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Aids, Carnaval e os mais velhos: uma mistura explosiva

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Aids, Carnaval e os mais velhos: uma mistura explosiva

Para o ginecologista Celso Galhardo, coordenador do Programa Municipal

DST/Aids, de São Paulo, é preciso quebrar o preconceito de que o idoso sexualmente ativo é anormal. Segundo ele, não existe uma idade limite para a

atividade sexual, já que isso depende do físico do idoso, das condições de saúde, da libido e do erotismo. “Sexo é sinal de saúde”, argumenta.

Luciana Helena Mussi

Dezembro chegou e com ele as festas de final de ano, Natal e Réveillon. Época de planos, novos projetos, pensar em mudança de hábitos e, o principal, relaxar. Livres das pressões e entregues a apenas aproveitar o “tudo de bom da vida”, viramos o ano, terminamos janeiro e, quando menos esperamos, estamos no Carnaval.

É comum ouvirmos frases como: “no Carnaval tudo pode”, “esse é o único momento do ano que a gente pode se liberar” ou até “eu mereço, pelo menos no Carnaval”. Nota-se que a palavra que impera é “liberdade”, total e irrestrita, permitir-se a tudo e a todos. Mas quais serão os segredos, a origem desse evento tão festejado no nosso País?

O Carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Durante o evento os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção.

A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa, pela Igreja Católica, antecedida por 40 dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma.

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A palavra “Carnaval” está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne, marcado pela expressão carnis valles, que acabou por formar a palavra “carnaval”, sendo que carnis em latim significa carne, e valles significa prazeres1.

É muito provável que essas sejam as raízes que relacionam as festas de Carnaval à sexualidade e a todos os cuidados decorrentes dos chamados “prazeres da carne” que, digamos, “provocam”, ou melhor, mobilizam todos nós em qualquer fase da vida.

Segundo estimativas do infectologista Alfredo Passalacqua, existe aumento de 25% a 30% nos casos de transmissão do vírus HIV nesse período. “Não são números oficiais, mas que há um incremento na disseminação do vírus, há”, destaca o médico.2

Grande parte das matérias que circulam pela mídia impressa e internet adverte principalmente os jovens quanto aos riscos de contágio e cuidados relacionados às doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a aids, durante o período do Carnaval, mas muito pouco se fala e se escreve alertando especificamente o público idoso.

Localizamos algumas reportagens em 2011 e 2012 que abordam, com clareza o tema, e seus respectivos cuidados, desmistificando as questões relacionadas à sexualidade no envelhecimento como processo, como fase da vida, e ainda o que tudo isso significa na vida do velho ou idoso.

Na reportagem Dobram os casos de Aids na

terceira idade em 10 anos, Mariana Versolato

afirma que avôs e avós fazem sexo sim. E, sem proteção, também pegam aids. De 1998 a 2008, os casos da doença entre pessoas acima de 60 anos no Brasil mais que dobraram, segundo dados de 2010 do Ministério da Saúde.

A via predominante de transmissão é por relação sexual heterossexual, em ambos os sexos.

Embora o número absoluto de casos ainda seja pequeno em comparação com outras faixas etárias, o ritmo de crescimento da doença entre os idosos é preocupante, afirma Eduardo Barbosa, diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Sem o hábito - e, muitas vezes, sem o conhecimento - de usar preservativos, esse grupo se expõe mais ao risco de contrair o vírus HIV, de acordo com Eduardo Barbosa. “É difícil mudar a mentalidade dessa população. Eles ainda encaram o sexo com camisinha como chupar bala com papel”.

1 Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval 2 Ver o website - jornal O Mossoroense.

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Além disso, para as mulheres o preservativo sempre esteve associado a um método contraceptivo. Como não estão mais em idade reprodutiva, não veem por que usá-lo.

O preconceito a respeito da vida sexual dessa população também dificulta a proteção. “Ninguém de nós vê nossos avós como sexualmente ativos, e isso dificulta o diagnóstico e o acesso à prevenção”, afirma Barbosa.

Os idosos têm ainda a ideia de que a aids é doença de jovens e que estão à margem do risco, segundo o infectologista do Hospital Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, autor do livro “Sexo e Aids depois dos 50” (jornal Folha de S.Paulo, Caderno Equilíbrio e Saúde, 03/07/2011).

Rodrigo Mesquita, na reportagem “Aos 78 anos, mulher soropositiva há 15 acredita que é possível viver com otimismo”, aborda dados relevantes. Segundo a matéria, os dados do Ministério da Saúde mostram que, a cada ano, a fatia de novos velhos diagnosticados com aids só cresce.

Para Maria Luísa, 78 anos e soropositiva há 15, o diagnóstico não deve impedir que as pessoas procurem viver o melhor possível. A entrevista ocorreu em sala reservada (e ensolarada) de um hospital público da região oeste de São Paulo. Na ocasião, a sorridente e otimista senhora conversou com a reportagem da Folha, acompanhada da filha mais velha.

- Fiquei viúva e casei novamente. Meu segundo marido estava infectado, mas eu não sabia. Nem ele sabia. Muitos anos depois do casamento comecei a ficar doente, o que era muito estranho, sempre fui uma pessoa saudável. Se bem que, para mim, não tem dia triste, é um dia bom após o outro.

- Enfim, fui ao consultório e o doutor não achava nada. Eu era doadora de sangue, nunca tive nada. Outro médico, que me atendeu pelo plano de saúde, perguntou: 'A senhora pode fazer uns exames?'. Ele desconfiava que meu problema fosse aids. E quando chegaram os exames, lá estava o resultado: soropositiva. Meu marido, que eu não duvido que pegou essa doença quando me traiu, morreu um ano depois do meu diagnóstico.

- Comecei a fazer o tratamento na mesma semana do diagnóstico. Meus filhos me levavam para o consultório. Minha família me trata como se eu não tivesse nada, e é assim até hoje. As exceções foram pessoas que sofreram muito, que diziam ‘Ah, ela vai morrer’. Que nada, vou chegar aos 90 anos e ainda vou dar muita entrevista!

- Tirei a doença da minha cabeça, até esqueço que tenho aids, porque não sinto nada. Bloqueei a doença, sempre fui sadia e ainda sou. Faço as minhas tarefas de sempre, continuo a andar, passear etc. Todo mundo esperava que eu ficasse triste, mas não me abalei com isso; sabia que ia matar todos esses bichinhos e, hoje, não tenho nenhum.

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- Estou com essa doença há 15 anos, mas nunca me abalei com isso, ajo como se tivesse pegado uma gripe: essa doença pega na cabeça e não vou deixar de viver a minha vida, não vou morrer por causa disso. E não morri: comecei a fazer atividades como ginástica, cooper e natação. Comecei a fazer uma coisa que essa doença não gosta: viver.

- Minha família passou a tomar mais cuidado na hora do sexo, inclusive os meus netos. Já cheguei a pegar camisinha do hospital e colocar nas gavetas deles, nas camas das netas. Coloco lá para chamar a atenção, e eu sou a prova viva do que pode acontecer quando há uma relação desprotegida.

- Nunca passei por preconceito, pois ninguém, a não ser meus parentes, sabe que eu tenho aids. Não estou doente e, se disserem que estou, é mentira. Se a pessoa não sente nada, ela não está doente. É o que acontece comigo.

- Essa doença é uma coisa muito triste para quem não sabe viver. A pessoa tem que ser muito forte nessa hora, tem que ser muito higiênica com a casa, a comida, tudo. Eu sempre fui assim, nunca precisei ter aids para ser higiênica; o que lamento é ter deixado de doar sangue por causa da doença, meu sangue é universal. Doei muito sangue, devo ter salvado muitas vidas. É uma pena ter parado.

- Amo o meu médico atual, ele é bastante carinhoso comigo e com os pacientes dele. Isso anima o paciente, dá força para ele viver, seguir em frente com o tratamento. Se o médico diz: ‘Tá aqui o seu remédio, toma’, e nem olha para a gente, é muito ruim. Mas se ele levanta da cadeira, me dá um abraço e diz que eu vou ficar boa, que estou bonita, que o meu perfume está muito bom... Esse é o médico que coloca o paciente pra cima.

- A morte? Não tenho medo, mas gosto de viver. Acho que vou sentir saudade da minha família, dos meus amigos, do meu povo, que amo tanto. É bom demais ter amizades, ser feliz. Não sou doente, tenho vida, tenho garra para viver. Eu ia até fazer uma lipo, mas acabei desistindo.

- Eu tenho certeza de que vai surgir uma cura, como também podem vir coisas piores ainda. Isso está mais perigoso para as vovós e os vovôs do que para os meninos. Pois os vovôs se acham os bonzões, vão lá para a cama com as menininhas, e acabam passando o vírus para as vovós. Tanto é que hoje vivo dizendo para as minhas amigas: ‘se tiverem um parceiro, usem camisinha, pois o HIV não está escrito na testa de ninguém’.

- Se algum leitor ou leitora soropositiva ler essa matéria, não fique triste. Coloque na sua cabeça que você não tem nada! Tome o remédio e diga: ‘abençoe, Senhor, esse remédio, para que ele possa limpar meu sangue’. É o que faço, e sempre ajuda. E tome cuidado para não ter relações desprotegidas. Ah, mais uma coisa: se chorar, se ficar triste, a sua imunidade cai. Sou feliz e procuro sorrir! Sempre!3

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Em outra reportagem, Casos de Aids entre idosos dobram em dez anos, Rodrigo Mesquita retoma o caso de Maria Luisa e seu segundo marido, que contraiu o vírus da aids, segundo ela, durante um caso com outra mulher. Já Maciel, 68, afirma igualmente que contraiu a doença durante uma relação sexual desprotegida, segundo o próprio.

Os dois fazem parte de uma população que, pelos dados do Ministério da Saúde, cresce rapidamente: pessoas com mais de 50 anos diagnosticadas com o vírus HIV. Em 2000, 8,64% dos diagnósticos de HIV foram de pessoas nessa faixa etária; em 2010 (até 30 de junho), a fatia chegou a 17,23%.

Para o médico Jean Carlo Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, localizado em São Paulo, existem várias possibilidades para explicar o aumento da doença entre os novos velhos. Uma delas seria o fato de a doença ser associada à juventude. “As campanhas publicitárias usam personagens jovens, linguajar jovem, o que faz com que esse público se identifique como um grupo de risco, enquanto os mais velhos se sentem menos vulneráveis”. Maciel concorda: “Descuidando, a gente acaba se distraindo e não se prevenindo”.

Para Eliana Bataggia Gutierrez, diretora da Casa da Aids da USP, outro motivo responsável pelo aumento de novos velhos com aids é o crescimento dos diagnósticos tardios. “Provavelmente, uma parte dessas pessoas já tinha a doença e não sabia”. Ela cita o sucesso dos coquetéis de remédios como um motivo de os pacientes em tratamento ultrapassarem os 50 anos de idade. Na instituição que dirige, que abriga 210 pacientes (sendo 7% com mais de 60 anos), as pessoas estão em tratamento há 14 anos, em média. “A maior parte dos nossos pacientes começou a se tratar há dez, quinze anos, quando não havia remédios muito bons”.

Maria Luísa e Maciel estão em tratamento há mais de dez anos. “Eu comecei o tratamento na mesma semana do diagnóstico, e posso dizer que hoje não estou doente”, diz ela, sorrindo. Eles contam que as únicas pessoas que sabem de suas condições são os familiares. “Dos meus amigos, 99% não sabem da minha situação, eu a omito. Se eles não perguntam, eu não vou ficar expondo sem haver necessidade”, conta Maciel.

Para Gorinchteyn, os novos velhos sofrem duplo preconceito: contra a doença e contra a idade. “Existem até casos de abandono de pacientes, mas estes estão vinculados, principalmente, ao tipo de relação familiar que existia antes da doença”.

Para os médicos, o tratamento de pessoas acima dos 50 anos requer cuidados maiores do que em outras faixas etárias.

“O tratamento é realizado com três drogas ou mais, combinadas ou não, que geralmente estão associadas a uma série de efeitos colaterais. E o indivíduo

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pode ter problemas que foram agravados pela idade, pela aids ou por outras medicações”, explica Gutierrez.

Gorinchteyn acrescenta que certas doenças, como pressão alta, problemas de colesterol e diabetes - as chamadas comorbidades -, podem ser agravadas pelo tratamento. Por isso, o tratamento deve envolver as drogas que apresentarem os menores riscos para os pacientes.

Outro problema, segundo Gorinchteyn, é o tempo entre a contaminação e a detecção da doença; o intervalo médio entre os pacientes em geral varia entre cinco e dez anos. Gutierrez completa dizendo que parte significativa dos pacientes só descobre que tem aids quando tem a primeira doença oportunista.

É o caso do sarcoma de Kaposi (tipo de tumor que ataca a pele e órgãos como o pulmão), da tuberculose e da pneumonia. “Na Casa da Aids, a taxa [de pacientes que descobrem a Aids por meio de doenças oportunistas] é superior a um terço dos casos”. 4

Idosos são 60% dos novos casos de HIV em Mato Grosso é o título da

reportagem de Andhressa Sawaris Barboza, na qual afirma que apesar de haver redução dos casos de aids no Estado, aumenta a incidência da doença na terceira idade.

Apesar de portadores do vírus HIV terem qualidade de vida superior em relação à década de 1980, quando foram diagnosticados os primeiros casos, ainda são registradas 11 mil mortes por ano no País. A falta de tratamento leva à condição de debilidade extrema e é causa para o alto número de mortes.

Mas ao contrário do que se pensa, o chamado “grupo de risco” em Mato Grosso não está entre aqueles que se prostituem e seus clientes, muito menos entre homossexuais. A terceira idade representa 60% dos casos registrados nos últimos seis anos.

De acordo com o médico Ivens Cuiabano Scaff, o cenário no Estado é um pouco diverso daquele do resto do País. Ele conta que a epidemia ainda não foi controlada e caminhou para a terceira idade. “De cada dez pacientes portadores do vírus que atendo, seis são esposas, heterossexuais, que foram contaminadas por seus parceiros”. O aspecto mais preocupante do novo comportamento social é o fato de que o vírus potencializa doenças cardiovasculares, mesmo quando estão mais controladas.

Ou seja, se até o momento a tecnologia de medicamentos diminuiu em até 90% os riscos de transmissão, e melhorou a qualidade de vida de

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soropositivos, é preciso voltar os olhos para os idosos. “Esse é o desafio mais moderno, pois é muito mais difícil diagnosticar esses casos devido às condições da idade, e acabamos descobrindo só quando um dos parceiros adoece”, explica Scaff.

O médico ainda recomenda que o exame de HIV deve fazer parte da rotina, pois quanto antes o diagnóstico é apresentado, menores serão os riscos de que o paciente desenvolva outros tipos de doenças das quais ele está vulnerável. Isso acontece porque portadores da aids estão sujeitos a se contaminarem, pois o vírus age diminuindo as defesas do organismo. Se não tratado, o paciente pode chegar a óbito por uma simples gripe.

No caso de idosos ainda há o agravante de doenças características à idade, como é o caso de anomalias relacionadas ao coração e ao sistema circulatório. “Como não podemos sempre pedir exame, porque pela lei brasileira o ato pode ser considerado discriminação, é mais complicado, mas sempre recomendo aos meus pacientes que façam”, ressalta o médico. Uma das curiosidades nesse novo perfil é que as mulheres geralmente aceitam melhor que os homens e assumem as responsabilidades da casa. Quanto a possíveis crises no relacionamento, Ivens lembra que, pelos casos que acompanha, não são frequentes. “Se a situação é essa, agora é daqui para frente”, revela ao médico uma das mulheres que contraíram o vírus do marido.

Para Ivens Scaff, faltam políticas públicas para essas pessoas, considerando a abordagem adequada. “O HIV não escolhe idade e, no caso do idoso, é um organismo mais sensível e propenso a desenvolver as patologias relacionadas ao vírus”. Outro ponto fundamental e que merece atenção por parte de órgãos públicos é o fato de que medicamentos usados no tratamento de doenças cardíacas entram em conflito com o coquetel antiaids.

Na rede pública de saúde da capital, há palestras sobre o tema nas reuniões de grupos de idosos. De acordo com a coordenadora do grupo de idosos da Policlínica do Planalto, Alice Magalhães, as palestras orientam esse público quanto às doenças sexualmente transmissíveis (DST). Ela relata que quando detectado algum caso, o paciente é encaminhado ao SAE. “Mas é difícil mudar a cultura e os costumes de um idoso, fazer com que eles usem camisinha é uma tarefa complicada”.

“Nem sempre os parceiros querem usar, mas se não querem a gente vai mesmo assim”, diz uma senhora que participa do grupo da terceira idade. A equipe desta reportagem esteve em um local onde é há baile para esse público. De acordo com relatos, ali começam os namoros. “Depois daqui a gente vai para casa”, afirma ela, admitindo ter amigas que, assim, já contraíram doenças sexualmente transmissíveis. “Mas ninguém fala muito disso, fica na intimidade da pessoa”, conclui. (Website Circuito Mato Grosso, 26/07/2012) A reportagem de Mariana Lenharo, Mais idosos realizam teste de HIV em SP,

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cidade e no Estado de São Paulo em 2011, em comparação com o ano anterior. É o que mostram levantamentos feitos a pedido do Jornal da Tarde, por três laboratórios privados e por um Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde. O fenômeno reflete, segundo especialistas, mudanças comportamentais nesse grupo, que passou a prolongar a vida sexual com a ajuda de medicamentos contra impotência, como o Viagra.

No Laboratório Delboni Auriemo, por exemplo, foram feitos 3.730 testes de HIV em idosos da capital paulista em 2011. O aumento foi de 26,3% na comparação com 2010, quando houve 2.952 testes. Outro laboratório que registrou esse movimento foi o Salomão-Zoppi Diagnósticos, também na capital paulista. Lá, a porcentagem de crescimento do exame na terceira idade foi de 46% em 2010 e 2011.

Quando a comparação é feita entre os cinco primeiros meses deste ano em relação aos cinco primeiros meses do ano passado, constata-se aumento de 75% nos pedidos de testes. No Lavoisier, levantamento feito em todo o Estado de São Paulo, com 11.739 pessoas, mostrou que, em 2010 e 2011, ocorreu aumento de 28,6% em exames feitos por pessoas com mais de 60 anos de idade. Se 2.937 idosos procuraram o laboratório para saber se tinham HIV em 2010, no ano passado esse número subiu para 3.779.

Para a infectologista do Lavoisier, Maria Lavinea Figueiredo, a aids é um problema sério entre pessoas com idade acima de 60 anos por causa da situação imunológica mais frágil dessa população, pois a doença ataca justamente o sistema de defesa do corpo. Além disso, o próprio tratamento com antirretrovirais pode agravar problemas típicos da idade avançada, como colesterol alto, diabetes e hipertensão.

Outra dificuldade é que o idoso, muitas vezes, acredita que a aids é doença que atinge apenas os mais novos. “Hoje em dia eles têm acesso a remédios que permitem que tenham relações sexuais, apesar da idade avançada. E ficam mais suscetíveis a contrair doenças sexualmente transmissíveis”, disse Maria Lavinea.

No Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, o número de idosos testados para aids passou de 75, em 2010, para 101, em 2011. O aumento foi de 34,6%, mas de acordo com a assistente de gerência do núcleo de DST e do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Angela Maria Peres, esse ainda não é o público principal do núcleo - que costuma realizar mais de 3 mil exames por ano. “Quem sempre nos procurou foi a população mais vulnerável: homens que fazem sexo com homens, travestis, transexuais. Essa população que tem mais de 60 anos só passa a nos procurar quando tem alguma indicação de que o parceiro ou a parceira é HIV positivo”, disse.5

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Nos últimos anos, a terapia de reposição hormonal para as mulheres e os tratamentos para que homens possam prolongar a ereção possibilitaram aos idosos manter a vida sexual ativa, afirma a reportagem Saúde do idoso:

sexualidade.

Para o ginecologista Celso Galhardo, coordenador do Programa Municipal DST/Aids, de São Paulo, é preciso quebrar o preconceito de que o idoso sexualmente ativo é anormal. Segundo ele, não existe idade limite para a atividade sexual, pois isso depende do físico do idoso, das condições de saúde, da libido e do erotismo. “Sexo é sinal de saúde”, argumenta.

Além da maior frequência de sexo nessa faixa etária, outro problema tornou-se preocupante - o aumento do número de infectados pelo HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorreia e clamídia. O vírus do HIV ataca as células de defesa do corpo e o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças. Se descoberto cedo, o tratamento adequado feito com os antirretrovirais possibilita uma vida normal.

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, de 1980 até junho de 2011 foram notificados 16.838 casos de aids em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em 2000, foram registrados 702 casos nessa faixa etária.

Para a gerontologista e coordenadora nacional da Saúde do Idoso, do Ministério da Saúde, Luiza Machado, o profissional de saúde muitas vezes se esquece de perguntar se idoso tem atividade sexual e de pedir o teste. Assim, ocorrem muitos erros de diagnóstico. “Hoje o idoso vive mais, namora mais, então temos de preconizar uma campanha de prevenção da DST/aids”.

Segundo a especialista, cada vez mais mulheres idosas são infectadas com HIV e outras DSTs durante o casamento. Muitos homens que fazem uso de medicações contra a disfunção erétil procuram relações extraconjugais e não usam camisinha. “É preciso estimular o uso do preservativo, a própria mulher pode usar e está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde)”.

Galhardo considera que o aumento da incidência de HIV entre idosos está ligado a uma questão cultural. “O idoso viveu numa época na juventude dele que o uso de preservativo não era difundido, é difícil explicar a ele que pode pegar o HIV em qualquer faixa etária. O idoso acha que o prazer será menor, mas o sexo pode ser tão bom ou até melhor com camisinha”.

A geriatra Fabíola Borges diz que o HIV na terceira idade é questão delicada. “Se é difícil convencer uma geração jovem que teve educação sexual e, mesmo assim, não usa camisinha, imagine convencer um idoso que nunca usou preservativo”.

E enumera outros fatores que contribuem para a disseminação do vírus em idosos: faixa etária que não se preocupa com a prevenção de gravidez

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(considerada estímulo à prevenção dos jovens), preconceito do próprio idoso e da sociedade que o vê como população de não risco e falta de informação.

Durante a janela imunológica – período entre a infecção pelo vírus da aids e a produção de anticorpos anti-HIV no sangue –, o paciente não apresenta sintomas. Mas muitas vezes o idoso somente procura ajuda médica no estágio mais avançado da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, quando os sintomas já estão se manifestando. Nessas situações, qualquer doença oportunista, como gripe ou pneumonia, pode ser muito grave e até fatal. “O idoso precisa tomar a iniciativa e fazer o teste. Quanto mais cedo tiver esse diagnóstico, pode ser direcionado ao serviço público de saúde e ter o tratamento correto”, afirma Galhardo (da redação do Website brasil.gov.br).

Vídeos – YouTube

Além das matérias descritas acima, localizamos no YouTube apenas dois vídeos relacionando diretamente aids e terceira idade:

- “HIV na terceira idade”, com a descrição: “Segundo o Ministério da Saúde, casos de aids entre idosos dobraram. A falta de hábito sobre o uso da camisinha e o desconhecimento sobre prevenção são os maiores vilões nessa história”.

- “Anúncio promove sexo seguro na terceira idade”, com a descrição “Do it. Safely.”; nome de uma campanha que promove as relações sexuais protegidas na terceira idade. Lançada pela organização norte-americana SaferSex4Seniors, a iniciativa pretende demonstrar aos idosos tudo aquilo que ainda lhes é possível para satisfazer o desejo sexual.

Com esta revisão das reportagens que circularam pela mídia e vídeos entender que o caminho é longo. Ainda há muito por falar, esclarecer e orientar os mais velhos quanto aos riscos e cuidados que se deve ter com as doenças sexualmente transmissíveis.

É fundamental que os profissionais de saúde vejam os pacientes idosos, como os jovens e adultos, como indivíduos potenciais ao risco de infecção pelo vírus HIV, sem perder de vista o envolvimento da sociedade e adoção de políticas públicas efetivas.

Com o acelerado envelhecimento da população, torna-se fundamental, senão crucial, executar estratégias para diminuir o estigma em relação à vida sexual das pessoas mais velhas, práticas educativas, e incentivar pesquisas relacionando velho, velhice e envelhecimento à aids.

Numa época como o Carnaval, em que vivemos, de forma consciente, uma espécie de “suspensão das normas”, algo parecido com um libertar-se mágico de si mesmo, nunca é demais lembrar os cuidados essenciais.

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Todos os anos, o Ministério da Saúde - Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais (DST) costuma divulgar campanhas que compreendem duas fases: antes do Carnaval, o apelo é para o uso do preservativo nas relações sexuais. Depois do período da festa, a ideia é estimular a fazer o teste HIV para quem teve relação sexual desprotegida com parceiro casual ou fixo.

Sexo é bom, sexo é saúde. Que fique claro que velhice não é sinal de fim, menos ainda de término dos desejos e práticas sexuais. Esse sexo existe efetivamente, não é invisível e menos ainda vazio, como muitos acham. Com Carnaval ou sem Carnaval, sexo com camisinha é, sempre, a melhor combinação e opção.

Referências

Barboza, A.S. (2012). Idosos são 60% dos novos casos de HIV em Mato Grosso. Disponível em

http://www.circuitomt.com.br/editorias/cidades/17739-idosos-sao-60-dos-novos-casos-de-hiv-em-mato-grosso.html. Acesso em

01/12/2012.

brasil.gov.br (S/D). Saúde do idoso. Disponível em

http://www.brasil.gov.br/sobre/saude/saude-do-idoso/sexualidade. Acesso em

01/12/2012.

Jornal O Mossorense (2012).Transmissão do vírus HIV no Carnaval pode

crescer cerca de 30%. Disponível em

http://omossoroense.uol.com.br/cotidiano/14880-transmissao-do-virus-hiv-no-carnaval-pode-crescer-cerca-de-30. Acesso em 01/12/2012.

Lenharo, M. (2012). Mais idosos realizam teste de HIV em SP, aponta levantamento. Disponível em

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2012/08/20/mais-idosos-realizam-teste-de-hiv.htm. Acesso em

01/12/2012.

Mesquita, R. (2012). Aos 78 anos, mulher soropositiva há 15 acredita que é

possível viver com otimismo. Disponível em

http://www1.folha.uol.com.br/treinamento/mais50/ult10384u1017442.shtml.

Acesso em 01/12/2012.

Mesquita, R. (2012). Casos de Aids entre idosos dobram em dez anos.

Disponível em

http://www1.folha.uol.com.br/treinamento/mais50/ult10384u1017426.shtml.

Acesso em 01/12/2012.

Versolato, M. (2011). Dobram os casos de Aids na terceira idade em 10 anos. Disponível em

(12)

Vídeo (2012). Anúncio promove sexo seguro na terceira idade. Disponível em

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/anuncio-promove-sexo-seguro-na-terceira-idade-com-video. Acesso em 03/05/2012.

Vídeo (2012). HIV na terceira idade. Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=xVsit4dxg7E. Acesso em 07/12/2012.

Data de recebimento: 19/01/2013; Data de aceite: 19/01/2013.

_________________________

Luciana Helena Mussi - Engenheira, psicóloga e mestre em Gerontologia pela

PUC/SP. Doutoranda em Psicologia Social PUC/SP. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: lh0404@terra.com.br

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