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Cuidado de si: um desafio à residência em enfermagem obstétrica/ Self Care: A Challenge to Obstetric Nursing Residency

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761

Cuidado de si: um desafio à residência em enfermagem obstétrica

Autocuidado: un desafío para la residencia de enfermería obstétrica

DOI:10.34117/bjdv5n12-226

Recebimento dos originais: 10/11/2019 Aceitação para publicação: 16/12/2019

Renata di Karla Diniz Aires

Professora Substituta de Enfermagem em Saúde da Mulher e Mestranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), Endereço: Avenida Engenheiro Santana Júnior, 332 – Papicu, Fortaleza – CE, Brasil

Email: profrenata.aires@uece.br

Luara Campos da Silva

Enfermeira Obstetra pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Endereço:Alameda Bragança, 1203 –Estrela, Castanhal – Pa.

Email: luaraenfobs@hotmail.com

Laís Celeste Medeiros Mendes da Fonseca

Enfermeira Intensivista pela Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) Endereço:Rodovia Augusto Montenegro, 311 – Marambaia, Belém – PA, Brasil.

Email: lais_medeirosf@hotmail.com

Camila Cristina Girard Santos

Mestre em Saúde da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Endereço:Conjunto Parklandia, 10 – Parque verde, Belém – PA, Brasil.

Email: camilagirard@hotmail.com

Ana Carla Dias Rodrigues

Enfermeira pelo Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), Endereço:Travessa 14 de Março, 894 – Umarizal, Belém – PA, Brasil.

Email:anacarladr@outlook.com

Ravena Gentilde Castro

Mestre em Ciências da Saúde Pela Universidade Federal do Tocantins (UFTO), Endereço:Travessa Monte Alegre, 1303 – Jurunas, Belém – PA, Brasil.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761

Alex Dumas Souza Campos

Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Universidade Estadual do Pará (UEPA), Travessa Guerra Passos – Guamá, Belém – PA, Brasil.

Email: alex.dumas.15@hotmail.com

Vitor Hugo Pantoja Souza

Especialista em Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e Especialista em Terapia Intensiva pela Universidade Estadual do Pará (UEPA)

Endereço:Av Zacarias de Assunção, 36 – Ananindeua – PA, Brasil.

Email: vitorhpsouza@hotmail.com

RESUMO

A Enfermagem Obstétrica, em busca da melhoria da assistência às mulheres, se tornou instrumento estratégico das políticas de saúde no Brasil, que propôs incentivar a formação de enfermeiros obstetras, através da modalidade de residência, visando a inserção de profissionais qualificados para atuar na assistência aos processos reprodutivos. Entretanto, o estresse diário acarretado pelo exercício da residência é uma realidade que implica diretamente na qualidade de vida do residente, e que, consequentemente, pode impactar na qualidade do cuidado ofertado. Portanto, o objetivo deste trabalho é refletir sobre como o cuidado de si pode impactar na qualidade de vida do residente em enfermagem obstétrica, e no cuidado por ele ofertado. Trata-se, portanto, de um ensaio reflexivo, emergente após discussões durante o Mestrado em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, da Universidade Estadual do Ceará. Ao considerar a experiência de uma residência em Enfermagem obstétrica, considerando todas as suas peculiaridades, o cuidado de si representa um caminho emancipatório. Assim, imbuído em um novo olhar sobre si mesmo, o residente passa não apenas a se transformar, mas também a transformar a ordem social a qual ele está inserido, ocupando um espaço emancipatório em sua vida pública e atingindo os atores sociais que o cercam.

Palavras-chave: Enfermagem, Cuidado de Si, Residência em Saúde.

ABSTRACT

Obstetric Nursing, seeking to improve care for women, has become a strategic instrument of health policies in Brazil, which proposed to encourage the training of obstetric nurses through the modality of residence, aiming at the insertion of qualified professionals to work in the care of women. reproductive processes. However, the daily stress caused by the practice of residence is a reality that directly implies the quality of life of the resident, and, consequently, may impact the quality of care offered. Therefore, the objective of this paper is to reflect on how self-care can impact the quality of life of the resident in obstetric nursing, and the care offered by them. It is, therefore, a reflective essay, emerging after discussions during the Master in Clinical Care in Nursing and Health, State University of Ceará. When considering the experience of a residency in obstetric nursing, considering all its peculiarities, self-care represents an emancipatory path. Thus, imbued with a new look at himself, the resident is not

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 only transforming, but also transforming the social order to which he is inserted, occupying an emancipatory space in his public life and reaching the social actors that surround him.

Keywords: Nursing, Self Care, Health Residency.

1 INTRODUÇÃO

A presença da Enfermagem no cenário obstétrico é algo relativamente recente. O cuidado aos processos reprodutivos, até o século XVI, era mantido majoritariamente por parteiras, também conhecidas como comadres ou paradeiras, que traziam consigo um conhecimento empírico passado às mulheres de geração a geração. O cenário da assistência tradicional à mulher só começou a receber interferências da ciência a partir do final do séc. XVI, através da figura do médico e culminou em um processo progressivo de medicalização a partir de então(1).

Neste contexto, a Enfermagem ainda ocupava um espaço irrisório no que tange à assistência obstétrica. A figura do médico obstetra protagonizou a expansão do modelo hospitalocêntrico de assistência à mulher, e a disseminação das tecnologias de saúde e o intervencionismo desenfreado, o que resultou em um cenário de epidemias iatrogênicas. (2)

Diante deste cenário, a Enfermagem obstétrica surge como uma alternativa à assistência intervencionista, e começa a ganhar apoio de instituições como a Organização Mundial de Saúde e o próprio Ministério da Saúde. A Enfermagem Obstétrica, a partir de esforços conjuntos em busca da melhoria da assistência às mulheres, se tornou instrumento estratégico das políticas de saúde no Brasil.

Dentre tais políticas, que previam a reorganização do processo de cuidado centrado no usuário, a Política Nacional de Humanização representou um grande marco na história da saúde do Brasil, reinventando os modos de gerir e cuidar em saúde, fundamentada por três dimensões – ética-política-estética- e com o propósito de singularizar as experiências humanas.

Desta forma, a dimensão ética representa o compromisso com o outro, marcado pela escuta, na atitude de acolhê-lo em suas diferenças e modos de ser. A dimensão estética como invenção de novos percursos e modos de fazer, que contribuam com a dignificação da vida, em um movimento contínuo. E como dimensão política, o compromisso de envolver-se, nesse na luta contra forças que obstruem, potencializando protagonismos. Estes deveriam ser, portanto, os pilares teóricos que norteariam o modo de fazer saúde dali em diante (3, 4)

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 Dando continuidade aos esforços destinados à mudança do cenário de saúde no Brasil, no ano de 2011 é lançado o Rede Cegonha, com enfoque prioritário em sistematizar e institucionalizar um modelo de atenção que busca contribuir para a aceleração da redução de taxas de mortalidade materna e neonatal, através da qualificação dos serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde .(5)

Articulado ao Rede Cegonha, em 2012 é criado o Programa Nacional de Residência em Enfermagem Obstétrica (PRONAENF), que propôs incentivar a formação de enfermeiros obstetras, através da modalidade de residência, visando a inserção de profissionais qualificados para atuar na assistência aos processos reprodutivos. (6)

O engajamento do Rede Cegonha, ao promover a inserção de enfermeiros obstétricos no âmbito assistencial para o enfrentamento das altas taxas de mortalidade materno-infantil no Brasil, representou uma das maiores estratégias na tentativa de transição de um modelo tecnocrático vigente para um modelo humanizado e qualificado(7, 8).

Considerando a necessidade urgente de mudança do modelo de assistência obstétrica vigente no Brasil, as Residências de Enfermagem Obstétrica emergem como uma medida operacional para prover mudanças um cenário de transformação das práticas até então perpetuadas e reconfigurar o modelo assistencial hegemônico.

Assim, em 2012 foi lançado em 17 estados brasileiros, o primeiro edital para seleção de Residentes em Enfermagem Obstétrica – REO- do Brasil. Durante 24 meses, os pioneiros na REO tiveram como norteadores de suas práticas as dimensões as quais a PNH, bem como o Rede Cegonha, propuseram como forma de retomada do protagonismo dos usuários do Sistema Único de Saúde(9).

Não era incomum que usuárias buscassem o atendimento dos residentes nos serviços, visto que o desejo de transformar o contexto obstétrico, o amor pela profissão e o ativismo que inevitavelmente aflorava antes ou durante o processo, era uma realidade verbalizada pela maioria dos residentes que passavam pela REO.

A residência em enfermagem obstétrica tem exercido papel de suma importância no cuidado humanizado e qualificado à saúde da mulher, e sua atuação vem sendo cada vez mais solicitada nos diversos cenários do cuidar, tanto pelas instituições de assistência e ensino da saúde, quanto pelas próprias usuários de serviços(6).

Entretanto, da mesma forma com que o sentimento de “mudar o mundo” nos motivava a sermos os melhores profissionais e ofertarmos a melhor assistência que pudéssemos, também éramos, eventualmente, derrubados pelo sentimento de impotência e desgaste.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 A jornada exaustiva, as condições quase insalubres de trabalho, a falta ou precarização do repouso, a má alimentação, o volume de trabalho, as cobranças, as expectativas, a revolta diante de violências obstétricas, etc. O estresse diário é uma realidade que implica diretamente na qualidade de vida do residente, e que, consequentemente, pode impactar na qualidade do cuidado ofertado.

Embora as REO’s tenham potencialidades de introduzir de novas formas de produzir saúde e reverberar em desestabilizações de relações de trabalho engessadas, é notório que foi colocado nos ombros da Residência – representada pelos próprios residentes - a responsabilidade de mudar um modelo de assistência que, até hoje, ainda encontra raízes bem aderidas ao sistema(7, 10).

De fato, a fantasia de que a “Enfermagem Obstétrica vai mudar o mundo” é reproduzida dentre os residentes, talvez como forma de incentivo ou busca de empoderamento, mas carrega uma verdade que é muito pouco desvelada no meio do grupo: garantir a construção de uma rede de mudanças é um trabalho coletivo e desafiador, que implica diversos atores, dentre eles a sociedade(10).

De acordo com estudos anteriores, atribuir esta carga aos residentes, quando muitos deles usualmente são recém-egressos da graduação e ainda lidam com a transição acadêmico-profissional pode resultar em sobrecarga física e emocional, associados à níveis de estresse e exaustão emocional, interferindo na saúde dos residentes (10-12).

Ainda que a REO venha se destacando como instrumento para a humanização da assistência e repercutindo positivamente no cenário obstétrico brasileiro, não se pode negligenciar a qualidade de vida do residente. Neste caso, entende-se que é verdadeira a máxima de que “só se dá aquilo que se tem”.

Diante disso, pressupõe-se que os estressores atrelados à vivência de residentes de enfermagem obstétrica repercutem na qualidade do cuidado ofertado por ele, sendo, portanto, essencial que o residente exercite o cuidado de si. Portanto, o objetivo deste trabalho é refletir sobre como o cuidado de si pode impactar na qualidade de vida do residente em enfermagem obstétrica, e no cuidado por ele ofertado.

Trata-se, portanto, de um ensaio reflexivo, emergente após discussões durante o Mestrado em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, da Universidade Estadual do Ceará.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761

2 A RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E O ESTRESSE LABORAL

A modalidade residência carrega consigo potencial de grande desgaste, que pode repercutir diretamente na qualidade de vida dos profissionais em formação. Tal desgaste pode estar relacionado, principalmente, às condições de trabalho no período de treinamento, corroborando situações de esgotamento físico e mental(12).

A exaustiva carga horária, a dificuldade de conciliar suas atividades do programa com momentos de lazer, os conflitos relacionais junto à equipe e as condições de repouso e alimentação incompatíveis com uma qualidade de vida favorável ao aprendizado. Muitas vezes, o exercício da Residência, permeada pela precarização das relações de trabalho e por uma lógica hierárquica, pode implicar em risco para assédios morais institucionalizados(12-15).

De acordo com Sponholz et al., embora a residência seja tida como uma excelente metodologia de capacitação profissional, existe, na residência em saúde, uma perpetuação de sistema de treinamento através de relações opressoras, como um rito de iniciação à vida profissional. Espera-se que o residente “seja capaz de tolerar formas específicas de sofrimento”, como uma forma de desafio: “se eu passei por isso, você também deve passar”(15).

Ao naturalizar tais formas de interação, principalmente entre preceptor-residente, pode-se estimular a adoção de uma postura que busque a acomodação às condições insalubres como forma de “sobrevivência”. Nesta perspectiva, o residente segue sendo exposto a situações estressoras e sua saúde é negligenciada.

Diversos estudos tem apontado que a qualidade de vida dos residentes tem sido avaliada negativamente, e somado ao elevado nível de estresse acumulados durante os anos de atividade repercutem, inevitavelmente, na qualidade do cuidado ofertado, deslocando-se do objetivo inicial do PRONAENF(10, 16).

Ao assumir a responsabilidade de cuidar de outro(s) durante seu processo de formação na residência, se aproxima do que propõe Heidegger, quando afirma o cuidado como algo associado à essência humana que permeia todas as relações deste com o mundo, seja de forma positiva, seja de forma negativa. O cuidado heideggeriano está intimamente atrelado ao envolvimento, inclusive afetivo, com o outro, no qual a ação de cuidar remete à uma conotação de preocupação com o outro.(17)

De fato, esta dimensão de cuidado está presente nas relações do residente de enfermagem obstétrica para com as mulheres usuárias dos serviços. Entretanto, sob a premissa

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 de que o cuidado de enfermagem deve ser empático e imperativo à profissão, corre-se o risco ignorar a ambivalência que permeia o cuidado: o cuidador, neste caso o residente, está exposto a adoecer devido às peculiaridades do ambiente de trabalho, dos estressores implicados neste processo e da eventual sobreposição das necessidades dos pacientes às suas próprias.

3 O CUIDADO DE SI PARA O CUIDAR DO OUTRO

Muito se diz sobre a Enfermagem ser a “arte de cuidar”, entretanto, é necessário olhar além da frase pronta, e mergulhar sobre o que verdadeiramente o cuidar representa para a Enfermagem.

Dentre diversas discussões e leituras sobre as definições do conceito cuidar, e das formas de cuidar do outro, e no meio de tantos cuidados, pouco se fala sobre o cuidado com o prestador de serviço.

Polaro et al. afirma que “não é possível cuidar de maneira autêntica sem assumir propriamente, de maneira livre, sua existência e sem deixar de considerar nossas limitações”. Portanto, é preciso se preocupar consigo, para então ter condições de cuidar do outro.(18)

Quando se está aparentemente bem e saudável, o cuidado de si não toma a devida importância. Mas é a partir de momento que a qualidade de vida passa a ser afetada e os agente estressores do dia-a-dia passam a nos influenciar, é que o cuidar de si começa a ser percebido como essencial ao ser humano .(18)

Ao considerar a experiência de uma residência em Enfermagem obstétrica, muitas vezes permeadas por conflitos nas relações de trabalho, na necessidade de estudo constante, na carga horaria significativa destinada às atividades do programa, e até mesmo da pressão de lidar com tabus que envolvem a maternidade – sexualidade, vida e morte-, o cuidado de si representa um caminho emancipatório.

Quando o residente se vê, se reconhece no mundo, reconhece do que é capaz de vir a ser, e como utiliza essas capacidades para questionar as relações de poder que lhe são impostas, ele também, indiretamente, promove o empoderamento daqueles os quais ele cuida(19).

Embora as REO’s tenham nascido da necessidade de suprir uma carência no cuidado humanizado às mulheres Foucault afirma que, não se deve passar o cuidado do outro a frente de si, pois a relação consigo é ontologicamente primária .(20)

O cuidado de si é, portanto, um modo de encarar as coisas, de estar no mundo, de estar atento ao que se passa e também designar ações de si para consigo. O cuidado de si não se fundamenta necessariamente em atitudes de zelo, mas de inquietação. Não se trata, tampouco,

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 de evitar confrontos, mas de fortalecer-se, em um exercício permanente de movimento, apropriando-se de sua própria vida. (21)

Este pressuposto compreende que o indivíduo não é um constructo fechado, mas sim um ser que vai além da adaptação com o meio ambiente inóspito, pois tem potencialidades de com ele interagir e o transformar.

O cuidado de si será compreendido nesta pesquisa como uma possibilidade para pensar com mais potência a formação na modalidade residência. Falar sobre a Residência em enfermagem obstétrica implica em considerar os efeitos deste processo no modo de constituição de subjetividades dos sujeitos envolvidos.

O cuidado de si pode, portanto, uma estratégia de aprendizagem, quando consideramos que o cuidado de si na perspectiva de formação do sujeito, representa um alerta para que ele redefina sua forma de pensar e agir, diante de si e diante da sociedade.

À medida que o residente em enfermagem obstétrica toma consciência do conceito de cuidado de si, e se apropria dele, isso pode repercutir, também na forma como esse residente passará a ofertar o cuidado em saúde.

Cuidar de si, exige, uma mudança, ou seja, em práticas de transformação de si mesmo. Para Foucault , o cuidado de si “constitui um princípio de agitação, um princípio de movimento, um princípio de permanente inquietude no curso da existência”. (20, 22)(20, 22)(20, 22)(20, 22)

Esta inquietude possibilita resistência, deslocamento, seja de retorno a si mesmo, aos modos como pensamos a nós e ao mundo, seja de resistência ao modelo de formação posto como verdade absoluta. (23)

Isto significa que, imbuído em um novo olhar sobre si mesmo, o residente passa não apenas a se transformar, mas também a transformar a ordem social a qual ele está inserido, ocupando um espaço emancipatório em sua vida pública, e atingindo os atores sociais que o cercam.

4 CONCLUSÃO

Diante do exposto, para compreender a relação do cuidado de si com a Residência em Enfermagem Obstétrica, faz-se necessário, antes, compreender o lugar do residente no contexto de saúde do Brasil.

Espera-se que esta reflexão contribua na elucidação dos aspectos que permeiam o trabalho dos residentes em enfermagem obstétricas, com vistas à projeção de um cuidado

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 12, p.31265-31275 dec 2019 . ISSN 2525-8761 integral do público alvo de sua assistência, mas também do cuidado de si como condição sine

qua non à qualidade de vida e bem-estar.

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