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Encontros, confrontos e possibilidades do e-Learning na educação permanente em saúde de Alagoas

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Academic year: 2021

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W’\Z2\

ENCONTROS

, CONFRONTOS E POSSIBILIDADES DO

E-LEARNING NA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DE ALAGOAS

Versão corrigida e melhorada após defesa pública

Milene Arlinda de Lima Mendes

Outubro, 2017

N ota : (M il ene A rl inda d e L im a M ende s, E nc ont ros , Confront os e P os si il id ade s do e -L ea rn ing na E duc aç ão P er m ane n te e m S aúde de A la goa s, 2017) . - en ca d er n aç ão t ér m ic a -

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Dissertação apresentada para o cumprimento de requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão de Sistemas de e-Learning, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Carlos Correia e coorientação da Doutora Andreia Teles Vieira.

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DECLARAÇÃO

Declaro que esta dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O candidato,

Milene Arlinda de Lima Mendes

_____________________________________________________ Lisboa, 31 de Março de 2017.

Declaro que esta dissertação se encontra em condições de ser apreciado pelo júri a designar.

O orientador,

Carlos Correia

_____________________________________________________ Lisboa, 31 de Março de 2017.

O coorientador,

Andreia Teles Vieira

_____________________________________________________ Lisboa, 31 de Março de 2017.

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Dedico esse estudo especialmente ao Serviço Público de Saúde, que contribui de forma inquestionável para o meu crescimento profissional e pessoal.

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AGRADECIMENTOS

[..] Olha a lua mansa a se derramar (me leva amor) Ao luar descansa meu caminhar (amor) Seu olhar em festa se fez feliz (me leva amor) Lembrando a seresta que um dia eu fiz (Por onde for quero ser seu par) [..] (Caymmi; Sout & Tapajós, 1969).

E esse par em minha vida perdeu o sentido da dualidade, porque se fez aos montes, amor que transborda ao coração, que faz o meu corpo sorrir, restando-me o ínfimo atributo de agradecer infinitamente:

Ao meu Deus, todo poderoso, justo e verdadeiro, que em nenhum momento soltou a minha mão, apesar da minha pequenez e imperfeição;

À minha mãezinha do céu, virgem Maria, em sua infinita bondade, me protegeu com seu manto sagrado e intercedeu por mim nos momentos difíceis;

Aos meus pais, Maria Arlinda e José Mendes pelas orações, preocupação, proteção e amor incondicional;

Aos meus irmãos Christian Clair e Christine Keler, meus gordinhos, pela cumplicidade, amor e incentivo;

Ao Pedro Caio, luz que irradia minha vida, que me fez entender o sentido da maternidade, mesmo não tendo saído do meu ventre, meu filho do coração, dessa e de outras vidas;

Aos meus sempre pequenininhos, sobrinhos lindos, João Athur (Tutu), Maria Julia (Jujuba), Luís Felipe (Vaqueirinho), Ruan e Raissa, por trazerem ainda mais amor para minha família;

Ao meu nego lindo (Pinheiro), amor da minha vida, pelo companheirismo e por tornar os meus dias ainda mais coloridos;

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Aos meus amigos e parceiros de Mestrado, Francisco Carlos, Cristina Gomes, Luciele Araújo, Patrícia Bezerra, Nayara Calheiros e Sandra Silveira pelas trocas, apoio e por dar sentido as palavras empatia e solidariedade;

Aos meus amigos da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau -AL), pelos encontros que fazem ressignificar minha prática, agrega novos saberes, que me reinventa, me torna uma profissional em constante evolução. Parafraseando uma amiga de Sesau, “O meu EU, quando encontra o teu EU, já não sou mais a mesma”.

Aos inquiridos desta pesquisa, por aceitarem o convite e por acreditarem que esse estudo poderá reverberar mudanças nos moldes de se fazer saúde em Alagoas;

Aos orientadores desta pesquisa, Carlos Correia e Andreia Vieira, pela condução e pelos préstimos constantes.

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Nosso conhecimento não era de estudar em livros. Era de pegar de apalpar de ouvir e de outros sentidos.

Seria um saber primordial?

Nossas palavras se ajuntavam uma na outra por amor e não por sintaxe.

A gente queria o arpejo. O canto. O gorjeio das palavras. Um dia tentamos até de fazer um cruzamento de árvores com passarinhos para obter gorjeios em nossas palavras.

Não obtivemos. Estamos esperando até hoje.

Mas bem ficamos sabendo que é também das percepções primárias que nascem arpejos e canções e gorjeios. Porém naquela altura a gente gostava mais das palavras

desbocadas.

Tipo assim: Eu queria pegar na bunda do vento. O pai disse que vento não tem bunda.

Pelo que ficamos frustrados.

Mas o pai apoiava a nossa maneira de desver o mundo que era a nossa maneira de sair do enfado [...]

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ENCONTROS, CONFRONTOS E POSSIBILIDADES DO E-LEARNING NA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE EM ALAGOAS

MILENE ARLINDA DE LIMA MENDES

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: Educação a Distância, Educação Permanente, Sistema Único de Saúde

Esse estudo tem por objetivo avaliar o e-Learning como estratégia para fomentar a Educação Permanente em Saúde (EPS) em Alagoas. Posicionar o e-Learning na estratégia de EPS significa compreendê-la como disparador de integração de sujeitos através da formação de redes virtuais de educação em saúde. Tais redes firmam novas formas de interação e extrapolam distâncias físicas e temporais, criando um novo ambiente de aprendizagem, no qual o conhecimento é construído coletivamente (Paim & Guimarães, 2009, p.97). Trate-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa, desenvolvido com alunos egressos do programa EPS em Movimento. O inquérito por questionário foi o método de recolha de dados escolhido, logo foi adaptado para este estudo, o instrumento edificado por Amorim (2013, p.94) aprovado pelo Comitê de ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo – Plataforma Brasil com o Parecer de Número 38309 de 18/06/2012. Diante dos resultados obtidos e respectiva análise, torna-se notória a efetivação dos objetivos propostos inicialmente nesta investigação. Assim, julga-se que esse trabalho pode servir como aporte para a implementação de estratégias de EPS na modalidade e-Learning. Neste estudo foram analisados inúmeros fatores relacionados ao programa EPS em Movimento no território de Alagoas. Logo, aqui são apresentadas informações relevantes quanto à eficiência, eficácia e efetividade do programa citado para a atuação dos profissionais, para os processos de trabalho em saúde, bem como o perfil e nível de aceitação dos participantes da pesquisa frente ao evento educativo.

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E-LEARNING MEETINGS, CONFRONTES AND POSSIBILITIES IN PERMANENT HEALTH EDUCATION IN ALAGOAS

MILENE ARLINDA DE LIMA MENDES

ABSTRACT

KEYWORDS: Distance Education, Permanent Education, Unified Health System.

This study aims to evaluate e-Learning as a strategy to promote the Permanent Education in Health (EPS) in Alagoas. Placing e-Learning in the EPS strategy means understanding it as a trigger for integrating subjects through the formation of health education virtual networks. These networks establish new forms of interaction and extrapolate physical and temporal distances, creating a new learning environment in which knowledge is collectively constructed (Paim & Guimarães, 2009, p.97). This is a descriptive study with a quantitative approach, developed with students from the “EPS em Movimento” program. The questionnaire survey was the data collection method chosen, and the instrument built by Amorim (2013, p.94) approved by the Ethics and Research Committee of the Federal University of São Paulo – Plataforma Brasil with the Opinion Number 38309 of 06/18/2012. In view of the results obtained and its analysis, it becomes evident the effectiveness of the objectives proposed initially in this investigation. Thus, it is believed that this work can serve as a contribution to the implementation of EPS strategies in the e-Learning modality. In this study, many factors related to the “EPS em Movimento” program in the territory of Alagoas were analyzed. Therefore, it is presented here relevant information regarding the efficiency, efficacy and effectiveness of the cited program for the professionals' work, for the work processes in health, as well as the profile and level of acceptance of the participants of the educational event.

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ÍNDICE

Introdução ...1

Capítulo I: Educação a Distância ...3

I.1 Da Educação a Distância tradicional ao e-Learning ... 3

I.2 Os desafios e possibilidades do e-Learning para construção do conhecimento ... 6

Capítulo II – A Educação Permanente em Saúde (EPS) ... 13

II.1 A EPS e o mundo do trabalho em saúde ... ... 13

II.2 As contribuições do e-Learning para EPS ... 18

Capítulo III – Estudo de Caso ... 23

III.1 O Programa EPS em Movimento ... 23

III.2 EPS em Movimento em Alagoas ... 27

Capítulo IV – Metodologia ... 29

IV.1 Enquadramento Metodológico ... 29

IV.2 Técnicas de recolha e tratamento de dados ... 30

Capítulo V – Resultados, Análise e Discussão ... 35

Conclusão ... 57

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Lista de Gráficos ... I

Lista de Quadros ... II

Apêndices ... III

Apêncice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em concordância com a pesquisa ... III

Apêncice B - Questionário aplicado aos discentes do Curso de Educação Permanente em Saúde em Movimento ... V

Anexos ... VIII

Anexo A - Declaração de Autorização da Investigação ... VIII

Anexo B - Edital de Seleção de alunos do Programa EPS em Movimento ... ... IX

Anexo C - Mapa das Regiões de Saúde de Alagoas ... XXIX

Anexo D - Cronograma que representa as duas fases do curso EPS em Movimento (2014) sintetizados através dos editais publicados, consultados nos documentos da secretaria acadêmica do EducaSaúde ... ... XXX

Anexo E - Organograma do Curso EPS em Movimento ... ... XXXI

Anexo F - Imagem do AVA utilizado no Programa EPS em Movimento ... ... XXXII

Anexo G – Declaração da Tutoria da Pesquisadora no Projeto EPS em Movimento ... XXXIII

Anexo H – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo ... XXXIV

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABED Associação Brasileira de Ensino a Distância

AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

DVD Disco Digital Versátil

EaD Educação a Distância

EDUCASAÚDE Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde

EPS Educação Permanente em Saúde HTML Hypertext Markup Language

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LOS Leis Orgânicas da Saúde

MS Ministério da Saúde

OTICS Observatório de Tecnologias em Informação e Comunicação em Sistemas e Serviços de Saúde

PHP Hypertext Preprocessor

PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SESAU Secretaria de Estado da Saúde SESC Serviço Social do Comércio

SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde

SUS Sistema Única de Saúde

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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TV Televisão

UAB Universidade Aberta do Brasil

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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INTRODUÇÃO

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no molham-novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer (Ramos, 2005).

Esse estudo teve por objetivo avaliar o e-Learning como estratégia para fomentar a Educação Permanente em Saúde (EPS) em Alagoas e o Programa EPS em Movimento serviu de base para esta investigação. Pretendeu-se conhecer o impacto da ação educativa mencionada (ofertada na modalidade e-Learning), para as práticas em saúde, analisando os encontros, confrontos e possibilidades proporcionadas pelo Programa.

Para do alcance desse propósito, foram traçados os seguintes objetivos específicos:

 Levantar os principais desafios do e-Learning em cursos voltados para a Educação Permanente em Saúde;

 Identificar às contribuições do e-Learning no que tange a mobilização, produção compartilhada de saberes, cooperação e construção de encontros a partir das práticas em saúde;

 Verificar os resultados de cursos de Educação Permanente em Saúde ocorrido à distância, para os serviços prestados em Alagoas.

O estimulo para realizar esse estudo emergiu da experiência da pesquisadora tanto com a EPS quanto com o e-Learning. Ademais, foi também tutora do evento pedagógico em foco, fatores que podem ser considerados como facilitadores para o desenvolvimento deste trabalho.

No que tange a estrutura principal, além da “Introdução” este estudo subdivide-se em cinco capítulos e conclusão. O Capítulo I de inicio procura situar o leitor sobre a evolução da Educação a Distância (EaD) no Brasil desde a incorporação de cursos por correspondência até aqueles subsidiados por recursos tecnológicos, e-Learning. Em seguida são apresentados os desafios e possibilidades do e-Learning para construção do conhecimento.

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O Capítulo II no primeiro momento enaltece a EPS revelando o caminho de como surgiu a política, as diretrizes, os desafios para sua consolidação, além das vantagens para os serviços de saúde. Posteriormente são expostas as contribuições do e-Learning para EPS.

O estudo de caso é exibido no Capítulo III, onde previamente é explicado o Programa EPS em Movimento em linhas gerais, as parcerias, os objetivos, critérios, público-alvo, distribuição de vagas por regiões de saúde em todo país, Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) utilizado e seus recursos, bem como a metodologia empregada. Depois é exposta a experiência do Programa no Estado de Alagoas, os alunos, os tutores, os encontros, os movimentos, dentre outros aspectos.

No Capitulo IV é apresentada a metodologia de investigação, as hipóteses teóricas e empíricas a serem aferidas, tipo de pesquisa, a abordagem, os critérios de inclusão, a elaboração e aplicação do inquérito por questionário, bem como o tratamento e análise dos dados.

Os resultados, análise e discussão surgem no Capítulo V, onde aparecem os dados coletados entre os inquiridos, sua análise, assim como o confronto dessas informações empíricas com os aportes científicos.

Por ultimo, a conclusão constitui uma síntese geral elucubrada acerca dos objetivos inicialmente indicados, as concepções teóricas e os resultados obtidos. São ainda

propostos percursos futuros de investigação sobre o tema.

Após as Referências Bibliográficas, existe uma Lista de Gráficos, uma Lista de Tabelas, além dos Apêndices e Anexos.

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CAPÍTULO I: EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

I.1 Da Educação a Distância tradicional ao e-Learning

Na Educação a Distância (EaD), o termo a Distância deve ser entendido fundamentalmente como separação espacial (geográfica/local) entre participantes do processo educacional, sejam estes alunos ou professores (Viana, Ataíde & Ferreira, 2015, p.3).

A EaD no Brasil se assemelha ao movimento internacional, que despontou através dos cursos por correspondência, onde destacam-se o Instituto Monitor criado em 1939 e Instituto Universal Brasileiro em 1941, que objetivavam a formação de profissionais de nível básico e médio, a partir daí novos cursos e instituições de modalidade a distância começaram a surgir (Freitas, 2007, p. 104; Riss, Grohmann & Battistella, 2012, p.33). Essas instituições deixaram um legado de preconceitos até hoje arreigado, por vezes difícil de ser enfrentado (Freitas, 2007, p.170).

O rádio marcou uma fase importante da EaD, o Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) com o auxilio de meios de comunicação associados em 1947 criaram a Nova Universidade do Ar, buscando oferecer cursos radiofônicos comerciais. O projeto foi um sucesso, em 1950 a Universidade do Ar chegou a atingir 318 localidades e 80 mil alunos. (Saraiva, 1996; Costa, 2008 como citado em Viana, Ataíde & Ferreira, 2015, p.2).

A televisão (TV) também facilitou o aumento da oferta de cursos na modalidade a distância. A perspectiva da transmissão de imagem e som por meio da tecnologia da TV foi, com certeza, uma inovação na área educacional. O primeiro curso de EaD pela televisão foi ao ar em 1961, pela rede de Televisão Rio e era orientado a alfabetização de adultos. Em 1967, o governo militar fundou o Centro Brasileiro de TV Educativa, que lançou centenas de programas educativos a distância na TV (Gomes, 2014, p.41).

O Projeto Minerva foi criado em 1970 para atender aos anseios do Governo Militar brasileiro que, desde 1964 sugeria transformações no processo educativo por meio do rádio e da televisão. Neste escopo o governo almejava reduzir os problemas educacionais existentes com a implantação de uma cadeia de rádio e televisão para a educação de massa, através de métodos e

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instrumentos não tradicionais de ensino. Apesar dos resultados negativos o Projeto foi mantido até o início da década de 1980 (Menezes & Santos, 2002 como citado em Carvalho, 2016, p.9).

A estreia em 1978 do Telecurso 2° grau também abalizou a modalidade a distância, uma iniciativa do Roberto Marinho, proprietário do Grupo Globo de 1925 a 2003. O empresário apostava que a televisão era capaz de levar educação a um grande contingente de pessoas em todo território nacional. No ano de 1981, foi criado o Telecurso 1° grau, onde os interessados teriam a possibilidade de concluir o ensino fundamental e médio assistindo as aulas na televisão e adquirindo alguns fascículos vendidos em bancas de jornal e o diploma somente era emitido após aprovação das provas aplicadas pelo governo (Silva, Nicácio, Melo, Cavalcante & Souza, 2016, p.4).

Os dois programas foram substituídos em 1995 pelo Telecurso 2000. Essa série além de contemplar e educação geral passou a oferecer cursos profissionalizantes. Neste mesmo ano se deu outro avanço, foram criadas salas de aulas equipadas com Disco Digital Versátil (DVD), TV, mapas, livros, dicionários e outros recursos didáticos para auxiliar no processo educacional. Destarte, o Telecurso deixou de ser apenas um programa de televisão, se configurando como política pública, ação que gerou grandes feitos para sociedade, uma vez que o mesmo contemplava cerca de sete milhões de estudantes (Silva, Nicácio, Melo, Cavalcante & Souza, 2016, p.4; Menezes & Santos, 2002 como citado em Carvalho, 2016, p.10).

Pouco tempo depois, em 1996, o setor público também avançou nesta área, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº. 9.394, referência normativa da educação nacional, reconheceu a EaD como modalidade de ensino. O documento estabeleceu ainda, em seu artigo 80, que o Poder Público deve incentivar o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância.

O artigo 80 da LDB foi regulamentado pelo Ministério da Educação em seu Decreto nº 5.622 de 2005, em que caracterizou a EaD como uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação.

Na perspectiva de efetivar as diretrizes da educação no Brasil relacionada a qualificação profissional e à prática social, e ambicionando o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, em 2006 foi instituído o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), através do

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Decreto nº 5.800. A UAB firma convênio com universidades públicas (federais e estaduais) com a finalidade de ampliar o acesso à educação superior pública, por meio da EaD, objetivando assim, reduzir as desigualdades de oferta entre as diferentes regiões do país. Os professores que atuam na educação básica possuem prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e profissionais que atuam na educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal.

A Internet passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros a partir do início dos anos 2000, permitindo que pessoas e entidades se conectassem e se relacionassem, suscitando novas demandas, tanto para o mundo corporativo quanto para o mundo acadêmico. Softwares de variadas finalidades foram implementados, motivando pessoas criativas a participarem de comunidades on-line e socializar seus conhecimentos (Mazon, Souza & Spanhol, 2016, p.1)

Desde então, a EaD vem ganhando popularidade e crescendo expressivamente. Esse fato ocorre sobretudo em decorrência da necessidade de capacitação permanente, aos avanços computacionais com o surgimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a inclusão digital da sociedade. Assim sendo, indivíduos que antes não eram oportunizados com uma educação de nível superior por conta das barreiras de tempo e espaço, ou condição financeira, passaram a participar de cursos de alta qualidade nos lugares mais remotos do país, em instituições públicas ou privadas. (Grützmann, 2013, p.25; Ebone, 2015, p.23).

O Censo de 2015 da Associação Brasileira de Ensino a Distância (ABED) revelou que cursos na modalidade EaD foram viabilizados em todos os níveis e áreas de conhecimento, com ênfase para 1.079 ofertas de cursos de extensão e para as áreas de Ciências Sociais Aplicadas, sendo 608 cursos regulamentados totalmente a distância. No que se refere aos semipresenciais, a preferência foi pelas Ciências Humanas, com 1.389 ofertas registradas. O mesmo relatório da ABED contabilizou 5.048.912 alunos, sendo 1.180.296 alunos a mais do que o ano anterior. Destes, 108.021 foram registrados em cursos regulamentados totalmente a distância e semipresenciais e 3.940.891 em cursos livres corporativos ou não corporativos (Censo EaD.br, 2016, p.7).

Lêdo e Bezerra (2014) revelam que apesar do crescimento exponencial que vem apresentando, no Brasil a EaD enfrenta alguns desafios no que tange ao seu reconhecimento social. Essencialmente se refere ao desafio cultural da mudança de percepção que há anos associa a EaD a um ensino mais simples e de qualidade questionável. Essa imagem estereotipada

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tem em sua essência a relação histórica da modalidade à distância com o ensino de massa, tecnicista e voltado para uma formação paliativa e acrítica, desenvolvido no inicio de EaD no país, em que se destacavam os cursos via correios1.

O e-Learning, que se refere a um componente da EaD, suportado apenas por meios eletrônicos, tecnológicos e serviços em rede, tem sido trabalhado para quebrar tais paradigmas. Instituições de ensino/formação estão promovendo mudanças nos métodos de ensino-aprendizagem no intuito de atender às necessidades de sociais, demográficas, de tempo, entre outras, que acometem muitos alunos. Essas problemáticas não são enfrentadas somente por estudantes, mas também por profissionais que necessitam de capacitação periódica. Logo, se confirma a necessidade de vislumbrar estratégias que possibilitem aos discentes e aos profissionais continuarem a aprender, mesmo estando distante da instituição de ensino. (Fernandes, 2014, p.3).

I.2 Os desafios e possibilidades do e-Learning para construção do conhecimento

A efetivação do e-Learning se dá através da utilização de Learning Management System (LMS) ou Ambientes Virtuais de Ensino (AVA), onde o aprendiz, geralmente, tem acesso a conteúdos e atividades disponíveis unicamente na plataforma virtual que normalmente são acessadas por meio da internet. Tal atributo condiciona o educando a estar restrito ao desenvolvimento de suas atividades somente no ambiente institucional. Esse tipo de ambiente permite a utilização de diversos recursos, tanto na educação a distância quanto na presencial, visando proporcionar o ensino e a aprendizagem com mais eficácia aos alunos. (Melo-Filho, Gomes & Carvalho, 2014, p.608).

Em suma, o AVA é orientado a oferecer uma estrutura organizacional para o desenvolvimento de cursos à distância de forma a integrar e dinamizar as múltiplas mídias, as múltiplas linguagens e múltiplos recursos digitais disponíveis no mundo virtual, objetivando

1

Os Correios se refere a uma organização brasileira, vinculada ao Ministério das Comunicações e possui mais de três séculos de existência. Está presente em pelo menos uma Unidade de Atendimento, em todos os municípios do país, tendo o compromisso de levar os serviços postais a todas as pessoas (Correios, nd).

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desenvolver a interação das pessoas com o conhecimento no ciberespaço2 (Antunes, Gomes, Gomes & Antunes, 2013, p.12).

Segundo Silva e Gitahy, (2013, p.3) o uso de TIC's se encontra em evidência até mesmo na área educacional. As vantagens que emergem quando se relaciona recursos tecnológicos à realidade em sala de aula são vastas, essas possibilitam inovar e conferir novas perspectivas para o aprimoramento do ensino.

As TIC’s suscitam múltiplas potencialidades, propiciam novos cenários e promovem ambientes (reais ou virtuais) demasiadamente eficientes e promotores de uma multiplicidade de experiências pedagógicas, excitando as pessoas a conviverem com a ideia de que a aprendizagem é um processo que acontece ao longo de toda a vida, sem fronteiras de tempo e espaço. Tal fato provoca novas concepções sobre o que é aprender e ensinar, exigindo o repensar das funções das instituições de ensino, tanto em relação à sua estrutura organizativa, quanto com relação ao currículo. A mudança demandada da inserção das TIC’s e da Internet no processo de ensino e aprendizagem acontece concomitantemente ao questionamento da função da escola e do professor (Coutinho, 2009, p.75).

No mundo contemporâneo o desenvolvimento científico e tecnológico vem promovendo transformações constantes nos ambientes de trabalho e consequentemente, exigindo um profissional com perfil mais aberto e com capacidade de ajustar-se as mudanças, instrumentalizado e estimulado a permanecer aprendendo ao longo de sua vida. O uso da tecnologia como ferramenta mediatizadora desses processos educacionais tem apoiado as iniciativas de capacitação, em especial aquelas de modalidade e-Learning, apresentando-se como mais uma opção de atualização profissional (Guimarães, Martin & Rabelo, 2010, p.26)

Conforme Lago e Santos (2005 citado por Teixeira, Stefano & Campos, 2014, p.230), a flexibilidade de acesso aos recursos computacionais promovida pelos cursos e-Learning é uma dos benefícios que ocupa lugar de destaque para os alunos, por não serem obrigados a cumprir horários predeterminados, nem tampouco ter que se deslocarem recorrentemente a um local específico. Além disso, confere ao estudante um melhor aproveitamento do curso.

2

Ciberespaço – Meio de comunicação que despontou a partir da interconexão dos computadores em rede, que inclui não apenas a infraestrutura como também o conjunto de informações nele contidas (Levy, 1999 como citado por Martha, Áurea & Teixeira, 2017).

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Ainda fazendo referência a flexibilidade e agora também a interatividade evidenciada no e-Learning, Eboli (2004 como citado em Teixeira, Stefano & Campos, 2014, p.23) notam que ele atende com maior celeridade ao compartilhamento de informações e, por conseguinte, à edificação de novos saberes na organização, proporcionando a qualificação funcional com a agilidade necessária. Sendo assim, auxilia diretamente com a diminuição de custos com capacitações, além de poder abarcar uma área territorial maior e promover uma gestão de recursos humanos eficaz.

Para Silva, Santos, Cortez e Cordeiro (2015, p.1106) a educação à distância, permeada pelo uso dos recursos tecnológicos, vem proporcionando ao profissional acesso ao conhecimento e agenciando a democratização do saber, não somente pela sua flexibilidade, como também por viabilizar a utilização de ferramentas no próprio ambiente de trabalho.

Vieira, Alves e Esteves (2013, p.3) ao analisarem os diversos estudos sobre e-Learning expõem que apesar dos preconceitos enfrentados pelos discentes, aqueles que incorporam uma atitude profissional e responsável, obtendo desempenho satisfatório durante a formação, chegam a estar, em muitos casos, mais bem preparados para o mercado de trabalho que alunos de cursos tradicionais. Os autores afirmam ainda que, a Educação Online além de inovar e proporcionar o desenvolvimento de competências dos estudantes, fundamentais ao mercado de trabalho na atualidade, rompe com muitas barreiras educacionais e assume uma grande e positiva perspectiva para o futuro.

De fato uso de tecnologias digitais na educação vem acarretando mudanças significativas nas formas de ensinar e aprender (Oliveira, 2016). As organizações públicas tem buscado participar desse processo de mudança almejando gerenciar o conhecimento, garantindo o seu acesso a todos e provocando a troca do saber, constituindo como condicionante para uma administração moderna, com melhoria na qualidade dos serviços prestados à sociedade e maior satisfação para os servidores (Donida & Oliveira, 2012, p.186).

Conforme Ricardo e Vilarinho (2006, p. 111 como citado em Oliveira, 2016, p.5-6), nos dias atuais, ao associarmos a EaD as TICs temos a oportunidade de afastar as práticas educacionais reprodutoras, estimulando a criação, autonomia e autoria dos alunos. Ações educativas que automatizam respostas não atendem mais as expectativas. As organizações

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contemporâneas exigem que seus funcionários compreendam o porquê, o como e o para quê das atividades que executam.

De acordo com o aspecto coorporativo o e-Learning tem como objetivo suprir a demanda de mercado que exige profissionais cada dia mais qualificados, acarretando à busca constante por novos modelos de aprendizagem e por uma força de trabalho adaptável a esse novo cenário (Nascimento & Costa 2004 como citado em Teixeira, Stefano & Campos, 2014, p.229).

Assim, a prática de um modelo integrado de competências como mecanismo de alcançar os objetivos estratégicos da empresa é que culminou na necessidade de renovar os tradicionais centros de treinamento e desenvolvimento (Goulart & Pessoa, 2004 como citado em Donida & Oliveira, 2012, p.188).

Segundo Teixeira e Da Silva (2014 citado por Mazon, Souza & Spanhol, 2016, p.5) a informação é o suprassumo para construção do conhecimento e para o aprendizado colaborativo, que por meio de ferramentas alicerçadas na internet é possível ensinar e aprender, disponibilizando informações, disseminando e socializando com indivíduos dispersos geograficamente.

Aprendizagem colaborativa, termo bastante difundido quando se trata de cursos e-Learning é definido por Vygotsky (2001 como citado em Mazon, Souza & Spanhol, 2016, p.5-6) como um processo de construção do conhecimento decorrente da participação, do envolvimento e da contribuição ativa dos alunos na aprendizagem uns dos outros. Os autores defendem ainda, que a construção do conhecimento ocorre imbricada ao contexto do aluno, seja ele geográfico, cultural, social, político ou histórico e que o aprender colaborativamente se revela com um processo complexo de atividades sociais que é impulsionado por interações mediadas pelas relações entre alunos, professores e com a sociedade.

No AVA é preciso considerar uma linha tênue entre a pedagogia e tecnologia, pela influência que um exerce sobre o outro. A promoção da autonomia do aluno pode ser citada neste sentido, uma vez que consiste em uma característica marcante do e-Learning (Brunetta & Antunes, 2013, p.4).

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Outra característica que vale ser registrada é a aprendizagem significativa3 e se aproximando desse tema Becker (2012, p. 21 citado por Brunetta & Antunes, 2013, p.8) reforçam que: ”[...] o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algum conhecimento novo, se ele agir e problematizar4 a própria ação, apropriar-se dela e de seus mecanismos íntimos. A condição prévia para isso é que consiga assimilar o problema proposto; pois sem assimilação não haverá acomodação.”

A EaD virtual possui uma característica que desafia todos os que lidam com essa modalidade, decorrente do distanciamento entre as duas partes envolvidas no processo ensino-aprendizagem. O isolamento a que o aluno é submetido é um dos principais fatores de evasão em cursos e-Learning, comprovando a necessidade de um compromisso ético dos envolvidos (Brasil, 2007 como citado em Oliveira, Ferreira, Souza, Castro-Junior & Maia, 2013, p.580).

De acordo com Quaglia, Oliveira e Velho (2015, p.106) em ações educativas e-Learning o professor, intitulado de tutor, necessita ser orientador da construção do conhecimento do educando, fazendo uso dos meios e tecnologias a disposição na sociedade para facilitar e auxiliar o processo de aprendizagem. Ao aluno cabe a missão de utilizar desses conhecimentos adquiridos para afastar a passividade e desenvolver autonomia assim, a interação entre tutor e aluno na formação do conhecimento será realidade com a contribuição das TICs neste processo.

O tempo sugerido para um aluno na modalidade de e-Learning é de três a quatro horas semanal de dedicação, sendo que o ideal é que fosse dedicado pelo menos uma hora por dia. Tais cursos têm a vantagem de possibilitar que esses atores organizem os seus próprios horários de estudo, sendo assim, mais flexível. No entanto, demandam do estudante autodisciplina e planejamento de suas ações cotidianas, incluindo as atividades do evento educativo (Ortiz, Ribeiro & Garanhani, 2008, p. 563).

Deve-se ponderar que alguns discentes podem não possuir habilidades para o uso de ferramentas virtuais, de maneira que se faz indispensável a orientação deles, com foco no desenvolvimento de competências para apropriação das novas tecnologias. Para isso, é

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Se efetiva quando aprender uma novidade faz sentido para nós. Comumente isso acontece quando a novidade responde a uma pergunta nossa e/ou quando o conhecimento novo é edificado diante de um dialogo com o que já sabíamos anteriormente. Isso é bem diferente da aprendizagem mecânica, na qual reproduzimos conteúdos. Na aprendizagem significativa acumulamos e renovamos experiências (Brasil, 2005a, p.12).

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Equivale a refletir sobre determinadas situações, questionando fatos, fenômenos e ideias, entendendo os processos e sugerindo soluções (Brasil, 2005a, p.8).

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primordial uma comunicação efetiva com os tutores/professores (Silva, Santos, Cortez & Cordeiro, 2015, p.1106).

Para que atuação pedagógica no e-Learning não se torne passiva e autoritária é indispensável que o professor saia da sua prática tradicional, averígue as possibilidades do aluno em aprender e a sua de reaprender, que suscite no aluno o espírito de motivação, dando condições e ferramentas de aprendizagens para ele ir além daquilo que se apresenta nas matrizes curriculares e outros veículos acadêmicos, abrir leques para o desenvolvimento individual, contínuo e global (Silva et al., 2010 como citado em Quaglia, Oliveira & Velho, 2015, p.107). Diante do exposto, essa nova proposta vem com o objetivo de alcançar outros métodos de ensino e aprendizagem, resguardando a capacidade de pensar, de refletir, de discutir e não apenas memorizar (Ortiz, Ribeiro & Garanhani, 2008, p. 561).

As tecnologias da informação empregadas na educação tomam um caráter estratégico em tempo que dão força a disseminação global do conhecimento, provocando o intercâmbio com o resto do mundo, conduzindo a individualização de seu acesso e aprendizado, por meio dos fluxos que determinam onde, quando, quem e como utilizá-los (Brasil, 2009, p.53).

O aprendizado conduzido por aportes tecnológicos, principalmente na atualização profissional é de grande valia, motivo pelo qual evoluiu muito nos ultimo anos. Ele permite a flexibilidade e abertura no acesso ao conhecimento e à informação, auxilia a formação de comunidades virtuais em áreas específicas, supera problemas de distância e de acesso a bibliografias, favorece a circulação de dados e o desenvolvimento de debates e, em geral, proporciona uma adesão dos usuários mais dinâmica, oportuna e personalizada do que as atividades de ensino tradicional (Brasil, 2009, p.53).

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CAPÍTULO II - A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE (EPS)

II.1 A EPS e o mundo do trabalho em saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi oficializado através da Constituição Brasileira de 1988, que instituiu que a saúde é um direito de todo e qualquer indivíduo, cabendo ao Estado o cumprimento dessa prerrogativa, podendo ser subsidiada através de políticas sociais e econômicas orientadas à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Estabeleceu também, que o SUS é ordenador da formação de recursos humanos na área de saúde e que deverá incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico (Brasil, 1988).

Esse arcabouço legal contemplou ainda, a descentralização das ações e serviços, trazendo uma significativa expansão desses, com a priorização de novos modelos assistenciais e, consequentemente, ampliação da demanda para o trabalho em saúde. Essa expansão acelerada proporcionou grandes alterações na composição e estruturação da força de trabalho, com maior concentração nas esferas de governo estaduais e municipais (Medeiros, Silva & Martins, 2016, p.34).

Segundo Gonze (2009, p.16) o SUS é um sistema de saúde edificado a partir da mobilização popular por melhores condições de assistência à população e seu ideário abarca a ampliação da concepção de saúde e a crítica ao modelo médico-curativo ainda hegemônico. A criação do SUS encontra-se no âmbito de movimentos internacionais que sugeriram mudanças intensas no modo de abordar a saúde humana, questão que passa a ser inquirida de forma mais complexa e ampliada a partir de então.

As Leis Orgânicas da Saúde (LOS), Lei n° 8.080/90 e Lei n° 8.142/90, ambas sancionadas no ano de 1990, foram criadas para dar cumprimento ao aporte constitucional. Sendo que a primeira regula os serviços de saúde em todo território nacional, trazendo a universalidade, equidade e integralidade como princípios doutrinários, já a segunda enaltece a importância da participação da comunidade na gestão do sistema, devendo ser efetivada periodicamente por meio das conferências e conselhos de saúde nos três níveis de governo.

Para Pinheiro (2005, p.175) a integralidade tem no campo das práticas um espaço privilegiado para a constituição da saúde como direito e como serviço, ou seja, como eixo

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norteador de uma política deverá ser efetivado cotidianamente por constantes interações democráticas dos sujeitos focadas por valores emancipatórios que primem pela garantia da autonomia, exercício da solidariedade e no reconhecimento da liberdade de escolha do cuidado e da saúde que se deseja obter.

Conforme Gonze (2009, p.11) a integralidade da atenção deve ser compreendida como princípio estruturante das políticas de saúde e a formação para a área, uma responsabilidade do SUS. Desta forma, é fundamental entrelaçar ambas as questões, partindo da premissa de que uma maneira de formar profissionais voltados para a realidade do sistema, bem como para seu ideário, é focar a formação para o princípio da integralidade.

Visando atender a essa demanda o Ministério da Saúde (MS) instituiu em 2004 a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) que se revela como veículo potente de transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho. Deste modo, a PNEPS tem como pressuposto a educação ‘no’ e ‘para’ o trabalho, alicerçado na aprendizagem significativa, ou seja, ela se efetiva a partir da realidade dos sujeitos (Brasil, 2004, p.7; Brasil, 2005a, p.12).

Em 2007 a PNEPS foi implementada através da portaria 1.996 do MS, compondo um alicerce normativo para a organização dos processos de gestão da educação na saúde nas diferentes esferas.

Nesta política, a Educação Permanente utilizada como estratégia fundamental para recomposição das práticas de atenção, de gestão e do controle social no setor da saúde, é definida como a concretização do encontro entre o mundo da formação e o mundo de trabalho, onde o aprender e o ensinar se congregam ao cotidiano das organizações e ao trabalho, ou seja, a educação permanente trabalha com as transformações das práticas técnicas e sociais, partindo sempre da realidade em que os sujeitos envolvidos estão inseridos (Guimarães, Martin & Rabelo, 2010, p.31).

A saúde, enquanto campo do saber, ao longo dos tempos se articulou com a educação, percebeu-se que apenas técnicas apuradas de diagnósticos, procedimentos cirúrgicos e tratamentos não conseguiam dar uma resposta apropriada às questões de saúde da população. Deste modo, a saúde passou a buscar também os saberes da educação como um importante aliado para superar os problemas de epidemiológicos. (Oliveira, Quaresma, Pereira & Cunha, 2015, p.72).

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Os atores sugerem que a educação no âmbito da saúde seja um espaço de trocas de saberes e de experiências, onde os profissionais estejam preocupados com a otimização dos serviços e ensino em saúde, ação reconhecida por gestores comprometidos e corresponsáveis nesse processo.

A ideia se apoia em refutar a orientação de uma formação que não se ajusta aos princípios e diretrizes preconizados pelo SUS, na qual o ordenador federal da saúde define como:

[...] alheia à organização setorial e ao debate crítico sobre o cuidado na saúde, apresentando pouca ou nenhuma relação com a realidade social e epidemiológica da população. Além disso, defronta-se com modelos curriculares fragmentados, não inseridos nos serviços públicos de saúde, divididos em ciclos básicos e profissionais, em geral pouco integrados e dependentes de alta tecnologia. Quanto ao enfoque pedagógico, frequentemente limita-se às metodologias tradicionais baseadas na transmissão de conhecimentos, que não privilegiam a formação crítica do estudante, inserindo-o tardiamente no mundo do trabalho (Brasil, 2007, p.8).

Na formação em saúde devem ser evidenciados aspectos referentes aos determinantes de saúde e à determinação biológica e social da doença, estudos clínico-epidemiológicos, respaldados em experiências capazes de possibilitar a avaliação crítica do processo saúde-doença e de realinhar protocolos e intervenções. Ademais, devem ser pesquisados os componentes gerenciais do SUS, no estabelecimento de práticas adequadas de gestão, na perspectiva de alimentar processos de tomada de decisão e excitar a conformação de redes de cooperação técnica. É imprescindível, portanto, que se articule cada vez mais a oferta de educação permanente com as necessidades assistenciais, estimulando a incorporação de modalidades de educação a distância, bem como oferta de vagas de cursos de pós-graduação em áreas estratégicas ou com carências de profissionais qualificados para o SUS. (Brasil, 2007, p.18).

Segundo Ceccim e Feuerwerker (2004) as capacitações profissionais não podem ser apenas norteadas pela busca eficiente de evidências ao diagnóstico, cuidado, tratamento, prognóstico, etiologia e, profilaxia das doenças e agravos. É fundamental, oferecer subsídios para o atendimento focado nas necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde, redimensionando o desenvolvimento da autonomia das pessoas até a condição de influência na formulação de políticas cuidado.

Os autores afirmam ainda, que formação para os profissionais da saúde, deveria ter por finalidade a transformação das práticas e da própria organização do trabalho, e estruturar-se a

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partir da problematização do processo de trabalho e sua capacidade de dar acolhimento e cuidado às várias dimensões e necessidades de saúde das pessoas, dos coletivos e das populações.

Cada vez mais se nota a necessidade de educação no cotidiano dos profissionais da área, uma vez que o acelerado crescimento dos espaços de trabalho tem acarretado uma atuação focada no conhecimento e no desenvolvimento de capacidades voltadas para tomada de decisão (Silva, Santos, Cortez & Cordeiro, 2015, p.1100).

A base metodológica da EPS contempla a ressignificação do conhecimento pré existente, adequando-o à realidade do trabalho; bem como a valorização do diálogo e da discussão entre os trabalhadores como formas de reconhecimento dos entraves que dificultam as mudanças organizacionais; e também reflexão sobre estratégias para sua superação. Esses fatores estabelecem a distinção entre a tradicional Educação Continuada, centrada em cursos e capacitações ministrados na perspectiva do repasse de conteúdos e sem a preocupação com a transposição desse conhecimento para a vida cotidiana dos serviços (Campos & Santos, 2016, p.605).

Do ponto de vista de Merhy e Feuerwerker e (2011), trazer o mundo do trabalho como o “meio” do processo pedagógico e de aprendizagem do trabalhador com a sua prática laboral, configura, o percurso que a gestão, enquanto espaço institucional ocupado pelos atores legítimos que constituem a organização no cotidiano, convoca como possibilidade de colocar através da educação permanente o fazer cotidiano sob avaliação e escopo de intervenção, expondo os seus próprios fazedores à ótica ético-política. E, assim, coloca em evidência a compreensão e problematização do próprio agir individual e coletivo dos trabalhadores, ali no seu mundo produtivo, implicando-os política e organizacionalmente com a conformação de certo campo de práticas de saúde e não outro.

Na EPS, o trabalhador não é um sujeito passivo. Ele não vai “receber” o conhecimento de algum ser iluminado. Ele vai participar do processo educativo, sendo também autor e produtor do conhecimento na proporção em que se confronta com a realidade e esta o desafia a emitir respostas, soluções a problemas do cotidiano do seu trabalho. Assim, o conhecimento brotado na universidade não é o único a ser enaltecido. O conhecimento produzido na experiência do trabalho também é muito valorizado. É aquele conceituado como saber-fazer, uma espécie de

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saber que não se aprende em nenhuma escola, um saber constituído pela experiência adquirida no dia-a-dia do trabalho (EPS em Movimento, 2014a).

Infelizmente essa prerrogativa da EPS precisa ser mais difundida entre os profissionais de saúde. Quase não se fala dos “improvisos”, das “gambiarras”, do “jeitinho”, de tudo aquilo que é feito para que o trabalho aconteça. Ao contrário, normalmente não se toca no assunto. É até mesmo provável que julguem ser uma maneira errada, na medida em que não segue exatamente o que está nos manuais. Na verdade, os manuais e protocolos, embora também ajudem a realizar um bom trabalho, estão sempre desatualizados frente à rapidez com que os modos de trabalhar se transformam (EPS em Movimento, 2014a).

Para ilustrar a lógica da EPS, Merhy (1997 como citado em Merhy; Feuerwerker, 2011) ajuízam que para a concretização de uma ação de saúde, os trabalhadores se utilizam de estruturas tecnológicas, compostas por três modalidades: as duras, que se referem aos equipamentos e medicamentos; as leve-duras, equivalem aos conhecimentos estruturados como da clínica e da epidemiologia e as leves, que são as tecnologias relacionais, que possibilitam ao trabalhador escutar, relacionar-se, compreender, estabelecer vínculos e cuidar dos usuários

Os autores continuam a explicar que as tecnologias leves confere vida em ato ao trabalho em saúde, permitindo ao trabalhador ações sobre as subjetividades dos usuários em cada contexto, dando sentido para o uso das duras e leve-duras. É nesse espaço, do trabalho vivo em ato, que os trabalhadores resinificam, dia a dia, seu protagonismo na produção dos atos de saúde. É nesse espaço, privado por excelência, que ocorre a relação intersubjetiva entre trabalhador e usuário, que se constrói e se reconstrói a liberdade de fazer as coisas de forma que produzam sentido ao menos para o trabalhador. Por conta desse fato, o trabalho em saúde não pode ser guiado tão somente por receitas, guia ou mapas, pois está centrado nas relações entre pessoas em todas as fases de sua realização e sempre sujeito aos desígnios do trabalhador em seu espaço autônomo, privado, de realização da prática.

Avaliza-se assim, que a EPS se fundamenta na aprendizagem significativa. Possibilidade de ressignificar as práticas profissionais existe porque perguntas e respostas são formuladas diante da reflexão de trabalhadores e estudantes sobre o trabalho que executam ou para o qual se preparam. A EPS pode ser compreendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela se dá no cotidiano das pessoas e das organizações. Ela é feita diante dos entraves enfrentados na realidade

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e leva em consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas já possuem (Brasil, 2005a, p.12).

II.2 As contribuições do e-Learning para EPS

Desde que foi criado, o SUS já passou por mudanças relevantes nas práticas de saúde, porém ainda não foram suficientes. Para que novas mudanças aconteçam, faz-se necessário também intensas transformações na formação e no desenvolvimento dos profissionais da área. Isso equivale a dizer que somente será possível mudar a forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde dos brasileiros se ocorrerem mudanças também os modos de ensinar e aprender (Brasil, 2005a, p.6).

As constantes mudanças que a esfera da saúde vem enfrentando determinam a necessidade do desenvolvimento dos profissionais, para o fortalecimento da assistência prestada à população. O mundo do trabalho demanda cada vez mais dos profissionais o desenvolvimento de um perfil crítico-reflexivo, e, para tal, é imprescindível a aquisição de conhecimentos e competências técnicas e relacionais, de forma a promover o desenvolvimento profissional e pessoal dos sujeitos (Silva, Santos, Cortez & Cordeiro, 2015, p.1100). Nesse sentido, os profissionais são motivados a participarem desse processo de mudança, fazendo com que eles primem pela busca do conhecimento, reconheçam seu valor e a importância da educação permanente para a consolidação do SUS (p.1105).

Corroborando com esse pensamento Guimarães, Martin e Rabelo (2010, p.26) afirmam que no processo de educação dos profissionais da saúde, as agendas de capacitação contínua têm sido pensadas focando a relação com o processo de trabalho institucional, buscando assim, a transformação da prática. Logo, vem se adotando como pressuposto pedagógico a discussão da realidade a partir dos elementos que façam sentido para os profissionais que almejam a melhoria dos processos de trabalho, refletindo assim, no atendimento prestado. Neste sentido, a incorporação de uma tecnologia de comunicação de ponta deve estar alicerçada numa conjectura de ensino que possibilite uma aprendizagem significativa, embasada no pensamento reflexivo, dialógico, contextual, colaborativo e construtivo.

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Para fomentar processos de ensino-aprendizagem contextualizados, se faz premente levar em conta os desafios e as possibilidades da atualidade para a superação das distâncias culturais, sociais, técnico-científicas, tecnológicas, geográficas e físicas inerentes a sociedade em que vivemos, oferecidas pelas diversas formas de educar/educar-se que surgiram, além da modalidade presencial (Torres, 2005, p. 179). A utilização das novas modalidades de ensino tem contribuído significativamente para o desenvolvimento dos recursos humanos em saúde, seja no processo de formação e/ou no processo sucessivo de conhecimento (Silva, Santos, Cortez & Cordeiro, 2015, p.1106-1107).

Apesar disso, e-Learning na área da saúde, ainda está em um estágio de experimentações e ascensão. Inúmeras são as discussões a respeito de sua utilização, sobretudo enfocando as necessidades de formação, assim como de desenvolvimento de habilidades motoras e afetivas para o exercício das práticas profissionais em saúde e de que modo se pode atingir este objetivo à distância. Logo, o e-Learning vem sendo utilizado em maior dimensão nos cursos de pós-graduação ou cursos de atualização para profissionais, já inseridos nos serviços. (Ortiz, Ribeiro & Garanhani, 2008, p. 559).

Torrez (2005 p.179) entende que as experiências em educação online, sejam estas complementares ou parte integrante dos currículos de graduação ou pós-graduação, não podem relegar os processos, as diretrizes, os movimentos políticos que permeiam a política de educação para o SUS, o que envolve diretamente as instituições promotoras dessa modalidade.

O e-Learning surge como estratégia para inovar e impulsionar os movimentos de EPS, em virtude do crescimento acelerado do conhecimento e seu compartilhamento, podendo romper as barreiras da distância e do tempo. (Ortiz, Ribeiro & Garanhani, 2008, p. 559). Diante disso, Guimarães, Martin e Rabelo (2010) afirmam que:

[...] o desenvolvimento de programas de educação deve ser orientado pela evolução da tecnologia, que demanda rápidas mudanças no contexto do cuidado à saúde, devendo também ser organizado de forma a trabalhar as necessidades educativas identificadas em cada grupo (Guimarães, Martin & Rabelo, 2010, p. 32).

Atualmente é possível potencializar a EPS com recursos tecnológicos de EaD. Não se trata de substituir uma modalidade por outra, e sim de enriquecer os projetos juntando ambas as

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contribuições, ou seja, faz-se necessário fortalecer os processos de EPS com a inclusão de aportes e-Learning, aproximando o conhecimento elaborado às práticas das equipes, potencializando suas contribuições no caminho de um progresso construtivo e inclusivo. Para que isso se torne realidade, é fulcral o fortalecimento dos modelos educativos a distância privilegiando a problematização e integrando-os ao desenvolvimento de projetos de EPS (Brasil, 2009, p.54).

No entendimento de Paim e Guimarães (2009, p.96), no cenário organizacional, nascem novas práticas para a qualificação profissional que procuram responder às necessidades de educação permanente. Nesse campo, a gestão pública busca acompanhar as inovações tecnológicas, a velocidade da informação e comunicação e o desenho de estratégias para ultrapassar os desafios do desenvolvimento pela ampliação das possibilidades da educação.

Campos e Santos (2016, p.612) asseguram que por funcionar seguindo a lógica da facilitação e mediação, o e-Learning se ajusta aos princípios da EPS, por agenciar a autonomia do aluno, deslocando o foco do professor, que passa de detentor do conhecimento a mediador da aprendizagem. Contudo, os autores sinalizam que gerir iniciativas não presenciais aplicando a metodologia da problematização pode ser avaliado com um desafio, a proporção em que tal metodologia demanda o diálogo e a discussão, e, por conseguinte uma monitoria/facilitação ativa e constante.

Os autores revelam ainda que, sendo considerados os devidos limites, essa descentralização da comunicação, realmente deve ser encarada de forma positiva por alicerçar o princípio da interação com os pares, assegurado na lógica do e-Learning e da metodologia da problematização. Entretanto, esse fato não deve acomodar a desculpa para adoção de um comportamento passivo por parte tutor, somente acompanhando a distância as trocas entre os alunos, uma vez que nem sempre esses assumem as direções e os contornos condizentes com os objetivos dos cursos e perspectivas de aprendizagem. Conclui-se assim, que ficar intimo das ferramentas de comunicação coletivas, síncronas e assíncronas, bem como das suas combinações viáveis se faz essencial para a apropriada condução e potencialização dos processos de educação a distância na área da saúde (Campos & Santos, 2016, p.616).

Guimarães, Martin e Rabelo (2010, p.31) defendem que para materialização dos processos de EPS são exigidos métodos e técnicas que avancem no sentido da adoção de uma

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postura facilitadora por parte do tutor e na corresponsabilidade do aluno na produção do conhecimento, facilitadas pela utilização de tecnologias como mediadoras do processo de educação, tal qual, empregadas nas experiências de e-Learning.

A EaD do mundo contemporâneo visa formar profissionais com visão ampliada de promoção de saúde, onde o projeto terapêutico supere a assistência individual de cada profissão, mirando na necessidade do trabalho em equipe, que integra os conceitos de multiprofissionalidade e interdisciplinaridade (Dullaart, Speelberg, Schuurman & Milne, 1986 como citado em Nunes, Franco & Silva, 2010, p.555).

A operacionalização do processo de educação permanente é um desafio para gestores e para os próprios profissionais de saúde. Vários motivos podem ser relacionados às dificuldades encontradas na efetivação de programas de educação permanente, entre os quais emerge o acesso a centros de formação e capacitação, tendo em vista a distância que pode existir entre esses e os profissionais (Marques, Miranda, Moreira & Riani, 2012, p. 92).

Ademais, as dificuldades temporais para a realização das atividades propostas também é outro motivo que inibe a prática de EPS, tendo em vista o duplo ou triplo vínculo de trabalho que esses profissionais possuem. Sendo assim, a utilização do e-Learning permite a otimização e flexibilidade do tempo gasto. (Paladino & Peres, 2007 como citado em Silva, Santos, Cortez & Cordeiro, 2015, p.1106).

Considerando ainda a rotina dos serviços públicos de saúde e o fato de que as demandas a ela relacionadas sobrecarregam em demasiado os profissionais, Campos e Santos (2016, p.623) afirmam que se tornam interessantes para a gestão desses serviços quaisquer projetos de formação profissional que os preservem em seus postos de trabalho.

Ao analisar os estudos realizados nessa área os autores chamam a atenção para a necessidade de prudência quando da idealização e realização de iniciativas na modalidade EaD, sob a perspectiva da corrente teórica da EPS, para que não se reproduza o modelo tradicional da educação continuada apenas camuflado com recursos tecnológicos. À parte de possíveis distorções existentes, a Política de EPS torna evidente o seu apreço pelas contribuições das tecnologias da informação à educação na saúde.

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Tal apreço se justifica, uma vez que o e-Learning possibilita atender, além do mercado de trabalho em diferentes áreas, o aprimoramento dos profissionais da área da saúde. Fato que rendeu novas possibilidades no processo de aprendizagem, como: capacitação, aperfeiçoamento e atualização. O e-Learning é uma alternativa para esses profissionais, pois proporciona, por meio de plataformas virtuais de aprendizagem, ferramentas e programas de educação permanente (Quaglia, Oliveira & Velho, 2015, p.104).

Petra, Marcolino, Corso e Cavalcanti (2015, p.50) defendem que a concepção de educação centralizadora vem perdendo espaço diante da valorização da relação sujeito-sujeito em ambientes de interação com a participação dos profissionais de saúde, especialmente os virtuais. Nessa conjuntura, os processos de aprendizagem a distância podem ser uma oportunidade para compor uma nova e proveitosa relação com base em uma prática pedagógica dialógica.

Segundo Ortiz, Ribeiro e Garanhani (2008, p.562) o e-Learning pode se enxergado como um meio facilitador para a EPS, em decorrência do crescimento acelerado do conhecimento e sua divulgação, podendo amenizar as barreiras da distância e do tempo.

Posicionar o e-Learning na estratégia de EPS significa compreendê-la como disparador de integração de sujeitos através da formação de redes virtuais de educação em saúde. Tais redes firmam novas formas de interação e extrapolam distâncias físicas e temporais, criando um novo ambiente de aprendizagem, no qual o conhecimento é construído coletivamente (Paim & Guimarães, 2009, p.97).

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CAPÍTULO III: ESTUDO DE CASO

III.1 O Programa EPS em Movimento

O programa pedagógico conhecido EPS em Movimento5 foi uma ação fomentada pelo Ministério da Saúde (MS), que viabilizou a parceria da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio do Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde (EducaSaúde), tendo a colaboração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através da Linha de Pesquisa Micropolítica do Trabalho e Cuidado em Saúde e da Rede Governo Colaborativo em Saúde (UFRGS – MS) (EducaSaúde, 2014).

Para apropriação das atribuições do EducaSaúde, este envolve a produção sobre as políticas públicas e os programas institucionais nos contextos da educação na saúde e da saúde coletiva, como também as práticas pedagógicas em saúde com o objetivo da formação de profissionais de saúde (educação permanente, residência, graduação, educação profissional), além de atuar a mais de dez anos no apoio a Política da EPS (Maia, 2015, p.12).

O projeto EPS em Movimento contemplou tanto aos portadores de diploma de nível superior quanto os de diploma de nível médio. Os graduados aprovados na ação educativa, foram certificados com o título de Especialização em Formação Integrada Multiprofissional em EPS, já os não graduados com o título de Aperfeiçoamento em Atualização Multiprofissional em Educação e Ensino da Saúde. As ofertas se deram e forma conjugada e Inter complementar, onde esses atores ocuparam o AVA em conjunto e efetivaram as mesmas atividades, com exceção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que não foi exigido aos alunos de nível médio. (EducaSaúde, 2014).

Destinou-se a atores sociais atrelados ao SUS e que cumprem ou pretendem cumprir papel de mediadores, facilitadores ou apoiadores em EPS. A formação foi estruturada por um percurso com carga horária de 360 horas, na modalidade a distância e momentos ou movimentos presenciais. As vagas foram distribuídas entre as 435 regiões de saúde do país, tendo como objetivo geral desenvolver movimentos e práticas de EPS, reconhecer a produção local de

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cotidianos de saúde e ativar práticas colaborativas de educação e ensino da saúde (EducaSaúde, 2014).

Constituiu-se com uma importante iniciativa, pois de acordo com Brasil (2005a, p10) na esfera da Educação na Saúde a maior parte dos cursos técnicos, universitários, de pós-graduação e as residências formam profissionais distantes das necessidades de saúde da população e de organização do sistema. Além disso, enquanto que em algumas regiões do país possui uma vasta oferta de cursos de formação na área da Saúde, em outras eles quase não existem.

A ação educativa reconheceu que todos chegam com saberes e experiências e que todos podem ser afetados pelos mais diferentes encontros: com outras pessoas, com lugares, com histórias e experiências, com diferentes conhecimentos. Deste modo, a aprendizagem ocorre diante desses diversos encontros, as interações podem ser buscadas, mobilizadas e agenciadas nos territórios de produção de saúde de cada um dos atores (EPS em Movimento, 2014b).

Apostou-se numa rede de encontros, reconhecimento e cooperação, conforme os pressupostos e premissas da EPS, que são agenciadas em todo país, ancoradas na concepção de um SUS cuidador, inclusivo, universal, capaz de criação em atos cotidianos. O evento educativo teve por objetivo ativar esses processos em sua potência de intercâmbio, convite, oferecimentos, provocação, conversação e redes (EPS em Movimento, 2014b).

Em suma, a proposta de trabalho para o desenvolvimento de competências se baseia na perspectiva das redes de conversação, suas variadas origens, suas múltiplas derivações e suas plurais destinações. Assim sendo, a ação formativa não foca na linearidade ou modularidade, e sim em entradas, percursos e registros variados e únicos por educando (EPS em Movimento 2014b).

Revelou-se como uma iniciativa audaciosa, alicerçada em uma experiência de encontro entre trabalhadores e usuários, trabalhadores e gestores e trabalhadores entre si na perspectiva da EPS, movimentada em todo país, através do e-Learning. Configurou-se como convite aos trabalhadores do SUS para a invenção de práticas de aprender, de cuidar e de fazer/viver a EPS para que fosse possível dar destaque à potência do trabalho vivo em ato (EPS em Movimento, 2014c).

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Assim, se apoiou na perspectiva de constituir processos de aprendizagem que viram acontecimentos a partir do encontro entre os trabalhadores, usuários, normas, práticas de cuidado e tatos outros elementos do mundo que penetram a vida produzida na saúde. Encontros esses que produzem, a partir das experiências singulares, também inquietações, incômodos, assim como possibilidades de invenção de novas formas de agir e estar com os outros. Encontros que, inseminados de diferentes apostas e desejos, não estabelecem nenhum fechamento, nenhum final ou verdade para a aprendizagem, estão sempre em aberto, em construção (EPS em Movimento, 2014c).

Os trabalhadores não foram enxergados somente como fontes ou informantes de uma cena que interessa ser contada, mas como também autores e narradores. Não importando apenas a narrativa do outro, como um prontuário, uma descrição de doença, ou um caso alheio à equipe. Importava a potência de narratividade na qual esta narrativa seja de fato um processo construído entre todas as fontes possíveis e acessíveis. Importava procurar a ação e a narratividade como ferramentas para encontrar essas vidas (EPS em Movimento, 2014d).

O curso utilizou da plataforma digital Observatório de Tecnologias em Informação e Comunicação em Sistemas e Serviços de Saúde (Otics), reconhecido como Comunidades de Práticas, onde é viável compartilhar conhecimento, ideia e experiências. Organizado por um conjunto de tecnologias abertas, compreendidas como soluções de informática em sintonia com a política nacional de informação e informática em saúde para o SUS, processos de trabalho e saberes sistematizados, estabelecidos com base nas necessidades e capacidades dos territórios, que sejam capazes de captar, tratar, disseminar e utilizar construtivamente informações e conhecimentos para suporte à tomada de decisão em uma rede de atores identificados e vinculados com processos de gestão e de educação no sistema de saúde (OTICS, n.d, EPS em Movimento, 2014b).

E para acompanhar e avaliar as ações dos tutores e alunos do curso, o Otics foi organizado com as seguintes ferramentas pedagógicas: o Diário Cartográfico, a Caixa de Afecções, as Entradas e o Fórum (Maia, 2015, p.35).

Diário Cartográfico – É como um caderno com páginas em branco, que deverão ser escritas e recheadas com os acontecimentos que vão afetando cada participante durante o

Imagem

Gráfico 1 – Distribuição por sexo e idade dos participantes
Gráfico 2 - Distribuição por tipo de atividade laboral exercido
Gráfico 3 - Distribuição da formação dos alunos inquiridos
Gráfico 4 – Experiência com e-Learning antes do projeto EPS em Movimento
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