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Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão

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Academic year: 2021

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(1)Encontro. Revista de Psicologia Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011. ENSAIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM SEGUNDO A PSICOGÊNESE O papel da escola em discussão. Nilson Robson Guedes Silva Faculdade Anhanguera de Limeira. RESUMO. nilson.guedes@aedu.com. Utilizando as contribuições de Jean Piaget, aborda a concepção de desenvolvimento e de aprendizagem segundo a Psicogênese. Para a discussão do papel da escola, aborda alguns 'pontos' relevantes da teoria piagetiana, tais como a maturação, a experiência física sobre os objetos, a experiência social, a equilibração, as etapas do desenvolvimento cognitivo e as etapas do desenvolvimento da moral. Palavras-Chave: educação; teorias da aprendizagem; psicogênese; papel da escola.. ABSTRACT Using the contributions of Jean Piaget, it addresses the concept of development and learning according to Psychogenesis. For a discussion of the school paper, discusses some relevant ‘points’ in Piagetian theory, such as maturation, physical experience of objects, social experience, balancing the stages of cognitive development and the stages of moral development. Keywords: education; theories of learning; Psychogenesis; role of school.. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 06/10/2011 Avaliado em: 25/03/2012 Publicação: 04 de maio de 2012. 89.

(2) 90. Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão. 1.. INTRODUÇÃO Piaget não é nem nativista, nem empirista, mas antes interacionista. O conhecimento, a seu ver, desenvolve-se durante um longo processo de relacionar novas idéias e atividades às anteriores. A chave para o estudo do conhecimento, segundo acredita, é uma abordagem do desenvolvimento. (PULASKI, 1980, p. 16). Jean Piaget: Biólogo, professor e estudioso de Psicologia, Sociologia, Filosofia e, especialmente, grande pesquisador no campo da epistemologia, estudou o pensamento infantil com a intenção de descrever a natureza e o funcionamento da inteligência. Sua teoria busca responder como o homem constrói o conhecimento sendo que, em sua época, duas correntes teóricas se propunham a explicá-lo: a corrente inatista e a corrente empirista. De um lado, os inatistas, também denominados racionalistas, defendiam que o conhecimento somente poderia ser alcançado pelo exercício da razão pura, ou seja, através de um trabalho interno. Para essa corrente teórica, o conhecimento era tido como fruto do exercício da razão pura. Essa concepção pressupõe que os eventos ocorridos após o nascimento não são importantes e/ou essenciais para o desenvolvimento. O ser humano, ao nascer, já traz consigo suas qualidades e capacidades técnicas sofrendo, ao longo de sua existência, pouca transformação. Já os empiristas afirmavam que o conhecimento lógico era adquirido, ou seja, o conhecimento ocorria de fora para dentro, dando essa corrente origem ao Behaviorismo. Os empiristas atribuem um imenso poder do ambiente no que se refere ao desenvolvimento humano. Para eles, o homem desenvolve-se em função das condições em que se encontra o meio em que vive. Piaget, inserido nesse contexto, não só discorda das duas posições, como propõe uma terceira possibilidade: o conhecimento, ou, o pensamento lógico, não é nem inato e nem adquirido, ele é construído, e essa construção ocorre através da interação entre a experiência sensorial e o raciocínio. Surge aí, enquanto um marco científico, o interacionismo, o qual defende que a relação do sujeito com o objeto é fundamental, mas não suficiente para o processo de conhecimento. Não basta o contato com as coisas do mundo e nem apenas a ação do sujeito sobre o objeto; é preciso uma ação interna do indivíduo, é necessária uma reflexão sobre a sua ação, um processo interno de elaboração. A partir desse entendimento, Piaget propõe, enfim, uma síntese entre o inatismo e o empirismo.. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(3) Nilson Robson Guedes Silva. 91. Para o autor, a criança nasce “...equipada com uma série de reflexos entre os quais estão os ligados à gustação, ao tato, à visão, à audição etc. Utilizando esse equipamento inato, ela começa sua adaptação ao mundo” (CÓRIA-SABINI, 1991, p. 63). Como exemplo de reflexos inatos, pode-se citar o reflexo da sucção (se o bico do seio ou da mamadeira tocar os lábios do bebê, este, imediatamente, começará a sugar, obtendo a alimentação) e o reflexo de preensão (quando um objeto entra em contato com a palma da mão do bebê ele, imediatamente, fecha os dedos sobre ele). A partir desses reflexos inatos é que ocorre o processo de desenvolvimento da criança. Sua grande questão era desvelar com se processa a passagem, no indivíduo, de uma lógica elementar para uma lógica mais elaborada. Como ocorre esse processo em uma criança que, em um dado momento, pensa de certa forma sobre algo e, pouco depois, já pensa de maneira diferente, o que comprova uma evolução que Piaget se propõe a desvelar. Preocupado com o interior do sujeito (psicogênese), ele descreve a origem do pensamento lógico olhando para o indivíduo.. 2.. DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento psíquico, que começa quando nascemos e termina na idade adulta, é comparável ao crescimento orgânico: como este, orienta-se, essencialmente, para o equilíbrio. Da mesma maneira que um corpo está em evolução até atingir um nível relativamente estável, -caracterizado pela conclusão do crescimento e pela maturidade dos órgãos-, também a vida mental pode ser concebida como evoluindo na direção de uma forma de equilíbrio final, representada pelo espírito adulto. (PIAGET, 1967, p. 11). Piaget defende que o desenvolvimento humano é explicado por quatro fatores: a) Maturação. b) Experiência física sobre os objetos. c) Experiência social. d) Equilibração. Dentre esses fatores, o que marca sua idéia é o fator que, segundo ele, coordena todo o processo de desenvolvimento humano: a equilibração. Para o autor, o processo de desenvolvimento, que é baseado nesses fatores, é universal, ou seja, ele é igual para todos, variando apenas os conteúdos culturais. Herda-se apenas a estrutura biológica que se constitui na base para as estruturas mentais, sendo o homem um organismo que amadurece com múltiplas possibilidades, fornecendo o estímulo para esse processo. Não aceitando a idéia de estímulo e resposta, afirma que entre um e outro existem variáveis intervenientes que são os esquemas, as estruturas mentais. A estrutura. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(4) 92. Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão. determina como o indivíduo vê a realidade, como ele vai agir sobre essa mesma realidade. Sua função é servir de mediação entre o indivíduo e o mundo. A tendência do organismo é adaptar-se ao ambiente sendo que, nesse mesmo ambiente, ele passa por situações que provocam um conflito cognitivo, ou seja, um desequilíbrio. É nesse ambiente social que as idéias do sujeito sobre determinadas coisas são, a todo o momento, checadas, questionadas. Nesse processo, o ambiente acaba criando um processo de desequilíbrio que obriga o organismo a buscar uma nova forma de adaptação, através de uma reorganização. Dessa forma, através de constantes desequilíbrios e equilibrações é que ocorre o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. O surgimento de uma nova possibilidade para o indivíduo (orgânica), ou, ainda, a mudança de algo do meio ambiente rompe com a harmonia entre o organismo e o meio, provocando o desequilíbrio. Piaget (1967, p.14) afirma que, a cada instante, [...] a ação é desequilibrada pelas transformações que aparecem no mundo, exterior ou interior, e cada nova conduta vai funcionar não só para restabelecer o equilíbrio, como também para tender a um equilíbrio mais estável .... Para o alcance de um novo estado de equilíbrio, denominado de equilíbrio majorante, são acionados dois mecanismos: a assimilação e a acomodação. O processo de incorporar as transformações e/ou os objetos do meio aos esquemas mentais já desenvolvidos no indivíduo é chamado de assimilação. Através da assimilação “... o organismo – sem alterar suas estruturas - desenvolve ações destinadas a atribuir significações a partir da sua experiência anterior aos elementos do ambiente com o qual interage” (DAVIS; OLIVEIRA, 1995, p. 38). Pulaski (1980, p. 23) afirma que “a assimilação é o processo de entrada, seja de sensações, alimento ou experiência”. Nesse entendimento, a assimilação é tida como o processo pelo qual se dá a incorporação de novos conhecimentos (coisas, idéias, preferências, costumes) à atividade do sujeito. O ato de o organismo ser levado a se modificar, a se transformar para se adaptar novamente ao meio é chamado de acomodação, ou seja, a acomodação descreve o processo de mudança, a partir das informações e dos objetos, dos esquemas mentais já desenvolvidos. Esse processo é dinâmico e as funções de assimilação/acomodação ocorrem ao mesmo tempo. Discorrendo sobre o assunto, Piaget (1967, p. 15) afirma que “... assimilando assim os objetos, a ação e o pensamento são compelidos a se acomodarem a. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(5) Nilson Robson Guedes Silva. 93. estes, isto é, a se reajustarem por ocasião de cada variação exterior. Pode-se chamar ‘adaptação’ do equilíbrio destas assimilações e acomodações”.. 3.. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO [...] na formação do professor, é indispensável um conhecimento aprofundado de Psicologia do Desenvolvimento. Munido desse tipo de conhecimento, o professor poderá não só adequar melhor o conteúdo a ser ensinado em cada fase do desenvolvimento, como também utilizar o máximo possível o potencial do qual a criança dispõe nos diferentes estágios. [...] Enfatiza-se no modelo piagetiano a necessidade de um professor comprometido com a construção do conhecimento, o que acorre através da ação do aluno sobre o material a ser aprendido. (SÃO PAULO, 1990, p. 54). Conforme se vê, Piaget coloca o desenvolvimento como um processo de sucessivas equilibrações. Porém, embora seja contínuo, esse processo passa por diversas etapas sendo que, em cada uma delas, é definido “...um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas” (DAVIS; OLIVEIRA, 1995, p. 39). Para o autor, são as seguintes as etapas por que passa o desenvolvimento: a) Sensório-motora. b) Pré-operatória. c) Operatório-concreta. d) Operatório-formal.. 3.1. Etapa sensório-motora Esta etapa vai do nascimento até por volta dos vinte e quatro meses. Chamada de inteligência prática, essa é uma etapa extremamente rica, uma vez que as conquistas realizadas nela é que preparam a possibilidade da criança falar. Esse estágio é marcado pela construção do mundo real, pela percepção e pela ação. A partir de reflexos inatos é que a criança começa a construir os esquemas sensório-motores. Com as experiências, os esquemas vão se modificando, tornando-se cada vez mais complexos, dando “... origem a esquemas conceituais, modos internalizados de agir para conhecer, que pressupõem pensamento” (DAVIS; OLIVEIRA, 1995, p. 40). A criança, nessa idade, resolve seus problemas baseando-se exclusivamente em seus sentidos e esquemas motores, que são essencialmente práticos. A criança não consegue, ainda, representar eventos, evocar o passado e referir-se ao futuro. Destaca-se nessa fase a construção, pela criança, da noção do “eu”, onde diferencia o mundo externo do seu próprio corpo. Há três conceitos fundamentais na etapa sensório-motora: Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(6) 94. Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão. a) Conceito de Objeto: Ao nascer, a criança não tem clareza de que há objetos e constrói essa noção nesse período. b) Conceito de Objeto Permanente: Constrói esse conceito por volta dos nove meses. Embora não veja o objeto, sabe que ele existe. c) Conceito de Causalidade: A concepção de causalidade começa a ser construída, possibilitando novas formas de ação prática para lidar com o meio. Ela descobre que os objetos do mundo interagem e causam efeitos entre si.. 3.2. Etapa pré-operatória Iniciando-se por volta dos dois anos e indo até, aproximadamente, os sete, a etapa préoperatória permite à criança ter os esquemas representativos ou simbólicos. Ela torna-se capaz, através dos esquemas existentes nesta fase, de ter uma idéia pré-existente a respeito de algo. Seu pensamento é capaz de ações interiorizadas, ações mentais. Dentre seus pontos essenciais, destacam-se os seguintes: 1) introdução à linguagem; 2) a introdução à moralidade – noção de certo/errado, mundo dos valores; 3) o desenvolvimento do egocentrismo, onde a criança tem dificuldade em perceber o ponto de vista do outro. Essa característica é tão presente nessa fase que ela também recebe o nome de pensamento egocêntrico, onde o ponto de referência é a própria criança; 4) o animismo, que indica que a criança atribui aos animais e às coisas sentimentos e intenções do ser humano, o antropomorfismo, onde é atribuído aos animais e objetos forma humana; e 5) a transdedutividade onde: [...] ao invés de partir de um princípio geral para entender um ato particular – como se faz na dedução – ou de um aspecto particular para compreender o seu princípio geral de funcionamento – como no caso da indução -, a criança parte do particular para o particular (DAVIS; OLIVEIRA, 1995, p. 42).. Para Piaget, a criança nessa fase ainda não tem noção de conservação. Para a criança pré-operatória quando se muda a aparência do objeto, também são mudados o peso, a passa, o volume e a quantidade. Isso denota que, para ela, as ações não são, ainda, reversíveis. Falta-lhe, para essa compreensão, a operação da reversibilidade: ela não percebe que é possível, mentalmente, retornar a ação ao ponto de partida.. 3.3. Etapa operatório-concreta Nessa fase, que inicia-se por volta dos sete anos, a criança faz uso da capacidade operatória em objetos que pode manipular. Ela somente consegue pensar de forma correta se os materiais ou exemplos que utiliza para pensar são, de fato, reais e podem ser observados. Não é, ainda, capaz de. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(7) Nilson Robson Guedes Silva. 95. pensar abstratamente com base em proposições e enunciados, o que somente ocorrerá no período operatório-formal. Há preponderância, nessa etapa, do pensamento lógico, objetivo. Supera-se, em sua percepção, o fantástico, prevalecendo o real. Ela torna-se capaz de construir um conhecimento mais compatível com o seu mundo.. 3.4. Etapa operatório-formal A criança, na etapa operatório-formal, que se inicia por volta dos doze anos e vai até os 16 (aproximadamente), liberta seu pensamento da realidade concreta. Ela torna-se capaz de trabalhar com hipóteses, de raciocinar logicamente, mesmo se o conteúdo de seu raciocínio for falso. Segundo Davis e Oliveira, [...] uma vez de posse dessa faculdade de produzir e operar com base em hipóteses, é possível derivar dela todas as conseqüências lógicas cabíveis. A construção típica da etapa operatório-formal é, assim, o raciocínio hipotético-dedutivo: é ele que permitirá ao adolescente estender seu pensamento até o infinito. (1995, p. 45). Ao chegar nessa fase atinge-se o grau mais complexo do desenvolvimento cognitivo.. 4.. O DESENVOLVIMENTO DA MORAL À medida que a criança cresce, a submissão de sua consciência à consciência adulta parece-lhe menos legítima, e salvo os casos de desvios morais propriamente ditos, que são constituídos pela submissão interior definitiva (os adultos que continuam crianças por toda a vida) ou pela revolta durável, o respeito unilateral tende, por si mesmo, ao respeito mútuo e à relação de cooperação à qual constitui o equilíbrio moral. (PIAGET, 1977, p. 280). Para Piaget, o desenvolvimento do juízo moral também ocorre por etapas onde, em determinado momento, há uma superação da fase anterior, um salto de qualidade, seguindo a mesma lógica do desenvolvimento intelectual. O autor apresenta a existência de duas fases por que passa o desenvolvimento moral: a) a heteronomia; b) a autonomia:. Heteronomia Esta fase se dá, aproximadamente, por volta dos seis aos dez anos de idade. Ela se traduz pelo que o autor chama de realismo moral, apresentando o mesmo três características:. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(8) 96. Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão. 1) é considerado bom todo ato que revela uma obediência às regras ou aos adultos que as impuseram; 2) é ao pé da letra, e não no seu espírito, que as regras são interpretadas; 3) há uma concepção objetiva da responsabilidade, ou seja, julga-se pelas conseqüências e não pela intencionalidade daqueles que agiram. (LA TAILLE, 1992, p. 51). As crianças interiorizam as normas dos pais e/ou as da sociedade, baseando-se na autoridade, no respeito do inferior ao superior. As relações sociais, nesse período, são coercitivas, impostas de fora.. Autonomia Nessa fase, que se inicia, aproximadamente, a partir dos dez anos, a moral alcança seu nível mais avançado. Está baseada na reciprocidade. Aqui, as relações sociais são cooperativas, “...nascem no interior do indivíduo como produto da comunhão de idéias e sentimentos entre parceiros. Baseiam-se na igualdade e no respeito mútuo” (FARIA, 1989, p. 120). Os indivíduos situam-se em relação aos outros, sem fazê-los suprimir ou abandonar seus pontos de vistas particulares.. 5.. TEORIA PSICOGENÉTICA E APRENDIZAGEM ESCOLAR O papel que a teoria genética irá desempenhar na psicologia da educação deverá se inscrever em uma concepção que não considere os processos de ensino-aprendizagem com um simples campo de aplicação, mas como um objeto de estudo com características próprias. (COLL, 1992, p. 194). O trabalho de Jean Piaget exerceu, e ainda exerce, uma grande influência na aprendizagem escolar. São várias as aplicações da teoria do autor na aprendizagem escolar. Coll (1992), considerando os aspectos do processo ensino-aprendizagem, apresenta-nos cinco exemplos de aplicações educacionais da teoria genética, os quais são descritos seqüência: a) A teoria genética e o estabelecimento dos objetivos educacionais: O autor aponta como idéia básica dessa aplicação a proposta de se colocar o desenvolvimento como o objetivo fundamental da aprendizagem educacional. b) As provas operatórias e a avaliação das possibilidades intelectuais dos alunos: Aqui, são utilizadas provas operatórias (situações experimentais ou tarefas utilizadas para se estudar a gênese da competência operatória) para se avaliar as possibilidades intelectuais que o aluno apresenta para a assimilação de determinados conteúdos. c) As noções operatórias como conteúdo da aprendizagem escolar: Em resumo, busca-se, através de tarefas de aprendizagem operatória (pelo ensino das noções básicas do pensamento), o favorecimento da competência intelectual do aluno. d) A teoria genética e a seleção dos conteúdos da aprendizagem escolar: O Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(9) Nilson Robson Guedes Silva. 97. autor coloca, como proposta dessa aplicação, a análise dos “... conteúdos escolares para determinar sua complexidade estrutural e definir as competências operatórias necessárias para sua assimilação” (COLL, 1992, p. 183). e) A teoria genética e a elaboração de uma psicopedagogia dos conteúdos específicos da aprendizagem escolar: Para que os conteúdos escolares sejam adequados aos níveis de construção psicogenética, torna-se necessário o conhecimento do caminho percorrido pelo aluno para a construção dos conhecimentos específicos. O autor ainda afirma ser conveniente, para essa aplicação, “...conhecer os procedimentos pelos quais o aluno vai se apropriando progressivamente destes conteúdos, se desejamos intervir eficazmente em sua aquisição” (Idem, p. 185). f) A teoria genética como fonte de inspiração de métodos de ensino: Para elaborar propostas relativas à metodologia didática, essa aplicação baseiase na concepção construtivista de conhecimento proposto pela teoria genética.. 6.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme se observa, a teoria psicogenética influenciou o dia-a-dia do trabalho realizado nas Unidades Escolares. Alguns, utilizando-se de forma abusiva da teoria, provocaram uma grande confusão nos sistemas de ensino. Pode-se utilizar como exemplo de utilização precipitada da teoria, a “implantação” do construtivismo, na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, da década de 80. Muitos professores dessa rede de ensino, sem conhecimento da Psicologia do Desenvolvimento, segundo a perspectiva de Jean Piaget, eram orientados para a aplicação da teoria e em muito contribuíram para a desqualificação do ensino nesse período. Outros, mais cautelosos, beneficiaram-se das pesquisas desenvolvidas por Jean Piaget para tornar o trabalho escolar mais produtivo. Compreendendo melhor como se dava o desenvolvimento mental das crianças, segundo a teoria psicogenética, organizavam seu trabalho na busca de atividades que despertassem o interesse das crianças e, ao mesmo tempo, pudessem contribuir para que a escola cumprisse com sua função principal: oferecer um ensino de qualidade. Independentemente de se concordar ou não com o trabalho desenvolvido por Jean Piaget no campo da Psicologia da Aprendizagem, não se pode negar que a teoria psicogenética representou um marco na história da humanidade rompendo, em sua época, com o que se entendia por desenvolvimento do ser humano. Para finalizar essa discussão, apresenta-se a perspectiva que Coll (1992, p. 194) dá para o papel que a teoria genética poderá desempenhar na psicologia da educação: ela “... deverá se inscrever em uma concepção que não considere os processos de ensino-. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

(10) 98. Ensaio sobre o desenvolvimento e a aprendizagem segundo a psicogênese: o papel da escola em discussão. aprendizagem como um simples campo de aplicação, mas como um objeto de estudo com características próprias”.. REFERÊNCIAS COLL, César. As contribuições da Psicologia para a educação: teoria genética e aprendizagem escolar. In: LEITE, Luci Banks (Org.). Piaget e a Escola de Genebra. São Paulo: Cortez, 1992. CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida. Fundamentos de psicologia educacional. São Paulo: Editora Ática S/A, 1991. DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez Editora, 1995. FARIA, Anália Rodrigues de. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo: Editora Ática S/A, 1989. LA TAILLE, Yves de. Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na Teoria de Jean Piaget. In: ______. Piaget, Vygotsk, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. São Paulo: Forense, 1967. ______. O julgamento moral da criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977. PULASKI, M.A. Piaget: pefil bibliográfico. In: ______. Compreendendo Piaget. São Paulo: Ed. Zahar, 1980. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Propostas curriculares de psicologia e psicologia da educação para os cursos da habilitação especifica para o magistério. São Paulo: SE/CENP, 1990. Nilson Robson Guedes Silva Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Eugênio Pacelli (1987), mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é Professor e Coordenador do Curso de Pedagogia da Faculdade Comunitária de Limeira, Supervisor do Curso de Pedagogia da Anhanguera Educacional, e Supervisor Escolar da Prefeitura Municipal de Limeira.. Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 š p. 89-98.

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