Controladoria-Geral da União
Revista da CGU
Brasília, DF
Dezembro /2009
CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO – CGU SAS, Quadra 01, Bloco A, Edifício Darcy Ribeiro
70070-905 - Brasília /DF cgu@cgu.gov.br
Jorge Hage Sobrinho
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União
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Secretário-Executivo da Controladoria-Geral da União
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Secretário Federal de Controle Interno
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Ouvidora-Geral da União
Marcelo Neves da Rocha
Corregedor-Geral da União
Marcelo Stopanovski Ribeiro
Secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas A Revista da CGU é editada pela Controladoria-Geral da União. Tiragem: 1.500 exemplares
Periodicidade: semestral Distribuição gratuita
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Revista da CGU / Presidência da República, Controladoria-Geral da União. - Ano IV, n.º 7, Dezembro/2009. Brasília: CGU, 2009. 136 p. Coletânea de artigos.
1. Prevenção da corrupção. I. Controladoria-Geral da União. ISSN 1981- 674X
S
umário
Nota do editor ...5
Artigos
Recebimento de obras e serviços de engenharia ...8
Marcelo Neves
Falácias da corrupção e percepção da corrupção
no Programa Bolsa Família: o caso do Paraná ...18
Fabiano Mourão Vieira
Improbidade administrativa por enriquecimento ilícito:
o problema da inversão do ônus da prova ...39
Leonardo Valles Bento
Prescrição disciplinar: breves considerações
acerca da prescrição disciplinar à luz da lei nº 8.112/90 ...50
Salmon Carvalho de Souza
Gerência de empresas privadas por servidores
públicos federais: breves comentários sobre os
modelos brasileiro e norte-americano ...61
Visão geral das agências norte-americanas contra
a corrupção numa análise comparativa com a
Controladoria-Geral da União ...79
Alzira Ester Angeli
Reflexões sobre o combate à corrupção no Brasil e nos EUA ....96
Wagner Rosa da Silva
Legislação
Atos normativos ...108
Legislação em destaque ...112
Jurisprudência
Julgados recentes do TCU – Acórdãos ...124
Julgados recentes de Tribunais ...128
8 Revista da CGU 8 Revista da CGU
Recebimento de obras
e serviços de engenharia
Marcelo Neves, Bacharel em Direito pela UNIRIO, engenheiro de produção
pela UFRJ, pós-graduado em Administração Pública pela FGV, assessor jurídico da Presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região.
1. Introdução
Diz a sabedoria popular que sim-plicidade e beleza andam sempre de mãos dadas, o que pode ser atesta-do pela observação de uma mera gota de orvalho, ou, para guardar maior coerência temática, pela curva livre e sensual sempre presente nos trabalhos de Oscar Niemeyer.
Ocorre que na vida, assim como no estudo do Direito, defrontamo-nos amiúde com situações que com-portam complexidade, e destilam, pa-radoxalmente, a beleza do desafio da superação e do engrandecimento.
O estudo a ser apresentado neste trabalho aborda uma questão que toca dispositivos pouco tratados na Lei de Licitações e Contratos, mas de relativa complexidade, que, como buscaremos demonstrar, foi enfrtada com a alma sintonizada no en-sinamento de Rui Barbosa, para quem “o saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, princi-palmente, nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvi-dos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assi-mila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas trans-formador reflexivo de aquisições digeridas”.1
Assim, no desenvolvimento diário do meu trabalho na área de Licitações e Contratos Administrativos, realiza-do com os pés fincarealiza-dos no conheci-mento e experiência granjeada ao longo de mais de quinze anos, elegi a fase do recebimento de obras e
1. Oração aos moços – fragmento do discurso proferido na Faculdade de Direito de São Paulo, 1920. Editado em livro, 1921.
Ocorre que na vida, assim
como no estudo do
Direito, defrontamo-nos
amiúde com situações
que comportam
complexidade, e destilam,
paradoxalmente, a beleza
do desafio da superação
9 Revista da CGU 9 Revista da CGU
serviços de engenharia como ponto de controle, e acabei por constatar que as respectivas cláusulas editalí-cias – regra geral, mera repetição do teor do art. 73 da Lei nº 8.666/93 – geravam dificuldade para o regular processamento do contrato e ocasio-navam até mesmo, muitas vezes, a inviabilidade de aplicação de sanções administrativas às empresas descum-pridoras dos prazos previstos para a realização dos objetos contratuais, principalmente ante a falta de uma circunstanciada previsão dessa etapa final da execução contratual.
Por ser a etapa do recebimento de obras e serviços de engenharia um momento crucial para o sucesso da contratação, as Cortes de Contas de todo o país vêm dando especial des-taque ao controle dessa fase, como bem representa a recentíssima deci-são, prolatada em 08.04.2009, sob a relatoria do Ministro Marcos Vinicios Vilaça, na qual o Colendo Tribunal de Contas da União, em análise da Tomada de Contas Anual do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, fez a seguinte determina-ção no Acórdão nº 657/2009 – TCU – Plenário, vejamos:
“9.3.4. apenas receba provisoria-mente as obras e os serviços con-tratados mediante termo circuns-tanciado, assinado pelas partes em até 15 dias da comunicação escrita do contratado, nos ter-mos do art. 73, inciso I, alínea “a”, da Lei de Licitações e Contratos;
9.3.5. receba definitivamente as obras e os serviços contratados mediante termo circunstanciado,
assinado pelas partes, somente após o decurso do prazo de ob-servação, ou vistoria que com-prove a adequação do objeto aos termos contratuais, nos termos do art. 73, inciso I, alínea “b”, do Estatuto Licitatório;”
2. Do recebimento provisório e definitivo
Pois bem, superada essa sumária apresentação do tema, devo lembrar que o artigo 73 da Lei nº 8666/93 torna clara a existência de duas fases bem distintas no recebimento, quais sejam o recebimento provisório e o definitivo de obras e serviços de en-genharia. Isso é o que podemos constatar pela redação do citado dis-positivo, vejamos:
“Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será recebido: I – em se tratando de obras e serviços: a) pro-visoriamente, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, mediante termo circunstanciado, as-sinado pelas partes em até 15 (quin-ze) dias da comunicação escrita do contratado; b) definitivamente, por servidor ou comissão designada pela autoridade competente, mediante termo circunstanciado, assinado pe-las partes, após o decurso do prazo de observação, ou vistoria que com-prove a adequação do objeto aos termos contratuais, observado o dis-posto no art. 69 desta Lei;”
De outro lado, o inciso III do arti-go 74 da mesma Lei de Licitações, ao facultar, em algumas circunstâncias, a realização do recebimento
provisó-10 Revista da CGU Revista da CGU
rio, já sinaliza para o Administrador a necessidade de avaliação do risco e da oportunidade da previsão ou não de maiores e melhores prescri-ções sobre o recebimento nos docu-mentos licitatórios, bem como apon-ta para a existência de obras e serviços de engenharia com tipo dual de recebimento.
Como podemos constatar pela leitura da Lei de Licitações e Contratos, para cobrir a etapa de re-cebimento de obras e serviços de engenharia foram dedicados, em verdade, três artigos que englobam apenas oito disposições2, o que
pa-rece ser muito pouco, quando, por exemplo, no Direito Comparado, o recente Código de Contratos Públicos do ordenamento jurídico português – Decreto-Lei nº 18/2008 – em vigor desde 29 de julho de 2008, estabe-lece mais de trinta disposições so-mente para o recebimento de obras (SECÇÃO IX – RECEPÇÃO PROVISÓRIA E DEFINITIVA: Artigo 394.º Vistoria; Artigo 395.º Auto de recepção pro-visória; Artigo 396.º Defeitos da obra; Artigo 397.º Garantia da obra; Artigo 398.º Recepção definitiva.)
3. Recebimento como ato simples ou complexo
A dualidade do recebimento de obras e serviços de engenharia está correlacionada diretamente à maior
2. Aí incluídos: as alíneas “a” e “b” do inciso I do art. 73; os parágrafos segundo, terceiro e quarto também do art. 73; o parágrafo único e o inciso III do art. 74; e, finalmente, o art. 76.
ou menor materialidade3 da avença,
ou seja, obras e serviços de valores até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), desde que não se componham de aparelhos, equipamentos e instala-ções sujeitas à verificação de funciona-mento e produtividade, correspondem a atos de recebimento simples, en-globando tão somente a etapa relativa ao recebimento definitivo.
De outro giro, a obra ou o serviço com preço acima do indigitado valor, ou mesmo abaixo, mas composta de aparelhos, equipamentos e instalações sujeitas à verificação de funcionamen-to e produtividade, consubstanciam um recebimento caracterizado como um ato complexo, isto é,
recebimen-to complexo, abarcando tanrecebimen-to as
fases de recebimento provisório como a do definitivo.
Consoante o escólio do memorá-vel professor Hely Lopes Meirelles, ato simples é o que resulta da mani-festação de vontade de um único órgão, unipessoal ou colegiado, ma-nifestação essa que no caso do rece-bimento simples, conforme teor da alínea ”b” do inciso I do artigo 73 da Lei de Licitações, é realizada por ser-vidor ou comissão designada pela autoridade competente. Já o ato complexo – resultante da conjuga-ção da manifestaconjuga-ção de vontade de mais de um órgão –, quando com-preendido na realidade de um rece-bimento complexo, espelha a vonta-de do fiscal do contrato conjugada com a do servidor ou comissão de-signada pela autoridade
competen-3. Traduz o montante de recursos financeiros alo-cados para a realização da obra ou para prestação do serviço de engenharia.
11 Revista da CGU Revista da CGU
te, na forma das alíneas “a” e “b” do inciso I do artigo 73 da Lei nº 8.666/93.
4. Do procedimento de recebimento
O fato é que, tanto para o recebi-mento simples (com dispensa do Recebimento Provisório) como para o complexo, o término das obras e dos serviços deve ser caracterizado pela comunicação escrita da contra-tada ao órgão, que deve ser feita dentro do prazo de execução contra-tual fixado no instrumento convoca-tório ou respectivos anexos (alínea “a” do inciso I do artigo 73 da Lei nº 8.666/93). Se a comunicação não vier a ser feita nesse prazo, a contra-tada incorre automaticamente em mora, sendo, pois, cabíveis as pena-lidades administrativas.
Após a comunicação de término dos serviços, a fiscalização deve rea-lizar a vistoria4 no local da obra ou
serviço e emitir: a) no caso de rece-bimento complexo, o Termo de
Recebimento Provisório em até
15 (quinze) dias da data da referida comunicação – assinado por ambas as partes contratantes – que pode vir a consignar ou não pendências em relação à execução do objeto; b) no recebimento simples, Recibo
(pará-4. Obviamente, caso seja constatado pela fiscali-zação nessa vistoria que a contratada não finalizou a execução do objeto, ou seja, existam parcelas da obra ainda não adimplidas, o Termo de Recebimento Provisório não será emitido, consid-erando-se, assim, a comunicação do término dos serviços como não realizada, reputando-se em mora a contratada, sendo cabível a aplicação das penalidades administrativas.
grafo único do artigo 74 da Lei nº 8.666/93) em até 40 dias da data da referida comunicação, lapso tempo-ral limite bastante razoável5 quero
crer, que poderá englobar um prazo para correção de eventuais pendên-cias pela contratada, na forma do que previsto pelo artigo 69 da Lei nº 8.666/93, com, obviamente, neces-sidade de realização de nova vistoria por parte da fiscalização para a veri-ficação da correção das pendências, sendo que no caso de não atendi-mento das ressalvas, a contratada incorre em mora a partir da data da segunda vistoria.
Se o Termo de Recebimento Provisório consignar pendências em relação à obra ou serviço, deve ser fixado pela fiscalização, no próprio Termo, prazo razoável para os repa-ros, correções, remoções, reconstru-ções ou substituireconstru-ções relativas ao objeto do contrato (art. 69 da Lei nº 8.666/93), limitado, em regra, a 30 (trinta) dias.
Concluídos os trabalhos pela con-tratada dentro do prazo fixado, deve ser emitida nova comunicação escri-ta à fiscalização para uma segunda vistoria.
Uma vez constatada a regulariza-ção das pendências apontadas, a fiscalização emite, então, comunica-do interno, em até 5 (cinco)6 dias
5. Esse prazo não foi previsto pela Lei nº 8.666/93, e é aqui sugerido com base na lógica do razoáv-el.
6. Esse prazo está calcado no art. 24 da Lei nº 9.784/99, que assim dispõe: “Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autori-dade responsável pelo processo e dos admi
nistra-12 Revista da CGU
contados da comunicação da con-tratada, para que sejam efetivadas as providências com vistas ao recebi-mento definitivo. Caso as pendências não tenham sido sanadas, a contra-tada passa a incorrer em mora a par-tir da data da segunda vistoria.
A partir da comunicação interna do fiscal ou do Termo de Recebimento Provisório (na hipótese deste não consignar pendências), deve-se fixar no edital um período, que sugiro en-tre 10 (dez) e 30 (trinta) dias, confor-me a vultuosidade ou complexidade da obra, para observação7 do
funcio-namento dos equipamentos e insta-lações. Após esse prazo será conclu-ída a vistoria para fins de recebimento definitivo por servidor ou comissão designada previamente pela autoridade competente (alínea “b” do inciso I do artigo 73 da Lei nº 8.666/93). Se novas pendências fo-rem detectadas, deve ser concedido novo prazo para adequação, em re-gra de até 15 (quinze) dias, não im-portando em penalização da contra-tada.
Finalmente, verificado o sanea-mento de todas as pendências em vistoria final, realizada após uma úl-tima comunicação escrita da contra-tada, será emitido o Termo de Recebimento Definitivo da obra ou
dos que dele participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior.”
7. O Tribunal de Contas da União, por meio do Acórdão nº 2.875/2005 – 1ª Câmara – determinou ao Ministério da Fazenda que incluísse em todos os contratos referentes a obras, cláusula estabele-cendo os prazos de observação e de seu recebi-mento definitivo, conforme inciso IV do art. 55 da Lei nº 8.666/93.
serviço em até 10 (dez) dias conta-dos daquela comunicação, de modo que o período entre a emissão dos Termos de Recebimento Provisório e Definitivo não ultrapasse os 90 (no-venta) dias previstos pelo § 3º do artigo 73 da Lei nº 8.666/93, salvo excepcionalidades devidamente justifi-cadas e conforme previsão no edital.
5. Recebimento como etapa final da liquidação da
despesa
Somente após o recebimento de-finitivo deverá ser providenciado o pagamento do saldo existente em relação ao valor contratual e liberada a garantia (§ 4º do artigo 56 da Lei nº 8.666/93). A vigência dessa ga-rantia, portanto, no caso de utiliza-ção da modalidade seguro-garantia, deverá estender-se até o recebimen-to definitivo da obra.
6. Recebimento como cláusula contratual ou editalícia
Tudo o que foi até aqui abordado em relação ao recebimento de obras e serviços de engenharia, encontra-se consubstanciado em cláusulas editalícias padrão hoje empregadas no TRT/RJ, fruto do trabalho de uma equipe multidisciplinar da qual tive-mos a oportunidade de participar, que teve por escopo a padronização dos procedimentos de recebimento8
para torná-los mais seguros e
orde-8. Recebimento de obras – Processo nº TRT – SCI 009/06 do TRT/RJ.
13 Revista da CGU
nados. Essas cláusulas encontram-se previstas em dois modelos, que re-percutem o recebimento simples e complexo, vejamos:
RECEBIMENTO SIMPLES DE OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DE VALOR IGUAL OU INFERIOR A R$ 80.000,00, QUE NÃO SE COMPONHAM DE APARELHOS, EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES SUJEITOS À V E R I F I C A Ç Ã O D E F U N C I O N A M E N T O E PRODUTIVIDADE (ART. 74, III, LEI 8.666/93)
1.1 Medições
A CONTRATADA apresentará, na forma de Relatório, após o início efetivo da execução dos serviços, medição periódica dos serviços exe-cutados e dos materiais emprega-dos, para a Fiscalização da Contratante conferir, servindo o mesmo como fundamento da Nota Fiscal de cobrança, a ser emitida pela CONTRATADA a cada medi-ção. Serão efetuadas no máxi-mo... medições, já incluída a úl-tima que coincidirá com a emissão do RECIBO DO SERVIÇO.
Obs.: 1- As medições deverão
conter somente os materiais efetivamente empregados, ve-dado considerar materiais esto-cados no local para utilização futura;
2- A soma dos valores dos
paga-mentos das faturas emitidas até a última medição não poderá ser superior a 90% (noventa por cen-to) do valor global do contrato;
3- O saldo restante só poderá ser
liberado após a emissão do
RECIBO DEFINITIVO, consoante
subitem 1.2 a seguir, não poden-do seu valor ser inferior a 10% (dez por cento) do valor global do contrato.
1.2. Término e recebimento do serviço
a. Comunicação do término do serviço
Executado o serviço, estando o mesmo em condições de ser re-cebido, a CONTRATADA deverá comunicar à FISCALIZAÇÃO, por escrito e dentro do prazo contra-tual, a fim de que seja realizada VISTORIA para fins de Recebimento.
Obs.: A emissão da comunicação acima referida fora do prazo con-tratual caracterizará atraso, sujei-tando a Contratada às penalida-des cabíveis.
b. Recebimento
b.1 No prazo máximo de 10
(dez) dias contados após o
tér-mino do serviço, será efetuada VISTORIA pela FISCALIZAÇÃO, com vistas à emissão do RECIBO DEFINITIVO;
Obs.: Em caso de constatação
local da não finalização dos ser-viços e da existência de parcelas ainda não executadas/forneci-das, não será reconhecido efei-to à comunicação referida na alínea “a” (acima), o que impli-cará não recebimento do
servi-14 Revista da CGU
ço e na caracterização de atraso caso ultrapassado o prazo con-tratual.
b.2 Havendo indicações de
pen-dências, será concedido prazo, li-mitado a 20 (vinte) dias contados da VISTORIA, a fim de efetuarem-se as correções necessárias;
b.3 Sanadas as pendências, após
nova comunicação escrita da CONTRATADA, será efetuada VISTORIA FINAL e, verificada a perfeita adequação do serviço aos termos do presente Projeto Básico, será emitido o RECIBO DEFINITIVO, em até 10 (dez) dias após aquela comunicação. O não cumprimento do prazo a que se refere a alínea b.2 (acima) carac-terizará atraso.
NOTA: Após a emissão do
RECIBO DEFINITIVO, em conso-nância com as observações nos 2
e 3 do subitem 1.1 anterior, po-derá ser dado prosseguimento ao pagamento do saldo restante devido. RECEBIMENTO COMPLEXO DE OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA 1. 1. Medições A CONTRATADA apresentará, na forma de Relatório, após o iní-cio efetivo da execução dos viços, medição periódica dos ser-viços executados e dos materiais empregados, para a Fiscalização da Contratante conferir, servindo o mesmo como fundamento da
Nota Fiscal de cobrança, a ser emitida pela Contratada a cada medição. Serão efetuadas no
máximo.... medições, já
inclu-ída a última que coincidirá com a emissão do TERMO DE
RECEBIMENTO PROVISÓRIO (ver item 1.2.b).
Obs.: 1- As medições deverão
conter somente os materiais efe-tivamente empregados, vedado considerar materiais estocados no local para utilização futura;
2- A soma dos valores dos
paga-mentos das faturas emitidas até a última medição não poderá ser superior a 90% (noventa por cen-to) do valor global do contrato;
3- O saldo restante só poderá ser
liberado após a emissão do
TERMO DE RECEBIMENTO DEFINITIVO, consoante
subi-tem 1.2 a seguir, não podendo seu valor ser inferior a 10% (dez por cento) do valor global do contrato.
1.2 Término e recebimento do serviço
a. Comunicação do término do serviço
Executado o serviço, estando o mesmo em condições de ser re-cebido, a CONTRATADA deverá comunicar à FISCALIZAÇÃO, por escrito e dentro do prazo contra-tual, a fim de que seja realizada VISTORIA para fins de Recebimento Provisório.
Obs.: A emissão da comunicação acima referida fora do prazo
con-15 Revista da CGU
tratual caracterizará atraso, sujei-tando a Contratada às penalida-des cabíveis previstas em Contrato.
b. Recebimento provisório b.1 Constatada a condição de
conclusão do objeto através da VISTORIA, em até 15 (quinze) dias contados a partir do término do serviço, a FISCALIZAÇÃO emi-tirá o TERMO DE RECEBIMENTO PROVISÓRIO, o qual deverá ser circunstanciado e assinado por ambas as partes.
Obs.: Em caso de constatação
local da não finalização dos servi-ços e da existência de parcelas ain-da não executaain-das/forneciain-das, não será reconhecido efeito à comuni-cação referida na alínea “a” (aci-ma), o que implicará não emissão do TERMO DE RECEBIMENTO PROVISÓRIODO SERVIÇOe na ca-racterização de atraso caso ultra-passado o prazo contratual.
b.2 Se porventura, durante a
VISTORIA para o RECEBIMENTO PROVISÓRIO, a Fiscalização consta-tar algum defeito ou incorreção no serviço prestado, fará constar, junto ao TERMO DE RECEBIMENTO PROVISÓRIO DO SERVIÇO, lista de pendências concedendo-se prazo compatível, de até 30 (trinta) dias da data da emissão do Termo, para a Contratada, às suas expensas, reparar, corrigir, remover, recons-truir ou substituir, no total ou em parte, o objeto do Contrato, com vistas ao atendimento das exi-gências efetuadas.
b.3 Concluídos os trabalhos
rela-tivos às pendências listadas, a CONTRATADA efetuará, dentro do prazo fixado acima, por escri-to, comunicado à Fiscalização solicitando a realização de nova VISTORIA.
b.4 Constatada a conclusão das
pendências na nova VISTORIA, a FISCALIZAÇÃO emitirá comuni-cado interno, em até 5 (cinco) dias da comunicação da contra-tada, para que sejam efetuadas as providências com vistas ao RECEBIMENTO DEFINITIVO. OBS.: Se porventura, durante a NOVA VISTORIA, verificar-se que as pendências apontadas pela Fiscalização não foram sanadas, caracterizar-se-á atraso a partir daquela data.
c. Recebimento definitivo c.1 No prazo de 30 (trinta) dias contados a partir da
emis-são do Termo de Recebimento Provisório (se não houver pen-dências) ou da comunicação da FISCALIZAÇÃO referida na alínea
“b.4” (acima), será observado o
funcionamento/produtividade dos equipamentos e/ou instala-ções e finalizada VISTORIA por servidor ou comissão designada pela Administração, com vistas à emissão do TERMO DE RECEBIMENTO DEFINITIVO;
c.2 Havendo indicação de novas
pendências, será concedido pra-zo, limitado a 15 (quinze) dias contados da VISTORIA, a fim de
16 Revista da CGU 16 Revista da CGU
efetuarem-se as correções neces-sárias;
c.3 Sanadas as pendências, após
nova comun icação escrita da CONTRATADA, será efetuada VISTORIA FINAL e após a verifi-cação da perfeita adequação do serviço aos termos do presente Projeto Básico, será emitido o TERMO DE RECEBIMENTO DEFINITIVO DO SERVIÇO, em até 10 (dez) dias da comunicação da contratada. O não cumprimento do prazo a que se refere a alínea
c.2 (acima) caracterizará atraso. NOTA: Após a emissão do TERMO
DE RECEBIMENTO DEFINITIVO DO SERVIÇO, em consonância com as observações nos 2 e 3 do subitem
1.1 anterior, poderá ser dado pros-seguimento ao pagamento do sal-do restante devisal-do.
Talvez a dificuldade maior de tra-tamento da fase do recebimento de obras e serviços de engenharia adve-nha do caráter das normas que lhe são correlatas na Lei nº 8.666/93, mormente as previstas pelos artigos 73 e 74, que, à exceção do parágra-fo 2º do art. 73, têm natureza irre-plicavelmente operacional, como bem leciona o preclaro professor Jessé Torres Pereira Júnior9.
Esse caráter operacional do pro-cedimento de recebimento aconse-lha aos órgãos públicos a adoção de providências a fim de bem reger essa importante etapa, que podem ser
9. In Comentários à Lei das Licitações e Contratações da Administração Pública, 7. ed. ver., atual. e ampl – Rio de Janeiro: Renovar, 2007, páginas 761/766.
feitas de dois modos, quais sejam: a) por meio do estabelecimento de uma regulamentação interna própria, na forma da previsão do art. 115 da Lei nº 8.666/93, como fez o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios –TJDF, através da edição da Portaria GPR nº 569/200610; b) consoante
bus-camos esquadrinhar neste trabalho, e face à previsão do inciso XVI do artigo 40 c/c o inciso IV do artigo 55, via pa-dronização minudente dessa fase no edital ou no contrato, a serem subsi-diados por disposições similares previs-tas em documento emitido pelo servi-dor/setor requisitante dos serviços, como parte integrante do Documento de Referência (Projeto Básico ou Termo de Referência).
10. Essa norma é a revogadora da Portaria GPR nº 946/2004, lembrada por Jorge Ulisses Jacoby Fernandes no livro Vade-Mécum de Licitações e Contratos, 3. ed., Belo Horizonte, Fórum, 2006, página 942.
Talvez a dificuldade
maior de tratamento da
fase do recebimento de
obras e serviços de
engenharia advenha do
caráter das normas que
lhe são correlatas na Lei
nº 8.666/93, mormente
as previstas pelos
artigos 73 e 74, que, à
exceção do parágrafo 2º
do art. 73, têm natureza
irreplicavelmente
operacional.
17 Revista da CGU Referências Bibliográficas
___. Decreto-Lei nº 18/2008, de 29 de ja-neiro de 2008. Código de Contratos
Públicos do ordenamento jurídico por-tuguês. Disponível em: <http://www.dre.
pt/pdf1sdip/2008/01/02000/0075300852. pdf>. Acesso em: 19 mai. 2009.
FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby.
Vade-Mécum de Licitações e Contratos. 3.
ed. Belo Horizonte:Fórum, 2006.
Lei de Licitações e Contratos Administrativos e legislação comple-mentar. Organização [dos textos e índices
por] J. U. Jacoby Fernandes. 9. ed. ampl., ver. e atual. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
Licitações e contratos: orientações bá-sicas / Tribunal de Contas da União. 3. ed,
ver. atual. e ampl. Brasília: TCU, Secretaria de Controle Interno, 2006.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
Administrativo Brasileiro. 28. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2003.
Obras públicas: recomendações básicas
para a contratação e fiscalização de obras públicas / Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, SECOB, 2002.
PEREIRA Jr., Jessé Torres. Comentários à
Lei das Licitações e Contratações da Administração Pública. 7. ed. ver., atual.
e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
7. Conclusão
Por fim, gostaríamos de gizar que o recebimento de obras e serviços de engenharia, como vem assinalando in-clusive o Tribunal de Contas da União11,
é uma das etapas mais críticas da exe-cução contratual, sendo, pois, sempre
indicado que a Administração dos ór-gãos públicos exerçam um maior con-trole sobre essa matéria, quer proce-dendo à regulamentação própria, como fez o TJDF, quer engendrando cláusulas padrão a esse respeito nos editais ou contratos, como as que fo-ram aqui apresentadas.
11. São as seguintes as irregularidades já obser-vadas pelo Tribunal de Contas da União no recebi-mento de obras e serviços de engenharia, constantes do “Manual de Obras Públicas – Recomendações Básicas para a Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Pùblicas – TCU”: – ausência de recebimento provisório da obra, pelo responsável por seu acompanhamento e fiscalização, mediante termo circunstanciado assinado pelas partes, em desacordo com o dis-posto no artigo 73, inciso I, alínea a, da Lei nº 8.666/93; – ausência de recebimento definitivo da obra, por servidor ou comissão designada por autoridade competente, mediante termo circun-stanciado, assinado pelas partes, após prazo de observação ou vistoria que comprovasse a
aquação do objeto aos termos contratuais, em de-sacordo com o disposto no art. 73, inciso I, alínea b, da Lei nº 8.666/93; – descumprimento de dições descritas no edital de licitação e no con-trato para o recebimento da obra; – descumpri-mento de prazos de conclusão, de entrega, de observação e de recebimento definitivo, con-forme o caso, previstos no contrato e em seus termos aditivos, em desacordo com o disposto no inciso IV do art. 55 da Lei nº 8.666/93; – recebi-mento da obra com falhas visíveis de execução; – omissão da Administração, na hipótese de terem surgido defeitos construtivos durante o período de responsabilidade legal desta; – não realização de vistorias dos órgãos públicos competentes para a emissão do habite-se.