Universidade Federal da Bahia
Instituto de Matem´aticaCurso de P´os-graduac¸˜ao em Matem´atica Dissertac¸˜ao de Mestrado
Ergodicidade de Aplicac
¸˜
oes Unimodais
Maria Eliana Santana da Cruz Silva
Salvador-Bahia
Ergodicidade de Aplicac
¸˜
oes Unimodais
Maria Eliana Santana da Cruz Silva
Disserta¸c˜ao apresentada ao colegiado do curso de P´os-Gradua¸c˜ao em Matem´atica da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obten¸c˜ao do T´ıtulo de Mestre em Matem´atica.
Banca examinadora:
Prof. Dr. Vilton Jeovan Viana Pinheiro (Orientador)
Prof. Dr. ´Ezio de Ara´ujo Costa
da Cruz Silva, M. E.
“Ergodicidade de Aplicac¸˜oesS-unimodais” / Maria Eliana San-tana da Cruz Silva. Salvador-Ba, 2003.
Orientador: Dr. Vilton Jeovan Viana Pinheiro (UFBA).
Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada ao curso de P´os-graduac˜ao em Matem´atica da UFBA, 30 p´aginas.
“Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que estu-dam seriamente esta ciˆencia acabam tomados de uma esp´ecie de paix˜ao pela mesma. Em verdade, o que proporciona o m´aximo de prazer n˜ao ´e o conhecimento e sim a aprendizagem, n˜ao ´e a posse mas a aquisi¸c˜ao, n˜ao ´e a presen¸ca mas o ato de atingir a meta.”
Agradecimentos
A Deus, agrade¸co-Te o dom da vida e a capacidade de chegar at´e aqui, sabendo que por qualquer caminho que sigamos teremos a Tua m˜ao estendida sobre n´os.
Aos meus pais, Humberto M´aximo da Cruz e Elza Santana da Cruz, a quem ´e indis-pens´avel dedicar essa vit´oria, pois, vocˆes s˜ao simplesmente o come¸co de tudo, companheiros de todas as horas, o meu sonho, a minha alegria e o mais singelo amor! Para sempre, meus agradecimentos. Agrade¸co tamb´em aos meus familiares por todo apoio e ajuda.
A todos os professores respons´aveis por essa jornada, sempre dispostos a ajudar, em especial, aos professores ´Ezio Ara´ujo Costa (UFBA), Jos´e Ferreira Alves (Faculdade de Ciˆencias do Porto), os quais compuseram a Banca Examinadora e que verificaram com tanto zelo esta disserta¸c˜ao. Ensinar ´e uma quest˜ao de dedica¸c˜ao, de amor, um dom: algo t˜ao nobre que faz do professor um s´abio. Por isso a minha gratid˜ao e o meu carinho ao professor Vilton Jeovan Viana Pinheiro, pela orienta¸c˜ao, conhecimento transmitido e experiˆencia gratificante.
Aos meus colegas de trabalho pela colabora¸c˜ao e incentivo e a todos os colegas e funcion´arios do Instituto de Matem´atica da UFBA.
Aos amigos: Ana L´ucia Pinheiro Lima, Ariadne Pereira, Azly Santana, Alex Ramos, Calit´eia Souza, Cleide Peixoto, Cl´audio Vivas, Eronildo Souza, Graci Baqueiro, Gilmar Veiga, Jorge Serva, Juceli Brito, Luciana Barreto, Luiz Roque de Jesus, Luiz S´ergio Cavalcanti, Maria de F´atima Leal, Maridete Cunha, Maur´ıcio Brand˜ao, Odete Amanda Martinez, Patr´ıcia de Souza, Paulo Henrique do Nascimento, Stela Maria Azevedo e Ribeiro, os quais, de alguma forma, contribu´ıram no desenvolvimento de todo o curso de p´os gradua¸c˜ao, em especial, `aqueles que se tornaram grandes amigos. Aos amigos que n˜ao foram citados.
Resumo
Abstract
Sum´
ario
Resumo vii
Abstract viii
Lista de Figuras x
1 Aplica¸c˜oes S-unimodais 2
1.1 A fam´ılia quadr´atica . . . 4
1.2 Estruturas Hiperb´olicas . . . 5
2 Ergodicidade 12
A Anexo 25
A.0.1 Shift . . . 25
Lista de Figuras
1.1 Aplica¸c˜oes quadr´aticas fazendo-se variar o parˆametrot. . . 4
1.2 Itera¸c˜oes de f onde J ´enice . . . 7
2.1 (a) c6∈R(I) e (b)ˆ c∈R(I) . . . 15ˆ
Introdu¸
c˜
ao
A fam´ılia de aplica¸c˜oes quadr´aticas foi um dos objetos mais estudados na ´ultima d´ecada. Isto se deve em parte `a simplicidade da express˜ao e a complexidade da dinˆamica gerada por essas aplica¸c˜oes. A fam´ılia quadr´atica ou log´ıstica serve de modelo para o estudo uma grande gama de outras dinˆamicas. Al´em disso, generaliza¸c˜oes como as aplica¸c˜oes de H´enon aparecem no desdobramento de tangˆencias homocl´ınicas.
Com os resultados acumulados nas d´ecadas de 80 e 90 sabemos hoje, de maneira bas-tante completa, quais s˜ao as dinˆamicas freq¨uentes e os atratores t´ıpicos das aplica¸c˜oes da fam´ılia quadr´atica. De fato, com o trabalho de Lyubich, onde culminaram todos esses esfor¸cos, sabemos que para quase todo parˆametro, no sentido de Lebesgue, teremos uma dinˆamica hiperb´olica ou estoc´astica.
Nesse trabalho estaremos mais interessados no estudo do n´umero de atratores que uma aplica¸c˜ao unimodal pode ter. Verificaremos que n˜ao s´o para aplica¸c˜oes log´ısticas mas tamb´em para toda aplica¸c˜ao S-unimodal n˜ao-flat teremos sempre um ´unico atrator. Para tanto, provaremos que se a aplica¸c˜ao em quest˜ao n˜ao possuir ´orbita peri´odica atratora, ent˜ao ela ser´a erg´odica com respeito `a medida de Lebesgue. J´a que as bacias de atratores s˜ao conjuntos invariantes de medida positiva, a ergodicidade destas aplica¸c˜oes implicar´a na existˆencia de ´unico atrator. Por outro lado, segue da Schwarziana negativa que quando uma destas aplica¸c˜oes tiver uma ´orbita peri´odica, ent˜ao esta ´orbita ser´a seu ´unico atrator. Assim, com a presen¸ca ou n˜ao de ´orbita peri´odica, estas aplica¸c˜oes possuem sempre um ´unico atrator.
Cap´ıtulo 1
Aplica¸
c˜
oes
S
-unimodais
Seja f : I → I uma aplica¸c˜ao de classe Ck, k ≥3, I ⊂ R. A derivada de Schwarz
ouSchwarziana def em um ponto x∈I, denotada porSf(x), ´e definida por:
Sf(x) = f
′′′(x)
f′(x) −
3 2
f′′(x) f′(x)
2
;f′(x)6= 0.
Uma propriedade fundamental da Schwarziana ´e a permanˆencia do sinal. Isto ´e, se duas fun¸c˜oes com Schwarziana de mesmo sinal, ent˜ao a composi¸c˜ao destas preservar´a o sinal da Schwarziana. De fato, aplicando a regra da cadeia, verificamos que
S(f(g(x))) = Sf(g(x))(g′(x)))2+Sg(x)
de modo que se supormos Sf < 0 e Sg < 0, teremos S(f(g(x)) < 0. Uma conseq¨uˆencia imediata ´e queSf <0 implica Sfn<0, para todo n >1.
Uma outra propriedade importante da Schwarziana ´e que se uma fun¸c˜ao f : I → R, I intervalo de R, tem Schwarziana negativa ent˜ao, cada ´orbita peri´odica atratora de f atrai um ponto cr´ıtico ou de dobra (ver defini¸c˜ao abaixo) de f ou um ponto do bordo de I. Esta demonstra¸c˜ao ´e bastante simples e pode ser encontrada em [D].
Aplica¸c˜oesS-unimodais 3
F ◦h=h◦G, ou seja, tal que o diagrama abaixo comuta.
X −−−→F X
h y
yh
Y −−−→G Y
Veja que se F e G s˜ao conjugadas por h, F ◦ h = h ◦ G, ent˜ao
n vezes z }| {
F ◦. . .◦F ◦h = Fn◦h =h◦Gn =
n vezes z }| {
G◦. . .◦G◦h para todo n ≥0. Como a ´orbita de um ponto p sob a a¸c˜ao da aplica¸c˜aoF, que denotaremos porOF(p) ou mais simplesmente porO(p), ´e o conjunto dos
iterados de F aplicados em p, ou seja, OF(p) = {Fn(x) k n ≥ 0}, e como a dinˆamica gerada
porF ´e justamente o conjunto das ´orbitas geradas pela a¸c˜ao deF, temos que uma conjuga¸c˜ao leva ´orbitas gerada por F em ´orbitas de G e, Conseq¨uentemente, aplica¸c˜oes conjugadas tˆem dinˆamicas equivalentes.
Um pontoc∈R ´e dito ponto de dobra de uma fun¸c˜ao real f se for um m´aximo ou m´ınimo local de f e pertencer ao interior do dom´ınio desta fun¸c˜ao. Considere uma f fun¸c˜ao cont´ınua definida num intervalo que possui exatamente um ponto de dobra. Podemos fazer uma conjuga¸c˜ao e colocarmos este ponto de dobra como um m´aximo. De fato, a aplica¸c˜ao h(x) =−x´e uma conjuga¸c˜ao entre f e h◦f ◦h, que transforma um m´ınimo def em m´aximo de h◦f ◦h. Sendo assim, sem perda de generalidade, definiremos uma fun¸c˜ao ou aplica¸c˜ao
unimodalcomo uma fun¸c˜ao cont´ınua definida num intervalo que possui exatamente um ponto de dobra e este ponto ´e um m´aximo.
Suponha que f seja uma aplica¸c˜ao C3 e unimodal. Seja c ∈ R o ponto cr´ıtico ou de
dobra de f. N˜ao ´e dif´ıcil verificar que se Sf(x)<0, para todo x6=c, ent˜ao f tem no m´aximo dois pontos fixos. Quandof n˜ao tiver pontos fixos, ent˜ao todo ponto ser´a atra´ıdo pelo−∞ou sair´a do dom´ınio daf (caso o dom´ınio daf seja um subintervalo pr´oprio deR), isto ´e, ou para cada x ∈ Dom(f) ∃ n tal que fn(x) ∈/ Dom(f) ou lim
n→∞f
n
(x) = −∞ para todo x ∈ Dom(f). Assim, se f n˜ao tiver pontos fixos sua dinˆamica ser´a trivial. Pode-se verificar que, para quef tenha uma dinˆamica n˜ao trivial ´e necess´ario que exista um ponto fixo1. Al´em disso, este ponto
fixo possui um sim´etrico dinˆamico, com respeito ao ponto de dobra da f, ou seja, existe p < c < p∗ ∈Dom(f) tais que p=f(p) =f(p∗). Veja que com uma mudan¸ca de coordenadas
Aplica¸c˜oesS-unimodais 4
(conjuga¸c˜ao) podemos supor que p = 0 e p∗ = 1. De fato, basta considerar a conjuga¸c˜ao
h(x) = px∗−−pp entref e g =h◦f◦h
−1. Veja que g(0) = 0 =g(1). Desta maneira, sem perda de
generalidade, vamos nos restringir ao estudo de unimodais tais que f(0) = 0 =f(1).
Definic¸˜ao 1.1. Uma aplica¸c˜ao unimodal f ´e dita S-unimodal se for C3 e tiver Schwarziana
negativa. Mais precisamente, Sf(x) < 0,∀x 6= c, onde c ´e o ´unico ponto de dobra de f. Em c teremos lim
x→cSf(x) = −∞. Al´em disto, vamos exigir que se f ´e S-unimodal, ent˜ao
Dom(f) ⊃ [0,1] e f(0) = 0 = f(1). Em particular, o ponto cr´ıtico de uma aplica¸c˜ao S -unimodal pertencer´a ao intervalo (0,1).
Segue da defini¸c˜ao 1.1 e das observa¸c˜oes feitas acima o seguinte resultado.
Proposic¸˜ao 1.1. Toda a aplica¸c˜ao S-unimodal tem no m´aximo uma ´orbita peri´odica atratora.
Neste trabalho trataremos somente de aplica¸c˜oes unimodais com dobras n˜ao degener-adas, que s˜ao chamadas de n˜ao-flat. Mais precisamente, um ponto c ∈ R, ponto de dobra de uma aplica¸c˜ao f, ´e dito n˜ao-flat se existe um difeomorfismo local ξ, com ξ(c) = 0, tal que, f(x) = ±|ξ(x)|α+f(c), para algum α≥1. Diremos que uma aplica¸c˜ao unimodal ´e n˜ao-flat se
seu ponto de dobra for n˜ao-flat.
1.1
A fam´ılia quadr´
atica
... . . ... x0 (a) ... . . . . ... x0 3 4 (b) ... . . . . ... x0 3 4 (c)
Figura 1.1: Aplica¸c˜oes quadr´aticas fazendo-se variar o parˆametro t.
Aplica¸c˜oesS-unimodais 5
desta fam´ılia, ´e f´acil ver que o ponto cr´ıtico c = 1/2 ´e o ´unico ponto de dobra de f e que f(0) = 0 = f(1), qualquer que seja o parˆametro t > 0. Como 4tx(1−x) = f(1/2)− |ξ(x)|2,
onde ξ(x) = 4√t·(x−1/2) ´e ´obvio que estas fun¸c˜oes s˜ao n˜ao-flat. Al´em disto, as aplica¸c˜oes da fam´ılia log´ıstica tˆem Schwarziana negativa. De fato,
Sf(x) = f
′′′(x)
f′(x) −
3 2
f′′(x)
f′(x)
2
= 0
−8tx+ 4t − 3 2
−8t
−8tx+ 4t
2
= −3
2
1 x−1/2
2
⇒Sf <0,∀t, x∈R\ {1/2}.
Em resumo, a fam´ılia quadr´atica ´e uma fam´ılia de aplica¸c˜oes S-unimodais n˜ao-flat.
1.2
Estruturas Hiperb´
olicas
Um conjuntoU ´e dito positivamente invariantepor uma aplica¸c˜ao f sef(U)⊂U. Em particular, a ´orbita de um ponto de um conjunto positivamente invariante est´a contida neste conjunto. Se um conjunto compacto positivamente invariante apresentar expans˜ao ou contra¸c˜ao uniforme, ao longo das ´orbitas de seus pontos, este conjunto ´e chamado hiperb´olico. Mais precisamente, um conjunto compacto e positivamente invarianteK ⊂Dom(f)⊂R´e dito
hiperb´olicose existirem constantesC >0 e 0≤λ6= 1 tais que ou|(fn)′(x)|< Cλn<1∀n >0
ou |(fn)′(x)| > Cλn >1 ∀n > 0. No primeiro caso (λ < 1) o conjunto ´e dito contrator e no
segundo (λ > 1) ´e dito expansor. Vamos agora estudar um pouco os conjuntos invariantes das aplica¸c˜oes da fam´ılia quadr´atica ou log´ıstica que est˜ao afastados do ponto cr´ıtico.
Aplica¸c˜oesS-unimodais 6
cr´ıtico, cuja imagem cair´a fora do intervalo [0,1] e logo ser´a atra´ıda pelo menos infinito. Assim, o conjunto dos pontos que n˜ao ser˜ao atra´ıdos para o menos infinito ser˜ao justamente os pontos do intervalo [0,1] que nunca se aproximar˜ao de uma vizinhan¸ca do ponto cr´ıtico. Seguem do Teorema 1.1, enunciado mais a frente, que tal conjunto ´e um conjunto uniformemente expansor e do Teorema 1.2, que provaremos mais adiante, que ele tem medida de Lebesgue zero. Temos assim que somente dentro de um conjunto de medida zero, que est´a contido no intervalo [0,1], poderemos encontrar conjuntos invariantes n˜ao triviais (conjuntos que n˜ao estejam na bacia de atra¸c˜ao do −∞). Claro que o conjunto dos pontos que n˜ao saem do intervalo [0,1] ´e um conjunto maximal invariante, ou seja, todo ponto cuja ´orbita nunca sai de uma vizinhan¸ca pequena do intervalo [0,1], pertence a este conjunto.
Pode-se provar que a dinˆamica de f, restrita ao conjunto dos pontos que n˜ao s˜ao atra´ıdos pelo −∞, ´e conjugada `a dinˆamica do Shift (ver defini¸c˜ao e detalhes no anexo). Ou seja, denotando ∆ ={x∈ R k Of(x) ⊂[0,1]}, onde f(x) = 4tx(1−x), t > 1, Of(x) a ´orbita
positiva dex gerada por f eσ : Σ→Σ a fun¸c˜ao Shift, teremos um homeomorfismo ψ entre ∆ (que ´e um conjunto de Cantor) e o conjunto Σ (={0,1}N) que faz o diagrama abaixo comutar.
∆ −−−→f ∆
ψ y
yψ
Σ −−−→G Σ
Vamos aproveitar o momento para introduzir a no¸c˜ao de intervalosnice. Sejampep∗as
pr´e-imagens de 1, respectivamente a esquerda e a direita de c= 1/2, ou seja, f(p) =f(p∗) = 1
e p < c < p∗. Claro que se um iterado de um ponto x∈ [0,1] cair em (p, p∗) ent˜ao p /∈∆. De
fato, ∆ ={x∈[0,1]k O(p)∩(p, p∗) =∅}. Uma propriedade fundamental do intervalo acima ´e que os iterados de seu bordo n˜ao o intersectam. Motivado pelo intervalo (p, p∗), consideraremos a seguinte defini¸c˜ao.
Definic¸˜ao1.2. Chamaremos um intervalo abertoJ = (a, b)de umintervalo niceda aplica¸c˜ao unimodal f se O(∂J)∩J =∅, isto ´e, O(a)∩J =∅= O(b)∩J. Em adi¸c˜ao, vamos pedir que um intervalo nice seja sempre dinamicamente sim´etrico com respeito ao ponto de dobra c, isto ´e, a < c < b e f(a) = f(b). O conjunto dos intervalos nice de uma aplica¸c˜ao unimodal f
ser´a denotado por N =Nf e denotaremos os pontos de ´orbitas limitadas que nunca entram em
Aplica¸c˜oesS-unimodais 7
Figura 1.2: Itera¸c˜oes de f onde J ´enice
Proposic¸˜ao 1.2. Seja f uma aplica¸c˜ao unimodal de classe C1. Se J ∈ N ent˜ao ∆
J ´e um conjunto compacto positivamente invariante.
Demonstra¸c˜ao. Como O(f(x)) ⊂ O(x) segue que se x ∈ ∆J, ent˜ao O(f(x))∩J ⊂
O(x)∩J =∅, e logo f(x)∈∆J. Assim conclu´ımos que ∆J ´e positivamente invariante.
Vamos agora verificar que ∆J ´e compacto. Realmente, se p∈ [0,1]\∆J, ent˜ao existe
n ≥ 0 tal que fn(p) ∈ J e como J ´e um aberto e fn ´e cont´ınua, ∀n, segue que f−n(J)
´e aberto. Como p ∈ f−n(J), temos uma vizinha de p que ´e levada por fn dentro de J e,
Conseq¨uentemente, toda esta vizinhan¸ca est´a contida em [0,1]\∆J, o que prova que [0,1]\∆J
´e aberto e que ∆J e fechado. Como ∆⊂[0,1] segue que ∆J ´e tamb´em limitado, logo compacto.
✷
Enunciaremos abaixo um teorema que ´e fundamental para mostrarmos a expansividade em regi˜oes afastadas do ponto cr´ıtico. Como conseq¨uˆencia deste teorema, sempre que uma aplica¸c˜ao unimodal C2 n˜ao tiver ´orbita peri´odica atratora, ent˜ao para todo intervalo nice J
teremos que ∆J ser´a um conjunto expansor.
Teorema 1.1. (Ma˜ne) Seja f definida no intervalof :I →I, f ∈C2, onde I, ´e um intervalo
de R. Seja A o conjunto das ´orbitas atratoras de f. Seja B as bacias locais de A. Seja Cf o conjunto de todos os pontos cr´ıticos de f. Se U ´e vizinhan¸ca de Cf e U ⊃ B. Ent˜ao existe
C >0 e λ >1 tal que:
|Dfn(x)
|> Cλn,
∀x, satisfazendo x, f(x), . . . , fn−1(x)
∩U 6=∅.
Em particular, se A =∅ e U ´e uma vizinhan¸ca de Cf ent˜ao ∃ C e λ tais que
O(x)∩U =∅ =⇒ |Dfn(x)|> Cλn ∀n≥0.
Demonstra¸c˜ao.Ver [MMS].
J´a sabemos que os conjuntos ∆J, J ∈ Nf, s˜ao positivamente invariantes e compactos.
Aplica¸c˜oesS-unimodais 8
atratora masJ contiver sua bacia local, ent˜ao ∆J ser´a expansor. Veremos agora que sendo ∆J
expansor, ent˜ao ter´a medida de Lebesgue zero.
Teorema 1.2. (Conjunto hiperb´olico expansor tem medida de Lebesgue total ou zero). Seja
N ⊂ S1 e f : N → N uma aplica¸c˜ao C1+α, com α > 0. Se τ ⊂ N ´e compacto positivamente invariante, ou seja, f(τ)⊂τ, e expansor, ent˜ao τ =N =S1 (f ´e uma imers˜ao no c´ırculo) ou
τ tem medida de Lebesgue igual a zero.
Demonstra¸c˜ao. Sejam f : N → N com N compacto, f ´eC1+α com α > 0. Como τ
´e hiperb´olico por f, podemos, permutando f porfn, se for necess´ario, assumir que, para uma
vizinhan¸ca V de f teremos:
|Df(x)|> λ >1;∀x∈V.
Afirma¸c˜ao. Seτ cont´em um intervalo ent˜aoτ =S1.
Prova. Seja J ⊂ τ um intervalo, pela invariˆancia de τ, fn(J) ⊂ τ para todo n, fn
n˜ao tem pontos cr´ıticos em J, porque τ ´e hiperb´olico. Conseq¨uentemente, se fn|
J ´e injetora,
ent˜ao fn(J) ´e um intervalo de tamanho, no m´ınimo, igual a λnµ(J), ondeµ(J) ´e a medida de
Lebesgue de J. Isto ´e, se fn
|J ´e injetiva, ent˜ao µ(fn(J)) > λnµ(J), com |Dfn(x)| > λ > 1.
Assim, sefn|
J for injetiva, ∀n, teremosµ(τ)> µ(fn(J))> λnµ(J),∀ne, portanto,µ(τ) = ∞,
absurdo. Desta maneira, n˜ao ´e valido que para todon∈N, fn|
J seja injetiva. Uma vez que fn
n˜ao tem pontos cr´ıticos, isto implica que S1 ⊃τ ⊃fn(J)⊃S1 e, logoτ =S1.
Vamos agora supor que N n˜ao cont´em intervalos,f ´e uma imers˜ao no c´ırculo e que τ tem medida de Lebesgue positiva. Pelo Teorema da Densidade de Lebesgue, quase todo ponto deτ ´e ponto de densidade. Tomando a∈τ ponto de densidade teremos
(i) lim
δ→0
µ(Bδ(a)∩τ)
µ(Bδ(a)
= 1,
onde Bδ(a) ´e a bola de centro a e raio δ.
Seja ε > 0 tal que a Bε(x) ⊂ V ∀ x ∈ τ. Como τ e positivamente invariante temos
que Bε(fn(a)) ⊂ V,∀ n ≥ 0. Se fm(Bδ(a)) ⊂ Bε(fm(a))∀ m ≤ n, ent˜ao µ(fn(Bδ(a)) >
λnµ(B
Aplica¸c˜oesS-unimodais 9
Bε(fn0(a)). Como fn0(a) ∈ fn0(Bδ(a)), ent˜ao fn0(Bδ(a)), cont´em pelo menos metade da
Bε(fn0) e, portanto, existen ∈Z tal que µ(fn(Bδ(a)))≥ε.
Tomemos o maior n tal que fi(B
δ(a)) ⊂ V, para todo 0 ≤ i ≥ n. Afirmamos que
fn tem distor¸c˜oes limitadas em B
δ(a), mais precisamente, existe uma constante C1 que n˜ao
depende de δ, tal que
(ii)
Dfn(x)
Dfn(y)
< C1; ∀x, y ∈Bδ(a).
De fato, uma vez que f ´e C1+α e a derivada de f n˜ao ´e zero no fecho de V. Existe β > 0 tal
que a fun¸c˜aox7→log|Df(x)|´eCβ emV. Mas,f ´eCα,0< α <1 se|f(x)−f(y)|< K|x−y|α.
Como log|Df(x)| ´eCβ, existe uma constante C tal que
|log|Df(x)| −log|Df(y)||< C|x−y|β
.
Por essa raz˜ao
log
Dfn(x)
Dfn(y) = n X i=0
(log|Df(fi(x))| −log|Df(fi(y))|)≤
n X
i=0
C|fi(x)−fi(y)|β
Mas como
|fn(x)
−fn(y)
| = |f(fn−1(x))
−f(fn−1(y))
|
> λ|fn−1(x)−fn−1(y)|
> λ2|fn−2(x)−fn−2(y)|
> λn−i
|fi(x)
−fi(y)
|
> λn−1|f(x)−f(y)|
> λn
|x−y|
teremos
|fn(x)−fn(y)|> λn−i|fi(x)−fi(y)| |fi(x)
−fi(y)
|< 1 λn−i|f
n(x)
−fn(y)
| |fi(x)−fi(y)|β
< λ(i−n)β|fn(x)−fn(y)|β n
X
i=0
C|fi(x)−fi(y)|β
≤
n−1
X i=0 C 1 λβ
n−i
|fn(x)−fn(y)|β
Aplica¸c˜oesS-unimodais 10
Como S1 ´e compacto, ∃K tal que |fn(x)−fn(y)|< K e portanto, segue da equa¸c˜ao 1.1 que n
X
i=0
C|fi(x)
−fi(y)
|β
≤
n−1
X i=0 CKβ 1 λβ
n−i
≤ C˜
n−1
X
i=0
1 λβ
n−i
≤ C˜ 1 λβ n + 1 λβ
n−1
+. . . ..+ 1 λβ
!
≤ C˜
n−1
X i=0 1 λβ i
≤ C˜
∞ X i=0 1 λβ i
≤ C˜
1 1− 1
λβ
≤ C˜ λ
β
λβ−1
o que prova a afirma¸c˜ao, pois |Df
n(x)|
|Dfn(y)| ≤ρ
˜
C λβ
λβ−1.
Por esta raz˜ao, existen≥0 tal que a aplica¸c˜aofn leva difeomorficamenteB
δ(a) e com
distor¸c˜ao limitada no intervalo Jδ=fn(Bδ(a)) de comprimento maior que ε.
Usando a invariˆancia τ obteremos que fn(τ ∩ B
δ(a)) ⊂ (τ ∩ Jδ). De (i) e de (ii)
conclu´ımos que
µ(Jδ∩τ)
µ(Jδ) ≥
µ(fn(τ
∩B(a, δ))) µ(δj)
= 1− µ(f
n(B(a, δ)
\τ))
µ(fn(B(a, δ))) ≥1−c1
µ((B(a, δ)\τ)) µ((B(a, τ)) →1 quando δ → 0. Pois, cada um dos intervalos Jδ tem comprimento m´ınimo ε assim existe uma
seq¨uˆenciaδn →0 tal queJδn converge para o intervaloJ. Por esta raz˜ao µ(J∩τ) =µ(J).
Ent˜aoτ ´e um conjunto fechado, comτ ⊃J e isto ´e uma contradi¸c˜ao pois assumimos que J n˜ao cont´em intervalos. ✷
Corol´ario 1.2.1. Se f for uma aplica¸c˜ao unimodal C2 e J for um intervalo nice cujo fecho
Aplica¸c˜oesS-unimodais 11
Demonstra¸c˜ao. Veja que a transforma¸c˜ao C∞ definida por h(x) = exp(i·g−1(x)),
onde g : (−1,1)→R ´e dada por g(x) =x/(1−x2), leva toda a reta real R difeomorficamente
num arco de S1 ⊂ C. Conseq¨uentemente, usando h como conjuga¸c˜ao, o Teorema 1.2 acima
tamb´em ´e v´alido para N ⊂R e, em particular, para os conjuntos ∆J que como j´a observamos
´e, neste caso, expansor. ✷
Quando uma aplica¸c˜ao unimodal f for C2 e n˜ao possuir ´orbita peri´odica atratora,
ent˜ao os conjuntos ∆J cont´em toda estrutura hiperb´olica de f. De fato, se K ´e um conjunto
hiperb´olico ef n˜ao possui ´orbita peri´odica atratora, ent˜aoK´e compacto, invariante e expansor. Como (fn)′(c) = 0,∀ n >0, temos que o ponto cr´ıtico c de f n˜ao pertence a K. N˜ao ´e dif´ıcil
verificar que pondo J =f−1 (maxf(K),+∞) teremos que J ∈ N
f e K ⊂ ∆J. Assim, segue
proposi¸c˜ao abaixo que seH for a estrutura hiperb´olica def, isto ´e, uni˜ao de todos os conjuntos hiperb´olicos def (que neste caso ser˜ao somente os expansores), ent˜aoH =SJ∈N∆J.
Proposic¸˜ao 1.3. Se f ´e unimodal de classe C2, ent˜ao ou f tem ´orbita peri´odica atratora ou
c=TI∈Nf I.
Demonstra¸c˜ao. Suponha que J = TI∈N
f I 6= c. Vemos que J, neste caso, ´e um intervalo e necessariamente nice. De fato, pondo J = (a, b) e supondo que ∃ n > 0 tal que fn(a)∈J ent˜ao, por continuidade, paraI = (α, β)∈ N
f suficientemente pr´oximo a J ter´ıamos
fn(α)∈J ⊂I e isto contraria o fato de I ser nice.
Como ∆J tem medida nula temos que O(f(J))∩J 6= ∅. Seja n > 0 o menor inteiro
tal que fn(J)∩J 6= ∅. Se ∂J ∩int(fn(J)) 6= ∅ ent˜ao ∃p ∈ J tal que fn(p) ∈ ∂J. Logo
I =f−1((f(p),+∞)∈ N
f eI 6⊆J que ´e absurdo. Assim teremosfn(J)⊂J.
Temos ent˜ao dois casos:
(1) F ix(fn|
J)∩J =∅;
(2) F ix(fn|
J)∩J 6=∅.
No primeiro caso teremos quep=F ix(fn|
J)∩∂J 6=∅´e ´orbita peri´odica atratora def.
J´a no segundo caso, oup∈F ix(fn
|J)∩J ´e ´orbita peri´odica atratora def ou ´e repulsora. Mas,
se p∈ F ix(fn|
J)∩J for repulsora, ent˜ao ´e f´acil verificar que tomando q = maxO(p) teremos
I =f−1((f(p), f(c)))∈ N
Cap´ıtulo 2
Ergodicidade
Para iniciar este cap´ıtulo, vamos definir o conceito de ergodicidade. Considere uma aplica¸c˜ao f : M → M, onde M ´e um intervalo. Um subconjunto U ⊂ M ´e dito f-invariante
(ou invariante por f) se f−1(U) = U. Dizemos que f ´e dita erg´odica com respeito a medida
de Lebesgue, se todo subconjunto f-invariante tem medida zero ou a medida de M, ou seja, Leb(U) ∈ {0,Leb(M)}, para todo U ⊂ M que seja f-invariante. Observemos que aqui n˜ao estamos pedindo que a medida de Lebesgue seja invariante com respeito a f.
O resultado central deste cap´ıtulo ´e que toda aplica¸c˜aoS-unimodal, n˜ao-flate infinita-mente renormaliz´avel (veremos a defini¸c˜ao mais adiante) ´e erg´odica com respeito a medida de Lebesgue. Para chegarmos a este resultado faremos um estudo das propriedades combinat´orias dos intervalos nice e de suas pr´e-imagens. Estudaremos um pouco as aplica¸c˜oes de primeiro retorno ´a um intervalonice.
Vamos assumir, em todo este cap´ıtulo, quef ´e uma aplica¸c˜aoS-unimodal, que o ponto cr´ıtico de f ´e um ponto c∈(0,1) e fixarN como sendoNf.
Lema 2.0.1. Seja I ∈ N e sejam T1 e T2 ⊂[0,1] intervalos tais que fni :Ti → I ´e mon´otona e sobrejetora para algum ni ≥ 0. Se T1 ∩T2 6= ∅ e n1 ≤ n2, ent˜ao T2 ⊂ T1 . Al´em disto, se
n1 =n2, teremosT1 =T2.
Ergodicidade 13
Demonstra¸c˜ao.Se T2 6⊂T1, ent˜ao ∃ x∈∂T1 ∩T2. Logo, pondo a=fn1(x), teremos
a∈fn1(∂T
1)∩fn1(T2) =∂I∩fn1(T2) e Conseq¨uentemente,fn2−n1(a)∈fn2−n1(∂I)∩fn2(T2)⊂
O(∂I)∩I. Mas, isto contraria o fato de I ser nice. Temos ent˜ao que T2 ⊂T1. Al´em disto, se
n1 =n2 ter´ıamos tamb´em T1 ⊂T2. Desta forma, T1 =T2. ✷
Dado um intervalo nice I ∈ N vamos denotar o conjunto de pontos que visitam
I por CI, isto ´e, CI = {x ∈ [0,1] k O(x)∩I 6= ∅} = [0,1]\∆J. Segue da proposi¸c˜ao 1.2
que CI ´e um aberto e do Corol´ario 1.2.1 que se ¯I n˜ao estiver contido na bacia de uma ´orbita
peri´odica atratora, ent˜ao Leb(CI) = 1. Al´em disto, vamos provar agora que se {T1, T2, . . .} for
o conjunto das componentes conexas de CI, ent˜ao para cada Ti existe um ni ≥ 0 tal que fni
levaTi difeomorficamente emI.
Proposic¸˜ao 2.1. Seja J ∈ N e suponha que f n˜ao tenha ´orbita peri´odica atratora . Se J ´e uma componente conexa de CI, ent˜ao existe um ´unico inteiro n =n(J)≥ 0 tal que fn leva J difeomorficamente em I. Al´em disso, J, f(J), . . . ., fn(J) = I ´e uma cole¸c˜ao disjunta aos pares
de componentes conexas de CI.
Demonstra¸c˜ao.SejaJuma componente conexa deCI. Tomen= min{k ≥0kfk(J)∩
I 6= ø}. J´a que J ´e uma componente conexa de [0,1]\ ∆I (que ´e aberto) temos que J ´e
aberto e, conseq¨uentemente, ∂J ⊂∆I. Veja que se a ∈J, ent˜ao (fn)′(a)6= 0, pois, (fn)′(a) =
f′(fn−1(a))·. . .·f′(f(a))·f′(a) e comofj(a)∈/ I, para todo 0≤j < n, temos quefj(a)6=c∈I e
logof′(fj(a))6= 0, para todo 0≤j < n. Desta formafn|
J ´e um difeomorfismo. Vamos mostrar
agora quefn(J) = I. Para tanto escreva (α, β) = J e (p, q) = I. ComoO(∂J) =O(α)∪ O(β)
n˜ao intersecta I, pois ∂J ⊂ ∆I, ter´ıamos que, se fn(J) =6 I, ent˜ao fn(α) ou fn(β) ∈/ I, mas
comofn(J)∩I 6=∅ter´ıamos, neste caso, quep∈fn(J) ouq∈fn(J) e com isto existiriax
0 ∈J
tal que fn(x
0) ∈∂I. Pela escolha de n ter´ıamos que fj(x0)∈/ I, ∀0 ≤j < n, e por ∂I ⊂ ∆I
ter´ıamos tamb´em que fj(x
0)∈/ I,∀ j ≥ n. Ou seja, x0 ∈J ∩∆I. O que ´e um absurdo. Desta
forma, necessariamente, fn(J) = I. Como c ∈ I temos que fn+1|J n˜ao ´e um difeomorfismo,
nem ao menos ´e mon´otona, e logon ´e ´unico.
Claro que, se 0≤j ≤n, ent˜aofj(J) ´e uma componente conexa deC
I, poisfj(J)∩∆I =
∅e, por outro lado,∂(fj(J)) =fj(∂J)
⊂∆I. Falta agora verificar quefk(J)∩fl(J) =∅,∀0≤
k < l≤n. Suponha que existe 0≤k < l≤ntais que fk(J)∩fl(J)6=∅. TomandoT
1 =fl(J),
Ergodicidade 14
teremos que T1 =fl(J) ⊃fk(J) = T2 e logo I = fn1(T1) ⊃fn1(T2) =fn−(l−k)(J). Mas como
fn−(l−k)|J ´e difeomorfismo eO(∂T
2)∩I =∅, poisT2 ´e uma componente conexa deCI, teremos
fn1(T
2) = fn−(l−k)(J) ⊃ I. Entretanto, isto implica que fn1(T2) = I e logo n1 = n2, o que ´e
um absurdo, pois, n2 > n1. ✷
Dado um intervalo qualquer L ⊂[0,1] e um ponto x0 ∈ L tal que O(f(x0))∩L6= ∅.
O primeiro retorno de x0 a L se d´a em fn(x0) onde n = min{k > 0 k fk(x0) ∈ L}. Podemos
ent˜ao definir uma aplica¸c˜ao de primeiro retorno a L, RL, definida de Dom(RL) = {x ∈
L k O(f(x))∩L 6= ∅} para L. O lema abaixo garante que se I for um intervalo nice ent˜ao quase todo ponto deI retorna aI, ou seja, que quase todo ponto deI pertence ao dom´ınio da aplica¸c˜ao de retorno.
Lema 2.0.2. Se f n˜ao tem ´orbita peri´odica atratora, I ´e um intervalo nice e R ´e a aplica¸c˜ao retorno a I, ent˜ao
Dom(R) ´e aberto e Leb(I\Dom(R)) = 0
Demonstra¸c˜ao. Temos que Dom(R) = {x∈I k O(f(x))∩I 6=∅}. Sex ∈ Dom(R), ent˜ao existen tal quefn(x)∈I, como I ´e aberto, ef cont´ınua, temos que existeV vizinhan¸ca
de x tal que fn(y) ∈ I,∀ y ∈ V. Logo x ∈ V ⊂ Dom(R), ou seja, todo ponto do Dom(R) ´e
interior e, conseq¨uentemente, Dom(R) ´e aberto. ComoI\Dom(R) = {x∈I;O(f(x))∩I =∅} segue que se x ∈ I \Dom(R), ent˜ao f(x) ∈ ∆I. Logo, I \Dom(R) ⊂ f−1(∆I). Como f′ se
anula somente em um ponto, o ponto cr´ıtico, e pelo Corol´ario 1.2.1 temos Leb(∆I) = 0. Segue
que Leb(f−1(∆
I)) = 0. ✷
Uma propriedade interessante das aplica¸c˜oes unimodais sem ´orbitas peri´odicas atra-toras ´e que o ponto cr´ıtico ´e acumulado pelo conjunto dos pontos peri´odicos da aplica¸c˜ao.
Lema 2.0.3. Se f n˜ao tem ´orbita peri´odica atratora e I ´e nice, ent˜ao P er(f)∩I 6=∅.
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que Dom(R), o dom´ınio da aplica¸c˜ao de retorno a I, tenha somente uma componente conexa. Neste caso ´e necess´ario que f(I)∩∆I =∅. Seja J a
componente conexa de [0,1]\∆I que cont´emf(I) en, o n´umero de iterados que leva J em I,
isto ´e, fn|
J ´e um difeomorfismo de J em I. Seja A : [0,1] → I uma transforma¸c˜ao afim que
Ergodicidade 15
ˆ
R=A−1◦fn+1|
I◦A. Como R´e conjugada com ˆR pela aplica¸c˜ao A, que ´e um difeomorfismo,
podemos estudar ˆR no lugar de R. Assim, veremos que ˆR′(x) = (fn+1)′(x) e que ˆR′(x) 6= 0
∀ x6=c, onde c´e o ponto cr´ıtico de f. Logo ˆR ´e unimodal. Al´em disto, SR <ˆ 0, pois SA= 0 eS(fn+1)<0, e ˆR´e n˜ao-flat. EscolhendoA tal quecseja ponto de m´aximo, e n˜ao de m´ınimo,
para ˆR teremos que ˆR ´e uma aplica¸c˜ao S-unimodal.
´
E f´acil ver que se ˆR′(0) ≤ 1 ent˜ao o zero seria um ponto fixo atrator de ˆR e logo f
teria uma ´orbita peri´odica atratora. Assim, ˆR′(0) >1 e Conseq¨uentemente para todo x
0 > 0
suficientemente pequeno teremos ˆR(x0)> x0. Tomando g(x) = ˆR(x)−x teremosg(x0)>0>
g(1) =−1. Pelo teorema do valor intermedi´ario,∃x1 ∈(x0,1) tal que ˆR(x1)−x1 =g(x1) = 0,
ou seja, ˆR(x1) =x1. Assim ˆR e, conseq¨uentemente, R, possuem um ponto fixo em (0,1). Logo
f tem um ponto peri´odico em I. (Figura 2.1).
Figura 2.1: (a) c6∈R(I) e (b)ˆ c∈R(I)ˆ
Vamos agora supor que Dom( ˆR) tenha mais de uma componente conexa. Tomemos ent˜ao J componente conexa do Dom( ˆR) tal que c /∈J. Logo, ˆR(J) = (0,1)⊃I e ent˜ao ˆR ter´a um ponto fixo em J. Novamente isto implica que f tem uma ´orbita peri´odica em I. ✷
Corol´ario 2.0.2. Se f n˜ao tem ´orbita peri´odica atratora, ent˜ao existe seq¨uˆencia {pn} ⊂
P er(p) que converge para o ponto cr´ıtico c.
Demonstra¸c˜ao. Pela Proposi¸c˜ao 1.3 existe uma seq¨uˆencia Ik →c de intervalos nice.
Logo, pelo lema anterior,P er(f)∩Ik6=∅,∀k. Segue que, existe uma seq¨uˆenciapk→ctal que
pk∈P er(f)∩Ik,∀k. ✷
O lema de Koebe, que enunciaremos abaixo, ´e a ferramenta b´asica para o controle de distor¸c˜ao dos iterados de uma aplica¸c˜ao com Schwarziana negativa e este controle ´e fundamental para a prova da ergodicidade. Antes de anunci´a-lo, vamos definir o que ´e uma vizinhan¸ca δ -escaladade um intervalo. SendoJ ⊂T dois intervalos, dizemos queT ´e vizinhan¸caδ-escalada deJ se as componentes conexas de T \J, tem comprimento maior que δ· |T|.
Ergodicidade 16
deT\M s˜ao denotadas porLe R. Dado ε >0,∃K >0tal que sefn|
T ´e mon´otona e se|fn(T)| ´e uma vizinhan¸ca ε-escalada |fn(M)| ent˜ao:
(1) T cont´em uma vizinhan¸ca δ-escalada de M;
(2) |Df n(x)|
|Dfn(y)| ≤K, ∀ x, y ∈M.
Vamos supor que temos um intervalo nice V ∈ N e, para simplificar, quef n˜ao tenha ´orbita peri´odica atratora. Neste caso, com boa probabilidade f(c)6∈∆V, pois este tem medida
nula. Ou seja, o valor cr´ıtico f(c) pertence a CV. Defina ent˜ao, sempre que f(c) ∈ CV, SV
como a componente conexa deCV que cont´emf(c). Sempre queSV estiver definido poderemos
considerar a pr´e-imagem de SV por f, isto ´e, considerar o intervalo aberto ψ(V) definido por
ψ(V) =f−1(S
V). Claro que c∈ ψ(V) e que ψ(V) ´e dinamicamente sim´etrico com respeito ao
ponto cr´ıtico. Al´em distoψ(V) ⊂V, caso contr´ario, existiria um ponto a ∈∂V ∩ψ(V) e logo f(∂V) =f(a)∈SV ⊃CV, o que ´e absurdo.
Verifiquemos agora que ψ(V) ´e tamb´em um intervalo nice de f. De fato, se (α, β) = ψ(V), ent˜aof(α) = f(β)∈∂SV e comoSV ´e componente conexa deCV temos que∂SV ⊂∆V.
Conseq¨uentemente, O(f(∂(ψ(V))))∩V =∅. Mas, como V ⊃ψ(V) temos, em particular, que
O(f(∂(ψ(V))))∩ψ(V) = ∅. Logo,O(∂(ψ(V)))∩ψ(V) = ∅.
O lema que segue juntamente com o lema de Koebe e o ”argumento do intervalo do meio” ser˜ao as armas fundamentais para a prova da ergodicidade.
Lema 2.0.5. Se I ´e uma componente conexa de Cψ(V) que ´e levada difeomorficamente por fn
em ψ(V), ent˜ao existe um intervalo T contendo I tal que fn leva T difeomorficamente em V.
Demonstra¸c˜ao. Seja [0,1] ⊃ T ⊃ I o intervalo maximal tal que fn|
T ´e um
difeo-morfismo e fn(T) ⊂ V. Como fn|
I ´e um difeomorfismo e fn(I) = ψ(V) ⊂ V temos T 6= ∅.
Para provar o lema precisamos mostrar quefn(T) =V. Suponha o contr´ario, isto ´e, suponha
que existe a ∈ ∂T tal que fn(a)
∈ V. Se fj(a)
6
= c,∀ 0 ≤ j < n, ent˜ao, por continuidade, ter´ıamos que se tomarmos ε > 0, suficientemente pequeno, ent˜ao (fn)′(x) 6= 0 e fn(x) ∈ V,
Ergodicidade 17
seria um difeomorfismo e fn(T
1) =ψ(v) ⊂V, e isto contrariaria a maximalidade de T. Desta
maneira, deve existir um 0 ≤ j < n tal que fj(a) = c. Como j < n temos fj(I)∩ψ(V) = ∅
e assim ∃α ∈ ∂(ψ(I))∩fj(T). Logo, V ⊃ fn(T) ∋ fn−j(α), mas isto ´e absurdo, pois, como
f(α)∈f(∂(ψ(I)))⊂∂SV ⊂∆V temosO(f(α))∩V =∅. ✷
Na prova do Lema 2.0.3 n´os consideramos um reescalonamento do dom´ınio da aplica¸c˜ao de retorno a um intervalo. Este tipo de procedimento ´e chamado de renormaliza¸c˜ao. As t´ecnicas de renormaliza¸c˜ao foram introduzidas no final da d´ecada de 70, no estudo de dinˆamica unidimensional independentemente, por Coullet e Tresser e por Feigenbaum, para explicar alguns fenˆomenos de universalidade em bifurca¸c˜oes de fam´ılias unimodais. Baseados em estudos num´ericos eles conjecturaram que os fenˆomenos de universalidade poderiam ser explicados se o operador de renormaliza¸c˜ao, agindo em certo espa¸co apropriado de aplica¸c˜oes, tivesse um ponto fixo hiperb´olico.
Devido aos trabalhos sobre renormaliza¸c˜ao desenvolvidos por diversos matem´aticos nas d´ecadas de 80 e 90, Lyubich, no final dos anos 90, conseguiu provar que para quase todo parˆametro (no sentido de medida de Lebesgue) da fam´ılia quadr´atica, a dinˆamica ´e hiperb´olica ou estoc´astica. No caso hiperb´olico teremos uma ´orbita peri´odica atratora que atrai quase todo ponto do intervalo [0,1] e os pontos deste intervalo que n˜ao s˜ao atra´ıdos por esta ´orbita peri´odica formam um conjunto expansor. J´a nos parˆametros em que a dinˆamica for estoc´astica existe um intervalo peri´odico cuja ´orbita atrai quase todo ponto do intervalo [0,1], al´em disto a dinˆamica restrita a esta ´orbita ´e expansora n˜ao uniforme.
Introduzamos formalmente o conceito de renormaliza¸c˜ao.
Definic¸˜ao 2.1. Diremos que f ´e renormaliz´avel se existir um intervalo I $ [0,1] tal que o dom´ınio da aplica¸c˜ao de retorno a I for o pr´oprioI. Neste caso, diremos que I ´e um intervalo
de renormaliza¸c˜ao de f. A aplica¸c˜ao f ser´a chamada de infinitamente renormaliz´avel (∞ -renormaliz´avel) se existir uma cole¸c˜ao infinita de intervalos de renormaliza¸c˜ao distintos.
Veja que, se I ´e um intervalo de renormaliza¸c˜ao para f, ent˜ao existe um m ≥ 0 tal que a aplica¸c˜ao de retorno a I ´e dada por RI =fm|I. Al´em disto, segue do Teorema de Ma˜n´e
e do Teorema 1.2 que c ∈ Smj=0fj(I), pois Leb(Sm
j=0fj(I)) > 0. Claro que, se J pertence a
Ergodicidade 18
c ∈ Smj=0fj(I) e se I
c ´e o intervalo da ´orbita de I que cont´em o ponto cr´ıtico, ent˜ao ele ´e
dinamicamente sim´etrico com respeito ao ponto cr´ıtico. Desta forma, Ic ´e um intervalo nice.
Observe que, ses≥0 ´e o menor natural tal que fs(I)⊂I
c, ent˜ao fs levaI difeomorficamente
emIce conjugaRIcomRIc, isto ´e,RI = (f
s|I)−1◦R
Ic◦(f
s|I). Em resumo, sef´e renormaliz´avel
com respeito a um intervalo I, podemos trocar I pelo intervalo de sua ´orbita que cont´em o ponto cr´ıtico. Este ´ultimo ´e nice e tamb´em ´e um intercalo de renormaliza¸c˜ao def, e do ponto de vista dinˆamico a aplica¸c˜ao de retorno n˜ao muda. Por estas raz˜oes iremos somente estudar renormaliza¸c˜oes com respeito a intervalosnice.
Devido a sua importˆancia no estudo de aplica¸c˜oes unimodais vamos definir o operador de renormaliza¸c˜ao que foi aludido acima. Entretanto, queremos frisar que n˜ao usaremos o operador de renormaliza¸c˜ao na prova da ergodicidade das aplica¸c˜oes ∞-renormaliz´aveis e que somente iremos defini-lo com finalidade informativa.
Se I ∈ Nf for um intervalo de renormaliza¸c˜ao de f definiremos a renormaliza¸c˜ao de f em rela¸c˜ao a I e denotaremos por RIf, como a aplica¸c˜ao RIf : [0,1] → [0,1] dada
por RIf = A−1 ◦RI ◦A, onde A : [0,1] → I ´e escolhida entre as duas transforma¸c˜oes afins
que levam [0,1] em I de maneira que c seja ponto de m´aximo, e n˜ao de m´ınimo para RIf.
Desta maneira RIf ´e tamb´em um aplica¸c˜ao S-unimodal (ver observa¸c˜oes na demonstra¸c˜ao do
Lema 2.0.3).
N˜ao ´e dif´ıcil constatar que, se I ∈ Nf, ent˜ao existe somente um n´umero finito de
intervalos de renormaliza¸c˜ao de f que contenha I. Conseq¨uentemente, sef for uma aplica¸c˜ao renormaliz´avel existe sempre um maior intervalo de renormaliza¸c˜ao de f, ou seja, existe um intervalo I ∈ Nf que cont´em todos os outros intervalo de renormaliza¸c˜ao. Defini-se ent˜ao
o operador de renormaliza¸c˜ao R que leva uma aplica¸c˜ao unimodal renormaliz´avel f em uma outra aplica¸c˜ao unimodal porRf =RIf, onde I ∈ Nf ´e o maior intervalo de renormaliza¸c˜ao
def. Tamb´em n˜ao ´e dif´ıcil verificar que se I1 %I2 s˜ao dois intervalos de renormaliza¸c˜ao para
f, ent˜ao a aplica¸c˜ao unimodal RI1 =A
−1◦R
I1 ◦A ´e renormaliz´avel com respeito ao intervalo
e
I2 = A−1(I2) e que as aplica¸c˜oes RIe2(RI1f) e RI2f s˜ao conjugadas. Em particular, se f for
∞-renormaliz´avel, ent˜ao (R)nf =R. . .R | {z } n vezes
f est´a bem definida, para todon >0.
Ergodicidade 19
por uma seq¨uˆencia encaixada de intervalos I1 % I2 % I3 % . . . tal que c = TnIn. De fato, se
c 6= TnIn, ent˜ao J = T
nIn seria um intervalo nice e assim, como j´a foi mencionado acima,
ter´ıamos somente um n´umero finito de intervalos de renormaliza¸c˜ao contendo J, o que ´e uma contradi¸c˜ao. Conseq¨uentemente, se f tiver uma ´orbita peri´odica atratora, ent˜ao ela tem no m´aximo um n´umero finito de renormaliza¸c˜oes. Tamb´em, deve ser observado que o ponto cr´ıtico de uma aplica¸c˜ao unimodal∞-renormaliz´avel ´e sempre recorrente, ou seja,c´e sempre um ponto de acumula¸c˜ao de sua ´orbita (c∈ω(c)). Desta forma, quando f for ∞-renormaliz´avel, teremos c∈ CI ∀ I ∈ Nf.
Teorema 2.1. Seja f : [0,1] → [0,1] uma aplica¸c˜ao S-unimodal, n˜ao-flat. Se f ´e ∞ -renormaliz´avel, ent˜ao f ´e erg´odica com respeito a Lebesgue.
Demonstra¸c˜ao. Suponha que f seja ∞-renormaliz´avel e U ∈ N um intervalo de renormaliza¸c˜ao. Logo,f(c)∈ SU que ´e, como j´a foi definido, a componente conexa de CU que
cont´em o valor cr´ıtico. Sejan >0 o inteiro tal que fn levaS
U difeomorficamente emU e ponha
M =f(U)⊂SV.
Pela Proposi¸c˜ao 2.1 teremos quefj(S
V)∩fk(SV) =∅,∀ 0≤j 6=k ≤n e, conseq¨
uen-temente, os elementos da cole¸c˜ao M ={M, f(M), . . . , fn(M)} s˜ao dois a dois disjuntos, pois
fj(M)⊂fj(S
V), ∀0≤j ≤n.
Escolha m0 ∈ {1,2, . . . , n} tal que |fm0(M)| ≤ |fj(M)|, ∀ 0 ≤ j ≤ n. Se fm0(M)
possuir elementos de M posicionados na reta real tanto a sua esquerda quanto a sua direita, ponha m=m0. Por outro lado, se acontecer do posicionamento de fm0(M) na reta real R for
o mais `a esquerda da cole¸c˜ao M ou o mais `a direita, ent˜ao escolha m ∈ {m0+ 1, m0 + 2} de
maneira quefm(M) n˜ao seja nem o mais `a esquerda nem o mais `a direita da cole¸c˜aoM. Claro
que, |fm0+2(M)
| ≤ γ|fm0+1(M)| ≤ γ2|fm0(M)
|, onde γ = max{|Df(x)| k x ∈ [0,1]}. Desta forma, pela escolha do m, teremos |fm(M)| ≤ γ2|fj(M)|, ∀ 0 ≤ j ≤ n e, al´em disto, existem
elementos de Mtanto `a esquerda quanto `a direita de fm(M).
Entre os elementos deM que ficam a esquerda defm(M) seja fl(M) o mais pr´oximo
a fm(M). Analogamente, seja fr(M) o elemento a direita de fm(M) mais pr´oximo.
Con-sideremos H o intervalo m´aximo contendo M, para o qual fm(H) ´e mon´otona e tal que
Ergodicidade 20
[fl(M), fr(M)] = {(1−t)x+ty k t ∈[0,1],x∈fl(M) e y∈fr(M)}.
Afirma¸c˜aofm(H) = [fl(M), fr(M)].
Prova. SejamL eR as componentes conexas de H\M. Suponha queH n˜ao satisfa¸ca a propriedade acima. Neste caso o fecho dom-´esimo iterado de uma das componentes conexas deH\M estaria contida no interior de [fl(M), fr(M)]\fm(M). Digamos que esta componente
sejaL, isto ´e, fm(L) =fm(L)⊂interior[fl(M), fr(M)]\fm(M). Pela maximalidade deH
existe i ∈ {0,1, . . . .m−1} tal que c ∈∂fi(L). Como fk(M)∩U = ∅ ∀0 ≤ k < n temos, em
particular, quefi(M)∩U =∅. Isto significa quefi(L) cont´em o fecho de uma das componentes
conexas de U\ {c}. Assim, fm(L) = fm−i−1(fi+1(L)) ⊃ fm−i−1(f(U)) = fm−i−1(M), isto ´e,
interior[fl(M), fr(M)]
\fm(M)
⊃fm(L)⊃fm−i−1(M). De maneira an´aloga, mostrar´ıamos
que R cont´em um iterado de M. Por essa raz˜ao [fl(M), fr(M)] conteria no m´ınimo quatro
elementos deMo que ´e absurdo pela constru¸c˜ao de [fl(M), fr(M)]. Assim, conclu´ımos a prova
da Afirma¸c˜ao.
Como γ2|fr(M)| ≥ |fm(M)| ≤ γ2|fl(M)| temos que fm(H) ´e uma vizinhan¸ca γ2
-escalada defm(M). Pelo Lema de Koebe, existe uma constanteδ
0 >0 dependendo unicamente
deγ tal que H cont´em a vizinhan¸ca δ0-escalada deM. Como o ponto cr´ıtico ´e n˜ao flat, existe
uma constanteδ >0 tal queH′ =f−1(M) cont´em a vizinhan¸caδ-escalada deU. Esta constante
δ >0 depende somente de γ e da ordem da criticalidade de f.
Dado J uma componente de CU e k ≥ 0 o inteiro tal que fk leva difeomorficamente
J em U, tome T como intervalo m´aximo contendo J tal que fk|
T ´e mon´otona e fk(T) ⊂ H′,
onde H′ =f−1(H).
Afirma¸c˜ao que fk(T) = H′.
Prova. Como T ´e o intervalo m´aximo contendo J, tal que fk
|T ´e mon´otona,
consid-eremos L′ e R′ componentes de T \J e fixemos uma delas, por exemplo L′. Pela
maximal-idade de T, existe 0 ≤ j < k, tal que c ∈ ∂fj(L′) como j < k temos que fj(J)∩ U = ∅,
portanto, fj(L′) cont´em uma componente de U\ {c}. Conseq¨uentemente, fj+1(L′) ⊃ M e
fk−(j+1)(fj+1(L′))⊃fk−j−1(M), isto ´e,
Ergodicidade 21
Suponhamos, por contradi¸c˜ao, que fk(L′) ⊂ H′. Ent˜ao, como fk(L′) ⊃ fk−j−1(M) e fm+1 ´e
mon´otona sobre cada componente de H′\ {c} temos que fm+1|fk−j−1(M) ´e mon´otona.
Con-seq¨uentemente, fk−j−1 ´e mon´otona dado que fk+m−j|
M ´e mon´otona. Como U ´e um
inter-valo de renormaliza¸c˜ao e f n˜ao tem ´orbita peri´odica atratora temos, necessariamente, que c ∈ RU(U) = fn(M), isto implica que k +m−j ≤ n. Al´em disso, se fj+1(L′) ⊃ M, ent˜ao
fk(L′)⊃fk−j−1(M). Segue que
fk(L′)
⊂fk(L′)⊂H′
⇒fk−j−1(M)⊂H′ efk−j ⊂H.
Assim, fm(fk−j(M)) ⊂ fm(H) = [fl(M), fr(M)], isto ´e, fm+k−j(M) ⊂ [fl(M), fr(M]. Mas
isto significa que [fl(M), fr(M)] cont´em no m´ınimo quatro intervalos da forma fi(M) com
i≤n o que ´e absurdo. Provamos ent˜ao que fk(T)⊃ H′ e deste modo temos que fk(T) =H′.
Com isto, conclu´ımos a prova desta segunda afirma¸c˜ao.
Mostramos portanto que∃δ >0 tal que para todo intervalo de renormaliza¸c˜aoU ∈ N e cada intervaloJ componente conexa de CU temos um intervaloT tal que sen ≥0 ´e o inteiro
tal quefn levaJ difeomorficamente emU, ent˜aofnlevaT difeomorficamente numa vizinhan¸ca
δ-escalada de U, isto ´e,fn(T) =H′.
Segue ent˜ao do Lema de Koebe que∃ K >0 tal que para todo intervalo de renormal-iza¸c˜ao U ∈ N e cada intervalo J componente conexa de CU, teremos um inteiro n ≥0 que fn
levaJ difeomorficamente emU com distor¸c˜ao limitada por K, isto ´e,
1 K <
|Dfn(x)|
|Dfn(y)| < K ∀ x ey ∈J.
Suponhamos que existam dois conjuntosXeY ⊂[0,1] invariantes, isto ´e,f−1(X) = X
ef−1(Y) =Y, e ambos com medida de Lebesgue positiva.
Seja I1 ⊃ I2 ⊃ I3 ⊃ . . . uma seq¨uˆencia encaixada de intervalos de renormaliza¸c˜ao tal
que TjIj = {c}. Como Leb(∆Ij) = 0, ∀ j, pelo Corol´ario 1.2.1, temos que Leb(
S
j∆Ij) = 0
e, conseq¨uentemente, quase todo ponto x ∈ X n˜ao pertence a Sj∆Ij. Por outro lado, pelo
teorema da densidade de Lebesgue, quase todo ponto x∈X ´e ponto de densidade do conjunto X, ou seja,
lim
ε→0
Leb(Bε(x)∩X)
Leb(Bε(x))
Ergodicidade 22
e desta maneira podemos escolher um ponto de densidade x∈X que n˜ao pertence a Sj∆Ij.
ComoCIj = [0,1]\∆Ij, podemos fixar um ponto de densidade x∈X tal que x∈CIj
∀j ≥1. Denotemos a componente conexa de CIj que cont´em x porJj ⊂CIj. Como X ´e invariante por f temos fn(X
∩J) = In∩X, onde In ´e uma seq¨uˆencia de
intervalos que acumulam no ponto cr´ıtico e X ⊂ Jn ⊂ [0,1]. Como |In| ´e uma seq¨uˆencia de
intervalos, pelo princ´ıpio da contra¸c˜ao temos que se Un e In s˜ao seq¨uˆencias de intervalos com
|In| → 0 e tal que algum iterado fkn de f leva |Un| em In, ent˜ao |Un| → 0. Por essa raz˜ao,
como |In| →0 e, ∃s tal que fs(Jn) = In temos que|Jn| →0.
Al´em disso,
1∼ Leb(X∩Jn)
Leb(Jn)
e Lebfn(X∩J
n)
Lebfn(J n)
= Leb(In∩X) Leb(In)
.
Como Leb(X∩Jn) Leb(Jn) ∼
1, ent˜ao Leb(X
c∩J n)
Leb(Jn) ∼
0.
O Teorema da mudan¸ca de vari´avel que nos diz que: se h:U →V, um difeomorfismo de classe C1 entre os abertos U, V ⊂ Rm, X ⊂U um compacto J-mensur´avel e f :h(X)→ R uma fun¸c˜ao integr´avel, ent˜ao f◦h:X →R ´e integr´avel e
Z
h(X)
f(y)dy=
Z
X
f(h(x))· |det(h′(x))|dx.
Veja que como fs|
Jn ´e difeomorfismo, temos que
fs(Xc
∩Jn) = Xc∩fs(Jn),
pois,fs(Xc) =Xc e fs(J
n) =In.
Assim,
|fs(Xc
∩Jn)|= Z
x∈fs(Xc∩J n)
dx=
Z
x∈(Xc∩J n)
|Dfs(x)
Ergodicidade 23
Por outro lado, |In|
|Jn|
= |f
s(J n)|
|Jn|
, mas Jn= (a, b). Portanto,
fs(Jn) = (fs(a), fs(b)) e |fs(Jn)|=|fs(a)−fs(b)|.
Assim,
|fs(J n)|
|Jn|
= |f
s(a)−fs(b)|
|a−b| . Pelo teorema do valor m´edio, existey ∈(a, b) tal que
|Dfs(y)
|= |f
s(a)
−fs(b)
| |a−b| .
Logo,
|In|
|Jn|
= |f
s(J n)|
|Jn|
=|Dfs(y)|.
Por essa raz˜ao, a equa¸c˜ao (∗) pode ser escrita como:
|fs(Xc∩Jn)| = Z
x∈fs(Xc∩J n)
dx
=
Z
x∈(Xc∩J n)
|Dfs(x)
|dx (2.1)
≤
Z
x∈(Xc∩J n)
K.|In|
|Jn|
dx
= K|In|
|Jn| Z
x∈(Xc∩J n)
(2.2)
= K|In|
|Jn||
Xc
∩Jn|,
isto ´e,
|fs(Xc
∩In)| ≤ K|
In|
|Jn|
.|Xc
∩In|
|fs(Xc∩J n)|
|In| ≤
K
|Jn|
.|Xc∩In|< Kε
como ε´e muito pequeno temos que:
|Xc
∩In|
|In|
= |f
s(Xc
∩Jn|
|In|
≤ K|X
c∩I n|
|Jn|
Ergodicidade 24
isto significa que:
Leb(Xc∩I n)
Leb(In) ∼
0
e, portanto,
Leb(X∩In)
Leb(In) ∼
1 (i).
Como Y ⊂[0,1] est´a nas mesmas condi¸c˜oes de X, isto ´e, invariante com Leb >0, ent˜ao para quase todo pontoy ∈Y
lim
ε→0
Leb(Bε(y)∩X)
Leb(Bε(y)) ∼
1.
Procedendo, de maneira an´aloga, obtemos tamb´em que
Leb(Y ∩In)
Leb(In) ∼
1 (ii).
Observando (i) e (ii), notamos que por (i)In ´e quase todo repleto deX e por (ii)In´e
Apˆ
endice A
Anexo
A.0.1
Shift
Seja X um espa¸co topol´ogico. Denotemos por Σ(X) o conjunto das seq¨uˆencias ψ :
Z→X e Σ+(X) o conjunto das seq¨uˆencias ψ :N→X providos da topologia produto, isto ´e, a
topologia gerada, no caso de Σ(X), pela base de abertos
{. . .X×X×An0 ×. . .×An1 ×X×X. . .kAj ´e aberto de X}.
J´a para o Σ+(X) a base ´e
{A0×. . .×An×X×X. . .kAj ´e aberto de X}.
QuandoX ´e um conjunto finito com n elementos simplificamos a nota¸c˜ao escrevendo Σ(X) = Σn, Σ+(X) = Σ+n e identificamos X como o conjunto {1, . . . , n} provido da topologia
discreta. Oshiftσ: Σ(X)→Σ(X) ´e a transforma¸c˜ao cont´ınua definida por (σψ)(n) =ψ(n+ 1). Pode-se mostrar que se X ´e um espa¸co m´etrico compacto ent˜ao a topologia de Σ(X) ou de Σ+(X) ´e a mesma que topologia gerada pela a distˆancia
d(α, β) =
+∞
X
n=−∞
1
Anexo 26
em Σ(X) ou
d(α, β) =
+∞
X
n=0
1
2|n|dX(α(n), β(n))
em Σ+(X), onde d
X ´e a distˆancia em X.
Observe que dois pontos, digamos α e β ∈ Σ+X, est˜ao pr´oximos se d(α, β) for
pe-queno e isto s´o acontece quando existe um k > 0 suficientemente grande tal que α(j) =
β(j), ∀0≤j < k. De fato, assumindok = min{j ≥0 k α(j)6=β(j)} temos dX(α(k), β(k))
2k ≤
d(α, β) ≤ diam(X)
2k−1 , onde diam(X) ´e o diˆametro de X (que ´e compacto), ou seja, diam(X) =
sup{dX(x, y)k x e y∈X}.
Proposic¸˜ao A.1. Se f : R → R ´e dada por f(x) = 4tx(1− x) com t > 1, ent˜ao f|Λ ´e
conjugada a σ : Σ+2 →Σ+2, onde Λ ={x∈[0,1] k Of(x)⊂[0,1]}
Demonstra¸c˜ao. Segue do teorema de Ma˜ne que Λ ´e um conjunto expansor para f. Logo, existem C >0 e λ >1 tais que Dfn(x)> Cλn, para todo n >0 e todo x∈λ.
Veja quef−1([0,1]) ´e a uni˜ao disjunta de dois intervalos fechados. Sejam 0 = a
1 < b1 <
a2 < b2 <= 1 os pontos do bordo def−1([0,1]), isto ´e, f−1([0,1]) = I1∪I2, ondeIk = [ak, bk] e
k = 1,2.
O itiner´ario dos pontos de Λ ´e a aplica¸c˜aoγ : Λ → Σ+2 definida da seguinte maneira. Dado x ∈ Λ temos que para cada j ≥ 0 fj(x) pertence a algum I
k. Assim, defina o valor de
γ(x) no ponto j por
(γ(x))(j) =
(
1 se fj(x)∈I
1
2 se fj(x)∈I
2
Temos ent˜ao que fj(x)∈I
(λ(x))(j) ∀ j ∈N.
Vamos agora definir uma aplica¸c˜ao de Σ+2 para Λ. Observe que fk−1 leva o intervalo
[0,1] difeomorficamente no intervaloIk. Al´em disto, comofs◦(fi0
−1
◦. . .◦fis
−1
)(x) =x temos
|D(fi0
−1◦. . .◦f
is
−1)(x)| < C−1λ−s ∀ x ∈ [0,1]. Desta maneira, dados quaisquer i
0, . . . , is ∈
{1, . . . , n} teremos que Ii0,...,is =fi0
−1
◦. . .◦fis
−1([0,1]) ´e um intervalo de comprimento menor
que C−1λ−s e com a propriedade que se x ∈ I
i0,...,is ent˜ao x ∈ Ii0, f(x) ∈ Ii1, . . . ,f
Anexo 27
quando s →+∞. Conseq¨uentemente T∞s=0Iθ(0),...,θ(s) define um ´unico ponto xθ ∈[0,1]. Como
fs(x
θ)∈Iθ(s) ∀ s temos n˜ao so que xθ ∈Λ como tamb´em que γ(xθ) =θ. Por outro lado como
´e f´acil verificar que γ ´e injetiva segue que Σ+
2 ∋θ 7→xθ ∈Λ ´e de fato a inversa de γ.
A continuidade de γ ´e clara pois pontos pr´oximos tem os primeiros trechos de seus itiner´arios coincidentes, ou seja, (γ(x))(0) = (γ(y))(0), . . . ,(γ(x))(k) = (γ(y))(k) parakgrande. Tamb´em ´e f´acil ver que se α e β ∈ Σ+2 s˜ao pr´oximos, ou seja, existe um k grande tal que α(0) = β(0), . . . , α(k) = β(k), ent˜ao xα e xβ ∈ Iα(0),...,α(k) e logo xα ´e pr´oximo a xβ, de fato,
|xα−xβ| < C−1λ−k. Assim, a continuidade de γ−1 tamb´em est´a assegurada. Em resumo, γ ´e
um homeomorfismo entre Γ e Σ+2.
Referˆ
encias Bibliogr´
aficas
[BL1] A. M. Blokh & M. Ju. Lyubich. Attractores of maps of the interval. Func. Anal. and Appl. 21(1987) 32-46.
[BL2] A. M. Blokh & M. Ju. Lyubich. Measurable dynamics of S-unimodal maps of the interval.
Preprint., 1990/2 at SUNY.
[D] R.L. Devaney.An Introduction to Chaotic Diynamical Systems. Adilson Wesley, Menlo Park (l986).
[G] J. Guckenheimer. Limit sets of S-unimodal maps with zero ent ropy.Comm: Math. Phys. 110(1987) 133-160.
[GuJ] J. Guckenheimer & S. Johnson. Distortion of S-unimodal maps. Ann. Math. 132 (1) (1990). 71-131.
[H] F. Hofbauer. The structure of piecewise monotonic transformations.Ergod. Ph & Dynam. Sys. 1 (1981),150-178.
[JS] M. Jacobson & G. Swiatek. Metric properties of non-renormalizable S-unimodal maps. IHES Preprint. 1991.
[K] G. Keller. Exponents, attractors and Hops decompositions for interval maps.Ergod. Th. & Dynam. Sys. 10(1990), 717-744.
[L] M. Lyubich The quadratic Family as a qualitatively Sovable Model of Chaos. Notices of the AMS Vol 47, number 9.