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A evolução da economia de Macau nos últimos anos da administração portuguesa e nos primeiros da administração chinesa

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(1)

De

a

[ Ou Mun]

A evolução da economia de Macau

nos últ imos anos da administ ração port uguesa

e nos primeiros da administ ração chinesa

por

Ant ónio M. de Almeida Serra

(CEsA/ ISEG/ UTL)

(2)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 2 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

O present e t ext o é uma versão (muit o) revist a e aument ada de out ro int it ulado “ Casino Macau” , publicado pelo CEsA em 2006 como um dos seus Document os de Trabalho.

Provavelment e nunca um t ext o t erá f eit o t ant o j us a est a classif icação (“ de t rabalho” ) j á que ele se veio a most rar a sement e para o que agora se apresent a e que, nascido daquele, acaba por t er uma vida própria, não podendo ser ent endido, t ais as alt erações int roduzidas no ant erior, como uma mera versão melhorada e aument ada do ant erior.

Não se esperem, no ent ant o, alt erações subst anciais dos pont os de vist a adiant ados no document o inicial. Eles, no f undo, j á lá est ão (quase) t odos, t endo nós agora a preocupação de ir mais a f undo no document ar das ideias apresent adas e na abordagem, com inf ormação est at íst ica apropriada, da evolução económica de Macau nos últ imos anos da administ ração port uguesa e nos primeiros da administ ração chinesa.

Essencial nest e aprof undament o do t ext o inicial f oi a possibilidade de abordar est es assunt os com especialist as resident es em Macau at ravés de ent revist as realizadas no local em Junho/ 07 e um mais aprof undado t rat ament o da inf ormação est at íst ica disponível. O t ext o f oi escrit o, no essencial ainda em 2007 mas por várias razões só agora é possível publicá-lo. No f inal há um post -sr i pt um que dá cont a de algumas

inf ormações mais act uais (Set embro/ 08).

Aos que quiseram part ilhar connosco o seu conheciment o sobre Macau e à Fundação Orient e, que f inanciou quase int egralment e o proj ect o, o nosso muit o obrigado. Sem uns e out ra t eria sido impossível dar f orma a est e t ext o.

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Doc. Trabalho nº 74 pg 3 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Introdução

Um observador da evolução de Macau no f inal da administ ração port uguesa e no início da administ ração chinesa da act ual Região Administ rat iva Especial de Macau (de ora em diant e t ambém designada por “ RAEM” , “ Região” ou simplesment e “ Macau” ) seria t ent ado a dizer que “ os port ugueses j á não sabem o que f azer... e o pior é que os chineses t ambém não” .

Os dados sobre a evolução da produção de Macau desde 1998 parece conf irmarem a part e relat iva à administ ração port u-guesa e deixam a port a abert a para um j ulgament o semelhan-t e, mas não semelhan-t ão negat ivo, (pelo menos) quant o aos dois primeiros anos da administ ração chinesa da Regiãogião.

As t axas de desemprego apont am, algo nat uralment e, no mesmo sent ido: de 4,6% em 1998 passou-se a 6,3% no ano seguint e e a 6,8% no primeiro ano complet o de administ ração de Macau pelos seus próprios polít icos.

Est a t axa mant eve-se relat ivament e elevada at é 2003 quando, como veremos, f ace à sit uação e considerando a grave crise que ent ão af ect ava Hong Kong devido à “ gripe das aves” (e que se ref lect ia em Macau), o governo cent ral da República Popular da China resolveu, em coordenação com os governos das duas RAE do delt a do Rio das

Macau: taxa de crescimento do PIB

(preços constantes)

-4,6 -2,4

5,7 2,9

10,1 14,2

6,9 16,6 28,4

-10 0 10 20 30

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: DSEC

Macau: taxa de desemprego

2,2 2,1 2,5 3,6

4,2 3,2

4,6 6,3

6,8

6,4 6,3 6,0

4,9 4,2

3,8

0 2 4 6 8

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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Doc. Trabalho nº 74 pg 4 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Pérolas, adopt ar medidas que vieram a most rar-se essenciais para a recuperação económica de Macau (e de Hong Kong). Volt aremos ao assunt o mais adiant e.

Vej amos, ent ret ant o, qual a sit uação (“ f ot ograf ia” ) e, principalment e, qual a evolução (“ f ilme” ) regist ada nos últ imos anos da administ ração port uguesa.

1 - Macau “ português” : o “ modelo das grandes obras” + jogo + (tentativa

de) diversificação industrial

Est a, como se sabe, t erminou às zero horas de 20 de Dezembro de 1999. A dat a f oi escolhida de f orma a assegurar que a t ransf erência da administ ração se f azia depois da de Hong Kong. Est e era um “ pont o de honra” da part e port uguesa j á que ela assegurava que Port ugal, o primeiro país europeu a chegar a est as bandas da Ásia e o primeiro a aí se inst alar (lit eralment e) “ de armas e bagagens” , seria o últ imo a deixá-la.

Est a dat a sat isf azia igualment e a part e chinesa j á que lhe permit ia cumprir dois dos seus obj ect ivos f undament ais: f azer a passagem do milénio com (quase.. .) t oda a China reunif icada (f icava apenas a f alt ar a “ cerej a” do bolo: Taiwan) e... “ dar uma bof et ada de luva branca” aos ingleses que, sob a bat ut a do “ últ imo governador” Chris Pat t en, t inham t ornado as negociações com a China para a t ransf erência de Hong Kong num quase pesadelo dada a evident e preocupação de deixar sement es de democracia ocident al que causavam algumas “ dif iculdades de digest ão” ao governo cent ral chinês.

Not e-se que a pront idão com que a nova administ ração se encarregou de eliminar t odo e qualquer sinal da ant erior presença administ rat iva de Port ugal --- simbolizada pelo rápido t apar dos símbolos e dizeres no edif ício do Leal Senado e t odos os demais edif ícios públicos quando ainda se ouvia o som das últ imas badaladas da meia-noit e... --- parecia apont ar para uma vont ade de cort ar radicalment e com o passado, nomeadament e o mais recent e, que poderia est ender-se não apenas ao domínio dos símbolos ext eriores de soberania mas t ambém a out ros domínios --- nomeadament e o económico, na medida em que a sit uação não se af igurava nada f amosa..

De f act o, as dif iculdades que a economia do t errit ório t inha sent ido nos últ imos anos da administ ração port uguesa poderiam j ust if icar que t al linha de “ rupt ura” com o passado se est endesse à economia, ainda que no quadro geral do compromisso sobre a exist ência de “ um país, dois sist emas” e no quadro do est rit o cumpriment o dos acordos celebrados com Port ugal para o período pós-t ransição.

Aquelas dif iculdades económicas sent ir-se-iam, muit o provavelment e e mesmo sem um cont ext o económico int ernacional desf avorável como o que ent ão se verif icava 1, devido ao esgot ament o do que poderíamos designar como o “ modelo das grandes obras” que t inha caract erizado a polít ica económica implement ada por Port ugal, part icularment e a part ir dos governos do ent ão Comt e. Almeida e Cost a (1981-86). Ele

1

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f oi, na verdade, quem planeou reparou muit os dos proj ect os (principalment e inf raest rut uras f ísicas) a realizar no f ut uro e que preparariam , preparando Macau para o pós-Port ugal. Coube, porém, a Carlos Melancia (1987-90), execut ar muit as das obras planeadas e out ras.

Foi nesse cont ext o que, com o obj ect ivo (ilusório?) de dar a Macau uma relat iva aut onomia f ace a Hong Kong e, mesmo, à zona cont ígua da China Popular (a província de Guangdong/ Cant ão e, part icularment e, a cidade f ront eiriça de Zhuhai) que diminuísse a sua dependência f ace aos seus vizinhos, se lançou a const rução de “ grandes obras” de inf ra-est rut uras (nomeadament e o aeroport o (; f ot o ao lado), o novo t erminal marít imo para os de j et f oi l s que ligam Macau a Hong

Kong e a expansão da cent ral eléct rica mas t ambém pont es de ligação ent re a península de Macau e a ilha da Taipa).

Negociaram-se igualment e acordos

com inst it uições ext eriores a Macau --- nomeadament e organizações int ernacionais como a União Europeia, o GATT, et c. --- como se de um (mini-)país independent e se t rat asse.

Part e da explicação para a implement ação dest a lógica de preparar o ent ão Territ ório para uma sit uação de “ quase independência” (passe o exagero, que reconhecemos) poderá est ar no f act o de, à época em que a est rat égia f oi delineada e começou a ser implement ada, a est rat égia de abert ura da RPChina ao ext erior ser ainda muit o recent e e de evolução f ut ura e result ados que na época não se sonhava que viessem a aproximar-se do que são hoj e.

Um dos mais import ant es daqueles acordos pelas suas consequências post eriores f oi a adesão ao GATT que permit iu ao ent ão “ Territ ório” aceder a quot as (proporcionalment e muit o generosas) do comércio int ernacional de t êxt eis.

Ent ret ant o e desde meados da década de ’ 70 do século passado t inha-se verif icado um surt o de desenvolviment o indust rial. Est e surgiu “ em respost a aos est ímulos que os

Acor dos [GATT] t ransmit iam a pequenas economias como a de Macau, [mas] 88,5% da

produção est ava concent rada na indúst ria dos t êxt eis e vest uário, que empregava 68, 7% do t rabalhadores que laboravam em 41,8% dos est abeleciment os da indúst ria t ransf ormadora.” 2

2

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A aut ora da cit ação ant erior prossegue ref erindo (pg 22) que em 1992 cerca de ¾ das export ações de Macau eram do sect or t êxt il e 5% eram de brinquedos, sect ores que ent ret ant o se t inham desenvolvido --- t al como o f abrico de f lores art if iciais. A import ância do sect or t êxt il derivava do regime de quot as que est avam at ribuídas a Macau no âmbit o daqueles acordos e que levaram muit os indust riais de Hong Kong a inst alarem-se em Macau --- ou a comprar a indust riais macaenses as suas quot as de export ação --- dando origem à “ revolução indust rial” nest e ant igo “ t errit ório chinês sob administ ração port uguesa” segundo a f órmula const it ucional.

Est a indust rialização mais por inf luência ext erna (de Hong Kong, cuj os indust riais procuraram aproveit ar os cust os --- t errenos, mão de obra, impost os --- mais reduzidos em Macau) do que por iniciat iva própria3 e o f act o de vários empresários de Macau se t erem acomodado mais ao negócio da venda das suas quot as de export ação do que à produção propriament e dit a poderá est ar, segundo alguns observadores, na base de uma cert a t endência para os empresários locais macaenses serem mais element os de uma burguesia compr ador a, comissionist a, do que verdadeiros empresários capit alist as

(shumpet erianos?), dados ao risco e procurando ganhar dinheiro em act ividades direct ament e produt ivas, mais do que em act ividades com um cert o pendor comercial, senão mesmo especulat ivo.

De not ar, como j á mencionado acima, que as linhas mest ras do desenvolviment o do Territ ório naquilo que j á se sabia que seriam os últ imos anos da administ ração port uguesa f oram def inidas num cont ext o em que era dif ícil prever quais seriam as consequências para Macau --- e, principalment e, para a própria China.. . --- das alt erações de orient ação do desenvolviment o da RPChina aprovadas pelo Part ido Comunist a Chinês no f inal de 1978 e que dit aram a abert ura da China ao comércio int ernacional.

Uma das linhas orient adoras dest as ref ormas f oi a criação de “ zonas económicas especiais” , uma das quais abrangendo a zona f ront eiriça de Macau (Zhuhai4; vd f ot o ao lado), dest inadas a capt ar invest iment os est rangeiros que as t ornassem verdadeiras “ plat af ormas de produção” (e de angariação de divisas f ort es e de experiência para os (f ut uros) empresários chineses.

Na sequência dest as alt erações, a part e mais signif icat iva da produção indust rial de Macaumacaense 5 transf eriu-se para aquela ZEE chinesa, deixando o ent ão

3 Esta referência não esquece, no entanto, o facto de o “pano de fundo” do processo se ter ficado a dever, e

muito às decisões políticas e económicas das autoridades portuguesas

4

Aquando do processo de abertura da China ao comércio internacional e a criação das zonas económicas especiais, Zhuhai, a ZEE “colada” a Macau, não era mais que um conjunto de pequenas vilas dedicadas principalmente à actividade piscatória e com, no total, cerca de 100 mil habitantes. Hoje é habitada por bem mais de um milhão de pessoas

5 Como diz NUNES, Rosalina em

Macau: pequeno território em transformação, CEsA, 1995, pg 34, “em

meados da década de 70 [do século passado], em resposta aos estímulos que os Acordos [GATT]

transmitiam a pequenas economias como a de Macau, 88,5% da produção estava concentrada na indústria dos têxteis e vestuário, que empregava 68,7% do trabalhadores que laboravam em 41,8% dos

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Doc. Trabalho nº 74 pg 7 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

“ t errit ório” Macau com uma reduzida part e dest e t ipo de produção e, em consequência, ent regue essencialment e à prest ação de serviços.

Nest e cont ext o o t urismo assumia agora uma import ância ainda maior. E , na época (como agora), quem f alava de “ t urismo” f alava de “ j ogo” .

A implement ação do “ modelo das grandes obras” (públicas) f oi essencialment e f inanciada pelas receit as da Administ ração Pública local provenient es do pagament o do impost o sobre os rendiment os do j ogo, as quais subiram bast ant e na sequência da revisão, em 1976, do acordo de concessão de monopólio (dat ado de 1962) com o t ycoon

do mesmo, St anley Ho. Os impost os cobrados à indúst ria do j ogo asseguravam ent ão cerca de met ade das receit as da administ ração de Macau 6.

Tal modelo de cresciment o t inha uma limit ação principal: a de que, pela nat ureza das coisas --- a geograf ia do Territ ório, com os seus escassos cerca de 20 kms2 ---, est ava condenado à part ida a esgot ar-se mais ou menos rapidament e. Tal dimensão não permit ia, de f act o, que se prolongasse por muit os mais anos a const rução de equipament os colect ivos e de inf raest rut uras. Mas isso j á seria problema para os governant es seguint es. .. A est es compet ia apenas, acredit ava-se, “ deixar a casa arrumada” e com um leque apreciável de opções para o f ut uro.

A cont inuação do desenvolviment o de Macau, adivinhava-se, est ava em causa. Isso mesmo parece evident e quando se olha para os números da evolução do PIB a preços const ant es e do emprego: depois de em 1992, um ano excepcional, o PIB t er crescido à t axa de 13,3%, ele cresceu 5,2% em 1993, 4,3% em 1994, 3,3% em 1995 e, passando ao “ vermelho” , -0,4% em 1996 e 0,3% em 1997. As t axas de desemprego passaram de 2,5% em 1994 para 3,6% em 1995 e 4,2% em 1996.

Ist o é, a crise económica em Macau, que veio depois a agravar-se com a crise asiát ica de 1997-98 e seus ef eit os na economia vizinha de Hong Kong, começou ant es dest a crise mais generalizada e manif est ou-se, nomeadament e, naqueles números mas t ambém numa “ bolha” do sect or imobiliário que rebent ou naqueles anos e que levou a que, em 1996, se est imasse que exist iam em Macau cerca de 35-40 mil habit ações vazias, por vender ou alugar. Est e panorama era relat ivament e comum na Ásia de ent ão e t eve um papel import ant e no desencadear, na Tailândia, da crise de 1997.

O panorama económico nada animador que se viveu no últ imo quinquénio da administ ração port uguesa só poderia (event ualment e) melhorar no cont ext o de uma sua inserção na região sul da China (pelo menos). Mas isso est ava dependent e da República Popular e só ela a poderia levar a cabo.

Daí que Port ugal “ j á não soubesse o que f azer” porque, só por si, pouco poderia f azer --- at é porque uma aparent e “ mão invisível” parece t er apost ado em lhe dif icult ar

exportações de Macau eram do sector têxtil e 5% dos brinquedos que entretanto se tinham desenvolvido --- tal como o fabrico de flores artificiais. A importância do sector têxtil derivava do regime de quotas que estavam atribuídas a Macau no âmbito daqueles acordos e que levaram muitos industriais de Hong Kong a instalar-se em Macau --- ou a comprar a industriais macaenses as suas quotas de exportação

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Doc. Trabalho nº 74 pg 8 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

a vida nos últ imos anos da sua administ ração (para ser mais nít ida aos olhos de t odos as melhorias após a t ransf erência de poderes?). Abençoado moment o, o da passagem de t est emunhot ransf erência de responsabilidades...

Not e-se, no ent ant o, que alguns observadores da realidade local consideram que não f oi f eit o t udo o que est aria ao alcance das aut oridades port uguesas para revert er a sit uação económica vivida nos últ imos anos da sua administ ração.

Uns dizem que nessa época (ou mesmo ant es) se poderia t er f orçado, at ravés de negociações, o f im do cont rat o de monopólio do j ogo de modo a que, abrindo o mercado a out ros concorrent es --- como se veio a verif icar em 2002, j á sob a administ ração chinesa e depois de t erminado o cont rat o de monopólio ---, se aument asse a concorrência e com ela, esperava-se, as receit as do j ogo e o volume de impost os cobrados, t udo cont ribuindo para a reanimação da economia.

Tal renegociação poderia, mesmo, alegam, t er sido f eit a ainda durant e a primeira met ade da década de ’ 90 de modo a que o (esperado mas não cert o...) aument o das receit as do j ogo pudesse aj udar a sust ent ar a economia quando j á se ant evia o f im das grandes obras públicas (a últ ima das quais t erá sido o aeroport o, inaugurado no f im de 1995) e a recessão que inevit avelment e isso t raria consigo.

A ist o respondem out ros analist as da evolução de Macau com dois f act os import ant es --- um mais cert o do que out ro:

- primeiro, o de que a China de ent ão não era a China de hoj e, com um conj unt o de “ ricaços” dispost os a j ogar pequenas/ médias/ grandes f ort unas (suas ou alheias, como no caso de algumas empresas est at ais) nas mesas VIP dos casinos de Macau e com um vast o grupo de cidadãos com possibilidades f inanceiras para j ogarem no “ mass market ” ; e,

- segundo e principalment e, a China de ent ão não est ava preparada para t er uma polít ica de concessão de vist os para visit ar (e j ogar. ..) em Macau t ão “ generosa” como a que prat ica hoj e (em que Macau é part e da RPC), f acilit ando um f luxo enorme de visit ant es da “ mãe-pát ria” que vão visit ar o “ f ilho pródigo” (e t ent ar a sort e.. .). At é porque permit i-lo na época seria um convit e expresso à f uga de capit ais da RPC. . .

Mais (e, ist o sim, verdadeirament e decisivo), alguns af irmam mesmo que a RPC não permit iu --- ou f ez saber que não gost aria que t al acont ecesse, o que no caso dá no mesmo. .. --- que se f izesse t al renegociação durant e a administ ração port uguesa. Uma das razões f undament ais seria o receio de part e das cont rapart idas a negociar com os concessionários do j ogo acabasse, como aquando da últ ima renegociação com o concessionário monopolist a, por se t raduzir em vant agens para Port ugal que consideravam inj ust if icadas e que para eles t ocavam a raia da verdadeira “ f uga de capit ais” de Macau. Na sua opinião seria est e o caso da const it uição da Fundação Orient e e da localização da sua sede em Lisboa e não em Macau no quadro do acordo com a STDM de St anley Ho. Não est avam dispost os, evident ement e, a correr o risco de ver a hist ória repet ir-se.

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aquilat ar da possibilidade de invest irem no Territ ório no quadro do f im do monopólio ent ão exist ent e ant es de 2000. O rest o da Hist ória é conhecido.

No decurso da década de ’ 90 e f ace à progressiva “ desindust rialização” de Macau por t ransf erência da produção para Zhuhai (a ZEE f ront eira com Macau) ou out ras localizações na China Cont inent al, desenvolveu-se a ideia, no seio da administ ração port uguesa, de que se t ornava necessário resist ir a t al processo de

esvaziament o do sect or indust rial de modo a assegurar que o Territ ório não agravasse a sua j á grande dependência em relação ao j ogo e às suas receit as.

Nest e cont ext o, há sinais de t er havido a preocupação das aut oridades port uguesas de t ent ar a diversif icação do t ecido indust rial de Macau procurando at rair para ele indúst rias com maior valor acrescent ado, recorrendo a um mais int enso uso da ciência, da t ecnologia e do “ capit al humano” em det riment o das indúst rias mão-de-obra int ensivas que at é aí t inham caract erizado a produção made i n Macau” --- caso dos

t êxt eis, maiorit ários, dos brinquedos e das f lores art if iciais. No ent ant o e f ace às circunst âncias, aparent ement e as aut oridades não t erão levado o esf orço muit o a sério por (event ualment e) o considerarem mais ou menos inglório.

Sinais desse esf orço podem ser vist os na criação do CPTT (Cent ro de Produt ividade e Transf erência de Tecnologia), na “ luz verde” dada para a inst alação em Macau (1992) do cent ro da Universidade das Nações Unidas vocacionado para o est udo de aplicações inf ormát icas especialment e vocacionadas para f azerem f ace a necessidades dos países em desenvolviment o (o UNU-IIST, Unit ed Nat ions Universit y – Int ernat ional Inst it ut e f or Sof t ware Technology), a própria t ransf ormação da Universidade da Ásia Orient al (uma iniciat iva de privados de Hong Kong) na Universidade (pública) de Macau7 e, l ast but not l east e j á no “ encerrar das port as” , a elaboração de um est udo, a cargo de Êrnani Lopes,

que apont ava naquela direcção e que f oi deixado como “ herança” para a nova administ ração.

Sublinhe-se que est e esf orço é, t al como ref erido acima, enquadrável no esf orço, sempre t ent ado sem grande sucesso, de reduzir a dependência da vida económica do (ex-) Territ ório das receit as do j ogo. Sublinha-se que o que est ava em causa era uma diversif icação das act ividades económicas e não, de f orma alguma, a subst it uição de umas por out ras, nomeadament e do j ogo por act ividades mais indust riais.

7A causa imediata desta transferência da Universidade do sector privado para o público parece ter sido a

necessidade de lhe dar uma credibilidade que não teria. Mas não teria, no fundo e cremos nós, para servir de apoio ao referido esforço de melhoria do capital humano necessário para a melhoria do padrão de produção do Território

Macau: estrutura do PIB na óptica da produção a preços correntes (%)

0 20 40 60

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Transformadoras Construção Comércio, hotéis Financeiras,imobil., etc Admin. Pública + jogos

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Doc. Trabalho nº 74 pg 10 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Um observador salient ava que t al esf orço result a, event ualment e, da nossa (ocident al) educação j udaico-crist ã que t ende a ver no j ogo uma act ividade menos própria, “voi r e” mesmo algo “ pecaminosa” por ser result ado das inf luências do

“ maf arrico” sobre ment es menos preparadas para resist ir às “ t ent ações” t errenas. Os chineses, f elizment e (?), est ão isent os dest e “ modus pensant i” (!), não exercendo qualquer j uízo de valor negat ivo sobre ele --- o que, como veremos mais adiant e, não deixa de t er consequências sobre a f orma como ent endem o seu papel na economia.

No f inal da administ ração port uguesa, que coincidia t ambém, parcialment e, com o f inal do período de monopólio do j ogo, viveram-se moment os part icularment e agit ados devido às lut as que se est abeleceram ent re as “ t ríades” chinesas, nomeadament e com base em Hong Kong 8 e Macau, para a repart ição de part e do “ bolo” proporcionado pelo j ogo e act ividades com ele relacionadas (ex: emprést imos aos j ogadores), “ bolo” esse que est ava em diminuição devido à crise ent ão em curso.

Est e f enómeno e a insegurança pública que lhe andou associado, const it uiu, segundo alguns observadores, consequência mas t ambém causa de uma limit ação à cont inuação da rápida expansão do j ogo no Tt errit ório que, j unt ament e com as consequências da crise de 1997-98, t erá sido uma das bases das dif iculdades económicas que o t errit ório sent iu no f inal dos anos 90.

Como j á salient ado no início dest e t rabalho, o modelo de cresciment o baseado nas “ grandes obras” f inanciadas principalment e pelas receit as do j ogo t inha como inconvenient e principal o de que est ava condenado a esgot ar-se mais ou menos rapidament e devido à reduzida dimensão do Territ ório. A cont inuação do desenvolviment o de Macau est ava em causa e, adivinhava-se, só poderia ocorrer no cont ext o da sua inserção na região sul da China (pelo menos). Mas isso est ava dependent e da própria China e só ela a poderia levar a cabo. Daí que Port ugal “ j á não soubesse o que f azer” porque, só por si, pouco poderia f azer. Abençoado moment o da t ransf erência de responsabilidades...

2 - O modelo chinês de desenvolvimento de Macau:

“ (muito) mais do mesmo”

Herdeira de uma sit uação económica pouco invej ável, com pouca experiência de gest ão macroeconómica --- what ever i t means numa economia de vint e e poucos kms2 e

de cerca de 43500 mil habit ant es --- e, mal gr é bongr é, com um grau de aut onomia de

decisão f ace a Pequim ainda por t est ar, a nova administ ração não est ava nas melhores condições para, a 20 de Dezembro de 1999, ser capaz de, só por si, lut ar por uma ret oma económica que, no mínimo, “ marcasse a dif erença” (pela posit iva) em relação à administ ração que a precedera --- o que era int erpret ado como essencial para

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demonst rar a “ superioridade moral” da nova sit uação polít ico-administ rat iva e para que a China não “ perdesse a f ace” .

Daí que a recuperação económica a que se assist iu nos dois primeiros anos t ivesse sido, no mínimo, algo “ periclit ant e” , com a t axa de desemprego a at ingir os 6, 8% em 2000 e mant endo-se na casa dos 6% at é 2003. Ist o apesar de as t axas de cresciment o do PIB a preços const ant es t erem, logo em 2000, passado do “ vermelho” para uns animadores 5,7% que, no ent ant o, se reduziram a met ade no ano seguint e. Em 2002 deu-se o primeiro grande “ salt o” dest a t axa para um nível “ à chinesa” (da RPC), quando ela at ingiu os 10,1%.

Est a animação da act ividade económica --- que para o conj unt o do período de 2000 a 2006 se t raduziu num cresciment o do PIB à t axa de 13, 1%/ ano --- f icou mais a dever-se a dois ef eit os relat ivament e ext eriores a Macau do que à “ bondade” das polít icas adopt adas embora est as, nat uralment e, t enham sido suf icient ement e boas para permit irem aproveit ar o impulso ext erno recebido.

Aqueles dois impulsos ext ernos f oram:

a) o cresciment o da economia de Hong Kong no rescaldo da recuperação pós-crise asiát ica de 1997-98 (+10% em 2000); e

b) um import ant e aument o dos visit ant es da nova RAEM com origem na China, principalment e organizados em excursões que iam ver o “ f ilho pródigo” recém-regressado ao convívio dos seus iguais no cont ext o da “ Grande China” .

Not e-se, nos quadros acima, o abrandament o do cresciment o do número de t urist as em 2003. A causa dest a evolução f oi a “ crise (económica) da SARS (Síndroma da Insuf iciência Respirat ória Aguda)” que nesse ano at ingiu a Ásia, part icularment e a China,

Visitantes organizados em pacotes turísticos

Ano Total Da China

Continental

1998 870 988 474 960

1999 1 056 134 600 999

2000 1 493 677 946 424

2001 1 603 819 982 401

2002 2 102 586 1 425 205

2003 1 536 998 1 258 215

2004 2 497 781 2 068 246

2005 2 675 753 2 101 745

Entradas de turistas

Tx. anual cresci-mento

1998 6 948,5

1999 7 443,9 7

2000 9 162,2 23

2001 10 279, 0 12

2002 11 530, 8 12

2003* 11 887, 9 3

2004 16 672, 6 40

2005 18 711, 2 12

2006 21 998, 1 17, 6

2007 27 003, 4 22, 8

(12)

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Taiwan e Hong Kong 9 .

Est e abrandament o regist ou-se quer em relação ao t ot al dos t urist as --- usualment e designados de ‘ visit ant es’ nas est at íst icas de t urismo da RAEM --- ent rados em Macau quer, nat uralment e, aos que o f izeram em excursões organizadas provenient es da China Cont inent al.

Em respost a a est a sit uação e procurando evit ar o event ual desencadear de uma crise económica em result ado dest a descida de visit ant es, o Governo de Pequim aut orizou, em meados de 2003, que as visit as dos cidadãos chineses a Hong Kong e a Macau deixassem de ser, quase obrigat oriament e, ef ect uadas no quadro de excursões organizadas por uma qualquer est rut ura/ organização da RPC e permit iu que passassem a ser f eit as t ambém individualment e ou por f amílias. Not e-se que est a at it ude não t erá deixado de t er em consideração aquilo que eram as “ reivindicações” das concessionárias do j ogo em Macau j á que a sua candidat ura t erá t ido como pressupost o o de que, de pref erência mais cedo que mais t arde, se verif icasse t al liberalização.

O f im da SARS

(meados de Junho/ 06) e das

rest rições às viagens individuais a Macau t rouxeram consigo uma verdadeira explosão do número de t urist as: em 2004 ele aument ou 40% relat ivament e ao ano ant erior, passando de cerca de 12 milhões para quase 17 milhões. Também as viagens organizadas conheceram um grande aument o, t endo o número de chineses que visit aram Macau dest a f orma aument ado 800 mil em 2004 relat ivament e a 2003 (mais 65%).

9 A SARS é uma forma atípica de pneumonia e o primeiro alerta mundial emitido pela Organização Mundial

de saúde data de 12 de Março de 2003. O ‘pico’ de ocorrências a nível mundial (a maioria na Ásia Oriental, particularmente China --- 5,3 mil casos --- e Hong Kong --- 1,8 mil casos do total mundial de 8,1 mil) decorreu entre meados de Março/2003 e o fim de Abril seguinte.

Vd http://www.who.int/csr/sars/epicurve/epiindex/en/index1.html

Macau: visitantes por países em % do total

25 55 54 30 14 5 0 20 40 60 80 100

1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

China Continental Hong Kong Taiwan, China Sudeste Asiático outros Fonte: DSEC

Macau: entradas de residentes na China (mil)

0 1000 2000 3000 4000 5000

T 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 1ºT 2ºT 3ºT 4ºT 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

(13)

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Est a liberalização das visit as de chineses cont inent ais a Macau (eles represent avam 12% dos visit ant es em 1998, 25% em 2000 e 55% em 2007) cont ribuiu decisivament e para o desenvolviment o do t urismo (incluindo o j ogo) e do comércio.

Quant o ao primeiro, a t axa de ocupação dos hot éis passou de 54% em 1999 para 58% no ano seguint e e para 72% e 77%, respect ivament e, em 2006 e 2007 apesar de o número de quart os t er aument ado de 9 mil em 1998 para 10,3 mil em 2005, 12,4 mil em 2006 e 15,6 mil em 2007 --- um aument o de cerca de 25% em cada um dest es dois últ imos anos.

Quant o ao comércio, é de salient ar que os visit ant es da RPChina represent am um mercado import ant íssimo --- nomeadament e para o comércio propriament e dit o e a rest auração --- j á que se est ima que a sua despesa média t enha sido, em 2005 e 2006, de cerca de 3.078 e de 3.215 MOP10, respect ivament e. As médias dos últ imos t rimest res de 2006 e de 2007 f oram, respect ivament e, de 3.562 e 3.641 MOP.

Est es valores est ão bem acima da média --- para a qual eles cont ribuem --- de gast os por visit ant e (t ot al) e que f oi de 1. 670 e de 1. 714 MOP naqueles t rimest res. Trat a-se, pois, de um cont ribut o import ant e para o PIB de Macau 11.

Est e cresciment o rápido do número de t urist as logo desde a t ransf erência de administ ração para a RPC --- part icularment e dos oriundos dest a --- e as expect at ivas de que esse número viesse a crescer ainda mais agora que as “ Port as do Cerco” são uma (mera?) “ f ront eira int erna” f oi o f act or que mais cont ribuiu para que empresas int ernacionais especializadas nos “ j ogos de f ort una e azar” aproveit assem o f im do monopólio da STDM-Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, em 2002, para concorrerem a uma das t rês licenças de j ogo que o governo da RAEM resolveu ent ão leiloar para diversif icar o mercado do j ogo e t ent ar desenvolvê-lo aument ando, consequent ement e, as receit as f iscais que ele origina.

O que est ava em j ogo para os novos operadores era, nat uralment e e na pior das hipót eses, a redist ribuição do “ bolo” ent ão exist ent e de receit as de “ j ogos de f ort una ou azar” de cerca de MOP 18,1 mil milhões MOP em 2001 e de 21,5 mil milhões MOP em 2002. Também nat uralment e, porém, os seus obj ect ivos eram bem mais ambiciosos e procurariam f azer crescer signif icat ivament e aquele “ bolo” --- ao mesmo t empo que o “ redist ribuíam” --- alargando a capt ação de j ogadores a out ras regiões da Ásia Orient al e, principalment e, cont ando com a liberalização do acesso de cidadãos da China Cont inent al àquele pedaço da RPChina.

Not e-se que est a iniciat iva de abrir o j ogo à concorrência deve ser vist a no cont ext o mais largo da China e das art iculações dos poderes regionais com o poder cent ral de Pequim.

10

Embora a taxa de câmbio seja um pouco mais elevada (1€=11,75 MOP em 15/1/08, uma “thumb rule” utilizada para uma conversão rápida é a de 1€=12 MOP.

11

(14)

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De f act o, est a est rat égia de abert ura do mercado do j ogo (ainda que limit ado à passagem de um monopólio a um “ t riopólio” . ..) não podia deixar de t er sido combinada ent re o governo da RAEM e o poder cent ral. Est e últ imo t eria j á decido, mesmo ant es da t ransf erência de poderes em 1999, caminhar no sent ido de t erminar o monopólio exist ent e e t erá mesmo, como j á ref erido, f eit o saber que não aceit ava que o processo de abert ura do mercado do j ogo f osse realizado durant e a administ ração port uguesa pelos mot ivos t ambém j á mencionados acima.

Além disso, eram conhecidas as pressões de Hong Kong para abrir casinos no seu t errit ório. O poder cent ral f oi f undament al para “ regular” a dist ribuição regional de act ividades económicas, mant endo Hong Kong af ast ado do mercado dos casinos mas dando-lhe o monopólio da criação de grandes parques t emát icos como a Di sneyl ândi a local ---

para além de cont inuar com o monopólio das corridas de cavalos no Hong Kong Jockey

Cl ub (cuj as receit as das

corridas est avam, no ent ant o, em queda acelerada, com 78 mil milhões HKD em 2002, 71,5 em 2003 e 60 mil milhões em 2006).

Há mesmo int erpret ações de que o que veio a acont ecer na dist ribuição de licenças para a abert ura de novos casinos em Macau f ez part e art e de um “ arranj o” pat rocinado pelo poder cent ral.

De f act o, o concurso int ernacional para a concessão das t rês licenças t erá t ido, segundo algumas f ont es --- ou simplesment e “ int erpret ações” do que se passou ? ---, as cart as “ marcadas” desde o início, servindo t al concurso apenas para legit imar decisões que est ariam t omadas a pr i or i --- ou, pelo menos e se quisermos usar uma linguagem

mais “ polit icament e correct a” , ir ao encont ro das opções t omadas em Pequim (e em Macau, claro, desde que não f ossem dif erent es daquelas...) que eram consideradas como as que melhor sat isf aziam os int eresses da RPC e de Macau.

Est as passavam pela (nat ural) concessão de uma licença ao ant igo monopolist a St anley Ho, uma out ra aos int eresses económicos de Hong Kong mais ou menos como cont rapart ida pela não abert ura de casinos naquela RAE --- “ não abres casinos num lado

Hong Kong: impostos pagos pelo Jockey Club de Hong Kong e pelos casinos de Macau

(mil milhões HKD e de MOP)

10 12 14 16 18 20

1996-97 97-98 98-99 99-00 2000-01 01-02 02-03 03-04 04-05 05-06

impostos JCHK Impostos jogo Macau

Fonte: South China Morning Post, 2Julho2007, pg C9

Macau

Hong Kong

Macau e Hong Hong: receitas de apostas

(mil milhões HKD e MOP)

cavalos HK

jogo Macau

0 25 50 75 100

2002 2003 2004 2005 2006

(15)

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do delt a [do Rio das Pérolas] mas abres no out ro lado” ... --- e, f inalment e, uma t erceira para invest idores americanos de Las Vegas na sequência de opções da China (= governo cent ral), verdadeiras t ambém para out ros mercados/ sect ores de produção, de lidar pref erencialment e com os “t op of t he t op” mundiais nas respect ivas áreas de

act ividade.

Est a solução permit iria t ambém, ao que parece, mant er o envolviment o do Exércit o Popular da China no negócio do j ogo de Macau, envolviment o que vinha de há várias décadas, nomeadament e do t empo do concessionário ant erior à mudança ocorrida no início dos anos 60 (Companhia Tai Heng), quando St anley Ho adquiriu o monopólio do j ogo de Macau.

Uma “ dif iculdade” --- ou apenas um “ pequeno cont rat empo” ?! . . . --- que houve que resolver f oi o f act o de nas seis candidat uras pré-seleccionadas no âmbit o do ref erido concurso para t rês licenças de j ogo não f igurar a empresa represent ant e dos int eresses económicos de Hong Kong, a Galaxy, que, apesar de se t er candidat ado, não conseguiu ser pré-seleccionada (por f alt a de know how suf icient e sobre o sect or? Talvez).

Por out ro lado, uma das maiores empresas de Las Vegas que concorreram, a Las

Vegas Sands, t ambém não f oi pré-seleccionada. A sua decisão de concorrer associada a

int eresses de Taiwan t erá sido f at al para as suas pret ensões pois receava-se que com t ais int eresses viessem t ambém as máf i as da ilha “ rebelde” , que assim se imiscuiriam

nos int eresses do j ogo de Macau.

É na sequência do (inesperado?) af ast ament o dest es f ort es concorrent es logo numa f ase inicial que surge, a part ir do governo da RAEM --- com “ sugest ão” de Pequim? Muit o provavelment e ---, a propost a de uma aliança ent re o grupo de Hong Kong e o grupo americano da Las Vegas Sands e que pressupunha o rompiment o dest e com os seus

sócios de Taiwan. Tal acordo passava por uma das licenças ser concedida ao grupo

Gal axy de Hong Kong (e em que est ava represent ado o Exércit o Popular de Libert ação)

com a condição de a gest ão ef ect iva dos casinos que viesse a abrir ser ent regue à empresa americana devido à sua grande experiência no ramo12.

Dif iculdades no ent endiment o ent re est as duas part es quant o ao cont eúdo do cont rat o de gest ão a celebrar --- dif iculdades ef ect ivas ou esquema que j á est ava, t ambém ele, previament e acordado?!. .. ---, levaram a que se t ivesse caminhado no sent ido de, com o habit ual pragmat ismo chinês, admit ir uma solução que não est ava previst a na lei e que, por isso, é mais “ a-legal” que ilegal: a aut orização de o grupo

Gal axy conceder uma “ sub-concessão” ao grupo Las Vegas Sands/ Venet i an para ele

poder abrir os seus próprios casinos13.

12 Vd. Relatório do Conselho de Administração da Venetian Macau, SA relativo ao ano de 2006 e Notas às

demonstrações Financeiras do Relatório e Contas, em que se diz explicitamente que “De acordo com o contrato de concessão assinado entre o Governo da Região Administrativa Especial de Macau («O

Governo») e a Galaxy Casino, S. A. em 26 de Junho de 2002 («o contrato de concessão»), a VML [Venetian Macau, SA, da Las Vegas Sands[ seria a sociedade gestora durante o período de concessão, que se inicia em 27 de Junho de 2002 e terminará em 26 de Junho de 2022”

13

(16)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 16 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Uma vez concedida est a aut orização a um dos grupos com licença de j ogo e numa aplicação, pragmát ica e não previst a nele, do equivalent e ao princípio de “ nação mais f avorecida” --- uma f acilidade comercial (aduaneira, p. ex.) concedida a um país a é aut omat icament e est endida a t odos os out ros países ---, os out ros dois grupos f icaram com a possibilidade de disponibilizarem, eles próprios, uma sub-concessão.

Esclareça-se que os cont rat os est abelecidos ent re as concessionárias e as suas sub-concessionadas dest as são, i psi s ver bi s, copiados dos cont rat os est abelecidos ent re as

primeiras e o governo da RAEM pelo que, na prát ica e embora eles sej am est abelecidos ent re duas ent idades privadas --- nos das concessões as part es são uma privada e uma pública (o Governo) ---, se poderá dizer que est amos perant e seis licenças (ou 3+3).

De realçar que em nenhum dos casos est á previst o qualquer limit e quer ao número de casinos que cada operador pode abrir e operar quer ao número de mesas de j ogo e máquinas a colocar em act ividade. Dos novos casinos, uma part e poderá ser gerida direct ament e pelos concessionários (ou sub-concessionários) e o rest ant e poderá ver a sua gest ão ent regue a t erceiras ent idades.

Not e-se que as subconcessões das licenças de j ogo --- aut orização para uma companhia dif erent e da inicialment e concessionada pelo Governo da RAEM operar j ogo sob uma licença das empresas concessionárias --- f oram t ransaccionadas ent re as part es (privadas) mediant e um pagament o que, num dos casos, chegou aos 900 milhões USD (7,2 mil milhões MOP): a compra da sub-concessão pela Mel co-PBL à Wynn Resor t s14.

Igual licença cust ou 200 milhões USD ao grupo MGM, que a adquiriu à SJM-Soci edade de

Jogos de Macau. Boa part e da explicação para est e preço t ão baixo é o f act o de a MGM

se t er associado a Pansy Ho, f ilha do pat rão da SJM, St anley Ho, no lançament o do

hot el-casino MGM-Grand.

No caso da Wynn, pelo menos, a verba encaixada pela venda da subconcessão

represent a um enorme ganho de capit al que permit iu reduzir em muit o o esf orço de invest iment o a realizar. O invest iment o a que est a empresa se obrigou no cont rat o de concessão de licença de j ogo f oi de 4 mil milhões MOP no t ot al 15. No ent ant o, o valor do seu imobilizado no f inal de 2006 era j á de 6 mil milhões MOP.

jogos de casino na Região Administrativa Especial de Macau, celebrado entre a VML e a Galaxy Casino S.A., a VML passou a poder explorar directamente jogos de fortuna e azar e outros jogos de casino.”

14 “A Sociedade é concessionária para a exploração de jogos de fortuna ou azar ou outros jogos em casino em Macau, ao

abrigo do contrato de concessão assinado com o Governo de Macau em 24 de Junho de 2002 e é proprietária e opera o «Wynn Macau», um hotel/casino/resort. O período de concessão teve início em 27 de Junho de 2002 por um prazo de 20 anos, terminando em 26 de Junho de 2022. O «Wynn Macau» abriu ao público em 6 de Setembro de 2006.”

In Relatório do Conselho de Administração da Wynn Resorts de 2006

15

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Doc. Trabalho nº 74 pg 17 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Um dos casinos inst alados em Macau depois da abert ura do mercado, o Sands,

t ornou-se na época da sua inauguração (Maio de 2004) o maior casino do mundo relat ivament e ao número de máquinas e de mesas disponíveis para j ogar, inaugurando assim uma época de abert ura de verdadeiros mega-proj ect os.

A sua rent abilidade at ingiu t ais níveis que os seus propriet ários (a empresa americana Las Vegas Sands), que t inham est imado um período de 5-7 anos para

recuperarem o invest iment o, viram est e amort izado ao f im de cerca de ... um ano e meio.

Aquando da sua inauguração est e casino veio j unt ar-se a out ros j á exist ent es como o “ pat riarca” “ Casino Lisboa” , do grupo STDM, inaugurado em 1970.

Ent ret ant o e desde ent ão f oram sendo inaugurados ao longo do t empo out ros grandes casinos. De ent re eles ref iram-se, t odos na mesma zona (Praça Ferreira do Amaral, da cidade de Macau), o Wynn (f ot o à direit a) e, à

esquerda do “ Casino Lisboa” , o Gr and Li sboa, do

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Doc. Trabalho nº 74 pg 18 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

4 casinos “ de enf iada” na “ Macau St rip” : f alt a um quint o grande casino-hot el, o Gal axy

St ar Wor l d, à esquerda do Wynn e na f ot o encobert o pelo Gr and Li sboa

Não muit o longe dest a a zona est ão a f uncionar mais dois grandes casinos --- sempre associados com hot éis de muit as est relas ---, nomeadament e o Gal axy St ar Wor l d

(em baixo à esquerda) e o MGM Gr and (inaugurado em Dezembro/ 2007; em baixo, à

direit a).

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Doc. Trabalho nº 74 pg 19 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Simult aneament e com o “ redesenhar” dest a zona, out ra est á em pleno desenvolviment o: o COTAI, o at erro ent re as ilhas da Taipa e de Coloane e que f oi bapt izado de COTAI (de COloane e TAIpa). Est e at erro cont ribuiu para o aument o da

área da RAEM dos cerca de 22 kms2 de há alguns at rás para os act uais 27,3 kms2.

Nele est ão inst aladas ou a inst alar-se algumas das maiores inf raest rut uras hot eleiras de Macau, sempre com casinos associados. O t ot al dos invest iment os nest a zona est á est imado ent re 5 e 10 mil milhões de USD, devendo os vários hot éis a const ruir t ot alizar cerca de 60 mil quart os.

No COTAI est ão o Venet i an Resor t --- inaugurado em Agost / 2007 com 3000 quart os

e uma área dedicada ao j ogo que é t ripla da dest inada a esse f im no Sands Macau --- e o Gal axy Mega Resor t, em adiant ado est ado de const rução est á a Ci t y of Dr eams. O hot

el-casino Cr own est á j á em f uncionament o na ilha da Taipa)16 .

16 Alguns dos entrevistados para este trabalho referiram que preferiam que se tivesse evitado alterar tanto a

fisionomia e o modo de vida de Macau-península, optando por uma escala mais reduzida de investimentos em casinos-hotéis que deveriam ser instalados apenas (?) no COTAI.

Galaxy Mega Resort Venetian

O novo Macau

Casino Sands 2004

Casino Galaxy Waldo 2004

Casino Wynn 2006

Casino Grand Lisboa 2006 Casino Galaxy St arWorld 2006 Casino/ Hot el Venet ian 2007 Casino Galaxy Cot ai 2008 Casino MGM Macau 2007 Casino Park Hyat t 2007

Pont e Sai Van 2004

Pavilhão Desport ivo 2005 Port o de Pescadores 2005

“ Pont e 16” 2007

(20)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 20 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

O f im do monopólio do j ogo t rouxe consigo, adivinhava-se, uma verdadeira “ explosão” das suas receit as.

Macau: receitas do jogo

0 20 40 60 80 100

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ag

o.

Se

t.

Out

.

Nov. Dez.

200220032004200520062007 2007

Milh

ões MOP

5 6 7 8 9 10

Mi

lh

õe

s MOP

anual (eixo esqº) mensal/2007 (eixo dtº) Fim, de facto, do

monopólio com a inauguração do

Sands (Maio/04)

Introduzidas limitações aos vistos concedidos pela RPChina

primeiro mês de funcionamento

do Venetian

Fonte: DSEC/Macau

Nat uralment e, as quot as de mercado começaram t ambém a alt erar-se desde o moment o em que f oi inaugurado o primeiro casino da nova era (o Sands, em Maio de

2004), ent rando ao at é aí a empresa monopolist a numa rot a, esperada, de redução da sua quot a (dos 100% do início de 2004 passou aos 77, 71 e 47% no início (Janeiro) de 2005, de 2006 e de 2007.

O Sands, por sua vez, t inha uma quot a de 12% em Jan/ 2005, t endo a sua quot a de

mercado est abilizado (pelo menos at é agora) nos cerca de 20% de Janeiro de 2006 e de 2007. Repare-se que est a quot a baixou ligeirament e recent ement e para os 18% na sequência dos ganhos de quot a que o grupo Gal axy t em vindo a conseguir: 11% em

Janeiro/ 2005, 9% um ano depois e mais do dobro (21%) durant e o primeiro semest re de 2007.

(21)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 21 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

O Wynn, casino pert encent e a uma das empresas americanas de Las Vegas, f oi

inaugurado em Set embro/ 2006 e t em (meio de 2007) uma quot a de mercado de cerca de 16%.

Finalment e, em 2007 iniciaram a sua act ividade dois out ros grandes casinos: o

Venet i an, no COTAI --- act ualment e o maior casino do mundo com cerca de 850 mesas e

3400 (!) máquinas (sl ot machi nes) --- e, j á no f inal do ano, o MGM Gr and (350 mesas e

1000 máquinas), da associação ent re o grupo MGM e Pant sy Ho, a f ilha de St anley Ho, da SJM.

Número de casinos em Macau desde 2002-2007

Fim ‘de jure’ do mono-pólio

Fim, ‘de facto’, do

mono-pólio

2007*

CONCESSIONÁRIA 2002* 2003* 2004* 2005* 2006* 1o Trim. 2o Trim. 3o Trim. 4o Trim.

S.J.M. 11 11 13 15 17 18 18 18 18

Galaxy Casino - - 1 ** 1 5 5 5 5 5

Venetian Macau - - 1 *** 1 1 1 1 2 2

Wynn Resorts (Macau) - - - - 1 1 1 1 1

Melco PBL Jogos (Macau) - - - 1 1 1

MGM Grand Paradise - - - 1

TOTAL 11 11 15 17 24 25 26 27 28

*fim do ano ou do trimestre, conforme os casos ** Waldo *** Sands

Fonte: Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos de Macau (http://www.dicj.gov.mo/PT/index.htm )

Macau: quotas do jogo segundo os operadores

SJM Sands

Galaxy Wynn

0 25 50 75 100

Ja

n-04 Mar Mai Jul Set Nov

Ja

n-05 Mar Mai Jul Set Nov

Ja

n-06 Mar Mai Jul Set Nov

Ja

n-07 Mar

inauguração do casino Sands; fim, de facto, do monopólio da

(22)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 22 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

De quant o f ica dit o relat ivament e à evolução da indúst ria do j ogo em Macau desde a t ransf erência de administ ração (1999) parece evident e que a est rat égia seguida pelas novas aut oridades não se af ast a radicalment e da que t inha sido prosseguida pela administ ração port uguesa --- ou da que, sob a sua vigência, result aria “ nat uralment e” do f im do monopólio do j ogo.

A dif erença est á essencial mas não exclusivament e no “ grau” em que ela f oi adopt ada17, mais do que no “ t ipo” de est rat égia prosseguida embora est a sej a agora baseada não exclusivament e no j ogo mas t ambém em out ras act ividades t uríst icas que são vist as como seus complement os, como é o caso das diversões e da realização de grandes convenções int ernacionais.

Apesar do que dizemos acima reconhecemos, no ent ant o, que aquela dif erença de

gr au, de t ão grande, result a no que se poderá considerar como sendo t ambém uma

mudança de t i po de est rat égia.

O modelo adopt ado passa a ser mais de “ Turismo & Diversões” (incluindo o j ogo e organização de convenções) e os grandes proj ect os hot eleiros e de casinos cont emplam, no essencial, est a dupla dimensão. De part e f icaram quaisquer reservas em relação ao papel do j ogo na economia e na sociedade f acilit ado pelo f inal do monopólio. Abandonada de vez parece ser a t ent at iva, que caract erizou a cert a alt ura a est rat égia “ port uguesa” , de procurar uma diversif icação da est rut ura económica assegurando um papel minimament e import ant e à indúst ria, part icularment e a de maior cont eúdo de conheciment os.

Se diversif icação houve f oi dent ro do sect or que genericament e designamos como de t urismo e limit ou-se àquela ênf ase complement ar (do j ogo) nas diversões e no comércio de consumo de bens de gama alt a, principalment e marcas de vest uário e calçado de gr i f f e. Recorde-se que est a evolução seria, em part e --- menos no grau,

provavelment e ---, a que surgiria como que “ nat uralment e” na sequência do f im do monopólio do j ogo.

Veremos como a est rat égia adopt ada result a na prát ica pois parece exist irem alguns sinais de que est á a haver alguma dif iculdade na sua ef ect iva “ descolagem” , grupos havendo que est ão a ref orçar a component e “ j ogo” e a diminuir - ou a adiar? --- a import ância colocada na realização das act ividades paralelas (diversão) por o

17

No final do monopólio do jogo, em 2002, o número de mesas era de 339 e o de slot machines de 808; no final de 2007 eram 4.375 e 13,3 mil, respectivamente

Número de mesas e de máquinas de jogos desde 2002 (fim do monopólio)

2002* 2003* 2004* 2005* 2006* 2007*

1o Trim 2o Trim 3o Trim 4o Trim

Mesas de Jogos 339 424 1.092 1.388 2.762 2.970 3.102 3.992 4.375

Máquinas de Jogos 808 814 2.254 3.421 6.546 7.349 8.234 11.510 13.267

* fim do ano ou do trimestre, conforme os casos

(23)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 23 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

mercado não est ar a reagir como seria esperado --- t alvez com a excepção da dinamização do comércio de marcas int ernacionalment e conhecidas e de gama alt a18.

Not e-se que a dif erença de “ grau” --- “ mais do mesmo” ou, at é, “mui t o mais do

mesmo” ---, no f undo a grande dif erença em relação ao passado e à evolução (t endencialment e) nat ural após o f im do monopólio do j ogo, só est ava, na verdade, ao alcance das aut oridades chinesas j á que elas é que det êm o cont rolo da “ t orneira” dos f luxos t uríst icos da principal f ornecedora de visit ant es de Macau, a China Cont inent al19, principal at ract ivo dos invest idores est rangeiros na RAEM.

Por isso só as aut oridades chinesas (do Cont inent e e de Macau) / macaenses poderiam, como f izeram, adopt ar uma polít ica, enquadrada em opções ao nível nacional e não apenas local e/ ou regional, de t ransf ormar Macau no que se est á a t ornar: o “ Casino Macau” , onde t oda a China --- quiçá boa part e da Ásia orient al --- vai f azer uma das coisas de que mais gost a: desaf iar a sort e j ogando!

Est a via --- ou, pelo menos a sua escala --- est ava, pela nat ureza das coisas, vedada à administ ração port uguesa.

Dit o ist o, há lugar a f azer aqui uma ressalva: a de que as aut oridades de Macau e, principalment e, os principais invest idores na indúst ria do j ogo --- part icularment e os que t êm a sua base em Las Vegas --- t êm, aparent ement e, uma visão muit o mais ampla do seu mercado pot encial. Ele não se rest ringe à China Popular, ant es se est endendo a t oda a Ásia Orient al (do Japão a Singapura20 e Indonésia) e, mesmo, out ras zonas do globo que se poderão sent ir at raídas por est a “ Las Vegas do Orient e” .

18 Mais adiante dizemos algo sobre um aspecto essencial de qualquer balanço da aplicação da nova

estratégia: o de alguns custos que ela está a ter para alguns grupos da população

19

Esta capacidade de “manipular o manípulo” da “torneira” dos fluxos turísticos tem como consequência que o turismo de Macau está, em parte, dependente das decisões de Pequim quanto à quantidade e qualidade de turistas deixar passar para a RAEM. Isso mesmo ficou recentemente (Junho/2007) demonstrado com a alteração, num sentido mais restritivo, da política de concessão de vistos para visitar Macau. Voltaremos adiante ao assunto

20 Provavelmente espicaçados pelo sucesso de Macau enquanto destino de jogadores e tendo em

consideração a realidade cultural de parte significativa da Ásia Oriental (incluindo o Sudeste Asiático), Singapura acabou recentemente com a proibição de instalação de casinos no seu território. Outros países da região, como a Coreia e Taiwan e, mesmo, o Japão estão a reconsiderar as suas opções quanto à proibição do jogo.

Despesas públicas de capit al (milhão MOP) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 1. 595 1. 122 865 1. 119 1. 556 2. 720 3. 917 4. 540 4. 753 TxCresc% -30 -23 29 39 75 44 16 4, 7 Despesas públicas t ot ais

(mil MOP) Tx. Cresc. % 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

15. 505. 724 16. 636. 176 15. 024. 270 15. 220. 788 13. 486. 946 15. 712. 968 17. 703. 006 21. 184. 258 27. 349. 800

(24)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 24 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

Est a t ransf ormação de Macau no “ casino da Ásia” não dispensa, ant es ref orça, uma out ra vert ent e do desenvolviment o no t empo da administ ração port uguesa e que parece cont inuar na act ualidade: a de const rução de grandes inf raest rut uras de apoio ao ref erido desenvolviment o (pont es, reordenament o urbano, COTAI) e que exigem, nomeadament e, um aument o signif icat ivo das despesas públicas, part icularment e de capit al. Est as, que no f inal da administ ração port uguesa represent avam 8, 5% dos gast os t ot ais, represent aram cerca de 21,6%, em média, no biénio 2004-05.

Not e-se, porém, que o período 1998-99 não será represent at ivo do período de maiores invest iment os em Macau pela administ ração port uguesa por a maior part e deles j á est ar ent ão concluída.

Uma out ra dif erença em relação ao período de administ ração port uguesa é o f act o de agora, apesar dos signif icat ivos invest iment os públicos, o invest iment o det erminant e ser o privado para const rução dos grandes hot éis, casinos e espaços de diversão.

As despesas públicas, part icularment e as de capit al, f oram f inanciadas essencialment e com recurso às receit as result ant es da t ribut ação do j ogo.

Est a, part icularment e depois de revist o o regime de exploração do mesmo --- f im do monopólio de 40 anos da STDM em 2002 --- viu os seus valores aument arem signif icat ivament e, mais que duplicando ent re 2002 e 2005. Not em-se, part icularment e, os grandes acréscimos regist ados em 2003 (início do novo regime de exploração do j ogo) e em 2004, ano do início da exploração do Sands, à época o maior casino do mundo.

A import ância relat iva dest as receit as no conj unt o das receit as do Est ado

t ambém aument ou, passando dos 51% de 2002

para os 62%, 59% e 53% de 2004 a 2006. Ist o t raduz um aument o da dependência das f inanças públicas de Macau em relação às receit as da t ribut ação dos “ j ogos de f ort una e azar” .

A est rat égia adopt ada e, principalment e, a escala em que est á a ser implement ada, não deixa de t er os seus perigos.

Um deles é o f act o de a int ensidade do f luxo t uríst ico a que o pequeno t errit ório de Macau est á suj eit o act ualment e (cerca de 27 milhões em 2007, equivalent es a 74 mil pessoas/ dia), cerca do t riplo de 1999, est ar a alt erar o modo (e a qualidade) de vida dos resident es de Macau macaenses devido à pressão demográf ica que se est á a exercer e à

Receit as públicas (milhões MOP)

(1)

Tot al

(2)

Impost os direct os sobre o j ogo

(3)

% (3)/ (2)

(4)

Taxa de cr esc. das r ecei t as

t ot ai s (%)

(5)

Taxa cr esc. Rec. Jogo

(%) (6)

2002 15. 227

2003 18. 370 21

2004 23. 864 14. 740 62 30

2005 28. 201 16. 552 59 18 12

2006 37. 189 19. 789 53 32 20

2007

(Jan-Nov)

37. 401 26. 680 71 0, 6 35

(25)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 25 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

dif iculdade em as inf raest rut uras da cidade corresponderem ao esf orço que se lhes est á a exigir.

Out ro element o que t em de ser considerado como um cust o é a pressão que est á a verif icar-se ao nível dos preços em geral e das rendas, quer de habit ação quer do comércio, em part icular.

O sucesso económico da RAEM est á a at rair invest iment os no imobiliário com origem no ext erior, part icularment e da vizinha Hong Kong mas t ambém do Cont inent e. Isso est á a f azer aument ar o preço por met ro quadrado das const ruções vendidas,

o que acaba por se ref lect ir na renda pedida pelos novos propriet ários.

Os ant igos acompanham est e moviment o ao recusarem-se a est abelecer cont rat os de arrendament o por um período superior a um ano (ou, mesmo, seis meses), f indo o qual podem f ixar o novo valor da renda sem quaisquer limit ações.

Est a subida do preço do imobiliário --- quer do novo quer do usado, sendo que est e, por mais barat o, est á a t er uma procura excepcional que se ref lect e no seu encareciment o mais que proporcional --- f oi especialment e nít ida em 2004 e 2005.

Ela t em como consequência, ao nível individual, que j á há pessoas que est ão a adquirir habit ações no out ro lado das “ Port as do Cerco” , em Gongbei/ Zhuhai, assim

Macau: preços médios das fracções autónomas transaccionadas (milhões MOP)

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Habitação Comércio Escritórios Indústria

Fonte: DSEC

Valor médio das fracções autónomas transaccionadas em Macau, 2005 a 2007 (mil MOP)

0 500 1 000 1 500 2 000 2 500

Total habitação comércio escritórios

2005 2006 2007

(26)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 26 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

cont ribuindo para, no seu moviment o diário casa-emprego-casa, inf lacionar algo art if icialment e os números dos visit ant es por via t errest re.

No comércio, principalment e no pequeno, est a subida dos preços ref lect e-se num encerrament o de várias loj as e numa grande rot ação de ocupant es dos espaços comerciais --- por incapacidade de pagament o das rendas --- mas t ambém na manut enção de muit os deles encerrados e com let reiros à port a anunciando a sua disponibilidade para aluguer.

As subidas das rendas est arão a cont ribuir para empurrar os salários para cima --- numa relação circular causa-ef eit o-causa --- mas não se est arão a f azer repercut ir complet ament e no índice de preços e, por isso, na t axa de inf lação porque a est rut ura do consumo adopt ada para os cálculos est á, aparent ement e, algo desact ualizada, correspondendo a um período em que não exist ia a “ bolha” imobiliária que se est á a verif icar e em que, por isso, os encargos com a habit ação eram proporcionalment e mais baixos.

A t endência ao aument o dest a “ bolha” é out ro dos cust os do act ual rápido surt o de cresciment o de Macau. Ela deve ser mant ida sob vigilância est rit a j á que é sabido, pela experiência do passado --- quer de Macau quer do conj unt o da Ásia Orient al no cont ext o da crise asiát ica de 1997-98 ---, que est e t ipo de sit uações t endem, mais cedo ou mais t arde, a “ rebent ar nas mãos” dos decisores de polít ica económica e, principalment e, dos agent es económicos.

Um out ro aspect o que merece ref erência aqui é a sit uação que se verif ica act ualment e no mercado de t rabalho da RAEM. Apesar de a t axa de desemprego se sit uar nos cerca de 3%, est a é considerada quase como incompressível e, por isso, correspondendo à sit uação de pleno emprego. Por isso t ornou-se (e t orna-se.. .) necessário recorrer a mão-de-obra não resident e e com origem

quer na China Cont inent al --- part icularment e para o

sect or da const rução civil e para as obras públicas em curso (at é cerca de 2011/ 12 --- quer de out ros países da

Macau: total de trabalhadores não-residentes que permaneceram em Macau (fim do período); milhares

0 25 50 75

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: DSEC

Macau: trabalhadores estrangeiros na RAEM

2004 - 2005 - 2006 e Nov2007

27 736

84 035

19 215

46 070

0 20 000 40 000 60 000 80 000 100 000

2004 2005 2006 Nov.2007

Total China Continental Filipinas Hong Kong

(27)

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Doc. Trabalho nº 74 pg 27 de 39 CEsA/ISEG/UTL, 2008

região, como as Filipinas e a Malásia (devido ao conheciment o de inglês para t rabalhar nos casinos-hot éis) mas t ambém a Indonésia.

Est a população era, em Dezembro/ 07, de cerca de 85,2 mil pessoas, quando um ano ant es era de 64 mil (um aument o de 35%). A maior part e veio, como seria de esperar, da China Cont inent al (+30%); os f ilipinos viram o seu número aument ar 50%.

Est es moviment os de imigração f izeram a população t ot al crescer a t axas que em 2005 f oram de 4,7% e em 2006 de 6%.

O f inal do ciclo de const rução dos casinos-hot éis (algures em 2010-11) não deixará de t razer problemas para encont rar empregos alt ernat ivos aos dispensados dest e t ipo de t rabalho. Ora, se muit os deles (t alvez cerca de 30-40 mil) são t rabalhadores do Cont inent e chinês chineses com vist o t emporário de t rabalho (há muit os ilegais) e que regressarão (?) às suas t erras de origem uma vez dispensados, o problema do desemprego pode vir a colocar-se a muit os dos t rabalhadores resident es habit uais em Macau. Onde (em que sect ores?) criar empregos para est as pessoas sendo cert o que muit as delas, pelas suas (f racas) qualif icações não t êm possibilidade de encont rar emprego nos sect ores em expansão (casinos, hot éis, parques de diversões)?

Talvez porque o problema não se coloca de imediat o não há sinais evident es de as aut oridades est arem a preparar o pós-boom da const rução (e do cresciment o em geral).

Por out ro lado, a escassez de mão de obra exist ent e para t rabalhar nos sect ores em expansão est á a exercer alguma pressão para os j ovens deixarem premat urament e o sist ema de ensino, procurando (e encont rando f acilment e) emprego nos muit os casinos e hot éis exist ent es como cr oupi er s 21 ou nout ras f unções que exij am apenas

qualif icações médias.

21 Constam das notícias dos jornais casos de jovens que, habituados a desempenhar a profissão de croupier

num casino, sentem a vertigem do jogo e não resistem à tentação de “passar para o lado de lá” das mesas de jogo. Alguns destes casos resultaram em suicídios devido aos problemas financeiros em que se meteram ---

Macau: estrutura (total=100) das medianas dos rendimentos mensais, por sectores, no 1º Trimestre de 2007

0 50 100 150 200

Total indústria electricidd construção comércio hotéis transportes financeiras imobiliário Administração

jogo Fonte. DSEC

Macau: mediana do rendimento mensal do emprego (MOP)

0 2000 4000 6000 8000

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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