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Não querer ou não poder? Uma análise da ausência de filhos no Brasil

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Academic year: 2021

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RESUMO: A postergação de nascimentos é uma realidade em expansão no Brasil e a análise da ausência de filhos, seja definitiva ou temporária, se torna cada vez mais importante. O objetivo deste trabalho é mensurar a ausência voluntária e a ausência involuntária de filhos no país. Para isso, são criadas proxies para ausência involuntária de filhos por razões biológicas, para ausência involuntária por provável constrangimento e para ausência voluntária de filhos. Há também uma categoria de classificação indeterminada, reservada às mulheres cujas respostas não permitem classificação nas categorias anteriores. Os dados utilizados neste trabalho são provenientes da PNDS 2006. Como resultados, destacam-se a estimação da ausência de filhos definitiva voluntária e involuntária para as brasileiras em geral. Estima-se que cerca de 2% das mulheres no Brasil são sem filhos de maneira definitiva e involuntária por razões biológicas e que de 2% a 7,5% das brasileiras não os têm de maneira voluntária.

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INTRODUÇÃO

A postergação de nascimentos é uma realidade em expansão no Brasil. Desde a década de 1990, a TFT nacional é diminuída pelo adiamento dos nascimentos, isto é, há a atuação de efeito tempo positivo (MIRANDA-RIBEIRO et al, 2016). Entre as mulheres que adiam a fecundidade, destacam-se as mais escolarizadas e nos grupos mais altos de renda. Os índices de postergação para estas mulheres nos anos 2000 ultrapassam os 80%, enquanto que para o país como um todo, não chega a 60%. Alguns grupos específicos chegam a atingir índices superiores àqueles observados na Itália e na França (ALVES e CAVENAGHI, 2009). A proporção de mulheres de 20 a 49 anos sem filhos aumentou entre 1970 e 2010 no Brasil, com destaque para o salto que ocorreu entre 2000 e 2010. O aumento de 30% na ausência de filhos nesta última década no grupo das mulheres de 25 a 29 anos e de 30 a 34 anos é um indicativo forte da postergação do nascimento do primeiro filho no país. Outro indicativo importante é o aumento da proporção de mulheres entre 30 e 39 anos no grupo de primíparas, que cresceu consideravelmente entre 1980 e 2010: passou de 7% para mais 25% para o conjunto da população (OLIVEIRA e MARCONDES, 2014).

Há muitas maneiras de abordar o tema das mulheres sem filhos. Este trabalho, em particular, busca compreender as razões da ausência de filhos das mulheres brasileiras. O objetivo é mensurar a ausência voluntária e a ausência involuntária de filhos no país.

MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados os dados da PNDS 2006. Nesta pesquisa há um quesito (número 637), que pergunta às mulheres que nunca tiveram filhos ou que os tiveram após os 30 anos de idade quais razões explicam melhor por que elas não tiveram filhos nascidos vivos antes dos 30 anos. Há 12 respostas possíveis – e a oportunidade de resposta aberta na categoria “outros”. A mulher poderia indicar como verdadeira mais de uma delas.

Não é trivial, entretanto, estabelecer uma classificação de ausência voluntária e involuntária de filhos através dos dados disponíveis na PNDS 2006. O que se propõe fazer neste trabalho, então, é criar proxies para estes grupos a partir

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de combinação das respostas dadas pelas mulheres neste quesito e também em quesitos adicionais, como limitação biológica para gravidez e número ideal de filhos. Na proposta de classificação de ausência de filhos voluntária e involuntária desenvolvida neste trabalho há quatro possibilidades de classificação: ausência involuntária de filhos por razões biológicas, provável ausência involuntária de filhos por constrangimentos, ausência voluntária de filhos e classificação indeterminada, cujos critérios são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 - Quadro-resumo dos critérios de classificação desenvolvidos neste trabalho a partir dos dados da PNDS 2006 para ausência voluntária e involuntária de filhos.

Categoria Critérios

Ausência involuntária de filhos por razões biológicas

- Nunca engravidou por razões biológicas

- Não aponta que “não quer ou nunca quis ter filhos” - Indica número ideal de filhos diferente de zero Provável ausência involuntária

de filhos por constrangimentos

- Não reporta limitação biológica

- Não indica razão comum de ausência voluntária de filhos - Indica razão(ões) relacionada(s) à nupcialidade, inatividade sexual, medo da gravidez ou do parto e/ou experiência de gravidez interrompida.

Ausência voluntária de filhos

- Não reporta limitação biológica

- Indica exclusivamente que nunca quis ou ainda não quis ter filhos ou então a combinação destas respostas com as razões "queria estudar/ter profissão" e/ou "queria aproveitar a vida"

Classificação indeterminada - Informações prestadas não permitem que seja classificadaem nenhuma das categorias anteriores Fonte: Elaboração própria.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 traz o percentual de mulheres segundo cada uma dessas classificações propostas: ausência involuntária de filhos por razões biológicas1,

provável ausência involuntária de filhos por constrangimentos, ausência voluntária de filhos e classificação indeterminada.

Como já era de se esperar, a ausência involuntária de filhos por razões biológicas é maior entre as mulheres mais velhas, de 40 a 49 anos, definitivamente sem filhos. Estes números podem ser resultado de duas situações distintas. Uma delas é a dificuldade de engravidar após um período prolongado de postergação da maternidade e a outra é que, na maioria dos casos, uma mulher só se torna ciente

1 A classificação proposta para ausência involuntária por razões biológicas apenas é viável entre as mulheres que nunca tiveram filhos, já que o principal quesito utilizado é a razão para nunca ter engravidado.

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de problemas de infertilidade quando tenta engravidar. Estes números revelam, por fim, que, no geral, cerca de 2% das mulheres brasileiras são sem filhos de maneira definitiva e involuntária por razões biológicas.

Figura 1 - Distribuição das mulheres por condição da ausência de filhos (voluntária,

involuntária e classificação indeterminada) por grupo etário e situação reprodutiva. Brasil, 2006. 0% 20% 40% 60% 80% 100% 8,2% 21,2% 7,5% 8,5% 8,4% 13,1% 16,6% 11,8% 9,4% 6,0% 67,7% 58,4% 82,3% 80,9% Classificação indeterminada Ausência voluntária de filhos

Provável ausência involuntária de filhos por constrangimentos Ausência involuntária de filhos por razões biológicas

Fonte: PNDS 2006. Tabulação própria.

Para a provável ausência involuntária de filhos por constrangimentos não há diferença estatisticamente significativamente entre as mulheres que nunca tiveram filhos e as que os tiveram apenas após os 30 anos e entre os grupos etários: elas correspondem, em média, a 9% das mulheres que não tiveram filhos antes dos 30. Esta categoria deve englobar mais mulheres do que os números apresentam. Isto porque a classificação indeterminada deve conter mulheres que se encaixariam nessa situação, mas que não fornecem segurança suficiente com as respostas disponíveis para classificá-la como tal.

A subestimação das mulheres voluntariamente sem filhos também deve ocorrer pelo menos motivo apontado anteriormente. Assim, o intervalo mais provável do verdadeiro percentual de ausência voluntária no Brasil é aquele entre o critério proposto neste trabalho, que é bastante restrito, e um critério que considere ausência voluntária de filhos todos os casos em que a mulher reporta que não queria

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ter filhos, independente das demais razões apontadas. Assim, a ausência voluntária e definitiva de filhos deve ser a realidade de 2% a 7,5%2 das mulheres brasileiras.

A última categoria possível é a classificação indeterminada, composta pelas mulheres que não puderam ser classificadas com segurança em nenhuma das categorias anteriores. Apesar de não permitir conclusões acerca da natureza da ausência de filhos – se é voluntária ou involuntária – a classificação indeterminada é importante neste trabalho. A razão mais imediata é reforçar que existe uma limitação grande da base de dados para a estimação de percentual de ausência voluntária e involuntária de filhos. Por não ser uma pesquisa específica sobre este tema, ainda que ela passe por essa questão e seja importante para uma exploração inicial, apenas uma pesquisa específica – preferencialmente qualitativa – seria capaz de fornecer insumos suficientes para uma classificação mais precisa dessas mulheres, que correspondem de 60% a 80% do total de mulheres que não tiveram filhos antes dos 30 anos ou nunca os tiveram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, J. E. D.; CAVENAGHI, S. M. Timing of childbearing in below replacement fertility regimes: how and why Brazil is different? In: INTERNATIONAL POPULATION CONFERENCE IUSSP, 26., 2009, Marrakech. Anais… Paris: IUSSP, 2009.

BERQUÓ, E.; GARCIA, S. Algumas considerações sobre a reprodução tardia. In: TURRA, C. M.; CUNHA, J. M. P. (org.). População e desenvolvimento em debate: contribuições da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Belo Horizonte: ABEP, 2012. p. 135-139.

HAKIM, C. Childlessness in Europe: research report to the Economic and Social Research Council. 2005.

MIRANDA-RIBEIRO, A.; RIOS-NETO, GARCIA, R. A. Anticipación y postergación de los nacimientos en la transición de la fecundidad en Brasil. Notas de Población (Impresa), v. 103, p. 29-43, 2016.

OLIVEIRA, M. C. F. A; MARCONDES, G. Maternidade precoce x tardia: mudança de padrão ou heterogeneidade?. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 19., 2014, São Pedro. Anais... São Pedro: ABEP, 2014.

2 Este intervalo de ausência definitiva e voluntária de filhos se aproxima da maior parte dos países europeus, que, em geral, apresentam valores abaixo de 10% (HAKIM, 2005).

Referências

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