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A FLORESTA COMO ESCONDERIJO: ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM NA MATA ATLÂNTICA DO RIO DE JANEIRO

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A FLORESTA COMO ESCONDERIJO: ARQUEOLOGIA

DA PAISAGEM NA MATA ATLÂNTICA DO RIO DE JANEIRO*

Rogério Ribeiro de Oliveira**

Rúbia Graciele Patzlaff***

Rita Scheel-Ybert**** 

Resumo: a arqueologia da paisagem contribui para contextualizar no espaço

determi-nados eventos pretéritos e, de acordo com sua interação com esse espaço, compreender melhor determinados grupos humanos. A provisão de carvão no período colonial e imperial foi uma necessidade constante da sociedade, permitindo usos mais amplos do que a lenha. O presente trabalho traz os resultados de pesquisas feitas em escala local (Maciço da Pedra Branca, RJ) e regional (estados do RJ e parte de SP, ES e MG). Foram descobertas quase 2.000 antigas carvoarias e diversos outros vestígios nas formações flo-restais estudadas. Os atores deste processo (os carvoeiros) estavam submetidos a intensa invisibilidade social e seu trabalho, apesar de imprescindível à sociedade, apresentava indícios de marginalidade e ilegalidade. A paisagem estudada (Mata Atlântica) guarda marcas deste ciclo de provisão de energia em vários de seus atributos.

Palavras-chave: Mata Atlântica. Arqueologia histórica. Produção de carvão

FOREST AS A HIDING PLACE: LANDSCAPE ARCHEOLOGY IN THE ATLANTIC RAIN FOREST OF RIO DE JANEIRO

Abstract: landscape archeology contributes to contextualize past events in space. It

allows a better understanding of past human groups considering their interaction with that space. The provision of charcoal in the colonial and imperial period was a constant necessity of society, for it allowed broader uses than firewood. The present work brings the results of research performed in local (Pedra Branca Massif, RJ) and regional (states of Rio de Janeiro and parts of São Paulo, Espírito Santo, and Minas Gerais) scales. Almost 2,000 old charcoal kilns and several other vestiges were found in the forest formations

* Recebido em: 20.01.2020. Aprovado em: 13.02.2020.

** Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geografia e Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. E-mail: rro@puc-rio.br.

*** Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem, Departamento de Antropologia, Museu Nacional, UFRJ. E-mail: rubiagpatz@gmail.com.

**** Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Departamento de Antropologia, Museu Nacional, UFRJ. E-mail: scheelybert@mn.ufrj.br

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studied. The actors in this process (the charcoal workers) were subjected to intense social invisibility and their work, although indispensable to society, showed signs of marginality and illegality. The studied landscape (Atlantic Forest) keeps marks of this cycle of energy supply in several of its attributes.

Keywords: Atlantic Rain Forest. Historical Archeology. Charcoal production.

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entre as inúmeras aproximações ao conceito de paisagem, uma se destaca pelo inusitado da afirma-ção: a paisagem mente! De fato, as paisagens podem “mentir” (CLAVAL, 2004), se não passarmos além da “realidade objetiva” que deve reter nossa atenção e, ainda, entender como essa realidade pode ser escamoteada por diversos condicionantes ecológicos e sociais. Por outro lado, as paisagens são portadoras de uma forte historicidade, o que adiciona uma vertente interdisciplinar ao seu estudo.

São muitas as suas definições. Polissêmica por essência, a paisagem pode ser também considerada como uma estrutura espacial que resulta da interação entre os processos naturais e as atividades humanas. As paisagens são dinâmicas e mudam conforme os sistemas socioeconômicos e biofísicos, evoluindo em várias escalas espaciais. São intrinsecamente culturais, portanto, refletem a história social e econômica de uma região, bem como a sua organização espacial, padrões de ocupação, a demografia, a mobilidade e os fluxos migratórios.

A Arqueologia da Paisagem constitui hoje uma parte significativa dos estudos realizados sobre a mesma, na medida em que possibilita o alargamento da compreensão de povos e culturas do passado (SOU-ZA, 2007). De acordo com Villaescusa (2006), a Arqueologia da Paisagem deve ser entendida como uma ferramenta para a compreensão das populações do passado por meio da análise das marcas paisagísticas e ambientais que estas deixaram. Ao ir ainda além do estudo dos processos de obtenção de recursos e práticas de subsistência, essa disciplina pode desempenhar um papel ativo na mediação das relações socioespaciais que acontecem na paisagem (KNAPP; ASHMORE, 1999). Além disso, de acordo com Anschuetz et al. (2001), a paisagem pode ser usada para marcar ou recriar identidades socioculturais.

Nossa abordagem parte do princípio de que, na escala de paisagem, o que entendemos hoje por “na-tural” pode se tratar, na verdade, de um sistema manejado durante séculos ou até milênios por populações passadas. O conceito “paisagem” comporta diversas definições, dentre elas aquela que a define como o espaço em que as atividades humanas são realizadas, através das quais os indivíduos se reconhecem e reconhecem seu mundo dentro de regras e significados culturalmente estabelecidos (HODDER; HUTSON, 2003).

Abordagens recentes da interação humana com o meio ambiente frequentemente privilegiam o social, enfatizando a percepção, a experiência e os atributos simbólicos da paisagem, em detrimento do natural. No caso da Floresta Atlântica, cuja ocupação humana data de milhares de anos, um longo histórico de transformação de suas condições ambientais traduz a forma com que suas populações (sejam sambaquieiros, grupos ceramistas nativos, europeus ou populações africanas escravizadas) interagiram ou interagem com o ambiente ao longo do tempo (OLIVEIRA, 2015). Assim, muito do que alguns hoje compreendem por natureza “intocada” constitui, na verdade, um mosaico ecológico de usos pretéritos para a subsistência de populações que se sobrepõem com maior ou menor frequ-ência (BALÉE; ERICKSON, 2006). O território da Floresta Atlântica foi e, em parte, ainda é habitado por muitos destes grupos, hoje denominados genericamente como populações tradicionais, como as comunidades descendentes de etnias indígenas, populações miscigenadas, remanescentes de quilom-bolas, roceiros ou grupos descendentes de imigração mais recente (DIEGUES, 1996).

Por outro lado, dispõe-se virtualmente de nenhuma documentação escrita sobre a história do

vencido (as etnias indígenas, as populações interioranas, os negros etc.). O resgate de sua história pode

ser feito na maioria das vezes via cultura material. Com relação a populações escravizadas, existe um amplo espectro de sítios arqueológicos que inclui por exemplo alojamentos de escravos nas plantações, espaços urbanos, cemitérios, casas religiosas e assentamentos quilombolas, que vêm ajudando a resgatar a história desses grupos (SYMANSKI 2016). No entanto, a cultura material é menos conspícua em am-bientes florestais. Nesse caso é importante estar atento às marcas encontradas no interior das florestas, as quais documentam atividades humanas passadas que são tornadas mais ou menos explícitas depen-dendo de suas características. Sendo assim, a história de muitos grupos pode ser investigada não apenas

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através da cultura material, mas também através de elementos da estrutura e composição da vegetação presente, como aspectos fitossociológicos e estigmas na estrutura da floresta ou na paisagem (BALÉE; ERICKSON, 2006; SCHEEL-YBERT et al., 2016; LAZOS et al., 2017; LEVIS et al. 2017).

São dois os fios condutores da presente pesquisa: entender a paisagem florestal como um ter-ritório de uso de populações passadas e examiná-la enquanto um documento que evidencia as ações pretéritas dessas populações. O trabalho se ocupa das marcas na floresta deixadas pela atividade de carvoeiros nos séculos XVIII, XIX e início do século XX nas montanhas do Rio de Janeiro e. em menor parte nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Parte-se da hipótese de que a paisagem pode ser usada como um documento histórico (WORSTER, 1991), que conecta natureza e sociedade, floresta e cidade e, ainda, pode testemunhar processos históricos e sociais pouco conhecidos. Nesse contexto, utilizaremos as possibilidades abertas com a Arqueologia da Paisagem, que permite uma visão integrativa e interdisciplinar dos fenômenos relativos ao binômio sociedade/natureza. Utiliza-remos também os recursos da História Ambiental e da Ecologia Histórica, que igualmente trabalham essas relações entre o mundo humano e o não humano na perspectiva da paisagem.

FONTES DOCUMENTAIS SOBRE AS ATIVIDADES DOS CARVOEIROS

São escassas as referências bibliográficas à produção histórica do carvão na América Latina. Destacamos os trabalhos de Thiéblot (1984) para o Estado de São Paulo e García-Montiel (2002) para a Costa Rica. No presente caso de estudo, as carvoarias existentes em fragmentos florestais de parte do Sudeste brasileiro, a pobreza documental é patente. Para o processo de fabricação do carvão em si, são encontradas referências genéricas, com um enfoque voltado claramente para a metalurgia, seja ela histórica (1500-1850), como a obra de Landgraf et al. (1994), ou do início do século XX (ANDRADE, 1923). Quanto ao seu processo de distribuição e comercialização, as referências são esparsas e geralmente dizem respeito a imigrantes italianos que vieram ao Brasil (Rio de Janeiro) e se estabeleceram como comerciantes de carvão no início do século XX (BRIGANTI, 2016). Há ainda o estudo de Magalhães (1961), que se ocupa da produção de lenha e carvão no antigo estado da Guanabara, hoje município do Rio de Janeiro. Com referência à documentação iconográfica, a obra de Debret (e de poucos outros artistas) mostra uma cena ligada a atividades de transporte e venda de carvão, como pode ser visto na Figura 1.

Figura 1: Vendedores de carvão Fonte: Debret, 1827.

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São extremamente exíguos os documentos relativos ao trabalho da produção do carvão ante-riores ao século XX. O que se encontra são notícias (geralmente em periódicos e jornais) disponíveis na Biblioteca Nacional. As referências em sua grande maioria são ligadas ao desembarque de carvão proveniente de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro na Estação D. Pedro II. Um fato claro per-passa a quase totalidade das fontes documentais sobre a produção de carvão: embora existam muitas referências documentais relativas à fabricação e comercialização do carvão, o principal agente deste processo permanece praticamente fora destas fontes: os carvoeiros. Pesquisa em jornais do século XIX realizada na Hemeroteca da Biblioteca Nacional (BRANTES, 2014), mostrou que as referências aos carvoeiros propriamente ditos são esparsas e, quando existem, são portadoras de forte preconceito em relação à sua cor e ocupação, como se vê no exemplo da Figura 2.

Figura 2: Gazeta de Notícias, 1882

Fonte: Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

São muitas as razões para esse quadro de preconceito e de pobreza documental em relação aos carvoeiros. Primeiramente é necessário destacar que se trata de um contingente populacional de grande invisibilidade social. Numa sociedade que ainda mantinha uma forte ideologia escravista, mesmo após a abolição da escravatura, o trabalho manual era uma tarefa considerada degradante, da qual, porém, os mais pobres não podiam prescindir. À exceção de Magalhães Corrêa (1933), que faz questão de dar nome e descrição dos carvoeiros que apresenta em seu livro, estes são praticamente esquecidos pela literatura da época. Algumas expressões até hoje utilizadas em português mostram um pouco do preconceito que existe contra estes. Por exemplo, para dizer que alguém está com as mãos muito sujas, se diz “está com mãos de carvoeiro”. Mas podemos ir mais além: essa invisibilidade social pode estar baseada em ideias e associações profundamente preconceituosas em relação não somente à cor dos trabalhadores (na grande maioria negros) e à sujeira atribuída aos mesmos no manuseio do carvão, mas também ao lugar ermo de trabalho (as serras e as florestas).

O carvão tinha um papel fundamental como insumo energético na sociedade do Rio de Janeiro do século XIX, para a indústria (têxtil e de vidro), o abastecimento de locomotivas, a fabricação do ferro (redução do minério para a produção do ferro gusa), e até o consumo doméstico (OLIVEIRA;

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FRAGA, 2012). Inúmeras oficinas de ferreiros se espalhavam pela cidade para a fabricação de enxadas, foices, machados, ferraduras, dobradiças e fechos, a partir da utilização de lingotes de ferro vindos da Europa, que eram refundidos e forjados para adquirirem a forma do produto final. O trabalho nestas forjas se fazia com intensa utilização do carvão vegetal, o único combustível utilizado para produção de ferro no país até o final do século XIX (ZEQUINI, 2007).

Possivelmente, o item de consumo mais significativo em termos de volume era a construção civil, mais especificamente obras de cantaria (peças em pedra talhada como colunas, paralelepípedos, portais, fachadas, calçadas etc.). Em todo o trabalho em que se usavam rochas havia a necessidade de se afiar as ferramentas utilizadas, como ponteiros, talhadeiras, cinzéis e escacilhadores. Em função da dureza do gra-nito ou do gnaisse utilizado nas construções, estas ferramentas rapidamente perdiam o corte. Por exemplo, para se construir um metro linear de portal com uma seção de 20 por 20 cm, o artesão necessitava de cerca de 20 ponteiros (cinzéis), que ficam rapidamente cegos e que não podiam ser afiados em esmeril para não perderem o fio. Eles deveriam ser levados à forja para serem malhados ao rubro na bigorna (OLIVEIRA; FRAGA, 2012). Essas forjas, alimentadas a carvão, se multiplicaram para dar conta do exponencial cresci-mento da construção civil na cidade do Rio de Janeiro na virada dos séculos XIX/XX. Pode-se afirmar que a matriz energética da cidade do século XIX era o carvão vegetal, utilizado em quantidades crescentes em função do aumento de sua malha urbana. Tratava-se, portanto, de um sistema socioeconômico altamente complexo, com uma relação clara e direta entre o uso de energia, a floresta e o trabalho humano.

AMOSTRAGEM E MÉTODOS

Em termos de técnicas de amostragem, o presente estudo foi feito em duas escalas. Uma, mais pontual, no Maciço da Pedra Branca, localizado na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Foram feitas explorações sistemáticas e aleatórias de campo visando localizar e georreferenciar antigas carvoarias, que são reconhecidas a partir da localização de um platô escavado na encosta. Os vestígios arqueológicos foram mapeados com o uso de um GPS (marca Garmin, modelo Etrex), sendo os pontos encontrados transferidos para o programa ArcGis (que inclui os ambientes ArcMap e ArcCatalog). A confecção dos mapas contou com o auxílio de informações espaciais retiradas da base cartográfica do Instituto Pereira Passos (IPP), tais como as ortofotos do ano de 1999, de resolução de um metro por pixel, escala de 1:10.000. Em 30 carvoarias foram tomadas medidas visando a obtenção de dados construtivos dos platôs (largura e comprimento e declividade da encosta).

Esta pesquisa foi realizada no Maciço da Pedra Branca, localizado na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Atualmente este Maciço é quase todo englobado por uma unidade de conservação, o Parque Estadual da Pedra Branca, criado em 1974, com uma área de 12.492 hectares. O relevo é bastante recortado e no seu interior encontra-se o ponto culminante do município, o Pico da Pedra Branca, com 1.024 metros de altitude. Coberto por densa Mata Atlântica em estágio secundário avançado, esta floresta forneceu lenha aos engenhos de cana da região desde o século XVII (ENGEMANN et al., 2005).

O estudo em escala regional foi feito a partir de levantamentos expeditos de campo em florestas (ou fragmentos florestais) que contivessem duas ou mais carvoarias. Este levantamento foi feito tanto in loco quanto por meio de consultas a moradores antigos das áreas estuadas. Esta pesquisa abrangeu o Estado do Rio de Janeiro, Leste de São Paulo, Sul de Minas Gerais e do Espírito Santo.

PESQUISA EM ESCALA LOCAL

Uma intensa produção de carvão vegetal teve lugar nas encostas do Maciço da Pedra Branca. Durante o século XVIII, a proximidade com a cidade do Rio de Janeiro foi responsável por transfor-mar a região em um polo de fabricação de carvão. Muito possivelmente o auge ocorreu entre 1870 e 1920 (CORREA, 1933).

Pelo ponto de vista da paisagem, os remanescentes de carvoarias históricas hoje são reconhecidos em meio à floresta apenas pelas suas plataformas, formadas por platôs escavados pelos carvoeiros nas encostas para fabricação in situ do carvão (ver esquema na Figura 3), e pelos restos do próprio carvão presentes no solo, caracteristicamente negro.

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Figura 3: Esquema de uma carvoaria aberta em encosta florestada. Fonte: Autoria: Isabel Machline.

Existe um padrão no tamanho das carvoarias do Maciço da Pedra Branca e na sua forma de ocupação do espaço. Com relação às dimensões desses platôs, a Tabela 1 traz a síntese das medidas das 30 carvoarias que tiveram suas dimensões (maior e menor eixo) levantadas. Apesar da grande variabilidade de situações topográficas onde os platôs foram cavados (como zonas de cumeada, encostas - íngremes ou suaves - ou fundos de vale), existe uma relativa homogeneidade no seu tamanho e área. Tabela 1: Morfometria de 30 carvoarias na encosta sul do Maciço da Pedra Branca, RJ.

eixo maior (m) eixo menor (m) área (m2)

média 9,5 5,9 45,0

desvio padrão 1,9 1,4 18,8

coef. variação 20,1% 23,1% 41,9%

Além da relativa homogeneidade no tamanho das plataformas, há ainda que se considerar a padronização do método construtivo do balão propriamente dito. Para a época em questão existiam basicamente duas técnicas: a de balão e a de fosso. O primeiro é uma técnica de fabricação de carvão feita a partir de um cone de lenha montado em um platô escavado na encosta. Tinha uma altura de cerca de 4 metros e era revestido de barro para promover a combustão abafada da lenha (THIÉBLOT, 1984). O fosso era cavado no piso florestal, com as dimensões aproximadas de 1,2 x 1,0 x 2,5 m. No entanto, existem ainda outras formas de se queimar a lenha para a obtenção de carvão: em se tratando de produção de carvão não contemporâneo, os três principais métodos usados desde a Idade Média em vários continentes são: em fornos de pedras ou tijolos, em fosso e em balão (também chamado “em plataformas”) (DURAND et al., 2018). Os fornos de pedra ou tijolos foram muito usados em Minas Gerais (THIÉBLOT, 1984).

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A pesquisa feita na floresta do Maciço da Pedra Branca (OLIVEIRA; FRAGA, 2016) evidenciou a existência de centenas de platôs de antigas carvoarias, além de dezenas de ruínas de moradias (alicerces de pedra), provavelmente de carvoeiros. Esta pesquisa, ainda em prosseguimento, revelou um total de 1.172 antigas carvoarias (Figura 4) e vestígios de 104 antigas moradias (Figura 5), encontradas onde hoje é floresta densa. As ruínas (alicerces em alvenaria de rochas) geralmente apresentam tamanho reduzido (em torno de 25 m²) e se localizam fora dos eixos das drenagens (riachos), o que favorecia as condições de habitabilidade e segurança da moradia.

Figura 4: Localização de carvoarias encontrados no Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro. Fonte: Elaboração Joana Stingel.

Figura 5: Alicerce de habitação no Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro

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Houve, portanto, uma intensa utilização do espaço florestado acompanhada de uma relativa invisibilidade arqueológica, apontada por Oliveira & Fraga (2012) no território das carvoarias do Maciço da Pedra Branca. Embora tenham sido feitas relativamente poucas sondagens de subsuperfície, todas no contexto da delimitação de carvoarias estudadas (OLIVEIRA, 2010; PATZLAFF, 2016), nenhuma evidência de cultura material móvel, como utensílios e ferramentas, foi encontrada (com exceção dos ecofatos). Prospecções de superfície revelaram apenas alguns poucos vestígios desta categoria (Figura 6).

As garrafas de vinho do Porto, fragmentadas ou íntegras, foram os vestígios mais conspícuos, sempre encontradas nos arredores das carvoarias. Muito possivelmente eram reutilizadas para ar-mazenar água, café etc. As poucas ferramentas geralmente encontradas próximas às carvoarias apre-sentam evidências de esgotamento. Muitas estavam gastas e imprestáveis ao uso, dando a impressão de terem sido abandonadas.

Figura 6: Artefatos encontrados no contexto arqueológico de carvoarias do Maciço da Pedra Branca (RJ): a) garrafa de vinho do Porto; b) ferramentas: 1: enxada; 2: enxadão; 3) ciscador (tipo de ancinho usado na produção de carvão e 4) enxada valeira (para a abertura de valas em volta do balão de carvão)

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Apesar do desmatamento significativo realizado pelos carvoeiros e lenhadores, a floresta retornou de forma intensa em função da sucessão ecológica que ocorreu após a derrubada. Hoje, essas carvoarias e ruínas estão praticamente irreconhecíveis, completamente tomadas pela vegeta-ção florestal fechada. Do total encontrado até o presente (1.172 carvoarias), 27 (2,3%) estavam em área de capim e 12 (1,0%) em bananais. Os restantes 96,7% estavam em área florestada. Em parte, isso se deve a um fato que pode ter desempenhado um papel no retorno da floresta: o rebroto de troncos (Figura 7). Por ocasião do corte, tanto o toco quanto o sistema radicular eram preservados, o que favorecia o rebroto.

Figura 7: Exemplos de caules múltiplos após o corte com o machado Fonte: Fotos: Rogério Ribeiro de Oliveira

Nos exemplos acima, os troncos foram cortados em alguma ocasião do passado. Mais ou menos à altura do corte do machado (40 – 80 cm), a árvore rebrotou. Quando íntegro, o meristema apical (a gema germinativa localizada na parte mais alta) tem a dominância sobre a árvore. Após a derrubada, esta dominância é perdida e a árvore rebrota com dois ou mais caules. Apesar do corte e remoção do tronco para utilizações diversas (como lenha e carvão), o toco e o seu sistema radicular foram mantidos íntegros. Assim, o corte e a derrubada do tronco representam algo como uma poda drástica. Com o tempo, a árvore rebrota com troncos múltiplos. Certamente o retorno da floresta do Maciço da Pedra Branca após o ciclo do carvão foi em parte devido a esse processo de rebrota. Adicionalmente, quando o carvão é fabricado, apenas tronco e galhos grossos são removidos. Toda a galhada e folhas permanecem no local, devolvendo os nutrientes para o solo. Assim, na medida em que não ocorre o empobrecimento do solo, a recuperação florestal após a derrubada é significativamente rápida, embora possa haver alterações na sua composição florística, como indicado por análises antracológicas em associação a estudos fitossociológicos (OLIVEIRA, 2010; PATZLAFF, 2016).

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PESQUISA EM ESCALA REGIONAL

Até o momento foram localizados 27 fragmentos florestais contendo carvoarias em seu inte-rior nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo (Leste), Espírito Santo (Sul) e Minas Gerais (Sudeste). A Figura 8 apresenta os locais onde esses fragmentos foram registrados.

Figura 8: Registro de carvoarias no Estado do Rio de Janeiro e em parte dos Estados de São Paulo,

Minas Gerais e Espírito Santo

Fonte: Mapa: H. Pardini, 2018.

Apenas as carvoarias localizadas no Maciço da Pedra Branca e na Serra da Tiririca, localizada no município de Niterói (RJ), foram objeto de pesquisas antracológicas (OLIVEIRA, 2010; PAT-ZLAFF, 2012; PATZLAFF et al., 2018), que, através da análise da anatomia da madeira carbonizada, permitiram ter acesso, entre outros aspectos, à composição do componente arbóreo da floresta na época de sua exploração. Estudos experimentais têm demonstrado que os resultados de análises antracológicas de carvoarias históricas são representativos da floresta explorada, sendo capazes de fornecer uma imagem clara da dinâmica da vegetação (LÜDEMANN, 2002).

A imensa maioria de carvoarias encontradas nesses fragmentos florestais é do tipo balão de

carvão, construídas sobre um platô dentro da floresta (Figura 9), uma herança ibérica, comum em

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Figura 9: Carvoaria feita em área plana. Nanquim de Percy Lau Fonte: IBGE, 1966

No conjunto das carvoarias inventariadas nesse estudo extensivo existe apenas uma exceção ao modelo de carvoarias em balão de carvão. Na localidade de Macaé de Cima (município de Nova Friburgo, RJ), foram encontradas seis carvoarias do tipo fosso, com dimensões de 1,0 m por 2,0 m e profundidade de aproximadamente 1,0 m. Elas se encontram parcialmente soterradas em função do tempo decorrido desde sua utilização. A ocorrência deste tipo de carvoaria nesse contexto específico pode ser atribuída à influência suíça, já que Nova Friburgo foi colonizada por cerca de 150 famílias suíças, no início do século XIX (MELNIXENCO, 2018).

Foi observada uma aparente correlação entre o número de carvoarias em um dado local e a utilização de pedras de cantaria nas proximidades. Um bom exemplo disso se encontra na estrada que liga a cidade de Mangaratiba a São João Marcos (Rio Claro, ambas no Rio de Janeiro): diversas carvoarias foram localizadas em suas proximidades, ao passo que boa parte de seu leito apresenta balaustradas em rocha trabalhada (Figura 10).

Figura 10: Balaustrada ao longo da estrada que liga as cidades de Mangaratiba

a S. João Marcos (Rio Claro, RJ)

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O estudo em escala regional evidenciou alguns pontos em comum ao conjunto das carvoarias encontradas. De acordo com relatos orais, essa atividade em grande parte ocorreu entre o final do século XIX e início do século XX. Existe ainda uma grande semelhança no processo construtivo das carvoarias, indicando um conhecimento comum a todos os grupos de carvoeiros envolvidos. À exceção da localidade no município de Nova Friburgo (RJ), onde as carvoarias são do tipo fosso, todas as demais são do tipo balão de carvão.

Um segundo ponto comum diz respeito à posição social do grupo dos carvoeiros em relação à sociedade que os envolvia. Foi constatado por relatos nas pesquisas de campo que, de uma maneira geral, os carvoeiros eram pouco conhecidos. O sistema de produção de energia, nos moldes em que aconteceu, foi ancorado em um forte alijamento econômico de quem o produzia. A utilização intensiva do trabalho humano fazia com que os seus trabalhadores fossem mantidos nos limites mínimos da sobrevivência alimentar e social. Muito possivelmente, o preço de venda do carvão jamais permitiria que os carvoeiros tivessem um mínimo de visibilidade e reconhecimento social. A isso acrescente-se a distância em relação aos principais centros consumidores, Rio de Janeiro e São Paulo.

É importante destacar que, mais ou menos na mesma época (século XIX e início do XX), na França, os produtores de carvão vegetal gozavam de outra situação social. Levando-se em consideração que não existia uma escravidão negra na França, os carvoeiros compunham um ofício reconhecido pela socieda-de, como, por exemplo, pela existência de festas e de um santo protetor dos carvoeiros (Saint Thibault) e mesmo de uma sociedade com os seus rituais (Bons Cousins Charbonniers). Até hoje o sobrenome

Charbonneau é muito comum na França e revela uma situação distinta em relação ao reconhecimento

social dos carvoeiros do Sudeste Brasileiro (OLIVEIRA; FRAGA, 2016).

A atividade metalúrgica, considerada uma devoradora de florestas, resulta em paisagens pro-fundamente alteradas, pontuadas por vestígios de fornos e carvoarias que vêm sendo estudados em diferentes países. Foi uma atividade de extrema importância na Europa principalmente entre a Idade Média e o fim do século XIX, considerada neste período como uma atividade proto-industrial, e também considerada o principal fator de transformação do espaço (DAVASSE, 1992). Por sua importância, ela é bem documentada, principalmente no século XVIII, na França, onde cientistas e metalúrgicos como Duhamel du Monceau, Baillet, entre outros escrevem sobre o trabalho dos carvoeiros (IZARD, 1992). CARVOEIROS, OS AGENTES INVISÍVEIS

Quem eram os carvoeiros do sudeste brasileiro no século XIX? Primeiramente há que se destacar que existia por todo o país uma relação direta entre estes atores sociais e a escravidão, seja ela anterior ou posterior à Abolição. E ainda, entre carvoeiros e pobreza, como aparece em uma matéria publicada no jornal Correio do Norte em 1906 intitulada A miséria no Amazonas – Impressões de um Viajante: “a população pobre vive quase exclusivamente da pesca e do fabrico do carvão” (LIMA, 2018). O de-creto de 13 de maio de 1888 que aboliu a escravidão no país, teve como efeito a instantânea criação de uma massa de desempregados miseráveis, analfabetos e sem nenhuma capacitação profissional. Assim, após 1888, a capital federal passou a ser o centro de atração de mão de obra ociosa do Sudes-te, em plena crise de produção do café (COSTA, 2015). A maior parte dos migrantes, descendentes diretos ou indiretos de ex-escravizados, ocupou as regiões periféricas das cidades maiores (MAMI-GONIAN, 2017). Conhecedores do trabalho braçal no campo, é possível que ali tenham encontrado suas primeiras fontes de sobrevivência. Diante de reduzidas opções, a fabricação do carvão era uma atividade que permitia uma relativa independência. Sem a subsistência provida por seus donos, estes negros libertos se viram, de uma hora para outra, tendo que sustentar a si mesmos e suas famílias, sem que lhes fossem dadas oportunidades formais na sociedade. Além destes, pode-se também pensar na existência de um grupo menos numeroso constituído por aqueles que tinham conseguido a sua alforria, seja porque a compraram, seja porque foram libertos pela Igreja. E ainda, um significativo grupo de pessoas desprovidas de posses e à margem da sociedade, como os quilombolas.

Seja como for, sem acesso à terra ou aos meios de produção, tornar-se carvoeiro foi para muitos uma das poucas atividades possíveis. Isso se deve, dentre outros aspectos, ao fato de que a quantidade de insumos utilizados na produção de carvão era mínima. Para se tornar um carvoeiro, tudo o que se

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precisava era de uma enxada, um machado e uma caixa de fósforos. Com esses três objetos era possível fabricar o carvão. Até mesmo para embalá-lo, pelo menos até o início do século XX, eram utilizadas fibras naturais, balaios feitos de bambu e cipó. Este detalhe aparece claramente na Figura 1. As referências ao uso dos sacos de tecido são posteriores, da década de 1920 (CORREA, 1933). Assim, os carvoeiros penetravam por toda a parte nas serranias do Rio de Janeiro, onde não se tinham estabelecido os sitiantes (BERNARDES, 1962). No Rio de Janeiro, a demanda por este recurso energético crescia exponencial-mente, em particular na virada do século XIX para o século XX.

Mas quando se iniciou essa atividade? Evidentemente o processo de produção de carvão foi ante-rior à Abolição, uma vez que havia a necessidade substancial desta fonte energética, tanto na economia do açúcar quanto do café. No entanto, não foram encontradas referências à existência de “escravos carvoeiros”. Por exemplo, Miguel Calmon du Pin e Almeida (1834), o Marquês de Abrantes, cita em sua obra que em um engenho podiam existir cerca de 70 diferentes ofícios. Existiam atividades próximas, como falquejadore e lenhadores, mas nada é dito em relação a carvoeiros propriamente ditos. Antonil (1837:138) observa que cada escravo “tem obrigação de cortar e arrumar, cada dia uma medida de lenha, alta sete palmos e larga oito, e esta e (sic) também a medida de um carro”. A lenha era destinada às for-nalhas e não há qualquer referência ao uso do carvão. Muito possivelmente este era empregado apenas em atividades relativas à metalurgia.

São exíguas as referências temporais objetivas com relação à fabricação de carvão no período anterior à Abolição (MATARELLI et al., 2001; LADGRAF, 2004). No entanto, evidências materiais das carvoarias encontradas, bem como fatos históricos, sugerem que muitas delas sejam relativamente antigas, indo possivelmente do início do século XIX ao início do século XX. Destacamos três dessas evidências que indicam de forma indireta ou aproximada a época em que grande parte das carvoarias foi explorada: 1) Em várias carvoarias encontram-se árvores de porte considerável, que indicam um longo tempo

desde o abandono da atividade de fabricação de carvão. A Figura 11 mostra um exemplar de pau d’alho (Gallesia integrifolia). Pelo fato de estar localizado no centro de uma antiga carvoaria, o mesmo desenvolveu-se após o abandono da mesma. O seu porte (com diâmetro de 1,2m e altura de 25m) é sugestivo de um exemplar de mais de 100 anos, sendo, portanto, um indicativo indireto do tempo em que a carvoaria em questão foi abandonada. Além desta espécie arbórea indicadora de idade, existe ainda outras espécies, como a carrapeteira (Guarea guidonia), como se verá adiante.

Figura 11: Exemplar de pau d’alho (Gallesia integrifolia) no centro de uma carvoaria

lo-calizada a 550 m de altitude, Maciço da Pedra Branca.

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2) Um conjunto significativo de carvoarias encontrado no Maciço da Pedra Branca apresenta um perfil estratigráfico evidenciando uma única camada espessa, o que pode significar um uso intensivo por um único evento de produção de carvão, sem interrupção. Salles et al. (2014) estimaram que no Maciço da Pedra Branca uma mesma carvoaria deve ter sido utilizada em média oito vezes, em função da lenha disponível em suas redondezas. Terminada a exploração, a carvoaria era abandonada. Esta continuidade estratigráfica também pode estar indicando um tempo decorrido relativamente extenso. Rodrigues et al. (2018) reportam que a percolação de fragmentos de car-vão em carvoarias do Maciço da Pedra Branca leva à formação de um solo com características e fertilidade similares à chamada Terra Preta de Índio, da região amazônica. No entanto, isso só se verifica a longo prazo. Em Engenheiro Paulo de Frontin (RJ), uma trincheira também evidenciou um possível uso recorrente e com longo tempo de abandono de uma mesma carvoaria.

Figura 12: Perfil de uma carvoaria com percolação de carvão até 1,3m em Engenheiro Paulo de

Frontin, RJ.

Fonte: Foto: Rogério Ribeiro de Oliveira.

3) As garrafas de vinho do Porto encontradas na região do Maciço da Pedra Branca geralmente eram das marcas Davi dos Santos Porto, Antonio Ferreira Meneres ou Adriano Ramos Pinto. Consultas feitas no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (na cidade do Porto, Portugal) confirmaram que essas marcas eram habitualmente exportadas para o Brasil durante quase todo o século XIX.

Existe ainda uma possibilidade de que parte dos carvoeiros que atuaram no Rio de Janeiro ten-ham sido quilombolas. A região do Maciço da Pedra Branca era cercada de engenhos de açúcar. Para se ter ideia do impacto da atividade açucareira sobre a Mata Atlântica deve-se ter em conta que, somente na Capitania do Rio de Janeiro no início do século XVIII, existiam 131 engenhos em funcionamento (ABREU, 2010). Em tempos de punição pesada ou conflito, muitos escravizados fugiram e formaram pequenas comunidades fugitivas (quilombos), geralmente estabelecendo-se nas florestas (GOMES, 2005). Tornavam-se pequenos agricultores de subsistência, exercendo também algum comércio com a sociedade branca. As montanhas que cercam o Rio de Janeiro favoreciam a instalação de comunidades quilombolas. Com um relevo escarpado e com farta provisão de água, o Maciço da Pedra Branca fornecia abrigo seguro para essas populações quilombolas. Até hoje subsistem na toponímia do Maciço nomes que fazem alusão ao uso da floresta como um esconderijo de escravos, como o Morro do Quilombo.

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Além deste, numerosos topônimos evocam uma origem africana, como Pedra do Calembá, Morro de Santa Bárbara, Pedra do Gunzá, Morro do Quitite etc. Estes nomes são sugestivos de uma intensa e longa utilização da área por populações com relações diretas com culturas de matriz africana. O dar nomes a lugares tem um forte componente identitário e cultural. Pelo ato de se nomear, o espaço é sim-bolicamente transformado em lugar, que, por sua vez, é um espaço com história (SEEMANN, 2005). A PAISAGEM ESCONDIDA E A PAISAGEM-ESCONDERIJO

A partir do século XVIII, a Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, mais especificamente a Baixada de Jacarepaguá, era conhecida como a “Planície dos Onze Engenhos”, com numerosa es-cravaria trabalhando nessas unidades produtivas. Somente a Ordem Beneditina era proprietária de três engenhos (Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena), com mais de 300 escravos. Existem evidências de que no período colonial as florestas do Maciço da Pedra Branca eram utilizadas como provisão de lenha e madeira para os engenhos da região (ENGEMANN et al., 2005).

A espacialização das ruínas históricas, assim como das carvoarias, permite ver que estes carvoei-ros transitavam intensamente por estas serranias. Foram encontradas carvoarias até a altitude de 1.000 metros. As ruínas de antigas moradias destes carvoeiros também se localizavam bastante afastadas da planície. O padrão de ocupação das ruínas e das carvoarias ao longo das encostas do Maciço da Pedra Branca também permite se avaliar o entendimento do uso do espaço pelos carvoeiros. Gaspar (2011) alerta que é imperioso se elaborar uma agenda voltada para o estudo de sítios arqueológicos com baixa visibilidade, como as taperas de quilombolas, se inserindo aqui as moradias dos carvoeiros. Segundo a autora, este passo é necessário para que a Arqueologia construa interpretações que incluam a diversidade de assentamentos associados às diferentes formações sociais.

A Figura 13 apresenta a distribuição altitudinal dos vestígios (carvoarias e ruínas) encontrados no Maciço da Pedra Branca. Somente 33,6% das carvoarias e 35,4% das ruínas se encontram em altitude inferior a 200 metros. Os demais vestígios encontram-se em altitude superior. Este fato evidencia que o paleoterritório de exploração de carvão era localizado preferencialmente em áreas íngremes, elevadas e distantes da planície, impróprias para a agricultura. Este padrão de ocupação é sugestivo de que os carvoeiros não competiam com os senhores de engenho e os agricultores, que tinham seus plantios e casas localizados na região de piemonte do maciço. Sugere também que essa exploração não estava sendo feita a mando destes senhores de engenho e tampouco pelos agricultores aceitos socialmente. Aparentemente não desejavam ser vistos ou descobertos.

Figura 13: Distribuição altitudinal percentual dos vestígios (carvoarias e ruínas) encontrados no

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Vale aqui relembrar a declividade do terreno e as dificuldades intrínsecas relativas à procura dos vestígios. Segundo Cintra (2007), 63,5% da área da bacia do Rio Camorim apresenta declividade superior a 25 graus, o que configura um relevo montanhoso e escarpado. Assim, em função da virtual impossibilidade de se conhecer todo o acervo de vestígios localizado nas encostas estudadas, o que foi mapeado e inventaria uma parcela da totalidade. Na maioria das vezes não apresentam outros vestígios senão os do fogão e os alicerces de pedras. Possivelmente estes alicerces davam a base para uma construção de pau-a-pique ou de taipa (Figura 14). A queima do carvão era um processo que exigia atenção dia e noite, pois o carvoeiro devia controlar a ventilação aumentando ou diminuindo a entrada de ar (ARETXABALA, 2000).

Figura 14: Aspecto de uma casa de pau-a-pique com os alicerces de rochas empilhadas (modificado de Fernandes et al., 2008) e ruína encontrada no maciço da Pedra Branca

Fonte: Foto Rogério Ribeiro de Oliveira.

Como visto, são extremamente raras as referências aos carvoeiros do século XIX, sejam elas bibliográficas ou iconográficas. Sua cultura material deixa pouquíssimos vestígios. Excluindo-se as ruínas e carvoarias em si, objetos ligados à cultura material móvel são muito exíguos em relação à quantidade de vestígios amostrados (como visto, 1.172 antigas carvoarias e 104 ruínas de moradias no Maciço da Pedra Branca). Foram encontradas nestas carvoarias e ruínas pouquíssimas peças, como um enxadão, um ancinho, um machado e algumas garrafas (fragmentos) do século XIX. Este fato sugere que os usuários das ruínas tinham poucos instrumentos de trabalho e eram ciosos dos mesmos, possivelmente se tratando de indivíduos extremamente pobres. É muito possível que boa parte das ruínas tenha sido utilizada como moradia dos carvoeiros, em função da proximidade das mesmas em relação às carvoarias. No entanto, não existem até o momento evidências arqueológicas que evidenciem que as mesmas sido todas feitas para utilização dos carvoeiros. É possível que as mesmas tenham tido um uso múltiplo e diverso, tanto para atender tanto a roceiros como a carvoeiros, ou a ambos. Em alguns casos, a vegetação próxima a essas ruinas evidencia usos agrícolas. PATZLAFF et

al. (2018) encontraram em uma carvoaria (próxima a uma ruína) fragmentos de carvão de mangueira

(Mangifera indica). Em outras áreas de florestas estes autores encontraram perto de carvoarias outras espécies, que indicam uso pretérito de roças, como o jacatirão (Miconia cinnamomifolia).

No entanto, a paisagem florestal ainda apresenta outro tipo de vestígios desta ancestral relação, que se manifesta na sua estrutura e composição florística. Apesar de a floresta ter se recuperado devido ao processo de sucessão ecológica ocorrido após o abandono destas atividades, o ecossistema passou a guardar marcas dessa história em numerosos de seus atributos, como a presença de espécies exóticas de uso ritual, como o comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta) (Figura 15), a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata), o abre-caminho (Lygodium volubile) ou o pau-d’água (Dracaena fragans). Existem ainda em meio à composição florística da Mata Atlântica do Maciço da Pedra Branca algu-mas espécies exóticas de uso alimentar, como a cabeluda (Myrciaria glazioviana), o cambucá (Plinia

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indica), já citada. Outras são utilitárias, como a cabaceira (Crescentia cujete), usada como cuia, ou o

bambu comum (Bambusa tuldoides), usado para se fazer cestos, jacás e peneiras. Trata-se de espécies exóticas que podem ser encontradas nas proximidades das carvoarias.

Figura 15: Exemplar de comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta) localizado próximo

a uma ruína localizada a montante da Praia de Grumari, RJ.

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Finalmente, entre as espécies que evidenciam usos históricos da floresta destaca-se uma, extre-mamente comum, a carrapeta (Guarea guidonia, da família das Meliáceas). Sua distribuição se dá em diversos países da América Central e América do Sul. É uma espécie pioneira, ou seja, sua germinação se dá apenas em áreas abertas, em condição de sol pleno. Na situação das florestas urbanas do Rio de Janeiro, ela é extremamente frequente, em função de usos anteriores da floresta, seja para plantio de cana e café ou para a exploração do carvão, a partir do século XIX. Ocorre em grande parte das ruínas de carvoeiros do Maciço da Pedra Branca. Uma pesquisa lançou algumas luzes sobre a sua situação de ocorrência (OLI-VEIRA et al., 2013): a) Guarea guidonia é uma espécie pioneira, que dificilmente germina em clareiras naturais. Nas condições onde ocorre no Maciço da Pedra Branca não foi observado o seu recrutamento; b) apesar de ser uma espécie pioneira e de crescimento rápido, é longeva, podendo chegar a mais de 150 anos; e c) os exemplares de Guarea guidonia de grande porte e encontrados em baixas densidades nas ruínas e carvoarias estudadas nasceram em condição de clareiras artificiais (exploração do carvão no século XIX ou roças). Assim, Guarea guidonia é uma espécie indicadora do histórico de intervenção do homem sobre o ambiente florestado (Figura 16). O fato de se tratar de uma espécie longeva contribui para que se possa conhecer e mapear áreas utilizadas pelos carvoeiros a partir de meados do século XIX.

Figura 16: Exemplar de carrapeta (Guarea guidonia) no Maciço da Pedra Branca. Trata-se de espécie pioneira. Exemplar com idade estimada superior a 100 anos

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Conclusões

Estudos que combinam a Arqueologia da Paisagem com a Antracologia, a História Am-biental ou a Ecologia Histórica permitem um alargamento de horizontes, ainda mais se cotejados com o contexto histórico e social em que o carvão foi produzido. Como se pode constatar, é muito amplo o espectro de resultantes ambientais do uso da paisagem por populações passadas. Portanto, dentre as dimensões de estudos como o que estamos a apresentar, pelo menos três se destacam. Em primeiro lugar, o alargamento da compreensão da cultura de populações cujos registros escritos são por demais escassos e as tradições orais estão se perdendo, ou já se extin-guiram com a própria população. Em segundo, temos uma releitura da ideia de floresta intocada e de sua representação como valor. Um grande número de remanescentes florestais do Sudeste brasileiro foi intensamente usado no passado pelos carvoeiros. Em terceiro lugar, destacamos a onipresença da atividade carvoeira na paisagem florestal do Sudeste brasileiro, ao mesmo tem-po que o agente (o carvoeiro) se situa como um elemento alijado da sociedade que lhe exigia a produção de energia.

O olhar sobre a paisagem enquanto categoria portadora de identidade histórica possibi-lita entender as interferências feitas por populações passadas, que, por sua vez, podem explicar padrões ecológicos do presente. Acreditamos que a paisagem florestal ao mesmo tempo esconde e evidencia aspectos de uma história pouco conhecida. Os carvoeiros se beneficiaram em muito pouco do seu trabalho, enquanto muitos lucraram com ele. Eles eram e são até hoje invisíveis do ponto de vista social, mas não tanto do ponto de vista arqueológico. Dessa história, os úni-cos documentos que eles nos deixaram foram marcas na paisagem, hoje transformada em belos parques, que escondem, em meio a uma densa floresta, uma intensa história de esquecimentos, injustiças e desigualdades.

AGRADECIMENTOS:

Rogério Ribeiro de Oliveira e Rúbia Graciele Patzlaff agradecem ao CNPq a concessão de bolsas de produtividade em pesquisa. Este estudo foi financiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código Financeiro 001.

Notas

1 Os “sambaquieiros”, ou construtores dos sambaquis, ocuparam o litoral brasileiro desde pelo menos 8.500 até cerca de 1.000 anos cal. AP. Deixaram como testemunho dessa ocupação sítios de diferentes tamanhos e características, construídos com conchas e contendo artefatos e ecofatos (vestígios do meio ambiente di-versos que passaram pela apropriação do ser humano), que marcam a paisagem ao longo da costa brasileira. Esses sítios são atualmente reconhecidos como construções intencionais, pelo menos em parte monumentos funerários ou cerimoniais e como locais de congregação social (DeBlasis et al. 2007).

2 Ofício de quem desbasta as toras esquadrinhando-as em tábuas.

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