

Ainda, Maranhão (2005, p.25) comenta que na Idade Média já havia a preocupação da Igreja quanto aos deficientes, em que

[...] casos de doenças e de deformações começaram a receber mais atenção, e isto ficou demonstrado com a criação de hospitais e abrigos para doentes e pessoas portadoras de deficiências, por senhores feudais e por governantes [...].

Vale ressaltar que nesta época os hospitais, eram lugares de exclusão, onde os doentes eram separados da sociedade com o intuito de preservá-la.

Maranhão (2005) afirma que com o fim do regime feudal a forma de tratamento, de abrigo designado a estas pessoas passa a ser assumido pelo Estado através da “Lei dos Pobres”, “que foi promulgada em 1597”, onde determinava “que todos os atendidos pelo sistema de assistência pública vivessem confinados em locais tão-somente a eles destinados” (MARTINELLI, 1997, p.55). Contudo, foi no período do Renascimento que foi desvinculada a idéia de que todas as causas estavam relacionadas às questões divinas, pois,

com o surgimento do chamado “espírito científico”, apareceram os primeiros direitos para aqueles postos à margem da sociedade. O homem saía das trevas da ignorância e da superstição, em que se encontrava na Idade Média, para sentir-se mais livre, menos oprimido e mais valorizado. (MARANHÃO, 2005, p.26)

Em 1544, na França, para resolver a situação dos miseráveis foi criada a “esmola geral” que mantinha os hospitais, os quais prestavam alguns atendimentos, entre eles aos deficientes. No ano de 1656, na França foram criados os hospitais gerais que davam abrigo, alimentação e algum tipo de assistência médica. (MARANHÃO, 2005)

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Contudo, o marco histórico pela valorização do homem como cidadão estabelecido dentro de princípios fraternos em busca de uma igualdade social se apresenta com a Revolução Francesa.

“A Revolução Francesa em 1789 estabelece um clima favorável a notificar todo o tipo de injustiças sociais e revisão do tratamento subumano dispensado anteriormente”. (MOUSSATCHÉ, 1997, p. 10)

Essa revolução trouxe a mudança de ótica da sociedade, passando a encarar a deficiência do ponto de vista alquímico, portanto tratável. Neste período, também surgiram os avanços no campo filosófico, médico e educacional e houve as primeiras iniciativas de comunicação para surdos, criando-se também o código Braille para as pessoas cegas, bem como o desenvolvimento de ferramentas de auxílio, tais como, cadeiras de rodas, bengalas, próteses entre outros instrumentos (GUGEL, 2006).

Maranhão (2005) acrescenta que no século XVIII os hospitais começaram a apresentar uma forma mais humanizada no atendimento, surgindo um avanço no tratamento dos direitos dos seres humanos que se estende ao século XIX e XX.

Defendidos por vários médicos influenciados pela Igreja, os ideais de isolamento e segregação social dos deficientes foram mantidos até o século XIX e criaram uma visão fatalista da diferença, ou seja, que havia pouco ou quase nada, a ser feito para esses indivíduos (BIANCHETTI, 1998).

A reação contra a política de segregação institucional que submeteu por muito tempo as pessoas com deficiência à exclusão social surgiu com a idéia de integração, ou seja, “se algumas culturas simplesmente eliminavam as pessoas com deficiência, outras adotaram a prática de interná-las em grandes instituições de caridade” (SASSAKI, 1999, p.31).

Neste contexto, as instituições tinham por objetivo a preservação da sociedade através de práticas de “ajustes dos indivíduos”. Para Goffmann (apud Correr, 2003, p.26) “as instituições se definem como locais estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si ou que podem representar uma ameaça a comunidade”.

Todo esse processo histórico passou por uma conformidade social negativa, baseada na idéia de que a condição de “deficiente” era uma condição inalterável, levando a uma completa omissão da sociedade e do Estado em relação

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à disposição de serviços, bem como, de políticas públicas que atendessem às necessidades especiais desses sujeitos (MAZZOTTA, 1996).

Dessa forma, somente quando alguns membros da sociedade adquiriram maturidade e despontaram como líderes na área da deficiência, sensibilizando, e propondo, impulsionando e organizando meios de atendimento às pessoas com deficiência, é que “várias áreas da vida social se abriram para a construção de conhecimento e de alternativas de atuação com vistas à melhoria das condições e vida destes indivíduos”. (MAZZOTTA, 1996, p.17).

Também o desenvolvimento científico aponta para a evolução de novos conceitos, proporcionando o surgimento de novos valores e formas de convívio, tratando a “diferença” como algo inerente na relação dos seres humanos.

As primeiras décadas do século XX, aparece um mundo impulsionado pela possibilidade de industrialização, grandes mudanças sociais. Renovação na área de responsabilidade científica, promovendo descobertas como as falhas congênitas, fenilcetonúria, defeitos metabólicos, etc. (MOUSARTCHÉ apud MANTOAN, 1997, p. 11)

As pesquisas em diversas áreas como educação e saúde, adotaram novas formas de se tratar a deficiência, como pessoas dotadas de capacidades e que deveriam ser desenvolvidas através de um processo de integração social.

Neste contexto, se estabeleceram princípios de que pessoas com deficiência deveriam ser desinstitucionalizadas, portanto dignas de um convívio social normal, sendo então viabilizados serviços com objetivo desta integração.

No século XX, passadas as duas Grandes Guerras e a Guerra do Vietnã, onde houve uma importante evolução no que tange a reabilitação dos mutilados e a sua integração junto à sociedade. Foi um salto para que a sociedade mundial se reordenasse e as Nações Unidas proclamasse a Declaração dos Deficientes Mentais, onde modificou a visão da sociedade, aproximando os deficientes mentais dos demais seres humanos. (GUGEL, 2006)

Foi na Europa que surgiram as primeiras instituições especializadas no atendimento às pessoas com deficiência, seguido pelos Estados Unidos e Canadá e posteriormente em outros países como o Brasil. (GUGEL, 2006)

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2.3 A QUESTÃO SOCIAL DA DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO BRASILEIRO.

A defesa da cidadania e dos direitos às pessoas com deficiência é atitude recente na sociedade, manifestada muitas vezes, através de medidas isoladas, de indivíduos ou grupos, para conquista e reconhecimento de alguns direitos que podem ser identificados como elementos integrantes de políticas sociais a partir de meados deste século. (MAZZOTA, 1996).

A questão da deficiência foi tratada com maior sensibilização nos países que passaram as conseqüências das guerras mundiais, proveniente do grande número de mutilados. Nos países que não passaram por esta experiência como o Brasil, a pessoa com deficiência ainda é ignorada, fazendo-se presente de forma marcante a exclusão social, apresentando dificuldades, sendo necessário estabelecer, por meio de leis e regras, a igualdade, que diante da nossa cultura por muitas vezes tornam-se insuficientes, sendo necessária a intervenção do Ministério Público visando garantir a sua cidadania. (FERREIRA apud MAZZOTA, 1996).

Historicamente, segundo ALVES (1992), no início da colonização brasileira, não era freqüente entre os índios a manifestação de deficiências, por outro lado, os portugueses que aqui chegaram, foram acometidos de doenças tropicais que acabaram levando à doenças físicas ou sensoriais. Porém, a marca da impossibilidade para o trabalho foi atribuído ao período da escravidão, que pelos maus tratos causavam deficiência física.

Portanto, foi em 1854 que houve a primeira manifestação significativa para com as pessoas com deficiência com a criação do Imperial Instituto dos meninos cegos, Instituto dos surdos-mudos e o Asilo dos inválidos da Pátria, todos criados por D. Pedro II. Sendo este, considerado um marco do surgimento nas relações de trabalho para as pessoas com deficiência no Brasil. Todavia, o Asilo dos Inválidos era mantido pelo Estado, onde eram desempenhados trabalhos de horta, oficinas, conforme a força física e de forma coercitiva. (ALVES, 1992).

Ainda, no Período Imperial foram criados o Hospital Psiquiátrico da Bahia, em 1874, e o Pavilhão Bourneville, no Hospital D. Pedro II, todos para tratamento de deficientes mentais. (GUGEL, 2006).

Com relação ao atendimento específico ao deficiente intelectual, evidenciando, neste momento, o surgimento da educação especial, tem-se o surgimento do Instituto Pestalozzi de Canoas, em 1926, em Porto Alegre. As

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Sociedades Pestalozzi se reproduziram pelo país, e no ano de 1971, é fundada a Federação Nacional das Sociedades Pestalozzi do Brasil. (GUGEL, 2006)

No Rio de Janeiro, em 1974, e em São Paulo, em 1961, são criadas as primeiras Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais, as chamadas APAE, que apresentavam como objetivo principal “cuidar dos problemas relacionados com o excepcional deficiente mental” (MAZZOTTA, 1996, p.47).

No tocante ao trabalho, foi por volta de 1950 que se iniciou a prática da colocação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, sendo que até 1980 a colocação profissional eram os Centros de Reabilitação Profissional, onde era feitas a orientação e avaliação do potencial laborativo, realizando-se treinamentos e finalmente a colocação em emprego. Também fizeram parte deste processo as escolas especiais, os Centros de Habilitação, as oficinas protegidas de trabalho e Centros de profissionalização. (SASSAKI, 1997).

Para Areosa (2004), atualmente no Brasil as informações sobre as pessoas com deficiência configuram-se um fator restritivo aos acessos de direitos e oportunidades, que são comuns aos demais cidadãos. O desconhecimento de uma grande parcela da população, sobre as pessoas com deficiência comprovam uma sociedade pouco solidária e com um perfil omisso. Já, no plano de governo, o que se vê são programas, projetos, leis e decretos, que ficam, na maioria das vezes, só no papel. Muitas vezes há ações paralelas entre o setor privado e o governo, com o foco em pequenos grupos, sem apresentar efetividade.

Também nos estados e municípios não existe uma política efetiva de inclusão que viabilize planos integrados de urbanização, acessibilidade, de saúde, educação, esporte, cultura, com metas e ações convergentes que proporcione garantia de direitos.

2.4 DA SEGREGAÇÃO À INCLUSÃO.

Por muito tempo a deficiência foi vista como doença e, portanto dependendo de cuidados de outras pessoas. No modelo médico da deficiência “A pessoa deficiente precisa ser curada, tratada, reabilitada, habilitada, etc. a fim de ser adequada à sociedade como ela é, sem maiores modificações” (SASSAKI apud SASSAKI, 1997, p. 29).

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Nesse caso as pessoas eram institucionalizadas com a finalidade de ter abrigo, alimento, medicamento e alguma atividade para ocupar o tempo ocioso. (SASSAKI, 1997).

Na década de 60, houve uma explosão das instituições como escolas especiais, centro de habilitações e reabilitação, oficinas protegidas de trabalho e outros, sendo que no final dessa década se inicia um movimento pela integração social destas pessoas. Nesse caso, pode-se atribuir os fatores como a importância da Declaração dos Direitos Humanos que trouxe no seu bojo uma reflexão sobre o homem, e o avanço cientifico que passou a dar explicações e criar possibilidades para um processo de integração.

O modelo de integração visa inserir na sociedade as pessoas com deficiência, mas desde que ele esteja de alguma forma capacitada a superar as barreiras físicas, programáticas e atitudinais nela existente. Este modelo serviu de base para o estabelecimento da equiparação de oportunidades pressuposto de uma sociedade inclusiva. (SASSAKI, 1997)

As necessidades das pessoas com deficiência, não se restringiam apenas ao atendimento assistencial, mas também a sua inserção ao meio social. O movimento pela integração social destas pessoas iniciou-se a partir do final da década de 1960 e procurou introduzi-las nos sistemas sociais gerais, entendidos por Sassaki (1999) como aqueles voltados à educação, ao trabalho, à família, e ao lazer.

Na década de 1970 as instituições especializadas no atendimento aos deficientes passaram a utilizar os ideais da normalização em seus serviços e espaços físicos, ou seja, criaram ambientes separados, porém, o mais parecido possível com àqueles em que a população em geral vivia. Essas entidades criaram um universo paralelo para tornar a vida dos seus usuários a mais “normal” possível.

Sassaki (1999, p.34) destaca que “a integração tinha e tem o mérito de inserir as pessoas com deficiência na sociedade, sim, mas desde que ele esteja de alguma forma “capacitado” a superar as barreiras físicas, programáticas e atitudinais nela existentes”.

Contrapondo-se aos limites apresentados pelo modelo da integração, o ideal da inclusão social surge na década de 90, como um processo pelo qual a sociedade deve se ajustar para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, as pessoas com deficiência, ao passo que estas se dispõem em assumir seus papéis dentro dos sistemas sociais.

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Para Sassaki (1997) a inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se adaptou para incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com deficiência e, simultaneamente, elas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.

Ao se atribuir que as questões culturais construídas sobre a deficiência é o resultado de como as pessoas ditas “normais” estabelecem tais valores, portanto a desconstrução de determinados conceitos, depende das atitudes das próprias pessoas com deficiência, em prol da construção de um novo modelo de sociedade.

A inclusão social depende da mudança destes paradigmas que não só depende da sociedade, mas também de como as pessoas com deficiência tratam de sua própria deficiência. Para tanto, é necessário eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as pessoas com deficiência possam ter acesso aos serviços, lugares, informações e bens necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. (SASSAKI, 1997)

A inclusão é um movimento político que tem por filosofia a crença de que todos têm o direito de participar ativamente da sociedade e, na sua ideologia, incluir é uma maneira possível para quebrar as barreiras cristalizadas em torno dos grupos estigmatizados. (WERNECK,1997)

A inclusão é o termo que se encontrou para definir uma sociedade que considera todos os seus membros como cidadãos legítimos. Uma sociedade em que há inclusão é uma sociedade em que existe justiça social, em que cada membro tem seus direitos garantidos e que são aceitos as diferenças entre as pessoas como algo normal. (MADER, 1997, p. 47). Portanto, a inclusão não é só um processo de integração social, mas, é mais que isso, pois a sociedade deve oferecer além de serviços todas as condições de uma vida digna, vivida com qualidade de vida, ou seja, que sejam atendidas as necessidades materiais como também as necessidades subjetivas que de acordo com Vereck (apud Correr, 2003, p.36) esta qualidade de vida significa:

adquirir no decurso do seu desenvolvimento, as habilidades necessárias para compreender aquilo que deseja e necessita para a sua vida. Portanto, o processo envolve não só aprender a reconhecer seus desejos e necessidades, mas também a encontrar caminhos para sustentar e manter uma vida social cheia de possibilidades.

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Desse modo, a inclusão social perpassa a condição do acesso a bens e serviços, mas está principalmente na capacidade que a pessoa possui em tomar suas próprias decisões e fazer suas livres escolhas.

Todavia o legado cultural de que se recebe atribui outra forma para o sentido da igualdade, ou seja, uma semelhança entre grupos, ricos, pobres, universitários, analfabetos, trabalhadores, desempregados, deficientes. Essa visão do “diferente” e seu processo de exclusão inicia-se no meio familiar onde a criança recebe os primeiros conceitos, sendo estes fundamentais no processo de formação de sua identidade. Dessa forma, a família exerce um papel fundamental para a construção de um modelo de sociedade inclusiva, bem como a escola e as empresas.

2.4.1 Família e Inclusão Social

Historicamente, a família sempre ocupou um significado fundamental na vida das pessoas, indo além dos conceitos que a engloba, perpassando todas as definições.

A compreensão da família calcada no imaginário social é a do tipo nuclear onde as atribuições do cuidado com os filhos estão voltados à figura materna. Porém, novas concepções estão se estabelecendo, não para negá-las, mas para que estas possam fazer parte das várias formas de arranjo de sua constituição.

Segundo Ribeiro (1999), ao se pensar a família na atualidade, deve-se levar em consideração as mudanças que ocorrem na sociedade e como se constroem as novas relações, novos arranjos, que não só estão baseados em laços consangüíneos, mas principalmente na afinidade.

Neste sentido, as questões que permeiam a família na cultura atribuem a ela uma supervalorização de seus membros onde o auxilio mutuo é indispensável nos momentos em que esta apresenta uma situação de fragilidade.

A família, como toda instituição social, apresenta aspectos positivos, enquanto núcleo afetivo, de amparo e solidariedade. (PRADO, 1985)

Todavia, também pode ser um lugar de conflitos e experiências de todas as formas de sentimento, “no entanto é “única” em seu papel determinante no

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desenvolvimento da sociabilidade, da afetividade e do bem estar físico dos indivíduos, sobretudo durante o período da infância e da adolescência.” (PRADO, 1985, p. 14).

É através da família que a criança se integra no mundo adulto,sendo que nesse meio ela aprende a canalizar seus afetos, a avaliar suas relações, que serão reproduzidos nos hábitos, costumes e valores que serão transmitidos as novas gerações. É na família ainda que a criança recebe orientação e estímulo para ocupar um determinado lugar na sociedade.

Considerando que o desenvolvimento humano constitui-se em um processo evolutivo que vai da dependência absoluta do organismo à independência física e psíquica, desta forma para o pleno desenvolvimento e integração social da criança com deficiência, é necessário desmistificar o meio onde vive.

Para Mader (1997, p. 44) a “integração caracteriza-se por uma ação conjunta de todos os componentes de um sistema, a fim de otimizar o resultado”.

Dessa forma a família exerce um papel fundamental para a integração das pessoas com deficiência, visto que a maneira como vêem a deficiência pode-se estabelecerem em práticas de segregação do convívio social ou serem potencializadoras da inclusão, tornando estes indivíduos independentes capazes de definir suas vidas.

Portanto, “deve-se considerar o tipo de sociedade no qual o indivíduo com deficiência e sua família estão integrados e as modificações sofridas à medida que a pessoa se envolve em seu ciclo vital individual”. (KRYNSKI ET ALL, 1984, p.130).

Sendo assim a integração social da pessoa com deficiência dependerá, das atitudes e comportamento do meio familiar, da visão da sociedade em que está inserido, e da própria pessoa com deficiência.

Além do aspecto cultural, transmitido no processo informal de educação, dentro do grupo familiar ocorre também, a transmissão de um modelo afetivo. Esse modelo é captado pela criança através das relações mantidas entre os membros da família e, principalmente do relacionamento entre os pais. Para o seu desenvolvimento psicosocial, a criança necessita sentir-se num ambiente seguro emocionalmente, é preciso sentir-se amada, protegida, membro efetivo do grupo, tendo seu espaço garantido. (LIMA, 1984, p. 109).

Em contrapartida, a rejeição ou a falta de afeto no meio familiar já se manifesta como a primeira forma de exclusão, de sua rejeição.

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De acordo com Mousartché (1997), nenhuma família tem o preparo para receber um membro com qualquer tipo deficiência, onde a partir de então se constitui uma situação traumática e desestabilizante, tendendo a mudar radicalmente o curso da vida e organização desta família.

“Como a deficiência não faz parte do nosso universo, a adaptação a nova realidade é sempre dolorosa e, muitas vezes, irrealizável”. (MELLO, 1997, p. 14). A aceitação do fato depende, em grande parte da história particular de cada família, de suas crenças, preconceitos, valores e experiências anteriores. (PRADO, 2004)

De acordo com Prado (2004), a família também sofre uma pressão externa de parentes e amigos com sugestões para “solucionar o problema”, que pode ser interpretado como rejeição, levando a família a isolar esse indivíduo. A família tem uma importância que não pode ser minimizado, porque é neste campo de experiências que, primeiramente a pessoa com deficiência aprenderá, e comprovará que, apesar de seus limites lhe é permitido “ser”.

Para Prado (2004), existem alguns fatores que se tornam evidentes quando nasce uma criança com deficiência, como o sentimento de culpa de pais, o rompimento de relações que leva a família ao isolamento, apreensão quanto ao futuro dessa criança, e a dificuldade de aceitação deste filho devido ao preconceito.

A forma como os pais reagem diante da deficiência do filho, vai influenciar muito no seu desenvolvimento. Se a família interpreta a deficiência como uma ameaça, produzirá ansiedade e angústia; Se a interpretação for de perda, produzirá depressão. Mas se a deficiência for interpretada como um desafio, os sentimentos de ansiedade e esperança serão propulsores para a busca de resoluções de problema, motivação e crescimento, não só da pessoa com deficiência, mas de toda a família”. (Prado, 2004, p. 92).

Segundo Prado (2004), muitas famílias que possuem filhos com deficiência, os tratam como eternas crianças, que necessitam de cuidados constantes.

Dessa forma, as famílias muitas vezes desenvolvem mecanismos superprotetores os quais repercutirão em suas condutas, interferindo no processo de sua autonomia. Esses tipos de comportamentos irão influenciar de forma determinante no processo de sua socialização, na forma como a pessoa com deficiência se vê no contexto social. Isso certamente influenciará na sua maneira de agir no decorrer de sua vida, fazendo com que essas pessoas sejam capazes de tomar decisões e fazerem seus projetos de vida.

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Geralmente, a pessoa com deficiência, na construção de sua independência, em seu processo de socialização em virtude das atitudes da sociedade, aprende que sua deficiência significa fracasso, pois a reação do outro espelha os valores da sociedade e o leva a internalizar a não aceitação de si mesmo. (VOYER E ROCIN apud MADER, 1997).

Nesse contexto, a questão da dinâmica familiar através de seu comportamento, revela o grau de importância para a construção de sua independência e do domínio de suas habilidades, fatores primordiais para integração das pessoas na vida social.

Mostra-se evidente que as condições naturais como afetividade, apoio, cuidados, pertencimento, além de garantirem o desenvolvimento da pessoa com deficiência, gera estabilidade emocional a todos os seus membros, para o enfrentamento das possíveis situações adversas que venha a se apresentar. Todos os membros pertencentes a família como tios, avós e outras pessoas engajadas na dinâmica familiar, podem contribuir de maneira considerável para o pleno desenvolvimento destas pessoas, auxiliando na sua integração social, bem como com o rompimento dos preconceitos estabelecidos socialmente.

As expectativas que se tem com relação à família é que ela produza cuidados, proteção, relação dos afetos, construção de identidade e vínculos relacionais de pertencimento e efetiva inclusão social. Portanto, a família contribui de forma significativa para a relação da pessoa com deficiência com outros grupos como a escola, onde a forma como esta é tratada no meio familiar servirá de referencia para a integração com outras crianças.

2.4.2 Escola e Inclusão Social

A política educacional documentada em 1995 pelo Ministério da Educação e do Desporto explicita a inclusão da pessoa com deficiência como princípio em todos os atendimentos educacionais (MEC/SEESP, 1995), sendo a escola sem descriminação um princípio assegurado pela constituição de 1988.

Já, na pré-escola medidas pedagógicas devem garantir o desenvolvimento de todas as crianças, onde a convivência na diversidade contribui

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para uma relação respeitosa entre os participantes do coletivo social. (MEC/SEESP, 1995).

O espaço da escola deve ser um local que propicie uma plena integração sendo que sua estrutura física deve garantir independência, fazendo com que esse aluno desenvolva sua autonomia e segurança. A acessibilidade física é um dos primeiros requisitos para a universalização desse direito, já que ela garante a possibilidade, a todos, de chegarem à escola, circular por suas dependências, utilizar funcionalmente todos os espaços, freqüentar a sala de aula, nela podendo atuar nas diferentes atividades.

A escola de acordo com a legislação, pertinente à educação assume como política educacional, a garantia para todos o acesso ao conhecimento. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2004).

Dessa forma, o suprimento das necessidades educacionais para o acesso ao conhecimento, requer disponibilidades de professores especializados como em comunicação de língua de sinais, leitura em braille, bem como equipamentos e materiais especiais para o ensino de alunos com dificuldades de comunicação oral, aprendizagem e dificuldades de mobilidade.

De acordo com Mello (1997, p. 14), “o papel da escola não é apenas o de ensinar cadeiras acadêmicas, mas também o de participar decisivamente nos padrões de convivência social”.

Dessa forma a escola tem um papel fundamental no processo de integração das pessoas com deficiência, e para que isso seja garantido, deve oferecer todas as condições de acesso.

Para Mello (1997), é imprescindível que a pessoa com deficiência na idade escolar deva ingressar na rede oficial de ensino em classes normais e não em classes especiais, pois a integração começa na infância. Contudo à prática de colocar pessoas com deficiência (particularmente a deficiência mental) em instituições visando sua preparação para a integração social pode se estabelecer em uma prática segregatória, onde, na verdade, essas instituições, não são avaliadas pelos índices de promoção social alcançado pelo que ali convivem, mas pelo que ela faz enquanto seus assistidos ali estão.

Portanto, a forma como são tratados esses alunos deverão apresentar um resultado efetivo de promoção destes como sujeitos, refletindo, principalmente, no processo de sua autonomia.

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A inclusão escolar não deve ser encarada de forma simplista, considerando somente a colocação deste aluno na classe comum, onde deverá ser dada a relevância de que, as pessoas com deficiência possuem necessidades educativas especiais, possibilitando o desenvolvimento de suas potencialidades proporcionado pela inclusão social, baseado nas relações entre o ambiente, o professor e os demais alunos com esse aluno. Talvez a mais expressiva seja a relação aluno-aluno, já que as crianças trazem de seu meio familiar a forma como lidam com a diferença, devendo ser orientadas para uma forma de convivência baseado no respeito.

Existe no Brasil 280 mil alunos com deficiência matriculados em escolas especiais da 1ª a 8ª séries, há outros 300 mil em classes regulares, nestas mesmas séries, porém apenas mil freqüentam o ensino médio. (GIL apud AREOSA, 2004, p.44).

Isso demonstra que a ação do Estado está fragilizada na promoção de políticas públicas que implicam na evasão escolar. É preciso, portanto, políticas mais eficazes no tocante à permanência do aluno com deficiência na escola, visando inclusive, o seu processo de profissionalização.

Vive-se em uma sociedade na qual as pessoas que estudam são valorizadas, e a condição para a conquista de um emprego está diretamente ligada ao grau de instrução, sendo que o status social se vincula cada vez mais a corporativismo profissional, e o intelectual é aquele que mais tem a oferecer em cursos de graduação e pós-graduação. É uma sociedade que atribui à normalidade a produtividade.

Marques (1997, p. 20) aponta que em nossa cultura a

[...] normalidade está intrinsecamente ligada a produtividade. Um corpo para ser socialmente aceito deve estar investido de uma capacidade produtiva; ideologicamente determinado, a idéia de corpo deficiente está vinculado a corpo improdutivo, o que remete seus portadores a uma condição de inferioridade em relação às pessoas economicamente produtivas.

Portanto, ao determinar que pessoas com deficiência sejam improdutivas e a atribuição da produtividade como forma de valorização das pessoas dentro da sociedade, fica claro a causa da marginalização social que enfrentam as pessoas com deficiência.

A produtividade está voltada ao alcance de metas, da competitividade onde a eficiência está sendo avaliada por quanto você “produz” por hora trabalhada.

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Se se reduzir a questão do trabalho como o alcance de metas dentro de um processo produtivo onde a avaliação da eficiência é medida quantitativamente, se estará negando ao homem em sua singularidade. Contudo, se atribuir ao trabalho a questão do desenvolvimento dos talentos e habilidades, se estará atribuindo a este como ganho social. Então se verá que o trabalho é muito mais que atingir metas de produção, é um processo de aprendizagem contínua, onde todos ensinam e aprendem dentro de um processo infinito.

2.4.3 Trabalho e inclusão social

Para se entender a relevância do trabalho para o homem, principalmente dentro dos moldes da sociedade capitalista, necessário se faz abordar aspectos relevantes a este como processo histórico, no qual muitos fatores tornaram-se significativos no processo para a efetivação da exclusão social.

2.4.3.1 Concepções sobre o trabalho

A história da existência do homem, sempre esteve diretamente ligada ao trabalho, seja como necessidade de sobrevivência seja como reprodução da vida social, portanto é algo inerente a este. Foi pelo trabalho que o homem se distanciou da natureza e do mundo selvagem e fundamentou a sua vida social.

“Para o homem o trabalho é o meio pelo qual ele se liberta da natureza, afastando-se dela. No processo de trabalho, o homem não se limita as condições que a natureza oferece, transformando-a e moldando-a, conforme as suas exigências, ou seja, é pelo trabalho que o homem transforma a natureza de acordo com suas necessidades”. ( GALLO et all, 1999, p. 44)

Portanto, durante este processo o homem se transforma, pois exige dele raciocínio, além de se deparar com obstáculos e que, para superá-los, utiliza conhecimentos anteriores e desenvolve novos conhecimentos. Sendo assim, o homem muda as maneiras pelos quais age sobre o mundo, estabelecendo relações também mutáveis, que alteram sua maneira de perceber, de pensar e de sentir.

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Por sua atividade relacional, o trabalho além de desenvolver habilidades, permite não só o aprendizado, mas também enriquece a afetividade, sendo que o homem experimenta emoções, como expectativa, prazer, medo, possibilitando maior conhecimento de si e dos outros. Com isso, ele pode ser considerado o responsável primordial pelo desenvolvimento das potencialidades e em torno do qual os homens organizam suas vidas.

O trabalho pode ser definido como toda a ação humana, realizada com dispêndio de energia física ou mental, acompanhada ou não de auxilio instrumental, dirigido a um fim determinado, que produz efeitos no próprio agente que a realiza, e para contribuir para transformar o mundo em que se vive. (MARTINS FILHO, 2008, p.3).

Para enfatizar sua relevância e seu significado em nossa cultura, se abordará alguns aspectos históricos, que segundo Tomazi et all (2000), os mais variados modos de organização do trabalho e sua valorização com outras esferas da vida social depende da forma como vive cada sociedade.

Para Tomazi et all (2000) as sociedades tribais possuíam e ainda possuem em geral uma organização de trabalho baseada na divisão por sexo em que homens e mulheres executam atividades diferenciadas, utilizando instrumentos muito simples, sendo que suas necessidades materiais e sociais são satisfeitas, dispondo um mínimo de horas para a produção.

O homem vivia livre, produzia o que era necessário para sobreviver, e mantinha uma relação de intimidade com a natureza.

Atribuem para a terra um valor além do lugar onde se vive um valor cultural, pois é ela que dá aos homens os seus frutos [...], não são os homens que produzem ou caçam, pois eles simplesmente recebem aquilo de que necessitam da “mãe natureza”; onde o trabalho é algo que tem relação com todos os outros elementos da sociedade, não existindo a idéia de que deve produzir mais para acumular riqueza. (TOMAZI et all 2000, p. 32).

Nesta perspectiva, o trabalho se apresenta como um elemento de cooperação entre os homens para atingirem seus objetivos comuns.

Considerando os aspectos históricos, para MENEGASSO (1998), o trabalho se apresentava como elemento de tortura, sendo atividade daqueles que perderam a liberdade. Na antiga Grécia, todo trabalho manual era desvalorizado, por

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ser feito por escravos, enquanto a atividade teórica era considerada digna, sendo atribuída a essência fundamental do ser humano.

Um novo pensamento se constrói com relação ao trabalho com os ideais do cristianismo, que se incompatibiliza com o regime de escravidão trazendo à Idade Média uma nova relação de trabalho.

Com o surgimento do regime feudal, a terra continua sendo o meio de produção, mas a mesma não pertencia aos produtores diretos, ou seja, os camponeses e sim aos senhores feudais que cobravam tributos pela sua exploração. Era a classe servil que trabalhava, sendo que os senhores feudais e o clero viviam do trabalho dos outros.

Segundo a concepção feudal, com base na igreja cristã, o trabalho era uma verdadeira maldição e deveria existir somente na quantidade necessária à sobrevivência, não tendo nenhum valor em si mesmo como era uma salvação individual, o que importava; o trabalho era desqualificado, uma vez que não permitia a quem o executava uma constante meditação e contemplação – a forma de se chegar perto de Deus e, portanto da salvação. (TOMAZI et all 2000, p. 43).

No fim desse período, a situação se altera, com a ascensão dos burgueses, vindo do segmento dos antigos servos, que passam a se dedicar ao comércio criando uma nova mentalidade sobre o trabalho.

O período do Renascimento foi um período de explosão da ciência, com inúmeras invenções entre elas o tear mecânico já no século XVII, alterando a vida social.

Até então, a Igreja considerava o lucro, como se fosse um ganho imoral. Contudo, com a Reforma Protestante, onde Lutero e Calvino abençoavam o lucro e ensinavam aos seus fieis, “o trabalho é a única razão de ser do homem, aqui na terra, Quem não trabalhasse a vida inteira, sem descanso e sem prazeres, ele diziam estariam condenados ao fogo do inferno”. (CARVALHO; MARTINS, 1987, p. 13).

Foi a partir da Reforma Protestante que o trabalho aparece como fundamento de toda a vida, constituindo uma virtude e um dos caminhos para a salvação. A profissão de cada um passa a ser visto como vocação e a preguiça como algo pernicioso e mau, que se contrapõe a ordem natural do mundo. (TOMAZI et all 2000, p. 49)

Essa nova concepção sobre o trabalho vem de encontro com as aspirações da classe burguesa que precisam de trabalhadores dedicados e dóceis.

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Porém, foi no século XVIII que se estabelece o divisor de águas na questão do trabalho “a burguesia criava um mundo novo, sem perceber que as bases de sua prosperidade, enfrentariam, dentro de algum tempo uma denúncia semelhante a que ela mesma fizera da nobreza feudal”. (MARTINS E CARVALHO,1987, p. 22).

A idéia de oposição ao regime feudal se estabelecia principalmente contra um regime de exploração. Nesse sentido, os burgueses, classe dominante do regime capitalista, passam a utilizar a mesma forma de exploração dos segmentos mais fragilizados da sociedade, como fonte da reprodução da sua riqueza, estabelecendo uma ordem de que a riqueza burguesa é tão mais forte quanto mais fraco e submisso forem os seus explorados.

Com a industrialização, milhões de camponeses e artesãos transformaram-se em trabalhadores “subordinados”, os tempos e os lugares de trabalho passaram a não depender mais da natureza, mas das regras empresariais e do ritmo das máquinas, dos quais os operários não passavam de engrenagem. O trabalho que poderia durar até quinze horas por dia passou a ser um esforço cruel para o corpo do operário e preocupação estressante para a mente. Quando existia, deformava os músculos e o cérebro, quando não existia, reduzia o trabalhador a desocupados, e os desocupados a sub-proletariados, trapos ao vento, como dizia Marx. (DE MASI, 2000)

Portanto, o homem que antes da industrialização se socializava em casa; na praça, na loja, nos campos, na paróquia, passa a permanecer nas fábricas a maior parte do seu tempo, que dispõe aos donos do capital.

Para Marx, “o trabalhador converte-se em mercadoria, torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em potencia e volume”. (MARTINS E CARVALHO, 1987, p. 30).

Esse trabalho, realizado segundo as leis do capitalismo, arrancava do trabalhador a sua dignidade de homem a sua essência como pessoa humana. Ao contrário dos antigos artesãos, os operários realizavam repetidamente uma só tarefa, perdia a visão do conjunto do que estava fabricando, perdendo a noção e o sentido do seu próprio trabalho.

Nesse período, o resplendor do progresso não ocultava a questão social, caracterizado pelo recrudescimento da exploração do trabalho e das condições subumanas de vida, pela extensa jornada de trabalho, na qual o trabalhador não possuía nenhum direito ou garantia para a velhice, doença e invalidez, sendo que,

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os trabalhadores inclusive crianças, eram confinados em condições insalubres, locais mal iluminados e sem higiene.

A partir da metade do século XX surge a chamada sociedade pós-industrial caracterizado, pela ampliação dos serviços, na qual todos os setores ficam dependentes do desenvolvimento de técnicas de informação e comunicação.

Segundo De Masi (2000), na sociedade pós-industrial os trabalhadores são substituídos por robôs e computadores. Os valores apreciados na sociedade industrial (padronização, eficiência, produtividade) são muito diferentes e, em certos aspectos, opostos aos valores cada vez mais apreciados na sociedade pós industrial

(criatividade, subjetividade, emotividade e qualidade de vida, etc.). Porém surge uma nova forma de valorização do trabalho – a intelectualidade.

Portanto, passa-se a exigir cada vez mais especificidades, mais aprimoramento, mais técnicas.

Outra dimensão é dada ao trabalho que agora não se vincula a executar tarefas monótonas e rotineiras, mas sim o desenvolvimento da criatividade. Esse modelo se contrapõe ao modelo de produção industrial que submetia o trabalhador a tarefas rotineiras e irreflexivas que retirava do operário qualquer iniciativa, reduzindo a mero cumprimento de ordens.

Contudo, muitas são as críticas que se fazem a modernidade, com relação à substituição do trabalho que anteriormente era realizado pelo homem e foi substituído por máquinas. Se essa substituição visa à obtenção de maiores lucros pelas empresas, pode-se condená-las como nociva. Mas se ela é realizada para que o homem saia da exaustão ocupando seu tempo em outras atividades que lhes gere bem estar físico e mental, então a tecnologia se apresenta de forma positiva.

O trabalho deve ter como essência a criatividade, a humanidade, não o desgaste, o sofrimento e a escravidão. O trabalho está vinculado a uma questão ética, que justifica a sua valorização.

Nessa perspectiva, diante da valorização que se atribui ao trabalho construído historicamente, aquele que não trabalha é colocado à margem da sociedade é considerado um desfiliado social.

Contudo, muitos são os fatores que mantém certos grupos fora do acesso do mercado de trabalho, entre eles as pessoas com deficiência; pois em decorrência das transformações da economia capitalista, as últimas décadas estão sendo marcadas pela instabilidade no mundo do trabalho.

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De acordo com Silva (2003), a escassez de emprego instaurado pelo modelo societário capitalista acirra a concorrência entre os trabalhadores, que, além de enfrentarem o alarmante quadro de desemprego, são tidos como responsáveis pela sua condição. Os trabalhadores são considerados auto excluídos, no sentido de que sua desqualificação é vista pelos segmentos conservadores como a única razão para o seu insucesso em obter uma colocação no mercado de trabalho.

A globalização traz uma forma de se viver em sociedade, baseada principalmente na competitividade, portanto vinculada ao esforço pessoal.

Ao ser atribuído este fator à condição de se ter “um lugar ao sol”, na sociedade, as pessoas com deficiência, muitas vezes, não atendem aos padrões de ritmo estabelecidos, sendo então rotuladas de ineficazes, sendo que por muitas vezes são desprezados todos os seus talentos e habilidades em nome da produtividade, interpretada como alcance de metas estabelecidas dentro das empresas.

Dessa forma a exclusão da pessoa com deficiência ao trabalho está diretamente ligada a todos os valores que a sociedade atribui a este em cada momento histórico e aos estigmas atribuídos historicamente as pessoas com deficiência.

2.4.3.2 Processo de inclusão social das pessoas com deficiência

O processo de exclusão social manteve as pessoas com deficiência por muito tempo afastados do convívio social e principalmente do acesso ao trabalho. Segundo SASSAKI (1999), este fato é decorrente da ideologia protecionista do Estado e pelo desconhecimento principalmente das empresas das capacidades laborais dessas pessoas.

Apesar dos movimentos sociais expressivos a partir da década de 60, das Convenções Internacionais de aclamação pela inclusão social, do desenvolvimento das tecnologias, parece ainda estar distante o acesso a esse direito.

Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), existe cerca de 610 milhões de pessoas com deficiência no mundo, sendo que 386 milhões fazem parte da população economicamente ativa. Estima-se que 80% destas pessoas vivem em países em desenvolvimento. (INSTITUTO ETHOS, 2002)

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No Brasil, de acordo com o censo de 2000, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 24,5 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, representando 14,5% do total da população. (INSTITUTO ETHOS, 2002)

Desta forma, essa parcela significativa da população, com base no princípio da igualdade, deve ter todos os seus direitos assegurados, inclusive o de um trabalho digno que lhe garanta independência econômica.

Segundo Hunt (1998, apud Neri, 2003, p. 96), a “sociedade tende a ver o portador de deficiência como uma pessoa infeliz, inútil, diferente, oprimida e doente”; sendo incapazes de organizar e dirigir sua vida, afetando consideravelmente na sua inserção no mercado de trabalho.

Para mudar essa realidade, foram tomadas uma série de ações afirmativas que conforme Gugel (2006, p.57) na “adoção de medidas legais e de políticas públicas que objetivam eliminar as diversas formas e tipos de descriminação que limitam oportunidades de determinados grupos sociais”.

As determinações legais como a reserva de vagas no setor público e privado bem como as leis de acessibilidade, estão contribuindo de forma significativa para a concretização desse direito.

No Brasil a determinação no Decreto nº 3.298/1999, onde as empresas com mais de cem empregados devem contratar pessoas com deficiência, segundo as seguintes cotas: de 100 a 200 empregados, 2%; de 201 a 500 empregados, 3%; de 501 a 1.000, 4%; e acima de 1.000 funcionários, 5%. (INSTITUTO ETHOS, 2002) Este decreto também estipula um percentual mínimo de 5% de reserva de vagas para concursos públicos.

Segundo Areosa, (2004, p. 43) “o arsenal jurídico representa o início de um processo que visa a transformação e o amadurecimento de uma história marcada por ações de cunho paternalista e de exclusão”.

Sendo assim, a aplicação da lei, que visa buscar esse direito, ainda demonstra fragilidade. Porém, é o que ainda vem de alguma forma inserindo essas pessoas no mercado de trabalho.

Para GIL apud Areosa (2004), as empresas têm uma grande capacidade de influenciar na transformação da sociedade no momento em que empregam pessoas que apresentam algum tipo de deficiência, pois cria um ambiente mais

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humanizado. Além dos preconceitos, outro fator que ainda dificulta o acesso ao trabalho para as pessoas com deficiência é a baixa escolaridade.

Para Krynski apud Prado (2004, p.93), “cada vez mais a nossa civilização da ênfase a formação intelectual e a exigência cada vez mais crescente de diplomas de educação formal para o ingresso no mercado de trabalho”.

Dessa forma a baixa escolaridade reflete no acesso das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, onde as empresas disponibilizam vagas, mas com baixa remuneração. Diante da exigência do mercado e da ideologia, de uma política neoliberal de redução dos postos de trabalho, a competitividade cresce e a exigência cada vez maior de um empregado qualificado.

Echigo (apud Areosa, 2004) avalia que o desemprego torna a pessoa com deficiência extremamente dependente e corrói a sua auto-estima. Os efeitos psicológicos do desemprego são tão danosos quanto a desabilidade em si, pois o trabalho não é apenas um meio de sobrevivência, mas fundamental à integração social e bem-estar psicológico.

Ainda, conforme o referido autor, ao deficiente que trabalha lhe é propiciado a oportunidade de contribuir com sua produtividade para a sociedade, desenvolver suas potencialidades, sua criatividade e assumir responsabilidades.

Além disso, um dos fatores que também impedem o acesso ao trabalho para as pessoas com deficiência é a crença que os empresários possuem, de que para realizar as adaptações no ambiente de trabalho requer alto custo.

O desconhecimento das leis pelas empresas, principalmente na área de recursos humanos, onde se realiza o processo de recrutamento, seleção e treinamento, também se apresentam de forma desfavorável à contratação dessas pessoas. A contratação de pessoas com deficiência não deve ser vista como uma forma de atender a legislação, mas sim oferecer cargos na empresa baseado no manual de procedimentos que descreve a especificidade para ocupação de cada cargo, o qual essa pessoa deverá ter um perfil para ocupá-lo.

A forma de preenchimento dos cargos, através do processo de seleção,

não deve ser diferenciada, pois seria uma atitude discriminatória. E, quanto ao treinamento, também não deve ser realizado de forma diferenciada,

sendo realizado junto com os demais funcionários, dentro de um processo natural e integrado.

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Sendo assim a prática da inclusão social pelo trabalho se estabelece bilateralmente, na qual a pessoa com deficiência oferece sua força de trabalho, levando em consideração suas potencialidades, por outro lado a empresa dentro dos preceitos de uma empresa inclusiva, que de acordo com Sassaki (1999, p.65)

é, então, aquela que acredita no valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, implementa adaptações no ambiente físico, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho, treina todas os recursos humanos na questão da inclusão. etc.

Desta forma cria condições favoráveis para o desenvolvimento deste potencial humano.

2.5 O ESTADO E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.

Considerando a questão histórica, de acordo com Maranhão (2005), as primeiras leis escritas atestam que a ação do Estado, em relação às pessoas com deficiência, baseava-se na política de extermínio, exemplificando a história dos gregos e romanos na qual as crianças mal constituídas eram eliminadas.

Os mecanismos de extermínio e exclusão desses indivíduos avançaram pela Idade Média e permaneceram no período de formação e consolidação do Estado Moderno.

Havia um antagonismo na postura do Estado que, ao mesmo tempo em que eliminava os “inúteis”, os tinha como obstáculo para a sociedade, promovendo, assim, um contingente de deficientes através da aplicação das sansões de suas leis, como o Código Hamurabi e a Lei de Talião. Nessa época, os antigos códigos continham em seu teor a característica da imposição de deveres ao povo, negando-lhes os direitos.

A luta contra o arbítrio do poder estatal de um regime absolutista culminou com o advento do Estado Moderno sob a direção da burguesia, no qual o direito de punir passa do soberano para a sociedade. É estabelecida uma nova idéia de disciplina e organização social que segundo Simões (2007, p.60)

Referências

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