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Jornalismo em rede: humano e máquina na cartografia digital do El País

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA MÍDIA

CLEDIVÂNIA PEREIRA ALVES

JORNALISMO EM REDE:

HUMANO E MÁQUINA NA CARTOGRAFIA DIGITAL DO EL PAÍS

NATAL/RN 2019

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CLEDIVÂNIA PEREIRA ALVES

JORNALISMO EM REDE:

HUMANO E MÁQUINA NA CARTOGRAFIA DIGITAL DO EL PAÍS

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, área de concentração: Comunicação Midiática.

LINHA DE PESQUISA: ESTUDOS DA MÍDIA E PRÁTICAS SOCIAIS.

ORIENTADOR: PROF. DR. ITAMAR DE MORAIS NOBRE.

NATAL/RN 2019

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DEDICATÓRIA

Aos jornalistas que estão nas redações e lutam para retratar os fatos com honestidade;

Aos que me abriram portas; Aos que resistem.

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AGRADECIMENTOS

Chegar aqui é consequência da influência de muitos.

Família, especialmente a meu companheiro, Carlos Eduardo, meu filho <3, Heitor Pereira, minha mãe, Cleozilde Pereira, e meu irmão, Edivan Filho. Eles sãos os que mais torcem e sempre me esperam voltar de outros mundos para além de nossa casa.

Um agradecimento especial à minha avó Celita (in memorian). Ela me mostrou como a força da mulher pode mudar o destino de uma família pobre - do interior de um estado do Nordeste do Brasil. Vovó, a senhora me disse: você pode! E eu aprendi! Às tias Lilia, Pá e Milda que apontaram os caminhos. Sou só gratidão!

A meus professorxs. E foram tantos. E como eu admiro cada um de vocês. Não existe profissão mais sublime. A de alguém que ganha a vida descobrindo coisas para ensinar aos outros. Todo o meu respeito, com um pedido especial: aguentem firme! O Brasil e o mundo precisam mais do que nunca de vocês. Um obrigada especial ao professor Itamar Nobre, que, não apenas me orientou, mas me acolheu e abriu as portas para um sonho antigo. Obrigada por me deixar tornar realidade.

Aproveito e ressalto a importância de três professoras do Departamento de Comunicação da UFRN: Socorro Veloso, Lilian Muneiro e Kênia Maia. Seus gestos e palavras ficarão sempre comigo.

A amigxs. Não seria nada sem vocês. Pires e Suely, obrigada por me mostrarem o lado certo da vida. São meus guias e é muito feliz atravessar essa vida junto com vocês. Um agradecimento especial a quatro pessoas: Alice, amiga, não conseguiria sem você (vou dizer isso a vida toda). A Andrielle e Luciana, que me disseram lá atrás: tente novamente. Vai dar certo! E a Renata Moura: que me mostrou em vários momentos como podemos ser fortes e divertidas em dupla.

Ao exemplar (não encontrei uma palavra de maior simbologia para definir ele) Carlos Peixoto. Que me deu todo o seu exemplo. O que de mais sublime alguém pode dar a outro.

Jornalistas, obrigada. Companheiros da profissão das mais apaixonantes e difíceis neste momento do mundo. Avante!

Aos profissionais do El País Brasil, que aprendem novos caminhos desse novo universo profissional que parece nos engolir. E compartilham essas descobertas com tanta generosidade.

Ao ensino público, incluindo – e especialmente - a UFRN. Me ensinou pluralidade e me moldou.

A Deus, essa força que tem vários outros nomes. Minha gratidão por colocar no meu caminho todas essas pessoas citadas acima.

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EPÍGRAFE

“O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber”. Paulo Freire - Extensão ou Comunicação?

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RESUMO

Propõe-se investigar e cartografar a formação de rede de comunicação digital da empresa El País no Brasil, com ênfase na distribuição de conteúdo jornalístico através da plataforma digital. A empresa de comunicação da Espanha se apresenta como “jornal global” e representa uma dinâmica atual de expansão de atuação digital em rede de grandes veículos de comunicação pelo mundo, a exemplo da BBC (Inglaterra), BuzzFeed (EUA) e G1 (Brasil). Acreditamos que a partir do detalhamento das rotinas de distribuição do El País Brasil podemos cartografar um cenário de práticas comuns a outras redações que trabalham com produção de conteúdo jornalístico para a plataforma digital. Para isso, vamos percorrer os caminhos sugeridos pela Teoria Ator-Rede (LATOUR,2012) e Cartografia Simbólica (SANTOS, 1998;2001), para descrever e analisar a importância da relação humano/tecnologia nessa estruturação digital. Para a coleta de dados, utilizamos métodos e técnicas de observação sistemática, entrevistas em profundidade que foram utilizadas para mapear, descrever, categorizar e analisar esse novo cenário profissional que está sendo moldado. O embasamento teórico, para entendimento dessa nova bios digital, formada por infovias de circulação acelerada e grande capacidade de armazenamento de conteúdo, inclui Canclini (2008), Salaverría (2016), Castells (1999), Jenkins (2009), Anderson, Bell e Shirky (2013) e Sodré (2002).

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo em Rede. Ciberjornalismo. El Pais. Mídias Sociais Digitais. Jornalismo Digital.

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ABSTRACT

We proposed a investigation and a mapping about the formation of the digital communication network of the newspapper company El País Brazil, with emphasis on the distribution of journalistic content in their digital platform. The spanish media company calls itself as a “global newspaper” and represents a current dynamics of digital permeation network of major communication vehicles around the world, such as BBC (England), BuzzFeed (USA) and G1 (Brazil). We argue that observing the El País Brazil's distribution routines in detail we can build a map of the scenario of practices similar to other newsrooms that work with journalistic content production for online platforms. For this, we will follow the way walked by Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012) and Cartografia Simbólica (SANTOS, 1998; 2001), to describe and analyze the importance of the human/technology relationship in this digital structuring. For data collection, we used systematic observation methods and techniques, in-depth interviews that were used to map, describe, categorize and analyze this new professional scenario that is being setting. The theoretical basis is for understanding this new digital bios, formed by fast-moving highways and large content storage capacity, includes Canclini (2008), Salaverría (2016), Castells (1999), Jenkins (2009), Anderson (2013) and Sodré (2002).

KEYWORDS: Network Journalism. Cyberjournalism. El Pais. Digital Social Media. Digital Journalism.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – 13ª edição, a TIC Domicílios - Usuários por dispositivo 25

Figura 2 – 13ª edição, a TIC Domicílios - Usuários por atividade 25

Figura 3 – Diagramas de Paul Baran 33

Figura 4 – Capa da primeira edição do El País – 4 de maio de 1976 38

Figura 5 – La redacción de El País vacía durante el primer paro de dos horas 40

Figura 6 – Capa especial para anunciar exposição de celebração de 40 anos do El País

44

Figura 7 – Capa do site do El País versão em inglês 45

Figura 8 - Crescimento audiência do El País entre 2013 e 2017 49

Figura 9 - Presença internacional do Grupo Prisa – Área de Notícias 50

Figura 10 - Dados audiência do site em 2013 por acessos únicos 59

Figura 11 - Infográfico do fluxo de produção, distribuição e consumo de conteúdo do El País antes da implantação de redação no Brasil

60

Figura 12 - Dados audiência do site El País em 2017 por acessos únicos 63

Figura 13 - Infográfico do fluxo de produção, distribuição e consumo de conteúdo do El País após implantação de redação no Brasil

64

Figura 14 - Tráfego de audiência 2014 – por referência e equipamentos 66

Figura 15 - Tráfego de audiência 2017 – por referência e equipamentos 66

Figura 16 - Capa do Twitter El País Brasil 67

Figura 17 - Capa do Twitter El País América 67

Figura 18 - Capa do Twitter El País (central) 68

Figura 19 - Capa do Twitter El País in English 68

Figura 20 - Capa do Facebook El País Brasil 69

Figura 21 - Páginas El País Brasil e El País América 70

Figura 22 - Detalhes perfis do El País Brasil com link newsletter 71

Figura 23 - Página inicial com newsletters disponíveis 71

Figura 24 - Newsletter diário El País Brasil 72

Figura 25 - Reportagem feita com ajuda de repercussão em redes sociais 76

Figura 26 - Reportagem feita com ajuda de repercussão em redes sociais 76

Figura 27 - Ivone Lara foi a principal busca de brasileiros no Google em 17 de abril de 2018

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Figura 28 - Busca Ivone Lara no Brasil (de 2014 a 2019). Pico 17 de abril de 2018

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Figura 29 - Busca Ivone Lara no Mundo (de 2014 a 2019). Pico 17 de abril de 2018

79

Figura 30 - Busca Ivone Lara no Mundo (em 17 de abril de 2018) 80

Figura 31 - Busca no Mundo por sessão arte e entretenimento 80

Figura 32 - Busca Google (Ivone Lara Morre) 81

Figura 33 - Reportagem de O Globo que aparece em primeiro na busca por (Ivone Lara morre). Postagem ocorre a 00h51 de 17 de abril de 2018

82

Figura 34 - Twitter do repórter Afonso Benites em cobertura ao vivo do El País Brasil

86

Figura 35 - Perfil pessoal de editora Flávia Marreiro distribui reportagens do EL País Brasil

87

Figura 36 - Perfil pessoal da repórter Marina Rossi retwittado pela página do El País Brasil

87

Figura 37 - Perfil pessoal da repórter Marina Rossi respondendo questionamento de leitores

88

Figura 38 - Perfil pessoal do repórter Breiller Pires retwittado pela página do El País Brasil

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Figura 39 - Dados das redes dos repórteres e editores do El País Brasil (agosto de 2019)

89

Figura 40 - Fachada do prédio comercial onde fica a sede do El País Brasil 92

Figura 41 - Sala de recepção da redação do El País Brasil 92

Figura 42 - Redação do El País Brasil início da manhã (antes das 7h) 93

Figura 43 - Redação do El País Brasil final da manhã 94

Figura 44 - Redação El País detalhe bancada editor 95

Figura 45 - Site El Pais Brasil (visão usuário) 96

Figura 46 - Site El País Brasil (visão editor) 97

Figura 47 - Site El País Brasil última rolagem de tela (visão editor) 97

Figura 48 - Página do El País Brasil no Trello 98

Figura 49 - Segunda tela da página do El País Brasil no Trello 99

Figura 50 - Colocação do El País no ranking Chartbeat 2018 100

Figura 51 - Textos mais lidos do site EL País Brasil em 2017 101

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Dados audiência do site El País entre 2013 e 2017 por acessos únicos 62

Tabela 02 – Ranking países que mais acessaram o site El País entre 2013 e 2017 62

Tabela 03 – Ranking crescimento acessos de países ao site El País entre 2013 e 2017

63

Tabela 04 - Tráfego no site 65

Tabela 05 - Dados perfil pessoal Twitter dos repórteres e editores do El País Brasil (agosto de 2019)

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Perfis dos jornalistas 90

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABI - Associação Brasileira de Imprensa ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade ANJ - Associação Nacional de Jornais CGI - Comitê Gestor da Internet

INMA - International News Media Association IVC - Instituto Verificador de Comunicação

PRISA - Promotora de Informações Sociedade Autônoma SEO - Search Engine Optimization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 - Problema, hipóteses e objetivos de pesquisa ... 15

1.2 - Justificativa ... 17

2 A BIOS LÍQUIDA DO JORNALISMO ... 20

2.1 - Jornalismo Pós-Industrial ... 26

2.2 – Convergência ... 29

2.3 - Maturidade digital ... 31

2.4 – Redes e fluxos ... 32

3 EL PAÍS: JORNALISMO LÍQUIDO E EM REDE ... 37

3.1 – Crise imprensa ... 40

3.2 – Foco no digital e na América ... 41

3.3 – Distribuição em rede ... 43

3.4 – Equilíbrio e rapidez ... 46

3.5 – Audiência da rede ... 48

4 CARTOGRAFIA DIGITAL DE FLUXOS ... 51

4.1 - Seguindo o mapa do jornalismo pós-industrial ... 54

5 EL PAÍS: REDE DIGITAL EM CONSTRUÇÃO ... 57

5.1 Instituição em mudança ... 57

5.1.1 Fluxo de produção reestruturado ... 58

5.1.2 Instituição trabalhando com ajuda de redes ... 64

5.2 Jornalistas + ferramentas digitais ... 72

5.2.1 Relacionamento com amadores, redes sociais e máquinas ... 73

5.2.2 Amadores - baixo “hard News”, baixo amadores ... 74

5.2.3 Multidão monitorada e pauteira ... 77

5.2.4 Automação não faz parte do processo ... 82

5.2.5 Competências pessoais: Redes e Persona (soft skills) ... 83

5.3 Ecossistema complexo e ampliado ... 89

5.3.1 Tecnologia integra equipe e ajuda a monitorar em tempo real ... 95

5.3.2 Sem limites de alcance ... 99

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 102

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1 INTRODUÇÃO

Formação de audiência digital, métricas, uso de redes sociais, edição do portal de notícia, tradução de conteúdo e produção de reportagens transmídia são alguns dos conceitos e atividades que hoje estão no centro dos projetos de reestruturação das redações jornalísticas e de expansão de audiência além de fronteiras geográficas. Monitoramento de redes sociais, curadoria de conteúdo e utilização de ferramentas de tecnologia da informação caracterizam não apenas a produção de conteúdo jornalístico, mas, também, os fluxos dessa produção e distribuição.

As redações com distribuição exclusivamente digital são espécies de curadores das informações que circulam nas duas esferas: on-line e off-line. Nessas estruturas híbridas há atenção especial cada vez mais forte para o monitoramento de conteúdo digital não apenas para descobrir tendências de assuntos que interessam aos leitores em cada momento, mas para captação de elementos que possam levar ao desenvolvimento e/ou enriquecimento de pautas.

Além do monitoramento, outro elemento comum à produção e distribuição de conteúdo digital é a presença de tecnologias da informação em todas as etapas desses processos. É justamente essa transversalidade tecnológica que organiza a nova teia de produção que dita fluxos de trabalho desde a apuração do conteúdo, edição, distribuição e interação com audiência.

Para analisar esse novo cenário do jornalismo pós-industrial, a presente pesquisa foi colher informações na redação do El País Brasil. O site da empresa espanhola El País se apresenta como “jornal global” e representa um movimento atual de expansão de atuação digital em rede de grandes veículos de comunicação pelo mundo, a exemplo da BBC (Inglaterra), BuzzFeed (EUA) e G1 (Brasil). A empresa está se consolidando como líder mundial da imprensa em idioma espanhol e língua portuguesa. E nessa estratégia, o mercado consumidor/produtor de notícias do Brasil é apontado como central para a empresa espanhola.

Em entrevista publicada no site do veículo em 20151, o então diretor de redação, Antonio Caño, destacou que havia dois pilares que fazem do El País uma referência informativa mundial: sua transformação digital e a aposta em se diversificar na América Latina, consolidando-se num mercado mundial de 417 milhões de falantes do espanhol e 240 milhões

1 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/29/internacional/1446104783_791755.html>. Acesso

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do português. E anunciava: “O El País está superando a crise graças à aceleração da nossa estratégia digital e da nossa expansão global”.

Nos diversos anúncios de mudanças de configurações dos últimos quatro anos, a empresa ressaltou que o foco não era apenas para o público-alvo da Espanha e que o objetivo era avançar e expandir produção e distribuição de informação na América Latina, especialmente no México, Brasil e Colômbia. “A essência destes tempos é a mudança constante, e o El País quer responder a esse desafio” (CAÑO, 2015).

O El País foi fundado em 1976. Antônio Caño foi o quinto diretor da publicação e liderou o processo de globalização da empresa. O objetivo é continuar a expansão da rede de comunicação digital na América Latina e manter a liderança em audiência entre os jornais espanhóis, tanto nas bancas quanto na web.

Em 2015, quando apresentou mudanças nas rotinas produtivas com ênfase no ciberjornalismo2, o presidente-executivo do El País, Luis Cebrián, afirmou que “Há uma autêntica refundação do jornal”, ocorrida fundamentalmente “por causa da mudança tecnológica”. Desde 2015, mais da metade dos leitores da empresa está hoje fora da Espanha. Naquele ano, a direção anunciava que 60% de quem lia notícias produzidas pelo El País estava em países da América Latina.

Nos últimos quatro anos, a empresa reforçou suas redações com perfis digitais e apostou em potencializar suas equipes de televisão, vídeo e redes sociais. Também iniciou experiências com aplicativos de realidade virtual e novas formas narrativas que lhe permitem chegar aos leitores em todos os suportes possíveis.

1.1 - Problema, hipóteses e objetivos de pesquisa

Como novas ferramentas de tecnologia da informação são usadas para a produção e distribuição de conteúdo jornalístico e quais as estratégias do El País Brasil para formar redes de produção e compartilhamento de conteúdo jornalístico e conquistar espaço editorial no ciberjornalismo brasileiro? Essa é a pergunta-base da pesquisa. Acreditamos que ao buscar responder a essa indagação a partir do detalhamento das rotinas de produção e distribuição do El País Brasil, podemos cartografar um cenário de práticas comuns a outras redações que trabalham exclusivamente com produção digital, apontando rotinas de trabalho e ferramentas utilizadas.

2 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/29/internacional/1446104783_791755.html>. Acesso

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A pesquisa propõe-se a investigar e mapear a formação de rede de comunicação digital da empresa El País Brasil. O objetivo do estudo é mapear esse novo cenário que envolve produção e distribuição de conteúdo exclusivamente digital e em rede, além de analisar as novas configurações desses processos do ciberjornalismo. No percurso, analisamos quais atores participam dessa nova estrutura e como se prepararam para essa nova atuação em redes digitais. Também focamos nos resultados da audiência alcançada a partir desses novos processos assumidos pelos jornalistas, nas novas funções produtivas na redação em rede e nas ferramentas digitais que são usadas na produção e distribuição de conteúdo.

O objetivo geral deste estudo é lançar luz – através da Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012) sobre a importância das novas ferramentas de comunicação na rotina de produção e distribuição das redações jornalísticas que trabalham com conceito de rede.

A pesquisa tem três objetivos específicos:

1. Acompanhar a cadeia produtiva da redação e mapear a nova rotina de trabalho na empresa;

2. Analisar as estratégias de produção em rede de conteúdo desde o despertar pelo interesse no assunto;

3. Mapear a teia de distribuição de conteúdo digital, formada por redes sociais e site, observando estratégias de maior alcance do conteúdo em cada sítio digital e mensurar essa audiência.

Entre as hipóteses que levantamos, está a mudança na relação tempo-espaço na produção de conteúdo jornalístico. Nas rotinas produtivas off-line, a engrenagem das mídias funcionava com mais tempo para produção e espaço determinado de publicação. A partir da internet, o espaço para publicação apresenta-se infinito e o tempo, para o jornalismo, passa a ser imediato e ininterrupto.

Outra hipótese a ser investigada diz respeito à preocupação quanto à distribuição de conteúdo em rede. Nas mídias off-line, a distribuição de conteúdo era algo restrita a departamentos técnicos, que cuidavam da estrutura necessárias para que a informação chegasse ao leitor/telespectador. Os atores da produção do conteúdo (os jornalistas) não se envolviam nesse processo, que hoje está no centro das redações. Formar bem as redes de distribuição (através de perfis em redes sociais e sites de buscas) passou a ser, também, uma preocupação dos jornalistas. E isso deve ter deixado o trabalho desses atores ainda mais complexos.

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1.2 - Justificativa

O trabalho proposto visa identificar novas configurações estruturais de empresas de mídias, que suplantam barreiras geográficas, e novas práticas para o fazer jornalismo que está sendo transformada a partir do desenvolvimento de novas tecnologias e da mudança da produção linear para a produção/distribuição em rede.

O viés ético do fazer jornalismo – e que caracteriza a profissão – não está sendo alterado na transposição de plataformas midiáticas. Mas a forma, práticas, habilidades do fazer jornalismo, estão sendo reconfigurados a partir das novas ferramentas já disponíveis para colher, formatar, publicar e transmitir informações. Tamanho impacto não seria possível se a própria sociedade – consumidora de informação e mergulhada em uma “bios midiática” – também não tivesse sido atingida por essas mudanças tecnológicas.

A convergência digital está articulando uma integração multimídia que permite ver e ouvir, no celular, no palm ou no iPhone, áudio, imagens, textos escritos e transmissão de dados, tirar fotos e fazer vídeos, guardá-los, comunicar-se com outras pessoas e receber as novidades em um instante. Nem os hábitos atuais dos leitores-espectadores-internautas, nem a fusão de empresas que antes produziam em separado cada tipo de mensagem, permitem agora conceber como ilhas isoladas os textos, as imagens e sua digitalização (CANCLINI, 2008, p.33).

A pesquisa quer descobrir detalhes sobre essas novas redes de distribuição de informações que desconhecem fronteiras geográficas e temporais. E essas novas estruturas de produção e distribuição de conteúdo jornalístico requerem novas práticas e técnicas profissionais para que o jornalismo se mantenha atuante e encontre os espaços nesse novo mundo digital que trabalha em redes.

Esse interesse está em paralelo com a proposta da linha de pesquisa Estudos da Mídia e Práticas Sociais, cujo foco é a “estrutura de poder, instituinte e organizadora de processos societários nos contextos socioculturais do seu âmbito de repercussão”. Trabalhamos levando em consideração três pilares de relevância:

1. Descobrir as novas rotinas e habilidades necessárias para o desenvolvimento da profissão no ciberespaço.

2. Compartilhar vivência (com profissionais e academia) dessa imersão na empresa que apresenta uma nova configuração de produção e distribuição de conteúdo – graças às novas mídias digitais e abertura de capital da comunicação para recursos estrangeiros. 3. Aprofundamento de estudos na área do ciberjornalismo, apontado por muitos estudiosos

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Calmon (2011) é claro quando diz que, mesmo no cenário mais otimista para os meios tradicionais, a web será uma força crescente que é hora de reavaliar o que cada um está fazendo na web e reposicionar-se, a partir da reinvenção do jornalismo na internet. Pool (1983), ressaltava que a convergência não significa perfeita estabilidade ou unidade. “Ela opera como uma força constante pela unificação, mas sempre em dinâmica tensão com a transformação... Não existe uma lei imutável da convergência crescente; o processo de transformação é mais complicado do que isso”, ou seja: os processos de mudanças que atingem as comunicações humanas e – em especial – o jornalismo, não devem estabilizar. Para Canclini (2008), algumas definições sobre o momento de mudanças provocadas pelas novas mídias deveriam terminar com reticências, outras, com dois pontos ou sem nenhuma pontuação final, permitindo que as últimas palavras de cada artigo ficassem esperando as seguintes.

Percorremos os caminhos sugeridos pela Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012), para analisar a importância da relação humano/tecnologia nessa nova configuração de produção e distribuição de informações. Latour (2012) busca redefinir a sociologia não como ciência do social, mas como uma busca de associações entre elementos heterogêneos. Ele critica que a ciência social imaginou a sociologia limitada a um domínio específico e defende que tanto o humano quanto o objeto técnico mudam a partir da relação nova constituída pela conjunção homem/objeto.

Latour recusa o materialismo (que aponta determinismo da técnica sobre o humano); quanto o antropocentrismo (determinismo do humano sobre a técnica). Essa discussão está no centro da formação do cenário singular do ciberjornalismo, quando as novas mídias digitais estão dando aos jornalistas a capacidade de enxergar e ouvir informações onde até bem pouco tempo não seria possível. E, em relação à distribuição de conteúdo, as novas ferramentas possibilitam – inclusive – a universalização de informações com agilidade ainda surpreendente.

Se você puder, com a maior tranquilidade, sustentar que pregar um prego com ou sem um martelo, ferver água com ou sem uma panela, transportar comida com ou sem um cesto, andar na rua com ou sem roupas, zapear a televisão com ou sem o controle remoto, parar um carro com ou sem o freio, fazer um inventário com ou sem uma lista, administrar uma empresa com ou sem a contabilidade são exatamente as mesmas atividades, que a introdução desses implementos comuns não muda nada “de importante” na realização das tarefas, então você está pronto para visitar a Terra Longínqua do Social e desaparecer daqui. Para todos os outros membros da sociedade esses implementos fazem muita diferença e são, pois, segundo nossa definição, atores – ou, mais exatamente, partícipes no curso da ação que aguarda figuração (LATOUR, 2012, p. 108).

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Sobre o material coletado através de observações feitas em visita à redação do El País em São Paulo (em maio de 2018), entrevistas em profundidade e análise de observação remota do site e perfis em redes sociais da empresa, vamos cartografar os processos de apuração, produção e distribuição de conteúdo jornalístico. Para isso, nos guiamos, também, pela metodologia Cartografia Simbólica (SANTOS, 2002).

Para Santos (1988) a percepção de tempo e espaço está mudando com o desenvolvimento das novas tecnologias da produção, da comunicação e da informação. Ele lança mão da cartografia (especificamente dos mapas), para tentar traduzir a sociedade atual. A utilização da cartografia é defendida porque distorce a realidade, mas não a verdade, pois usam elementos controlados e conhecidos, como escala, projeções, simbolismos, ou seja: reduz a realidade à sua essência.

Utilizando essa metodologia de pesquisa, defendemos que o recorte que escolhemos (a redação do El País Brasil) pode revelar o cenário do ciberjornalismo. Recuero e Fragoso (2011) valorizam o contato do pesquisador com o objeto e valorizam o fato desses métodos estimularem a criação de uma sensibilidade para os dados. Experimentar o campo empírico permite ao pesquisador também observar os novos elementos e construir suas percepções por meio da análise e reflexão sistemáticas dos dados encontrados em campo.

Mills (2009) ressalta a importância de entrevistas, observação e contato com o cenário pesquisado. “Não sei quais são as plenas condições sociais para a melhor produção intelectual, mas certamente cercar-se de um círculo de pessoas disposta a ouvir e falar – e por vezes elas terão de ser personagens imaginários – é uma delas”.

Não seja meramente um jornalista, ainda que seja tão preciso quanto. Saiba que o jornalismo pode ser um grande empreendimento intelectual, mas saiba também que o seu é maior. Não relate meramente pesquisas minuciosas em momentos estáticos bem definidos, ou período de tempo muito curtos! Tome como seu intervalo de tempo o curso da história humana, e situe nela as semanas, anos e época que você examina (MILLS, 2009, p.57).

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2 A BIOS LÍQUIDA DO JORNALISMO

“A mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza” Bauman.

O jornalismo está passando por uma profunda transformação em escala global. As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão provocando reestruturações não apenas na relação entre produtor de conteúdo jornalístico e público, mas na lógica dessa produção e distribuição. As mudanças observadas nas duas últimas décadas interferem na estruturação e funcionamento da indústria midiática, onde estão inseridas as engrenagens de produção de conteúdo jornalístico. Empresas da chamada mídia tradicional (TV, rádio e impresso) passaram a concorrer com os sites criados a partir dos anos 2000, quando teve início a forte e rápida expansão da internet. Esses novos sítios digitais são os disruptivos na produção de conteúdo jornalístico e abalaram o equilíbrio do ecossistema midiático que atravessou – quase que inalterado - todo o século XX.

Clayton Christensen (2001) apontou o conceito de “inovação disruptiva”, que é o fenômeno pelo qual uma inovação transforma um setor existente através de ideias simples, convenientes e acessíveis em um cenário onde a complicação e o alto custo são o status quo. O conceito se baseia nas transformações provocadas por novas ferramentas tecnológicas que, na maioria das vezes, são criadas com proposta diferente ao que se apresentam após serem utilizadas por determinada área de produção. No jornalismo, esse conceito se caracteriza pela ascensão dos novos veículos exclusivamente digitais (nativos digitais), que passaram a experimentar as TICs e, com isso, deslocaram o cenário de produção e distribuição de conteúdo.

Historicamente, as diferentes plataformas de produção e distribuição de jornalismo podem se classificar nesse conceito disruptivo. A prensa, a TV, o rádio, a fotografia, o computador e a internet não foram criados com o objetivo de serem utilizados para a atividade jornalística, mas a área se apropriou dessas plataformas para desenvolver um ecossistema específico e delimitar espaço próprio em cada uma dessas mídias. Segundo Briggs e Burke (2006, p. 15),“a mídia precisa ser vista como um sistema, um sistema em contínua mudança, no qual elementos diversos desempenham papeis de maior ou menor destaque”.

Alexander Graham Bell inventou o telefone com a intenção de criar um instrumento para ajudar os surdos; Thomas Edison imaginava que o fonógrafo seria usado como uma máquina de ditado; Johannes Gutetenberg não imaginava a imprensa de tipos móveis fosse democratizar o conhecimento através de livros. Essas invenções mudaram “a cultura, a ciência,

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o poder, as estruturas econômicas e o próprio tecido social”, afirma Don Tapscott, ex-presidente da Aliança para as Tecnologias Convergentes, ao prefaciar o livro A Rede (1999, p.20).

Para Tapscott, o tecido social criado a partir das mídias tradicionais está se desintegrando a partir do desenvolvimento e expansão da internet, que está possibilitando uma “era da inteligência interconectada”, chamada por ele simplesmente de “rede”. Briggs e Burke (2006 p. 313) apontam que a década de 1990 foi um período em que se romperam as fronteiras entre os meios antigos e novos: “no interior de cada mídia experimental e a já estabelecida, os limites se embaraçaram”.

Esse cenário de deslocamento da produção das plataformas off-line para on-line vem sendo apontada desde o início dos anos 2000. Calmon (2012, p.63) prega o que ele mesmo chama de ‘evangelho digital’ alertando para as profundas mudanças que a tecnologia iria imprimir nos meios de comunicação tradicionais e na prática do jornalismo. A previsão de que ocorreria um midiacídio - a morte do sistema midiático da era industrial – para o surgimento de um novo e totalmente diferente sistema de mídia adequado à nova plataforma digital era vista, inicialmente, como alarmista. Hoje, 18 anos após ter usado pela primeira vez a nova palavra (midiacídio), a previsão de Calmon se torna cada vez mais atual no cenário das redações de todas as segmentações do jornalismo (impresso, TV e rádio).

Diante da ruptura dos modelos de negócio, de rotina de produção e linguagem que sustentavam as empresas de comunicação há décadas, profissionais dessa área em todo o mundo mudam suas práticas para tentar encontrar novos modelos que garantam suporte financeiro para o desenvolvimento da profissão e para definir uma nova rotina que consiga equilibrar informações de interesse público das que despertam interesse do público, sem desvirtuar a ética e a técnica de apuração na coleta de informação - que são o diferencial da profissão na produção de conteúdo jornalístico, independentemente da plataforma de distribuição.

As mudanças decorrentes das novas ferramentas de comunicação digital alterama rotina produtiva dos jornalistas. Habilidades para contar histórias multimídia, técnicas em dados e estatísticas, competências em desenvolvimento de audiência, noções básicas de programação e monetização de conteúdos são conceitos que não eram discutidos ou estudados por jornalistas em um passado próximo. Mas, atualmente, são de interesse de quem questionasobre o futuro e pretende continuar na profissão.

Segundo Salaverría (2016),tudo indica que a diversificação do perfil de ciberjornalista vai se tornar ainda mais acentuada nos próximos anos e continue a mudar. Ele acredita que um aspecto que irá gerar uma maior diversificação está relacionado com dispositivos móveis e

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ressalta que, embora existam perfis profissionais que há 10 ou 15 anos não existiam, como editores de mídia social, responsáveis por visualização, entre outros, ainda não há jornalistas especializados na criação de informação para dispositivos móveis, por exemplo.

Não há um consenso sobre o futuro do jornalismo diante dessa nova realidade digital da comunicação humana. Mas podemos pressupor que os produtores de conteúdo jornalístico precisam aprender a lidar com essa nova realidade tecnológica que possibilita a captação, armazenamento, distribuição e reconfiguração de conteúdo de forma e velocidade até então não conhecida. As duas principais barreiras que configuram as mídias off-lines - tempo e espaço – foram achatadas no cenário on-line, o que altera todo o processo produtivo, de apuração e de distribuição de conteúdo.

No jornalismo on-line, atividades como apurar e publicar

ganharam novas dimensões com o uso de ferramentas de mídias sociais e outras ferramentas digitais, que possibilitam acesso quase que instantâneo a todo o planeta. As técnicas de uso de equipamentos e códigos digitais superaramas barreiras de espaço, tempo e localização, o que alterou por completo a rotina da prática jornalística. A imprensa em geral – inclusive jornalistas que desenvolvem trabalho isoladamente – conseguem, por exemplo, colocar com baixo custo imagem “ao vivo” (em direto) em seus sites ou aplicativos para mobile (APPs). Há 10 anos, essa possibilidade era restrita aos grandes veículos de comunicação que investiam alto na compra de equipamentos, aluguel de satélites de transmissão e capacitação de funcionários.

Para Gobbet (2013), entender o fato e reportá-lo passou a ser somente uma parte da incumbência do jornalista, que agora tem que reagir a esse acontecimento em tempo real e interagir à reação da sua audiência à sua reação. Ele defende a aproximação cada vez maior do jornalista com equipes de tecnologia da informação e ressalta que a mutação estrutural da profissão vai deixar pelo caminho quem não quiser se adequar. Canclini (2008)corrobora com essa visão sobre a profissão e o aumento no interesse pelo conteúdo jornalístico, analisando a queda de vendas e tiragem dos jornais impressos, mas ressaltando que essa diminuição não interfere na procura por notícias publicadas por essas empresas. “Os jornais diminuem a tiragem, mas centenas de milhares os consultam por dia na internet (...) Lê-se de outras maneiras, por exemplo, escrevendo e modificando” (CANCLINI, 2008, p. 59).

Sem as barreiras geográficas e o achatamento de tempo e espaço provocado pela rede digital, rapidamente os veículos tradicionais que passaram a atuar virtualmente e nas redes sociais cresceram exponencialmente o alcance. Nos Estados Unidos, um dos exemplos dessa expansão é o New York Times. Em relatório divulgado em fevereiro de 2019 sobre os resultados no último trimestre de 2018 mostram que nesse período a empresa conseguiu 265

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mil assinantes digitais e chegou a 3,3 milhões de assinantes que consomem o conteúdo digital. O número é mais que o triplo de assinantes do jornal impresso, que é de 1 milhão de assinantes – segundo o mesmo relatório. Em 2018, a empresa atingiu outra marca no quarto trimestre: a receita com publicidade digital subiu 23% e atingiu US$ 103 milhões, superando pela primeira vez o faturamento com o impresso - que caiu 10%, para US$ 88 milhões.

No Brasil, segundo dados atribuídos ao Google Analytics divulgado em reportagem de 25 de janeiro de 2019, a Folha de São Paulo teve em 2018 o site de jornal com maior audiência do país. O número de usuários únicos (leitores diferentes) do site3 ficou em 24 milhões na média mensal do ano, segundo dados da Comscore. Concorrentes diretos, O Globo e O Estado de S. Paulo tiveram média mensal de usuários, respectivamente, de 22,8 milhões e 18,7 milhões.

No ranking do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), em 2018 a média mensal da circulação digital diária paga da Folha de São Paulo foi de 192.557. Enquanto que a circulação do jornal impresso diário pago 118.120 exemplares. Ou seja, o alcance pago da produção jornalística no ambiente digital já é exponencialmente maior que o das plataformas off-line. Quando se analisa o alcance geral - contando internautas que não pagam para receber o material, o alcance de leitura do digital é inúmeras vezes maior.

Uma comparação que pode demonstrar bem a diferença de alcance entre a produção off-line e on-off-line é o do jornal Tribuna do Norte, mais antigo veículo impresso do Rio Grande do Norte. No primeiro semestre de 2019, a tiragem diária de jornais impressos era de 6 mil exemplares. Mas o site do jornal teve nos seis primeiros meses do ano mais de 5 milhões de usuários diferentes, o que representa uma vez e meia toda a população do Estado (IBGE 3,4 milhões - https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/panorama).

Essa mudança de cenário foi causada pela rápida e cada vez mais acelerada disseminação das mídias digitais. Sodré (2002) aponta que é enorme o impacto da chamada "economia digital" sobre o mundo do trabalho e sobre a cultura: na indústria, na pesquisa científica, na educação, no entretenimento, as novas variáveis transformam velozmente a vida das pessoas.

Em entrevista publicada4 em 29 de setembro de 2016, no Blog Jornalismo Ciência Ambiente, Sodré explica que o jornalismo é uma organização mediadora que está em crise a partir da evolução da internet. “Nós não podemos ouvir histórias, notícias, sem mediadores

3 Disponível em: <https://www.folha.uol.com.br/>. Acesso em: 9 set. 2019.

4 Disponível em: <http://blogmanueldutra.blogspot.com/2018/08/o-jornalismo-em-rede-ainda-e-uma.html>.

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confiáveis. E a questão é essa: a rede é uma mediadora confiável? Ainda não é, e não é porque minta, não é a questão da mentira, é a questão da organização da confiabilidade”.

Calmon (2012) alertava para esse cenário ressaltando que vão sobreviver somente aqueles que se transformarem radicalmente. Eleressalta que o midiacídio tem causado a falsa impressão de que o jornalismo está em perigo de extinção:

Não é hora de chorar o fim de uma era, mas de celebrar o início de outra. Na realidade, nunca foi tão bom ser jornalista(...). Felizmente, muitos já estão trilhando esse caminho. Jornais já não são mais apenas jornais. Rádio já não é só rádio. TV não é só TV. Os meios são cada vez mais parecidos entre si. São centrais produtoras de informação multimídia e multiplataforma, numa dinâmica cada vez mais distante da que tinham no século passado (CALMON, 2012, p. 62).

A nova maneira de distribuir informação passa necessariamente pelos dispositivos mobile, como já mostram os dados de acesso à rede. No Brasil, a quantidade de aparelhos móveis conectados à web já supera o número de computadores de mesa desde 2017. É o que mostra a pesquisa do “TIC Domicílios 20175” do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI)6. Pelos dados mais recentes divulgados em 24 de julho de 2018, o número de usuários de internet no Brasil chegou a 120,7 milhões, o que representa 67% da população com dez anos ou mais. Desses, quase a totalidade (96%) se conectou pelo telefone celular, sendo que 49% deles utilizaram a rede apenas por meio desse dispositivo. Pela primeira vez, a proporção daqueles que usaram a rede exclusivamente em telefones celulares chegou ao mesmo patamar daqueles que a usaram tanto pelo computador quanto pelo celular (47%).

Os usuários brasileiros seguiram utilizando a Internet principalmente para realizar atividades de comunicação, com o uso de serviços de mensagens (90%) e redes sociais (77%). Além disso, também foi frequente a realização de atividades culturais na rede, como assistir a vídeos e ouvir músicas, ambas realizadas por 71% dos usuários da web brasileiros – o que corresponde a aproximadamente 50% da população considerada na pesquisa.

Entre as atividades culturais realizadas diretamente na rede, as mais difundidas entre os usuários de internet brasileiros foram assistir a vídeos, programas, filmes ou séries e ouvir músicas on-line, ambas realizadas por 71% deles em 2017. Já a leitura de jornais, revistas ou

5 Em sua 13ª edição, a TIC Domicílios realizou entrevistas em mais de 23 mil domicílios em todo o território

nacional, entre novembro de 2017 e maio de 2018 com o objetivo de medir o uso das tecnologias da informação e da comunicação nos domicílios, o acesso individual a computadores e à internet, atividades desenvolvidas na rede, entre outros indicadores. Para acessar a TIC Domicílios 2017 na íntegra, assim como rever a série histórica, visite http://cetic.br/. Compare a evolução dos indicadores a partir da visualização de dados disponível em: <http://data.cetic.br/cetic/explore?idPesquisa=TIC_DOM>. Acesso em: 8 set. 2018.

6 Disponível em: <https://www.cetic.br/media/analises/tic_domicilios_2017_coletiva_de_imprensa.pdf>. Acesso

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notícias pela internet foi citada por pouco mais da metade dos usuários (55%). O relatório Digital News Report do Instituto Reuters, divulgado em junho de 2018, mostra que 72% dos brasileiros conectados, usavam smartphone para acessar notícias.

Figura 1 – 13ª edição, a TIC Domicílios - Usuários por dispositivo

Fonte: Livro Eletrônico TIC DOMICÍLIOS, p.1227

Figura 2 – 13ª edição, a TIC Domicílios - Usuários por atividade

Fonte: Livro Eletrônico TIC DOMICÍLIOS, p. 311.

7 Disponível em: < https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic_dom_2017_livro_eletronico.pdf>. Acesso em: 1

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A observação da “tecnosocialidade” mostra que os recursos de comunicação sem fio não são apenas ferramentas, mas, sim, “contextos, condições ambientais que tornam possíveis novas maneiras de ser, novas cadeias de valores e novas sensibilidades sobre o tempo, o espaço e os acontecimentos culturais”, (CASTELLS, 2007).

Tapscott (1999) lembrava que a união entre os computadores e as redes de comunicação iria transformar a maior parte das atividades econômicas e dos hábitos de consumo. Para ele, a rede se converteria na base de criação de riquezas nas economias do mundo inteiro, assim como ocorreu com a energia elétrica, as estradas as ferrovias que foram a infraestrutura necessária para a economia baseadas na indústria e na exploração de recursos naturais. “O mundo desenvolvido está deixando de ser uma Economia Industrial, baseado no aço, nos automóveis e nas estradas, para converter-se numa Economia Digital, construída à base de silício, computadores e redes” (TAPSCOTT, 1999. p.14).

Nesse novo cenário de economia em rede, o jornalismo está deixando de ser produzido por organizações hierarquizadas – que concentravam a produção e distribuição de conteúdo - para se converter em organizações interconectadas, com grandes e difusos volumes de informação circulando em velocidade da luz.

2.1 - Jornalismo Pós-Industrial

“Não se trata simplesmente de interconexão de tecnologias e, sim, da interconexão de seres humanos pela tecnologia”. (TAPSCOTT, 1999, p.19)

Sem a possibilidade de ignorar os novos modelos de produção, distribuição e consumo de informação, as empresas tradicionais de mídia que atuavam apenas em plataformas off-line (jornais, revistas e/ou emissoras de rádio e televisão) também precisaram repensar seus funcionamentos e passaram aceitar que precisavam reinventar suas estruturas organizacionais para se adaptar à nova realidade social, cada vez mais mediada pelas novas tecnologias de comunicação. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky (2013), descrevem o definhamento das marcas jornalísticas diante da tormenta gerada pelo digital em estudo titulado de “jornalismo pós-industrial”.

Para os autores, as mudanças afetam tanto a rotina diária como a autoimagem de todos os envolvidos na produção e distribuição de notícias. “Sem isso, no entanto, a redução dos fundos disponíveis para a produção do jornalismo fará com que no futuro a única opção seja

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fazer menos com menos. Não há, na crise atual, solução capaz de preservar o velho modelo”. (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 38)

Diante da transição entre as plataformas analógica e o digital, os veículos tradicionais de jornalismo impresso adotam em maior ou menor escala reformulações da cadeia produtiva e de distribuição. Essas mudanças vão desde a agregação de novos profissionais nas redações à reestruturação de rotinas produtivas a partir da utilização de novos recursos tecnológicos. Mudanças necessárias para conseguir mais eficiência na distribuição da produção e interagir com a audiência, com crescente disponibilidade de compartilhar e produzir conteúdos colaborativos.

Nesse cenário de deslocamento, as empresas mais tradicionais se tornaram híbridas na produção de conteúdo analógico e digital. O El País, que nasceu na plataforma impressa e ao longo de quatro décadas (o El País foi fundado em 1976) incorporou produção e distribuição em TV e rádio na Espanha, aposta em uma expansão exclusivamente digital e vem se reposicionando e conquistando audiência digital entre leitores de países de idioma português e espanhol. E esse projeto nasceu na sede da Espanha e se expande por países como Brasil e México, como veremos mais detalhadamente nos capítulos 4 e 5.

O diretor-adjunto do El País, David Alandete, durante conferência da International News Media Association (INMA/2016), em São Paulo, descreveu pela primeira vez no Brasil a reestruturação do ambiente de trabalho na sede do jornal, da Espanha. O projeto tem como foco adaptar toda a produção de conteúdo para priorizar a plataforma digital. O projeto do El País propõe uma correlação completa entre conteúdo e distribuição. Para isso, a estrutura produtiva das editorias foi remodelada, especialmente no que diz respeito ao fluxo de trabalho, com foco em desenvolver técnicas e habilidades de distribuição de conteúdo digital.

O novo modelo produtivoe de distribuição da redação da Espanha é híbrido, mas focado na plataforma digital. O El País passou por todas as etapas de reestruturação digitais exigidas às empresas tradicionais: replicação, transição de produção, convergência de plataformas e engajamento multiplataforma. Calmon (2012) já apontava para essas transformações necessárias que deslocaram os pilares que sustentavam o antigo modelo de produção/distribuição, como a arquitetura da informação dos sites; rotinas produtivas; requalificação/formação tecnológica das equipes; reconstrução de novas tecnologias voltadas para os processos jornalísticos.

No novo cenário das empresas, as editorias que cuidam de distribuição e análise/interação de audiência estão no centro das transformações. Essas novas equipes são

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responsáveis por processos que aproximam e filtram os temas de maior interesse do público online da produção de conteúdo.

Embora as novas ferramentas de captação, análise e distribuição de conteúdo tenham um potencial de velocidade e acúmulo de informações ilimitadas, há uma importante questão que preocupa os profissionais de mídia e também acadêmico e diz respeito à qualidade e credibilidade da informação produzida na plataforma online. Costa (2014), analisa que a produção de conteúdo on-line estará sempre em adaptação e que as equipes devem permanecer em adaptação aos novos cenários.

A saída para os modelos de negócios, nesta nova realidade, tem de levar em conta que o jornalismo deve continuar a expor a corrupção, chamar a atenção para injustiças, cobrar políticos e empresas pelas promessas e obrigações assumidas, informar cidadãos e consumidores, ajudar a organizar a opinião pública, elucidar temas complexos e esclarecer divergências fundamentais, ou seja, os jornalistas não são apenas narradores de fatos (COSTA, 2014, p. 64).

Nessa transição, muitas empresas de comunicação ainda se consideram núcleos de informação e não empresa de serviço, pois ainda não conseguem entender a informação como serviço, mas como algo puro, que funciona por si só. No início, como narra Anderson, Bell e Shirky (2013), a indústria da comunicação se preocupava apenas em digitalizar o seu conteúdo analógico para oferecê-lo aos internautas.

A análise já mostrava em 2013 que o futuro – hoje presente – não se tratava apenas de trocar as rotativas e máquinas de escrever pelos computadores e pela internet. Em 2013, o estudo dos autores citados acima já apontava que 90% das empresas que implantaram redações digitais sem alterar a forma de praticar o jornalismo, ou não sobreviveram ou tiveram que repensar as decisões. O problema, para ele, não estava na tecnologia, mas na identificação das consequências que essa provocava na forma como os profissionais e o público passaram a se relacionar com a produção jornalística no ambiente digital.

A transição do modelo industrial de produção de notícias para um formato pós-industrial é provocada a partir do surgimento da economia digital, que é um conceito baseado em bens imateriais como informação, conhecimento e sabedoria. E esse novo ecossistema, que antes muitos defendiam que substituiria por completo o analógico existente, na verdade coexiste, e assim deve permanecer. Para defender essa coexistência, Anderson, Emily Bell e Clay Shirky (2013) cita o escritor de literatura “cyberpunk” Willian Gibson: “O futuro já chegou, só não está uniformemente distribuído”. Trazendo esse cenário híbrido para o jornalismo, não haverá

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uma substituição completa das formas analógico-industriais pelo sistema digital. Os jornais, a TV e o rádio ainda são usados e devem continuar sendo em nichos especializados.

Há poucas respostas para muitas perguntas sobre o futuro do jornalismo no ecossistema digital. Mas uma das poucas certezas é que a atividade é, assim como praticamente todas as atividades humanas, revestida e afetada pela mediação tecnológica. Ou seja, o jornalismo começa a funcionar potencialmente em redes digitais, assim como já o faz a educação, a economia e os relacionamentos sociais.

2.2 – Convergência

Hoje, a informação circula em velocidade cada vez maior e por diferentes canais midiáticos on-line e off-line. Mas a migração do conteúdo produzido para mídias tradicionais (rádio, TV, jornais/revistas) para a plataforma digital é cada vez mais acelerado. É a chamada convergência. No dicionário Houaiss da Língua Portuguesa a palavra convergência aparece com significado de direcionamento de linhas, feixes, ideias e opiniões para um ponto em comum. A partir da década de 80, com o início da aceleração do desenvolvimento tecnológico, a palavra passou a ser aplicada à integração de texto, números, imagens, sons e a diversos elementos da mídia que até então, segundo Briggs e Burke (2006), tinham sido examinados em separado. “A palavra convergência foi sendo subsequentemente aplicada a organizações e processos, em especial à junção das indústrias de mídia e telecomunicações”, (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 266).

O termo “convergência” é utilizado de forma diversificada em toda a literatura que analisa as mídias contemporâneas - incluindo a internet, as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TICs). O fluxo desse conteúdo é instantâneo, não linear e reconfigurado por consumidores de informações. O novo cenário possibilita que as mídias off-line e on-line sejam híbridas (atuando nas duas plataformas simultaneamente). Há uma completa reestruturação na conexão indústria, mercados e públicos através das novas tecnologias digitais. Mídias alternativas e de massa se mistura, se transformam e chegam ao consumidor de conteúdo através de vários suportes. É o cenário da convergência midiática, apontado por Jenkins (2009).

Nessa cultura convergente, a circulação de conteúdos depende fortemente da participação ativa dos consumidores de conteúdo (que também passa a ser produtores e distribuidores de conteúdo). Esse novo cenário representa uma transformação cultural, na medida em que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos. “Neste momento, estamos usando

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esse poder coletivo principalmente para fins recreativos, mas em breve estaremos aplicando essas habilidades a propósitos mais sérios”, (JENKINS, 2009. p. 30).

Para Jenkins (2009), todas as principais mídias estão sendo influenciadas pela internet como uma forma de adaptação às transformações culturais, sociais e mercadológicas que ela trouxe aos meios de comunicação.

Ao longo dos últimos cinco séculos, desde o surgimento da prensa de Gutemberg, em 1450, a mídia se formatou considerando características impostas por cada plataforma e limitada por tempo e espaço. No jornalismo, seja em qualquer tipo de mídia antes da plataforma digital, o tempo para produzir conteúdo e o espaço físico ou temporal para distribuir essa produção ditavam todo o processo.

A prensa permitiu que a comunicação, mesmo não sendo imediata, atingisse todos os pontos do mundo conhecido; o rádio trouxe instantaneidade à comunicação; a TV possibilitou transmissão de imagens ao vivo e deu um sentido mais global ao conteúdo distribuído.

A diferença principal entre a circulação de um jornal impresso e as mesmas notícias postadas na web estão justamente no limite de espaço de conteúdo e a velocidade de distribuição desse material junto aos leitores. Na rede digital, as barreiras tempo e espaço são reduzidas a patamares impensáveis há duas décadas. “Tudo” e “agora”, passaram a ser palavras comuns em explicações de capacidade e velocidade da internet. Briggs e Burke (2006, p. 15) lembram que cada meio de comunicação cria um monopólio do conhecimento. Quem domina a plataforma de produção e distribuição, monopoliza o conhecimento.

A world wide web tem se apresentado como o mais acessível meio conhecido até hoje. Na prática, todos podem produzir e distribuir conteúdo a custos baixos e com equipamentos potentes que fazem parte do cotidiano 68% da população mundial8 (os aparelhos celulares).

A massificação desse universo digital e as infinitas possibilidades de conexão e reconfiguração permite esse universo convergente apontado por Jenkins (2009). Ele fundamenta seu argumento em um tripé composto por três conceitos básicos: convergência midiática, inteligência coletiva e cultura participativa. Inteligência coletiva é a nova forma de consumo (de bens e serviços), que a partir do ecossistema digital passou a ser um processo conjunto e é considerado uma nova fonte de poder. Já a expressão cultura participativa aponta um comportamento do consumidor midiático contemporâneo afastado da condição receptor passivo. Os consumidores da era digital atuam em um sistema complexo de regras que foi criado para ser dominado de forma coletiva.

8 Dados da Digital in 2018, divulgado pelos serviços online Hootsuite e We Are Social. Disponível em:

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2.3 - Maturidade digital

No estudo Modelos de Negócios e Comunicação Social (CARDOSO, G. at al, 2015), os pesquisadores mostram que nesse novo ecossistema digital e convergente o jornalismo enfrenta e enfrentará uma verdadeira tormenta para conseguir sobreviver e se reinventar. O estudo defende que até 2020 o setor de comunicação deve atingir uma maturidade digital a partir das transformações provocadas pela erosão dos recursos e rotinas disponíveis e conhecidas antes da era digital.

A pesquisa divide em três os tipos de empresas que pretendem produzir conteúdo jornalístico e captar a audiência digital dos que buscam esse serviço na internet: Novo Media, Legacy Media e Telcos. Novo Media são empresas como o Google e Facebook que mudaram a forma de distribuir informações e provocaram a disruptura nos modelos de negócio que sustentavam as empresas de produção de jornalismo.

Os Legacy Media são as empresas tradicionais de produção de conteúdo, que já atuavam em outras plataformas off-lines (impresso, TV, rádio) e constituíam a cadeia jornalística antes do ecossistema online. Telcos são as produtoras de conteúdo jornalísticos que já nasceram digitais. Segundo o estudo, todas essas categorias “questionam-se sobre que forma o futuro irá tomar, que tamanho o mercado irá ter, que papel cada um irá ter nesse oceano da comunicação social e o tempo que demorará até termos maior estabilidade no sector e nos modelos de negócio”.

As respostas sobre o futuro do jornalismo ainda são poucas. Mas, além de apontarem para uma constante atualização de procedimentos necessária para acompanhar as rápidas alterações de ferramentas de produção/distribuição de conteúdo, há a necessidade de se pensar a produção e distribuição de conteúdo em rede. Não há como negar o crescente uso de tecnologias digitais que hoje media a comunicação humana. E essas ferramentas estão interconectadas por aparelhos (celulares/computadores) ligados em rede cujo ecossistema afeta todas as atividades humanas, incluindo naturalmente o jornalismo. “Ou seja, a economia começa a funcionar em rede, a educação começa a funcionar em rede, a saúde começa a funcionar em rede, os nossos relacionamentos sociais começam a funcionar em rede e, inevitavelmente, o jornalismo também começa a funcionar em rede”. (CARDOSO, G. at al, 2015, p. 29).

O novo cenário criado a partir do ecossistema digital online tem alcance global, o fortalecimento dos consumidores e a interconexão de computadores o que possibilita e provoca a migração dos serviços de produção e distribuição de conteúdo jornalístico para o digital. “As

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novas oportunidades que se abrem ao jornalismo são precisamente aquelas que aproveitam os traços distintivos da nova sociedade em rede mediada por computadores e tecnologias digitais”, apontam (CARDOSO, G. at al, 2015, p.29) E ressaltam: “O jornalismo já não funciona segundo uma lógica linear, passível de ser controlada por um agente do processo – o jornalista e/ou a instituição jornalística –, mas numa lógica de rede na qual existem numerosos outros actores com capacidade de influência”.

A forte turbulência que está ocorrendo no atual estágio de reconfiguração do ecossistema do jornalismo é que os modelos conhecidos de produção/distribuição estão se transformando sem a segurança de um novo modelo/rotina formatado.

2.4 – Redes e fluxos

“O bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo”. Cultura popular, e o mais conhecido resumo da Teoria do Caos, analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz.

Para Castells (1999), a sociedade atual é uma estrutura baseada em redes mediadas por tecnologias de comunicação e informação interligadas na microelectrónica e em estruturas de computadores que recebem, processam e distribuem informação em quantidade e velocidade até então não conhecidas. As bases desse ecossistema de conexões digitais são as infinitas e rápidas possibilidades de fluxo e a intemporalidade (as redes globais de informação não dependem da variável do tempo). Castells (1999) sintetiza essa nova cultura de “virtualidade real” da “sociedade da informação”, caracterizado por uma revolução tecnológica movida por comunicação mediada pelas tecnologias digitais de informação.

Jenkins (2009) reflete que no futuro essa mediação tecnológica implicaria consideravelmente no modo como trabalhamos, aprendemos, interagimos uns com os outros e participamos da vida política.

O funcionamento da sociedade em rede já é discutido há décadas por cientistas de todo o mundo. Baran (1964) analisava que não seria possível entender esse novo cenário, sem decodificar a diferença entre descentralização e distribuição. Para explicar a sistemática, ele elaborou o diagrama que exemplifica graficamente a diferença entre conexões centralizadas, descentralizadas e distribuídas.

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Figura 3 - Diagramas de Paul Baran

Fonte: Baran (1964, p.02)9

Os diagramas são autoexplicativos. Na primeira ilustração, o pesquisador reproduz em desenho o que seria o fluxo de distribuição de informações geradas por um único ponto. Observa-se que não há conectividade entre os pontos que recebem as informações. A segunda imagem, mostra que há vários pontos que geram informações, cada um possui conexões próprias, mas essas conexões não se interligam. O último diagrama proposto, reproduz o que seria uma comunicação em rede onde a geração e distribuição de conteúdo são infinitas. Baran quis mostrar que quanto mais centralizada é uma rede, menos interatividade ela possui.

Em entrevista ao jornal argentino Clarín, Bauman (2014) declarou: “escolhi chamar de ‘modernidade líquida’ a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza”. Bauman entende a crise como sendo um tempo em que o velho já se foi, mas o novo não tem forma ainda. Em entrevista ao jornal italiano Il Messaggero, o sociólogo sinaliza que buscamos um estado de maior solidez. “Ainda estamos em uma sociedade líquida, mas em que nascem sonhos de uma sociedade menos líquida”, afirmou.

No livro Too big to know (Muito grande para saber, em tradução livre), David Weinberger (2012), aponta uma definição do conhecimento em rede e afirma que aos usarmos as redes para produzir e ou distribuir conteúdo, só nos tornaremos mais inteligentes se formos capazes de fazer com que elas joguem a nosso favor.

9 Disponível em: <https://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/research_memoranda/2006/RM3420.pdf>.

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Na medida em que o conhecimento ocorre em conexão, a pessoa mais inteligente de uma sala não é aquela sentada à nossa frente, e também não é o conhecimento de todos daquela sala. A pessoa mais inteligente da sala é a própria sala: a rede que agrega pessoas e ideias e as conecta àquelas que estão do lado de fora. Isso não significa que a rede está se tornando um supercérebro. É o conhecimento que está se tornando inextricável – literalmente, algo impensável – à rede. Nossa tarefa é saber construir salas inteligentes, ou seja, como construir redes que nos tornem mais inteligentes, e se isso for feito de forma inadequada, a rede pode fazer de nós cada vez mais ignorantes. Conhecimento em rede é menos preciso, porém, mais humano (WEINBERGER, 2012, p. 139-148).

O conceito de sociedade em rede desenvolvido por Manuel Castells (2009) rebate a ideia de que a audiência era um objeto passivo, e aponta a interatividade como característica. Essa mudança abriu caminho para a análise de que a comunicação de massa passou ter como foco a adequação ao público, com preocupação na individualização e segmentação do conteúdo. Esse novo cenário só é permitido a partir da tecnologia. Nesse novo contexto, o jornalismo começa a se transformar da fase tida apenas como digital (replicação de conteúdo que já existia em plataformas off-lines), para o de atuação em rede, quando começa a usar ferramentas com potencial comunicativo e de interação, e se apropriar de tecnologias que possibilitam desconhecidas e diversas práticas de produção e consumo de conteúdo, o que alterou diretamente a lógica de produção jornalística.

O jornalismo praticado no ecossistema on-line requer a construção de uma rede de conexões entre jornalistas e sociedade. A redação, que sempre foi o ponto principal de uma empresa de comunicação com produção jornalística, passa a assumir nesse contexto de rede, atribuição que antes era de outros setores da estrutura off-line.

Em uma empresa de jornalismo impresso a estrutura é sustentada por quatro áreas definidas e com rotinas independentes. A redação em si, que produz todo o conteúdo. Nesse local, repórteres, diagramadores, fotógrafos, editores apuram e produzem notícias. Além do núcleo produtivo, as empresas tradicionais mantêm estruturas administrativas (finanças, recursos humanos) e uma gráfica, que cuida da impressão do material (no caso do jornalismo impresso). Uma terceira área, a comercial, é a interface da empresa responsável por atrair anúncios e dar a sustentação financeira ao negócio. O outro pilar das empresas de comunicação é a circulação, responsável pela entrega do produto e cuidava de toda a distribuição dos jornais/revistas. Cuidava, também, da captação de novos leitores.

Essas áreas possuem algumas especificidades em empresas de rádio televisão aberta, mas a relação produção e distribuição (funcionando em sincronia, mas de forma independente) é basicamente a mesma. Nesta cadeia produtiva, que envolve – produção de conteúdo, captação de anúncios e distribuição (seja por meios físicos, seja por ondas eletromagnéticas) – as empresas tradicionais dominam todo o processo.

Referências

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