UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
--
CENTRO
SÓCIO-ECONOMICO
DEPARTAMENTO DE
SERVIÇO
SOCIAL
AÇÃO
VOLUNTÁRIA:
"SER
COM
O
OUTRO"
QWQ
,.. I 2:. ' GSE-UFSC APf0vado PeloDS$
Em,______/__›_`~ƒ ,zTrabalho de
Conclusão
deCurso
apresentado ao
Departamento
de ServiçoSocial
da
Universidade Federal de SantaCatarina para obtenção
do
título deAssistente Social pela acadêmica:
Véra
InêzGauer
Nilsson“Todo
aqueleque
passapor
nós,deixa
um
pouco de
sí e levaum
pouco
de nós! “Anders,
Este trabalho é testemunha
do
companheirismo, dedicação,
incentivo e
amor
que
nos une.Ele
também
é seu!E, ao nosso filho que hoje
AGRADECIMENTOS
À
Deus
por sentir sua presençaem
todos osmomentos,
principalmentequando
a vontade de desistir e de voltar atrás foi muito grande.À
Mestre
eamiga
Professora Nilva, que desde o iníciodo
cursome
apoiou, incentivou e, agora
no
finaldo
cursopude
contarcom
seus ensinamentos.Hoje
me
atrevo a dizer: “aamiga
certa, das horas incertas”. 'À
Mestre “Graça”que,com
sua brandura, transmitiu-me calma, respostas aosmeus
anseios e, pelas reflexõesque
juntasfizemos. Mas,
principalmente por tersido
companheira
e amiga,que
às vezesmesmo
distante senti-me agraciada pelo seuolhar
meigo
e por sua temura.À
Equipe
Executiva daAção
Social Arquidiocesa: Sandra, Darlene,Marlete, Teresa e Roberto, porque que
me
fizerem
sentircomo
“parte”integrante damesma.
À
você Vera
Nícia, supervisora e grandeamiga
de todas as horas, pelosseus ensinamentos, troca de experiências, por tudo aquilo
que
aprendemos
esonhamos
juntas.À
Krystina pelo crédito deconfiança
em
mim
depositado, por tê-labem
As
amigas
Drica, Beti, Oliva, Clau, Celita e Rosinha, pelosmomentos
de angústia, alegrias, expectativas e aprendizadoque
juntas partilhamos.Aos
meus
familiares,em
especial aminha
mãe
Alice, pela sua féinabalável e por ter
me
ensinado oamor
e o respeito a pessoa Idosa.A
todos os professores pelos ensinamentos e troca de informações.Ao
Zenirto pela amizade.A
Neiva
por toda a ajuda nestes anos todos.Aos
funcionáriosdo Departamento
de Serviço Social: Regina, Ieda,Rosana,
Marta
e Ondina, grata pela atençãoque sempre
recebi de vocês.E, a todos aqueles(as) que
comigo conviveram
nestes três anos e meio,na
busca dos
meus
ideais e daminha
utopia.RECONHECIMENTO
Às
ldosas,Coordenadora
e Voluntáriasdo
Grupo
de Idosos Santana-Agronômica,
pela oportunidade impar de ter convividocom
vocês nesseum
ano
emeio.
Com
vocês aprendi e crescimuito
como
pessoa, ecomo
profissional aexperiência foi enriquecedora e inesquecível.
Aos
Voluntáriosque
prontamente nosreceberam
e que,mesmo
sem
nosconhecer
responderam
ao questionário enviado, saibam que, seus depoimentoscolaboraram para
que
este trabalho se concretizasse.O
meu
sincero reconhecimento, deixo-lhes estamensagem:
“Nascer
éuma
probabilidade,. , .
viver e
um
risco,envelhecer é
um
privilégio.O
W,
SUMÁRIO
INTRoDUCÃo
CAPÍTULO
I -ANÁLISE
DA
SIGNIFICACÃQ
DA
ACÃo
voLUNTÁRIA
1.1
A
função social da igreja no Brasil ... ._ O11.2
Os
leigos na igreja ... _. 141.3 Falando sobre o voluntário ... ._ 19
CAPÍTULO
II -A
AÇÃO
SOCIAL ARQUIDIOCESANA
E
O
TRABALHO
COM
VOLUNTARIOS
2.1
A
Ação
Social Arquidiocesana ... .. 252.2
O
trabalhocom
voluntários naAção
Social Arquidiocesana ... _. 31CAPÍTULO
III _Morlvos
E
SIGNIFICADOS
DA
AÇÃO
VOLUNTÁRIA
3.1 Compreensão teórica ... ._ 39
3.2 Análise compreensiva/interpretativa dos motivos e significados da
Ação
Voluntáriana Arquidiocese de Florianópolis. ... .. 47
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... .. 59REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... _. ós,aí
APRESENTAÇÃO
Este trabalho de
Conclusão
deCurso
foi elaborado a partirda
experiênciaepesquisa
que
efetuamoscomo
Estagiáriado Curso
de Serviço Social, junto àAção
Social
Arquidiocesana-ASA no
periodoque compreende
agosto de1994
adezembro
de 1995. ›
O
tema do
presente trabalho surgiu a partir das primeiras observaçõesque
realizamos junto aos
Grupos
\le Idososque
existem ligados a instituição.Nesse
período
procedemos
aum
levantamento afim
desabermos
quantos, quaiseram
osIdosos, os grupos e os voluntários
que
neles atuavam;chamou-nos
a atenção o grandenúmero
de pessoasque
desenvolviam atividadessem
no
entanto haver qualquer relaçãoou
vínculo empregatíciocom
a instituição; sendo que, por ocasiãodo
levantamentoeram
um
número
de trezentas e setenta e quatro pessoas (374). çA
medida que íamos
tendo contatocom
os Voluntários mais aguçadasficávamos
para entender a ação por elas desenvolvidas.Ainda na
primeira fase de estágio ecomo
exigência das disciplinas de Teoria e Metodologiado
Serviço SocialIV
e Pesquisa Social I elaboramos projeto de pesquisa“O
que
mobiliza a pessoa aengajar-se
no
trabalho voluntário”, o qual após a discussãocom
a Supervisora deCampo
passou a ser executado nas fases seguintes resultandono
trabalho que ora apresentamos.~
A
convivência
com
as Voluntárias, cada vez maisaumentava
o ponto deinterrogação inicial: qual o
motivo que
as levava dedicar parte de seu dia, de suasemana, de sua vida
na
atividadecom
grupos, pessoas Idosas?Como
se sentiarealizando suas atividades nos grupos?
Qual
a contribuição efetivaque
a instituiçãolhes propiciava face aos treinamentos oferecidos?
Fomos
discutindo, refletindono
sub-núcleo, procurando bibliografias
que
nos ajudassem a entender tal ação e que aomesmo
tempo
chegasse até as Voluntárias e as fizesse refletir sobre isso demodo
quesuas atividades obtivessem
uma
melhor
qualidade,um
maior
avanço.Desde
o início de nossa pesquisa nosdeparamos
com
uma
dificuldade denão
nosimpediu
de fazermosuma
tentativa de entendimento dessa a ação. Para tantonos
propusemos
a escrever este trabalhoque
será divididoem
três capítulos.No
primeiro capitulo apresentaremos algunsmomentos
e aspectos que nosforam
possíveis deserem
estudadosno
tocante aconfiguração
da ação voluntáriano
decorrer da história,
no
qual falaremos da influência edo
papelque
o Estado, aSociedade Civil e a Igreja e, principalmente esta
que sempre
teveum
lugarinquestionável
no
campo
da assistência social. Já a sociedade civil teve seu papel depeso
na
construção e afirmação deuma
sociabilidade baseadaem
valores taiscomo,
asolidariedade.
E como
mola
propulsora desta açãocom
discursos e práticasdiferenciados a ação voluntária.
Já,
no segundo
capítulo, trazemosalgumas
informaçõesque julgamos
importantes para o entendimento
do
espaço institucionalonde
vivenciamos nossaprática de estágio, quando,
como
ecom
quais objetivosforam
desenvolvidos pelaASA
treinamentos
com
Voluntários desde praticamente- o início de suas atividades,bem
como
quais orientações receberam estas pessoasque atuam
nos grupos paraentendermos
posteriormente qual o rebatimentoque
estas tiveram,no
desenvolvimentodas ações junto aos
Grupos
e conseqüentemente, a pessoa Idosaque
deles participa.E, para contarmos
como
foi a nossa prática de estágio, a pesquisa,com
reflexões acerca desta iluminados pelo referencial teórico, tendo
como
categoriasfundantes para a análise das falas dos voluntários: a intencionalidade, 0 significado, a
consciência crítica e a consciência histórica e motivos; tendo
sempre
presenteque
estávamos frente a frente
com
uma
pessoa e, dianteda compreensão chegada
qual acontribuição
que
o Serviço Socialpode
oferecer neste contexto.Finalmente serão apresentadas as considerações finais, referências bibliográficas e anexos
que
julgamos pertinentes para ilustração desse trabalho.O
CAPÍTULO
1aí
'Í 1.1
A
função
socialda
Igrejano
Brasil 1Tendo
como
cenário o Brasil da atualidade,vimos
configurar a presença deum
Estadocom
papel secundário,como
regulador das “regrasdo
jogo”.Com
o apoioda iniciativa privada, excludente
em
suas políticas sociais e vivendonuma
sociedade
marcada
poruma
profunda religiosidade, pobreza crescente, violência, recessão,“apartheid” social é
que
começamos
a retomarno tempo
paramelhor
entender
como
aação
voluntária foi se caracterizando até chegar aos nossos dias; ressaltamos que,diante desse contexto, se
toma
imprescindível passar pela igreja egmpos
religiosos, devido ao grande papelque
estes representaramna
construção dessa história.É
grande a quantidade de organizações voluntárias que surgiram nos maisdiversos
campos
de atuação: cultura, educação, assistência social, grupos sociais(negros, idosos, índios)
em
defesa dos direitoshumanos
e que,comumente,
são terreno para ações voluntárias.Mobilizam
recursos fmanceiros dasmais
diversas origens, eatuam
nosmais
diferentes âmbitos,podendo
atravessar fronteiras.De
natureza privada,trabalhando a serviço
do
público,não
estão ligados a órgãosdo
governo; elas são asOrganizações
Sem
Fins Lucrativosou
OrganizaçõesNão
Governamentais
-ONGs.
Para
Landim
(1993), são várias as definições para esse tipo de organização,e
refletem
asmais
diferentesou
a diversidade de visõesque
setem
sobre elas, eque
ésomente
a partir dos anos 80, que essa questão setoma
alvo de estudos e produçõesacadêmicas,
embora
essas organizações sejam protagonistas de democratização,participação e
muito
cpntribuar/nk para aliviar os problemashumanos
pelomundo
afora.Nos
contextos de TerceiroMundo
Latino Americano, essas organizaçõesaparecem
ligadas à democratização e à construçãoda
sociedade civil, tidacomo
espaçode manifestação de pluralismos, de possibilidades de realizações, representando
um
importante papel
na
resolução deproblemas
e insatisfações presentes nas sociedadesNo
Brasil, as OrganizaçõesSem
Fins Lucrativos'vêm
crescendo eganhando
visibilidade hoje, visto representarem, constantemente, a fronteira entre opúblico e o
P
rivado. Contudo, aforma que
essas organizaçõesassumiram
na sociedadee, conseqüentemente,
na
história brasileira, frente às transformações ocorridasno
cenário nacional,
não foram
alvo de discussõesna
sociedade.Nem
por parteda
historiografia,
como
falaLandim,
(ibid. pag. 8) _,/,'9¿¿_?:(e3L“O
exercício de procurar ao longo do tempo asorganizações
não
governamentaissem
ƒins lucrativos...se dá, nessa história, de
modo
fragmentado edescontínuo, à
sombra
de outras problemáticas onde o Estado e as relações público-privado têm sido objetivosprivilegiados ”.
Portanto, ao elencarrnos aqui, a trajetória das organizações voluntárias
no
Brasil, percebe-se
que
representou evem
representandoum
profundo exercício depesquisa e revisao bibliográfica.
Se nos detivermos
na
históriado
Brasil, iremos perceberque
durante quatroséculos, o centro da vida social, política e
econômica
de nossa sociedade foi a agricultura de exportação, demão-de-obra
escravacomo
por exemplo,pequenos
agricultores
sem
título de propriedade.No
período colonial, visualizávamos as grandes fazendascom
asenzala, a capela e o canavial, casas de
moradores
e, muito esporadicamente,homens
livres.
As
relaçõesque
se estabeleciam nesse contextoeram
as de dependência,onde
se trocava individualmente a proteção e favores por lealdade e serviços que,
comumente,
conhecemos
por clientelismo.Outro
aspecto bastante importante a ser ressaltado nessa época é o papelque a Igreja Católica
desempenhou
até 1889,com
aProclamação
da República,'
Organizações Sem F ins Lucrativos são encontradas no Brasil diversas nomenclaturas para designar estas instituições:
sociedades civis sem fim lucrativos, ou simplesmente organizações, ou entidades sem tins lucrativos, associações,
3
quando
vigorou,no
Brasil, omodelo
de cristandade,com
o catolicismo sendo areligião oficial
do
Estado.A
Igreja, aomandar
para o Brasil os missionários, a tim deque fundassem
escolas e convertessem os índios; criassem dioceses e paróquias; instalassem ordens
religiosas e conventos, toma-se
uma
“peçafundamental
de legitimação do poder do Estado colonízador” ( ibid, pag.l2); contribuindo para a consolidação da sociedadecolonial
com
um
perfil autoritário e patriarcal. Essasmarcas
permanecem
na
história, eas
mudanças
que foram
efetuadas até as primeiras décadasdo
séculoXX,
quer sejamna
área políticaou
institucional,foram
no
sentidodeadaptar
os interesses da grandelavoura.
Nesse
momento,
o terrenonão
era propício paraque
surgissem associaçõesvoluntárias” autônomas,
com
o objetivo de prestarem serviços públicos.Nesse
contexto, pensarem
iniciativas de caráter filantrópico, supõe pensarna
igreja eno
seu papelcomo
órgão públicona
organizaçãoda
sociedade civil. “()srituais religiosos tais
como,
batismo,funeral
eo matrimônio
eram
condiçõesessenciais
para
oreconhecimento do
indivíduo,sendo
que, as instituições religiosas- capelas, confrarias, irmandades,
paróquias
e dioceses,representavam
espaçopor
onde
sepassava
a vida sociaL ” (ibid, pag. 13)\5 Portanto, pensar
em
assistência,no
período colonial,convém
necessariamente pensá-la ligada à igreja
com
omandato do
estadona
suapromoção.
Cabe
relembrar o caráter leigodo
catolicismo colonial.“É
o catolicismo dos Santos padroeiros, das devoções das festas, das romarias, dos santuários e das capelas eregidaspor
toda a parte da população”. ( ibid, pag. 14)
que
se desenvolveu graças à grandequantidade de leigos
não
articulados entre si, que se encarregaram dos trabalhosreligiosos.
É
nessecampo
que
vamos
encontrar as Confiariasg e as Irrnandades3'2
Confrarias- resquícios de corporações de artes e oticios.
-f
3
Innand__a_des: estas apareciam vinculadas às tradicionais ordens religiosas medievais: franciscanos, carmelitase
associações voluntárias4 “através das quais se tinha acesso aos serviços sociais, ao lazer,
à convivência sociaF° (Oliveira op. cit. Landim, 1993, pag. 14)
As
‹¿onfr.arias_normalmente
formadasem
tomo
das capelas representavamum
típicoexemplo
de participação coletiva dos leigosno
período colonial. Seus estatutosdeveriam
ter a aprovaçãodo
Rei e da Igreja,embora
não dependessem
destes para desenvolver suas atividades e para sua administração.Já _ as
Irmanda
_d_es, _na
sua maioria, representavam determinadas classessociais,
como
por exemplo, aIrmandade
dosHomens
Negros ou
a da SantaCruz
dosMilitares,
que
refletiam a influênciada
miscigenação racial constanteno
Brasil.Os
devotos dessas Irrnandades ( Associações Voluntárias) contribuíam materialmente para
seu
funcionamento
e,em
troca, recebiam auxílio médico, financeiroou
funeral.Segundo
Bnmeau
apud Landim,
essas irmandadesmantinham
freqüentemente casas decaridade
ou
asilos para indigentes.Podemos
encontrar,também, na
sociedade colonial, achamada
filantro}1i\a-senhoria-l-,
onde
os Senhores das grandes fazendaseram
os responsáveis por donativose heranças que, aliados às esmolas,
eram
os recursoscom
os quais essas entidadespodiam
contar.Além
disso, os eremitas- indivíduosque
sededicavam
à vida ascética, àpromoção
de culto e devoções-foram
outros personagens marcantes da história dos leigosno
catolicismo colonial. Azzi, citado por Landim, traz oexemplo
deJoaquim do
Livramento
como
uma
das iniciativas individuais de realizar a filantropia, por ter sidoo criador de escolas, asilos de
meninos
e seminários.Tendo
como
alicerce as ordens religiosasna
estruturação da assistênciasocial, saúde e educação, é
que
chegam no
Brasil,no
SéculoXVI
os Jesuítascom
amissão-cololnizadora de instalar as “escolas de ler e escrever”. Destaca-se,
também,
que
nesse periodo, Franciscanos, Cannelitas e Beneditinos, ao lado das Santas Casasde Misericórdia e hospitais, fundados nas antigas escolas dos Jesuítas, representavam
aqueles que,
com
grande eficácia, convertiam índios, criavam seminários eeram
os4 Associações
Voluntárias- entidades privadas de serviços sociais, saude, educação, voltadas para seus membros e
extensiva a um número e variedade de formas organizativas e iniciativas sociais, que vão desde clubes recreativos e
5
responsáveis pela assistência pública à saúde.
As
ordens e congregações religiosasdispunham
deautonomia
econômica,com
recursos advindos, não apenas de doações,mas
de heranças e dotações de particulares.Em
suma, oque
podemos
chamar
de Associações de Voluntários, surgidasno
período, aconteceramno
espaço da igreja católicaou
sob seus cuidados,permeadas
pelos valores
da
caridade cristã, dentro do catolicismo que fora implantado, cujopano
de fundo
eram
as relações dessacom
o estado.Como
nos diz Landim, é a misturado
público e
do
privado,do
confessional e o civil. “A assistência à população nestasdiversas áreas esteve
marcada
pela lógica da autoridade tradicional, onde coube aos“Senhores a iniciativa da proteção aos “pobres ”5 , segundo o sistema hierárquico do
dom
eda lealdade”. Araújo citado por
Landim:
15, esclarece essaforma
de assistência:“Muitos fazendeiros reservavam
na
CasaGrande
um
aposento destinado aos familiares enfermos e,em
suas terras,uma
casa ou dependências especiais para empregados eescravos,
quando
acidentados ou doentes”.,,
/
No
períodoque compreende
a Independencia, aMonarquia
e a PrimeiraRepública, percebe-se a consolidação
do
controle do Estado sobre os interessesagrários, o
que
ficou conhecidocomo
o Coronelismo, sistema intrincado,que
funcionou baseadoem
hierarquias, lealdades, laços de parentescos ena
troca de votospor favores políticos. Esse foi o palco das transformações da sociedade civil, que se
constitui acoplado ao crescimento da população e dos centros urbanos.
Outra
marca
desse periodo, mais precisamente SéculoXIX,
é a separaçãoda
Igreja e o Estado. Porum
lado, este últimoafimia
uma
perspectiva leiga eracionalista, tentando assegurar-se de recursos técnicos e
humanos,
que possibilitassemo
domínio do que
anteriormente havia sido entregue à igreja. Esta, por sua vez,assume
um
ponto de ruptura,quando
se confrontam asnormas
religiosascom
asnormas
legaisdo
Estado.É
oque
ficamosconhecendo
como
sendo a Questão Religiosa.O
ápicedesse conflito foi a proibição, por parte
da
hierarquiada
Igreja,da
participação dosmembros
das irmandades e confrariasem
organizações maçônicas, este resistem e5 Esta
assistência não se caracteiizava como Associação Voluntária pois, era destinada somente àqueles da fazenda e era
me
6
ganham
causaquando
recorrem à justiça Imperial.A
separação definitiva entre Igreja eEstado ocorre após a
Proclamação da
República,quando
a constituição Liberal de1891 “estabelece a liberdade de culto, proíbe subvenções
governamentais aos templos e a educação religiosa, reconhece validade apenas para casamentos civis, seculariza a educação”( ibid, pag. 17)
Nesse
momento,
a Igreja, independente esem
apoio, entraem
sintoniacom
Roma
eobedece
aomovimento
religioso preconizado por Pio IX.O
queacontece é a
recristianização
com
a reformado
clero, envio de padres e freiras advindosprincipalmente de congregações Européias.
Conventos
são reabeitos, sãofundadas
novas
paróquias, associações de leigos são criadascom
finalidadedevocional,
caritativa e assistencial.
O
processo de reestruturação da igreja,no
Brasil, passou fundamentalmentepela
conclamação
dos fiéis, tendocomo
orientação a caridade,como
cerne da éticacatólica, o centro, a alma, a “rainha” de todas as virtudes.
Nesse
projeto de estabelecimento de vínculos entre a igreja e as massas, afundação de escolas, hospitais, obras pias e caridade
ocupavam
a preocupação centralda igreja.
Eram
fundadas graças àesmola que
os fiéis prestavam porserviços
religiosos, tais
como,
sacramentos, missas... eeram
de todas as classes.As
contribuições para as obras religiosas e sociais,
segundo
Oliveira, citado por Landim,vinham
principahnente das classes abastadas.Nesse
contexto, os colégios católicos representaram importante papel; teve-se
na
criaçãodo
Centro D. Vidalõ , grande mérito quanto à articulação de intelectuaisbrasileiros de
onde
sairam vários líderesque fundaram
outras instituições.O
Centro D.Vidal exerceu influências fundamentais naquelemomento,
quer seja atravésdo
engajamento, quer seja
na
conquista dos intelectuais brasileiros.O
Então Cardeal D.Leme,
ao falar sobre o Centro, assim se expressava(Moura
op.cit.Aguiar, 1991 :25):6
O
Centro D.Vital foi fundado em 1922, destinado a penetrar no meio intelectual através de bibliotecas e publicações de
livros selecionados. Este centro foi fundado pelos intectuais Jackson de Figueiredo, Perilo Gomes e Hamilton Nogueira.
-7
“é a
maior
afirmação da inteligência cristãno
Brasil”Com
o controle sobre as bases leigas, a igreja, por volta de 30,chegou
a serconsiderada a
mais
forte instituição da sociedade brasileira.O
ano
de34
vaimarcar
o início deum
novo
período entre Igreja e Estado,uma
forte aliança.Na
ampla
colaboração entre ambos, multiplicam-se as entidadessem fins
lucrativosque atuavam
nas áreas da educação, saúde assistência.A
filantropiaexercida pelos empresários
ou
setores dominantes daépoca
passa, nesse período, pelaAção
Social da Igreja.Encontramos,
também,
a presença de igrejas protestantes que,com
aassinatura
do
Tratado deComércio
eNavegação
fimtado
entre o Brasil e a Inglaterra,vão
culminarna
vinda ao país dos primeiros clérigos anglicanos.Além
disso, grupos religiososcom
menos
visibilidade, taiscomo,
Espíritas e Afro-brasileiros, Igrejasevangélicas de imigração (Luteranos)
ou
de missões (congregacionais, Presbiterianos,Metodistas e Batistas),
embora
perseguidos pelas autoridades,conseguem
estabelecerlaços significativos entre as
camadas
populares urbanas, dedicando-se às obras sociais.Esse periodo
ficou
marcado
pelo desenvolvimento daAção
Católicaconclamada
pela igreja,que comprometia
e convidava o leigo para participardo
apostolado hierárquico, e
que
ficou
conhecidacom
aAção
Católica Brasileira-ACB,tendo
como
principal objetivo aformação
do
laicato para colaborarna
missão da igreja “salvar as almas pela cristianização dos indivíduos da Família e da Sociedade”(Aguiar, 1991 :23).
A
partirdo Papa
Pio XI, aAção
Católica se inova e lhe é atribuídoum
ordenamento
jurídico. PioXI
considerava amesma
como
sendo amáxima
necessidadede participação dos Leigos
no
apostolado social.Cabe
ressaltarque mais
tarde, ligados àAção
Católica, são inclusas aschamadas
.IEC(Juventude Estudantil Católica), .IUC(Juventude Universitária Católica),8
atuavam na formação
de consciências distintamente cristãs. Percebe-se que é notória aparticipação
do
leigocomo
voluntárioamando
na
difusão da doutrina social da igreja ena
recristianizaçãodo
povo
brasileiro. '1
A
Ação
Socialtambém
merecia destaqueno
papel que desempenhava; suasatividades
tinham
como
objetivopromover
o Progresso Social, a melhoria dascondições de vida
na
sociedade e a aplicação à vida coletiva dos princípios da justiçaeda caridade. Essa tarefa era exercida pela conjugação de esforços da Igreja,
do
particular e
do
Estado.A
Ação
Social é entendidacomo
expressãodo
corpo místicoda
igreja: Pai, Filho e Espírito Santo.
É, pois, da
Ação
Social e daAção
Católica que saem, mais tarde, jovenspara o Serviço Social
no
Brasil.Confonne
Arlete (1982, pag. 46), a justificativa daação social
que
a Igreja desenvolve nesse período,na
área social, está intimamenteligada à crença de
que
a sociedade deveria propiciar aohomem
condições de vidaque
lhes pennitissem realizar seus destinos últimos que
eram
de vivenciarna
vida terrena avida etema.
Sua
atuação sedeu
diretamente, através dosmovimentos
e instituiçõescom
caráter progressivo, preventivo e curativo.7\
u\
z
Nas
últimas decadasdo
SeculoXIX,
com
acomplexificaçao
da questaosocial nas cidades, configura-se o surgimento de novas entidades de auxílio
mútuo
quese
juntam
às já existentescomo,
por exemplo, asIrmandades
eOrdens
Terceiras.Nessas
entidades, a assistência prestada era a farmacêutica, a médica, nasenfermidades,
no
desemprego,na
invalidez ena
morte.Temos,
como
exemplo, aSociedade Portuguesa de Beneficência, fundada
em
1840, que erauma
das entidadesque
prestavam auxílio aos imigrantes, sobretudo europeus, quepovoavam
as cidades.O
que
sedeu
foi a proliferação das Associações Volu_r_itá_§ias nas cidades maioresdo
Brasil, que
mudam
de perfil paulatinarnente,começando
a se politizarem e a seconstituírem
em
grupos de interesses,perdendo
o caráter religioso, convertendo-seem
movimentos
e sindicatos.7
Maiores esclarecimentos ler: Lima, Arlete Alves de, Contexto histórico ein que se introduziu o Serviço Social no Brasil.
Iri. Serviço Social rio Brasil-
A
ideologia de urna década. 2.Ed, São Paulo: Cortez, 1982 e LIMA, Alceu Amoroso.9
Na
gestão de Getúlio Vargas se inaugurano
Brasil a era nacional-desenvolvimentista e centralizadora
com
a presençado
Estado na sociedade, que seexpressa e se consolida nas legislações previdenciária e trabalhista; a política social
tem
como
característica o corporativismo, a fragmentação, a seletividade e aineficiência. Vive-se sob a ótica
do
Estado de bem-estar Socialcom
fonnação
dachamada
Cidadania regulada.“Em
outras palavras, são cidadãos todos aquelesmembros
da
comunidade que
se encontram, localizadosem
qualqueruma
das ocupaçõesreconhecidas e definidas
em
lei”. (Santos op. cit. Landim:24), ampliandocom
isso, amarginalização de algims segmentos,
como,
por exemplo, os trabalhadores rurais,c0uja
ocupação
a lei desconhecia naquelemomento.
Cabe
ressaltarque
Getúlio soubemuito
bem
cooptar osmovimentos
existentes, intervindono
quadro associativista.Com
o projeto Getuliano de natureza corporativista e autoritária, aoEstado coube, então, a responsabilidade pelo financiamento e prestação dos Serviços
Sociais.
Em
1935, épromulgada
lei que estabelece a Declaração de Utilidade Públicacomo
instrumentoque
regulava a colaboração entre as entidadessem
fins
Olucrativos eo Estado.
Nasce
então, oConselho
Nacional de Serviço Social-CNSS, subordinado aoMinistério
do
Trabalho,que
se encarregou de executar esse tipo de colaboraçãocom
aregulamentação através
do
decreto no. 5.698 de 1943, que preconizava a assistência agnipos desprotegidos, à velhice e à invalidez, à
matemidade,
educação, de anormais,de adultos...
E,
também,
desse periodo (1942), a criação da Legião Brasileira deAssistência-LBA órgão
govemamental
responsável pelo atendimento aos setoresmais
fragilizadosda
população: crianças, gestantes, nutrizes portadores de deficiências e idosos, tendocomo
presidente a entãoPrimeira-Dama
a Sra.Darcy
Vargas.A
peculiaridade
*
que
marca
aTBA\desde
os primórdios é a presença da força de trabalho`_""'“" ^ - Hr... ___ __ . __.. --f f E
Voluntário que, por
um
ato deboa
vontade e de responsabilidadecom
o
próx_im_o,_secongregam.
A
fonte inspiradorado
primeiromovimento
de trabalho voluntário ligado àárea
govemamental no
Brasil,foram
as vicissitudes provenientes da participaçãona
segunda Guerra
Mundial.Os
brasileirosque iam
para a Guerradeixavam
um
grandenúmero
de familias desprotegidas e vulneráveis às contingênciasda
época.Darcy
Vargas faz
um
chamado
às PrimeirasDamas
paraque cumprissem
a missão deproteger a família dos soldados.
A
necessidade de fazer algo pelos pracinhascomeça
a ser sentida pelasociedade. Caberia às Primeiras-damas se engajarem
no movimento,
conjuntamentecom
as Associações Comerciais e demais brasileiros.A
assistência prendia-seno
sentido de auxiliar,
amparar
os desvalidos, os necessitados, os atingidos maisdiretamente pelas conseqüências
da
guerra. «Durante o período
que
compreende
a década de30
até oGolpe
de Estado de64
(erado
autoritarismo, sob oGovemo
dos militares), assiste-se à criação deassociações civis, organizações sindicais, entre elas a
UNE
(União Nacional dosEstudantes)
em
1937, oSAR
( Serviço de Assistência Rural),bem como
movimentos
leigos ligados à
Ação
Católicaque vão
formar correntes de esquerda e progressistas;representando
um
período de efervescência das organizaçõessem
fins
lucrativos, deobjetivos diversos e de iniciativas ligadas ao
govemo,
com
forte presençado
estado.Para
Landim
( ibid. pag. 26):“De meados
da década de 50em
diante, a sociedade civilbrasileira
começa
a povoar-sepor
um
associativismorelativamente
autônomo
e fortemente politizado,onde
ossindicatos atrelados ao Estado tiveram papel de peso”.
Com
a implantaçãodo
regime de ditaduraem
64, inicia-seum
novo
periodo,
onde
encontraremos a lenta e progressiva associação da sociedade civil.A
modemização
aceleradada
sociedade,mudanças
nas políticas sociaisgovemamentais,
modelo
centralizador de rendas, a urbanização, a alfabetização e o crescimentoda
população universitária,
caminhando
parauma
diversificação produtiva e social, sãoalguns dos aspectos
que
marcaram
esse periodo.Com
anova
Constituição de 67, inspirada nosmoldes
da doutrina deSegurança Nacional, as organizações e
movimentos
populares são repnmidos, sindicatos e universidades sofrem intervenção federal, dissolução dos partidos políticosll
com
suas lideranças reprimidas, censura à imprensa, prisão, tortura e morte de grupos epartidos de inspiração marxista.
Ao mesmo
tempo, o Estadoavançou
sobre a sociedadecivil e abriu áreas institucionais a interesses privados.
Entre
1964
e 1985,foram tomadas medidas
para organização de sistemasnacionais públicos
ou
estatalmente reguladosna
prestação de bens e serviços sociaisbásicos, tais
como:
saúde, previdência, educação, habitação e assistência social.Na
área da previdência, por exemplo, a intervenção é vinculada exclusivamente ao estado,
sem
a participação dos sindicatos.O
Outra característica dgsse período, são os processos de privatização
orientados pela lógica
do mercado na
aplicação de recursos públicos, favorecendo ocrescimento
do
setor empresarialem
detrimentodo
setorsem
fins
lucrativos.O
queassistimos foi, de
um
lado, àmodernização
da sociedade e, de outro, o fechamento doscanais de participação.
O
que apresenta grande crescimento nessemomento,
são asassociações civis: Irmandades Religiosas, de Funcionários Públicos, de Trabalhadores,
de Profissionais (professores, advogados, médicos, odontólogos, jomalistas,
etc. ) e de
empregadores.
Cabe
ressaltar o importante papelque
a Igrejadesempenhou
nesse contexto.Sob
a influênciado
Concílio Vaticano II e dasNovas
Orientações daCNBB
-Conferência Nacional dos Bispos
do
Brasil,em
1962, dava visíveis mostras de renovação pastoral; é a presençado
laicato, o engajamento social e político.À
reveliado
Estado, espalharn-senovos
atores religiosos e leigos pelo país, estimulados, ecedendo
espaços da igreja para a gestação demovimentos
de operários, trabalhadores,donas
de casa e de jovens, etc.A
CNBB
assurne importante papelna
defesa dasliberdades civis e dos direitos
humanos,
promovendo
a tradução da doutrina socialcristã através de inúmeros documentos; ressalta-se a criação de novas organizações
ligadas a esta:
Comissão
Pastoral da Terra e oConselho
Indigenista Missionário.No
Brasil, nas duas últimas décadas, assistimos ao forte crescimento deassociações civis.
Em
meados
de 80, o termoONG-
OrganizaçãoNão
Govemamental
começa
a ser utilizado;no
entanto,em
70, estas jápodiam
ser identificadasno
militância e profissionalismo, sendo sua principal característica o direcionamento político e, seu fundamento, o exercício
da
autonomia, cidadania e da transformaçãosocial.
Landim,
ao citar dados deuma
pesquisa efetuada pela Receita Federal sobreas entidades de assistência social
em
1993, revelouque
eram
55. 369,ou
seja,representavam
29,13%
das entidadessem
fins
lucrativosno
Brasil que são religiosas,beneficentes e se
dedicam
à "prestação de serviços de natureza diversa a gruposfragilizados
da
populaçãocomo
crianças, pequenas e abandonados, nutrízes, idosos,deƒicientesfisicos
ou
mentais, alcoólatras, desempregados, osque
se encontramna
linhade pobreza absoluta, etc ".
( ibid, pag. 35). São,
no
geral,menos
profissionalizadas, e 0trabalho voluntário parece ter
mais peso
e valor simbólico.Oliveira citado por
Landim
(1993, pag. 36) propõeuma
divisão deentidades de assistência social existentes
no
país: o primeiro grupo seriam aquelasinstituições tradicionais de caridade,
com
abrigos para crianças, idosos... inspiradosnos sentimentos de compaixão, misericórdia, caridade e filantropia, de caráter
assistencialista, patemalista e gerador de dependência de suas ações.
No
segundo
grupo, estariam aquelas entidades de
promoção
do
desenvolvimento e, por último, asentidades
com
fins
eleitoreiros, pelos quaisboa
parte dos recursos públicosque
sãodestinados à área social são apropriados por politicos, de caráter privado.
Contudo, apesar das diversas divisões e das diferentes áreas, é a área
religiosa que, através das
Obras
Sociais Católicas (igreja) edo
Estado,continuam
atéhoje
na
prestação de serviços assistenciais à população.A
Igreja, por sua vez, baseadaem. sua doutrina, convida o leigo ao
compromisso,
tendocomo
ingrediente principal o amor. “Sentimentoque não
sepode
cobrarem
contratos de trabalho,mas
que esta presentede
modo
insubstituívelna
ação voluntária... ” (Lessaapud Landim:40)
Com
a redemocratização, anova
conjuntura política eeconômica
propiciaabertura ao diálogo e trabalhos
comuns
entre as entidades civis e empresariais.O
que
acontece é o crescimento das entidades
sem
fins lucrativos, associações de moradores,13 Esse
mundo
mais recente, épermeado
pelo ideário de construção da sociedade ci\n`l e da cidadanianão
regulada,mas
ativa e participante.Hoje, pensar associações voluntárias, Organizações
Não
Govemamentais,
em
ação voluntária implica,também,
como
nos referimos anteriormente, identificar aação cada vez
menor
do
Estado,como
fala Brant (1993, pag. 70):“Nesse contexto de deficit do Estado, ressurgem a
família e a comunidade”.
É, pois, a sociedade civil
que
setoma
protagonista das atenções .e serviçosdestinados às
camadas
populares, cenário da ação de pessoas que, envoltasem
espíritode solidariedade, doação, servir...,
tomam-se
agentesdo
acesso aos bens e direitosnegados
àqueles.A
nossa preocupação foi a de estudar aAção
Volimtáriano
Brasil e,no
nosso entender, ela
não pode
ser efetuada senão atravésdo
estudo da Igreja Católica eoutros religiões,
do
estado e da sociedade civil via associações, lideranças, iniciativasindividuais, de
uma
cultura de caridade e da pessoalização, deuma
tradição social- democrata,onde
ajudar o outro é obrigação cívica e evocaçãodo
altruísmo e daboa
vontade.Dedicamos
mais atenção à Igreja Católica pelo fato de ter sido e aindarepresentar papel de grande peso
na formação
da consciênciada
participação eengajamento
ao qual o cristão é convidado.Cabe
ressaltarque
o veio de voluntárioscom
os quais nosdeparamos mais
comumente
vivem
e seengajam
nesse trabalho devido as influências e orientaçõesdessa
mesma
Igreja.O
próximo
ítem será dedicado à análise dealgumas
dessas orientações, asquais apresentam efetivo rebatimento sobre a ação desenvolvida pelo Voluntário
com
1.2
Os
leigosna
IgrejaO
Trabalho Voluntário nasceu e desenvolveu-se sob os cuidados da religiãoe, durante
mais
de três séculos, esteve sob omonopólio
quase que exclusivo da IgrejaCatólica e,
com uma
certa diversificação,com
as Igrejas Protestantes e gruposEspíritas.
Até
os nossos dias, a Igreja continua sendo forte construtora deObras
Sociais (asilos, orfanatos, albergues, etc.).
Como
fonte de sustentação a estasencontramos
as Igrejas, doações e o Estado. Logo, é a continuaçãoda
já conhecidaparceria entre Igreja/Estado
na
prestação dos serviços de assistência à população.A
Igreja,como
instituiçãosem
fms
lucrativos, através da história, trazna
doutrina social
um
ideal decompromisso
de cada cristão que deve ser assumidoenquanto Ser
no mundo.
A
Doutrina Social Cristã édefinida
como
sendo:“corpo social de princípios fundamentais de
uma
sistemasocial à luz
do
cristianismo” (Schweitzer, 1967, pag. 5).É
oque
existe de sistematização aos princípios da moral social aplicada àvida social.
O
ensinoda
Doutrina Social Cristã é exercido pelo Papa, Bispos, Padres etodo o clero.
Chegam
até nós através doschamados
“Documentos
Pontificios”,documentos
dasCongregações
Romanas
e nosDocumentos
de Bispos e Sínodos.Os
Documentos
Pontíficiosmais
conhecidos por nós, são as Encíclicas Papais, portratarem
mais
precisamente das questões sociais.A
pedra angular de toda a Doutrina Social da Igreja foi a Encíclica“Rerum
Novarurn”,
promulgada
peloPapa Leão
XIII a 15 demaio
de 1891. Essa Encíclicaunificou
e oficializou opensamento
Social Católico; tratava da condição dos15
Desde
então, a Doutrina Social Cristã entrouem
plena expansão,acompanhando
de peito os passosda
história até os nossos dias, alcançando grande~
repercussao.
Para efeito desse estudo, analisaremos alguns
documentos
oficiais da Igreja, afim
de fundamentar suas orientações aos Leigos.São
eles:Ubi Arcano
Dei (1922),Concílio Vaticano II, Puebla
(México
1979), Diretrizes Gerais daAção
Pastoral daIgreja
no
Brasil(CNBB),
DiviniRedemptoris
de1937
e Christifideles Laicis (JoãoPaulo Il, 1992) pelas orientações
que
nelesconstam
no
tocante àMissão
do Leigo.Ao
promulgar
a EncíclicaUbi Arcano
Dei, a 23 dedezembro
de 1922, PioXI
lança a idéia daAção
Católica,chamando
os fiéis paraque assumissem
seu papelativo dentro
da
Igreja edefinindo-a
como
sendo:“ a participação dos
leigos organizados...
no
estabelecimento do reino Universal de Jesus
Cristo
”(Havana
op. Cit. Lima, 1982, pag. 34).A
organização da Liga Eleitoral Católica (LEC),em
1933, idealizada peloentão Cardeal
Dom
Leme,
tinhacomo
objetivo a orientação aos católicos paraque
dessem
seus votos aos candidatosque defendessem
os interesses e reivindicaçõescatólicas, tais
como:
a indissolubilidadedo casamento
e o ensino religioso facultativonas escolas
na Assembléia
Constituinte. .Desempenhou
importante papel aAção
Católica,movimento
de colaboração dos leigosno
apostoladoda
Igreja,com
a missão de evangelização,orientação dos católicos e reconstrução
da
sociedade,sem
contudo participarem dapolítica partidária enquanto
movimento
enão
podendo,também,
comprometer-secom
nenhum
destes.Essa preocupação podia ser encontrada
em
1942,numa
circular dosarcebispos e bispos,
onde preconizavam
a instalação daAção
Católicaem
todas asparóquias,
como
sendo “questão de zelo e obediência obrigatória enão
facultativa”. (Aguiar, 1991, pag.24).
Era a Igreja
que
sepreocupava
com
a recristianjzação, e incumbia o LeigoLaicato,
surgem
grupos, associaçõesque
organizam cursos,semanas
de estudoscom
o intuito de formar aqueles
que
integravam seus quadros.O
próprioCEAS
- Centro de Estudos eAção
Social nascecom
a finalidadebásica de “estudo e difusão da doutrina social da igreja e a ação social dentro da
mesma
diretriz”
(Y
asbeckapud
Aguiar, 1991, pag.29). VNa
pastoralda
Igreja (1932), aAção
Social,ou
seja, o Cristão, a partir dasorientações
do
Evangelho, deveria trabalharna
promoção
e libertaçãoda
pessoahumana.
É
uma
função sacramental,onde
o cristão a partir dos sacramentos,como,
por exemplo, o batismo, assumirá sua
vocação
plenaque
é a de servir.O
cristão é convidado a exercer a caridade seguindo as seguintesorientações:
- caridade oportuna, é perceber a necessidade
na
horaem
que ela seapresenta.
- caridade
eficaz
- é aquela quenão
se contentacom
boas intenções, vaiaté o fun
na
resolução dosproblemas
dos necessitados;- caridade
sem
reservas - é levar a caridade às últimas consequências eCristo é apresentado
como
exemplo;- caridade desinteressada - é fazer o
bem
servirsem
esperarnada
em
troca.(Paulo VI, 1972, pag.5).
A
CNBB,
ao apresentar as Diretrizes Pastorais para o biênio 75/76,propunha
uma
ação pastoral inspiradana
missão de Cristo e de sua Igreja: “é aíque
se encontra
uma
fontepermanente
de diretrizes e princípios”(Documentos
daCNBB,l975,
pag.7).Nesse Documento,
o Leigo/Cristão,mais
uma
vez, échamado
a assumir seupapel “próprio e insubstituível para o crescimento do corpo de cristo; à tornarem a Igreja
presente e atuante nos lugares e circunstâncias
onde
apenas através delapode
chegar osal da terra ”. (rbidern:39).
É
avocação
batismaldo
cristão que deveria ser assumida7
O
Cristão/Leigo échamado
à responsabilidadena
edificação da Igrejla,colocando-se a serviço dela, de acordo
com
osdons
que recebeu ecom
as funçõesque
lheeram
confiadas.Já, nas Diretrizes Gerais da
CNBB,
previstas para o período 79/82, osLeigos
eram
identificadoscomo membros
da
Igreja fiéis a Cristo ecomprometidos na
construção
do
reino de Deus.O
Documento
reconhece a necessidade de incentivo, daformação
doutrinal, social e apostólica.A
participaçãodo
Laicato deve serno
âmbito da execução e das decisõesquanto ao planejamento
da
pastoral e sua articulação a nivel nacional viaCNL
-Conselho
Nacional de Leigos,que tem
como
lema: “Leigos organizados=
LeigosEvangelizados”.
Em
Puebla,no
México, a Conferência Episcopal,retomando
0 ConcílioVaticano II e Medellín, afinna
em
todas as atividades a presençado
Leigo,na
buscada
promoção
do
bem comum,
na
defesa da dignidade dos mais fracos e necessitados,na
construção da paz, da liberdade, da justiça ena
criação deuma
sociedademais
justa e fratema.
Mais
recentemente, oPapa
João Paulo II,na
Clnistifideles Laici de 1992,apresentava a seguinte caracterização
do
Leigo:- Pertencem à Igreja e a seu ministério (n°.8).
-
São
os co-responsáveis pela missão da Igreja (n°. 15).-
Os
Leigos são a Igreja (n°.9).-
Fazem
partedo
povo
deDeus
(n°. 14).No
referidoDocumento,
0Papa
retoma Pio XII que dizia:“Os
fiéis, e mais propriamente os leigos, encontram-sena
linha mais avançada da vida da Igreja; para eles, aIgreja é o princípio vital da sociedade
humana. Por
isso,eIes,... são a Igreja...”(pg.26).
Além
disso, convida o Leigo,na
lógica da doação, a utilizar seus dons,das
mundo.
Os
fiéis Leigos são convidados a participar de conselhos pastoraisdiocesanos, das paróquias,
enfim,
maisuma
vez, o Leigo/cristão é convidado a seengajar
em
grupos, organizaçõesou
movimentos,
afim
de realizar sua missão desolidariedade, de doação:
“Os
fiéispodem
livrementefundar
e dirigir associaçõespara fins de caridade ou piedade, ou para
fomentar
a vocação cristãno mundo,
e reunir-se para alcançarem
comum
essesmesmos
fins “(sobre o Apostolado dosleigos, apud Christifideles Laicis, 1992, pag.72).
É
nesse contextoque
apareceram, sobretudo nas sociedades organizadas, asdiversas formas de voluntariado,
que
se traduzem nasmais
diversas e variadas formasde serviços e obras.
Para João Paulo II “o voluntariado deve ser visto
como
sendouma
importanteexpressão de apostolado,
onde
os fiéis leigos,homens
e mulheres,desempenham
um
papel de primeiro plano” (ibid. pag. 107).
Neste documento, o Cristão/Leigo é convidado a realizar ações
que
combatam
a violência, a opressão, a segregação e que lutemem
favor da verdade, da liberdade, da justiça e da caridade, desenvolvendo a cultura da solidariedadeem
todos os níveis. Tal Solidariedade “é
caminho
para a paz e simultaneamente para oprogresso ”. (ibidem: IO).
É
com
o Voluntário, nascido e gerado sob essas orientaçõesque
vamos
nosdeparar
no
campo
de estágio.Ao
fazemos
alusão aalgumas
dessasorientações,objetivamos atingir
uma
efetiva compreensão, afim
de analisar orebatimento
que
tais orientações tiveramna
Ação
Voluntária, mais precisamentena
pessoa
do
voluntário, ecomo
este irá pautar suas ações junto às diversas atividades eentidades
onde
atua.É
sobre esse Voluntárioque
falaremosno próximo
ítem deste19
1.3 -
Falando
sobre o voluntárioComo
pudemos
perceberno
primeiro ítem deste trabalho, as OrganizaçõesSem
Fins Lucrativosnascem
e transitamnum
terreno para-estatal após os anos 30, e seapresentam
como
ponto de partida para a inclusão dos setores marginalizadosno
acesso aos serviços sociais básicos
assumindo
as controvérsias da intervenção social.No
Brasil, essas entidades “nãoaparecem
como
uma
única categoria,mas
antes
em
uma
área misturada e confusa,ocupada
por
tipos diferentes de agentes,com
diversos propósitos”. ( Di
Maggio
eAnheier
op. citLandim,
1933, pag. 41).Essas entidades, organizações e associações
sem
fins
lucrativos de todo otipo, comunitárias, de pais e mestres, de associações de moradores,
em
defesa damulher,
do
negro, etc, apresentam,no
nosso entender,um
ideal de construção deum
tipo de sociedade civil,com uma
cidadania ativa,que
visa a realizaçãoda
pessoa e deseus direitos, através de
uma
éticaque
supere os preconceitos, a discriminação, adominação
eque
cresça e se multipliqueum
modelo
de sociedademais
justa eigualitária.
Além
disso, após termos estudado as Organizações Voluntárias ecomo
seconfiguraram no
decorrerda
história,fica
bem
claroque
sedesenvolvem quando
oEstado, o
Govemo
não
são mais expressãodo
acesso aos bens 'e serviços dapopulação,
ficando esse setor entregue aos cuidados dessas organizações que
têm
sido,como
falao Assistente Social Egbert:
“... a ponta da lança da
mudança
social e decaminhos
abertos ” (Debates Sociais/CBCISS, 1982136).A
Ação
Voluntárianão
é'um fenômeno
tãosomente
da atualidade.A
sociedade já vive sob os resultados dessa ação desde muito, ação quetem
sidoconseqüência de
uma
idéia surgidacom
alguém,em
algum
lugar e pela Igreja que,com
20
serviço dos outros, teve seu esforço individual resultando
em
beneficios para muitos,ou
seja, parauma
realização coletiva.Esse Voluntariado Cristão continua a fazer a história e a viver a caridade
nas ações espontâneas, livres , gratuitas, desinteressadas, sendo
uma
testemunha da'mensagem
do
evangelho,do
amor,da
doação, e à esperada recompensa
etema.Esse
Voluntário vai pautar suas ações
na constmção
da cidadania, denovos
sujeitos e, nestecaso, proporcionar atividades e reflexões
que
paitam de suas necessidades e conhecimentos, valorizando-o etomando-o
um
participante ativo.Em
outros países,como
é o caso de Barcelona, o Voluntariado Social já seconstitui
como
uma
associação.É
o caso de Sabadell, queem
1992,comemorou
150 anos de Associações,com
um
total de 137 entidade agrupadasem
22
classes de atividades, dentre as quais o Voluntariado Social.Contudo, sendo o voluntário elemento responsável e,
no
nosso entender,diante
da
conjuntura atual, indispensáveisna
construção eno
acesso de grande parcelada
população aos serviços sociais, pelo trabalho social,tem
sidodefinido
das mais diferentes maneiras. Citaremosalgumas
a título de ilustração, pois nosso objetivonão
é conceituar, mas, sim, entender
como
essa ação acontece.“E
aqueleque
age por livre e espontânea vontade,sem
coação”
(Eduardo Lindeman apud Batista, 1968)
“É
0jovem
ou adulto que, devido ao seu interessepessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seus
tempo,
sem
retribuição alguma, a diversasformas
deatividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou
outros campos”.
Organização das Nações Unidas (ibidem Batista, 1968)
“E
uma
pessoa queassume
de maneiranão
compulsória21
“E
uma
pessoaque assume
de maneiranão
compulsória e
não
remunerada, suas obrigações de cidadania”.(Nathan E.Cohen, 1960, pag.l1)
Entendemos
que
o voluntário é toda e qualquer pessoa que, sensibilizadacom
osproblemas
sociais, secompromete,
deforma
gratuita, e dedica parte de seutempo
livre a serviço de grupos,comunidade
e outros segmentos da sociedadeonde
vive. ›
A
Cáritašg, organismo ligado à Igreja Católica, quetem
como
objetivos apromoção,
orientação dasAções
Sociais, e conscientização dascomunidades
para asolidariedade nas emergências naturais e sociais
pode
ser encontradaem
várias cidades
do
nosso país, e assimdefine
voluntário:4
“É
uma
pessoa sensível e socialmente engajadaque
faz
opção
por
uma
ação social gratuita, caracterizada pelasolidariedade
como
expressão deum
conceito de vida mais coletivo e comunitário”.(Informativo Cáritas, 1995:3).
Os
motivos quelevam
o Voluntário ao engajamento são das r_nais_diversificadas ordens, a inspiração religiosa, a civil, a individual
ou
a grupal,comunitária
ou
humanitária,mas
sabe-seque
acreditano
serhumano,
etem
como
elemento
comum
a gratuidade, a integração e a partilha dos bens sociais.Ao
desenvolver suas atividades, estas serão pautadas
na
sua visão dehomem
e demundo,
na
ideologia política,no
referencial religiosoou na formação
técnico-cientifica que'tenha recebido
no
decorrer de sua trajetóriacomo
Voluntário.8
Cáritas é uma organização da Igreja Católica Apostólica Romana de âmbito Intemacional e no Brasil faz parte CDIBBe
atua nas Dioceses e Paróquias; desenvolve programas sociais com a colaboração do Voluntário nas seguintes areas:
Crianças e Adolescentes, Meninos de Rua, Idosos, Mulher Margirializada, Portadores do HIV, na Formação de
lideranças, Cultura e comunicação popular, Oficinas, Cooperativas e Microempresa, Medicina altematrva, Artesanato,