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Inspeção sanitátia em suinos: contribuição para o estudo das osteomielites vertebrais em suínos abatidos para consumo

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Academic year: 2021

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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias

INSPEÇÃO SANITÁTIA EM SUINOS

Contribuição para o estudo das osteomielites vertebrais em suínos abatidos

para consumo

Joana de Brito Azevedo

Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Madalena Vieira-Pinto

Co-Orientador: Prof.ª Dr.ª Patrícia Alexandra Dinis Poeta

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2016

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

INSPEÇÃO SANITÁTIA EM SUINOS

Contribuição para o estudo das osteomielites vertebrais em suínos abatidos

para consumo

Tese de dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária

Joana de Brito Azevedo

Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Madalena Vieira-Pinto Co-Orientador: Prof.ª Dr.ª Patrícia Alexandra Dinis Poeta

Composição do Júri:

Presidente: Prof. Dr. Nuno Francisco Fonte Santa Alegria Vogais: Prof.ª Dr.ª Anabela Gouveia Antunes Alves Prof.ª Dr.ª Maria da Conceição Medeiros Castro Fontes

Prof.ª Dr.ª Maria Madalena Vieira-Pinto

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iii “Não ande apenas pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros já foram.”

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iv AGRADECIEMENTOS

A realização deste trabalho contou com o apoio, conhecimentos e compreensão de muitas pessoas e entidades às quais não poderia deixar de agradecer. Agradeço:

À professora Madalena Vieira-Pinto por todo o apoio, amizade, conhecimento, incondicional disponibilidade e paciência. Por sempre me incentivar a ser melhor e a fazer sempre o melhor trabalho e por sempre ter acreditado em mim.

À professora Patrícia Poeta e professora Isabel Pires pela disponibilidade, apoio e partilha de conhecimentos que em tanto ajudou à realização deste trabalho.

Ao professor Artur Varejão e ao professor Carlos Venâncio pela disponibilidade imediata em querer fazer mais por este trabalho.

A todas as funcionárias do laboratório de Microbiologia Médica da UTAD pela partilha de conhecimentos, boa disposição, apoio e disponibilidade, que foram fundamentais para a realização deste trabalho. E um especial agradecimento ao Sr. Paulo Brito por toda a ajuda e disponibilidade que demonstrou.

Ao Hospital Veterinário da UTAD e à professora Isabel Pires por ter autorizado a realização do estudo piloto com auxílio do TAC.

À Direção Geral de Veterinária (DGAV), na pessoa do diretor dos serviços da região norte, Dr. Alfredo Jorge da Cruz Sobral, por ter permitido a execução da componente prática deste trabalho.

Ao Matadouro Central de Entre Douro e Minho (Central Carnes) e a todo o Grupo Primor, na pessoa do seu diretor, Pedro Moreira Pinto, por permitir a execução da componente prática nas suas instalações.

A todos os Médicos Veterinários Oficiais e auxiliares que durante o tempo decorrido da componente prática sempre me aconselharam e incentivaram na realização deste trabalho. Um especial obrigado ao meu coordenador de estágio Dr. Orlando Martins pela simpatia, disponibilidade e transmissão de conhecimentos.

À engenheira Diana Costa pela simpatia e apoio em toda a componente prática. Um especial agradecimento também ao Sr. Pedro Filipe Faria Gonçalves pela ajuda na recolha das amostras e por todo o apoio, simpatia e boa disposição e a todos os magarefes e funcionários do Central Carnes pelo incentivo e boa disposição.

Aos meus pais, porque sem eles não seria possível ter chegado até aqui. Pelo apoio, amor e todos os sacrifícios que fizeram em meu benefício, a eles o obrigado mais sincero.

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v Ao meu amigo e companheiro por todo o apoio, paciência e carinho, um muito obrigado sincero.

A todos os que não foram aqui referidos, mas sempre estiveram ao meu lado neste percurso académico, um muito obrigado a todos eles.

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Resumo

vi RESUMO

A carne de suíno é a mais consumida pelos portugueses sendo por isso importante garantir que chegue ao consumidor apenas produtos que reúnam as características hígio-sanitárias e nutritivas adequadas, constituindo a inspeção sanitária em matadouro uma etapa fundamental para este processo, visando a proteção da saúde publica e concomitantemente a saúde e bem-estar animal.

Durante a componente prática deste trabalho foram abatidos e inspecionados 211159 suínos. Destes, 0,11% (n=240) foram alvo de rejeição total, tendo sido a osteomielite a principal causa identificada, correspondendo a 63% (n=152) do total das rejeições. Verificou-se adicionalmente que todos os casos de osteomielite vertebral foram alvo de rejeição total. Situação que ocorre com grande regularidade em Portugal. Neste sentido delineou-se como principal objetivo deste trabalho avaliar se as osteomielites vertebrais em suíno ao abate devem ser sempre alvo de rejeição total. Deste modo, durante a componente prática foram recolhidas amostras de material purulento da porção de osso afetada pela lesão de osteomielite vertebral, um fragmento da lesão e amostras de músculo para avaliar a presença de situações sistémicas e o risco associado para o consumidor. Estas amostras foram alvo de análises macroscópicas, histopatológicas e microbiológicas. Dos 152 casos de rejeição total por osteomielite foram recolhidos para análise 40 casos. Após análise macroscópica foram identificadas 20 amostras agudas e 20 crónicas. Em 85% (n=34) dos casos a classificação macroscópica correspondeu à avaliação histopatológica. De acordo com os critérios propostos indicou-se a rejeição total em todos os casos de osteomielites agudas, resultado que foi corroborado pela análise microbiológica em que em 80% dos casos (16/20) foi encontrado o mesmo microrganismo na lesão de osteomielite e na respetiva amostra de músculo. No caso das osteomielites crónicas (n=20) apenas 9 casos, de acordo com os critérios propostos, deveriam ser alvo de rejeição total, sendo que os restantes 11 casos poder-se-ia apenas proceder à rejeição da área afetada. Este resultado foi suportado pela análise microbiológica na qual não se verificou a nível muscular o isolamento do microrganismo identificado na respetiva lesão de osteomielite vertebral.

O presente estudo permitiu ampliar os conhecimentos relativos à principal causa de rejeição de suínos em matadouro – as osteomielites vertebrais - e permite constituir uma base científica que poderá auxiliar a harmonização dos critérios de decisão sanitária associados a estes casos.

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Abstract

vii ABSTRACT

The pork meat is the most consumed by the Portuguese people and therefore is important to ensure that reaches the consumer only products that meet the appropriate hygiene, sanitary nutritional characteristics, constituting the sanitary inspection in a slaughterhouse a key step in this process, aimed at health protection publishes and concomitantly animal health and welfare.

During the practical part of this work were slaughtered and inspected 211159 pigs. Of these, 0.11% (n=240) were total rejection target, having been the main cause osteomyelitis identified, corresponding to 63% (n=152) of the total rejections. It was further found that all cases of vertebral osteomyelitis were target of complete rejection. Situation that occurs with great regularity in Portugal. In this sense outlined as the main objective of this study to assess whether the vertebral osteomyelitis in pig slaughter should always be target as total rejection. Therefore, during this practical work, purulent material were collected from the bone portion affected by the vertebral osteomyelitis lesion, a bone lesion fragment and muscle samples for assessment of the presence of systemic conditions and the associated risk to the consumer. These samples were subjected to macroscopic, histopathological and microbiological analysis. Of the 152 cases of total rejection for osteomyelitis were collected for analysis 40 cases. After macroscopic analysis were identified 20 acute and 20 chronic samples. In 85% (n=34) of cases the macroscopic classification corresponded to histopathologic evaluation. According to the proposed criteria in all cases of acute osteomyelitis, a result which was confirmed by microbiological analyzes, 80% of the cases (16/20) we found have the same microorganism in the osteomyelitis lesions and respective muscle sample. In the case of chronic osteomyelitis (n=20) only in 9 cases, according to the proposed criteria, should be subject to total rejection, while the remaining 11 cases would be able to only perform the rejection of the affected area. This result was supported by microbiological analysis in which the microorganism identified in the vertebral osteomyelitis lesions was not isolated in the respective muscle sample.

This study allowed us to broaden the knowledge of the main causes of rejection of pigs in slaughterhouse - vertebral osteomyelitis - and lets be a scientific basis that may assist the harmonization of health decision criteria associated with these cases.

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viii INDICE GERAL RESUMO vi ABSTRACT vii INDICE DE TABELAS x INDICE DE GRÁFICOS xi

INDICE DE FIGURAS xii

LISTA DE ABREVISTURAS xiv

1. Introdução 1

1.1. Objetivos 1

2. Produção e abate de suínos em Portugal 3

3. Inspeção Sanitária 5

3.1. Inspeção ante mortem 6

3.2. Inspeção post mortem 7

3.3. Síntese conclusiva 9

4. Osteomielite vertebral 11

4.1. Anatomia e vascularização das vertebras 12

4.1.1. Aspetos anatómicos 12

4.1.2. Vascularização 13

4.1.2.1. Arterial 13

4.1.2.2. Venosa 14

4.2. Medula óssea e função hematopoiética 15

4.3. Etiopatogenia 16

5. Material e Métodos 20

5.1. Componente prática de matadouro 20

5.1.1. Avaliação das osteomielites vertebrais 20

5.1.2. Recolha de amostras 21

5.2. Componente prática laboratorial 22

5.2.1. Avaliação histopatológica 22

(10)

ix

5.3. Análises complementares 25

6. Resultados e Discussão 26

6.1. Volume de abate e causas de rejeição total 26

6.2. Avaliação das lesões de osteomielite vertebral 29

6.3. Avaliação microbiológica 40

6.4. Decisão sanitária de lesões de osteomielite vertebral 42

6.5. Estudo piloto com auxilio de tomografia computorizada 45

7. Conclusões 49

8. Bibliografia 51

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x INDICE DE TABELAS

Tabela 1. Número de animais abatidos, nos diferentes estados membros no ano de 2014. Tabela 2. Tarefas do MVO e respetiva importância.

Tabela 3. Procedimentos de inspeção post mortem previstas no Reg (CE) 854/2004, antes e

depois da entrada em vigor do Reg (UE) nº. 219/2014.

Tabela 4. Mordida de cauda - Fatores predisponentes.

Tabela 5. Aspetos observados durante a avaliação dos casos de osteomielite vertebral. Tabela 6. Características histopatológicas de osteomielites vertebrais agudas e crónicas. Tabela 7. Causas de rejeição total observadas entre os meses de novembro de 2015 e Março

de 2016.

Tabela 8. Localização na coluna vertebral das lesões de osteomielite vertebral.

Tabela 9. Localização das lesões de osteomielite e respetivas lesões predisponentes

associadas.

Tabela 10. Comparação análise macroscópica e histopatológica.

Tabela 11. Número de vertebras afetadas e respetivas lesões associadas das lesões de

osteomielite vertebral classificadas macroscopicamente como agudas.

Tabela 12. Número de vertebras afetadas e respetivas lesões associadas das lesões de osteomielite vertebral classificadas macroscopicamente como crónicas.

Tabela 13. Análise microbiológica das amostras de pús e músculo. Tabela 14. Agentes isolados nas amostras de pús e músculo analisadas.

Tabela 15. Decisão sanitária proposta em casos de osteomielite vertebral crónica.

Tabela 16. Motivos que fundamentam a decisão sanitária em casos de osteomielites

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xi INDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Produção e abate no sector suíno desde 2006 a 2014 na UE. Gráfico 2. Cotações (€/Kg) da carne de suíno em Portugal.

Gráfico 3. Número de animais abatidos entre os meses de novembro e março de 2015 e 2016

respetivamente.

(13)

xii INDICE DE FIGURAS

Fígura 1. Osteomielite vertebral purulenta com abcesso paravertebral associado. Fígura 2. Vertebra lombar.

Fígura 3.Vascularização arterial de uma vertebra lombar. Fígura 4.Vascularização venosa de uma vertebra lombar.

Fígura 5. Lesões de caudofagia.

Figura 6. Representação esquemática da recolha de amostras.

Figura 7. Representação esquemática das provas bioquímicas efetuadas para identificação

microbiológica dos agentes envolvidos nas osteomielites vertebrais em suínos.

Fígura 8. Lesão de mordida de cauda, evidenciando algum grau de cicatrização. Fígura 9. Região torácica com evidências de adesões pulmonares – pleuropneumonia.

Fígura 10. Lesão de osteomielite vertebral localizada na região torácica com lesões de

pneumonia purulenta associadas.

Fígura 11. Lesão de osteomielite vertebral aguda à esquerda e respetiva imagem histológica.

Presença de exsudado purulento nos espaços medulares (seta preta) com presença de sequestros (seta vermelha).

Fígura 12. Lesão de osteomielite vertebral crónica e respetiva imagem histopatológica. De

notar a presença de tecido de granulação na medula óssea (seta preta).

Fígura 13. Lesão de osteomielite vertebral com focos purulentos no corpo vertebral e apófise

espinhosa.

Fígura 14. Abcesso muscular na região sacro-coccigea (seta preta).

Fígura 15. Material purulento proveniente de abcessos musculares (setas pretas). A lesão de

osteomielite vertebral está camuflada pelo referido material purulento (seta vermelha).

Fígura 16. Cocobacilos em coloração de gram compatíveis com Trueperella pyogenes.

Fígura 17. Cocos organizados em forma de cacho em coloração de gram compatíveis com Staphylicoccus spp.

Fígura 18. Cadeias de cocos em coloração de gram compatíveis com Streprococcus spp. Fígura 19: Imagem em cima mostra o aspeto macroscópico da lesão de osteomielite vertebral

e à direita a imagem obtida por TAC.

Fígura 20: Imagem à esquerda mostra o aspeto macroscópico da lesão de osteomielite vertebral e à direita a imagem obtida por TAC.

Fígura 21: Imagem à esquerda mostra o aspeto macroscópico da lesão de osteomielite vertebral. À direita e em baixo as imagens obtidas por TAC.

(14)

xiii

Fígura 22:Imagem em cima mostra o aspeto macroscópico da lesão de osteomielite vertebral e à direita a imagem obtida por TAC.

Fígura 23: Imagem em cima mostra o aspeto macroscópico da lesão de osteomielite vertebral

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xiv LISTA DE ABREVIATURAS

AESA: Auturidade Europeia para a Segurança Alimentar BHI: Brain Heart Infusion

CE: Comunidade Europeia CNA: Colistin Nalidixic Acid

DGAV: Direção Geral de Alimentação e Veterinária Fig.: Figura

HP: Histopatologia

INE: Instituto Nacional de Estatística

IRCA: Informação Relativa à Cadeia Alimentar Kg: Kilograma

MACRO: Macroscópica

MVO: Médico Veterinário Oficial ºC: graus centígrados

PM: post mortem

PNM: Polimorfonucleares UE: União Europeia

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Introdução

1

1. INTRODUÇÃO

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2014 cada português consumiu, em média, 43,9 kg de carne de suíno, fazendo desta carne a mais consumida em Portugal.

Para que seja apresentada ao consumidor carne de elevada qualidade organolética, nutritiva e microbiológica, é fundamental que toda a carne que é consumida, passe por uma rigorosa avaliação ao nível do matadouro. Os procedimentos de inspeção ao nível do matadouro são da responsabilidade do Médico Veterinário Oficial (MVO), que depois de analisar todas as informações contidas nos documentos de acompanhamento dos animais, avaliar os animais em vida e analisar a carcaça a as respetivas partes emite uma decisão sanitária sobre a carne. Este deve sempre assegurar que durante todas as etapas não seja negligenciado o bem-estar animal e toda a higiene das operações.

A osteomielite vertebral é a maior causa de rejeição total de suínos em Portugal. Na maioria das vezes os casos de osteomielite observados durante o exame post mortem, incluído na inspeção sanitária feita pelo MVO no matadouro, são totalmente rejeitados, não existindo um critério lesional definido para a emissão da decisão sanitária.

De acordo com a alínea f), ponto 1, capítulo 5, seção II do Regulamento (CE) n.º 854/2004 do parlamento europeu e do conselho de 29 de Abril de 2004, a carne deve ser declarada imprópria para consumo humano se for proveniente de animais afetados por uma doença generalizada, como septicemia, piemia, toxemia ou viremia. Assim, de acordo com este regulamento, é importante compreender que casos de osteomielite são efetivamente relacionados com doença generalizada e que poderão levar à rejeição total da carcaça e vísceras, abarcando com isso um elevado prejuízo económico. Adicionalmente é também muito importante avaliar se existem outras lesões que possam auxiliar na tomada da decisão sanitária, por parte do médico veterinário oficial.

1.1. OBJETIVOS

Os objetivos principais deste estudo são:

 Caracterizar macroscopicamente e por histopatologia as lesões de osteomielite vertebral.

 Identificar um padrão relativo a processos agudos / crônicos com envolvimento de outros órgãos ou partes da carcaça.

(17)

Introdução

2  Identificar critérios de decisão sanitária – rejeição total ou parcial

 Identificar potenciais lesões a nível carcaça (mordidas de cauda, feridas, abcessos) que podem estar relacionados com a fonte da osteomielite.

 Identificar os principais agentes etiológicos responsáveis pela osteomielite vertebral e analisar a sua presença a nível muscular.

(18)

Produção e abate de suínos em Portugal

3

2. PRODUÇÃO E ABATE DE SUINOS EM PORTUGAL

A carne de suíno é a carne mais produzida na União Europeia (EU), no entanto de 2006 a 2014, a produção de suínos desceu 1%. Este decréscimo pode ser explicado pela descida do preço da carne de porco, devido às condições económicas e regulamentais, que afetam principalmente os pequenos produtores (Eurostat, 2016). Apesar do número de suínos ter diminuído desde 2004, a produção de suínos manteve-se relativamente estável ao longo dos anos, tendo registado um pico no abate no ano 2008 e outro no ano 2011 (Gráfico 1).

Em Portugal em 2014 foram abatidos 5 372 000 suínos que correspondem a 360 000 toneladas de carne de porco (Tabela 1).

De acordo com as cotações na Bolsa do porco, no ano de 2014 em Portugal, o preço em euros por kilo de carne de suíno rondava o 1,60€, preço que foi baixando com o decorrer dos anos até que atinge um mínimo de 1.20€/kg em janeiro de 2016. Esta descida começou já no ano de 2013 depois de ter atingido o valor de 2,13€/kg. Depois desta descida no preço da carne de suíno, em abril de 2016 o preço volta novamente a subir alcançando o valor de 1,77€/kg (Gráfico 2).

Gráfico 1. Produção e abate no sector suíno desde 2006 a 2014 na UE. Fonte: Eurostat, disponível em:

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Inspeção Sanitária

4

Tabela 1. Número de animais abatidos, nos diferentes estados membros no ano de 2014. Fonte: Eurostat, disponível em:

http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/File:Statistics_on_slaughtering,_all_species,_by_country,_2014.png

Gráfico 2. Cotações (€/Kg) da carne de suíno em Portugal.

Fonte: 3 tres 3, a página do porco, disponível em: https://www.3tres3.com.pt/cotacoes-do-suino/portugal-bolsa-do-porco-do-montijo_7/

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Inspeção Sanitária

5

3. INSPEÇÃO SANITÁRIA

A inspeção sanitária de produtos de origem animal é uma atividade oficial que tem como principal finalidade garantir que cheguem ao consumidor apenas alimentos que reúnam características hígio-sanitárias e nutritivas adequadas (Gil, 2000; Garcia, 2006). Esta atividade deve abranger todos os aspetos importantes para a proteção da saúde pública e animal, do bem-estar animal (Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004), assim como a proteção do meio ambiente através de uma correta gestão dos subprodutos.

Atualmente, a inspeção sanitária rege-se pelo Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004 que estabelece regras específicas de organização dos controlos oficiais de produtos de origem animal destinados ao consumo humano. O MVO1, segundo este regulamento, é a entidade responsável pelas tarefas referentes à inspeção sanitária (Tabela 2). Analisando todas as informações pertinentes constantes dos registos da exploração de proveniência, constantes na IRCA, e tendo em conta os resultados documentados dessas verificações e as análises das inspeções ante e post mortem, o veterinário oficial é capaz de emitir uma decisão sustentada em matéria de segurança sanitária dos alimentos inspecionados, e aplicar uma marca de salubridade2 nos alimentos que se encontrem aptos para consumo humano. Para além destas funções o MVO desempenha outras tarefas com por exemplo, a verificação do bem-estar animal e a comunicação de resultados a todas a partes intervenientes3, e tarefas de auditoria onde analisa as boas práticas de higiene, planos HACCP e verifica a rastreabilidade (Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004).

1 Veterinário habilitado a atuar nessa qualidade, nos termos do presente regulamento, e nomeado pela autoridade competente. Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004, artigo 2º, 1.f.

2

Marca que ao ser aplicada, indica que foram efetuados controlos oficiais nos termos deste presente regulamento. Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004, artigo 2º, 1.i.

3

Caso as inspeções revelem a presença de uma doença ou de um fator que possa afetar a saúde pública ou animal, ou comprometer o bem-estar dos animais, o veterinário oficial deve informar o operador da empresa do sector alimentar. Quando o problema tiver surgido durante a produção primária, o veterinário oficial deve informar o veterinário ligado à exploração de proveniência, o operador da empre sa do sector alimentar responsável pela exploração em causa e, se adequado, a autoridade competente responsável pela supervisão da exploração de proveniência dos animais. Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004, Anexo I, secção II, capitulo I, 2.a, b.

(21)

Inspeção Sanitária

6

Tabela 2. Tarefas do MVO no âmbito da inspeção sanitária e respetiva importância. Elaboração própria. Fonte: Gracey et al., 1999; Gil, 2000; Regulamento Europeu (CE) Nº. 854/2004N.º 854/2004; Garcia-Diez et al., 2014.

.

3.1. INSPEÇÃO ANTE MORTEM

A inspeção ante mortem deve incluir a deteção de alterações fisiológicas, de saúde e comportamentais que possam de alguma forma determinar que a carne proveniente daqueles animais poderá não se encontrar apta para consumo, a verificação da identificação e registo animal, a avaliação do nível de sujidade dos animais e o controlo do bem-estar animal. (Gracey et al.1999). A inspeção ante mortem deve ser feita 24h depois da chegada dos animais e menos de 24h antes do abate, pelo MVO (Regulamento Europeu (CE) N.º 854/2004 Anexo I, Secção I, Capítulo II, Parte B, ponto 1).

Depois de recolhida toda a informação relativa aos animais e da inspeção ante mortem o médico veterinário oficial tem de emitir uma decisão sobre os animais vivos que foram inspecionados. Segundo Gracey et al. (1999) e Gil (2000) esta decisão pode incluir:

 Aprovação: quando não se verifica qualquer estado anormal significativo de doença, o animal está bem nutrido, com idade suficiente e suficientemente repousado.

 Reprovação: quando na inspeção ante mortem se diagnostique um estado ou doença que seja motivo de reprovação total na inspeção post mortem, que comprometa a

Tarefa do MVO Importância

Inspeção ante mortem

Detetar animais com anomalias, doentes, sujos ou excitados e separa-los

dos restantes animais saudáveis.

Assegurar que apenas animais saudáveis, limpos, e repousados são

encaminhados para abate. Bem-estar animal

Sinalizar animais que possam mostrar alguma alteração a nível físico ou

comportamental evidenciando alterações no bem-estar animal.

Fazer cumprir a legislação em vigor relativa ao bem-estar animal e apurar

responsabilidades em caso de incumprimento. Inspeção post mortem Inspeção sistemática e metódica de

toda a carcaça e respetivas vísceras.

Permite detetar alterações macroscópicas que possam comprometer a salubridade das carnes

produzidas. Marcação de

salubridade

A marca de salubridade é colocada em toda a carne que se encontre apta para

consumo.

Distinção entre carnes impróprias para consumo e carnes aptas para consumo

humano. Subprodutos

Supervisionar o encaminhamento dos subprodutos para os diferentes

destinatários.

Assegura que os subprodutos são encaminhados para os locais próprios,

quer para a eliminação ou transformação. Comunicação de

resultados

Deve manter-se um registo atualizado das ações de inspeção e comunicar os resultados do mesmo a todas as partes

intervenientes.

Permite a troca de informação entre os vários intervenientes, permitindo uma

contínua atualização dos dados, a rastreabilidade dos produtos e a

(22)

Inspeção Sanitária

7 saúde do pessoal que manipula a carne, ou comporte riscos inaceitáveis de contaminação dos locais de abate e doutras carnes. Como exemplos temos animais mortos, moribundos, excessivamente sujos, emaciados ou com evidência de septicemia.

 Abate autorizado com precauções especiais: quando na inspeção ante mortem se verifique a suspeita de doença ou estado que, na inspeção post mortem, seja motivo de reprovação total, quando se diagnostique ou suspeite de doença ou estado que, na inspeção post mortem seja motivo de reprovação parcial4 ou aprovação condicionada5, ou quando o animal ou lote foi admitido no matadouro sob reserva de certas condições, e se o resultado da inspeção ante mortem não decide a reprovação total ou abate de emergência.

Segundo Martínez et al. (2007) e Garcia-Diez (2014) o número de rejeições ante

mortem é menor que o número de rejeições post mortem. Estes resultados devem-se ao facto

de muitas doenças serem assintomáticas no exame em vivo. A redução progressiva dos números de rejeições ante mortem, estão associadas com a diminuição do número de mortes durante o transporte, que intrinsecamente foram acompanhadas com uma melhoria no bem-estar durante o transporte e pela constante regulação e certificação feita pelas autoridades veterinárias (Regulamento Europeu (CE) N.º 1/2015).

3.2. INSPEÇÃO POST MORTEM

Depois do abate, todas as partes do animal devem ser alvo de inspeção por parte do MVO. Carcaça, vísceras e pele devem ser devidamente avaliadas e para isso é necessário que esteja implementado um sistema eficaz que permita efetuar a correspondência entre a carcaça e as suas respetivas partes (Gracey et al., 1999; Regulamento Europeu (CE) N.º 854/2004). O local da inspeção deve ser bem iluminado com uma luz adequada para que não haja alteração de cores e deve também ter locais para desinfetar os utensílios de corte e as mãos (Gracey et

al., 1999).

4

Esta decisão aplica-se quando as alterações resultantes de uma doença ou de outras anomalias são localizadas, não afetando mais do que uma parte da carcaça, cabeça, vísceras ou despojos alimentares. As partes afetadas são reprovadas, enquanto que as restantes serão aprovadas para consumo humano. Gil, 2000

5 Esta decisão aplica-se quando as carnes não satisfazem do ponto de vista higiénico, ou que representam um risco para a saúde humana ou animal, mas que podem ser tratadas, sob controlo oficial, de maneira a obter carnes sãs e conforme a higiene. Gil, 2000

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Inspeção Sanitária

8 No Regulamento Europeu (CE) 854/2004, cap. IV, secção IV, anexo I, parte B estão descritos os requisitos específicos para a inspeção post mortem de suínos domésticos. A inspeção inclui ações de palpação e incisão obrigatórias em determinadas estruturas anatómicas (Tabela 3). O Regulamento (UE) n.º 219/2014 publicado a 7 de março de 2014 altera o anexo I do Regulamento (CE) n.º 854/2004 no que diz respeito aos requisitos específicos relativos aos procedimentos de inspeção post mortem de suínos domésticos. A entrada em vigor deste novo regulamento teve por base o parecer científico da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA), que a 3 de outubro de 2011, concluiu que as palpações e as incisões durante a inspeção post mortem constituíam um risco de contaminação cruzada com bactérias perigosas, superior ao potencial risco caso estas ações não fossem executadas.

No entanto, se os dados epidemiológicos ou outros dados relativos à exploração de proveniência dos animais, as informações relativas à cadeia alimentar ou as conclusões da inspeção ante mortem ou da deteção visual post mortem de anomalias relevantes indicarem possíveis riscos para a saúde pública, a saúde animal ou o bem-estar dos animais, o MVO deve ter a possibilidade de decidir quais as palpações e incisões a efetuar durante a inspeção

post mortem (Vieira-Pinto et al. 2015).

Depois de obtidas todas as informações contidas nos documentos de acompanhamento, da inspeção ante mortem e post mortem, o veterinário oficial emite a decisão sanitária final sobre a salubridade da carne que segundo Gil (1999) e Vieira-Pinto (2013) estas podem ser:

 Aprovação para consumo humano: quando não há qualquer alteração na carcaça e vísceras sendo que durante o abate foram respeitadas todas as normas de higiene;  Aprovação sob condição para consumo humano: carnes que depois do tratamento por

calor ou frio, sob controlo oficial, deixam de constituir perigo para a saúde humana;  Reprovação total: carnes que representam perigo para os manipuladores, consumidores

e animais ou apresentam alterações organoléticas inaceitáveis para consumo;  Reprovação parcial: quando se verificam alterações localizadas.

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Inspeção Sanitária

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Tabela 3. Procedimentos de inspeção post mortem previstas no Reg (CE) 854/2004, antes e depois da entrada em vigor do Reg (UE) nº. 219/2014. Elaboração própria. Fonte: Vieira-Pinto, et al., 2015.

Procedimentos de inspeção post mortem de suínos

Regulamento Europeu (CE) N.º 854/2004

Região anatómica

Antes do Reg. 219/2014 Depois do Reg. 219/2014 Procedimentos Obrigatórios Procedimentos facultativos Procedimentos Obrigatórios Procedimentos post mortem suplementares consoante os riscos identificados Suínos (engorda) Cabeça, garganta,

boca, fauces e língua Inspeção visual -

Inspeção Visual

- Linfonodos

submaxilares Incisão - Incisão

Pulmões e linfonodos brônquicos e mediastínicos

Inspeção visual Pulmões destinados a consumo* Palpação em pulmões destinados a consumo * Palpação

Traqueia e esófago Inspeção visual - -

Pericárdio e coração Inspeção visual - Incisão longitudinal Incisão longitudinal

Diafragma Inspeção visual - -

Fígado e Linfonodos portais

Inspeção visual

- Palpação

Palpação

Trato gastrointestinal Inspeção visual - -

Linfonodos gástricos e mesentéricos

Inspeção visual Incisão se necessário

Palpação e se necessário incisão Palpação

Baço Inspeção visual Palpação se

necessário Palpação

Rins e linfonodos

renais Inspeção visual

Incisão se

necessário Incisão

Pleura e peritoneu Inspeção visual - -

Órgãos genitais Inspeção visual - -

Leitões Zona umbilical Inspeção visual Incisão se

necessário Inspeção Visual

Palpação e se necessário incisão Palpação

Articulações Inspeção visual Incisão se necessário Palpação e se necessário incisão Palpação Porcas Úbere e respetivos

linfonodos Inspeção visual - Inspeção Visual

- Linfonodos

supramamários Incisão - Incisão

*Abertura longitudinal da traqueia e dos brônquios principais e incisão dos pulmões, perpendicularmente aos eixos principais, no seu terço posterior.

3.3. SINTESE CONCLUSIVA

Os resultados de todas as atividades de inspeção devem ser registados e incluídos numa base de dados e devem também ser comunicados não só à autoridade competente, mas também ao operador e ao veterinário responsável pela exploração de origem. Esta base de

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Inspeção Sanitária

10 dados tem por isso um enorme potencial de uso, nomeadamente (Gracey et al. 1999; Garcia-Diez, 2014):

 Redução do número de casos de doença que aparecem no matadouro através da troca de informações com o veterinário da exploração de origem;

 Demonstrar tendências e variações no aparecimento das doenças, localização, entre outros dados;

 Fornecer informação no âmbito de programas de controlo de doenças;  Identificar as rejeições e avaliar custos envolvidos;

 Melhorar o bem-estar animal nas explorações através da análise de lesões/doenças que são facilmente identificadas no matadouro;

 Demonstrar a existência de doenças em estados sub-clínicos que passam despercebidas nas explorações;

 Providenciar um banco de dados para futuras investigações.

Por estas razões, podemos afirmar que os matadouros são um ponto importante no controlo epidemiológico e preventivo de doenças (Gracey et al. 1999; Vieira-Pinto, 2013; Garcia-Diez, 2014).

(26)

Osteomielite Vertebral

11

4. OSTEOMIELITE VERTEBRAL

Osteíte é o termo utilizado para designar uma inflamação óssea. Dependendo se o processo inflamatório se inicia no periósteo ou na cavidade medular do osso, pode denominar-se periosteíte ou osteomielite, respetivamente (Palmer, 1993; Woodard, 1997; Doige e Weisbrode, 2001). A progressão da doença pode ser caracterizada como um ciclo que se inicia pela invasão do osso por parte do microrganismo, alterações vasculares, seguido de necrose, reabsorção e produção compensatória de novo osso (Palmer, 1993; Roy et al., 2012). Uma lesão de osteomielite pode aparecer em qualquer osso, mas a osteomielite vertebral tem-se revelado uma lesão frequente em suínos ao abate, por isso, analisaremos em especial esta vertente.

A osteomielite vertebral tem sido descrita em diversos animais de produção (Mayhew, 1989; Arán, 1933). Nas vertebras afetadas observa-se necrose e formação de cavidades, o que pode conduzir ao aparecimento de fraturas e deslocamentos do corpo vertebral. Por vezes, como consequência da compressão exercida pelo exsudado, verifica-se elevação do periósteo, ocorrendo compressão da medula espinal (Doige, 1982; Radostits et

al., 1994b), ou então o processo inflamatório estende-se exteriormente levando ao

aparecimento de abcessos paravertebrais (Figura 1) (Doige e Weisbrode, 2001; Martínez et

al., 2007). Como sequela pode ainda surgir fleimão em consequência da drenagem do

material purulento para o tecido subcutâneo (Radostits et al., 1994b). As osteomielites vertebrais podem afetar um ou dois corpos vertebrais adjacentes (Palmer, 1993).

Fígura 1. Osteomielite vertebral purulenta com abcesso paravertebral associado.

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Osteomielite Vertebral

12 As osteomielites são frequentemente processos crónicos deformantes e dolorosos que levam à debilidade do animal atingido (Doige e Weisbrode, 2001). Durante o desenvolvimento de uma infeção, o processo inflamatório subjacente pode reduzir o ganho de peso diário e a eficiência alimentar (Martínez et al., 2007; Marques et al, 2012).

4.1. ANATOMIA E VASCULARIZAÇÃO DAS VERTEBRAS 4.1.1. ASPETOS ANATÓMICOS

A coluna vertebral é composta por várias vertebras articuladas entre si e estende-se desde o crânio até à extremidade da cauda. O número de vertebras que constituem a coluna vertebral, varia de espécie para espécie. De acordo com as regiões corporais podemos distinguir vertebras cervicais (C), torácicas (T), lombares (T), sagradas (S) e caudais ou coccígeas (Cd). Perante isto obtemos a seguinte fórmula, no caso do porco: C7, T14-15, L6-7, S4, Cd20-23 (Dyce, 2010).

Cada vertebra é composta pelo corpo vertebral, o arco vertebral e vários processos vertebrais ou apófises (Schaller, 2007; Konig and Liebich, 2004). O corpo vertebral é a porção ventral prismática ou cilíndrica. A sua extremidade cranial ou cabeça vertebral é convexa e a sua extremidade caudal ou fossa vertebral é côncava, estas extremidades são superfícies articulares cobertas por cartilagem hialina, formando a parte não óssea da coluna vertebral. Entre o corpo vertebral de vertebras adjacentes temos o disco intervertebral fibrocartilaginoso, que é formado por um centro gelatinoso ou núcleo pulposo e por um anel ou disco fibroso que liga vertebras adjacentes (Konig and Liebich, 2004). A superfície dorsal do corpo vertebral suporta o arco vertebral. Em conjunto, o corpo vertebral e o arco vertebral formam o orifício vertebral (Figura 2). Quando os orifícios vertebrais de todas as vertebras se

Fígura 2. Vertebra lombar. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&p id=S0071-12761946000100011

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Osteomielite Vertebral

13 alinham formam o canal vertebral que aloja a espinal medula (Schaller, 2007). A porção dorsal do arco vertebral é composta por uma lâmina direita e esquerda, pedículos laterais e duas lâminas dosais que se juntam na região média dorsal e formam o processo espinhoso que se estende obliquamente a partir do teto dos arcos vertebrais. Cada vertebra possui em cada lado um processo transverso irregular que se projeta lateralmente da base dos arcos vertebrais (Schaller, 2007). Funcionalmente na coluna vertebral temos para além das vertebras, também as articulações entre vertebras, ligamentos e a porção muscular que permite a execução dos movimentos em cada região (Konig and Liebich, 2004).

4.1.2. VASCULARIZAÇÃO 4.1.2.1. Arterial

A vascularização da coluna vertebral é feita através dos ramos espinais, que dependendo da região corporal apresentam diferentes origens. Estes originam-se da artéria vertebral na região do pescoço, das artérias intercostais dorsais na região torácica, das artérias lombares na região lombar, dos ramos sacrais na região sacral e dos ramos caudais na região caudal (Nickel, et al. 1981).

Os ramos espinais entram no canal vertebral através dos orifícios intervertebrais correspondentes, onde suprem também as meninges e a espinal medula (Sisson et al., 1982). O corpo vertebral de cada vertebra recebe ramos nutritivos através dos ramos ventrocentral e dorsocentral com origem nos ramos espinais (Nickel et al., 1981). Os ramos nutritivos vão penetrar o osso cortical do corpo vertebral a partir da superfície ventrolateral. Na parte dorsal do corpo vertebral, ramos dorsocentrais dividem-se em ramos craniais e caudais para suprir os corpos vertebrais das duas vertebras adjacentes ao nível dos discos intervertebrais.

Fígura 3. Vascularização arterial de uma vertebra lombar. Fonte: Prakash et al., (2007).

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Osteomielite Vertebral

14 Consequentemente, a superfície dorsal de cada corpo vertebral é vascularizada por quatro artérias que derivam de duas artérias que emergem a nível intervertebral, facilitando assim a vascularização colateral de cada vertebra (Figura 3) (Prakash et al., 2007).

4.1.2.2. Venosa

A drenagem venosa da coluna vertebral segue a vascularização arterial e pode ser considerada dependente dos plexos venosos interno e externo que comunicam entre si através de vários ramos. Os plexos venosos comunicam longitudinalmente e drenam para as veias intervertebrais que vão drenar para as veias paravertebrais, sendo que são designadas segundo a sua localização. Ramos anastomóticos para a veia occipital nas primeiras vertebras cervicais, veia vertebral na zona do pescoço, veia intercostal dorsal I e II, veia escapular dorsal, veia cervical profunda, veia intercostal suprema na zona mais cranial da região torácica, veia ázigos esquerda entre T4 e L3, e veia cava caudal que recebe a drenagem das veias lombares entre L4 e L7, que por sua vez recebe das veias ilíaca interna e ramos sacrais na região sacral e da veia caudal mediana e ramos caudais na região caudal (Nickel et al., 1981).

O plexo venoso externo ventral é um sistema de canais na superfície ventral do corpo vertebral e o plexo venoso externo dorsal rodeia o processo espinhoso. O plexo venoso externo dorsal é muito desenvolvido no porco (Barone, 1996) e comunica com o plexo venoso interno através de ramos bilaterais. No porco as veias do plexo venoso externo ventral recebem também comunicações diretas das veias intercostais dorsais (Nickel et al., 1981).

O plexo venoso interno inclui quatro veias longitudinais, duas no plexo venoso interno ventral e as outras duas no plexo venoso interno dorsal. O plexo venoso interno ventral situa-se de cada lado do ligamento longitudinal posterior e conecta-situa-se entre si através de anastomoses transversais que cursam entre a região central do corpo vertebral e o ligamento longitudinal dorsal. Os ramos transversais conectam-se com o plexo venoso esterno ventral através das veias basivertebrais que drenam o corpo vertebral. As veias basivertebrais ramificam-se na substância esponjosa do corpo vertebral (Figura 4), local onde se encontra a medula óssea vermelha que tem funções hematopoiéticas importantes. Antes da drenagem para as veias intervertebrais o plexo venoso interno ventral recebe também ramos espinais, que se continuam como veias espinais vindas da espinal medula e meninges. O plexo venoso

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Osteomielite Vertebral

15 interno ventral estende-se desde o sacro até ao crânio, onde se continua como seio basilar (Barone, 1996).

Um ponto essencial no sistema venoso vertebral, é que estes vasos não possuem válvulas, permitindo um fluxo bidirecional. Segundo Sadler (2004) está provado que um aumento de pressão intra-abdominal e intratorácica, provoca um fluxo retrógrado desde as veias nestas cavidades para o sistema venoso vertebral, por exemplo durante certos eventos fisiológicos como a tosse. Como a pressão e o fluxo venoso no sistema venoso vertebral é menor, há a tendência para que ocorra uma estase vascular, (Sadler (2004) permitindo em caso de infeção a permanência das bactérias nesse local. Isto potencia uma via de disseminação de êmbolos, tumores ou infeções. Por exemplo, tumores em órgãos pélvicos ou abcessos na zona da cauda podem resultar em infeções na coluna vertebral (Griessenauer, (2015); Roy et al., (2012); Betts (1985); Wiley et al., (1959); Maccauro, et al. (2011); Prakash et al., (2007)).

4.2. MEDULA ÓSSEA E FUNÇÃO HEMATOPOIÉTICA

Como referido anteriormente, na substância esponjosa do corpo vertebral, encontra-se a medula óssea vermelha. A medula óssea vermelha é responsável, desde que o animal nasce até que morre, pela hematopoiese6. No entanto no animal adulto, o fígado e o baço também apresentam algumas funções hematopoiéticas embora em muito menor grau (Banks, 1993;

6

Reposição das células sanguíneas (Banks, 1993).

Fígura 4.Vascularização venosa de uma vertebra lombar. Fonte: Prakash et al., (2007).

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Osteomielite Vertebral

16 Harvey, 2001). A medula óssea é um tecido hipercelular e fortemente vascularizado que se encontra na cavidade medular de todos os ossos, no entanto, em animais adultos a medula óssea vermelha está presente nas vertebras, estérnebras, costelas, ossos do crânio, ossos da bacia, fémur e úmero, nos restantes ossos essa medula é substituída pela medula óssea amarela que não apresenta função hematopoiética (Banks, 1993). A medula óssea pode ser dividida em dois compartimento, o vascular e o hematopoiético. O compartimento vascular inclui todos os vasos que penetram a medula, enquanto que o compartimento hematopoiético consiste num conjunto de células hematopoiéticas que rodeiam os vasos e são responsáveis pela produção das células sanguíneas (Banks, 1993; Porth, 2011).

A produção de células não acontece por si só, são por isso necessários fatores de crescimento hematopoiético específicos, que são produzidos localmente na medula óssea ou em tecidos periféricos sendo depois transportados via sanguínea (Harvey, 2001).

As células sanguíneas antes de chegarem à corrente sanguínea sofrem uma série de maturações na medula óssea, sendo só depois libertadas, e todas elas derivam de células totipotentes, ou seja células sanguíneas hematopoiéticas primordiais indiferenciadas (Banks, 1993; Sacristán et al., 1995; Harvey, 2001).

4.3. ETIOPATOGENIA

As osteomielites são, geralmente, causadas por bactérias, no entanto, também podem estar envolvidos outros agentes como vírus, fungos e protozoários. Trueperella pyogenes e outras bactérias piogénicas como Stapylococcus e Streptococcus (Schrϕder-Petersen, 2001; Jensen, et. al., 2010; Baekbo, 2014), são os agentes mais comuns de osteomielite supurativa nos animais de produção (Radostits et al., 1994b; Doige e Weisbrode, 2001; Martínez et al., 2007), podendo estar associados entre si. As osteítes crónicas podem estar associadas a infeções tais como Actinomicose, Coccidiose, Tuberculose e Rinite Atrófica (Woodard, 1997; Gracey et al., 1999). Brucella suis pode também ser uma causa de osteíte em suínos (Palmer, 1993; Radostits et al., 1994b; Gracey et al., 1999).

No caso de uma lesão de osteomielite causada por Stapylococcus, um dos fatores de virulência mais importantes desta estirpe é a sua capacidade de formação de biofilme. Os biofilmes desenvolvem-se em superfícies inertes ou tecidos mortos e formam uma barreira protetora para a bactéria, evitando a ação de terapias antibióticas e do sistema imunitário do hospedeiro (Johansen et al., 2012). Um biofilme pode estar reduzido a uma única camada de células ou ser constituído por uma vasta comunidade de células, nas quais podem formar-se

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Osteomielite Vertebral

17 microcolónias. Estas microcolónias podem separar-se e colonizar regiões e tecidos que antes se encontravam sem colonização bacteriana (Roy et al., 2012). O biofilme por si só induz uma reação inflamatória continua (Johansen et al., 2012).

As bactérias podem alcançar o osso, aquando de uma fratura exposta ou podem resultar de uma infeção dos tecidos adjacentes, por contiguidade, como sinusites, periodontites ou otites médias e mais frequente a partir de artrites purulentas (Doige e Weisbrode, 2001). A infeção do osso pode também surgir em consequência de infeções hematógenas não específicas que podem estar associadas a traumatismos.

As mordidas de cauda constituem um fator predisponente no que diz respeito às osteomielites em suínos (Radostits et al., 1994b; Walker and Bilkei, 2006; Martinez et al. 2007; Marques et al, 2012; Garcia-Diez et al. 2014; Baekbo et al., 2014) e constituem um problema económico e de bem-estar (Schrϕder-Petersen et al., 2001; Candotti, 2011a). A perda económica é devida à redução do ganho de peso, morte dos animais e reprovação de carcaças nos matadouros (Penny & Hill, 1974; Leman et al., 1992; Martínez et al., 2007; Marques et al, 2012).

Este comportamento pode ser dividido em duas ou três fases dependendo dos autores, mas temos sempre uma primeira fase, ou fase pré-lesão, em que o animal ainda não apresenta lesões na cauda, mas outros animais mostram interesse e mordem levemente sem causar lesões, a uma segunda fase, ou fase de lesão, que acontece quando a cauda já apresenta lesões e sangramento. À medida que vão sucedendo as mordidas as lesões tornam-se cada vez mais

Fígura 5. Lesões de caudofagia. Disponível em:

http://www.cresa.cat/blogs/sesc/osteomielitis-purulenta-en-canals-de-porc/?lang=en

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Osteomielite Vertebral

18 severas e o sangramento diminui. Em casos mais severos os animais mostram-se apáticos e tendem a ter um atraso no crescimento devido à falta de apetite, fraqueza e perda de sangue, podendo até perder a totalidade da cauda. A constante humidade da ponta da cauda atrai bactérias que levam a uma infeção do tecido (Schrϕder-Petersen et al., 2001; Candotti, 2011b).

Podemos ter três vias de disseminação de uma infeção a partir de uma lesão de mordedura na cauda. A primeira prende-se com o facto de a cauda ter uma drenagem venosa direta, que permite uma rápida expansão da infeção, principalmente para os pulmões (Schrϕder-Petersen et al., 2001); a segunda via acontece quando a lesão envolve não só a pele, mas também músculos e vertebras, resultando no aparecimento de abcessos nas zonas adjacentes e osteomielite nas vertebras caudais. A infeção dissemina-se via linfonodos sacrais laterais que drenam as vertebras caudais e via linfonodos anoretais que drenam a parte muscular da cauda (Dyce et al., 1988); a terceira via de disseminação é via fluido cefalorraquidiano, no entanto a medula espinal termina nas vertebras sacrais (Nickel et al., 1984).

As mordeduras de cauda podem ser potenciadas por vários fatores, como o stresse, forma e comprimento da cauda, ambiente, alimentação, entre outros. (Straiton, 1990; Leman

et al., 1992; Schrϕder-Petersen et al., 2001; Hunter et al., 2001; Candotti, 2011b; Garcia-Diaz et al., 2014). O stresse associado a condições de maneio insuficientes, sobrepopulação ou

teores de humidade elevado são descritos por Straiton (1990), Schrϕder-Petersen et al. (2001) e por Candotti (2011b) como potenciadores deste vício. O comprimento das caudas e a sua forma surge também como um dos fatores preponderantes, na medida em que caudas mais compridas, com movimento excessivo e eretas suscitam um maior interesse por parte de outros animais (Hunter et al., 2001; Schrϕder-Petersen et al., 2001). Outros fatores como o tipo de alimentação, a raça, o sexo, a idade, o peso a presença de sangue ou feridas na cauda devem ser tidos em consideração quando estamos perante este tipo de comportamento (Tabela 4).

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Osteomielite Vertebral

19

Tabela 4. Mordida de cauda - Fatores predisponentes. Elaboração própria. Fontes: Straiton, 1990; Leman et al., 1992; Schrϕder-Petersen et al., 2001; Hunter et al., 2001; Candotti, 2011a,b;Garcia-Diez et al., 2014.

Para além das mordidas na cauda, lesões como onfaloflebites, infeções da ferida de castração, mordidas nas orelhas, nos flancos ou no pescoço, ou até infeções genitourinárias constituem uma porta de entrada para microrganismos que por via hematógenas chegam ao osso (Betts, 1985; Gracey, 1989; Straiton, 1990; Leman et al., 1992; Radostits et al., 1994b; FAO, 2000; Candotti, 2011b). Outra porta de entrada poderá ocorrer aquando do corte dos caninos nos leitões em que os microrganismos penetram pela gengiva (Palmer, 1993). As osteomielites por via hematógenas são geralmente mais frequentes em animais jovens (Palmer, 1993; Woodard, 1997; Doige e Weisbrode, 2001).

Mordida da cauda – fatores predisponentes Comportamentais

Atividade diurna e

sem supervisão Porcos são mais ativos durante o dia ou quando não têm supervisão. Reflexo de sucção Este reflexo pode manter-se mesmo depois dos leitões serem retirados à mãe e

colocados em ambientes com pouco enriquecimento ambiental. Forma da cauda,

comprimento e movimento

Caudas maiores, com a extremidade exposta ou com movimentos excessivos suscitam maior interesse a outros animais.

Presença de sangue Animais são atraídos pelo sangue de uma lesão pré-existente ou por mordidas. Movimento

excessivo

Animais com lesões de mordida de cauda tendem a movimentar-se mais, devido ao desconforto causado pela lesão, perturbando e suscitando interesse aos outros animais. Stresse A causa de stresse pode estar associada à sobrepopulação, maneio insuficiente ou

doença subjacente. Fatoresinternos

Genética Raças com temperamento mais nervoso em ambientes desfavoráveis ou sem enriquecimento, os animais tendem a ficar mais inquietos e nervosos. Sexo Machos castrados sofrem duas vezes mais mordeduras que as fêmeas. Idade e peso

Animais mais jovens e mais magros exibem mais este comportamento. Animais com menos peso ficam frustrados quando são afastados dos comedouros e das áreas de

repouso por animais maiores.

Estado de saúde Parasitas externos/internos ou doenças sistémicas afetam o comportamento do animal, deixando-o mais vulnerável a ser mordido.

Fatoresexternos Enriquecimento

ambiental Falta de enriquecimento ambiental deixa os animais mais stressados. Temperatura e

humidade

Temperaturas mais altas e ambientes com humidade em excesso propiciam este comportamento. Animais ficam desconfortáveis e a humidade favorece a infeção

bacteriana.

Sobrepopulação Causa stresse aos animais que ficam mais agitados e impacientes. Sistemas de

alimentação

Animais que não conseguem ter acesso ao alimento, tendem a morder as caudas dos animais que se estão a alimentar.

Tipo de alimentação Alimentação baixa em proteína e fibra e/ou com deficiências minerais (cálcio, sal, ferro).

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Material e Métodos

20

5. MATERIAL E MÉTODOS

A componente prática deste trabalho foi realizada durante cinco meses num matadouro de suínos da região Norte. Esta fase estava estruturada em duas etapas: a primeira foi realizada nas instalações do matadouro sendo que a outra foi efetuada nos laboratórios da UTAD. A componente prática laboratorial incluía uma análise histopatológica e microbiológica das amostras recolhidas durante a componente prática em matadouro.

5.1. COMPONENTE PRÁTICA DE MATADOURO

A componente prática em matadouro visava acompanhar o médico veterinário oficial em todos os processos de inspeção sanitária e adicionalmente, recolher informações e amostras de casos de osteomielite vertebral identificados no decurso da inspeção post mortem.

Antes da inspeção ante mortem era feito um controlo documental dos animais que se encontravam na abegoaria (IRCA e guia de transporte). Depois de recolhida toda a informação pertinente contida nestes documentos procedia-se ao exame em vida de todos os animais onde foram observados diversos aspetos como as marcas de identificação, o bem-estar animal e indícios ou sinais clínicos que pudessem indicar que o animal pudesse apresentar alguma doença ou lesão.

A inspeção post mortem iniciou-se com os procedimentos descritos no Regulamento Europeu (CE) N.º854/2004, que incluem a inspeção visual, palpação e incisão, para permitir uma decisão sanitária melhor fundamentada.

Em todos os amimais era observado a conformação da carcaça e a existência de lesões quer na carcaça, quer nos respetivos órgãos, tendo sido registados todos os casos sujeitos a uma rejeição total.

5.1.1. AVALIAÇÃO DAS OSTEOMIELITES VERTEBRAIS

Durante o decurso da inspeção post mortem, e sempre que fosse observado um caso de osteomielite vertebral, a carcaça era desviada da linha de abate (para evitar contaminações) e procedia-se à recolha de toda a informação pertinente (Tabela 5).

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Material e Métodos

21

Tabela 5. Aspetos observados durante a avaliação dos casos de osteomielite vertebral. Elaboração própria.

Aspetos observados

Informação do animal em vivo

Exploração de proveniência Dados relativos à inspeção ante mortem

Carcaça

Número de vertebras afetadas

Presença de abcessos paravertebrais e musculares Conformação da carcaça (avaliação do peso)

Reação ganglionar Outras lesões (Registo fotográfico)

Vísceras Outras lesões

(Registo fotográfico)

As lesões de osteomielite vertebral foram ainda classificadas em agudas e crónicas de acordo com o seguinte critério: agudas as amostras que apresentavam destruição óssea, sem ou com pouco tecido de remodelação adjacente (não circunscritas), com coloração brilhante e com pús fluido. Por outro lado as lesões crónicas foram classificadas quando a lesão já apresentava sinais de remodelação óssea evidente a circunscrever a zona de destruição óssea e com pus mais espesso/concretizado.

5.1.2. RECOLHA DE AMOSTRAS

Foi recolhido de cada caso de osteomielite vertebral observado (40/152), três tipos de amostra: material purulento, músculo diafragmático e a porção de osso afetada. O material purulento e a amostra de músculo foram alvo de análise microbiológica, sendo o pús a amostra representativa da lesão de osteomielite vertebral, e a amostra de tecido muscular o indicador de ocorrência de disseminação sistémica do agente envolvido na lesão de osteomielite, sendo que os músculos representam a parte edível da carcaça é de todo importante fazer este tipo de análise para avaliar o produto em termos de segurança sanitária (Baekbo, 2014).

As amostras de material purulento e uma porção de músculo diafragmático foram recolhidos assepticamente sendo de seguida acondicionados em recipientes estanques, devidamente identificados e refrigerados para posterior análise microbiológica. Foi ainda recolhida uma porção de músculo diafragmático de uma carcaça sem lesões, do mesmo lote

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Material e Métodos

22 que o animal com lesões de osteomielite vertebral, para que pudesse ser utilizada como músculo controlo na análise microbiológica. Após a recolha do conteúdo purulento, a porção de osso (vertebra(s)) afetada pela lesão de osteomielite vertebral era recolhida e armazenada em recipiente estanque com formol a 10% tamponado, para fixação. A recolha do fragmento foi feita, em caso de lesões múltiplas, sobre o fragmento que revelava lesões mais exuberantes. O gráfico seguinte mostra de forma simplificada todo este processo.

Fígura 6:Representação esquemática da recolha de amostras. Elaboração própria.

5.2. COMPONENTE PRÁTICA LABORATORIAL 5.2.1. ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA

A amostra de osso, depois de fixada em formol, foi cortada em fragmentos de cerca de 1cm de espessura no local da lesão, com auxílio de uma serra elétrica para osteotomia em que se incluiu a zona de transição entre o tecido ósseo saudável e tecido ósseo afetado.

Todas as amostras de osso foram analisadas histologicamente, sendo efetuada também uma coloração de Gram a todos os fragmentos. O processamento histopatológico fo i realizado de acordo com os métodos convencionais para obtenção de preparações histológicas, depois de efetuada a descalcificação (Path® - DC3) do tecido.

Segundo Drury et al. (1980), Bancroft et al. (2002) e Leitão (2011) o processamento histológico começa pela imersão da amostra numa solução de fixação, e de seguida uma passagem por álcool em concentrações crescentes até ao absoluto, xilol e parafina à

Recolha de amostras Microbiologia Material purulento Músculo diafragmático Histopatologia Osso (porção afetada da vertebra)

(38)

Material e Métodos

23 temperatura de 56-58ºC. A finalidade é a pós-fixação dos tecidos, desidratação e diafanização que permite a impregnação dos tecidos em parafina para corte histológico. Em cada reagente o material sofre uma ação de 1 hora perfazendo um total de 12 horas. Todo este processo permite obter blocos de parafina que incluem o material recolhido. Destes blocos de parafina é feita uma microtomia7 em que se obtém cortes entre 4-5µm (Bancroft et al., 2002). A todas as amostras foi feita uma coloração de hematoxilina e eosina e uma coloração de Gram8.

Para manter os padrões de análise idênticos em todas as amostras, foi criado uma série de critérios para facilitar a caracterização das amostras. De acordo com as características histológicas, as lesões de osteomielite foram classificadas em agudas e crónicas segundo as características apresentadas na tabela 6. A caracterização macroscópica em aguda e crónica da lesão foi feita sobre o mesmo fragmento que o analisado na histopatologia.

Tabela 6. Características histopatológicas de osteomielites vertebrais agudas e crónicas. Elaboração própria. Fonte: Wheater et al., 1996.

Tipo de Lesão Características Histopatológicas

Aguda

Predomínio de neutrófilos no espaço medular de forma difusa ou formando microabcessos, com necrose óssea e formação de sequestros. Em algumas zonas a

medula óssea está parcialmente substituída por infiltrado inflamatório. Nos tecidos moles observa-se também infiltrado por polimorfonucleares neutrófilos, por vezes individualizados por cápsula fibrosa bem definida (abcesso).

Crónica

O número de neutrófilos é menor e predomina um infiltrado linfoplasmocitário com macrófagos. Na medula óssea é observado com frequência tecido de granulação e fibrose e observam-se imagens sugestivas de remodelação óssea.

5.2.2. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Após revisão bibliográfica e tendo por base um estudo anterior realizado pelo grupo de trabalho, verificamos que os agentes etiológicos mais associados a casos de osteomielite em suínos eram, Staphylococcus aureus, Trueperella pyogenes, Streptococcus e Pasteurella. Tendo por base este conhecimento, o protocolo laboratorial foi ajustado para a identificação destes microrganismos (Goldman et al., 2009; Scanlan, 1991)

Das amostras de pús e músculo recolhidas para análise microbiológica foi feito uma diluição em soro fisiológico. Dessa mesma diluição, foi feita sementeira por esgotamento em

7 Meio pelo qual o tecido é seccionado para que seja possível a sua visualização e análise ao microscópio (Bancroft et al., 2002). 8

(39)

Material e Métodos 24 Gram + Oxidase - Cocus / Cocobacilos Catalase + Staphylococcus Catalase - Fenómeno de Camp + Trueperella Fenómeno de Camp - Streptococcus - Oxidase + Pateurella

Agar BHI (Brain Heart Infusion, Frilabo® ref:610007) e Agar CNA (Colistin Nalidixic Acid, Frilabo® ref:610113) ambos com sangue, e foram retiradas 4-5 gotas da diluição que foram inoculadas em BHI caldo (Brain Heart Infusion Broth, Frilabo® ref:610008). As placas de agar foram depois colocadas em jarras de anaerobiose com 3% de oxigénio. Quer os tubos de BHI caldo quer as jarras de anaerobiose que continham as placas foram colocadas na estufa durante 48 horas a 37ºC (Morrison, et al., 1988; Jensen, et al., 2010; Caffaro, et al.,2014). Passadas 48 horas foram analisadas as placas e registado a morfologia das colónias e o tipo de hemólise, do caldo BHI foi feita uma coloração de Gram.

Este procedimento foi realizado tantas vezes quantas as necessárias até que fossem isoladas culturas puras. Posteriormente foi realizado uma coloração de Gram dessas mesmas placas para confirmação do mesmo. Das placas de BHI com sangue foi retirada uma colónia pura e semeada em BHI sem sangue para posteriormente realizar as provas da catalase e oxidase. Esta etapa é essencial porque os meios com sangue interferem com o resultado destas provas bioquímicas. Para além destas duas provas foi ainda realizado o fenómeno de Camp como mostra o esquema seguinte.

Fígura 7: Representação esquemática das provas bioquímicas efetuadas para identificação microbiológica dos agentes envolvidos nas osteomielites vertebrais em suínos. Elaboração própria.

Quando através da análise da morfologia das colónias, a coloração de gram e o teste da catalase obtínhamos resultados compatíveis com Staphylococcus spp. era realizado o teste da

(40)

Material e Métodos

25 DNAse e o teste da coagulase para identificar os microrganismos suspeitos de Staphylococcus

aureus (coagulase positiva e DNAse positiva). Este último foi utilizado para diferenciar de

entre as espécies patogénicas as que são coagulase positiva.

O teste da DNase tem como objetivo verificar se estamos na presença do ácido desoxirribonucleico que faz a degradação das moléculas de DNA. Para a realização deste teste, semeia-se as colónias, em forma de botão, em meio de DNase. Seguidamente coloca-se na estufa a 37ºC durante 24 horas, após este tempo adiciona-se ácido clorídrico a 0,1N e verifica-se se existe a formação de um halo transparente à volta da colónia, se isso ocorrer significa que a bactéria é positiva ao teste da DNAse.

O teste da coagulase permite diferenciar espécies patogénicas de Staphylococcus de espécies não patogénicas, sendo um bom indicador da patogenicidade do Staphylococcus

aureus.

ANÁLISES COMPLEMENTARES

Como estudo piloto, foi feita numa sub amostra de 5 casos de osteomielite vertebral, tomografia computorizada, de forma a melhor caracterizar as lesões quanto a sua extensão e identificar possíveis correlações com a análise macroscópica.

Imagem

Gráfico 1. Produção e abate no sector suíno desde 2006 a 2014 na UE.
Gráfico 2. Cotações (€/Kg) da carne de suíno em Portugal.
Gráfico 3. Número de animais abatidos entre os meses de novembro e março de 2015 e 2016 respetivamente
Gráfico 4. Distribuição mensal das osteítes/osteomielites purulentas. Elaboração própria
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Referências

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