A GESTÃO DO SETOR.
Planejamento da expansão do Setor Elétrico:
histórico e perspectivas
JOSÉ L U IZ A LQ U É R E S
Engenheiro C ivil, Assistente da D ire to ria de Planejamento e Engenharia da E LE TR O B R ÁS, m em bro do Conselho Fiscal da ELETRO - N O R TE, Secretário Executivo do Com itê Na- donal Brasileiro'da-Conferência Mundial de Energia.______________ ____ ________________
1. A função planejam ento da expansão do S etor E létrico
A
s peculiares características do Setor E létrico, principalm en te a p a rtir do alcance de uma dimensão a nível nacional ex pressiva, transform aram , no caso brasi leiro, a função planejam ento da expan são, numa das mais im portantes no co n te x to empresarial, evidentem ente, sem que isso signifique que outras funções devam ser esquecidas.Destas características, destaca-se a p ró pria velocidade do crescim ento do còn- sumo de energia elétrica que, nas ú lt i mas décadas, vem, p o r um c o n ju n to de m otivos, se expandindo a taxas elevadas, superiores aos 10% em média por ano. A esse ritm o , observa-se a necessidade de se d u p lica r as instalações de suprim ento a cada 7 anos. Ora, a dimensão fa n tá sti ca do programa de obras a ser cu m p rid o para fa cu lta r essa escala de expansão, evidentem ente, realça a necessidade de bem se estudar o elenco de obras a cons tru ir, sua adequada d istrib u içã o no te m po, etc. Os ganhos empresariais possíveis de serem obtidos, neste campo, através de uma adequada seleção de prioridades, tornam-se, por assim dizer, mais co m pensadores do que os ganhos im p o rta n tes (porém menos expressivos), enseja dos po r uma m elhoria na operação dos sistemas existentes.
Um o u tro fa to r, im p o rta n te e pecu liar do Brasil, é a abundância de recursos de energia hidráulica. Esses recursos ocorrem em definidas localizações geo gráficas, não raro distantes dos centros de consum o, im plicando o seu aprovei ta m ento na construção de grandes redes de transmissão. Existe, ainda, a propen são de se o b te r grandes economias de escala na medida do crescim ento dessas instalações, p rincipalm ente quando, em obras de barragens, é privilegiado, ape nas, o aspecto geração de energia, com o.
aliás, tem sido hábito no Setor E létrico. Assim, o porte dessas obras vem crescen do ao longo dos anos, fazendo com que o Brasil possua o mais expressivo con ju n to de grandes obras prontas, em construção ou projetadas. Se notarmos que o prazo de construção, freqüente mente, supera os 10 anos, verifica-se que o programa de obras em construção, supera, a cada m om ento, a dimensão global do parque já instalado.
Sob o im pacto desse co n ju n to de fa tores, vem se desenvolvendo, p rin c ip a l mente nos ú ltim o s 20 anos, a p a rtir da com plexidade m aior que vem atingindo o sistema elétrico, uma atividade de pla nejam ento m u ito peculiar às condições brasileiras. Se analisarmos os progressos m etodológicos da função planejam ento, podemos caracterizar três fases da evo lução m etodológica, sendo que uma quarta fase se considera, atualm ente, em processo, a saber:
Fase 1 — Correspondente ao pe río d o até 1963;
Fase 2 — Correspondente ao período com preendido entre 1963 e 1974;
Fase 3 — Correspondente ao período com preendido entre 1974 e 1981/82;
Fase 4 — P eríodo pós 1982. Fase 1 — Período até 1963
Neste p e río d o , os sistemas elétricos existentes no país eram de pequeno porte, salvo aqueles em to rn o das cida des do R io de Janeiro e São Paulo. A responsabilidade pela sua construção e operação cabia a uma m u ltip licid a d e de agentes, privados e governamentais, que, em bora regulamentados por uma legisla ção abrangente, desde o Decreto 41.019, de 26.02.57, eram extrem am ente vulne ráveis e p o lítica s fo rtu ita s do poder cen tra l. Nos ú ltim o s anos dessa fase, proces sou-se o in íc io da form ação in stitu cio n a l do Setor E lé trico , com a consolidação de algumas empresas regionais, com o CHESF e FU R N A S , a criação da E LE T R O B R Á S , a m aturidade e exportação do “ m odelo C E M IG " a nível estadual, e a prática de uma postura adm inistrativa, a níve l de G overno, que assegurou às empresas condições adequadas de rem u neração de serviços, investim entos e ca pitalização própria.
Compreendendo, p o rta n to , o Setor E létrico, um c o n ju n to am plo de siste mas isolados ou, quando m u ito , com fraco nível de intercâm bio, operados por agentes distintos e, não havendo, se quer, até o fin a l do p erío d o , um agente centralizador efetivo a nível nacional, entende-se que o planejam ento da e x pansão se voltasse a uma ação por projeto. Com isso, entende-se que, de posse de procedim entos clássicos, as empresas selecionavam entre alternativas a me lhor fo rm a de agregar uma certa expan são na sua capacidade de suprim ento, se ja a nível de geração, seja a nível de transmissão. Essas expansões se deram, quase sempre, nas suas prórpais áreas de concessão e os sistemas de transmissão representavam redes pouco complexas, ligando, unidirecionalm ente, fontes ge radoras a centros de consumo.
Fase 2 — P eríodo com preendido en tre 1963 e 1974
O in íc io desse p e río d o é marcado pe la elaboração de Planos Regionais para as regiões Sudeste e Centro-Oeste (CA- NAM B R A) e Região Sul (C A N A M B R A ), aos quais se seguiram o u tro s para a Re gião Nordeste (E N E N O R D E ) e a Região N o rte (E N E R A M ).
Em decorrência do crescim ento dos mercados e do apontado nesses planos regionais e nos que lhes sucederam, in i ciou-se, no p e río d o , a interligação entre sistemas a n íve l intra-regional. As em presas amadureceram nas suas co n fig u rações institucionais e o explosivo cres cim e n to da demanda in d u ziu a um fo r talecim ento do m odelo de organização que se mostrava apto a atender ao desa fio básico do crescim ento, onde se des tacava a E LE T R O B R Á S , principalm ente seu papel de agente fin a n ce iro setorial.
Do p o n to de vista m etodológico, re- gistra-se que, decorrente da tendência para interligação, o planejam ento passa a considerar níveis mais elevados do que o de empresa individualizada, com o no p e río d o a n te rio r. A seleção de em pre endim entos passou a se fazer den tro de uma ó tica mais regional, já que a energia elétrica, cada vez mais, demandava maiores potenciais, em geral mais dis tantes e, p o rta n to , necessitando, para sua utilização, de transmissão a longas dis tâncias. O " p ró x im o em p re e nd im e n to "
paSsou a ser objeto de análises com base no seu benefício para o sistema. A o t i mização do sistema h id rò té rm ico , a si mulação de " lo a d flo w " nas redes mais complexas de transmissão que iam se form ando, e um certo grau de valoriza ção de decisão do poder central (E LE - T R O B R Á S ), são características do pla nejamento da época, o qual p rivilegiou o desenvolvimento m etodológico com isso com patível.
É de se ressalvar que, até o fin a l des se p e río d o , o planejam ento do Setor E létrico ainda era conduzido na to ta l independência em relação a quaisquer outros setores energéticos e, mais ainda, não existiam planos nacionais. A siste mática de revisões dos planejamentos re gionais era suficiente para atender às necessidades objetivas de definição de novos em preendim entos que o cres cente mercado demandava.
Fase 3 — P eríodo com preendido entre 1974 e 1 9 8 1/82
Essa fase é marcada por dois fatores no plano m undial: crise energética, com súbito crescimento do preço d o petróleo, e a crise econôm ica, com um a não me nos brutal elevação do custo dos recur sos financeiros.
0 p rim e iro fa to r im p lico u numa cres cente demanda de divisas para fazer frente à com pra de petró le o , para o que, entre outros, o Setor E lé trico fo i chama do a comparecer, na fo rm a de captação de financiam entos vinculados à aquisi ção de equipam entos para alguns proje tos então concebidos, por vezes, fo ra dos esquemas oficiais de planejam ento do Setor. Assim, ao se ve rifica r o segun do fa to r, o Setor se e ncontrou m u ito vulnerável, o que se acentuou com a de terioração das tarifas, isto, já por efe ito da co njuntura inflacionária interna e a estratégia de reajustes então adotada.
Assistiu-se, do p o n to xle vista in s titu cional, no p e río d o , ao fo rta le c im e n to da centralização da gestão governamental, no c o n te xto do qual o planejam ento, a médio e longo prazos, tão valorizado pa ra o S etor E lé tric o , fo i praticam ente abandonado, a tro c o de uma gestão f i nanceira mais im ediatista, decorrente do co n te x to econôm ico problem ático.
Em bora, o processo fo rm a l de plane jam ento do Setor não tenha se in te rro m pido — pelo c o n trá rio , registra-se, mes mo, um intenso progresso em métodos e técnicas específicas — sua representativi- dade caiu bastante. N o afã de aumentar essa representatividade, o Setor in c o rp o
rou ao planejam ento toda uma fre n te de análise de repercussões sobre a indústria de equipam entos e materiais. Por o u tro lado, a validade do apontado no pla nejamento do S etor E lé trico veio a so fre r restrições, face a determinações de se adotar, sem c rític a ,p a râ m e tro s fo rn e cidos pela N UC LEB R AS .
Os docum entos de planejamento do p e río d o a dquiriram dimensão nacional, como o c o n ju n to de Projetos Especiais da E LE T R O B R Á S , Plano 95 e Plano 2000 e, também, e voluíram q u a lita ti vamente, principalm ente, pela dissemi nação da in fo rm á tica no â m b ito do Se to r. Registra-se, a p ropósito, que o Cen tro de Processamento de Dados da ELE- r ROBRÁS só fo i im p la n tad o em 1973.
Permaneceram esses docum entos (embora o ú ltim o já elaborado com a colaboração de órgãos, ta n to do Setor, co m o externos) com o produtos de uma visão centralizadora do processo de pla nejam ento, não havendo c o m p ro m e ti mentos externos ao S etor, no tocante à viabilização das premissas consideradas nesses planos.
Fase 4 — P eríodo pós-1982
A p a rtir de 1982, sistematizou-se, sob a coordenação da E LE T R O B R Á S e através d o GCPS (G rupo Coordenador do Planejamento d o Sistema E létrico), a prá tica de um planejam ento de cunho mais representativo, com a participação das empresas afetadas.
Elabora-se, tam bém , no p e río d o , o in íc io de uma reação in stitu cio n a l ao centralism o, que, na prática, transferiu todas as decisões essenciais ao S etor, pa ra órgãos e instâncias externas a ele. Pa ralelamente, o Setor se viu obrigado a valorizar o estudo da parte econôm ico- financeira de seus projetos de expansão, que deverá se processar num c o n te x to de escassez de recursos, sem precedentes na sua história recente, obrigando, com isso, uma integração planejamento-inves- tim ento-recursos financeiros, sem a qual não haverá planejam ento efetivo.
2. As etapas e o ciclo de planejam ento no â m b ito do S etor E lé trico
Na sua fo rm a atual, o processo de planejam ento pode ser d iv id id o em três etapas principais: a análise de longo pra zo, alcançando um ho rizo n te em to rn o de 30 anos; a análise de m édio prazo, enfocando a evolução do sistema nos prim e iro s 15 anos, e a análise de cu rto prazo, d e fin in d o os 5 anos iniciais.
A análise de longo prazo perm ite id e n tific a r as principais linhas de desen volvim ento do sistema e fix a r, em fu n ção da composição do parque gerador e da necessidade de desenvolvim ento de processos tecnológico-industriais, as me tas para o programa de expansão de mé d io prazo. Nesta fase, os principais insu- mos necessários são as projeçõesde m er cado, os inventários das fontes de gera ção, as tecnologias e custos de transm is são e as características do sistema exis tente. Como principais p ro d u to s desta etapa, são o b tid o s a composição do par que gerador, a seqüência das usinas, os níveis de im portação e exportação de energia, a topologia e tecnologia dos grandes troncos de transmissão, os inves tim e n to s necessários e, fin a lm e n te , os parâm etros energéticos e econômicos.
A análise, a m édio prazo, estabelece o programa de expansão, condicionado pelos resultados da análise de longo pra zo, que atende aos requisitos previstos, com patibilizando-os com as condições vigentes no S etor E lé trico , bem com o com sua evolução. Como p rim e iro re sultados, são obtidas as alternativas de programas de obras de geração e trans missão. A p a rtir dessas alternativas, é efetuada uma análise econôm ica, visan do estabelecer o Programa de Expan são do Parque Gerador de Referência. Os estudos de sensibilidade para ajus tes no programa de geração e de ava liação do desempenho e lé trico do sis tema de transmissão fornecem os sub sídios para a elaboração do Plano De cenal da Geração e Transmissão e, a p a rtir das diretrizes estabelecidas pela E LE T R O B R Á S , fornecem os elementos para a Programação Plurianual de Inves tim e n to do S etor de Energia E létrica (PPE).
A análise de c u rto prazo representa um ajuste de decisões referentes ao pro grama de expansão do parque gerador,
um programa detalhado dos reforços da transmissão e a definição do programa de expansão da rede de d istrib u içã o . Para o desenvolvim ento dessa etapa, são necessárias inform ações sobre m ercado, programa de referência, lim ite s de in tercâm bio e despachos, restrições cons tru tiva s e orçam entárias. A lé m desses insum os, devem estar disponíveis os cus to s, os índices de confia b ilid a d e e as ca racterísticas das usinas. Subsidiariam en te aos estudos do planejam ento, a ope ração dos sistemas ap o rta , nesta etapa, uma im p o rta n te co n trib u içã o sobre o status operativo do sistema e sua visão de prioridades.
A expressão financeira do programa de obras é apresentada no PPE, que con siste na programação de investimentos das empresas do Setor de Energia Elé trica. Neste programa são discrim inados os principais empreendim entos da em presa, com previsão de investimentos pa ra os 5 prim eiros anos, apresentados ano a ano. O Programa de Investim entos é subm etido pelas empresas à apreciação da E LETR O B R Á S .
A Secretaria de C ontrole de Empre sas Estatais (SEST), no sentido de cen tra liza r o controle de dispêndios das Es tatais, estabeleceu o PDG, que consiste na elaboração do orçam ento global de dispêndios das empresas estatais. Este programa apresenta uma proposta de o r çamento para o ano em curso e in fo rm a ções referentes aos anos subseqüentes, sendo que, na prática, apenas o d e fin i do para o p rim e iro ano acaba prevale cendo após a aprovação da SEST, que o analisa essencialmente pelo seu aspecto financeiro.
Pode-se dizer que, embora comuns a to d o o processo de planejam ento, as d i versas variáveis envolvidas têm pesos d i ferentes em cada um dos horizontes de planejam ento. Assim ó que, no longo prazo, os condicionantes estratégicos, li gados à expansão da economia, à dispo nibilidade de recursos prim ários e tecno lógicos, assumem papel fu n d a m e n ta l; no m édio prazo, a condição de econom ici- dade dos programas (custos m ín im o ) é d e term inante; no cu rto prazo, a análise financeira e condições com o prazos de construção, variações de crescimento dos requisitos de mercado, capacitação empresarial e outras variáveis c o n ju n turais, preponderam .
Por sua vez, os estudos relativos a cada h o rizo n te têm prioridades dis tintas. A revisão dos estudos de longo prazo, que pressupõem a elaboração de um plano, só se faz necessária quando de mudanças significativas nos co n d icio nantes estratégicos e nas variáveis m acro econômicas que afetam as diretrizes de longo prazo do S etor E lé trico . Sua pe riodicidade norm al situa-se em to rn o de cinco anos, quando da elaboração de planos do Governo.
Os estudos de médio prazo são revis tos com m aior freqüência, função da p ró p ria evolução das inform ações em que se baseiam, com o previsões de m er cado, evolução dos orçam entos de usi nas, etc. e são revistos, norm alm ente, em intervalos anuais.
Já os estudos de c u rto prazo, sujeitos a variáveis co njunturais, são em geral re
vistos várias vezes ao longo do ano, em bora, oficialm ente, exista apenas um p ro d u to anual.
O ciclo de planejamento do Setor E létrico tem periodicidade anual, e de senvolve-se, continuam ente, ao longo do tem po, num processo de elaboração e revisão de metas, frente às flutuações do mercado e outras influências endógenas ou exógenas ao Setor.
A coordenação das atividades de pla nejam ento é exercida pela E L E T R O BRÁS, por interm édio do G rupo Coor denador de Planejamento dos Sistemas E létricos (GCPS), e dos seus elementos estruturais, que são o Comitê D ire to r (CD), a Secretaria Executiva (SEC), os Comitês Técnicos (CT) e os Grupos de Trabalho (G T).
O processo se inicia com duas in fo r mações básicas: a Previsão do Mercado de Energia Elétrica para o decênio que se inicia, em itida pelo G rupo de Traba lh o de Previsão de Mercado (GTPM), do GCPS, e o resultante Programa de Gera ção de Referência, p ro d u zid o pela E LE TR O BR Á S.
O Programa de Geração de Referên cia é subm etido ao GCPS, que através de seus Grupos de T rabalho de Análise do Programa Decenal de Geração (GTPG) e de Sistemas Isolados (G TS I), verifica, face aos dados de mercado, a adequação da programação para entrada das usinas geradoras recomendada pela E L E T R O BRÁS. A pós referendada pelo Comitê D ire to r, c o n s titu íd o p o r Diretores e Pla nejam ento das Empresas, a programação é assumida com o válida para o ciclo de planejam ento daquele ano.
O mercado, após aprovado pelo Co m itê D ire to r, é encam inhado ao Subgru po de Estudos de Mercado dos P rinci pais Centros de Carga (SGPC) e ao G ru po de Trabalho do Plano Decenal de Transmissão (G TPD), sendo então p ro d u zido po r este ú ltim o o Plano Decenal de Transmissão, que norteará as empresas em seu planejam ento de obras para o
p ró x im o decênio.
Com as inform ações referentes às obras de geração e transmissão, as em presas elaboram seus PPE's (Programa Plurianal de Investim entos), enviando-os à E L E T R O B R Á S para serem analisados. A E LETR O B RÁS com pleta a análise do PPE, em todos os seus aspectos técnico- econômicos, indicando as djretrizes f i nais para o PDG (Programa de Dispên dios Globais), possibilitando às empresas a consolidação dos seus valores e consi derando as restrições existentes. A E L E T R O B R Á S , em seguida, se responsabiliza
pelo envio à SEPLAN do PDG das suas controladas, ao mesmo tem po em que as empresas coligadas estaduais encami nham ao mesmo órgão seus PDG's in d i viduais, que devem estar previamente com patibilizados ao programa global es tabelecido.
Os níveis finais de investim ento e m i tid o s pela SEPLAN, com base na análise financeira do Setor e em parâmetros de alocação inter-setorial de recursos, não raro inviabilizam totalm ente as p roposi ções encaminhadas, processando-se en tão as adaptações possíveis ao longo do ano, quase sempre im plicando em gran des prejuízos à qualidade dos serviços prestados pelo Setor.
No âm bito in te rn o às empresas con cessionárias, desenvolvem-se ciclos anuais de planejamento que, nas épocas devidas, se inter-relacionam com o men cionado ciclo de planejam ento do Setor E létrico. É de se destacar nesse âm bito empresarial a im portância do seu plane jam ento integrado. Para a empresa, este define as metas, planos de ação, orça m ento de custeio, orçam ento de investi m ento, quadro de pessoal, plano d ire to r de in fo rm á tica , planejam ento setorial e o u tro s instrum entos setoriais, com base em prioridades e diretrizes pré-estabele- cidas.
As mudanças no processo de desen vo lvim e n to econôm ico e social do país são fatores que orientam a fixação de prioridades e diretrizes da expansão do sistema elétrico, sendo deste m odo de term inantes do planejam ento. Devido à característica de interdependência sistê mica do planejam ento, não poderão ser efetuadas m odificações isoladas nos seus com ponentes sem que to d o o processo seja afetado.
Por fim , ressalta-se que a necessida de de uma tradução do planejam ento setorial n um docum ento de trânsito mais am plo a nível p o lític o — in s titu cional, resultou na criação de Planos Estaduais. Os Planos Estaduais, ou de T e rritó rio s Federais, fo ra m criados em 1984, p o r in icia tiva da E LE T R O B R Á S . Eles são in s titu íd o s p or Portarias do D N A E E e sua execução com pete a G ru pos de Trabalho coordenados pela E LE T R O B R Á S . Estes planos evidenciam os aspectos de planejam ento a níve l de u n i dade da federação, tratados de form a mais abrangente nos docum entos de pla nejam ento tradicionais do setor, com o, por exem plo, "P lano DecenaldeGeraçãb' e "P la n o Decenal de Transm issão". Eles visam, p o rta n to , id e n tific a r os requisitos de energia, apresentar os projetos neces
sários para atendim ento desses requisi tos, caracterizar os estudos e investim en tos correspondentes e a trib u ir as respon sabilidades para sua execução.
O Plano Estadual agrega, ainda, um objetivo p o lític o aos elementos prepa rados nos fóruns técnicos do G rupo Coordenador do Planejamento do Sis tema E létrico (GCPS), de fo rm a a to r ná-lo a expressão da p o lític a de desen volvim ento da utilização de energia elétrica empreendida pelo Governo do Estado, face à necessidade de sua com- patibilização com a atuação do Gover no Federal, através das empresas con cessionárias regionais e outros órgãos. 3- Planejamento e m etodologia:
grandes temas
O planejamento do Setor E lé trico é exercido num c o n te x to onde a expe riência dem onstra que, a cada época, o peso de diferentes fatores p o lític o s , eco nômicos ou sociais, produz feições pecu liares na sua fo rm a e no seu conteúdo. Assim, no passado, épocas com o a de 'reconstrução decorrente do realismo ta r ifá rio " e "expansão decorrente do milagre b ra sile iro ", im p rim ira m às d ife rentes decisões, no âm bito do S etor, a sua marca e o seu sentido.
No sentido de bem caracterizar a si tuação atual do Setor, não se poderia e x c lu ir uma colocação, ainda que subje tiva, dos temas que, na metade desta dé cada, condicionam fundam entalm ente o Planejamento setorial: superação da c ri se e retomada do desenvolvim ento, pa- pel da energia elétrica no c o n te x to da energia global, m eio-am biente, no seu sentido social e ecológico, recursos h í dricos e aproveitam entos hidrelétricos, e configuração p o lític o -in s titu c io n a l.
Superação da Crise e Retomada do D esenvolvim ento
_ O Setor E lé trico atravessa uma situa ção extrem am ente grave do p o n to de vista econôm ico e fin a n ce iro . Sua vulne rabilidade atual é, po r conseguinte, bas tante grande, pois, de uma relativa a u to nomia financeira, para condução do seu programa de investim entos, veio a cair em grande dependência de recursos externos ao Setor E lé trico . Esse fa to en fraquece a efetividade recomendada no seu planejam ento.
No panorama atual da economia bra sileira, onde o grande problem a que se coloca ê a retom ada do crescimento que assegure a plena utilização dos fa to
res de produção e a absorção de mão-de- obra, a problem ática do Setor E létrico, pelas suas características, mostra-se agra vada. T radicionalm ente, um setor capi tal intensivo com o o E lé trico , no con te x to de escassez to ta l de recursos em que vivemos, só consegue reequacionar satisfatoriam ente o seu desenvolvimen to com mudanças na fo rm a e no ritm o de capitalização. Novas p o lítica s com re lação ao atendim ento ao mercado, novas form as de co n d u zir os em preendim en tos, novas fontes nacionais ou interna cionais de recursos, novos modelos de estruturação empresarial, merecerão ser estudados e eventualm ente im plantados, de m odo que se assegure, com pativel mente com as possibilidades nacionais, um reenquadram ento do Setor E létrico num padrão de e q u ilíb rio que, no pas sado, pôde ostentar.
Papel da Energia Elétrica no C ontex to de Outras Formas de Energia. Os bens e serviços produzidos pela sociedade exercem uma demanda global de energia. D entro dessa demanda glo bal, a especificação do uso desta ou da quela form a ou fo n te particu la r de ener gia vai depender de um certo núm ero de fatores: a disponibilidade física do ener gético, seja o b tid o localmente ou atra vés de in tercâm bio; os preços relativos das diversas form as ou fontes de energia, para um dado níve l de tecnologia de produção e de uso; finalm ente, de d i versos aspectos — muitas vezes não com putados m onetariam ente de fo rm a d ire ta — que se podem tra d u z ir pelas idéias de conveniência no seu uso, tais com o: facilidade de m anipulação, grau de lim peza, exigências de espaço para armaze nam ento, etc.
A c u rto prazo, as diversas form as de energia apresentam padrões bastante de fin id o s e estáveis de utilização, tendo ca da uma dessas form as seus tipos de con sumidores e usos finais relativam ente ca tivos. Ou seja, a intersubstituição entre fontes é relativam ente d if íc il a cu rto prazo, porque, por um lado, os fatores dos quais dependem o uso (preços, tec nologias disponíveis, etc.), numa pers pectiva de c u rto e m édio prazos, são re lativam ente estáveis, e tam bém porque os serviços de produção de energia, da das as suas características tecnológicas e de mercado, requerem, na m aior parte dos casos, investim entos de grande m o n ta em capital fix o .
Os últim o s dez anos viram a quebra da estabilidade do preço do petróleo,
exatam ente o energético que, ao longo do ú ltim o meio século, vinha paulatina mente .absorvendo o mercado dos de mais energéticos e transform ando-se nu ma espécie de alternativa m onoenergéti- ca e universal, através do e fe ito conjuga do de baixo preço, facilidade de in te r câmbio e abundância de tecnologias sim ples para sua utilização. Com á quebra da estabilidade dos preços do petróleo, reverte-se a tendência à ampliação de seu uso, passando a viver o mercado glo bal de energia enorme grau de incerteza quanto à definição do papel das demais fontes, no atendim ento das crescentes necessidades globais por energéticos.
No caso brasileiro, com o resultado da alta dos preços do petróleo, adotou-se uma p o lític a deliberada de procura de alternativas energéticas e passa-se por uma certa euforia na substituição de de rivados, que, se nem sempre é ditada pe la razão, po r o u tro lado, sequer atinge seus objetivos especificados. Nesta fase, vários energéticos se apresentam com a suposta capacidade para substituição efetiva e virtu a l dos derivados de p e tró
leo, dentre eles, a eletricidade. Esta capa cidade, no e n ta n to , nem sempre veio acompanhada pelo requisito básico da disponibilidade de tecnologia de uso, a preço-sombra c o m p e titiv o .
O Setor E lé trico tem interesse p a rti cular, dado o gigantism o dos investim en tos que requer, em d e fin ir com rigor a posição da eletricidade, face aos demais energéticos, neste quadro de incerteza que caracteriza o mercado global de energia. Por o u tro lado, a natureza u n i ficada do planejam ento e da a dm inistra ção de preços do S etor E lé trico possibi lita , m elhor do que em o u tro s merca dos de energéticos, esta definição que, em ú ltim a instância, vai d e lim ita r m er cados, esquivando-se a eletricidade de absorver os mercados nos quais outros energéticos possam v ir a c u m p rir mais adequadamente o seu papel fin a l (entre eles os próprios derivados de petróleo) e, po r o u tro lado, absorvendo resoluta- ^ mente aqueles novos mercados onde tec nologias e preços lhes forem favoráveis. Esta definição requer, naturalm ente, es tudos cuidadosos das potencialidades de novos usos fin a is para energia elétrica, via-à-vis outros energéticos, tradução desta potencialidade em requisitos de mercado e, fin a lm e n te , na inserção des tes requisitos no planejam ento da o fe r ta do Setor.
F inalm ente, deve-se ter em- mente que, não só as novas tecnologias de p ro dução, com o tam bém aquelas ligadas
aos usos finais, m o dificam significativa mente a co m petitividade entre energéti cos. Neste caso, cabe ao Setor E létrico investir na geração de tecnologias de uso que possam vir a fa c ilita r à e le trici dade a absorção de novos mercados, cu jo uso, por m otivos de preços, conve niência, etc. mostram-se desinteressantes no m om ento. Parte deste esforço de ge ração de tecnologia deve, tam bém , visar a obtenção de níveis maiores de eficiên cia no uso da energia elétrica, o que per m itirá a extensão dos recursos existen tes por horizontes tem porais cada vez mais longos.
M eio-A m biente e Implicações Sociais A conservação dos recursos naturais e o desenvolvim ento econôm ico e social, são apresentados, na m aior parte das ve zes, com o sendo incom patíveis. É neces sária, pois, a com patibilização entre a ecologia e o desenvolvimento econôm i co e social, o b tida através da aplicação de novas tecnologias oriundas do desen vo lvim e n to c ie n tífic o .
A harmonização do b in ô m io tecno- logia-ecologia é um dos desafios mais sé rios que a humanidade enfrenta nos tem pos atuais. Considerando q u e .o de- sevolvim ento c ie n tífic o é uma conquista do hom em , cuja aplicação tecnológica deve se adequar às condições ecológicas, conclui-se que a unilateralidade da tec nologia não é a correta visão do fu tu ro , assim com o não é absoluto o imediatis- m o da relação b e n e fício /cu sto . Deve ser destacado que o caráter p ú b lico das em presas estatais exige c rité rio de avalia ção que transcenda os conceitos clássi cos de lucratividade e rentabilidade eco nôm ica, para in c lu ir critérios valorativos de sua c o n trib u içã o para o progresso econôm ico, social e p o lític o do país.
Na construção de sistemas elétricos’, a im plantação de reservatórios de usinas hidrelétricas, de linhas de transmissão e subestações, introduzem im portantes m odificações ambientais com a altera ção do meio fís ic o , b ió tic o , social, eco n ôm ico e cu ltu ra l das áreas afetadas. Em bora em m enor escala, no caso brasi leiro, as instalações de usinas te rm e lé tri cas in tro d u ze m , tam bém , m odificações no m eio-am biente. Por o u tro lado, os sistemas elétricos são influenciados pelo m eio-am biente, sofrendo restrições, não só do am biente n atural, mas, tam bém , de quase todas as atividades econômicas desenvolvidas pelo hom em . O bjetivando m in im iz a r estes efeitos negativos, são necessários estudos e medidas de con
trole am biental e o aproveitam ento das áreas onde serão instalados os sistemas elétricos.
O Setor de Energia Elétrica, cons ciente dos benefícios, inclusive os de uso m ú ltip lo , e das m odificações in tro duzidas no meio-ambiente, pela cons trução de sistemas elétricos, desenvol veu um "M anual de Estudos dos E fe i tos A m bientais dos Sistemas E lé trico s", apresentando um co n ju n to de p rocedi mentos e estudos que devem acompa nhar todas as etapas que visem a im plan tação dos sistemas elétricos, desde o pla nejam ento até a sua operação, de modo a estabelecer diretrizes que possam con c ilia r o desenvolvim ento econôm ico e social e a conservação dos recursos na turais.
Neste sentido, será necessária que a intervenção que se pretende no meio- am biente com a construção de sistemas elétricos seja criteriosa, de m odo a m i nim izar os im pactos previstos. Atenção deve ser dada tam bém aos efeitos am bientais nas instalações projetadas, de m odo a se lhes prover a m aior vida ú til possível. O pro je to de sistemas e lé tri cos deve ser precedido de estudos am bientais que perm itam avaliar o im pac to causado. Estes estudos im plicam em planos de levantam ento am biental da área afetada e na adoção, nos projetos de engenharia, de medidas que m in i mizem os efeitos causados nas instala ções.
Todas essas questões, sem dúvida al guma, se con stitu irã o em grandes temas para a década de 80, havendo, p o rta n to ,
a necessidade de incorporar o enfoque
energético-am biental na m etodologia de planejam ento de sistemas elétricos.
Recursos Hídricos e Aproveitamen tos H idrelétricos
A té a presente data, a m aioria das barragens existentes e em construção, foram projetadas com vistas a atender um único o b je tivo ou, no m áxim o, con siderar de form a com pletam entar outras finalidades, tais com o, abastecimento de água, c o n tro le de cheias, irrigação ou re gularização de vazões.
Em decorrência do grau de in d u stria lização, urbanização e agricultura in te n siva, atingida pelo país, paralelamente ao descontrolado aproveitam ento das águas, estão sendo desencadeados cres centes c o n flito s de interesses e que te n dem, inclusive, a com prom eter o desen vo lvim e n to econôm ico e social, uma vez que tornar-se-ão escassos os recursos
h íd rico s necessários para atender aos re quisitos de quantidade e qualidade da água, o que torna evidente a necessida de de aproveitam ento de recursos h íd r i cos, considerando-se os usos m últiplos.
O C om itê Especial de Bacias H id ro gráficas, in s titu íd o sob a inspiração dos bons resultados alcançados com a gestão dos recursos h ídricos da Região M etro politana de São Paulo, deverá p ro p o rc io nar os meios necessários para que seja aprim orado o gerenciamento dos recur sos hídricos das bacias hidrográficas bra sileiras. Como conseqüência, haverá ne cessidade de se incorporar, no planeja mento de aproveitam entos hidrelétricos, o enfoque de usos m ú ltip lo s , inclusive os critérios de repartição dos benefícios e custos dos reservatórios entre os d ife rentes usuários da água.
Um aspecto que deverá merecer, tam bém, uma atenção especial, se refere a crité rio s de avaliação de terras a serem inundadas pelos reservatórios, pois, do po n to de vista econôm ico e social mais am plo, essas terras deverão ser avaliadas em função das suas potencialidades eco nômicas.
Estes fatores levarão a uma tendência de se situar o planejamento da expan são da geração de energia elétrica de fo n te hidráulica num c o n te x to , não so mente setorial, porém , fu n d a m e n ta l mente regional, analisando-se os apro veitam entos com o ações den tro de um quadro de prom oção econômica e social consideravelmente mais am plo que o atual.
Sistema Política mais Aberto
No c o n te x to de uma sociedade p o liti camente mais aberta, caberá ao Setor Elétrico reformular suas atitudes e pro cedim entos, em relação à participação mais ampla da sociedade no processo de planejam ento. Nessa perspectiva, é ine vitável uma politização crescente do processo de planejam ento, caso esse pre tenda ser e fe tivo a nível dos processos decisórios.
O p rim e iro níve l de politização o co r re no p ró p rio â m b ito do S etor, entre E L E T R O B R Á S e empresas concessioná rias, reforçando fóruns pré-existentes, com o o GCPS, num papel de coordena d o r dos planejamentos de âm b ito s geo gráficos distintos.
Um segundo níve l de politização re fere-se às posturas das empresas com relação a grupos organizados, que ques tio n a m programas e projetos que ve nham , de alguma fo rm a , afetar a vida
das comunidades, quer em relação ao social, quer com respeito a possíveis danos aos ecosistemas.
Existe, ainda, um terceiro nível de politização, que poderá ocorrer em virtude do crescente envolvim ento dos empregados na gestão das empresas e no apoio o ficia l à p o lítica s de co-gestão.
Neste c o n te x to , os órgãos governa mentais e as empresas do Setor, terão que trilh a r o cam inho de fazer do pla nejam ento dos sistemas elétricos uma atividade mais aberta. Os planos e gran des projetos deverão ser comunicados, em suas grandes linhas, aos setores po lític o s , empresariais e da com unidade, num processo que se mostrará não so mente necessário mas desejável.
As entidades do S etor, em seus d i versos níveis, sentirão, p o rta n to , a ne cessidade de se estru tu ra r para este no vo tip o de inter-relacionam ento com a sociedade. Precisarão fo rm u la r p o líti cas e estratégias para lidar com as situa ções que surgirão. A o mesmo tem po, deverão se preparar funcionalm ente, d e n tro dos seus organogramas, com o ob je tivo de atuar de maneira eficaz neste sensível campo em que se fará crescente a influência da sociedade sobre o fu tu ro do setor.
4. Conclusões
Numa apreciação global, a m e to d o logia de planejam ento do Setor E lé tri co vem respondendo às necessidades do Setor. A níve l do seu conteúdo técnico, a m etodologia progrediu em áreas es pecializadas, com pativelm ente com o que de m elhor se produz a níve l interna cional, embora permaneçam e xistindo desafios para o desenvolvim ento pleno de uma metodologia adequada a>todos os aspectos da realidade nacional.
As razões básicas para o que se apon ta prendem-se à pró p ria história e evo lução do S etor E lé trico no Brasil, que, apenas m u ito recentemente, crio u con dições de uma continuidade de fu n c io nam ento das atividades de planejamen to . É im p o rta n te ressaltar que, para um Setor saudável tecnicam ente e, tam bém , no plano econôm ico e financeiro, é fu n damental a manutenção de quadros téc nicos m otivados e engajados na criação de métodos nacionais, não só na área do planejam ento, com o, tam bém , em suas outras especialidades.
As principais recomendações e p ro posições que, em linhas gerais, vem sen d o sugeridas, no â m b ito do Setor Elé tric o , fo ra m agrupadas segundo a sua
natureza e estão indicadas nos itens seguintes.
Processo de Planejamento
A prim eira qualidade do processo de planejamento deve ser o seu senso de oportunidade. Os produtos demandados pelos centros decisórios devem estar dis poníveis a tem po de poder subsidiar as decisões e não, com o tantas vezes no passado, para se preparar planos e rela tó rio s ju stifica n d o decisões já tomadas. Para isso, é fundam ental que o p rim eiro sentido prospectivo a se desenvolver se ja o das decisões estratégicas. Talvez a nossa história fosse o u tra , caso o plane jam ento tivesse m elhor estudado e d iv u l gado, ju n to aos setores competentes, as suntos com o o papel das usinas nuclea res, a avaliação do inventário hidroelé tric o do País, a viabilidade da transmis são a longa distância, etc.
O u tro p o n to im p o rta n te , a nível de processo, é a clareza dos docum entos de planejam ento. Nesse aspecto, o fu tu ro será ainda bem mais exigente, já que, no passado, os docum entos eram unicam en te voltados para uso in te rn o ao Setor. Pretendendo a tin g ir, doravante, os cen tros efetivos de tom ada de decisão, o planejam ento será obrigado a uma clara comunicação e justificação de suas p ro posições a públicos não especializados e aos segmentos da classe p o lític a que, inevitavelm ente, se d ividirão entre o apoio e a contestação das suas proposi ções. A títu lo de exem plo, acredita-se que a viabilização de novos aproveita mentos hid re lé trico s na Região Sul so mente se to rn a rá efetiva após intensas discussões, a níve l de comunidades afe tadas e mesmo do grande público, que deverá receber um aporte claro e preci so sobre a necessidade do proposto pe lo planejam ento.
Por fim , o processo deverá prosseguir na tendência p articipativa já posta em prática, o que fará da E LE T R O B R Á S uma coordenadora do planejam ento dos diferentes agentes internos ao Setor e uma interm ediadora deste com o u tro s se tores de governo. Os planos fe ito s cen- tralizadam ente e de responsabilidade ú n i ca de uma entidade (ainda que consul tadas outras) deverão ceder lugar a d o cum entos elaborados segundo proces sos mais representativos. É de se lem brar que este fa to , certam ente, in tro duzirá uma m aior lentidão no proces so a ser compensado por uma m enor necessidade de revisões e pela id e n ti ficação mais cedo da o p ortunidade de
elaboração de cada um dos produtos específicos, de fo rm a a se dispor do tem po necessário para o seu desenvol vim ento.
A m p litu d e do Planejamento
0 escopo clássico do planejam ento da expansão do Setor E lé trico esteve voltado à busca das soluçõés ótim as pe lo lado da programação das instalações de suprim ento, p o rta n to , pela o tim iz a ção da oferta. Parece não restar dúvida, hoje em dia, que a prim eira variável a ser trabalhada adequadamente e, com base num aprofundam ento do conhe cim ento da própria visão econômica do consumo de energia elétrica, seja o mercado.
Possibilidades significativas, a nível de conservação de energia, poderão per m itir ao Setor superar o pe río d o mais c rític o de ajustam ento financeiro que se antevê. Por o u tro lado, a consideração de mercados, independente do nível de preço do energético, não mais se m ostrará adequada, face inclusive ao atual estágio já atingido na cobertura h o rizo n ta l dos serviços de eletricidade.
Na área de planejamento da o fe rta , deverão ocorrer algumas alterações nas m etodologias, devido à necessidade de incorporar a variável am biental, bem como o enfoque do aproveitam ento de recursos h íd rico s, com finalidades m ú l tiplas.
C onteúdo Social
Alguns aspectos merecem ser
consi
derado s, para que ven h a m a in fle n c ia r
a m etodologia de planejamento.
Já se"mencionou, ao longo do te x to , que a metodologia de planejamento da expansão, sempre procu ro u a o tim iz a ção de um processo de crescimento de um parque de instalações de suprim en to , visado sempre sob a ótica de um crescimento tentacular. A esta lógica de ve-se co n tra p o r o u tra , que pode ser de nom inada abordagem geográfica. Consi- derando-se a necessidade, em decorrên cia de uma p o lític a de desenvolvim ento regional, de se prover energia elétrica à população, a programação de expansão do Setor olhará, não só a expansão de li nhas e de mercados interligados, mas to dos os vazios ainda não atendidos, para os quais se im porão técnicas especiais de suprim ento. Recentemente, a E L E T R O BRÁS, em c o n ju n to com diversas e n tid a des, preparou um manual de seleção en tre alternativas de sup rim e n to para
sis-temas isolados, docum ento que vem preencher uma lacuna no que diz res peito ao equacionam ento do suprimen to aos sistemas isolados do Norte e Cen- tro-Oeste brasileiro.
O u tro aspecto a ser in tro d u zid o na m etodologia é o côm puto dos diversos custos sociais, decorrentes da im planta ção das instalações de suprim ento. São bem conhecidos os questionamentos dos ecologistas mais voltados à proteção ab soluta da natureza. A o lado destes, a n íve l até mesmo do in te rio r das áreas urbanas, são m ú ltip lo s os custos sociais in co rrido s pela população, via deteriora ção das condições de vida, dim inuição dos valores das propriedades vizinhas à instalações de suprim ento, perturbação do fu ncionam ento das atividades urba nas ao longo de períodos de construção, aum ento de riscos nas vizinhanças de instalações de suprim ento (não só nas usinas nucleares), etc., custos estes, deci didam ente, jamais com putados na sele ção econômica entre alternativas.
A nível do conteúdo social do plane jam ento, não se poderá abstrair de aná lises mais profundas de fenôm enos de consumo de energia elétrica à luz das form as de vida, hábitos de consum o e m odificação das condições culturais v i gentes na sociedade. O Brasil representa um caso m u ito com plexo, pelas d ic o to mias que apresenta entre os diferentes segmentos sociais e econôm icos: socie dade economicamente m odernizada, versus sociedade arcaica; concentrações de riqueza, versus grandes bolsões de po breza; penetração in d is tin ta dos meios de com unicação de massa hoje e, no fu tu ro , talvez, da in fo rm á tica apliçada. Os estudos de balizam ento da demanda fu tu ra de energia elétrica passaram ao largo deste tip o de problem ática, pois, quase sempre, se caracterizaram pela ex trapolação das tendências do passado. 0 que ora se questiona é, até que p o n to a prática deste tip o de planejam ento aca ba ajudando a manutenção do status quo, retirando qualquer com ponente " n o rm a tiv o " do planejam ento. Real çamos, p o rta n to , no m om ento, a neces sidade de se considerar, antecipadamen te âs form ulações de programas especí ficos por parte do Governo, que m udan ças básicas em alguns parâmetros pode rão decorrer de imposições de ordem social, citando-se, com o exem plo, a re dução do níve l de apropriação da pou pança nacional para aplicação no Setor E lé trico , face outras prioridades.
Conteúdo Econômico
O aspecto mais premente, a nível me to d o ló g ico neste setor, se prende à ne cessidade do equacionam ento da itera ção, que se prenuncia inevitável, entre o programa requerido pelo mercado, a constatação de um quadro insuficiente de recursos para atendê-lo e o desenvol vim ento de um programa alternativo, com patível com os recursos. Esse p ro cesso, sem dúvida, se repetirá algumas ve zes, até uma m elhor aferição dos in stru mentos de planejamento e, a cada m o m ento, a caracterização de quem não será atendido a contento, será d e te rm i nante para a form ulação dos planos. T o da a m etodologia de custo-benefício, aplicada ao Setor E létrico (inclusive com os seus custos sociais, conform e já referidos), deverá se torn a r operacional e de rápida manipulação. A o m ín im o econôm ico se acrescentará, p o rta n to , a im posição m etodológica dos programas de expansão que se referirem à m a x im i zação do b e n e fício social.
C onteúdo Tecnológico
A o longo do histórico do planeja m ento, observa-se que o horizonte do seu alcance dilata-se progressivamente. A esta dilatação, deve corresponder um tra ta m e n to diferenciado dos com ponen tes tecnológicos e de engenharia, passan do a considerar as perspectivas de desen vo lvim e n to tecnológico esperados e, tam bém , a possível variação dos custos unitários das diferentes soluções té cn i cas de suprim ento.
Este fa to transform a o planejamento. Este, se po r um lado já passava a in c o r porar toda uma investigação sobre fu tu ros possíveis, à luz de mudanças nas re lações econômicas e sociais estabeleci das no passado, deverá, tam bém , consi derar a im p o rta n te variável tecnologia, principalm ente no segmento de longo prazo.
Os métodos de avaliação de te cn o lo gias, em fase inicial de desenvolvimento hoje, tendo em vista a sua utilização d e n tro de 20 anos no Setor, são q u a lita tivam ente diferentes a tu d o o que se tem trabalhado habitualm ente, deman dando quadro de pessoal com form ação c ie n tífic a e tecnológica diferente.
Cabe, ainda, com plem entarm ente, ao Setor E lé trico , na sua área de com petên cia, p ro d u zir e suportar uma p o lític a c ie n tífic a de pesquisa e tecnologia, que assegure uma adequada com petência na cional nesta área vital para o desenvolvi m ento.
Inserção no Processo de Planejamen to a N ível Global
Os dois níveis naturais de inserção a considerar, dentro da sistemática de pla nejam ento governamental vigente, c o r respondem ao planejamento do Setor Energético de responsabilidade do MME, e o planejamento global m acroeconôm i co, de responsabilidade da SEPLAN.
Nos últim os anos, o planejam ento sé- to ria l trabalhou predom inantem ente com cenários norm ativos, d e fin in d o metas a atingir (de auto-suficiência ener gética, de número de barris de petróleo a substituir por energia elétrica, de quantidade de carvão ou de petróleo a p ro d u zir, etc.) e induzindo os dife re n tes setores à realização de programas com patíveis com essas metas (embora, sem que os meios para tal pudessem se considerar assegurados).
Na medida em que forem desenvolvi dos os estudos das potencialidades dos novos usos finais de eletricidade, vis-à- vis outros energéticos, com a tradução desta potencialidade em requisitos de. energia elétrica e a inclusão destes re quisitos no planejam ento da expansão dos sistemas elétricos, o processo de verá ser ite ra tivo entre o planejamen to do Setor E létrico e o do Setor Ener gético.
O planejam ento m acroeconôm ico fo i m u ito esvaziado em relação ao seu p ró p rio passado no país, em benefício de uma visão mais controladora do po n to de vista contábil-financeiro. Embora se possa esperar que, no c u rto prazo, com a unificação dos orçam entos na escala federal, a tendência não se inverta, acre dita-se que o planejam ento, a nível ma cro, vo lte , em poucos anos, à merecida valorização.
Pode-se antever então que, a ambos os níveis, im portantes reestruturações deverão ocorrer, inclusive avultando a necessidade de uma certa convergência entre ambos (macro e setorial) com o planejam ento da expansão do Setor E lé trico , se am oldando à nova c o n fi guração in stitu cio n a l para as atividades de planejam ento.
B IB L IO G R A F IA
1. Docum entos de Planejamento da E LE TR O - BR A S: C A N A M B R A 1966, Power Mar ket S tu d y and Forecast 1969, Revisão do Balanço Energético 1972, Plano 90,
A GESTÃO DO SETOR.
Plano E N E N O R TE , Plano 95, C onjun to de Projetos Especiais da ELETRO - BRÁS, 1979, Plano 2000, Plano de E x pansão Correspondente ao Programa de Recuperação Financeira do Setor Elé tr ic o 1985.
2. Docum entos de Planejamento do GCPS — G rupo Coordenador de Planejamento do Sistema E lé trico, especialmente o B oletim de Planejamento.
3. M etodologia de Planejamento do Sistema E lé trico — Trabalho apresentado ao SP ISE-BR ACIER 1985 — José Luiz Al- queres e outros.
4. Planejamento do S e to r E lé trico — C onjun to de artigos apresentados nos Boletins de 1984 e 1985 da ABCE — Associação Brasileira de Concessionáriasde Energia E létrica e de autoria de A n tô n io Carlos T a tit H oltz.
A administração unificada das
empresas de energia do Estado
de São Paulo
JOSÉ GOLDEMBERG
R eitor da Universidade de São Paulo. Bacha rel em Ciências pela USP e pòs-graduado pela Universidade de Saskatcewan, Canadá. Foi presidente da CESP, CPFL, E L E T R O P A U L O e COMGÁS.
O
Governo do Estado de São Paulo detém o controle acio nário de q u a tro empresas de energia. Destas, três são de energia elétrica: a CESP — Companhia Energética de São Paulo; a CPF L — Com panhia Paulista de Força e L u z e a E LE T R O P A U L O - E letricidadedeS ão Paulo S /A . — e uma de gás, a COMGÁS — Companhia de Gás de São Paulo. Esta ú ltim a passou ao controle da CESP em novembro de 1984. A té então, era uma empresa do m u n ic íp io de São Paulo.A lém dessas três empresas de energia elétrica, atuam ainda em São Paulo dez outras, de pequeno p orte, pertencentes à iniciativa privada. No entanto, cabem àquelas a responsabilidade pelo a te n d i m ento de 95% dos consumidores paulis tas, que, p or sua vez, consomem 97% da energia elétrica utilizada no Estado de São Paulo, conform e mostra a tabela.
A inda com a intenção de m ostrar ò tam anho e a im portância das empresas de energia elétrica do Governo d o Esta do de São Paulo, gostaríamos de com pa rar a potência instalada e a produção da CESP (empresa geradora, supridora e fornecedora) com os valores do Brasil com o um to d o .
Em 1984, a capacidade geradora ins talada da CESP, toda ela hidráulica, era de 8.468 MW (outros 4.031 MW esta vam em construção), valor que repre sentava, na ocasião, p erto de 24% da po tência de geração hidráulica instalada no Brasil (ou 20% do to ta l brasileiro, quando se considera em c o n ju n to a h i dráulica mais a térm ica).
Naquele ano, a produção da CESP to talizou 4 3 ,3 TW h (43,3 bilhões de KW h), valor que representou cerca de 25% de to d a energia elétrica p ro d u z id a n o Brasil.
Desde março de 1983, as empresas de energia elétrica passaram a ter A d m in is tração U nificada, ou seja, um só Presi dente e um só Conselho de A d m in is tra
ção para todas elas. Hoje, entre elas está in c lu íd a a COMGÁS.
Por que uma A dm inistração Unificada? Por que não uma Secretaria de Estado? Por que não uma empresa " h o ld in g ", nos moldes da ELETR O B R Á S ? ou, ain da, por que não fusioná-las? Estas e m ui tas outras interrogações fo ra m colocadas às equipes que, neste campo, assessora vam o candidato eleito para governar São Paulo. Todas as possibilidades foram es estudadas com o m áxim o de cuidado.
A proposta escolhida fo i a da A d m i nistração U nificada e com ela pôde o Governo assegurar unidade de comando a to d o o com plexo energético do Esta do, concedendo, inclusive, o status de Secretário de Estado ao Presidente das empresas. Com isso, as trés empresas passaram a trabalhar de maneira integra da, inclusive no que d iz respeito à o t i mização dos recursos disponíveis, man tidas as características próprias de cada uma e sempre visando ao o b je tivo co mum e p rio ritá rio que é atender, o mais eficazmente possível, aos interesses do povo paulista.
A manutenção das características próprias de cada uma das empresas to r nou-se extrem am ente im p o rta n te , pois na fo rm a de agir, a experiência vem sendo acumulada, com o no caso da CPFL e da E L E T R O P A U L O , p o r perfo- d o superior a sete décadas.
Logo no in íc io do G overno M o n to ro, fo i criado o Conselho Estadual de Ener gia, integrado po r representantes do Go verno, do empresariado, das Universida des e dos trabalhadores, com a funçSo precípua de traçar a p o lític a energética global no Estado de São Paulo.
Os problemas iniciais
De in íc io , a A dm inistração U nificada encontrou uma série de d ificuldades de correntes da c o n ju n tu ra adversa que atingia toda a econom ia brasileira: uma fo rte recessão unida a uma alta taxa de inflação, que in fe lizm e n te ainda perm a nece; um endividam ento e x te rn o , cu jo m ontante atingia índices insustentáveis e, ainda, a redução da atividade indus tria l, que tro u x e ao setor e lé trico , em particu la r para as empresas de São Pau lo, conseqüências de duas ordens: a que da acentuada das taxas de crescim ento