• Nenhum resultado encontrado

A instituição de ensino superior e a escola pública. Intercâmbio necessário e urgente

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A instituição de ensino superior e a escola pública. Intercâmbio necessário e urgente"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)REVISTA DE EDUCAÇÃO. A INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR E A ESCOLA PÚBLICA INTERCÂMBIO NECESSÁRIO E URGENTE. Silvia Helena Dobre Moreira – Faculdade Anhanguera de Ribeirão Preto. RESUMO: O mundo, em inícios do século XXI, passou por uma imensa desarticulação ideológica, que incluiu uma enorme dissociação política e uma desigualdade social maciça. Frente a essas transformações radicais, as instituições de ensino superior ainda representam patrimônio intelectual, independência política e crítica social. Graças a essas características, as IES são as instituições mais bem preparadas para reorientar o futuro da humanidade. Para que as IES sejam um instrumento de esperança, entretanto, é necessário que elas ampliem e articulem suas ações na melhoria da escola pública de base. Isso significa compreender as dificuldades e as limitações deste ciclo de ensino, bem como formular uma nova proposta, novas estruturas e novos métodos de trabalho. Lutar pela defesa da escola pública significa lutar pela transformação da sociedade e acima de tudo permitir o cada indivíduo a possibilidade de formular e executar um projeto de vida.. PALAVRAS-CHAVE: Instituições de Ensino superior, escola pública de base, intercâmbios e possibilidades.. KEYWORDS: Institutions of higher education, public school-based, exchange and possibilities.. ABSTRACT: The world at the beginning of the century, has undergone a huge ideological articulation, which included a huge separation policy and massive social inequality. Faced with these radical changes, an institution of higher education still represents intellectual heritage, political independence and social criticism. Thanks to these features, the IES is the institution best prepared to redirect the future of humanity. For the IES is an instrument of hope, however, is necessary for them to step up and articulate their actions in the improvement of public school funds. This means understanding the difficulties and limitations of this cycle of education, and to formulate a new proposal, new structures and new working methods. Fighting for the defense of public education is to fight for the transformation of society and above all allow each individual the opportunity to formulate and implement a project of life.. Artigo Original Recebido em: 10/12/2012 Avaliado em: 04/06/2013 Publicado em: 30/05/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE rc.ipade@anhanguera.com v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53.

(2) A instituição de ensino superior e a escola pública : intercâmbio necessário e urgente. 1. INTRODUÇÃO O cenário político brasileiro atual passa por um processo de consolidação da democracia, no sentido de amenizar as desigualdades sociais e de ampliar os direitos fundamentais a todo o povo brasileiro. Neste contexto se insere a questão educacional que tem como referencial a democratização do acesso ao saber e à cultura, como condição para o exercício pleno da cidadania. Para o alcance desses objetivos, parte-se de uma visão crítica e realista do sistema educacional, que tem como função primordial o papel de transformação social, com o propósito de levar o indivíduo a um posicionamento crítico perante a sociedade. Essa nova proposta de “reformulação do saber” requer mudanças e mobilização de forças, compromissos e responsabilidades, nos quatro níveis de ensino (Educação Infantil, Ensino Básico, Ensino Médio e Ensino Superior). Assim as 1IES assumem um compromisso social, no sentido de que as camadas dos diferentes níveis de ensino se apropriem democraticamente do saber. Porém, sabemos que há um distanciamento entre o “querer” e o “realizar”, para tanto o objetivo deste estudo pautou-se na busca de caminhos que articulassem o trabalho das IES com a escola pública de base. Para iniciar nossas considerações partimos das seguintes indagações: — Como possibilitar uma convivência democrática entre Instituições de Ensino Superior e os Sistemas Estadual e Municipal de Ensino, para que juntos possam refletir sobre uma prática educacional voltada para mudança? — Como trabalhar para que a educação esteja a serviço da comunidade, produzindo conhecimento para um futuro mais humano da sociedade? Nossa hipótese é que a parceria entre universidade e escola pública, é condição sine qua non para o entendimento da Prática de Ensino como um eixo norteador curricular para a formação de professores. Se os procedimentos pedagógicos passarem por programas de atualização oferecidos pelas IES, o licenciando poderá perceber a realidade social de forma crítica e compreenderá como se estrutura a rede de relações estabelecidas no cotidiano escolar. O intercâmbio entre a universidade e a escola pública pode promover a construção dos espaços de democratização do conhecimento que atenderão as necessidades de ambas as instituições. A escola tem a oportunidade de refletir sobre seus limites e suas possibilidades perante seu compromisso em formar um aluno-cidadão. E a IES por sua vez, pode buscar respostas para os problemas enfrentados pela escola pública, e ao mesmo tempo, redirecionar a formação de tais professores e investir no professor pesquisador do cotidiano escolar. 1. 44. Utilizaremos a sigla IES para Instituição de Ensino Superior. Revista de Educação.

(3) Silvia Helena Dobre Moreira. Porém, acreditamos que a universidade e a escola ainda encontram-se em posições distantes entre as pesquisas realizadas sobre a escola e a dinâmica encontrada no cotidiano escolar. O tripé universitário “ensino, pesquisa e extensão” precisa de uma reestruturação na busca de um intercâmbio condizente com a realidade escolar. Assim, no primeiro capítulo discutiremos as possibilidades de articulação da IES com outros níveis de ensino, estabelecendo um fluxo vital de formação para o sistema como um todo. No segundo capítulo investigaremos o interesse das IES por outras questões sociais que afetam a problemática da educação básica brasileira. E por fim, apontaremos as reais possibilidades de interação entre as IES e a escola pública na missão de indicar caminhos que levem a melhoria da qualidade de ensino nas duas modalidades de ensino abordadas neste estudo.. 2. A PARTICIPAÇÃO DAS IES NA FORMAÇÃO E NO APERFEIÇOAMENTO DO EDUCADOR DA ESCOLA PÚBLICA DE BASE Considerando que o intercâmbio entre a IES e a escola deve ser um esforço contínuo e não ocasional de aproximação e de estreitamento de vínculos, que juntas trabalharão, em prol da descoberta de solução para os problemas do ensino, há a necessidade de inserção das IES na problemática de seu meio e o aperfeiçoamento das bases do Sistema Educacional, que se constituem na forma mais natural, justa e adequada de extensão das modalidades de ensino para além de suas fronteiras. A formação do professor deve ser encarada como um processo em que se integram a prática didática e o estudo, de modo continuado, numa dinâmica de constante reflexão e crítica sobre as bases teóricas, as metodologias e as experiências realizadas, buscando alternativas concretas para os impasses educacionais, neste cenário as IES tem por responsabilidade oportunizar essas dinâmicas transformadoras. Para GADOTTI (1998) o profissional da educação precisa ser um questionador da realidade que a ele se apresenta para então promover mudanças sociais. Vejamos as considerações do autor: É preciso ser desrespeitoso, inicialmente, consigo mesmo, com a pretensa imagem do homem educado, do sábio ou mestre. E é preciso desrespeitar também esses monumentos da pedagogia, da teoria da educação, não porque não sejam monumentos, mas porque é praticando o desrespeito a eles que descobriremos o que neles podemos amar e o que devemos odiar. [...]. Nessas circunstâncias, o educador tem a chance de repensar o seu estatuto e repensar a própria educação. O educador, ao repensar a educação, repensa também a sociedade. (GADOTTI, 1998, p. 71).. Assim, é preciso refletir sobre a urgência de criar-se nas escolas um ambiente que dê conta deste intercâmbio entre IES e escola para que as transformações sociais tornem-se concretas, pois é nessa sociedade que alunos e alunas vão interagir, e, quem sabe, como. v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53. 45.

(4) A instituição de ensino superior e a escola pública : intercâmbio necessário e urgente. idealizava Paulo Freire, provocar transformações que levem a um bem viver coletivo. A respeito dessa transformação que urge, GADOTTI (1998) nos diz: O homem faz a sua história intervindo em dois níveis: sobre a natureza e sobre a sociedade. O homem intervém na natureza e sobre a sociedade, descobrindo e utilizando suas leis, para dominá-la e colocá-la a seu serviço, desejando viver bem com ela. Dessa forma ele transforma o meio natural em meio cultural, isto é, útil a seu bem-estar. Da mesma forma ele intervém sobre a sociedade de homens, na direção de um horizonte mais humano. Nesse processo ele humaniza a natureza e humaniza a vida dos homens em sociedade. O ato Pedagógico insere-se nessa segunda tipologia. É uma ação do homem sobre o homem, para juntos construírem uma sociedade com melhores chances de todos os homens serem mais felizes. (GADOTTI, 1998, p. 81).. Comungamos com as palavras de GADOTTI (1998) quando o autor destaca o papel social de professores e professoras das IES e das escolas de base, no processo de intercâmbio entre ambas. Uma instituição não deve ser desvinculada da outra cabe a capacidade de articulação entre seus agentes buscar alternativas de trocas de experiências e saberes necessários para a construção de um mundo melhor. Diante das considerações resolvemos realizar uma coleta de dados, em uma escola de Ensino Fundamental da cidade de Sertãozinho, que denominaremos de X. Utilizaremos como instrumento de pesquisa um 2 questionário com cinco questões abertas relacionadas com o tema deste estudo. A escola X, possue em seu quadro docente 26 professores, que atuam no Ciclo I do Ensino Fundamental, ou seja, do primeiro ao quinto ano, de acordo com a nova nomenclatura prevista na LDB/96. São dez classes no período da manhã e mais dez no período da tarde, além de dez classes de reforço escolar que funcionam em horário contrário para atender alunos com dificuldades de aprendizagem. A rotatividade desses professores é baixa, pois pertencem ao quadro efetivo de professores tanto do estado como da prefeitura. Portanto, numa análise superficial podemos verificar que a escola no quesito corpo docente é um grupo fixo, juntos há mais de dez anos. Após, preparar o instrumento de coleta de dados, distribuímos para vinte e seis professores, sem expressar nenhuma opinião ou mesmo explicar as questões pois, optamos por uma coleta “limpa” de interferências, já que trabalhamos na mesma unidade escolar. Dezessete professores responderam o questionário e nove não devolveram o mesmo. Partiremos agora para a análise dos dados coletados. No quesito Formação, nove professores responderam que são formados em nível médio e superior e oito só passaram pela graduação. Apenas cinco são Pós-graduados. Destacamos que todos os professores graduaram na área de educação apenas uma professora é biomédica. O instrumento de coleta de dados indagava sobre a realização de cursos de capacitação, seis escreveram que realizaram capacitações e onze escreveram que não. Estes dados nos trouxeram preocupação diante da veracidade dos fatos. Como integrante do quadro de docentes da mesma escola X, verificamos que anualmente a Secretaria do Estado ou do 2 Em anexo. 46. Revista de Educação.

(5) Silvia Helena Dobre Moreira. Município da Educação oferece cursos de capacitação com profissionais do município, além dos cursos oferecidos pelo MEC em parceria com Universidades Federais e Estaduais, através de professores-capacitadores, assim chegamos a conclusão que esses professores não prestigiam programas de capacitação em serviço. Quando indagamos sobre a participação das IES no cotidiano da escola pública, doze professores escreveram que nunca presenciaram a interferência destas instituições no trabalho, sete professores citaram a presença dos estagiários, fato que dispensaremos um maior comentário, pois os professores esperam que os alunos das IES desenvolvam trabalhos na unidade escolar para que possam conhecer novas técnicas pedagógicas. Acreditamos ser essa espera equivocada já que os estagiários estão na unidade de ensino em busca de experiência. Apenas dois professores citaram que gostariam que as IES oferecessem cursos de capacitação. E dois professores mencionaram a divulgação de cursos no início dos semestres de cada ano letivo. A coleta de dados solicitou que os professores relatassem suas expectativas quanto ao trabalho das IES em sua unidade de ensino. Vejamos os itens mencionados: • Palestras para pais e professores; • Projetos aplicados pelos estagiários em sala de aula com foco em atividades lúdicas e nas disciplinas de Português e Matemática; • Oficinas, workshops e dinâmicas de grupo; e • Atuação dos estagiários no recreio dirigido. Ainda dentro desta temática, sete professores escreveram que não sabiam que tipo de trabalho esperar das IES, três não relataram nada. No último item indagamos sobre o conhecimento dos professores sobre a Responsabilidade Social das IES. Treze desconhecem qualquer trabalho social desenvolvido pelas IES e quatro surpreendentemente relataram que não queriam conhecer absolutamente nada, desenvolvido pelas IES. Neste ponto deparamos com um grande entrave. Mesmo que essa coleta de dados tenha um cunho de amostragem, revela de maneira assustadora o quanto as IES e a escola pública de base estão distantes entre si. Cada instituição de ensino seja lá em que instância for, depende de profissionais engajados numa permanente ânsia de aprimoramento em busca da qualidade de ensino tão esperada. E nessa busca nos deparamos com profissionais com mais de dez anos de carreira que simplesmente desconhecem ou desprezam a capacitação em serviço. Para embasarmos nosso apontamento citaremos o professor DEMO (2009) quanto às expectativas do mercado para o perfil do profissional da educação O desafio maior, em grande parte imposto pelo mercado prepotente, é renovar-se todo, todo dia nascer de novo, reinventar a profissão continuamente, enfrentar a roda viva da globalização competitiva ensandecida. Saber questionar, principalmente questionar-se, torna-se habilidade crucial. Como dizem alguns autores, cada estudante precisa tornar-se um designer, em especial, um designer de si mesmo, sempre em construção, desconstrução, reconstrução. (DEMO, 2009, p.47) v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53. 47.

(6) A instituição de ensino superior e a escola pública : intercâmbio necessário e urgente. Diante do exposto, reforçamos que o intercâmbio entre a IES e a escola pública começa a se dar a partir do momento que o professor enxerga na IES a possibilidade de se tornar um profissional capacitado e atualizado diante das novas competências e habilidades exigidas pela sociedade do século XXI. Mas e o papel das IES? Na coleta de dados podemos verificar que a falta de informação sobre a responsabilidade social destas instituições é grande. Foi desanimador constatar que a escola de base não sabe o que esperar e nem o que solicitar das IES para melhorar a qualidade de sua prestação de serviços. Atentemos, para as considerações do professor DEMO (2009) quanto ao papel das IES na transformação deste cenário. A universidade aprecia mudança, desde que controlada. Ou seja, não quer mudar, embora pregue a mudança. Esse farisaísmo é próprio do moralismo acadêmico, facilmente visível em docentes que exigem dos alunos o que jamais fariam pessoalmente, por exemplo, ser autores inequívocos. Com isso, a universidade tende a tornar-se uma das instituições mais rígidas do mundo de hoje, comparável ao fundamentalismo religioso: embora pretenda discutir tudo à sua volta, não permite ser discutida. Não está aí para mudar e ser mudada. Esta aí para comandar, controlar a mudança. (DEMO, 2009, p.50).. Como verificamos na coleta de dados, até que ponto o descaso pelo trabalho das IES não é resultado da ineficácia destas instituições em divulgá-los e empreendê-los? Vale lembrar que a todo o momento a mídia aponta os índices alcançados pelo Brasil no quesito educação e sempre ocupamos posições desastrosas. Claro que não desconsideraremos todos os quesitos que ajudam a compor esses números, mas ressaltaremos que a formação e a capacitação em serviço melhoram a qualidade do ensino como já demonstrado em outros países que adotaram essa prática. Para ampliarmos essa discussão inicial abordaremos a seguir as possibilidades de intercâmbio entre as IES e a escola pública de base para que encontremos um caminho que altere esse quadro desanimador levantado numa simples coleta de dados por amostragem.. 3. AS IES E A ESCOLA PÚBLICA – UM INTERCÂMBIO POSSÍVEL. Assim, que concluímos nossa análise sobre as expectativas que a escola pública de. base tem perante as IES, buscamos confrontar nossas considerações. Tarefa necessária diante das arestas que detectamos nesta difícil relação entre as duas instituições educacionais de maior peso na vida dos educandos e formandos brasileiros. Buscamos então, pesquisas e documentos que abordassem a questão do papel social das IES perante a escola pública de base. De início destacamos A universidade numa encruzilhada – do atual senador CRISTOVAM BUARQUE, realizado em parceria com dados coletados pela 3UNESCO no ano de 2003. Podemos então verificar que a preocupação com o intercâmbio das IES e as instituições de ensino nas diversas modalidades é uma preocupação internacional. 3. 48. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.. Revista de Educação.

(7) Silvia Helena Dobre Moreira. Portanto, multiplicaremos neste estudo a citação que nos aponta esta “encruzilhada” tão “recheada” de verdades que num amplo esforço nacional, nós educadores da atualidade precisaremos buscar formas de enfrentá-las e modificá-las, caso contrário correremos os risco de permanecer como nação sub-desenvolvida. Vejamos O século XXI chegou, e já existe uma massa crítica consolidada, pronta a seguir adiante, embora depredada e desanimada; disposta a lutar, apesar da baixa autoestima; pronta a enfrentar situações de emergência, mesmo sabendo que a crise é mais profunda, atingindo o propósito, a estrutura, os métodos operacionais e o financiamento da atividade universitária. E o que é mais importante, chegamos ao início do século XXI com um governo comprometido com a educação, ainda que sem recursos suficientes para atender a toda a demanda. Sobretudo, estamos vivendo um momento único na história, quando a sociedade brasileira parece ter despertado para a importância da educação, mesmo que não confiando no papel da universidade, que o povo vê como uma entidade de acadêmicos aristocráticos em meio ao mar do baixo nível educacional da população.[...] A universidade, neste início do século XXI, deixou de ser a vanguarda do conhecimento, tendo perdido também a capacidade de assegurar um futuro exitoso a seus alunos. Ela deixou de ser um centro de disseminação do conhecimento, e não é mais usada como instrumento na construção de uma humanidade coesa. A universidade flutua em meio às correntes da globalização, e corre o risco de um naufrágio ético, caso aceite a imoralidade de uma sociedade cindida. (BUARQUE, 2003, p.5 – p.8). O documento emite um alerta desconcertante e por isso procurar caminhos para melhorar a comunicação entre IES e escola pública de base é imprescindível. O privilégio de apontar esse descompasso não foi nosso. Há uma preocupação geral entre pesquisadores e educadores em fazer com que as IES transponham seus muros e façam a diferença. A necessidade de promover um debate mais qualificado destas questões educativas obriganos a pensar nossas próprias maneiras de trabalhar, nossos deveres e responsabilidades. Pois, entre os diretores das IES e os diretores da escola pública de base, poucos são os que podem reunir seu corpo docente, a fim de discutir e construir, conjuntamente, uma proposta pedagógica para o grupo. Isso também significa que os professores não estão disponíveis para receber capacitação adicional em seu local de trabalho. Isto é fato. A situação do magistério da educação básica no Brasil é preocupante e altamente complexa. Vincula-se diretamente à vontade política, centrada no reconhecimento social da educação básica como prioridade nacional e no restabelecimento do papel social e pedagógico do professor como agente precípuo do processo de mudança educacional. Não há dúvida quanto à relação existente entre uma educação de qualidade e qualidade dos educadores. Vale dizer que somente com professores competentes, conscientes da sua missão pública e valorizados social e profissionalmente, será possível dar efetividade à educação básica de boa qualidade para todos. Esse entendimento é fundamental e está na raiz de qualquer tentativa de mudança no quadro atual da educação nacional. (BRAULT,1994, p.7).. Diante desse quadro, sugerimos que as IES devam oferecer uma formação voltada para o objetivo de construir um país mais igualitário. Para isso faz-se necessário que essas instituições se envolvam, também, nos compromissos sociais imediatos da sociedade brasileira, como a alfabetização de jovens e adultos, por exemplo. E o único caminho, é atrelando suas pesquisas ao fazer pedagógico real da escola pública de base. v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53. 49.

(8) A instituição de ensino superior e a escola pública : intercâmbio necessário e urgente. Mas as ações que as IES resolverem implementar só sortirão resultados se os professores concluírem que seus métodos de ensino têm de incorporar as diferentes e imensas possibilidades tecnológicas disponíveis no meio acadêmico, desta maneira ajudariam a ampliar o número de alunos atendidos pela escola pública de base contribuindo para que a mesma se torne um local agradável e que inspire a permanência do aluno. Os professores devem aceitar [...] o risco de ser professores num tempo em que o conhecimento muda a cada instante, exigindo dedicação para acompanhar as mudanças contínuas de novas maneiras de conhecer, por mais efêmeras que sejam. (BUARQUE, 2003, p.42). 3.1. Intercâmbios necessários e urgentes: como fazer? “O pensamento simples resolve os problemas simples, sem problemas de pensamento.” (Edgar Morin). Acreditamos que as ações para ampliar o intercâmbio entre IES e escola pública de base não demandam tanta complexidade, começar por ações simples e numa escalada ascendente resultará numa significativa melhoria nessa tão esperada parceria. Na cidade de Sertãozinho há oito instituições de ensino superior e trinta e cinco unidades escolares públicas: nove creches, treze 4ues de Ensino Infantil e treze ues de Ensino Fundamental e noves ues de Ensino Médio. Não citaremos a ues particulares, pois, priorizamos a escola pública neste estudo. São números consideráveis. O contingente de professores de educação básica que atuam no município é de aproximadamente oitocentos docentes, dados coletados no site da Prefeitura Municipal do citado município. Ainda, vale a pena considerar o número de professores que atuam no Ensino Médio, podemos estimar: são doze disciplinas em cada ano de estudo, as escolas têm um padrão de construção com doze salas de aula cada uma, então para atender esta demanda cada escola tem em média sessenta professores em seu quadro. Assim, chegamos a um número estimado de quinhentos e quarenta professores. Se juntarmos o número de professores de cada modalidade aqui citada chegaremos a um número aproximado de mil trezentos e quarenta professores atuando no ano letivo de 2009 neste município. Sem dúvida nenhuma, é um número expressivo e as IES não podem desconsiderar levando em conta a necessidade de atualização constante que todo profissional necessita para atuar no mercado de trabalho. Que medidas então as IES devem adotar para promover a aproximação e a formação que tanto contribuirão para a melhoria da qualidade de prestação de serviço de ambas instituições? Segundo, BRAULT (1994) podemos indicar as seguintes ações: 4. 50. Lê-se unidade escolar.. Revista de Educação.

(9) Silvia Helena Dobre Moreira. 1. fortalecer os centros de formação docente, elevando o nível de seus formadores; 2. aproveitar as capacidades dos institutos de formação docente para o aperfeiçoamento; 3. estabelecer centros e mecanismos de intercâmbio de informações sobre inovações em diferentes áreas; 4. facilitar as instâncias de aprendizagem em oficinas e grupos docentes; 5. desenvolver um aperfeiçoamento relacionado com as necessidades pedagógicas em cada escola; 6. fortalecer as capacidades de refletir sobre sua prática e processar as informações obtidas; 7. enfatizar um aperfeiçoamento docente fundamentado no critério de aprender a aprender; 8. fomentar a participação dos Ministérios nacionais e províncias (equivalente às Secretarias Estaduais de Educação) na definição do perfil profissional dos futuros docentes e promover a avaliação dos centros de formação docente. (BRAULT, 1994, p.67) Sugerimos assim, que os coordenadores de curso das IES e das escolas públicas de base desencadeiem um processo de estudo e discussões, com o auxílio de outros especialistas das instituições, para que juntos encontrem meios de colocar em prático esse intercâmbio tão necessário. Estes especialistas poderão colaborar na integração do pedagógico com o específico. Desta forma os professores das escolas públicas de base serão convidados a trazerem suas questões fundamentais, que reflitam a realidade da sala de aula, possibilitandose assim, um enriquecimento da escola como um todo. Esperamos que sejam percebidas e explicitadas as necessidades reais e objetivas de cada instituição, ou seja, as IES precisam oferecer um estágio de qualidade aos formandos e em contra partida a escola pública de base oportuniza a observação da competência de seus professores. Estender convites para a escola pública de base para que se inscrevam em cursos, seminários, palestras que a própria IES venha a organizar, aproveitando o potencial que certamente existe nestas instituições, ou ainda através de outras organizações. E a escola pública de base crie espaços para que a IES possa coletar dados, aplicar e experimentar teorias e etc. Portanto, salientamos que propor programas específicos, em nível estadual e municipal, é fundamental para ampliar e implementar um intercâmbio que gere um trabalho em cooperação — educação pública-IES —, favorecendo o desenvolvimento de propostas inovadoras, as quais, por não estarem diretamente vinculadas a um projeto político particular, mas a projetos acadêmicos de docentes ou das próprias IES, podem se tornar estáveis.. v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53. 51.

(10) A instituição de ensino superior e a escola pública : intercâmbio necessário e urgente. Parece, pois, que a cooperação na esfera municipal, das instituições educacionais citadas neste estudo, constitui um caminho promissor porque a proximidade e a demanda a ser atendida são viáveis e ao que tudo indica e passível de realização. Ampliar o debate e alargar o número de parceiros consolida posições há tantas décadas defendidas pelos mais diversos representantes da sociedade civil organizada.. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar do contexto desfavorável, apontado neste estudo a escola pública de base e as IES podem empreender ações que possibilitem a inversão desse cenário. Nesse sentido, essa tão urgente parceria, além de proporcionar condições aos estagiários que ali se encontram com a esperança de compreender o seu papel crítico/social no magistério e as ações e reflexões necessárias para a tentativa de mudança, carregam consigo a possibilidade de renovação essencial para os professores necessitados de esperança em tempos de desânimo e descrença. Para salientar a importância dessa tão esperada parceria, partiremos do entendimento da prática de ensino como um eixo norteador para a formação e capacitação de professores. Por intermédio dos “fazeres pedagógicos”, os alunos das IES poderão observar a realidade social de forma crítica e compreenderão a rede de relações estabelecidas no cotidiano escolar e em contrapartida os professores da IES terão oportunidade de experimentar suas teorias num campo vasto para a pesquisa onde as ocorrências pedagógicas acontecem. Portanto, consideramos importante entender o espaço escolar não apenas como um laboratório de experiências práticas para a formação de professores sem qualquer embasamento teórico, mas como um espaço de vivências do trabalho pedagógico que busca reflexão e superação dos problemas enfrentados no contexto escolar no andamento de suas tarefas. A parceria entre as IES e a escola pública de base pode contribuir para a implementação de espaços para a multiplicação do conhecimento que vão ao encontro das necessidades de ambas instituições. Assim, escola tem a possibilidade de repensar seus limites e suas possibilidades diante do compromisso em formar um aluno pleno, além de oferecer às IESs questões de estudo do cotidiano escolar. E a IES por sua vez, pode buscar as respostas para os problemas enfrentados pela escola pública, e ao mesmo tempo, redirecionar a formação de seus futuros professores e investir no professor pesquisador do cotidiano escolar. Porém, a hierarquização do conhecimento proporciona também uma forte barreira entre as instituições citadas. É comprovada a enorme dificuldade que o professor da escola pública de base tem em participar de cursos, palestras e discussões em sua área de estudo. Os baixos salários e a consequente necessidade de diversos empregos e o preconceito acadêmico existente entre os grupos citados, dificultam esse intercâmbio. Nesse sentido, perdemos a. 52. Revista de Educação.

(11) Silvia Helena Dobre Moreira. oportunidade da troca de experiências e estudos que proporcionariam aproximações entre as instituições. Nesse aspecto, a prática de ensino ao longo de décadas vem contribuindo para essa desejada parceria por meio dos estágios supervisionados que propiciam um intercâmbio indispensável para ambas às instituições. Convocamos assim, os agentes deste estudo a buscarem caminhos e alternativas que diminuam as distancias entre as duas instituições de ensino mais importantes na vida do indivíduo que busca constantemente meios para a construção de um projeto de vida que o leve a realizar sonhos e a reconstruir seu entorno social para o melhor.. REFERÊNCIAS AGUIAR, Márcia Ângela. Institutos Superiores de Educação na nova LDB. In: BRZEZINSKI, Iria (org.). LDB interpretada: Diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997. BEISIEGEL, Celso - Ensino Público e Educação Popular, Rio de Janeiro, 1984. BRAULT, Michel. A Formação do professor para a Educação Básica : perspectivas / tradução Joaquim Osório Pires da Silva. — Brasília: MEC/UNESCO; 1994. BUARQUE, Cristovam. A Universidade numa encruzilhada. Brasília: Ministério da Educação/ UNESCO, 2003. CARBONARI NETTO, Antonio. CARBONARI, Maria Elisa Ehrhardt. DEMO, Pedro. A cultura da Anhanguera Educacional: as crenças e valores, o bom professor, a pesquisa e a avaliação institucional como instrumento de melhoria da qualidade. Valinhos, SP : Anhanguera Publicações, 2009. GADOTTI, Moacir. A Educação contra a Educação - Rio de Janeiro - Paz e Terra, 1981. ________________ . Pedagogia da práxis. São Paulo, Cortez,1998. ________________ . Revisão Crítica do Papel do Pedagogo na Atual Sociedade - Educação e Sociedade, São Paulo, Setembro, 1978. PREFEITURA MUNICIPAL DE SERTÃOZINHO – São Paulo. Disponível em : <http:// www. sertaozinho.sp.gov.br. Acesso em: 17 out. 1998. RIBEIRO, Darcy. A Universidade necessária - Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981. ______________. A formação do profissional da educação no contexto da reforma educacional brasileira. In: FERREIRA, Naura S.C. (org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade. São Paulo: Cortez, 1999. SAVIANI, D. Educação: Do senso comum à consciência filosófica. São Paulo; Campinas: Cortez/ Autores Associados, 1980. ____________. Uma estratégia para a reformulação dos cursos de pedagogia e licenciatura: Formar o especialista e o professor no educador. Em Aberto no 8. Brasília, ano 1, ago. 1982.. v.14 • n.18 • 2011 • p. 43 - 53. 53.

(12)

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Na Tabela 21 são apresentados os valores de degradação de todas as amostras de argamassa de revestimento confeccionadas com Votomassa, com adição de dióxido de titânio na

Após a utilização da história em quadrinhos e a sua leitura em sala de aula, os alunos receberam uma apostila simples como observaremos na próxima pagina na figura 11, contendo

Nos anos destinados à educação infantil, as crianças precisam desenvolver algumas capacidades, entre elas: • desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez

Os interessados em adquirir quaisquer dos animais inscritos nos páreos de claiming deverão comparecer à sala da Diretoria Geral de Turfe, localizada no 4º andar da Arquibancada

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

utilizada, pois no trabalho de Diacenco (2010) foi utilizada a Teoria da Deformação Cisalhante de Alta Order (HSDT) e, neste trabalho utilizou-se a Teoria da

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o