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CAPITALISMO E EMANCIPAÇÃO EM KARL MARX: ESTUDOS SOBRE TRABALHO, EDUCAÇÃO E ESTUDOS DE GÊNERO

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CAPITALISMO E EMANCIPAÇÃO

EM KARL MARX: ESTUDOS

SOBRE TRABALHO, EDUCAÇÃO

E ESTUDOS DE GÊNERO*

DIANE ÂNGELA CUNHA CUSTÓDIO** TERESA CRISTINA BARBO SIQUEIRA***

Resumo: este artigo visa desenvolver uma análise teórica sobre a concepção de capitalismo

e emancipação nas obras de Karl Marx e alguns autores marxistas. Realizou-se revisão sis-temática da literatura na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) no recorte temporal de 2008 a 2016, com o objetivo de analisar o que já foi publicado sobre o tema e quais aspectos já foram abordados. Considerando critérios de inclusão/exclusão foram selecionados 6 artigos para a análise. Evidencia-se a pertinência de estudos que abordam as concepções marxistas para a compreensão dos distintos fenômenos sociais da atualidade como, educação, luta de classes e estudos de gênero.

Palavras-chave: Marxismo. Emancipação. Trabalho. Capitalismo. Revisão Sistemática. O trabalhador deve apenas ter o que lhe é necessário para querer viver e deve querer viver unicamente para isso ter (Karl Marx).

O

interesse por essa problemática surge com a minha entrada no Mes-trado em Educação na linha de pesquisa intitulada: Estado, Política e Instituições Educacionais, a partir da vivência no grupo de estudos de educação em Marx, em que nos debruçamos nas discussões sobre a perspectiva educativa marxista, e também ao encontro dos dilemas enfrentados pela classe

* Recebido em: 13.02.2019. Aprovado em: 02.08.2019.

** Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás, na linha de pesquisa Estado, Políticas e Instituições Educacionais. E-mail: diane.custodio@gmail. com.

*** Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás. Adjunto III da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: fenomenologia, educação, sexualidade, educação sexual e políticas públicas. E-mail: teresacbs@terra.com.br.

DOI 10.18224/frag.v29i1.7148

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trabalhadora brasileira no século XXI com a atual realidade sócio-política, cada vez mais capturada por ondas conservadoras para a manutenção do capitalismo. Compreende-se que o conservadorismo, ao recusar o progresso da sociedade contemporânea, abdica o seu movimento dialético.

Na concepção de Marx, é notável a necessidade da extinção da propriedade burgue-sa para o surgimento de uma sociedade emancipatória, liberta de exploração. Nesburgue-sa perspecti-va, as teses de Marx compõem uma práxis revolucionária, que visa transformar drasticamente a realidade. No processo de emancipação Marx afirma que o trabalho é o alicerce do ser social, pois o sujeito como um ser social se (re) inventa pelo trabalho, o que vai determinando a sua subjetividade. Para o autor liberdade e igualdade caminham juntas, sem igualdade de garantia de direitos humanos, sem respeito as diferenças, não há liberdade.

De acordo com o autor:

Em Marx o ser humano é um ser de liberdade, mas não de forma abstraída das circuns-tâncias. Sua liberdade se constitui no âmbito de sua práxis, de sua ação transformadora no mundo, ser livre não é uma condenação, é uma construção no seio da relação com os outros seres humanos e o restante do mundo (...) ser e estar com o outro é fundamental, desenvolvendo nossa potencialidade humana sem o exercício do poder como dominação: nem dominação da natureza, nem dominação e exploração de outro ser humano. Pro-duzir, realizar, criar, transformar, sem destruir, sem se autodestruir, não só é necessário, como é possível (MASCARENHAS, 2017, p. 81).

O autor explica que em Marx o ser humano é livre à medida que transforma a sua realidade, que transforma o mundo. A liberdade resulta de um processo de construção coleti-va, isto é, a partir da relação dos homens entre si e dos homens com o mundo. Nesse processo de construção da liberdade é fundamental a união entre os indivíduos, sem que haja qualquer forma de dominação (homem/homem, homem/natureza), sendo possível produzir, realizar, criar, transformar sem a destruição da natureza e do próprio homem.

Em um primeiro momento serão contextualizados o capitalismo e a organização do trabalho. Em seguida analisaremos a concepção de capitalismo e emancipação em Marx atra-vés da revisão bibliográfica. As reflexões sobre esta temática são de extrema necessidade para professores (as) e profissionais da área da educação, pois a prática educativa não deve ser uma mercadoria, a educação possui um papel transformador, libertador e crítico na sociedade. DA TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

A pesquisa bibliográfica foi operacionalizada mediante a busca de artigos publica-dos nas revistas indexadas pela base de dapublica-dos Scientific Electronic Library Online (SciELO), a partir de palavras-chave: Marx and emancipação and trabalho. As consultas incluíram o período de 2008 a 2016 e retornaram 9 artigos e destes foram selecionados 6. O objetivo foi analisar o que já foi publicado sobre emancipação e trabalho em Marx e quais os aspec-tos abordados. Os critérios utilizados para a inclusão foram as leituras seletivas dos resumos encontrados, e em seguida a leitura integral dos textos e a identificação das ideias-chave e concluindo com a síntese dos resultados. Seguiram os critérios de exclusão os trabalhos com duplicidade e em outro idioma.

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Quadro 1: Artigos selecionados

Fonte: Elaborado pela autora.

CAPITALISMO E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O capitalismo possui em suas estruturas o desenvolvimento permanente das forças produtivas, pois o constante e acelerado desenvolvimento das forças produtivas é uma neces-sidade estrutural do modelo capitalista. Mesmo que a teoria marxista não tenha discorrido explicitamente de política social, percebemos que está problemática se encontra tomada por Marx em seus escritos, quando expõe suas discussões e percepções sobre a divisão de classes e de trabalho, a desigualdade e a relação da exploração burguesa.

Para Santos e Costa (2006) durante a Revolução Industrial inglesa consolida-se o modelo capitalista com a divisão de classes: burguesia e o proletariado, portanto o empobre-cimento da classe trabalhadora tem sua formação com o movimento histórico de acumulação do capital no século XVIII. Essa incompatibilidade produz desigualdades sociais, dessa ma-neira encontra-se de um lado a concentração da propriedade privada e da riqueza, e no outro a concentração da pobreza para a maioria que produz a riqueza (ZEFERINO, 2009).

Nas palavras de Marx:

A grande indústria criou o mercado mundial, preparado pela descoberta da América. O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da nave-gação e dos meios de comunicação por terra. Este desenvolvimento, por sua vez, refletiu na extensão da indústria e, na medida em que a indústria, o comércio, a navegação e as estradas de ferro se desenvolviam, crescia também a burguesia, multiplicando seus capitais e deixando a um segundo plano as classes legadas pela Idade Média (MARX, 1998, p. 77).

Título Autores Ano Revista

Trabalho, racionalização e emancipação: de Marx ao Marxismo, e a volta

Marcílio

Rodrigues Lucas 2016 Trab. Educ. e Saúde vol. 14 n. 3, Rio de Janeiro Set./Dez O feminismo marxista e a

demanda pela socialização do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças

Joana El-Jaick

Andrade 2015 Rev. Bras. Ciênc. Polit. n. 1, Florianópolis Jan/Jun O sentido de igualdade e

bem-estar em Marx Potyara A. P. Pereira 2013 Rev. Katálysis vol.16, n. 1, Florianópolis Jan/Jun A emancipação ociosa, ou, o que

nos propõe a teoria crítica de

Marx? Amaro Fleck 2012

Trans/Form/Ação vol. 35, n. 1, Marília Jan./Abr.

A constituição histórico-ontológica

da ética e dos direitos humanos Artur Bispo dos Santos Neto 2011 Rev. Katálysis vol. 14, n. 2, Florianópolis Jul/Dez A educação na perspectiva

marxista: uma abordagem baseada em Marx e Gramsci

Amarilio Ferreira Jr.I; Marisa

BittarII 2008

Interface (Botucatu) vol. 12, n. 26, Botucatu Jul/Set

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De acordo com as reflexões de Marx, o advento da Revolução Industrial, implicou uma excepcional expansão do mercado mundial, cuja gênese ocorrera com o desenvolvimen-to do comércio, da navegação e dos meios de comunicação terrestres. Por outro lado, em resultado desse movimento, a própria indústria expandiu-se dando origem à classe burguesa, que se tornou economicamente poderosa e passou a concentrar a riqueza, a propriedade e o lucro, relegando as classes sociais gestadas na Idade Média a um segundo plano.

A Idade Média, período compreendido entre os anos de 476 e 1453, normalmente denominado de “Anos Escuros” ou a “Idade das Trevas”, foi considerado como sinônimo de atraso, de primitivismo e de abandono do pensamento racional e das ciências. Contudo, no século XX, pesquisas revelaram aquele período como sendo rico no que se refere a concep-ções, inventos e complexas formas de organização. Ao contrário do que fora propalado, a época medieval caracterizou-se por importantes invenções, que contribuíram significativa-mente, para o desenvolvimento da civilização medieval e das épocas posteriores (MUNDO EDUCAÇÃO, 2018; SUA PESQUISA, 2018).

No século XX o mercado de trabalho sofreu várias modificações representadas pelo modelo fordista e taylorista, esses modelos nasceram para atender à velocidade e ao novo rit-mo de produção. No taylorisrit-mo as tarefas eram separadas por níveis hierárquicos, havia um controle sobre os movimentos e o tempo que cada trabalhador utilizava em cada tarefa, exi-gindo uma execução perfeita e no menor tempo. O modelo fordista abarcou algumas técnicas do taylorismo, mas houve uma maior captura das subjetividades dos trabalhadores, as linhas de montagens foram criadas para uma maior produção, havia um controle ainda maior dos trabalhadores. Ceolin (2009, p. 19) conclui: “com o taylorismo/fordismo o capitalismo en-trou em um longo ciclo de desenvolvimento, foram os anos dourados, período após a segunda guerra mundial até a crise do petróleo na década de 70 do século XX”. Para o autor, desde os anos 70 até a época atual o capitalismo entrou num ciclo de crises constantes.

Com essa crise, reinventou-se uma atual organização do trabalho denominada: toyotismo ou pós-fordismo. Antunes (1995) traz em sua fala contribuições para a diferença dos modelos fordista/taylorista para o modelo toyotista.

Conforme segue abaixo:

[...] a produção sob o toyotismo é voltada e conduzida diretamente pela demanda. A produção é variada, diversificada e pronta para suprir o consumo. É este quem determi-na o que será produzido, e não o contrário, como se procede determi-na produção em série e de massa do fordismo. Desse modo, a produção sustenta-se na existência do estoque mínimo. O melhor aproveitamento possível do tempo de produção (incluindo-se tam-bém o transporte, o controle de qualidade e o estoque), é garantido pelo just in time (ANTUNES, 1995, p. 26).

No toyotismo, a produção é realizada em função de demanda existente, voltada para atender o consumo, com variada e diversificada gama de produtos, mas em quantidade menor. O contrário do fordismo, em que se passa a produzir grande quantidade de produtos para o consumo, sendo que este é que determina a produção.

Essa nova organização do trabalho foi inserida gradativamente, nas décadas de 1950 a 1970 na Toyota. Este novo modelo intitulado como flexível, o qual os trabalhadores realizavam o maior número de processos nas fábricas, eliminando o trabalho repetitivo do

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Fordismo, mas exigindo menos trabalhadores e uma maior carga horária de trabalho (AN-TUNES, 1995).

Há 170 anos o capitalismo hegemônico instalou-se no mundo, isso se dá ao grande crescimento das inovações tecnológicas, com a proposta de um aumento da liberdade dos sujeitos tanto no trabalho quanto na práxis social, mas o que viemos percebendo com esta falsa emancipação é que ela cumpre o papel de potencializar a exploração e alienação dos indivíduos.

Como afirma Oliveira:

Em comum entre eles estava a percepção de que a dinâmica do capitalismo subdesenvol-vido é condicionada pela dinâmica do sistema mundial, pois a periferia é uma estrutura constitutiva de uma divisão internacional do trabalho de caráter assimétrico e hierar-quizado. Percebeu-se que no capitalismo global há países que são centros autônomos de decisão, detentores de monopólios financeiros e tecnológicos, e países subordinados que, além de não possuírem autonomia financeira, possuem estruturas produtivas fortemente dependentes de tecnologia estrangeira (2017, p. 35).

De acordo com análise do autor, o incremento e desenvolvimento da produção provocados por novos processos produtivos, não implicaram na liberdade dos sujeitos, seja no mundo do trabalho, seja no contexto social. Isso porque os países capitalistas ditos subde-senvolvidos ou periféricos são dominados e submetidos à lógica produtiva e de acumulação dos países capitalistas desenvolvidos ou centrais, implicando na existência de um mercado in-ternacional do trabalho, com países cuja estrutura produtiva é financeira e tecnologicamente dependente dos primeiros. Neste sentido, o sistema capitalista vem efetivando a alienação da classe trabalhadora.

EMANCIPAÇÃO NA CONCEPÇÃO MARXISTA

Para Marx a liberdade, igualdade e propriedade, são atribuídas como garantias ao individualismo e nunca para a emancipação social dos indivíduos. Portanto, a emancipação política representa um grande progresso, já que nos mantemos em um sistema capitalista, em uma sociedade de opressão e desigualdades sociais, este estágio não é pleno, mas podemos conceituá-lo como avançado. Para Marx é necessária uma emancipação social, mais ampla, que é desenvolvida a partir da emancipação política, já que somente a primeira é capaz de libertar o proletariado e a sociedade como um todo.

Em suas palavras (MARX, 1998, p. 47):

A revolução meramente política, a revolução que deixa de pé os pilares do edifício. So-bre o que repousa uma revolução parcial, uma revolução meramente política? No fato de emancipar uma parte da sociedade burguesa e de instaurar sua dominação geral, no fato de uma determinada classe empreender a emancipação geral da sociedade a partir de sua situação especial.

Para o autor apenas a revolução política não é suficiente para assegurar a emancipa-ção da sociedade como um todo dada a sua parcialidade, uma vez que persiste a dominaemancipa-ção

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social. É necessário que haja principalmente a emancipação social ampla e geral da sociedade a partir da sua própria condição.

Uma análise feita por Marx com relação à emancipação política do estado, demos-tra que só ocorre quando o mesmo é separado da religião. Em um estado religioso não possui emancipação política. Já um estado emancipado, pode aceitar cultos religiosos em ambientes privados.

Como ele mesmo descreve:

A emancipação política da religião deixa permanecer a religião na existência, embora já não se trate de uma religião privilegiada. A contradição em que o adepto de uma religião particular se encontra quanto à sua cidadania é apenas uma parte da universal contradição secular entre o Estado político e a sociedade civil. A consumação do Estado é o Estado que se reconhece simplesmente como Estado e abstrai da religião dos seus membros. A emancipação do Estado a respeito da religião não é a emancipação do homem real quanto à religião (MARX, 2006, p. 20).

Na concepção marxiana, a emancipação política do Estado somente acontece, quando ocorre a emancipação em relação à religião, com esta permanecendo na existência dos indivíduos sem, contudo, ser uma instituição privilegiada no âmbito estatal. Mas, concebe que o pertencimento dos indivíduos a uma religião particular representa uma contradição do mesmo modo que a relação Estado político e sociedade civil.

A emancipação política, sendo assim um estado livre, adquire uma universalidade que não acaba com as particularidades sociais, como: propriedade, classe, educação, profissão, religião. Uma política emancipada retrata a redução das particularidades que compõe a vida humana (profissão, educação, religião, propriedade) à categoria de sociedade civil. Portanto, a emancipação humana ocorre com a ligação do ser social e do individual.

Conforme afirma Marx:

Somente quando o homem individual recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais, somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas próprias forças como forças sociais e, quando, portanto, já separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana (1991, p. 52).

Na concepção do autor, a emancipação humana decorre da conversão das relações individuais em relações sociais, quando os indivíduos tornam suas forças individuais em for-ças sociais.

Compreende-se, que para coincidirem-se revolução e emancipação de uma classe da sociedade é preciso que o proletariado acabe com a sociedade de classes e não assuma a opressão e alienação que lhe é posicionado.

DISCUSSÃO

O artigo dos autores Ferreira Jr. E Bittar (2008) intitulado: A educação na

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educacional omnilateral, de que o ser humano é completo quando não há uma separação entre material e espiritual. Nessa perspectiva a educação tem um papel oposto à formação unilateral que seria a alienação do trabalho e a divisão social do trabalho. Percebe-se uma re-lação com o que vivenciamos na atualidade com o sucateamento da escola pública, do Ensino Básico ao Superior, devido à supervalorização da educação como mercadoria. Nesse sentido, o trabalho se transforma em mercadoria e o sujeito alienado.

Com isso:

Se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata, quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em produção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral (MARX, 2004, p. 80).

Conforme a colocação do autor, ainda que a riqueza que o trabalhador produz seja extensa, mais pobre ele é, pois não usufrui da riqueza produzida. Numa relação inversa, quanto mais mercadorias ele produz, ele próprio se torna uma mercadoria tão mais barata; mão-de-obra comprada pelo capitalista por um valor irrisório, bem inferior àquele que ele produz. O trabalho transforma a si mesmo e ao trabalhador em mercadoria, cujo valor é inferior ao bem produzido, residindo aí a mais-valia apropriada pelo proprietário capitalista.

O artigo relaciona ao longo do texto a educação com a liberdade, e que isto está completamente atrelada à classe trabalhadora ter acesso aos saberes dominantes, articulando uma educação que vai ao encontro com a teoria e a prática. O homem precisa atuar de forma inteira e não fragmentada, pois só assim atingirá sua emancipação.

Santos Neto (2011) em A constituição histórico-ontológica da ética e dos direitos

huma-nos problematiza em seu estudo que não existe emancipação com um sistema capitalista, pois a

emancipação deve ser social e política. Marx diferencia a emancipação política da humana, na qual a primeira restringe a cidadania, aos direitos políticos e a democracia, podendo existir com a ordem burguesa, já a humana precisa se desvencilhar das desigualdades, compor outra forma de sociedade, só com outro modo de produção essa liberdade plena pode ser atingida.

No trabalho de Fleck (2012) denominado: A emancipação ociosa, ou, o que nos propõe

a teoria crítica de Marx? O autor fomenta em suas discussões o pensamento Marxista de

emanci-pação, principalmente através da leitura de O Capital e dos esboços preparatórios de Karl Marx. Traça suas considerações a partir da perspectiva marxiana ao construir sua crítica ao capitalismo, com ênfase à diferença entre o potencial transformador da técnica na forma como foi desenvol-vida no contexto do modo de produção capitalista e a sua realidade efetiva nesse sistema.

Num segundo momento, suas reflexões compreendem a crítica de Marx ao sistema capitalista, sob o argumento de que a valorização do capital como meta da produção, resulta na dominação abstrata dos indivíduos. Sendo assim, a emancipação no pensamento marxista é concebida a partir da emancipação do trabalho em relação à criação de mais tempo disponí-vel. Nas releituras de Marx ele identifica que a dominação do trabalho ocorria e ainda ocorre devido à submissão do homem, no lugar de dominar essa relação.

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A alienação do trabalhador no objeto exprime-se assim nas leis da economia política: quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem de consumir; quanto mais valores criam, tanto mais sem valor e mais indigno se torna; quanto mais refinado o seu produ-to, tanto mais deformado o trabalhador; quanto mais civilizado o produto tanto mais bárbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tanto mais impotente se torna o trabalhador; quanto mais brilhante e pleno de inteligência o trabalho, tanto mais o trabalhador diminui em inteligência e se torna servo da natureza (2004, p. 161).

Nas palavras do autor fica evidente que na relação homem/produção, o primeiro é submisso ao segundo, está numa posição de alienação, pois quanto mais produz, menos consome; quanto mais valor ele cria, mais sem valor e indigno é o seu trabalho; quanto mais riqueza ele gera, mais é dela excluído. Nessa lógica, o trabalho alienado conduz a condição que torna legitima a existência do capitalismo, dado que, se o trabalhador fosse totalmente emancipado, o trabalho estaria a ser serviço dele e não da exploração do capital.

Trata-se este do trabalho desfigurado, aviltado que Marx chama de trabalho estra-nhado, aquele que resulta de uma relação social cuja base é a propriedade privada, a divisão da sociedade em classes antagônicas, em que ocorre a exploração do trabalhador que produz pelo proprietário dos meios de produção, impedindo a realização plena do homem como gênero humano, bem como o desenvolvimento da omnilateralidade do ser social (COSTA, 1996).

Esse processo de estranhamento, ao separar o homem do produto de seu trabalho, de seu próprio ser e dos outros homens, tendo como base a propriedade privada e a expropria-ção do trabalhador, gera contradições entre os indivíduos que produzem e os que dominam e se apropriam do produto do trabalho alheio. Contradições estas que permanecem insolúveis porquanto persista a sociedade de classes típica do capitalismo (COSTA, 1996).

Em seu texto: O sentido de igualdade e bem-estar em Marx, Potyara Pereira (2013) faz uma abordagem que coaduna com o trabalho de Fleck que reflete sobre o capitalismo, trabalho e política social, através da leitura de O Capital. A autora faz suas reflexões sobre a concepção de Marx quanto à igualdade e bem-estar substantivos, os quais mantêm relações orgânicas com as necessida-des humanas, o trabalho e a liberdade real. Procura identificar em Marx uma espécie de sociologia do bem-estar social, que conduz às análises críticas da política social capitalista. Finaliza analisando que as leituras marxistas são extremamente relevantes para entendermos a acumulação do capital e a dominação do Estado a partir do histórico da Revolução Francesa e do momento atual.

O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burgue-sia começa com a sua existência. No começo, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente, operários de um mesmo ramo da indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. (...) Mas, com o desenvolvimento da indústria, o proletariado não apenas se multiplica; comprime-se em massas cada vez maiores, sua força cresce e ele adquire maior consciência dela. Os interesses, as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais à medida que a máquina extingue toda diferença de trabalho e quase por toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo (MARX; ENGELS, 1998, p. 47).

De acordo com as reflexões dos autores, a luta proletária acontece, a princípio, contra a burguesia pela sua existência, luta esta que acontece de forma isolada, mas que vai

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aglutinando-se à medida que situações e interesses similares vão sendo identificados e per-cebidos. À medida que a atividade industrial desenvolve-se e intensifica-se, o proletariado aumenta em número e em força e, cada vez mais consciente dessa força e de suas condições, os interesses, as condições de existência e razões de lutas tendem a se igualar.

No texto de Andrade (2015): O feminismo marxista e a demanda pela socialização

do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças trata-se também de uma temática muito

relevante na contemporaneidade abarcando estudos feministas marxistas em diálogo com Marx. Na discussão central a autora debate o trabalho doméstico como meio de produção, já que nos estudos de Marx ele não evidencia o trabalho doméstico como produção social. Nesta perspectiva, mesmo ocorrendo uma reconfiguração das relações entre os sexos, e a mulher se posicionando mais no mercado de trabalho, ainda são questionados os papéis ocupados por elas em países com muitas desigualdades sociais. Assumindo assim, trabalhos precários e sub-remunerados como: babás, faxineiras, cozinheiras e cuidadoras sem o reco-nhecimento social.

Por sua vez, Lucas (2016) escreveu sobre a relação entre trabalho e emancipação no pensamento marxista refletindo da necessidade do trabalhador não se subordinar aos meca-nismos capitalistas.

Para complementar Marx e Engel (1998, p. 59):

Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se organiza forçosamente em classe, se por meio de uma revolução se converte em classe dominante e como classe dominante destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói, juntamente com essas re-lações de produção, as condições de existência dos antagonismos entre as classes, destrói as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.

O que percebe-se, na concepção dos autores, é que na luta contra a burguesia, o proletariado é levado a se organizar em classe, mas esse movimento visando extinguir as anti-gas relações de produção e, por extensão, as condições de existência dos antagonismos entre as classes, destruirá as classes em geral, inclusive a sua própria dominação de classe.

De acordo com as reflexões e discussões analisadas a alienação do trabalhador está relacionada com o grande número de produção de mercadorias, com a grande jornada de trabalho ou falta do ócio, descanso, lazer, etc. Na sociedade industrial, os indivíduos vivem divididos entre o trabalho, visto como uma carga, um peso, um esforço e algo desprazeroso, e o ócio, visto como o tempo voltado para o desfrute, para a entrega às inclinações pessoais (ENGUITA, 1989). Com o aumento da produção o trabalhador perde a autonomia sobre o processo e o produto, nesse sentido o trabalhador não se sente pertencente, a necessidade de produção não é para gerar prazer, reconhecimento para si próprio, e sim, favorecer o mercado, devendo o tempo de trabalho ficar livre de qualquer interferência externa.

CONCLUSÃO

A trajetória teórica aqui empreendida pretendeu abordar o capitalismo e a emancipação a partir de teorias marxistas, tendo Marx como interlocutor fundamental. Com a concretização do sistema capitalista, o trabalho assume a configuração de mercadoria e, sendo a práxis particular central, imprime a mesma transformação para as demais ações, inclusive, a emancipação humana.

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Concluímos que estudos que abordam Marx e teóricos marxistas constituem refe-renciais relevantes para a compreensão dos distintos fenômenos sociais da atualidade. Neste sentido, acreditamos que seja necessário um maior número de publicações que relacionem o capitalismo e emancipação humana com fenômenos sociais contemporâneos.

É relevante evidenciar que os textos analisados são apenas recortes das pesquisas considerando os descritores: Marx and capitalismo and emancipação nas bases de dados SciE-LO, para pesquisas futuras sugere-se um levantamento bibliográfico em teses e dissertações de mestrado.

CAPITALISM AND EMANCIPATION IN KARL MARX: STUDIES ON LABOR, EDUCATION AND GENDER STUDIES

Abstract: This article aims to develop a theoretical analysis on the conception of capitalism and

emancipation in the works of Karl Marx and some Marxist authors. A systematic review of the literature was carried out in the Scientific Electronic Library Online (SciELO) database in the temporal cut from 2008 to 2016, with the objective of analyzing what has already been published on the topic and what aspects have already been addressed. Considering inclusion / exclusion crite-ria, 6 articles were selected for the analysis. It is evident the relevance of studies that approach the Marxist conceptions for the understanding of the different social phenomena of the present time, as education, class struggle and gender studies.

Keywords: Marxism. Emancipation. Labor. Capitalism. Sistematic Revision. Referências

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Referências

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