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A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA FRENTE À MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA – UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE CORONEL VIVIDA – PR

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

ANA PAULA STASIAK

A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA FRENTE À MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE CORONEL VIVIDA

– PR

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

ANA PAULA STASIAK

A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA FRENTE À MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE CORONEL VIVIDA

– PR

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Produção do Espaço e Meio Ambiente

Orientador: Profª. Dra. Roselí Alves dos Santos

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Catalogação na Publicação (CIP)

Sistema de Bibliotecas - UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão

Stasiak, Ana Paula

S796 A agroecologia como alternativa frente à modernização da agricultura: um estudo de caso no município de Coronel Vivida. / Ana Paula Stasiak. – Francisco Beltrão, 2013.

242 f.

Orientadora: Profª. Dra. Roselí Alves dos Santos.

Dissertação(Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Francisco Beltrão.

1. Agroecologia - Coronel Vivida - Paraná. 2. Agricultura - Modernização. 3. Território. 4. Desenvolvimento rural I. Santos, Roselí Alves dos. II. Título.

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A DEUS pela graça da vida e dom da sabedoria.

A minha mãe Ivone Stasiak, amiga, companheira e conselheira, em todos os momentos durante o desenvolvimento dessa pesquisa. A ela cabe grande parte do mérito desta caminhada.

Ao meu pai Benjamim Stasiak e irmãos, Cleber Stasiak e Jean Carlos Stasiak, pelo amor, amizade e companheirismo, em toda a minha vida.

Ao meu querido Mario Selmo Lasta pela compreensão e companheirismo nos trabalhos de campo, auxiliando na localização dos estabelecimentos pesquisados. Agradeço-lhe por toda a paciência, amizade e amor dedicados nesse período de recém casados, conciliados com a trajetória do mestrado.

A minha orientadora Roselí Alves dos Santos pelo apoio, amizade, orientação e compreensão durante a realização desta pesquisa.

Ao professor Marcos Aurélio Saquet por me orientar no início da trajetória do mestrado e, igualmente, ao professor Luciano Candiotto pelas contribuições na banca de qualificação.

Aos agricultores, que concordaram em participar desta pesquisa, pela amizade com que me receberam e pelas contribuições indispensáveis.

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A AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA FRENTE À MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE CORONEL VIVIDA

– PR

RESUMO

A agricultura agroecológica surge de movimentos sociais em favor de um desenvolvimento rural sustentável, baseado nas condições ambientais, sociais e econômicas. A Agroecologia é apresentada como alternativa a modernização da agricultura visando reparar os danos ambientais e prejuízos sociais causados pela tecnologia disseminada pela revolução verde e adotada pelo Estado brasileiro como política desenvolvimentista baseada no crescimento econômico. Com o objetivo de analisar a Agroecologia como alternativa frente ao processo de modernização da agricultura e as diferentes territorialidades proporcionadas pelas duas formas de produção, assim como, identificar os limites e dificuldades de territorialização das práticas agroecológicas em Coronel Vivida, realizou-se revisão bibliográfica sobre o tema abordado e trabalho de campo, com aplicação de questionário dirigido à onze agricultores familiares que compõem três grupos distintos relacionados com a Agroecologia no município: 1) Agricultores Convencionais – com SAFs; 2)Agricultores Agroecológicos; 3)Agricultores Convencionais – Ex-Agricultores Agroecológicos. E entrevistas com representantes de instituições ligadas a agricultura familiar e a Agroecologia que atuam no município. O estudo desses três grupos que apresentaram organizações produtivas e comerciais diferentes nos permitiu constatar o processo de territorialização e desterritorialização simultâneas das práticas agroecológicas, prevalecendo esse último. Outra metodologia utilizada para caracterizar os estabelecimentos sustentáveis, baseados nos princípios agroecológicos, assim como, diferenciar as paisagens constituídas foi à análise através de croquis e fotografias dos estabelecimentos em estudo. O presente texto aponta as principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores do município em relação à produção agroecológica, assim como, os principais fatores que influenciaram no abandono de práticas agroecológicas por parte dos ex-agricultores agroecológicos de Coronel Vivida.

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THE AGRO-ECOLOGY ALTERNATIVE FACED ON THE AGRICULTURE MODERNIZATION - A CASE REPORT IN CORONEL VIVIDA TOWN

ABSTRACT

The agro-ecological farming has got started by social movements in favor to the rural sustainable development based on environmental, social and economic. Agroecologyis presented as an alternative to modernization of agriculture that repair environmental damage and social damage caused by the green revolution technology disseminated and adopted by the Brazilian government as a development policy based on the economic growth. This paper aims to analyze the agro-ecology alternatively forward the modernization process of the agriculture and the different territorialities provided by the two forms of production, as well as identify the limits and difficulties of territorial agro-ecological practices in Coronel Vivida, held bibliographic review the topic addressed and fieldwork, using a questionnaire addressed to eleven farmers who have comprised three distinct groups related to agro-ecology in the town: Farmers Convention – with SAFs; 2) Agro-ecological Farmers; 3) Farmers Convention-Former Agro-ecological Farmers. And interviews with representatives of institutions related to agriculture and agroecology family whose work is in the town. The study of these three groups with different production and commercial organizations had allowed us to observe the process of territorialization and deterritorialization of simultaneous agro-ecological practices, the latter prevails. Another methodology used to characterize the properties sustainable, based on agro-ecological principles, as well as differentiate the analysis was made landscapes through sketches and photographs of the properties studied. This paper outlines the main difficulties faced by the town farmers relationed to agro-ecological production, as well as the main factors which have influenced the abandonment of agro-ecological practices by the Coronel Vivida agro-ecological farmers.

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO

FIGURA 01 - Em busca de uma agricultura sustentável ... 89

FIGURA 02- Modelos para arranjo de árvores em sistemas agroflorestais ... 100

FIGURA 03 - Mapa com a localização dos estabelecimentos pesquisados em Coronel Vivida ... 130

FIGURA 04 -Estabelecimento convencional - ex- agricultor agroecológico N.V ... 155

FIGURA 05 - Estabelecimento com agrofloresta do agricultor A.D ... 184

FIGURA 06- Estabelecimento agroecológico de A.L ... 200

GRÁFICO 01 - Área média em hectares dos estabelecimentos pesquisados em Coronel Vivida ... 132

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LISTA DE FOTOS

FOTO 01- Agroindústria comunitária- Retiro do Pinhal, Coronel Vivida ... 85

FOTO 02 - Produção de repolho e temperos no estabelecimento de D.G ... 152

FOTO 03- Produção de mudas no estabelecimento de D.G ... 153

FOTO 04 - Cultivo de alface no estabelecimento de N.V ... 157

FOTO 05- Cultivo de abobrinha e repolho no estabelecimento de J.L ... 159

FOTO 06 - Produção agroartesanal de massas no estabelecimento de M.G ... 161

FOTO 07 - Intercâmbio em Sistema Agroflorestal no município de Barra do Turvo - SP ... 167

FOTO 08 - Mutirão para implantação de Agrofloresta no establecimento de J.Z .... 173

FOTO 09 - Área de agrofloresta no estabelecimento de A.D ... 174

FOTO 10 - Área destinada para Agrofloresta no estabelecimento de G.V ... 175

FOTO 11 - Muda frutífera entre plantas espontâneas na Agrofloresta de G.V ... 177

FOTO 12 - Hortaliças orgânicas cultivadas no estabelecimento de J.Z ... 179

FOTO 13 - Algumas atividades agropecuárias realizadas no estabelecimento de J.Z ... 180

FOTO 14- Mudas de pinheiro e vegetação espontânea na agrofloresta de J.Z ... 182

FOTO 15 - Ervilhaca - adubação verde na agrofloresta de A.D ... 183

FOTO 16- Cultivo de hortaliças orgânicas (brócolis, beterraba e feijão de vagem) no estabelecimento de A.V ... 195

FOTO 17 - Cultivo de hortaliças orgânicasl no estabelecimento de J.V ... 197

FOTO 18 - Sistema de compostagem desenvolvido pelo agricultor A.L ... 202

FOTO 19 - Área de policultivos no estabelecimento agroecológico de A.L ... 203

FOTO 20 - Cultivos de hortaliças, cana-de-açúcar, feijão e milho agroecológicos no estabelecimento de A.L ... 205

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - Eventos e alertas de advertência sobre a insustentabilidade dos

processos de desenvolvimento convencional ... 23

QUADRO 02 - Trabalhos importantes na história da Agroecologia ... 53

QUADRO 03 - Principais conceitos e compreensões da Agroecologia ... 69

QUADRO 04 - Sistemas de garantia da qualidade de produtos orgânicos ... 87

QUADRO 05 - Principais diferenças entre as duas linhas dos Sistemas Agroflorestais ... 95

QUADRO 06 - Breve Histórico sobre os principais acontecimentos que envolvem a agricultura alternativa no Paraná ... 105

QUADRO 07 - Principais entidades de apoio à agricultura orgânica/agroecológica no sudoeste do Paraná ... 116

QUADRO 08 - Caracterização geral dos estabelecimentos pesquisados ... 129

QUADRO 09 - Aspectos produtivos da agricultura orgânica dos ex- agricultores agroecológicos ... 141

QUADRO 10 - Aspectos qualitativos em relação a produção orgânica dos ex-agricultores agroecológicos ... 145

QUADRO 11 - Níveis de conversão a um desenho e manejo sustentável do agroecossistema ... 147

QUADRO 12 - Concepções teóricas dos agricultores convencionais ex-agricultores agroecológicos ... 149

QUADRO 13 - Aspectos qualitativos do trabalho técnico no projeto "Tecnologias Ecológicas" ... 168

QUADRO 14 - Concepções teóricas dos agricultores convencionais que implantaram os SAFs ... 170

QUADRO 15 - Principais espécies plantadas nas agroflorestas de Coronel Vivida , principais dificuldades e vantagens apontadas pelos agricultores ... 172

QUADRO 16 - Concepções teóricas do grupo de agricultores agroecológicos ... 188

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG: Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais ACOPA: Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná ANA: Articulação Nacional de Agroecologia

ASSESOAR: Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural APORPI: Associação dos Produtores Orgânicos do Retiro do Pinhal APROLEITE: Associação de Produtores de Leite

ATER: Assistência Técnica de Extensão Rural BACEN: Banco Central do Brasil

BNDES: Banco Nacional do Desenvolvimento

CAPA: Centro Paranaense de Apoio ao Pequeno Agricultor

CEAVI: Central de Associações de Produtores Rurais em Coronel Vivida CEEAL: Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe

CEDRAF: Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar CEPAGRO: Centro de Profissionalização em Agroindustrialização

CCFD: Comitê Contra a Fome e Desenvolvimento

CITLA: Companhia de Colonização Clevelândia Industrial e Territoria – LTDA CLAF: Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar

CMMAD: Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento COOPERA: Cooperativa de Consumidores de Produtos Integrais

COOPERIGUAÇÚ: Cooperativa de Prestação de Serviços

CPOrg-PR: Comissão de Produção Orgânica no Estado do Paraná CPRA: Centro Paranaense de Referência em Agroecologia

CRESOL: Sistema de Cooperativas de Crédito Rural, com Interação Solidária EBAA: Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa

EED/PPM: Serviços das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento e Pão Para o Mundo

EMATER: Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural FAO: Organização das Nações Unidas para Alimentação

FETAEP: Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná

FETRAF-SUL: Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul do Brasil

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GEAE: Grupo de Estudos da Agricultura Ecológica

GETSOP: Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná IAF: Fundação Interamericana

IAPAR: Instituto Agronômico do Paraná

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFPR: Instituto Federal do Paraná

IPD: Instituto de Promoção do Desenvolvimento IVV: Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural MAELA: Movimento de Agroecologia Latino Americano MAPA: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário

ONG: Organização Não Governamental ONU: Organização das Nações Unidas PAA: Programa de Aquisição de Alimentos PAG: Programa de Pesquisa em Agroecologia PMSS: Programa Mercosul Social e Solidária PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura SAFs: Sistemas Agroflorestais

SEAB: Secretária da Agricultura e Abastecimento

SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEED: Secretaria do Estado da Educação

SLOTs: Sistemas Locais Territoriais

SMAB: Secretária de Agricultura e Abastecimento de Curitiba SNCR: Sistema Nacional de Crédito Rural

STR: Sindicato dos Trabalhadores Rurais TECPAR: Instituto de Tecnologia do Paraná UFFS: Universidade Federal Fronteira Sul

UNEP: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente UPVF: Unidade de Produção e Vida Familiar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO 1. AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 20

1.1. A BUSCA POR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 29

1.2. O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL ... 38

CAPÍTULO 2. A GÊNESE E PRINCÍPIOS DA AGROECOLOGIA ... 51

2.1. O AGROECOSSISTEMA E OS ASPECTOS ECOLÓGICOS, SOCIOCULTURAIS, TÉCNICO-PRODUTIVOS E COMERCIAIS ... 71

2.1.1. Aspectos ecológicos ... 72

2.1.2. Aspectos sociais ... 75

2.1.3. Aspectos técnico-produtivos e de comercialização ... 79

2.2. OS SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAFS) E A APROXIMAÇÃO COM A AGROECOLOGIA ... 91

CAPÍTULO 3. A AGROECOLOGIA NO SUDOESTE DO PARANÁ ... 103

3.1. A AGROECOLOGIA NO PARANÁ E NO SUDOESTE DO PARANÁ ... 103

3.1.1. Entidades do Sudoeste paranaense que atuam no município de Coronel Vivida. . 117 CAPÍTULO 4. OS LIMITES À TERRITORIALIZAÇÃO DA AGROECOLOGIA EM CORONEL VIVIDA ... 127

4.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL... 127

4.2. AGRICULTORES CONVENCIONAIS – EX- AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS ... 138

CAPÍTULO 5. A TERRITORIALIZAÇÃO DA AGROECOLOGIA EM CORONEL VIVIDA . 166 5.1 SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM CORONEL VIVIDA ... 166

5.2. AGRICULTORES AGROECOLÓGICOS ... 187

5.3. LIMITES E PERSPECTIVAS NO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DA AGROECOLOGIA EM CORONEL VIVIDA ... 208

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 212

REFERÊNCIAS ... 217

ENTREVISTAS ... 222

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INTRODUÇÃO

Coronel Vivida é um município localizado na mesorregião sudoeste do Paraná. Sua economia está baseada na produção e comercialização agrícola, com predominância de pequenos estabelecimentos ocupados pela agricultura familiar (87%). As práticas da agricultura convencional, baseadas na tecnologia disseminada pela Revolução Verde, estão presentes na grande maioria dos estabelecimentos.

O número de estabelecimentos que desenvolviam práticas agrícolas alternativas, no município, em 2006, segundo dados do IBGE, continha maior expressividade, totalizando nove estabelecimentos certificados. Atualmente encontram-se certificados apenas três estabelecimentos. Dessa forma, faz-se necessário entender os fatores limitantes à constituição de uma agricultura de base sustentável em Coronel Vivida.

Com a modernização tecnológica, foi introduzida na agricultura brasileira uma base industrial que promoveu maior artificialização nos sistemas agrícolas, por meio da inserção de insumos químicos, mecanização e modificação genética na produção. Esses fatores, aliados ao redirecionamento da produção para monocultura de grãos destinados, principalmente, para a exportação, promoveu a subordinação do agricultor à indústria e à lógica mercantil.

A agricultura convencional baseada na lógica desenvolvimentista do capitalismo, condicionada ao crescimento econômico e ao uso irracional dos recursos naturais, são práticas que não promovem um desenvolvimento sustentável baseado no tripé econômico, social e ambiental, pois, têm por objetivo o crescimento econômico.

Para otimizar outras dimensões da atividade agrícola constituintes do território, necessita-se adotar alternativas sustentáveis, entre elas as práticas agroecológicas baseadas em princípios ecológicos e menos dependente de insumos externos, destinada à produção de alimentos saudáveis para comercialização em nível local e regional, gerando maior autonomia produtiva e comercial para o agricultor.

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Com a finalidade de analisar a produção agroecológica, frente à modernização da agricultura, e compreender os diferentes territórios formados pelas duas categorias em Coronel Vivida, descreve-se, nesta pesquisa, a territorialização da produção agroecológica no município.

A metodologia utilizada neste estudo foi adaptada a partir de um questionário aplicado em projeto de extensão a cerca da produção agroecológica desenvolvida pelo Grupo de Estudos Territoriais – GETERR da UNIOESTE campus de Francisco Beltrão e, no caso desta pesquisa, constitui-se em: a) Revisão bibliográfica sobre as concepções de desenvolvimento, território, história e princípios da Agroecologia e dos Sistemas Agroflorestais; b) Entrevistas a representantes de entidades ligadas à agricultura familiar e gestores do município; c) Aplicação de questionários dirigidos à 11 agricultores familiares que formam três grupos distintos em relação à organização dos seus estabelecimentos, mas que estão ou estiveram vinculados a formas alternativas de produção agropecuária.

Os grupos pesquisados são compostos por três agricultores agroecológicos que possuem mais de 10 anos desta prática, no município (1 - Agricultores Agroecológicos), três agricultores convencionais que a partir de 2010 implantaram em seus estabelecimentos Sistemas Agroflorestais baseados em princípios agroecológicos através do projeto “Tecnologias Ecológicas” desenvolvido pela entidade ASSESOAR (2- Agricultores Convencionais com SAFs), e por fim cinco agricultores convencionais do município que abandonaram a prática agroecológica (3- Agricultores Convencionais – ex Agricultores Agroecológicos).

Optou-se pela delimitação destes três grupos, pois os mesmos representam situações distintas em relação à agricultura agroecológica no município. O grupo de agricultores convencionais com SAFs é formado de famílias que exercem atividades agrícolas convencionais, mas que apresentam, de certa forma, uma consciência ecológica e se dispuseram a implantar, em seus estabelecimentos, um sistema de produção baseado em princípios agroecológicos.

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Produtores Orgânicos do Retiro do Pinhal (APORPI), formada pelo grupo de agricultores orgânicos da comunidade Retiro do Pinhal no ano de 2000.

Os ex-agricultores agroecológicos que compõem esta pesquisa são aqueles que continuam a desenvolver atividades agrícolas em seus estabelecimentos, sendo que um dos agricultores arrenda a terra, na comunidade do Retiro do Pinhal, no entanto, com outra lógica produtiva.

O grupo de agricultores agroecológicos compreende a famílias que implantaram uma agricultura alternativa em relação à agricultura moderna. Esses estabelecimentos apresentam uma lógica produtiva e territorialidade distinta dos demais grupos.

Desta forma, define-se a abrangência territorial da agricultura agroecológica em relação à agricultura convencional, pelo viés da análise das condições de produção, comercialização e concepções dos três grupos em questão.

O processo de territorialização e desterritorialização da Agroecologia no município é caracterizado pelos dados obtidos em entrevistas com os três grupos de agricultores e entidades (ASSESOAR, STR, CRESOL) articuladas de alguma forma com a agricultura agroecológica em Coronel Vivida, além do Departamento de Agricultura e a EMATER do município que não atuam diretamente com a tal agricultura específica.

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pesquisados. Constata-se que a prática agroecológica contribui para uma paisagem mais complexa e diversificada do que nos sistemas convencionais.

O presente texto é constituído de cinco capítulos distribuídos da seguinte forma: no primeiro analisou-se as diferentes concepções de desenvolvimento – desenvolvimento baseado no crescimento econômico, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento territorial – a partir dessas análises entendeu-se as diferentes estratégias adotadas entre a agricultura convencional e a Agroecologia.

O segundo capítulo compreende uma revisão teórica da gênese e dos princípios da Agroecologia. Nesse capítulo, é descrita a história da Agroecologia, assim como, elencadas as diferentes compreensões e conceitos em relação à definição da Agroecologia entre os autores consultados. Apesar da falta de consenso na academia em torno da definição do conceito, delimitam-se, neste capítulo, os princípios teóricos da Agroecologia. Afora isso, foram descritos os principais aspectos ecológicos, sociais, técnico-produtivos e comerciais constituintes dos agroecossistemas – área de estudo e atuação da Agroecologia. A partir dos princípios agroecológicos analisa-se os Sistemas Agroflorestais na perspectiva agroecológica.

No terceiro capítulo é realizado um breve histórico de movimentos em favor de uma agricultura alternativa no estado do Paraná e apresentado dados de fontes secundárias, como o IBGE, SEAB e IAPAR, sobre produção e comercialização agroecológica no estado e na mesorregião Sudoeste paranaense. Aliás, destaca-se, neste capítulo, a atuação das entidades não governamentais na divulgação e afirmação de práticas agroecológicas na região e a atuação de algumas entidades em Coronel Vivida.

No quarto capítulo realizou-se uma caracterização geral dos três grupos de agricultores pesquisados, através da localização dos estabelecimentos pesquisados no município (FIGURA 03) e análise da estrutura fundiária e rendas médias dos onze estabelecimentos estudados.

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encontrados pelos agricultores, demonstra deficiências políticas, econômicas e de concepção de desenvolvimento em relação à Agroecologia em Coronel Vivida.

No quinto capítulo apresentou-se o processo de territorialização da Agroecologia no município. Verificou-se a iniciativa agroecológica incentivada pela ASSESOAR e entidades locais, por meio do projeto “Tecnologias Ecológicas”, que implantou no município três SAFs em estabelecimentos convencionais e por fim, foram analisados os estabelecimentos agroecológicos, comparando as vantagens e os benefícios em relação à produção convencional, assim como as dificuldades e limites apontados pelos agricultores nesta forma de cultivos.

(21)

20

CAPÍTULO 1. AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O estudo da Agroecologia como alternativa à modernização da agricultura no município de Coronel Vivida – PR remete a diferentes concepções produtivas e organizacionais. A agricultura moderna predominante nas áreas rurais do município está articulada ao mercado e às políticas nacionais de produção agrícola, a qual se baseia na concepção de desenvolvimento disseminado pelo capitalismo, onde o crescimento econômico é primordial.

A modernização da agricultura baseou-se na industrialização do processo produtivo e na subordinação da agricultura à lógica do mercado capitalista. As formas alternativas de agricultura, em especial as tradicionais, estão, de certa forma, marginalizadas pelo mercado e pelo poder institucionalizado do Estado. A prática da Agroecologia e os Sistemas Agroflorestais fazem parte do grupo das agriculturas alternativas, que possuem um processo produtivo, no qual, há uma maior preocupação ambiental e social.

Assim, busca-se entender o processo de territorialização e desterritorialização da Agroecologia no município, através do estudo de onze unidades familiares, onde três famílias são de produtores agroecológicos, outras três estão implantando Sistemas Agroflorestais e cinco famílias que desistiram da prática agroecológica para voltar à agricultura convencional.

A Agroecologia, assim como outras formas de agriculturas alternativas, partem da crítica do modelo implantado pela Revolução Verde, pois vê, no mesmo, uma prática produtiva insustentável do ponto de vista ecológico e social. Assim, o estudo das concepções de desenvolvimento se faz importante para compreender as diferenças entre a Agroecologia e a agricultura convencional.

(22)

O conceito de “desenvolvimento” que vem sendo adotado pelas empresas capitalistas e pelos Estados, em nível mundial, busca o crescimento econômico dos países baseado na exploração irracional dos recursos naturais e na desigualdade social excluindo deste processo: o meio ambiente e a sociedade.

Segundo Leff (2005), a noção de desenvolvimento surge com a racionalidade econômica a qual constitui um conjunto de teorias e práticas que estão ligadas ao modo de produção capitalista.

A racionalidade capitalista esteve associada a uma racionalidade científica e tecnológica que busca incrementar a capacidade de certeza, previsão e controle sobre a realidade assegurando uma eficácia crescente entre meios e fins. O saber ambiental questiona a racionalidade científica como instrumento de dominação da natureza e sua pretensão de dissolver as externalidades do sistema através de uma gestão racional do processo de desenvolvimento (LEFF, 2005, p.136).

Para Leff (2005), a ideia de desenvolvimento disseminado pela racionalidade econômica está intimamente atrelada ao sistema capitalista o qual busca criar meios

cujo fim seja o controle da natureza através das forças produtivas. Esse “controle” tem como objetivo atingir o máximo de desenvolvimento econômico, no entanto, os custos socioambientais não são considerados, por isso, a noção de desenvolvimento disseminada por essa racionalidade não abrange a noção de sustentabilidade. Para promover o desenvolvimento sustentável, busca-se a construção de uma racionalidade ambiental.

Dando continuidade a essa perspectiva, Leff (2005) aponta que a construção de uma racionalidade ambiental se dá a partir da destruição da racionalidade capitalista, através da substituição de paradigmas, visando a transição para um desenvolvimento sustentável. Para o autor é indispensável a constituição de uma “consciência ecológica; o planejamento transetorial da administração pública e a participação da sociedade na gestão de recursos ambientais; a reorganização interdisciplinar do saber, tanto na produção como na aplicação de conhecimento” (p.135).

(23)

racionalidade ambiental deve se diferenciar pelo seu enfoque na qual a natureza não seja vista como mera fonte de recursos naturais para o desenvolvimento econômico. Para Leff (2005, p.135),

a categoria de racionalidade ambiental integra os princípios éticos, as bases materiais, os instrumentos técnicos e jurídicos e as ações orientadas para a gestão democrática e sustentável do desenvolvimento; por sua vez, converte-se num conceito normativo para analisar a consistência dos princípios do ambientalismo em suas formações teóricas e ideológicas, das transformações institucionais e programas governamentais, assim como dos movimentos sociais para alcançar estes fins. Neste sentido, a categoria de racionalidade ambiental funciona como um conceito heurístico que orienta e promove a praxeologia do ambientalismo e que ao mesmo tempo permite analisar a eficácia dos processos e das ações “ambientalistas”.

A década de1960 representa o marco inicial sobre os questionamentos dos problemas ambientais. A questão da sustentabilidade decorreu de uma crise ambiental que começava a se manifestar em função do modelo de agricultura que estava se impondo e do modelo energético e tecnológico adotados em nível mundial. Esses questionamentos partem de movimentos sociais especialmente do campo e nos espaços acadêmicos.

Neste período, vinha ocorrendo a denominada modernização da agricultura brasileira baseada na utilização de insumos exógenos e ligada diretamente à industrialização. Assim, passa-se por uma mudança no processo produtivo com a progressiva utilização de agroquímicos e a utilização de maquinários na produção. Isso agravou os problemas ambientais ligados à agricultura e despertou movimentos contrários ao processo da agricultura convencional que estava atrelada ao conceito de desenvolvimento econômico defendido pelo governo brasileiro da época.

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Ano Obras/Eventos Repercurssões/Alertas 1962  “Primavera Silenciosa” (Rachel

Carson)

 Impactos dos Agrotóxicos (organo-clorados) sobre a saúde e o meio ambiente (cadeia tróficas). 1970

a 1972

 Primeiro trabalho do clube de Roma

-“Blueprint for survival” (Dennis e Donella Meadows).

-“Limites do crescimento (Meadows et.al)

 Primeiros estudos oficiais (modelagem)

 É impossível o crescimento econômico infinito com recursos naturais finitos.

 Alertas para a necessidade de outro enfoque de desenvolvimento, menos agressiva ao meio ambiente.

1972  Conferência de Estocolmo  Sociedades ricas “descobrem” a existência de um

só mundo.

 A culpa é dos subdesenvolvidos.  Criação do PNUMA.

1973  “Smaill is beautiful” (E.F.

Shumacher) – Traduzido para “El pequeño es hermoso” e “O negócio é ser pequeno”

 O desenvolvimento pode ser sustentável se for baseado na pequena propriedade. É viável economicamente e mais integrado à natureza.

1974  Segundo trabalho do Clube de Roma

-“La humanidad ante La encrucijada”

(MihanhjiloMesarovic)

 As crises atuais não são passageiras e suas soluções só podem ser alcançadas no contexto do sistema mundial.

 A busca de soluções exige cooperação e a adoção de estratégias não tradicionais.

1976  Terceiro trabalho do Clube de

Roma (Jan Tinbergen)  As soluções requerem uma “nova ética global” baseada na “cooperação”.

1980  Informe Global 2000

(encomendado pelo presidente Carter – EUA)

 Diagnóstico: a vida no planeta está ameaçada.  Conclusão: o modelo de desenvolvimento não é

extensível. O estilo de vida do “norte” não pode chegar a todos, pois o planeta não suportaria.

1987  Informe Burtland (Nosso Futuro

Comum) da CMMAD  Conceito oficial de Desenvolvimento Sustentável (proposições ainda centradas no crescimento econômico)

1992  Rio 92 (Conferência sobre o

Meio Ambiente e

Desenvolvimento)

 Carta da Terra

 Agenda 21 (Código de Comportamento para o século XXI)

 Carta climática

- Ações para evitar os efeitos da mudança em andamento.

- Acordos sobre Biodiversidade.

1996  Conferência da Alimentação

(Roma)  FAO e Banco Mundial: há alimentos para todos. O problema é de distribuição e de capacidade de acesso aos alimentos.

 Meta: reduzir a fome de 50% dos famintos até2025.

1997  Rio + 5  Alerta: “nada mudou”.

2002*  Rio +10 (Conferência de

Johanesburg)

 Retomada dos debates e avaliação dos resultados da Rio 92.

 Problemas gerados pela globalização. 2012

**  Rio + 20  Retomada sobre a implantação de ações para o desenvolvimento sustentável  Reafirmação do compromisso de implantação da

Agenda 21;

 Implantação da Economia Verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.

QUADRO 01 - Eventos e alertas de advertência sobre a insustentabilidade dos processos de desenvolvimento convencional

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Consoante o QUADRO 01, observa-se que a preocupação central se dá em torno da temática ambiental e de desenvolvimento de base sustentável. Até meados da década de 1970, com exceção da Conferência de Estocolmo, a preocupação era estritamente ambiental e tinha por base questões pontuais, a partir desse período, observa-se um movimento global incluindo as instituições internacionais como a FAO e o Banco Mundial. No entanto, os objetivos econômicos sempre foram priorizados.

De acordo com Leff (2005), o discurso sobre o desenvolvimento sustentável foi oficializado e difundido amplamente com base na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992. No entanto, a consciência ambiental teria surgido na década de 1960, com a obra de Rachel Carson “Primavera Silenciosa”, na qual a autora aborda os problemas ambientais e para a saúde humana causados pelo uso de agrotóxicos e se expandiu nos anos 1970 com a conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.

Nessa conferência, já se tinha a consciência de que era necessário um novo enfoque de desenvolvimento devido às agressões causadas pelo processo produtivo ao meio ambiente. Foi a partir da conferência de Estocolmo que, segundo Sachs (2009), a questão ambiental foi colocada pela primeira vez na agenda internacional.

Leis (1996, p.117) já afirmava que nessa conferência é que se “registrou o começo da preocupação ambiental do sistema político (governos e partidos)”, pois, foi, nessa década, que surgiram e se expandiram agências estatais de meio ambiente, assim como do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). O autor enfatiza que o ambientalismo foi evoluindo e alcançando diferentes esferas com o passar das décadas do século XX, assim:

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Observa-se, nesta leitura do autor, que as preocupações ambientais tornaram-se multissetoriais e o discurso de desenvolvimento sustentável, hoje, já abrange desde a sociedade civil, cientistas, Estado, chegando ao mercado. O que se questiona é: até em que ponto o Estado e mercado estão preocupados com as questões ambientais? Será que os mesmos serão capazes de abrir mão da ordem e racionalidade dominantes em benefício das presentes gerações e das gerações futuras? Essa preocupação não seria apenas mais um discurso?

No entanto, o que é importante destacar é que os questionamentos levantados e o processo na mudança da mentalidade já estão dando os primeiros passos. As indagações sobre o desenvolvimento, quando efetivadas por diferentes setores da sociedade, em especial os movimentos sociais, favorecem a possibilidade do surgimento de uma nova racionalidade, mesmo que de forma tímida, mas que contribui para ações voltadas para mudança

Leis (1996) avalia que nenhuma conferência realizada antes da “Rio 92” teve tanta importância nas discussões relativas ao meio ambiente. Principalmente pela representatividade composta por chefes de Estados e de organizações não-governamentais.

No entanto, o autor afirma que a década de 1990 se destacou por apresentar outras cúpulas realizadas pela ONU, como a Viena-93 (conferência mundial sobre os direitos humanos) e a Cairo-94 (conferência internacional sobre a população) que produziram importantes documentos e demonstraram preocupações sobre o tema, mas não garantiram nenhum mecanismo efetivo de alcance global para proteger os direitos humanos, o meio ambiente e a população mundial.

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) das nações unidas apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável em 1987, envolvendo três condições básicas:

(1) a condição paretiana de que seja assegurada, pelo menos, a manutenção do bem-estar dos que hoje vivem nas economias avançadas; 2) o requisito de se dar absoluta prioridade ao atendimento das “necessidades básicas dos pobres de todo o mundo”; (3) a condição fundamental de que tudo isso seja feito “sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas necessidades (MUELLER, 1999, p. 514).

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desenvolvimento sustentável, busca-se a manutenção das mesmas estruturas sociais na qual as condições de consumo se mantenham e as desigualdades entre países também. Além disso, tal definição apresenta-se com enfoque e preposições centradas no crescimento econômico a qual visa à preservação dos recursos naturais, para que o processo de desenvolvimento econômico possa continuar.

De acordo com Leff (2005, p.21), o conceito de desenvolvimento sustentável disseminado pela “Rio 92” foi sendo vulgarizado até fazer parte do discurso oficial e da linguagem comum. Então, não se estabeleceu “um sentido teórico e prático capaz de unificar as vias de transição para a sustentabilidade”.

Para o autor, há constituição de um neoliberalismo ambiental que vê a sustentabilidade aliada ao crescimento econômico, sendo que o mesmo procura internalizar as condições ecológicas da produção afirmando que o livre mercado é o meio eficaz de assegurar o equilíbrio ecológico e a igualdade social. A degradação ambiental causada pelos processos produtivos, distribuição e circulação seria revertida a partir da tecnologia.

Essa lógica de desenvolvimento baseada na equação do crescimento, sociedade e meio ambiente, mediante a adoção de um otimismo tecnológico (excludente do ponto de vista socioambiental), pode ser compreendida a partir de Caporal e Costabeber (2007) que, através dos conceitos de corrente Ecotecnocrática e Ecossocial, trarão elementos para a discussão sobre a sustentabilidade. A corrente Ecotecnocrática, que trata sobre a sustentabilidade,

parte da necessidade de um crescimento econômico continuado – ainda que aceitando os limites impostos pela natureza -, tenta por um lado resolver a equação entre crescimento, sociedade e meio ambiente mediante a adoção do otimismo tecnológico e de artifícios econômicos (...) tenta solucionara problemática socioambiental e os limites ao crescimento, mediante mecanismos de mercado, como podem ser o estabelecimento de preços a produtos e serviços da natureza, a cobrança de taxas de impostos pela deterioração ambiental ou o artifício de internalização das externalidades (CAPORAL e COSTABEBER, 2007,P.82).

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O ecodesenvolvimento, noção de desenvolvimento defendida por Sachs e seus seguidores, sugere a ideia de uma racionalidade ampliada por duas dimensões: “a solidariedade diacrônica com respeito às gerações futuras, mas sem esquecer a solidariedade sincrônica, que deve ser estabelecida entre as gerações presentes” (CAPORAL E COSTABEBER, 2007, p.82).

Conforme Sachs (1999, p.52-53) qualquer plano de desenvolvimento deve levar em consideração cinco aspectos de viabilidade: a viabilidade social (construir uma civilização com melhor distribuição de riquezas e rendas, diminuindo a desigualdade social); a viabilidade econômica (repartição e gestão eficiente dos recursos e menor desigualdade econômica entre países); viabilidade ecológica (intensificar a exploração dos recursos de diversos ecossistemas, causando menores riscos aos sistemas de manutenção de vida; reduzir o uso de combustíveis fósseis e não-renováveis; reduzir a utilização de bens materiais; criar tecnologias limpas entre outras ações); viabilidade espacial (obter um equilíbrio entre a cidade e campo e melhor distribuição das atividades econômicas e população pelo território) e viabilidade cultural (valorização dos aspectos culturais como solução para cada ecossistema).

Segundo Caporal e Costabeber (2007), os enfoques culturalistas e ecossocialistas, partem da crítica à corrente liberal. O enfoque culturalista defende a cultura como principal instância da relação do ser humano com a natureza, criticando os que tentam subordinar a natureza à economia, pois, esta não seria somente fonte de recursos materiais, mas, também, espiritual. Os ecossocialistas criticam o mercado pela incapacidade de resolver os desafios da pobreza e ambientais, ainda defendem um desenvolvimento que respeite os distintos modos de vida e culturas e que favoreça a preservação da biodiversidade (CAPORAL E COSTABEBER, 2007).

Já a teoria marxista ecológica “tenta explicar a partir de uma nova visão de mundo, uma nova perspectiva de transição ao socialismo, determinado pela dupla contradição do capitalismo” (CAPORAL E COSTABEBER, 2007 ,p.83), pois, o mesmo depende da exploração e da contaminação da natureza para continuar se reproduzindo.

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novos rumos nas estratégias de desenvolvimento” (CAPORAL e COSTABEBER 2007, p.84).

Segundo Caporal e Costabeber (2007), diferentemente da corrente ecotecnocrática, os autores da corrente ecossocial percebem que a conservação dos mesmos ritmos de produção, consumo e o controle do mercado no processo produtivo não leva a um desenvolvimento sustentável. No entanto, a abordagem criada pelo neoliberalismo, que também demonstra uma preocupação pelo tema da sustentabilidade, não provoca mudanças significativas nas estruturas sociais, pois, defende-se a regulação pelo mercado que se mostra cada vez mais o responsável pela degradação ambiental e pela desigualdade social entre nações.

O discurso político proferido por cada corrente possui interesses por vezes ocultos por de trás de teorias. Neste sentido, enquanto a corrente ecossocial reivindica mudanças estruturais profundas na sociedade, a corrente ecotecnocrática atribui a responsabilidade às tecnologias, para efetuar o desenvolvimento sustentável.

De fato, não se pode desprezar o desenvolvimento tecnológico e as ciências para alcançar uma nova forma de desenvolvimento, no entanto, não se deve limitar a esses aspectos esperando um equilíbrio natural entre a sociedade, a natureza e entre sociedades. O que se percebe é que o alcance de um desenvolvimento sustentável requer muitas práticas que vão ao contrário da ordem estabelecida e não partem de indivíduos isolados.

Portanto, há a urgência de políticas públicas que demonstrem preocupação com essa temática além da conscientização da sociedade em geral. Por muitas vezes, percebe-se que essa sociedade não tem a clareza da urgência de uma nova noção de desenvolvimento. Elas vêem no padrão convencional de produção e de consumo o modelo ideal de desenvolvimento cuja meta é alcançar o nível dos países desenvolvidos.

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1.1. A BUSCA POR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Neste texto, parte-se do princípio de que não há desenvolvimento sustentável baseado apenas no crescimento econômico onde os ecossistemas são vistos como “recursos” naturais ilimitados e a sociedade como “mão-de-obra” disponível para o mercado.

Segundo Sachs (2009), a efetiva construção de um desenvolvimento sustentável deve partir da emancipação social e da conservação do meio ambiente no qual o crescimento econômico esteja aliado ao “bem-estar” social e à sustentabilidade ambiental mantendo sua capacidade produtiva ao longo do tempo para atender às necessidades das atuais e futuras gerações.

A sociedade capitalista busca estabelecer suas bases através da exploração do trabalho humano e no valor de troca de suas mercadorias sendo que o valor de uso não é priorizado. Está na lógica capitalista a essência do desenvolvimentismo baseado no crescimento econômico. Assim, para Marx, o trabalho foi transformado pela sociedade capitalista em um elemento subordinado ao capital e à propriedade privada, pois:

o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens (Menschenwelt). O trabalho não produz somente mercadoria; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral. (...) O trabalhador nada pode criar sem a natureza, sem o mundo sensível (Sinnliche). Ela é a matéria na qual o seu trabalho se efetiva, na qual [o trabalho] é ativo, [e] a partir da qual e por meio da qual [o trabalho] produz (...). Quanto mais, portanto, o trabalhador se apropria do mundo externo, da natureza sensível, por meio do seu trabalho, tanto mais ele se priva dos meios de vida segundo um duplo sentido: primeiro, que sempre mais o mundo exterior sensível deixa de ser um objeto pertencente ao seu trabalho, um meio de vida do seu trabalho; segundo, que [o mundo exterior sensível] cessa, cada vez mais, de ser meio de vida no sentido imediato, meio para a subsistência física do trabalhador (Marx 2005, p.176 e 178).

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trabalho, alienado ao capital, apropria-se da natureza, não para a subsistência física do trabalhador, mas para a subsistência do sistema capitalista.

O capitalismo, desde sua origem, prioriza o crescimento econômico e defende o fortalecimento do capital e o livre mercado. Assim, os fatores ecológicos e sociais não são preocupações inerentes aos seus princípios. Para Leff (2005), o capitalismo, em sua fase atual, apesar de incorporar algumas ideias ecológicas - devido a sua preocupação com a produção ao longo prazo - não pode realizar um desenvolvimento sustentável que inclua a equidade social, a diversidade cultural, o equilíbrio regional e a autonomia das comunidades.

De acordo com Sachs (2009), o desenvolvimento sustentável está baseado na simultaneidade de três pilares: nos critérios de relevância social, na prudência ecológica e na viabilidade econômica. Além disso, deve-se considerar a consciência ética de responsabilidade de todas as espécies vivas da terra.

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o desenvolvimento sustentável ocorre com a emancipação humana (equidade social, diversidade cultural, valorização das necessidades humanas), com a preservação ambiental (conservação da biodiversidade, preservação dos ecossistemas e recursos naturais) e com um desenvolvimento econômico sustentável e duradouro, no sentido de atender as necessidades das atuais e futuras gerações. O desenvolvimento é sustentável quando abrange prioritariamente a esfera social e ambiental desvinculando-se da lógica capitalista que busca o crescimento econômico em primeiro plano; um desenvolvimento onde a sociedade tenha suas necessidades básicas atendidas e a preservação de suas identidades culturais.

Na atual lógica capitalista, depara-se com inúmeras dificuldades para se alcançar uma mudança estrutural mais profunda, como requer o desenvolvimento sustentável apresentado por inúmeros autores. No entanto, deve-se buscar a ampliação de oportunidades e o fortalecimento de ações voltadas à produção que visem a preservação do meio ambiente e as condições necessárias para a redução das desigualdades sociais e acesso aos meios de produção como forma de resistência a um sistema que busque excluir e degrade o meio ambiente.

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em apenas critérios econômicos como o PNB (Produto Nacional Bruto) e na industrialização, pois, estes indicadores não demonstram as reais condições e satisfação social.

Segundo Sen (2000, p.52), a qualidade de vida das populações é avaliada através das liberdades substantivas que “incluem capacidades elementares como, por exemplo, ter condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a morbidez evitável e a morte precoce, ter participação política e liberdade de expressão, etc.”

Nessa forma de considerar o desenvolvimento, busca-se atender primordialmente as necessidades humanas oportunizando os direitos de escolhas, o que fornece aos indivíduos satisfação e “qualidade de vida”. Essa ideia mostra a importância do desenvolvimento que oportunize as diferenças sociais e as liberdades políticas, econômicas e sociais das pessoas. Portanto, um desenvolvimento baseado em pessoas e não apenas no crescimento econômico, independentemente das condições sociais.

Sen (2000) enumera cinco tipos de liberdades instrumentais para o desenvolvimento: 1. liberdade política (direitos à escolhas políticas –eleições livres- com uma participação democrática); 2. Facilidade econômicas (oportunidades de utilizar recursos econômicos com propósito de consumo, produção e troca, assim como, uma melhor distribuição de renda); 3. Oportunidades sociais (acesso à serviços de educação e saúde); 4. Garantias de transparência (necessidades de sinceridade, dessegredo e clareza entre as pessoas) e 5. Segurança protetora (medidas protetoras adotadas pelo Estado em caso de vulnerabilidade social e econômica).

Para o autor, essas liberdades são fundamentais para alcançar o desenvolvimento baseado na liberdade, ou seja, são aspectos que estão diretamente ligados às necessidades humanas, sem desprezar o aspecto econômico. Pode-se associar essa forma de desenvolvimento às ideias de sustentabilidade, no aspecto que tange a um dos alicerces do desenvolvimento sustentável: à esfera social. A questão ambiental, na postura de Sen (2000), não é enfocada, pois sua tese é baseada no desenvolvimento através das liberdades sociais não considerando a dimensão ambiental.

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liberdades possui efetivamente limitações, inclusive estabelecidas pelas condições da natureza, as quais podem ser elementos inibidores, fomentadores ou mesmo restritivos. A perspectiva de desenvolvimento apresentada por Sen (2000), para se efetivar, exige uma mudança radical na concepção de sociedade e nas relações que os sujeitos estabelecem entre si e com a natureza.

Sachs (2009) refuta a ideia de desenvolvimento baseado apenas no crescimento econômico sem relevar as condições sociais e ambientais. O autor critica o otimismo tecnológico, no qual, os problemas de ordem social e ambiental seriam sanados à medida que os países alcançassem um nível elevado de desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo em que o autor crítica a visão de desenvolvimento baseado no aspecto econômico, afirma que a estagnação do crescimento econômico pelos países em desenvolvimento não resolveria os problemas sociais e de pobreza nesses países.

Portanto, segundo Sachs (2009, p.60), deve haver uma reconceitualização de desenvolvimento “como apropriação efetiva de todos os direitos humanos, políticos, sociais, econômicos e culturais, incluindo-se aí o direito coletivo ao meio ambiente”.

Neste sentido, este conceito tende a buscar uma ampliação da apropriação das “riquezas” produzidas pela humanidade, abrangendo toda a população e não a uma pequena parcela da sociedade ou de países que exclua desse processo uma grande massa da população. Essa forma de desenvolvimento é que deve estar na base das políticas públicas.

Para Sachs (2009), o desenvolvimento precisa ser sustentável e, para isso, o autor enfatiza que é essencial o planejamento, mas o mesmo deve estar para além do mercado sendo que este não é capaz de aliar a preservação dos recursos naturais e a equidade social ao crescimento econômico.

Segundo Sachs (2009), deve-se buscar um equilíbrio entre o mercado, o Estado e sociedade civil sendo que as instituições externas ao mercado são necessárias para fiscalizar as suas deficiências.

Aqui, pode-se citar o papel relevante de Organizações Não Governamentais, assim como, movimentos sociais os quais questionam uma ordem estabelecida e, através de sua atuação, buscam mudanças na configuração da sociedade, assim como, na atuação do Estado.

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esse processo. Assim, a busca para o desenvolvimento sustentável tem um longo caminho a ser percorrido e os primeiros passos já estão sendo dados, principalmente ao se relembrar dos movimentos sociais abordados no QUADRO 01 que partem da crítica da atual racionalidade e sugerem uma visão ambiental para a produção

Nesse texto, deter-se-á na análise do desenvolvimento sustentável, apenas no que se refere à agricultura, por ser esta a base da presente pesquisa. A agricultura convencional, do modo como esta sendo praticada, apresenta sérias limitações para a promoção do desenvolvimento rural sustentável abrangendo as esferas sociais e ambientais, além da econômica. É importante analisar quais são os principais problemas apresentados pela forma de produzir implantada com a denominada agricultura moderna no Brasil.

As práticas de agriculturas alternativas como a Agroecologia e Sistemas Agroflorestais – temas desta pesquisa - caracterizam-se por uma alternativa de desenvolvimento rural onde o meio natural e a sociedade são vistas como componentes de um processo que leva ao desenvolvimento, pois propõem uma produção que não agrida o meio ambiente e fortaleça a agricultura familiar.

Entende-se que a Agroecologia é uma opção para o desenvolvimento rural sustentável. No entanto, percebe-se um processo de desterritorialização da Agroecologia no município de Coronel Vivida ao se constatar a desistência de agricultores que tinham adotado uma prática agrícola mais ecológica e o retorno dos mesmos para as práticas convencionais. Assim, no capítulo 4 buscar-se-á entender os fatores que levaram essas famílias a desistirem das práticas agroecológicas para voltar ao cultivo convencional e demonstrar os conflitos existentes entre essas duas formas de agricultura, assim como, as dificuldades da territorialização e afirmação da Agroecologia no município.

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Segundo Ehlers (1999), nos países desenvolvidos, que foram os precursores da agricultura moderna, já havia movimentos contrários ao padrão convencional da agricultura. Na década de 1920 e 1930 surgiram diversas vertentes ligadas à agricultura ecológica, como é o caso da Biodinâmica, Orgânica, Biológica, Natural e a Agroecologia. Essa última faz parte desta pesquisa e será abordada nos próximos capítulos. A partir da década de 1960 e 1970 a crise ambiental levou à disseminação das ideias do conjunto de propostas de uma agricultura alternativa, frente aos problemas ambientais causados pela agricultura convencional.

No entanto, segundo Ehlers (1999), até a década de 1970 a agricultura alternativa era vista com hostilidade, por muitos órgãos governamentais, principalmente nos Estados Unidos. Essa forma de agricultura conquistou mais espaço na década de 1980, quando as “evidências da degradação ambiental e a ineficiência energética dos sistemas produtivos motivaram um grande número de pesquisadores a repensar os fundamentos da agricultura moderna” (p.97)

Segundo Santos, R. (2008), no Brasil, de forma mais específica, a pobreza rural e a concentração de terras também são problemas reforçados pelo chamado processo de modernização da agricultura que tem por objetivo a inserção de produtos químicos, mecanização e modificações genéticas, para promover o aumento da produtividade, sem a preocupação com a distribuição de renda e com o desenvolvimento territorial.

Seguindo esta lógica, as políticas para as áreas rurais priorizam o desenvolvimento baseado no crescimento econômico. Na questão agrícola, pode-se exemplificar esse fato com a modernização da agricultura. A inovação tecnológica e a aplicação dos conhecimentos científicos na agricultura vêm priorizando o produtivismo sem resolver os problemas relacionados à pobreza rural e à emancipação humana (SANTOS R., 2008).

Em sua tese, Santos, R. (2008) discorre sobre o significado do moderno e a noção de desenvolvimento disseminado no Brasil a partir do século XX e a influência no processo de modernização agrícola brasileira. Assim, a ideia do moderno no Brasil passou a centralizar-se no processo de industrialização sendo este processo o responsável pela superação do subdesenvolvimento.

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a)a consciência da necessidade e viabilidade da implantação de um setor industrial para produzir insumo e bens de capital;

b)a consciência da necessidade de criar mecanismos de centralização de recursos financeiros para financiar a acumulação industrial;

c)a formação da ideia do Estado enquanto gestor, planejador e promotor da unificação nacional e da economia;

d)o acirramento do nacionalismo.

Nesta citação, percebe-se a preocupação com o desenvolvimentismo ligada às questões econômicas e produtivas do país. O Estado aparece como o principal agente promotor desse processo através da criação de políticas incentivadoras à industrialização do país e à inserção do mesmo no capitalismo internacional.

Pode-se afirmar que foi isso o que aconteceu com a realidade rural brasileira que, ao se “modernizar”, passou a se subordinar ao espaço urbano e industrial, pois, o que se denomina “modernização” da agricultura, pode ser traduzido pela introdução de mudanças técnicas no processo produtivo dependentes da indústria. Assim:

A constituição de um ramo industrial a montante (meios de produção para a agricultura) e a modernização do ramo industrial a jusante (processamento de produtos agrícolas) passa, necessariamente, pela modernização de uma parcela significativa da agricultura brasileira. Essa agricultura se moderniza, sob influxo dos incentivos do Estado e é induzida tecnologicamente pela indústria, transforma profundamente sua base técnica de meios de produção (DELGADO, 1985, p.35).

Em relação ao processo de modernização da agricultura realizada no Brasil, ficou explícita a política desenvolvimentista nacional que buscava o aumento da produtividade em primeiro lugar. A instituição do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1965, incentivou a adoção do pacote tecnológico da Revolução Verde pelos agricultores e, ao mesmo tempo, estimulou a industrialização dos bens de produção ligados à agricultura, assim como, as agroindústrias.

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O autor destaca que o processo de modernização modificou as relações de trabalho no campo, tornando cada vez mais comum a mão-de-obra assalariada e a expropriação dos pequenos produtores de suas terras dando lugar a organizações de produção em moldes empresariais. Assim, a agricultura de subsistência deu lugar a empresas rurais capitalistas ou a empresas familiares que não usam trabalho assalariado, mas mantêm relação com o mercado.

Dessa forma, a modernização na agricultura, que aparece como modelo de desenvolvimento, não é mais do que o aprofundamento das relações capitalistas e das desigualdades sociais e territoriais. A modernização da agricultura brasileira acabou por ampliar as desigualdades sociais e territoriais, assim como os problemas ambientais, ficando longe de propiciar um desenvolvimento sustentável para todos os territórios e classes (SANTOS, R., 2008).

O aumento do êxodo rural provocado pela modernização da agricultura mostra que ela não está sendo benéfica do ponto de vista social. O padrão tecnológico disseminado pela Revolução Verde privilegia a agricultura patronal voltada para o Agronegócio.

No entanto, segundo Santos, R. (2008), o agronegócio também é desenvolvido em pequenas propriedades, mas esse modelo de desenvolvimento está atrelado ao aspecto econômico. Os agricultores familiares, em especial de base camponesa, possuem dificuldades de se adaptar a esse modelo, sendo que essa categoria representa maior autonomia, menor impacto ambiental e social e melhor distribuição de terras.

A autora enfatiza as diferenças territoriais existentes entre os agricultores familiares no Brasil, sendo que alguns conseguem se adaptar às novas técnicas e outros ainda possuem, na base de sua produção, técnicas consideradas rudimentares e modelos de vida próprios. Segundo Santos, R. (2008), a partir da década de 1990, surge um novo enfoque desenvolvimentista baseado nas ideias liberais focado na agricultura familiar.

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No ano de 1996, foi criado o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), no governo de Fernando Henrique Cardoso. De acordo com o documento de criação do programa o seu objetivo principal é “propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para melhora da qualidade de vida e a ampliação da cidadania por parte dos agricultores familiares” (MDA, 2012).

Como mostram os seus objetivos, esse programa continua baseado no desenvolvimento produtivista, mesmo citando que busca melhorar as condições sociais da categoria. Para Santos, R. (2008, p.76), esta modalidade segue os mesmos mecanismos tecnológicos e organizacionais do modelo anterior, conforme a autora precisa-se de uma mudança no modo de produzir, comercializar, e de viver dessa categoria, para haver uma verdadeira mudança no modelo de desenvolvimento.

O modelo de desenvolvimento não pode ser homogeneizador, pois devem ser levadas em consideração as diversas realidades territoriais e sociais. O modelo do agronegócio não se aplica de forma rentável e sustentável à categoria da agricultura familiar. Os mesmos precisam adaptar a sua produção para permanecer e se sustentar nas áreas rurais, pois o modelo disseminado pela Revolução Verde provocou um grande êxodo rural e aumentou a concentração fundiária.

No entanto, as formas de resistências encontradas no campo brasileiro são provas de que o modelo disseminado pela Revolução Verde não homogeneizou por completo as formas de produzir, além de não resolver o problema de concentração de terra e pobreza rural. Os problemas ambientais gerados pela tecnologia aplicada na agricultura moderna, assim como as desigualdades sociais, fazem pensar que o desenvolvimento rural sustentável requer outro modelo. Uma opção seria o resgate de saberes tradicionais e culturais em busca de uma agricultura que seja ambiental, social e economicamente sustentável.

Nesse sentido, buscar-se-á analisar a Agroecologia como uma alternativa para realizar um desenvolvimento rural sustentável onde os agricultores familiares possam permanecer no campo, como modo de vida, com maior dignidade humana e autonomia em relação a atores externos.

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1.2. O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Acredita-se, como afirma Santos (2006), que o espaço geográfico não seria algo aleatório, mas sim, fruto de intenções sociais, construído de acordo com a evolução histórica e também da ciência e técnicas presentes no território.

Assim, o espaço geográfico é fruto de múltiplas relações que se caracterizam através dos objetos (formas) e ações (conteúdos) pelo transcorrer do tempo. Esse híbrido de que é formado o espaço geográfico envolve aspectos naturais, culturais, econômicos, políticos e sociais e essas relações se materializam no espaço dando sentido aos objetos construídos no decorrer do tempo (SANTOS, 2006).

Ao se considerar o espaço geográfico como fruto de múltiplas relações, não seria coerente compreender o desenvolvimento como o processo ligado apenas ao crescimento econômico. Assim, busca-se entender o desenvolvimento como o processo no qual essas múltiplas relações devem ser consideradas.

O desenvolvimento territorial, portanto, vai além do desenvolvimento econômico, pois, envolve diversas esferas que compõem o território. Assim, para realizar um desenvolvimento sustentável, deve-se buscar o desenvolvimento territorial como um todo.

Santos, M. (2008) desenvolve uma concepção materialista de território, pois, define o mesmo como território usado, ou seja, a apropriação humana do espaço, assim:

O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em território usado, utilizado por uma dada população (SANTOS, M. 2008, p.96-97).

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como um conjunto de pontos formando um espaço de fluxos (...) o sistema de produção que se serve desse espaço de fluxos é constituído por redes” (p.105 e 106).

O que Santos, M. (2008) denomina por verticalidades seria uma forma de apropriação do território por atores hegemônicos que impõem regras e uma racionalidade aos lugares que constituem o espaço dos fluxos. Esses lugares tendem a seguir um modelo determinado por sujeitos hegemônicos os quais tomam decisões essenciais relacionados aos processos locais, além de sobressaírem aos interesses públicos.

Nessa lógica, pode-se considerar que os projetos desenvolvimentistas estão intrinsecamente ligados às redes e fluxos liderados por esses sujeitos hegemônicos. Os interesses de populações locais do território são deixadas à mercê da racionalidade modernizadora disseminada pelas verticalidades.

No caso da agricultura brasileira, percebe-se que alguns pontos escolhidos pelos sujeitos hegemônicos são privilegiados em relação a outros sendo que, nos primeiros ligados aos fluxos, a modernidade é imposta como a única forma de inserção e desenvolvimento.

Isso é visível ao se analisar a produção agropecuária no município de Coronel Vivida – PR, onde as verticalidades estão presentes. Verifica-se uma produção ligada aos padrões tecnológicos disseminados pela Revolução Verde; a produção agrícola municipal estabelece redes verticais ao produzir para o mercado as duas principais culturas que correspondem cerca de 90% de toda produção agrícola: a soja e o milho.

Essas duas monoculturas prevalecem no município e, para serem produzidas, são tecidas redes de relações verticais desde a compra de sementes (geneticamente modificadas, em sua maioria), do financiamento (através das cooperativas de créditos e bancos locais para alocação de recursos), até a sua comercialização com cooperativas como a COAMO e empresas cerealistas como a San Rafael, atuantes no município. Além disso, ao comercializar seus produtos, dependem de toda uma conjuntura de mercado, para a definição dos preços a serem pagos às suas mercadorias, ou seja, a produção agropecuária está ligada aos fluxos nacionais e internacionais reduzindo a autonomia do agricultor.

Imagem

TABELA 01 - Números de estabelecimentos e áreas ocupadas pela agricultora  familiar e agricultura não familiar
TABELA 02 - Números de produtores, produção, área média e participação da  produção  dos  principais  produtos  orgânicos  da  grade  região  Sudoeste  do  Paraná - safra 2003/2004  Principais  Produtos  Número de produtores  Área  média  (ha)  Produção do
TABELA  03  -  Número  total  de  estabelecimentos  com  agricultura  orgânica  e  certificados com assistência técnica
FIGURA 03 - Mapa com a localização dos estabelecimentos pesquisados em Coronel Vivida
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