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O bem-estar psicológico e ideação suicida em estudantes universitários e reclusos

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

O Bem-Estar Psicológico e Ideação Suicida

em Estudantes Universitários e Reclusos

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Joana Catarina Martins Geraldes

Dr. Prof. Catedrático: José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

Vila Real, 2015

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O Bem-Estar Psicológico e Ideação Suicida

em Estudantes Universitários e Reclusos

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Joana Catarina Martins Geraldes

Orientador: Dr. Prof. Catedrático José Vasconcelos-Raposo

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III

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a fim de obter o grau de Mestre em Psicologia, especialização em Psicologia Clínica, sob orientação do Professor Catedrático José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo.

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IV

Agradecimentos

“Se você quer ser bem-sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si.” Ayrton Senna

Existem Pessoas nas nossas vidas que nos proporcionam o suporte e equilíbrio necessário para ultrapassar os momentos mais difíceis, e que de diferentes formas são igualmente importantes para a concretização dos nossos sonhos. Quero assim prestar o meu profundo agradecimento a todos aqueles que me acompanharam e permitiram que tudo fosse possível:

Ao meu orientador José Vasconcelos-Raposo pela disponibilidade, pelo estímulo constante ao pensamento crítico e pela confiança demonstrada nas diversas fases deste percurso.

À Direção Geral dos Serviços Prisionais ao Estabelecimento Prisional de Vila Real e Izeda e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro pela oportunidade de realizar esta investigação.

Um agradecimento muito especial a todos os reclusos e aos estudantes universitários que participaram nesta investigação, pois foi a sua colaboração e disponibilidade do seu tempo, que tornaram possível a concretização deste estudo.

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V

À minha família, o meu sincero obrigado por acreditarem em mim e por saber que estão sempre ao meu lado e por todo o apoio, amor e carinho concebido. Em especial aos meus pais, por me terem permitido viver esta experiência e pelo apoio e carinho manifestados ao longo desta caminhada e aos meus irmãos pelas partilhas pessoais e por estarem comigo em todos os momentos.

Ao Luís, por ter caminhado sempre comigo de mãos dadas ao longo de todo o meu percurso académico, pelo seu amor, compreensão e incentivo nos momentos mais difíceis.

Às minhas amigas de sempre e para sempre, pela sua amizade, conselhos e por estarem sempre presentes nos bons e maus momentos.

À Alexandra Martins, por todo o apoio, carinho e ajuda prestada desde o início desta longa caminhada.

Aos meus amigos da “Bila” que ao longo desde 5 anos me proporcionaram momentos inesquecíveis, levar-vos-ei a todos para sempre no meu coração.

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Índice Geral

Agradecimentos ...IV Índice Geral...VI Índice de Quadros ...VIII Introdução ... IX Estudo Empírico I: “Bem-Estar Psicológico e Ideação suicida em estudantes

universitários” ... 1 Resumo ...2 Abstract ... 3 Introdução... 4 Metodologia ... 13 Amostra...13 Instrumentos...13 Procedimentos... 15 Resultados ...17

Discussão dos Resultados ...23

Referências Bibliográficas ...27

Estudo Empírico II: “Bem-Estar Psicológico e Ideação suicida em reclusos”…...31

Resumo ... 32

Abstract ... 33

Introdução ...34

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VII

Amostra... 42

Instrumentos ...43

Procedimentos... 44

Resultados ...47

Discussão dos resultados ...53

Referências bibliográficas ...58

Considerações finais ... 61

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VIII

Índice de Quadros

Quadro 1: Análise descritiva do Bem-Estar Psicológico……….17

Quadro 2: Comparação e diferenciação do bem-estar psicológico em função

do género………..18 Quadro 3:Comparação e diferenciação da covariável QIS em função

do género………..………19 Quadro 4: Análise descritiva do Bem-Estar Psicológico……….47

Quadro 5:Comparação e diferenciação da covariável QIS em função

do estado civil………..……….48 Quadro 6:Comparação e diferenciação do bem-estar psicológico em função da

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IX

Introdução

O bem-estar psicológico tem adquirido uma importância crescente na sociedade em geral e o seu papel na adaptação quer dos estudantes universitários quer dos reclusos tem vindo a ser valorizado. Ambos os grupos são indivíduos vulneráveis que se

encontram numa fase de transição e adaptação a novas realidades. Quando o bem-estar psicológico é afetado por diversos fatores, quer ambientais quer psicológicos, em determinados momentos da vida, pensar na morte é a única saída para acabar com o sofrimento intolerável, sendo a última solução dos seus problemas, o suicídio. Cada vez mais existem casos de suicídios em Portugal, quer em meio prisional quer na sociedade em geral, tornando-se essencial perceber de que forma o bem-estar psicológico é afetado e o que pode levar os indivíduos a cometerem o suicídio.

Neste sentido, surge este estudo que visa realçar a pertinência do bem-estar psicológico quer nos estudantes universitários quer nos reclusos no seu quotidiano, bem como a importância de estar atentos aos diversos fatores que despoletam pensamentos suicidas, que se forem detetados a tempo muitas vidas podem ser salvas.

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ESTUDO EMPÍRICO I:

Bem-Estar Psicológico e Ideação Suicida em estudantes

universitários

Joana Catarina Martins Geraldes

Dr. Prof. Catedrático: José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

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Resumo

Este trabalho procurou avaliar os fatores associados ao bem-estar psicológico e a ideação suicida em estudantes universitários da região norte. Participaram no estudo 300 estudantes de ambos os sexos com idades entre os 17 e os 58 anos. Utilizaram-se como instrumentos o Questionário de Ideação Suicida (Ferreira & Castela, 1999) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Teixeira, 2010).Os

resultados sugerem que a ideação suicida influencia o sexo, o estado civil, o facto de terem filhos, as habilitações literárias, a religiosidade, com quem habitam e com o diagnóstico de depressão. No que concerne ao bem-estar psicológico é influenciado pelo género nas dimensões crescimento pessoal, relações positivas e objetivos de vida e pelas habilitações literárias ao nível dos objetivos de vida. Os estudantes universitários que padecem de um diagnóstico de depressão apresentam níveis mais elevados de ideação suicida, o que permite concluir que o bem-estar psicológico pode influenciar os pensamentos suicidas nos jovens.

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Abstract

This study aimed to assess factors associated with psychological well-being and suicide ideation among university students in the northern region. They participated in the study 300 students of both sexes aged 17 to 58 years. It was used as the instruments Suicide Ideation Questionnaire (Ferreira & Castilla, 1999) and Psychological Well-Being Scale (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Teixeira, 2010) .The results suggest that suicidal ideation influences sex, marital status, the fact that they have children, educational attainment, religion, who live and diagnosed with depression. Regarding the psychological well-being is influenced by the gender dimensions in personal growth, positive relationships and life goals and the qualifications in terms of life goals. College students suffering from a diagnosis of depression have higher levels of suicidal ideation, which shows that the psychological well-being can influence suicidal thoughts in young people.

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O bem-estar é uma noção complexa que envolve uma diversidade de constructos e medidas que retratam certos aspetos do funcionamento físico, social ou emocional. Cada indivíduo avalia a qualidade que a sua vida tem como um todo. A satisfação com a vida e a sensação de bem-estar está interligada à forma de como o indivíduo lida e observa os acontecimentos ocorridos no seu quotidiano, sendo assim, o bem-estar é um, entre muitos outros, indícios da qualidade de vida, incluindo o suporte social, o estado de saúde física e os padrões de vida (Silva et al., 2007).

Os autores Silva et al. (2007) definem um modelo multidimensional de bem-estar diferenciado do funcionamento psicológico positivo constituído por seis elementos distintos: apreciação afirmativa de si mesmo e das fases antecedentes da vida

(autoaceitação), admitir que a vida se rege por objetivos (sentido) e significados (sentido de vida) e que o indivíduo se encontra em constante crescimento e desenvolvimento (crescimento pessoal) em que interage com os outros indivíduos (relações positivas com os outros), tendo sempre presente um sentido de

autodeterminação (autonomia) e por último, ter uma aptidão para manobrar a vida e o mundo que nos rodeia (domínio do ambiente).

Ryan e Deci (2001) numa meta-análise investigaram o bem-estar abordando duas vertentes que diferem ao nível de raízes filosóficas, bem como ao nível dos

percursos e orientações. Primeiramente, a perspetiva hedónica que procria o conceito de bem-estar em que aglomera a conceção de felicidade, satisfação, experiências

emocionais, estado de espírito e afeto positivo, ou seja, é o modo de como os indivíduos avaliam de forma subjetiva a qualidade da sua vida, denominando-se bem-estar

subjetivo (BES) (Giacomoni, 2004; Ramalho, 2008). Diener (1984) citado por Giacomoni (2004) propõe três aspetos fundamentais no bem-estar subjetivo, primeiramente a subjetividade, em que o bem-estar faz parte da prática do sujeito;

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seguidamente compreende que o indivíduo não apresenta somente inexistência de fatores negativos, mas igualmente a existência de fatores positivos, por fim, evidencia-se o facto de o bem-estar subjetivo aglomerar todos os aspetos da vida do indivíduo e não somente um aspeto do quotidiano do indivíduo.

A segunda tradição intelectual, inspirada em Aristóteles é também ela com raízes sólidas filosóficas, é designada de visão eudaimónica. Esta outra feição de conceptualização do bem-estar proposta nos anos 80 sob a denominação de Bem-Estar Psicológico (BEP) é um constructo multidimensional construído por inúmeras

dimensões do funcionamento psicológico positivo: a perceção que o indivíduo tem de si mesmo no presente e no passado; a aptidão para elucidar a vida em detrimento de objetivos que o mesmo propõe a si mesmo; e a natureza e a habilidade da relação com o meio intersubjetivo e social. No que concerne ao nível empírico é através de seis escalas que se avaliam as diversas dimensões: Aceitação de Si, Relações Positivas com os Outros, Domínio do Meio, Crescimento Pessoal, Objetivos na Vida e Autonomia

(Ramalho, 2008). Assim, a origem do constructo do bem-estar tem sido interligada com base em duas dimensões psicológicas, o bem-estar psicológico e o bem-estar subjetivo, que compartilham a ideologia que o constructo se fundamenta ao nível das cognições afetivas e emocionais, bem como a individualidade de cada um, sendo fundamental para estabelecer o bem-estar. Porém, quando o constructo de bem-estar é comparado com o da qualidade de vida são empregados indicadores “objetivos” alusivos às condições extrínsecas tanto materiais como sociais (Novo, 2003). Comparando o constructo do bem-estar à dimensão de natureza psicológica (intra-individual) nomeadamente a satisfação com a vida, otimismo, felicidade e autoestima estão a ser postas em causa medidas “subjetivas” que têm como objetivo reconhecer como o indivíduo olha para si e

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a forma como perceciona o meio em que está inserido e o papel que desempenha no contexto em que se encontra inserido (Novo, 2003).

Segundo Sprinthall e Collins (2003) os estudantes universitários encontram-se num período da vida de um novo estádio de desenvolvimento entre a adolescência e a idade adulta. É uma fase da vida que tem objetivos particulares de crescimento, nomeadamente, a entrada no ensino superior, ingressando cada vez mais tarde no mercado de trabalho. Petito e Cummins (2000) mencionam diversos fatores cruciais na compreensão do bem-estar psicológico no quotidiano dos universitários,

nomeadamente, o suporte social e a perceção do estilo parental dos pais, afirmando que um bom suporte social aumenta o seu bem-estar, uma vez que estimula distintas

influências positivas, particularmente da promoção da saúde. Outros estudos afirmam que o matrimónio e a prática religiosa corroboram com um aumento do bem-estar psicológico, sendo as mesmas um meio facilitador na reintegração do bem-estar

psicológico em jovens adultos que atravessaram situações stressoras. Outros elementos positivos nos jovens para melhorarem o seu bem-estar psicológico e a prática de exercício físico, bem como o seu estatuto socioeconómico. O consumo exagerado de álcool e o consumo de drogas parece influenciar negativamente o bem-estar psicológico dos jovens universitários (Silva et al.,2007).

No que se refere a estudos que analisam a relação entre o bem-estar psicológico e a religião, embora sejam poucos, torna-se relevante conceptualizar a distinção entre a religião e a espiritualidade. Richter (2001) realizou um estudo onde aplicou as escalas de bem- estar psicológico a 62 estudantes universitários, concluindo que subsiste uma relação baixa, mas positiva (r= 0.26), entre as escalas desenvolvidas por Ryff (1989) e uma escala centralizada na apreciação do bem-estar espiritual sujeitas a uma tradição

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cristã. Estes resultados fortalecem a perspetiva de vida centralizada na valorização espiritual, como sendo um fator preponderante na promoção da saúde mental positiva.

Um estudo levado a cabo por Moreira (2001) com o objetivo de avaliar a

relação entre a atividade física e o bem-estar psicológico em estudantes universitários da zona de Viseu, abrangendo 602 estudantes universitários com idades compreendia entre os 18 e os 48 anos. Revelou valores superiores para a escala de crescimento pessoal, relações positivas com os outros e objetivos na vida, em que as raparigas demonstraram um nível médio superior para a subescala crescimento pessoal. Porém, quando

observados os valores da escala de BEP quanto às perceções de condições financeiras, atração física, saúde e satisfação académica, verificou-se que os valores mais benéficos para as variáveis mencionadas traduziram-se em maiores níveis de bem-estar

psicológico, sendo essas divergências significativas para a grande parte das

consonâncias. Por último, constatou-se que as subescalas do BEP se correlacionam positivamente com a satisfação da vida, variando esses coeficientes entre o valor mais elevado, para a aceitação de si (0.71) e o valor mais baixo para a autonomia (0.37).

Um estudo efetuado por Fernandes (2007) com adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos da zona Norte, através da análise comparativa verificou-se que as escalas de bem-estar na sua medida global, desempenham um resultado significativamente distinto em alguns dos aspetos do funcionamento psicológico, nomeadamente, na idade, sexo, local de residência, nível económico e apoio familiar. Realçando-se os níveis maiores de bem-estar psicológico nos adolescentes mais velhos e os que habitam no meio urbano. Quando analisados os correlatos mais expressivos, a idade correlacionou-se positivamente com a autonomia, crescimento pessoal e bem-estar global. Por sua vez, a ansiedade correlacionou-se negativamente com a autonomia, objetivos de vida, aceitação de si e bem-estar global,

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por fim, a autoestima relacionou-se positivamente com o total dos aspetos do bem-estar e do valor global intrínseco (Fernandes, 2007).

No que concerne a um estudo efetuado por Lopes (2015) demonstrou que a maioria dos jovens estudantes (62.7%) habita com os seus progenitores revelando valores mais altos de bem-estar psicológico no contexto familiar em contrapartida com aqueles que vivem apenas com um dos progenitores. O mesmo autor atestou que quando melhor a adaptação ao meio universitário e a competência emocional do indivíduo melhor serão os valores de bem-estar psicológico nos estudantes universitários portugueses.

As ligações familiares e de amizade, bem como as experiências de vida no trabalho ou na escola preponderam em maior magnitude os valores do bem-estar

psicológico dos jovens adultos e idosos, respetivamente. Conclui-se então, que à medida

que se envelhece os indivíduos alcançam um maior nível de adaptação entre as suas auto perceções do presente e as futuras, no entanto, a saúde mental positiva não aglomera unicamente a perceção de níveis de funcionamento psicológico no momento presente, como também a perceção de benfeitoria ou subsistência do bem-estar passado e a perceção idêntica relativa ao futuro (Oliva, Mendizábal, & Asensio, 2013).

Segundo Prats (1987) não subsiste sociedade ou microcultura, que não se verifique o suicídio, apesar de gerido de visões diferentes no que concerne ao valor social e figurativo da morte. No entanto, não há mortes iguais, pois a morte também não é gerada de idêntica forma por todos os indivíduos, nem possui sempre igual sentido. O suicídio representa, assim, um facto que tem conduzido ao desenvolvimento da

sociedade e que é transversal a qualquer cultura, classes sociais e idades, contendo uma origem multifatorial. Apesar da evolução da sociedade, o falecimento de alguém continua a ser um tema tabu, mais ainda quando o motivo da sua morte é o suicídio.

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Em termos epidemiológicos, a cada ano, em todo o mundo, o suicídio abrange um índice de 16 mortes por cada 100.000 habitantes, representando uma morte a cada 40 segundos. Cerca de um milhão de pessoas concretizam o suicídio, segundo a Organização Mundial de Saúde (2006), cerca de 10 e 20 milhões tentam matar-se, encontrando-se entre as dez principais causas de morte em todo o mundo, sendo que para os jovens adultos, entre os 15 e 35 anos, é a terceira causa de morte. Estudos epidemiológicos recentes têm revelado um aumento no predomínio de suicídios, com dados estatísticos bastante inquietantes. Verificando-se num estudo levado a cabo por Leal (2013) que 5 em cada 100 estudantes universitários da região de Coimbra

demonstraram condutas suicidas, tendo maior prevalência no sexo feminino. Em

contrapartida num estudo efetuado por Vasconcelos-Raposo, Soares, Silva, Fernandes, e Teixeira (2016) quando analisaram a diferença entre estudantes universitários e não- universitários o facto de serem estudantes universitários não estabelece por si só um fator preponderante para a realização do suicídio.

Durkheim (1996), define o suicídio como uma circunstância de morte com uma consequência direta ou indireta de um ato positivo ou negativo executado pelo próprio indivíduo, em que a vítima tem consciência do ato que está a cometer contra ela própria. O mesmo autor apontou o suicídio como resultado da excessiva ou falta de integração social e/ou regulação que se vive no interior da comunidade. Durkheim (1996)

menciona que o desajustamento fomentado pela modificação do status social em época de instabilidade económica (desenvolvimento/ recessão) pode preponderar o aumento do risco de suicídio. Estes factos preponderam o aparecimento de imensas teorias focadas nas relações entre o suicídio, pobreza, classe social, desemprego, nível de desenvolvimento económico, entre outros.

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O suicídio nos jovens adultos torna-se singular, pois é nesta etapa de

desenvolvimento que surgem sentimentos excessivos de baixa autoestima indo mesmo ao extremo de quadros psiquiátricos de risco (Sukiennik, 2000). Certas atitudes de arrogância e enfrentamento, que parecem demostrar atitudes de muita força interior, na verdade, podem ser uma chamada de atenção, de falta de carinho, de manifestação de dúvidas e de angústia. Sendo preponderante estar atento às suas manifestações que podem assim apontar um indicador de patologia, crescendo os riscos de dificuldades emocionais, nomeadamente, sintomas depressivos e de ideação suicida (Sukiennik, 2000).

Num estudo efetuado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro revelou que cerca de 12.6% da amostra tinha pensamentos suicidas em algum momento da sua vida, mostrando que os pensamentos e as condutas suicidas mais profundas propendem a ser experienciados por um número mais pequeno de jovens, proporcionalmente com aqueles que já tentaram o suicídio (Pereira, 2011).

Existem diversos fatores de risco que são predeterminados para o suicídio na adolescência: culturais e sociodemográficos (desemprego na família ou problemas financeiros); familiares (alterações psiquiátricas e suicídio em familiares próximos, família violenta e excessiva, falta de interesse dos progenitores, alterações frequentes de casa, os pais terem perante os filhos demasiadas expectativas ou baixas de mais,

progenitores com poder desmedido ou impróprio, severidade familiar, falta de interação entre a família, brigas, divórcio, separações, famílias adotivas); estilo cognitivo e

personalidade (humor instável, comportamento antissocial, comportamentos irreais, alta impulsividade, irritabilidade, rigidez de pensamento, pouca habilidade para solucionar problemas, inaptidão de compreender a realidade, frustração, ansiedade exagerada, depressão, desesperança, isolamento, sentimentos de inferioridade ocultados por

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exteriorizações de superioridade, comportamento provocador, relações ambivalentes com os pais ou amigos); perdas (ruturas com amigos, colegas ou namorado(a), morte de alguém importante); doença física (dor somática); conflitos interpessoais e problemas de relacionamento (violência e trauma físico); perturbações psiquiátricos (depressão, perturbação de ansiedade, perturbações psicóticos, perturbações de comportamento, perturbações alimentares, perturbações borderline, abuso de álcool e drogas); tentativa prévia de suicídio ou história de conduta suicida; suicídio de amigo (Dutra, 2012; Garlow et al., 2008; WHO, 2002; Werlang, Borges, & Fensterseifer, 2005).

A literatura sugere uma relação causal entre o consumo de álcool e o suicídio. O abuso de substâncias, nomeadamente, o álcool e drogas, prejudica gravemente o

desempenho intelectual dos sujeitos, tal quando avaliado ao nível do rendimento académico, bem como ao nível da saúde em geral. Um estudo levado a cabo por Barrios, Everett, Simon e Brener (2000) demonstrou que existe uma ligação entre o suicídio, depressão e excesso de álcool e outras drogas, mencionando que os jovens adultos que demonstraram ideação suicida eram mais preponderantes a ter armas, a entrar em discussões, andarem nas ruas e a conduzirem embriagados pondo em risco com atos incalculáveis a sua própria vida. O estudo de Leal (2013) manifestou que cerca de 19.47 % dos jovens universitários tomam medicação, sendo a medicação mais

tomada a ansiolítica seguida dos antidepressivos. O diagnóstico de depressão nos jovens é um forte preditor de ideação suicida, uma vez que, o bem-estar psicológico decresce e os pensamentos suicidários tornam-se constantes. Estima-se que cerca de 90% dos jovens que praticaram o suicídio manifestavam uma perturbação mental e que quando o suicídio era consumado cerca de 60% estavam deprimidos (Organização Mundial de Saúde, 2006).

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Existem também fatores de proteção, que ajudam a atenuar e a proteger o adolescente de ver o suicídio como a única via possível. Destacando-se os seguintes fatores protetores: a boa relação e apoio por parte dos familiares, sentir-se valorizado por si e pelos outros, participar em novas experiencias tendo sempre novos projetos de vida, ter valores culturais, de religião e de lazer, ter uma boa relação com os pares, manter uma alimentação saudável, uma boa qualidade do sono e atividade física (WHO,2002).

É de extrema importância atuar de forma preventiva em relação às condutas suicidas que atormentam as gerações mais novas, estando cientes e atentos às diversas pistas que os mesmos deixam de forma a agir em tempo útil (Werlang et al., 2005).

Posto isto, o objetivo da presente investigação centraliza-se na seguinte questão “Será que existe uma relação entre a ideação suicida e o bem-estar psicológico nos estudantes universitários, e quais serão os fatores de risco que levam os jovens adultos a por fim à sua vida”. Com base nisto, os objetivos específicos subsistem em comparar os jovens por sexo, religiosidade, com quem vive atualmente e se alguma vez foi

diagnosticado com depressão em relação ao bem-estar psicológico e à ideação suicida nos estudante universitários, bem como perceber se quando o bem-estar psicológico dos jovens se encontra mais fragilizado faz com que aumente a ideação suicida, ou vice-versa. As variáveis independentes do presente estudo são o sexo, religiosidade, com quem habita atualmente e se foi diagnosticado com depressão. Por sua vez, as variáveis dependentes são o bem-estar psicológico e a ideação suicida.

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Metodologia

O presente estudo qualifica-se por ser quase experimental, quantitativo e

transversal, tendo como principal objetivo comparar os níveis de bem-estar psicológico e de ideação suicida entre estudantes universitários.

Amostra

Participaram no estudo 300 estudantes universitários, sendo 27.7% (n= 83) do sexo masculino e 72.3% (n= 217) do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 17 e os 58 anos de idade com uma média de idades de 20.41 anos e um desvio padrão de 3.76.

A nível da religiosidade 78% (n= 234) consideram-se religiosos sendo que numa escala de 0-10, 55.7% (n= 167) encontram-se na escala entre 0-5 e 44.3% (n= 133) na escala entre o 6-10, no entanto, 22% (n= 66) não se consideram religiosos.

Quando questionados acerca se viviam sozinhos, cerca de 94% (n=282) afirmou que não vivia sozinho, sendo que 55.3% (n= 166) vivia com a família, 39.3% (n= 118) vivia com amigos, e apenas 6% (n= 18) refere que vivia sozinho.

No que se reporta a se alguma vez lhe foi diagnosticado depressão 10.3% (n= 31) já lhe foi diagnosticada e 89.7% (n= 269) nunca teve nenhum diagnóstico de depressão.

Instrumentos

Os instrumentos utilizados no estudo foram: Questionário sócio demográfico, Questionário de Bem-Estar Psicológico (QBEP), o do Questionário de Ideação Suicida (QIS).(Anexo A)

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14 Questionário sociodemográfico

A elaboração do questionário sociodemográfico visou a recolha dos dados pessoais e sociodemográficos dos inquiridos da amostra, especificamente, sexo, religiosidade, com quem vive atualmente e se alguma vez lhe foi diagnosticado depressão.

Questionário de Bem-Estar Psicológico

Para avaliar o bem-estar psicológico foi utilizado o Questionário de bem-estar psicológico desenvolvido por Carol Ryff (1989) e aferido para a população portuguesa por Fernandes, Vasconcelos-Raposo, e Teixeira (2010). A versão portuguesa adaptada para adolescentes é constituída por 30 itens, adaptados em seis escalas autónomas: objetivos de vida, domínio do meio, autonomia, crescimento pessoal, relações positivas com os outros e autoaceitação. Os itens são respondidos numa escala tipo Likert de 5 pontos (correspondendo o 1 ao discordo plenamente, o 2 ao discordo, o 3 ao indeciso, o 4 ao concordo e o 5 ao concordo plenamente), que quando somados por total de escala possibilita analisar a variabilidade por dimensão das escalas do BEP. Os itens com cotação invertida deverão ser sujeitos a uma permutação dos seus valores de resposta, aquando da introdução dos dados numa qualquer matriz. Com a soma dos valores de cada dimensão é exequível achar o nível de Bem-Estar Psicológico global que se estabelece como revelador do conceito base do Bem-Estar Psicológico. (Anexo B)

Questionário de Ideação Suicida

A ocorrência de pensamentos suicidas será avaliada através do Questionário de Ideação Suicida, versão portuguesa do Suicide Ideation Questionnaire (SIQ) traduzida e adaptada por Ferreira e Castela (1999). O QIS possibilita observar a gravidade dos

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pensamentos suicidas em adolescentes e adultos, avaliando hierarquicamente os

pensamentos relativos ao suicídio entre pouco e muito graves. O QIS é composto por 30 itens, para os quais, são disponibilizadas sete alternativas de resposta que avaliam a frequência de ocorrência de ideação suicida. O formato de resposta oscila entre «Nunca pensei nisto» (0), até «Quase todos os dias» (6). Para propósitos de pontuação, os 30 itens são pontuados de 0 a 6, numa direção patológica, sendo que a pontuação máxima de 180 indicia cognições suicidas que ocorrem quase todos os dias.

Procedimentos

Inicialmente foi requerida a uma instituição de ensino superior do norte de Portugal a autorização para a recolha de dados.

A recolha dos dados foi realizada em contexto de sala de aula. Primeiramente, foi explicado aos alunos o objetivo do estudo bem como ele era de carater anónimo e voluntário, podendo desistir a qualquer momento. Na entrega dos questionários foi confirmado pela investigadora se não haveria nenhum item por responder.

Os questionários foram utilizados única e exclusivamente no âmbito da

investigação, tendo apenas acesso aos mesmos a equipa de investigação e em momento algum os dados foram partilhados.

Recorreu-se ao programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22, para construir a base de dados e realizar o consequente tratamento estatístico. Inicialmente foi feita a análise descritiva, na qual se efetuou a inspeção dos valores, no sentido de se averiguarem possíveis erros, calculou-se a média e o desvio-padrão, assim como a variância. Posteriormente, realizou-se os somatórios dos itens, que resultaram nas variáveis dependentes da investigação. Seguidamente analisou-se as medidas de assimetria (Skewness) e achatamento (Kurtosis) para verificar se os dados

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seguem uma distribuição normal, utilizando testes paramétricos para as variáveis do bem-estar psicológico e a variável QIS será utilizada como covariável.

Foi utilizado a Análise Multivariada de Covariância (MANCOVA) para descobrir se existem diferenças entre condições quando os efeitos de outra variável, denominada covariável, são controlados, apresentando a covariável (QIS) um relacionamento linear com as variáveis independentes (Dancey & Reidy, 2006).

Para as associações entre as variáveis dependentes foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson que teve por base os graus de coeficiente de relação propostos por Dancey e Reidy (2006). Quando r = 1 ou r = -1 temos um relacionamento perfeito, sendo que: r < 0.3 é um relacionamento fraco, r < 0.6 é um relacionamento moderado e r > 0.6 é um relacionamento forte, sejam estes positivos ou negativos.. Foi ainda

utilizado o T-test para avaliar a diferença entre os estudantes universitários que padecem de um diagnóstico de depressão ou não, relativamente a ter pensamentos suicidas.

Para o tamanho do efeito utilizado consideraram-se os seguintes valores: p2>

0.01 efeito fraco, p2> 0.04 efeito moderado e p2> .14 efeito forte. A utilização do

valor referente ao eta squared procura estabelecer inferências generalizadas da

população. O nível de significância estabelecido para a análise de dados foi o de 5% (p ≤ .05).

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Resultados

No que concerne aos resultados primeiramente procedeu-se à análise da

qualidade dos dados recolhidos. Os valores de assimetria e achatamento evidenciaram a existência de uma distribuição normal. A consistência interna da escala de bem-estar psicológico apresentou um coeficiente de alfa de Cronbach de.886. Quanto às dimensões que a constituem apresentam os seguintes valores de alfa de Cronbach: autonomia (α = .543), domínio do meio (α = .541), crescimento pessoal (α = .754), relações positivas (α = .670), objetivos de vida (α = .713) e aceitação de si (α = .825).

Através do quadro 1 verifica-se que a dimensão crescimento pessoal apresenta a média superior 21.99 e a dimensão objetivos de vida foi aquele que revelou valor médio mais baixo, com 18.72. Através dos valores de assimetria e achatamento é permitido verificar que reúnem as condições para a utilização de testes paramétricos.

Quadro 1: Análise descritiva do Bem-Estar Psicológico

O estudo demonstrou através da análise multivariada de covariância (Mancova), que existe um efeito estatisticamente significativo na variável sexo em relação à

Mínimo Máximo Média Desvio padrão SK KU Alfa de Cronbach Autonomia 9.00 25.00 19.85 2.92 -.556 .565 .543 Domínio do Meio 7.00 25.00 20.14 2.54 -.993 2.98 .541 Crescimento pessoal 7.00 25.00 21.99 2.69 -1.66 1.31 .754 Relações positivas 7.00 25.00 20.70 2.83 -1.09 2.72 .670 Objetivos de vida 8.00 24.00 18.72 2.37 -.722 1.97 .713 Aceitação de si 7.00 25.00 20.17 3.34 -1.02 1.47 .825

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variável dependente bem-estar psicológico [F (6,292) = 3.733: p = .001, λ de Wilks = .929;

PO: .960], com um efeito estatístico moderado, p2 = .071.

A análise univariada evidenciou efeitos estatisticamente significativos na dimensão domínio do meio pessoal [F (1,297) = 3.99: p = .047], com um efeito fraco, p2

= .013 e PO = .513, revelando maior incidência no sexo feminino (M= 20.33), na

dimensão crescimento pessoal [F (1,297) = 6.99: p =.009], com um efeito fraco, p2 = .023

e PO= .750, denotando-se com maior relevância no sexo feminino (M= 22.26), Relações positivas [F (1,297) = 8.77: p =.001], com um efeito fraco, p2 = .029 e PO=

.839, esta evidencia manifesta-se mais no sexo feminino (M= 21.00), e na dimensão objetivos de vida [F (1,297) = 7.609: p = .006], com um efeito fraco, p2 = .025 e PO=

.785, sendo igualmente mais evidente no sexo feminino (M= 18.96).

Quadro 2: Comparação e diferenciação do bem-estar psicológico em função do género

Masculino Feminino Z P p2 PO M ± DP M ± DP Autonomia 19.57±3.14 19.96±2.83 .638 .425 .002 .125 Domínio do Meio 19.63±3.29 20.33±2.16 3.99 .047 .013 .513 Crescimento pessoal 21.30±3.49 22.26±2.26 6.99 .009 .023 .750 Relações positivas 19.89±3.53 21.00±2.45 8.77 .003 .029 .839 Objetivos de vida 18.08±2.86 18.96±2.12 7.61 .006 .025 .785 Aceitação de si 20.08±3.61 20.21±3.24 .006 .939 .001 .051

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No que diz respeito à covariável QIS também se verifica uma influência estatisticamente significativa com o fator sexo [F (6, 292) = 9.212; p =.001, λ de Wilks

=.841; PO: .99], com um efeito estatístico forte, p2 = .159.

A análise univariada da covariável QIS evidenciou em todas as dimensões do BEP efeitos estatisticamente significativos, na dimensão autonomia [F (1,297) = 29.86: p

=.001] com um efeito moderado, p2 = .091 e PO= 1.00, no domínio do meio [F (1,297) =

18.65: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .059 e PO= .99, no crescimento

pessoal [F (1,297) = 14.50: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .047 e PO= .967, nas

relações positivas [F (1,297) = 10.30 ; p = .001] com um efeito fraco, p2 = .034 e PO=

.892, na dimensão objetivos de vida [F (1,297) = 16.39: p = .000] com um efeito

moderado, p2 = .052 e PO= .98, e por último na dimensão aceitação de si [F (1,297) =

52.23: p = .001] com um efeito forte, p2 = .150 e PO= 1.00.

Quadro 3: Comparação e diferenciação da covariável QIS em função do género

A relação entre a variável independente religiosidade e a variável dependente BEP foi avaliada com a análise multivariada de covariância (Mancova) não revelando

Z P p2 PO Autonomia 29.86 .001 .091 1.00 Domínio do Meio 18.65 .001 .059 .990 Crescimento pessoal 14.50 .001 .047 .967 Relações positivas 10.30 .001 .034 .892 Objetivos de vida 16.39 .001 .052 .981 Aceitação de si 52.23 .001 .150 1.00

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níveis estatisticamente significativos [F (6,292) = 1.585: p = .151, λ de Wilks = .968; PO:

.607], com um efeito fraco, p2 = .032.

Relativamente à covariável QIS comprovou-se um nível estatisticamente significativo [F (6,292) = .841; p = .001, λ de Wilks = .841; PO: 1.00], com um efeito

forte, p2 = .159.

Na análise univariada da covariável QIS todas as dimensões do BEP apresentam um efeito estatisticamente significativo, nomeadamente, a dimensão autonomia [F (1,297)

= 30.51: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .093 e PO= 1.00, no domínio do

meio [F (1,297) = 19.16: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .061 e PO= .992, no

crescimento pessoal [F (1,297) = 15.25: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .049 e PO= .973, nas relações positivas [F (1,297) = 10.87; p = .001] com um efeito fraco, p2 =

.035 e PO= .908, na dimensão objetivos de vida [F (1,297) = 17.01: p = .001] com um

efeito moderado, p2 = .054 e PO= .984, por fim, na dimensão aceitação de si [F (1,297)

= 52.13: p = .001] com um efeito forte, p2 = .149 e PO= 1.00.

Recorreu-se novamente à análise Multivariada de covariância (Mancova) para perceber se existe algum nível de significância entre o facto de os estudantes

universitários viverem sozinhos ou acompanhados com o BEP, comprovando-se que não existem diferenças estatisticamente significativas [F (6,292) = 1.226: p = .293, λ de

Wilks = .975; PO: .481], com um efeito fraco, p2 = .025. Não se verificou também

nenhuma diferença estatisticamente significativa naqueles que viviam acompanhados, nomeadamente, com familiares ou amigos [F (12,582) = .827: p = .622, λ de Wilks = .967;

PO: .492], com um efeito fraco, p2 = .017.

No que se refere à covariável QIS verificou-se um nível estatisticamente significativo [F (6,292) = 9.261; p = .001, λ de Wilks =.840; PO: 1.00], com um efeito

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Na observação univariada da covariável QIS denotou-se em todas as dimensões do BEP um efeito estatisticamente significativo, na dimensão autonomia [F (1,297) =

30.48: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .093 e PO= 1.00, no domínio do meio

[F (1,297) = 19.46: p = .001] com um efeito moderado, p2 = .061 e PO= .993, no

crescimento pessoal [F (1,297) = 15.16: p =.001] com um efeito moderado, p2 = .049 e PO= .973, nas relações positivas [F (1,297) = 10.93; p = .001] com um efeito fraco, p2 =

.035 e PO= .909, na dimensão objetivos de vida [F (1,297) = 17.09: p = .001] com um

efeito moderado, p2 = .054 e PO= .985, e na dimensão aceitação de si [F (1,297) = 52.43:

p =.001] com um efeito forte, p2 = .150 e PO= 1.00.

Recorrendo-se à análise Multivariada de covariância (Mancova) para perceber se existe alguma relação entre os jovens universitários que têm um diagnóstico de

depressão e o BEP, denotando-se que não existem níveis estatisticamente significativos [F (6,292) = 2.036: p = .061, λ de Wilks = .960; PO: .736], com um efeito moderado, p2 =

.040.

Relativamente à comparação entre o risco de suicídio e a presença ou não de diagnóstico de depressão, verifica-se, com a ajuda do teste paramétrico t-Student, que os estudantes universitários que apresentam um diagnóstico de depressão denotam níveis mais elevados de suicídio (M= 42.61; DP= 36.30), contrariamente aos estudantes que não possuem esse diagnóstico (M= 12.17; DP= 14.89), sendo tais diferenças

estatisticamente significativas [t (298) = 8.807; p = .001].

Quanto às associações estabelecidas entre as variáveis dependentes, observa-se através da correlação de Pearson que há correlações significativas ao nível de todas as dimensões do BEP e do QIS. Na associação entre todas as dimensões do BEP e o QIS, o coeficiente de correlação é negativo, ou seja, quando os níveis de ideação suicida

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elevando d =.092, domínio do meio (r = -0.247; p = 0.001) com um efeito elevado d =.061, crescimento pessoal (r = -0.221; p = 0.001) com um efeito médio d =.049, relações positivas (r = -0.189; p = 0.001) com um efeito médio d =.035, objetivos de vida (r = -0.234; p = 0.001) com um efeito elevado d =.054 e aceitação de si (r = -0.387; p = 0.001) efeito elevado d =.149.

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Discussão dos resultados

Este trabalho teve como ponto de partida a necessidade de compreender melhor se o bem-estar psicológico influenciava a ideação suicida e como o bem-estar psicológico e a ideação suicida influenciam as variáveis independentes nos jovens universitários.

Relativamente à variável sexo, diversas dimensões denotaram resultados estatisticamente significativos, nomeadamente, a dimensão crescimento pessoal, relações positivas e objetivos de vida apresentam superioridade nas raparigas, não indo de encontro aos resultados de Fernandes (2007) que evidenciam que o sexo feminino apresenta apenas superioridade nas dimensões crescimento pessoal e relações positivas, mencionando que as raparigas apresentam perceções incessantes de aperfeiçoamento e crescimento pessoal, tendo a mente mais aberta a novos desafios, criando com maior facilidade relacionamentos interpessoais. Em contrapartida, o sexo masculino evidencia resultados superiores na dimensão aceitação de si, demonstrando que se adaptam com maior facilidade às suas características pessoais. Por sua vez, num estudo levado a cabo por Lopes (2015), denotou-se superioridade nas raparigas nas escalas de crescimento pessoal e relações positivas, enquanto o oposto acontece para a escala aceitação de si, em comparação com os rapazes.

No que concerne à ideação suicida há uma relação significativa com o fator sexo, demonstrando uma maior predisposição das mulheres, à semelhança do estudo de Werlang et al., (2005) em que as raparigas executam mais o suicídio do que os rapazes, mas em contrapartida os rapazes consumam-no mais. Estes resultados são também concordantes com os dados obtidos no estudo de Leal (2013) que se verificou que 5.22% dos estudantes universitários da região de Coimbra apresentavam

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comportamentos suicidas, tendo uma maior prevalência no sexo feminino (86.44%), sendo 4 casos do sexo feminino para 1 do sexo masculino.

No que respeita à religiosidade não foi encontrada nenhuma relação entre o facto de os jovens universitários terem uma vida ativa na religião e o bem-estar psicológico, concluindo-se que esta analogia não relatou uma representação expressiva e preponderante, evidenciando que a prática religiosa, isoladamente, não coopera para a diferenciação do bem-estar psicológico durante o percurso académico, indo de encontro aos estudos de Fernandes (2007). No entanto, o estudo de Silva et al., (2007) permitiu constatar o oposto, que os jovens que têm uma maior religiosidade apresentando níveis mais elevados de bem-estar psicológico.

No que diz respeito à religiosidade denota-se um efeito estatisticamente significativo em relação à ideação suicida, indo de acordo ao estudo elaborado por Vasconcelos-Raposo et al., (2016) em que se comprovou que a religiosidade deixou de ter o efeito preventivo que tinha no passado.

No presente estudo apenas 16 estudantes viviam sozinhos, os restantes viviam com familiares ou amigos, não existindo nenhuma diferença significativa no BEP pelo facto de viverem sozinhos ou acompanhados. No entanto, os que viviam com os familiares apresentavam uma maior autonomia e aceitação de si, por sua vez, quem vivia com amigos revelava mais relações positivas e tinha mais objetivos de vida, em contrapartida quem vivia sozinho apresentava um maior domínio do meio e um maior crescimento pessoal. Leal (2013) no seu estudo referiu que o contacto frequente com familiares ou amigos aumenta a satisfação dos estudantes universitários, ostentando um bom suporte social.

No que diz respeito à ideação suicida revela-se que existe uma relação significativa entre os estudantes universitárias que vivem sozinhos ou acompanhados,

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evidenciando que aqueles que vivem acompanhados, com familiares ou amigos, podem presentear uma maior proteção, não revelando pensamento suicidas, no entanto, é de realçar que pelo facto de viverem acompanhados pode não subsistir suporte e segurança com quem habitam, o mesmo se verificou nos estudos de Werlang et al., (2005) e Vasconcelos-Raposo et al., (2016). A transição para o ensino superior implica alterações ao nível das relações familiares e do grupo de amigos o que poderá explicar os pensamentos suicidas, que podem surgir quando os jovens ao mudarem de cidade diminuem o suporte social tendo assim carência afetiva, o que faz aumentar a predição suicida.

Há uma relação significativa entre o facto de os estudantes universitários padecerem de um diagnóstico de depressão e apresentarem risco de suicídio, resultados que corroboram com as investigações de Garlow et al., (2008), Werlang et al., (2005) e Pereira (2011) em que se verificou que os estudantes que apresentam sintomas profundos de depressão eram mais tendentes a realizarem episódios de ideação suicida, apontando para o facto de que os jovens com ideação suicida apresentam-se substancialmente mais deprimidos, pelo que ostentem valores mais baixos de bem-estar psicológico. Factos que vão de encontro aos do presente estudo dado que se verificou que coexistem correlações negativas entre o BEP e a ideação suicida, ou seja, à medida que os níveis de ideação suicida aumentam, diminuem os níveis do BEP ou vice-versa, quer ao nível da autonomia, domínio do meio, crescimento pessoal, relações positivas, objetivos de vida e aceitação de si. Tais factos podem ser explicados por vários fatores que são inerentes à entrada na faculdade, nomeadamente, deixar a casa dos pais, entrando num ambiente familiar diferente, presença de pressões sociais e académicas e a falta de grupo de pares, provocando nos jovens universitários elevados níveis de angústia e de stress, sendo o stress um fator significativo pelo qual se compreende o

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comportamento suicida e os baixos valores de bem-estar psicológico. É recorrente que os jovens antecipem o impacto da sua conduta nos diversos contextos, fazendo com que as dissemelhantes ações sejam apreendidas como uma possível situação de stress e problemas futuros causando assim antecipação dos atos autodestrutivos nos jovens (Dutra, 2012).

Torna-se essencial realçar que a amostra analisada neste estudo é constituída por jovens que ingressaram na faculdade, e, de acordo com Werlang et al., (2005) os jovens neste período crucial da sua vida encontram-se numa reorganização psíquica, coexistindo diversas dúvidas e conflitos internos que despoletam uma dor psicológica, expressando um sofrimento, que os pode levar a terem ideias de se suicidarem, não se podendo menosprezar estes pensamentos, uma vez que, a ideação suicida é considerada um passo inicial para consumar o suicídio sendo para eles a única solução existente. Dessa forma, seria pertinente que se criassem programas e estratégias de prevenção das condutas suicidas, criando estratégias de enfrentamento dos problemas e de tolerância a frustração, aquando da entrada dos estudantes para a universidade, para que assim aumente o bem-estar psicológico e consequentemente evitar o suicídio dos jovens.

Uma das principais dificuldades do estudo prende-se com a falta de investigação nesta área e, assim, existirem poucos termos de comparação. Na obstante, os resultados são bastante promissores, de forma a criar estratégias que aumentem o bem-estar psicológico nesta faixa etária tão promissora e assim reduzir os números de jovens que têm pensamentos suicidas, uma vez que a universidade deverá ser um local de

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ESTUDO EMPÍRICO II:

Bem-Estar Psicológico e Ideação Suicida em Reclusos

Joana Catarina Martins Geraldes

Dr. Prof. Catedrático: José Jacinto Branco Vasconcelos-Raposo

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Resumo

O presente estudo pretendeu avaliar os fatores associados ao bem-estar

psicológico e à ideação suicida em reclusos da região norte. Participaram no estudo 302 reclusos do sexo masculino de dois estabelecimentos prisionais do norte, com idades entre os 19 e os 79 anos. Utilizaram-se como instrumentos o Questionário de ideação suicida (Ferreira & Castela, 1999) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Teixeira, 2010).Os resultados apontam que a ideação suicida influencia o sexo, o estado civil, o facto de terem filhos, as habilitações literárias, a religiosidade, com quem habitam e com o diagnóstico de depressão. O bem-estar psicológico é influenciado pela religiosidade, na dimensão autonomia. Denotou-se que os reclusos que padecem de um diagnóstico de depressão apresentam níveis mais elevados de pensamentos suicidas. Sendo pertinente agir de forma rápida e eficaz na avaliação psicológica aquando da entrada dos reclusos nos estabelecimentos prisionais, de forma a prevenir o suicídio.

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Abstract

This study aimed to assess factors associated with psychological well-being and suicidal ideation in the northern region inmates. They participated in the study 302 male prisoners from two prisons in the north, aged 19 to 79 years. They were used as

instruments suicidal ideation Questionnaire (Ferreira & Castilla, 1999) and

Psychological Well-Being Scale (Fernandes, Vasconcelos-Raposo, & Teixeira, 2010). The results show that suicidal ideation influences sex, marital status, the fact that they have children, educational attainment, religion, who live and diagnosed with depression. Psychological well-being is influenced by religion, in the dimension autonomy. It is denoted that the detainees suffering from a diagnosis of depression have higher levels of suicidal thoughts. It is relevant act quickly and effectively in the psychological

evaluation for entry of inmates in prisons in order to prevent suicide.

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O indivíduo como sistema bio-psico-sócio-cultural integra em si o procedimento de adaptação, constituindo em constante confrontação a sua personalidade com o meio físico e social no qual se defronta e interage. Neste sistema há ainda variáveis a ter em conta para que exista um bom ajustamento social, nomeadamente, o ambiente familiar, as dificuldades escolares e o temperamento impulsivo (Cooper & Berwick, 2001).

Os estabelecimentos prisionais são instituições totalizantes que aplicam aos indivíduos em reclusão um estilo de vida particular. O dia-a-dia dos reclusos é vivido sobre diversas condições, regulamentos e códigos que o indivíduo não elegeu, mas sim sendo-lhe imposto por outros, de maneira a puni-los. Posto isto, aquando da entrada numa cadeia, o recluso compromete-se apreender um novo código comportamental e de interação social em que a nova veracidade foi pré-definida por outrem (Gonçalves, 2008).

Adaptar-se à prisão consiste em harmonizar a personalidade e o carácter de cada indivíduo em reclusão e o impacto originado pelo estabelecimento prisional em que estes se encontram, sempre fechados sem acesso à liberdade. Uma boa adaptação é descrita como sendo o efeito do processo equilibrador em que o preso tenta apreender as normas institucionais e aprender a estar em reclusão, alterando os seus esquemas

comportamentais, sem no entanto, perder a sua identidade (Gonçalves, 2008).

É de extrema importância garantir o bem-estar dos indivíduos mais vulneráveis, nomeadamente os reclusos que se encontram nos sistemas prisionais. É imprescindível que os serviços prisionais tenham apoio psicológico de forma a detetar, precocemente, os presos deprimidos, ansiosos ou com ideação suicida (Cooper & Berwick, 2001).

Gullone, Jones e Cummins (2000) relatam que nem todos os indivíduos que se encontram presos têm o seu bem-estar psicológico afetado. Por sua vez, também

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apontaram que a ligação entre a prisão e o bem-estar psicológico está estritamente relacionada com uma diversidade de variáveis.

O período inicial de reclusão é o mais stressante havendo à posteriori um

ajustamento psicológico, aumentando a sua autoestima com o passar do tempo. Denota-se que não subsiste nenhuma relação previsível entre o execução da pena e o bem-estar psicológico. Todavia, com o aumento do tempo na prisão estes propendem a associar-se e aprender as normas de conduta em vigor na cultura prisional (Gullone et al., 2000). Por sua vez, o contexto familiar dos reclusos vulneráveis aparenta ter uma fraca relação a capacidade de estes lidarem com o quotidiano da prisão (Cooper & Berwick, 2001).

A prática de desporto, passatempos ou atividades mentais, programas de

reabilitação ou de formação estão associados a níveis baixos de depressão e ansiedade e consequentemente, ao aumento do bem-estar psicológico (Cooper & Berwick, 2001). Porém, a execução destas atividades pode não significar a promoção de bem-estar, pois é plausível que os reclusos severamente deprimidos e ansiosos se sintam incapazes para terem energia ou entusiasmo para iniciarem ou participarem nas atividades propostas (Cooper & Berwick, 2001; Oliva, Mendizábal, & Asensio, 2013).

Numa investigação executada por Cooper e Berwick (2001) apontou que os reclusos que apresentam baixo orgulho e sentimentos de frustração ostentam um maior sofrimento psíquico. As inquietações sobre outros aspetos do quotidiano da prisão, nomeadamente, sentimentos de raiva, falta de controlo, segurança pessoal, falta de propósito na vida e preocupações sobre a violência não foram associados com o aumento da patologia, apesar de alguns estudos preliminares sugeriram que fatores como estes cooperam para a aflição induzida por prisão e daí para o suicídio em alguns reclusos vulneráveis.

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O estudo levado a cabo por Picken (2012) revelou que os reclusos parecem valer-se mais de estratégias focalizadas nas emoções e que estas se mostram mais adaptativas neste contexto, acarretando mais benefícios a longo prazo no bem-estar psicológico e físico. No meio prisional, o coping focado nas emoções manifesta-se pela partilha de emoções, experiências e medos com o grupo de pares mais próximo e pela procura do suporte e apoio por parte dos técnicos. A redefinição da situação e a reavaliação positiva também podem ser encarados como reguladores das emoções. Experienciar recorrentemente emoções negativas como arrependimento, vergonha e culpa afetam o bem-estar psicológico e físico. Por outro lado, suprimir estas emoções, disruptivas também pode levar a efeitos negativos. O impacto destas emoções disfóricas poderá ser diminuído se os reclusos forem estimulados a frequentar programas de treino de competências e intervenção em grupo (Picken, 2012).

Segundo Ryff e Singer (2000) a inexistência de bem-estar estabelece situações de vulnerabilidade quanto a exequíveis adversidades vindouras, devendo-se promover a compreensão da doença como fenómeno bio-psico-cultural de forma a prevenir

patologias do foro mental e biológico e assim a ascensão do bem-estar psicológico das pessoas e da sociedade.

O suicídio é uma tragédia pessoal e familiar encarada com sofrimento por aqueles que o rodeiam, sendo um desejo de acabar com a vida, em que outros indivíduos em situações idênticas não o executam (WHO,2002). No entanto, atos autodestrutivos são frequentemente ligados à inaptidão do sujeito para encontrar soluções viáveis para os seus dilemas, pondo assim fim a sua vida como forma de os resolver (Dutra, 2012; Werlang,2000).

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O quotidiano prisional vivencia diversos comportamentos desviantes: roubos, ameaças de morte, agressões a reclusos e aos guardas prisionais, violações, tráfico e consumo de drogas, tentativas de fuga, ocultação de droga na vagina e no ânus, estes e outros episódios fazem parte do dia-a-dia prisional. No entanto, não haverá condutas mais disfuncionais do que executar o suicídio. Os procedimentos suicidários, com ou sem ideação suicida, obtêm infindas facetas no sistema prisional (Moreira, 2010).

Diversos estudos apontam que a taxa de comportamento suicida em meio prisional é mais elevada relativamente ao observado na população em geral (Moreira & Gonçalves, 2010). Os únicos dados disponíveis em Portugal reportam-se ao suicídio consumado. Na observação das taxas de suicídio consumado por 100.000 habitantes entre prisões e população geral entre 1999 e 2004 divulgou taxas médias de suicídio de 124.7% nas prisões comparativamente a 8.8% na população geral. Desta forma, a razão entre suicídio consumado no interior e fora da prisão afigura-se extraordinariamente disforme e, em média, por cada suicídio ocorrido na população geral entre 1999 e 2004, ocorreram catorze nas prisões portuguesas (Moreira, 2008), facto que acompanha a realidade internacional, onde, tal como em Portugal, se apontam enormes divergências entre os suicídios sucedidos nas prisões e população geral (Moreira & Gonçalves, 2010).

As prisões retratam violência, estando estas demasiado deterioradas e as

condições sanitárias são precárias, em que muitas das vezes a saúde mental do recluso é desconsiderada, sendo o ambiente vivenciado dentro da instituição prisional uma

constante de violência (Souza & Ávila, 2007). Os processos psicossociais dos reclusos são excessivamente afetados, sendo assim, um contexto social favorável à frequência de ideação suicida, pois a sociedade da qual fazemos parte põem de lado os sujeitos que agiram contra a lei (Souza & Ávila,2007).

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Moreira (2008) nomeou diversos fatores de risco associados ao risco de suicídio que se faz sentir nas prisões. Para o mesmo autor, primeiramente é necessário ter em conta que em meio prisional os fatores de risco são completamente distintos dos da população em geral. Habitualmente, as prisões são um meio de sofrimento, pois o recluso deixa de ter contacto com os familiares e amigos, passando a viver num meio repleto de violência, sobrelotado e que exige o cumprimento de certas regras exigentes, estando sujeito a lidar com imensos stressores diários que promovem o risco de

condutas auto lesivas. A fase de concretização da pena em que o risco se vê mais agravado aparenta ser a da admissão dos presos na cadeia e durante a prisão preventiva. Nesta etapa, o preso depara-se com uma nova realidade a qual não estava familiarizado, acarretando um processo adaptativo. Este processo é acompanhado por sintomas de revolta, vergonha, culpa e medo vivenciado após a entrada, gerando tensão interior, sofrimento e tristeza, mais ainda, num período em que o recluso não tem suporte social e familiar. Quando estes stressores transpõem determinado limiar, o preso vê como última alternativa o suicídio como forma de fuga à situação de sofrimento que se torna incomportável (Moreira, 2010).

Existem inúmeros fatores stressores que levam os reclusos a colocarem fim à vida, He, Holzer, Nathan, e Veasey (2001) destacam: a) os conflitos com o ambiente institucional (e.g. castigo em cela disciplinar, transferência para uma unidade do seu desagrado, limitação do acesso ao trabalho, impotência para fazer escolhas, como por exemplo alimentares); b) conflitos interpessoais (e.g. relações disruptivas entre o

recluso e os seus familiares ou parentes, separação dos filhos e de pessoas significativas, culpa e vergonha sobre o crime cometido, agressão física e sexual por parte de outros reclusos e lutas entre presos); c) processos legais (e.g. espera pelo julgamento, leitura da sentença); e d) condições clínicas (e.g., delírios, insónia, diabetes, sida).

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Numa análise bibliográfica que envolveu 34 estudos (compreendendo 4780 casos de suicídio na prisão) levada a cabo por Fazel, Cartwright, Norman- Nott, e Hawton (2008) constatou-se que os fatores de risco aliados ao suicídio prisional eram: a raça/etnia branca, ser do sexo masculino e casado, estar numa cela individual e ser preventivo ou cumprir pena de prisão perpétua. Por sua vez, nos fatores de ordem clínica, destaca-se o consumo de substâncias, bem como padecer de um diagnóstico atual de perturbação psiquiátrica com a consequente prescrição de medicação psicotrópica.

Para além dos stressores vivenciados nas prisões, as condições psiquiátricas, nomeadamente, perturbações de humor, ansiedade, personalidade e a dependência e abuso de substâncias, tem vindo a ser, cada vez mais, vista como um fator de stresse ou de vulnerabilidade, o que terá como finalidade para o recluso enveredar por uma conduta de auto lesão no futuro. No entanto, nem todas as pessoas com um diagnóstico de uma perturbação psiquiátrica têm como finalidade uma conduta suicida, pois

depende da intensidade sentida dos elementos stressores e da capacidade de coping adaptativo que o mesmo apresenta perante a situação (Moreira, 2010).

Certos sinais autodestrutivos executados pela população reclusa são geralmente encarados como sendo uma conduta manipuladora. Esta população pensa que pelo facto de cometer comportamentos parasuicidários consegue atingir os objetivos pretendidos, nomeadamente, ter um maior controlo sobre o que o rodeia ou ganhos secundários, como por exemplo, transferência para um hospital ou outra intenção por eles exigida (Moreira, 2010).

Segundo a OMS (WHO, 2007) a oportunidade de ostentar uma tentativa de suicídio para alcançar os objetivos pretendidos, deve desde logo ser uma preocupação para quem trabalha diretamente com esta população. É de realçar que diversas equipas

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que têm contacto diário com o sistema prisional admitem que alguns reclusos tentam controlar ou manipular o sistema através de uma conduta autodestrutiva, não adotando a ideação suicida como um ato sério, o que por vezes o mesmo pode se tornar realidade, num recluso que apresente um historial de infração de regras e de violação. No entanto, a OMS alerta para que os episódios de tentativa de suicídio, independentemente das motivações apresentadas, pode terminar em morte, mesmo que essa não seja a intenção pretendida. Dada a escassez de métodos no interior da cela para acabar com a vida, os reclusos por vezes optam por um método mortífero, como o enforcamento, mesmo na inexistência da “real” ambição de morrer, ou possivelmente, por não conhecerem o risco de perigosidade daquele método (Moreira, 2010).

O forte número de suicídios cometidos nas instituições prisionais merece uma forte atenção na área da saúde, pois sendo os reclusos um grupo vulnerável da sociedade é pertinente avaliar a sua situação social e a análise da sua saúde mental, promovendo práticas preventivas do suicídio e o planeamento de ações de saúde mental na

comunidade reclusa (Moreira, 2008).

Com base nas evidências empíricas apontadas pela literatura, o presente estudo centra-se na seguinte questão de investigação “Será que existe uma relação entre a ideação suicida e o bem-estar psicológico na população reclusa e quais serão as variáveis independentes que influenciam os reclusos a porém termo a vida?” Neste sentido, torna-se importante perceber como interagem estes fatores para a adaptação e bem-estar psicológico intramuros.

Consequentemente, os objetivos específicos consistem em analisar a existência da relação entre o estado civil, ter filhos, habilitações literárias, religiosidade, viver sozinho ou acompanhado antes da reclusão e se já foi diagnosticado com depressão em relação ao bem-estar psicológico e à ideação suicida em contexto prisional, bem como

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