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Classe Hospitalar e Vínculo Escolar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

ALINE CRISTINA SANTIAGO DE OLIVEIRA

CLASSE HOSPITALAR E VÍNCULO ESCOLAR

Caicó-RN 2019

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CLASSE HOSPITALAR E VÍNCULO ESCOLAR

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tânia Cristina Meira Garcia

Caicó-RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - - CERES--Caicó

Oliveira, Aline Cristina Santiago de.

Classe hospitalar e vínculo escolar / Aline Cristina Santiago de Oliveira. - Caicó RN, 2019.

50f.: il; color.

Monografia (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó. Departamento de Educação.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Tania Cristina Meira Garcia.

1. Classe hospitalar - Pedagogia - Monografia. 2. Prática de ensino - Monografia. 3. Vínculo escolar - Pedagogia - Monografia. I. Garcia, Tania Cristina Meira. II. Título.

RN/UF/BS-Caicó CDU 373.2/5-056.24

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CLASSE HOSPITALAR E VÍNCULO ESCOLAR

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tânia Cristina Meira Garcia

Aprovada em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof.ª Dr.ª Tânia Cristina Meira Garcia - UFRN/DEDUC

Orientadora

________________________________________

Prof.ª Dr.ª Francileide Batista de Almeida Vieira - UFRN/DEDUC Examinadora Interna

________________________________________ Prof.ª Ms. Tulia Fernanda Meira Garcia - EMCM/UFRN

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Agradeço a Deus, alfa e ômega, por me conduzir no caminho da sabedoria e possibilitar meu amadurecimento pessoal para a realização de mais uma etapa acadêmica.

Aos meus amados pais, Maria Gorete e Jaime, a quem devo o máximo respeito por serem meus primeiros – e melhores – educadores, ensinando-me a ser uma pessoa de caráter e a lutar por meus sonhos. A eles, que muitas vezes tiveram de renunciar desejos seus para dar o melhor a seus filhos, minha eterna gratidão.

Aos meus irmãos – Alcione, Artur e Felipe - por dividirem comigo as alegrias e tristezas do cotidiano.

Aos meus professores da graduação por todos os momentos de aprendizado, em especial à minha orientadora, Professora Tânia Garcia, que com tamanha competência, destreza e sensibilidade contribuiu significativamente no desenvolvimento desta pesquisa. Minha gratidão pela oportunidade de conhecê-la além das paredes da sala de aula.

A todos os profissionais da Classe Hospitalar Sulivan Medeiros pelo acolhimento, solicitude e apoio na realização deste trabalho.

Aos meus colegas de turma que, além de compartilhar comigo as experiências da vida universitária, foram fundamentais para o meu amadurecimento acadêmico.

Agradeço a todos os meus amigos pelo auxílio e incentivo nos momentos mais angustiantes dessa etapa.

Imensamente agradeço ao psicólogo Ylguém por acolher meus medos, indecisões, angústias e frustrações, e me ajudar a seguir a vida acadêmica e pessoal de forma mais prazerosa, consciente de que tudo passa e que as fases ruins constituem, na verdade, grande aprendizado.

Agradeço aos funcionários da biblioteca da Escola Multicampi de Ciências Médicas e do setor de pós-graduação do Ceres/Caicó, onde atuei como bolsista de apoio técnico, pelos inúmeros conhecimentos compartilhados e por, no convívio diário, auxiliarem no meu crescimento profissional.

Meus agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente, possibilitaram a concretização deste trabalho, pois sozinha eu não conseguiria.

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As grandes realizações do ser não se fazem sozinhas, trazem consigo o esforço de mãos amigas, de mentes brilhantes que, muitas vezes no anonimato, conseguem dar o impulso necessário para grandes efeitos, conduzindo pessoas para tal escalada.

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O presente trabalho faz uma explanação acerca de como se configuram as classes hospitalares, enquanto elemento da educação inclusiva, apresentando a legislação vigente no Brasil que assegura o desenvolvimento de práticas pedagógicas tendo em vista a não interrupção do processo de escolarização de crianças e adolescentes hospitalizados ao ambiente escolar e à sociedade. O objetivo principal da pesquisa foi investigar sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros, na cidade de Caicó/RN, e qual a sua contribuição para a manutenção do vínculo escolar de crianças e adolescentes enfermos. A discussão teórica é baseada nos autores Matos e Mugiatti (2014), Medeiros (2007), Libâneo (1994), Zabala (1998), Coll (1994), Wallon (1986), Vygotsky (1989), entre outros que alicerçam as ideias da autora do trabalho. A referida pesquisa se caracteriza como um estudo de caso na referida instituição, que utilizou uma abordagem qualitativa, tendo a metodologia pautada na aplicação de questionários e pesquisa bibliográfica. Nos resultados, constatou-se que as práticas pedagógicas das professoras atuantes na classe hospitalar Sulivan Medeiros estão em concordância com o que respaldam os teóricos, tendo em vista que o processo de aprendizagem dos alunos da classe hospitalar ocorre conforme na escola regular, contribuindo, assim, para a manutenção do vínculo escolar. Percebe-se também a relevância da atuação do pedagogo na classe hospitalar, cumprido a função de estimular e dar continuidade aos estudos para que as crianças e adolescentes não retardem a aprendizagem do conteúdo curricular educacional, ou venham a interromper o ritmo de aprendizagem bem como, favorecer, simultaneamente, a recuperação de sua saúde.

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This paper presents an explanation of how the hospital classes are configured as an element of inclusive education, presenting the legislation in force in Brazil that ensures the development of pedagogical practices in order to reintegrate hospitalized children and adolescents into the school environment and society. The main objective of the research was to investigate the pedagogical practices developed in the Sulivan Medeiros Hospital Class, in the city of Caicó / RN, and what its contribution to the maintenance of the school bond of sick children and adolescents. The theoretical discussion is based on the authors Matos and Mugiatti (2014), Medeiros (2007), Libâneo (1994), Zabala (1998), Coll (1994), Wallon (1986), Vygotsky (1989), among others who base ideas of the author at work. This research is characterized as a case study in this institution, which used a qualitative approach, with the methodology based on the application of questionnaires and bibliographic research. In the results, it was verified that the pedagogical practices of the teachers working in the hospital class Sulivan Medeiros are in agreement with what the theoreticians support, considering that the learning process of the students of the hospital class occurs according to the regular school, thus contributing to the maintenance of the school bond. It is also noticed the relevance of the performance of the pedagogue in the hospital class, fulfilling the function of stimulating and continuing the studies so that the children and adolescents do not delay the learning of the educational curricular content, or they will interrupt the learning pace as well, at the same time, promote the recovery of their health.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 CLASSE HOSPITALAR: TRAJETÓRIA E CARACTERÍSTICAS ... 11

1.1 CLASSE HOSPITALAR NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ... 14

1.2 CLASSE HOSPITALAR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - RN ... 17

1.2.1 Classe Hospitalar Sulivan Medeiros ... 19

2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ... 22

2.1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ... 23

2.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS CLASSES HOSPITALARES ... 26

3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E SUA RELEVÂNCIA PARA A MANUTENÇÃO DO VÍNCULO ESCOLAR ... 29

3.1 MANUTENÇÃO DO VÍNCULO ESCOLAR NAS CLASSES HOSPITALARES ... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 42

REFERÊNCIAS ... 44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem o intuito de procurar compreender como as práticas pedagógicas no ambiente hospitalar interferem no desenvolvimento escolar do aluno enfermo e contribuem para a manutenção do seu vínculo escolar, através da atuação do pedagogo nesses espaços extraescolares. As práticas pedagógicas no ambiente hospitalar são responsáveis por dar continuidade ao processo de aprendizagem do aluno enfermo. Assim, a atividade do pedagogo deve ir além de ensinar, tendo em vista a situação do aluno hospitalizado. Sandroni (2008) enfatiza a importância do atendimento pedagógico em ambiente hospitalar e como essas atividades promovem o desenvolvimento socio afetivo de crianças e adolescentes que, por motivo de internação hospitalar, estão privadas de participar de seu meio sociocultural e escolar.

O campo de atuação profissional do pedagogo é vasto, tendo em vista que possibilita inúmeras atividades em diferentes ambientes. Ortiz e Freitas (2005) falam em educação pensando na diversidade e nos leva a práticas educativas em espaços considerados não convencionais, dentro dessa diversidade, optou-se por realizar a pesquisa na área da Pedagogia Hospitalar, pois ela busca oferecer o conhecimento em um ambiente extraescolar, com o intuito de envolver o aluno que necessita desse apoio fora do espaço escolar e que por vezes é visto como incapacitado por causa de sua enfermidade. Nesse sentido, a classe hospitalar vai gerar nas crianças, não apenas a aprendizagem, mas o seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

De acordo com Matos e Mugiatti (2007), esta abordagem educacional de aprendizagem emergiu da convicção de que a criança e o adolescente hospitalizados, em idade escolar, não devem suspender seu processo de escolarização. Dessa forma, o ensino no âmbito hospitalar cumpre a função de estimular e dar continuidade aos estudos para que estes estudantes não retardem a aprendizagem do conteúdo curricular educacional, ou venham a interromper o ritmo de aprendizagem bem como, deve favorecer, simultaneamente, a recuperação de sua saúde. É também resultado do reconhecimento formal de que crianças hospitalizadas, independente do período de permanência na instituição, necessitam de medidas educativas e

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possuem direitos de cidadania, inclusive acesso à escolarização formal (BATISTA, 2014).

O trabalho docente nas classes hospitalares, leva em consideração o aluno em situação de internamento, que não pode configurar um impeditivo de acesso à educação. Além disso, este aluno não deve ser prejudicado por falta de acesso a uma escola regular, pois qualquer ambiente pode ser utilizado para promover a educação, desde que se tenham objetivos e finalidades bem definidas. De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, a educação é assegurada formalmente como um direito de todos.

No Brasil, através do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado (1995), a legislação visa oferecer dignidade para crianças e adolescentes enfermos em estado de internação, reconhecendo os seus direitos, dentre eles o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar.

Tomando como base essa discussão, tem-se o seguinte problema de pesquisa: Quais as práticas pedagógicas desenvolvidas na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros, localizada na cidade de Caicó/RN, e qual a sua relevância para a manutenção do vínculo escolar das crianças e adolescentes enfermos?

Com isso, o objetivo deste trabalho consistiu em investigar sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na Classe Hospitalar Sulivan Medeiros e caracterizá-las a partir das ações que visam a manutenção do vínculo escolar. Para tanto, foi necessário alcançar os seguintes objetivos específicos: caracterizar a Classe Hospitalar Sulivan Medeiros; identificar as práticas pedagógicas lá desenvolvidas; avaliar sua relevância para a manutenção do vínculo escolar.

A referida pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, na qual se utilizou uma abordagem qualitativa. Segundo Gil (2002, p.54) este tipo de pesquisa “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados”.

A respeito da abordagem qualitativa, pode-se dizer que busca compreender uma descrição clara e minuciosa de todos os detalhes que envolvem a trajetória percorrida para alcançar os objetivos da pesquisa,

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justificando, assim, cada uma das escolhas do pesquisador e a trajetória do processo de investigação (BOGDAN E BIKLEN, 1994).

Para o desenvolvimento da investigação, inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (2010, p. 29), é elaborada a partir de materiais já publicados, “tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos”. Dessa forma, buscou-se por materiais que tratassem da temática estudada, neste caso, com ênfase em práticas pedagógicas, classes hospitalares e vínculo escolar.

O estudo de caso teve como ambiente investigado a classe Hospitalar Sulivan Medeiros, localizada no Hospital do Seridó, município de Caicó/RN. No tocante, foram aplicados questionários com duas professoras e o coordenador pedagógico atuantes na referida instituição.

Quanto à fundamentação teórica, esta foi baseada nos estudos de Matos e Mugiatti (2014); Lopes (2016); Medeiros (2016); Libâneo (1994), Zabala (1998), Rabello e Passos (2007); Coll (1994), Wallon (1968); Vygotsky (1989), dentre outros, os quais contribuíram para a compreensão da temática abordada, bem como para demais conceitos considerados relevantes para o desenvolvimento desta pesquisa.

Acredita-se que uma pesquisa realizada neste âmbito vem a ser de relevância acadêmica, profissional e social, considerando que as informações contidas poderão servir de base teórica para consulta, com vistas à aquisição de novos conhecimentos sobre as classes hospitalares, tanto por parte dos discentes, como pela sociedade de um modo geral. Assim, espera-se que este trabalho contribua para a formação acadêmica e profissional do pedagogo.

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1 CLASSE HOSPITALAR: TRAJETÓRIA E CARACTERÍSTICAS

Em meados do século XX, na Europa, começaram a surgir algumas atividades educacionais desenvolvidas dentro de ambientes hospitalares, o que hoje denomina-se como classes hospitalares. Logo mais, outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos também passaram a adotar tais métodos, e assim as classes hospitalares começaram a ganhar ênfase no mundo inteiro, com a finalidade de proporcionar educação para pessoas enfermas. Ressalta-se que tal prática era utilizada para o atendimento de crianças com tuberculoRessalta-se (VASCONCELOS, 2015).

Contudo, para que as classes hospitalares tivessem um bom funcionamento e êxito no desenvolvimento educacional daquelas pessoas em situações de internamento, era necessário haver profissionais qualificados. Com esse intuito foi criado, em 1939, o Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptada (CNEFEI), em Paris, cujo propósito era formar professores para o trabalho em institutos especiais e em hospitais.

De acordo com Oliveira (2013, p. 27):

Nesse mesmo ano é criado o cargo de professor hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. Esse Centro funciona até hoje. A formação de professores para as classes hospitalares no CNEFEI tem duração de dois anos. O Centro tem como missão até hoje mostrar que a escola não é hermeticamente fechada. O CNEFEI promove estágios, em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas; a médicos de saúde escolar e a assistentes sociais. Desde 1939, o CNEFEI já formou mais de mil professores. A necessidade de criação de Classes Hospitalares é reconhecida na legislação brasileira, como um direito às crianças e adolescentes hospitalizados. O Brasil reconheceu na legislação por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, Resolução nº 41 de 17 de outubro de 1995, no item 9, o “Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”.

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica – Resolução nº 02 de 11 de setembro de 2001, do Conselho Nacional de Educação – preconiza locais de atendimento educacional especializado, dentre eles a classe hospitalar, bem como seus objetivos:

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Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. § 1o As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular (BRASIL, 2001, p.4). Em 2002, o Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Especial, elaborou o documento intitulado “Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: Estratégias e orientações” com o objetivo de oferecer mecanismos e instruções para o atendimento nas classes hospitalares, assegurando o acesso à educação básica.

A formalização do direito à escolarização no ambiente hospitalar surge concomitante ao reconhecimento das necessidades educacionais, psicológicas e sociais da criança e adolescente hospitalizado, visando o exercício da cidadania, numa perspectiva inclusiva, independente de qualquer circunstância. As políticas públicas criadas tornaram possível a inclusão de programas e projetos de humanização hospitalar, tendo sido incentivados pelo Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, tendo como resultado a criação das classes hospitalares, hoje existentes em vários estados brasileiros.

Como iniciativas pode-se citar a lei nº 13.716, de 24 de setembro de 2018, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para assegurar atendimento educacional ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado. O texto acrescenta dispositivo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) assegurando atendimento, durante o período de internação, ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, conforme regulamento a ser estabelecido pelos Executivos federal, estaduais e municipais.

Tendo em vista o embasamento legal, contido nas legislações vigentes que amparam e legitimam o direito à educação, os hospitais devem dispor às crianças e adolescentes um atendimento educacional de qualidade e igualdade de condições de desenvolvimento intelectual e pedagógico.

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De acordo com Brito (2011, p. 14):

A proposta de atividades educativas em ambiente hospitalar, em seu contexto histórico foi fruto de uma política que visava o equilíbrio psicológico, cognitivo e a importância da vida em sociedade, fatores relevantes para o atendimento das demandas apresentadas pelo estado de fragilização da saúde e do desenvolvimento psíquico infantil durante seu processo de hospitalização.

De acordo com Matos e Mugiatti (2014, p. 37) “a classe hospitalar oferece atendimento conjunto de forma heterogênea (...) atende a diversos escolares em uma classe ou sala de aula no hospital, de forma integrada, não atendendo cada escolar especificamente”.

Em relação aos aspectos físicos da classe hospitalar, o Ministério da Educação, por meio do documento "Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações" (BRASIL, 2002) pontua que:

Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o desenvolvimento e a construção do conhecimento para crianças, jovens e adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e necessidades educacionais especiais individuais. Uma sala para desenvolvimento das atividades pedagógicas com mobiliário adequado e uma bancada com pia são exigências mínimas. Instalações sanitárias próprias, completas, suficientes e adaptadas são altamente recomendáveis e espaço ao ar livre adequado para atividades físicas e ludo-pedagógicas (BRASIL, 2002, p. 15-16).

Além disso, o documento aponta a necessidade de as classes hospitalares disporem de recursos audiovisuais, que possam auxiliar tanto no planejamento, desenvolvimento e avaliação da prática pedagógica, bem como possibilitar o contato da classe hospitalar com a escola na qual o educando está matriculado, e propiciar a ele o contato com colegas e professores.

A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva ressalta ainda que “para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área.” (BRASIL, 2008, p.13). Nesse sentido, as classes hospitalares surgem de forma a contribuir não somente para o desenvolvimento da educação, mas também da saúde psicológica.

Segundo uma pesquisa realizada pela Revista da Sociedade Brasileira de Enfermeiros e Pediatras (10 de dezembro de 2015):

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o último levantamento realizado, em 2005, sobre o funcionamento de classes hospitalares no país, registrava que só 99 hospitais haviam instalado as classes hospitalares, assim distribuídas por região: norte = 7; nordeste = 10; centro-oeste = 18; sudeste = 47 e sul = 17. em sua maioria, esse tipo de atendimento decorre do convênio firmado entre as secretarias de educação e de saúde dos estados, mas existem classes hospitalares resultantes de iniciativas de entidades filantrópicas e universidades (RUIVO, 2018, p.5).

Diante desse contexto, percebe-se que ao longo dos tempos, foi crescendo a preocupação acerca da educação ofertada para crianças em estado de internamento hospitalar, e assim foram surgindo as primeiras legislações para garantir tal direito.

1.1 CLASSE HOSPITALAR NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A pedagogia hospitalar, desenvolvida nas classes hospitalares, se constitui como um dos elementos da Educação Inclusiva. Em termos de documentos legais, o Brasil dispõe de várias leis e decretos referentes a esse tipo de educação.

Na legislação brasileira existem diversos decretos e leis que garantem o direito de todos à educação, como por exemplo, a Constituição Federal de 1988, que ao ser consolidada legitimou princípios da dignidade da pessoa humana, como destaca o art. 1º, inciso III, e aos direitos relacionados a este princípio. A Constituição Federal de 1988 visa promover, com absoluta prioridade, o acesso da criança e do adolescente no direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.

Em defesa do direito à educação das crianças e adolescentes, também foi instituída a Lei Federal nº 8.069 de 1990, referente ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que consiste em um dispositivo jurídico imprime a responsabilidade, de forma absoluta, da criança e do adolescente, à família, à sociedade e ao Estado, os quais devem de forma conjunta, garantir a efetivação da proteção integral a estes indivíduos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente também que veio regulamentar o que estava disposto no art. 227 da Constituição Federal de 1988, aponta que

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

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saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2016, p.132).

O Estatuto da Criança e Adolescente, Lei Nº 8.069, de 13 de junho de 1990, reafirmando o contido na Constituição Federal de 1988, apresenta como dever da família e da sociedade assegurar que seja efetivado o direito à educação de crianças e adolescentes, com vistas a favorecer o pleno desenvolvimento, capacitando-os para exercer a cidadania e qualificando-os para o trabalho.

Poucos anos depois, em 1996, foi instituída da Lei de Diretrizes e bases da Educação (LDB), que é considerada a mais importante das leis brasileiras no que se refere à educação. Em seu conteúdo, tem um perfil de gestão democrática, do direito universal à educação e progressiva autonomia pedagógica administrativa (OLIVEIRA, 2013). Dentro da LDB está previsto a Educação Especial, que segundo Sadroni (2008), tem como finalidade oferecer educação de qualidade e em condições igualitárias para todos, acredita-se que a educação em classes hospitalares se encaixa como sendo uma forma de inclusão.

Para melhor compreensão, segue a definição de Educação Especial (artigo 58), segundo a LDB, edição atualizada até março de 2017.

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1o Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2o O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3o A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

Em complemento à educação Especial, a LDB traz em seu artigo 59 serviços, recursos, qualificação de profissionais, entre outros aspectos necessários para garantir a efetivação da inclusão deste público, que é a forma como este documento trata a Educação Inclusiva.

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Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

Nesse contexto está inserida, também, a pedagogia hospitalar, oferecida nas classes hospitalares. A criança ou adolescente acarretado por alguma enfermidade já é considerado um indivíduo com necessidade especial, seja essa doença temporária ou permanente.

Matos e Mugiatti (2016, p.37) pontuam que:

A Pedagogia Hospitalar é um processo alternativo de educação continuada que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o atendimento de necessidades especiais transitórias do educando, em ambiente hospitalar e/ou domiciliar. Trata-se de uma nova realidade multi/inter/transdisciplinar com características educativas.

Para tanto, faz-se necessário ressaltar os objetivos das classes hospitalares, que consistem em:

[...] dar continuidade à escolaridade das crianças e adolescentes que precisam de frequente internação, além de desenvolver atividades que contribuam para a sua formação e que auxiliem durante o período de internação. Também tem como função, sanar as dificuldades da criança hospitalizada, dando-lhe todo o aparato para a compreensão e superação da enfermidade, além de servir de suporte para o seu desenvolvimento sócio afetivo (SANDRONI, 2008, p.8). A Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - em seu capítulo V, artigo 58 discorre sobre a educação especial, assegurando que os sistemas de ensino devem possibilitar aos alunos currículo, métodos, recursos e práticas específicas para atender às suas necessidades, e estabelece que

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§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. (BRASIL, 2018, p.39).

Diante do exposto, nota-se que a legislação brasileira institui normas contemplando a educação em todos os âmbitos, como sendo um direito universal. Assim, pode-se inferir que a educação em ambientes hospitalares está assegurada por estas e outras leis nacionais, inclusive encaixando-se dentro das Políticas de Educação Inclusiva.

A humanização é descrita, no campo da saúde, como uma aposta ético-estético-política. É uma aposta ética porque envolve a atitude de usuários, gestores e profissionais de saúde comprometidos e corresponsáveis. É estética porque se refere ao processo de produção da saúde e de subjetividades autônomas e protagonistas. E é política porque está associada à organização social e institucional das práticas de atenção e gestão na rede do SUS (BRASIL, 2008).

Acredita-se que desde o surgimento das primeiras classes hospitalares até os dias atuais, este é um tema que deve merece mais atenção, principalmente por parte dos docentes, que são os mediadores da educação. Portanto, a pedagogia hospitalar surge como forma de colaborar para a efetivação da Política de Educação Inclusiva, mantendo o direito à educação de crianças e adolescentes enfermos.

1.2 CLASSE HOSPITALAR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - RN A primeira classe hospitalar implementada no estado do Rio Grande do Norte foi a Classe Sulivan Medeiros1, na cidade de Caicó. A partir daí, começou a ser discutida a questão da criação de outras classes hospitalares no estado.

Segundo Rocha (2014), o município de Caicó́, teve marcante participação na trajetória histórica da classe hospitalar local. No Estado do Rio Grande do Norte, o registro de atendimento pedagógico educacional que marcou o início da classe hospitalar, se deu na referida cidade, no Hospital do Seridó́, na classe hospitalar Sullivan Medeiros, por meio de um Projeto de

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Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em dezembro de 2004.

A primeira monografia, no Curso de Pedagogia da UFRN, realizada nessa área, teve a seguinte titulação: Atendimento pedagógico no ambiente hospitalar: a ausência da escola no olhar dos pais e profissionais de saúde. Tal estudo nos estimulou a continuar pesquisando alguns problemas evidenciados, entre eles compreender como as crianças enfrentam a hospitalização e o adoecimento, e assim refletirmos acerca do papel do(a) professor(a) no ambiente hospitalar.

De acordo com Medeiros (2016), representantes da Defensoria Pública e da Secretaria Municipal de Educação de Natal, contataram com o Hospital do Seridó para conhecer a realidade da classe hospitalar de Caicó. Foram realizados estudos, seminários e formações e firmou-se o termo de cooperação entre as instituições e o governo, passando a serem implantadas as classes hospitalares nos Hospitais do Seridó em Caicó, Varela Santiago, Maria Alice Fernandes, Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva e Grupo de Apoio à Criança com Câncer do RN.

Em 2010, foi criado no estado potiguar o Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar (NAEHD/RN), como parte das políticas educacionais de inclusão da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN), com o intuito de oferecer atendimento educacional especial às crianças e adolescentes enfermos em tratamento de saúde, tanto em classes hospitalares, quanto em domicílio. Segundo o site da SEEC/RN2, “o Núcleo conta com a participação de 23 professores da Rede Estadual de Ensino, alocados nas instituições conveniadas”.

Lopes (2016, p.15) pontua que:

Tendo em vista a garantia do direito e do atendimento educacional hospitalar face a demanda do serviço, em 20 de dezembro de 2010, foi assinado o Termo de Cooperação Técnica entre a SEEC/RN, sob a coordenação da Subcoordenadoria de Educação Especial (SUESP), com cinco instituições, sendo três Hospitais e duas Casas de Apoio à Criança com Câncer, a saber: Hospital Infantil Varela Santiago, Hospital Pediátrico Maria Alice Fernandes, Hospital do Seridó, Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva e Grupo de Apoio à Criança com Câncer do RN. Em 2012, a parceria foi constituída com a Associação de Portadores de Câncer de Mossoró e 2 Disponível em:

<http://www.educacao.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=169488&ACT=&PAGE=& PARM=&LBL=NOT%CDCIA>. Acesso em 13 de abril de 2018.

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Região, em 2013, com o Hospital Giselda Trigueiro e em 2014, com o Hospital Universitário Onofre Lopes.

Dois tipos de atendimento são realizados pelo Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar do RN, coordenados pela Subcoordenadoria de Educação Especial. A Classe Hospitalar, que oferece atendimento pedagógico-educacional ao estudante em ambiente hospitalar, e o Atendimento Pedagógico Domiciliar, que oferece acompanhamento educacional na residência do estudante que está em tratamento de saúde impossibilitado de frequentar a escola. Além disso, o Núcleo oferece formação continuada e acompanhamento para esses profissionais, que são solicitados de acordo com a demanda das instituições de ensino. Só em 2017, quase 3 mil estudantes foram atendidos, segundo matéria publicada pela Assessoria de Comunicação Social (ASSECOM-RN, 2018).

Recentemente, o governo do Rio Grande do Norte instituiu a Lei nº 10.320, de 05 de janeiro de 2018 que disciplina a criação do programa de Atendimento Educacional Hospitalar e domiciliar nas unidades de Rede Estadual de Saúde, assegurando o direito à educação de crianças e adolescentes enfermos que estejam matriculados na rede estadual de ensino, podendo receber atendimento tanto na classe hospitalar quanto em domicílio. A lei ainda apresenta como objetivos a criação e manutenção da classe hospitalar com intervenção pedagógica, visando um bom desenvolvimento do aluno.

1.2.1 Classe Hospitalar Sulivan Medeiros

A Classe Hospitalar Sulivan Medeiros está localizada no Hospital do Seridó na cidade de Caicó/RN. Segundo Medeiros (2016) o referido hospital presta atendimento à população caicoense desde 1934.

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Imagem 1 – Quadro de faixada da Classe Hospitalar Sulivan Medeiros

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).

A classe hospitalar Sulivan Medeiros é mantida pela Fundação Hospitalar Dr. Carlindo de Souza Dantas e “conta com uma pediatria infantil, composta por três enfermarias infantis, duas enfermarias materno-infantis e três incubadoras para crianças recém-nascidas (...) as enfermarias são organizadas de acordo com a patologia” (MEDEIROS, 2016, p.51).

De acordo com Medeiros (2016, p.47), atual coordenador da referida classe hospitalar, a mesma foi criada em 11 de novembro de 2004, por meio do projeto de extensão “Cuidando da criança internada e de seus acompanhantes”, da UFRN – Ceres/Caicó, formado por alguns professores atuantes na instituição no período e bolsistas, que tinham o intuito de desenvolver uma proposta pedagógica para atender a crianças e adolescentes enfermos em situação de internação, com vistas a dar continuidade ao conteúdo curricular escolar, além de prestar atendimento aos seus acompanhantes. A partir disso, começaram a ser realizadas intervenções no Hospital do Seridó para efetivar as propostas do projeto, tais como “dar continuidade ao currículo educativo de crianças internadas, além de prestar

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atendimento aos acompanhantes, tendo como base o Estatuto da Criança e do adolescente Hospitalizados” (MEDEIROS, 2016, p.47).

A estrutura da classe hospitalar Sulivan Medeiros compreende o parquinho, brinquedoteca, sala de aula, cantinho pedagógico, cantinho da leitura e cantinho do artista, tudo em prol do desenvolvimento das crianças e adolescentes. As atividades desenvolvidas ocorrem por meio de jogos pedagógicos, brincadeiras, apoio escolar atividades artísticas, entre outros meios.

Imagem 2 – Parquinho, brinquedoteca, sala de aula da Classe Hospitalar Sulivan Medeiros

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).

As práticas pedagógicas desenvolvidas na classe hospitalar são marcadas pelos cuidados e pela atenção à criança e adolescente enfermos. O docente mantém os cuidados devidos, desde a saída da enfermaria até a permanência na classe hospitalar.

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2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

As práticas pedagógicas evidenciam-se através de ações eficazes dos professores para atingir objetivos, por meio das quais eles aplicam os conhecimentos e habilidades adquiridos ou a serem adquiridos. Zabala (1998) ao discutir sobre as variáveis que configuram a prática educativa aponta que os processos de ensino são complexos e permeados por diferentes fatores:

A estrutura da prática obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilidades reais dos professores, dos meios e condições físicas existentes, etc. Mas a prática é algo fluido, fugidio, difícil de limitar com coordenadas simples e, além do mais, complexa, já que nela se expressam muitos fatores, ideias, valores, hábitos pedagógicos, etc. (ZABALA, 1998, p.16).

Logo, depreendemos que todos os objetivos, metodologias e critérios avaliativos estabelecidos pelos professores para a realização de prática educativa são permeados pela subjetividade, levando em consideração o contexto no qual ele está inserido, ou seja, não há uma fórmula específica de procedimentos para o exercício da docência, pois ele depende de diferentes aspectos.

De acordo com Libâneo (1994) o processo didático obedece às finalidades educacionais, uma vez que as práticas educativas necessitam seguir objetivos pré-estabelecidos. Portanto, o objetivo educativo, isto é, os conhecimentos, habilidades e capacidades propiciados pelo ensino se tornam princípios reguladores da prática educativa.

O autor relata ainda que as práticas pedagógicas acontecem em todos os cenários da existência individual e social humana, de forma institucionalizada ou não, em diversas modalidades. Entre tais práticas, existem as que ocorrem de maneira difusa e dispersa, são as que ocorrem nos processos de obtenção de conhecimentos de forma não intencional e não institucionalizado, constituindo a educação informal. De acordo com Lisita (2007, p.513), há também práticas educativas com elevados graus de “intencionalidade, sistematização e institucionalização, como as que se realizam nas escolas ou em outras instituições de ensino, compreendendo o que o autor denomina educação formal”.

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Além destas, existem também, as práticas educativas realizadas em instituições não convencionais de educação, mas com certo nível de intencionalidade e sistematização, caracterizando a educação não formal.

A pedagogia hospitalar, nesse contexto, insere-se dentro do campo da educação não formal em espaço extraescolar, onde diversas práticas pedagógicas são realizadas, constituindo um processo de educação continuada.

Trata-se, justamente, do desenvolvimento de ações educativas, em natural sintonia com as demais áreas, num trabalho integrado, de sentido complementar, coerente e cooperativo, numa fecunda aproximação em benefício do enfermo, em situação de fragilidade ocasionada pela doença, no entanto, passível de motivação e incentivo à participação no processo de cura. (MATOS E MUGIATTI, 2014, p.16).

Ainda segundo as autoras, “a condição de aprendizagem, em situação que difere do cotidiano de uma escola formal, requer uma visão mais ampla do profissional, demandando práticas pedagógicas que superem a ortodoxia dos processos atuais” (MATTOS E MUGIATTI, 2014, p.115). Cabe pontuar que o pedagogo vai necessitar de conhecimentos mínimos acerca do ambiente hospitalar, bem como entender a condição física e mental dos educandos enfermos.

2.1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

O atendimento hospitalar, durante muito tempo, foi voltado exclusivamente para tratamentos de saúde, entretanto, com o passar do tempo essa realidade foi se modificando, e começaram a realizar atendimentos com fins pedagógicos, no ambiente hospitalar, com o objetivo de promover o ensino e aprendizagem para aquelas crianças e adolescentes que se encontram em situação de internamento.

Apesar de terem sido implantadas salas pedagógicas nos hospitais, sempre persistem as dificuldades de atuação profissional, principalmente quando trata-se da formação destes para atuarem na Educação Especial numa perspectiva inclusiva. Com vistas nisso, estão sendo realizados intensos movimentos de incentivo à formação de professores para trabalharem nas classes hospitalares, como destaca Vasconcelos (2015).

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A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, publicou no ano de 2002, um documento intitulado: “classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar”, que enfatiza as contribuições de escolaridade e formação de docentes para atuarem nos hospitais.

Segundo Vasconcelos (2015, p.30):

A questão central na formação de professores é tornar relevante a escolaridade no hospital, a partir da visão atual que a criança doente tem da escola, onde agora está ausente, em relação à escola atual dentro do hospital. Os processos de ensino operados no cotidiano hospitalar não são os mesmos que aqueles realizados em uma escola regular. As condições estão fora dos modos de trabalho educativo da escola, onde normalmente a saúde é um requisito, onde a palavra não é necessariamente uma prioridade e onde o silêncio muitas vezes é equivalente à atenção.

Atualmente, o trabalho educacional em hospitais, é ofertado de forma gratuita, individual e aberto a todas as crianças hospitalizadas. Sendo assim, Vasconcelos (2015, p.32) ressalta que, “a educação hospitalar acontece em instituição de saúde, clínica ou hospital ou mesmo abrigo; é dirigida a indivíduos que sofreram uma ruptura na sua escolarização”.

Nesse sentido, pode-se dizer que a educação em classes hospitalares tem por finalidade proporcionar, às crianças e adolescentes em situação de internamento, a aquisição do conhecimento sem prejuízos devido ao tempo que encontra-se hospitalizado, contribuindo para a formação da autonomia, criticidade e interação. Além disso, ajuda no processo de cura do aluno/paciente.

O atendimento pedagógico deverá ser orientado pelo processo de desenvolvimento e construção do conhecimento correspondentes à educação básica, exercido numa ação integrada com os serviços de saúde. A oferta curricular ou didático-pedagógica deverá ser flexibilizada, de forma que contribua com a promoção de saúde e ao melhor retorno e/ou continuidade dos estudos pelos educandos envolvidos (BRASIL, 2002, p.17).

Dessa forma, torna-se imprescindível a flexibilidade em torno dos procedimentos e objetivos, pois a prática pedagógica se adequa às experiências vivenciadas com os alunos, e na educação inclusiva é essencial que haja um planejamento de acordo com as necessidades do seu público-alvo, sempre buscando se adaptar ao currículo da escola regular.

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No que concerne à prática pedagógica em classes hospitalares, Medeiros (2016, p.56) relata que “a prática docente no ambiente hospitalar é marcada pelos cuidados e pela atenção ao paciente infantil. O educador mantém os devidos cuidados, desde a saída da enfermaria até a permanência na classe hospitalar”. Nesse sentido, é de suma importância que a prática pedagógica no ambiente hospitalar seja afetuosa, dinâmica e atenciosa, com vistas a dar continuidade, da melhor maneira possível, ao processo de aprendizagem educacional da criança enferma.

Segundo Cardoso (1995, p. 48)

Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente a razão, a sensação, o sentimento e a intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Assim, a educação além de transmitir e construir o saber sistematizado assume um sentido terapêutico ao despertar no educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal.

Com base nesse excerto, podemos afirmar que a prática pedagógica numa classe hospitalar pode contribuir para amenizar o medo que é gerado na criança por causa da enfermidade, assumindo importância no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos educandos. Sendo assim, o educador tem um importante papel de promover mudanças na produção do conhecimento por meio de ações pedagógicas.

Vieira (2016), ao discorrer sobre a classe hospitalar como garantia do direito à educação no contexto das políticas educacionais inclusivas, enfatiza a importância da intervenção, da ação pedagógica no processo de desenvolvimento da criança por meio da aprendizagem. Nesse sentido, a classe hospitalar assume grande importância no sentido de promover a continuidade da aprendizagem num período em que a criança não pode frequentar a escola por motivos de enfermidades.

De acordo com o Ministério da Educação (2002), as práticas pedagógicas na classe hospitalar rompem com os moldes da medicina que enxerga o enfermo somente por sua doença, pois engloba qualidade e humanização, as características psicossociais3 existentes no indivíduo enfermo.

3 [...] Condições específicas que dificultam o acompanhamento das atividades curriculares no ambiente da escola. [...] limitam ou impedem, por razões de proteção à saúde, proteção social

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O pedagogo hospitalar deve ter abertura e flexibilidade para situações diferentes do cotidiano da educação formal, adquirindo uma visão sistemática da realidade hospitalar e escolar do educando, tendo como objetivo centrar integrá-las.

Em relação a isto, Cardoso (1995, p.89) pontua:

[...] pretende-se com isso que se desenvolva "tanto em educandos como educadores" a capacidade de transformação pessoal, aspecto fundamental para a transformação social. pelo seu próprio caráter experimental, o caminho e os "resultados" da holopráxis dificilmente podem ser traduzidos em palavras. trata-se de um conhecimento in-corpo-rado pela sensibilidade e pela intuição e não simplesmente apreendido pelo intelecto.

Por isso a necessidade da formação de profissionais que produzam propostas inovadoras, comprometidas e eficientes para o atendimento de crianças e adolescentes hospitalizados.

2.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS CLASSES HOSPITALARES

Diante do que foi apresentado até o momento, faz-se necessário haver uma discussão mais específica acerca de como são realizadas as práticas pedagógicas dos professores atuantes no âmbito das classes hospitalares.

Do ponto de vista pedagógico, para o pleno desenvolvimento do educando, o professor tem que criar condições pedagógicas e didáticas (elementos instrumentais) para que o aluno possa desenvolver maximamente tudo o que ele é capaz, independentemente se ele possui alguma necessidade educacional especial, seja ela cognitiva ou física. O que importa é que o professor crie as condições de desenvolvimento pleno. Sendo imprescindível que o professor domine a pedagogia e a didática.

O pedagogo através do seu trabalho pode contribuir para a diminuição da ansiedade causada pela internação, favorecendo o resgate da sensação de bem-estar por meio da humanização dos processos educativos.

É provável que haja uma atuação a mais por parte do pedagogo que atende os educandos de forma criativa, indo além dos conteúdos que são propostos. Vale salientar que a classe hospitalar atende de forma integrada os

ou segurança à cidadania, o deslocamento livre e autônomo de seus usuários pela cidade (BRASIL, 2002, p.10).

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educandos de diversos níveis de escolarização, isto é, é uma classe de turma multiseriada.

Contudo, ressalta-se que o trabalho educacional não é responsabilidade apenas da escola ou do professor, mas também é um compromisso da família para com seus filhos. Portanto, é importante existir uma relação entre escola e família, a fim de realizarem um trabalho conjunto em prol do melhor desenvolvimento e aprendizado do aluno enfermo, como menciona Ortiz e Freitas (2005, p. 41):

A participação dos pais em todo o processo do enfermo, desde o ato de internação, aplicação da terapêutica e suporte no período de retorno à vida cotidiana, garantem ao paciente pediátrico o acesso a maior comunicação, segurança e harmonia familiar. São situações de efetiva visão otimista que instrumentalizam a criança na construção de seus projetos de vida, no planejamento positivo para o futuro, restauração progressista da autoestima e da identidade abalada para, enfim, preservar o seu crescimento social e psicológico saudável. Nesse contexto, tem-se que a família tem papel fundamental no que diz respeito à educação de seus filhos, pois educação vai muito além de uma criança simplesmente estar inserida no ambiente escolar, é necessário que a família seja presente na vida educacional dos seus filhos, dando-lhes incentivo, apoio e ajuda, sempre que eles precisarem.

De acordo com Fernandes (2001, p.42):

[...] a família também é responsável pela aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros ensinantes e as atitudes destes frente às emergências de autoria, se repetidas constantemente, irão determinar a modalidade de aprendizagem dos filhos.

Percebe-se que o autor defende a participação da família no processo de aprendizagem dos filhos, sendo estes os seus primeiros “professores”, pois a partir do momento que ensinam valores éticos, morais, formas de comportamento, modos de agir, entre outros, os filhos estão sendo formados, ou seja, é uma forma de aprendizagem.

De acordo com a LDB “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996, ART. 1º).

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Nesse contexto, torna-se necessário e de grande relevância que os pais exerçam o compromisso com a educação dos seus filhos, e quando em situações de adoecimento, devem buscar auxílio de profissionais atuantes nas classes hospitalares, fazendo-se seguir a legislação vigente para a escolarização de crianças e adolescentes que encontram-se internadas em hospitais. Contudo, não se pode isentar o Estado no que concerne seu papel perante a educação deste público, garantindo o acesso e condições necessárias para permanência destes na escola.

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3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E SUA RELEVÂNCIA PARA A MANUTENÇÃO DO VÍNCULO ESCOLAR

Para início de discussão, faz-se importante conhecer o significado do termo “vínculo”, que de acordo com Dicionário Online de Português4 se constitui como aquilo que tem a capacidade de unir uma coisa a outra, que estabelece uma ligação. Com base nisso, discutir a manutenção do vínculo escolar pela classe hospitalar significa analisar se as práticas pedagógicas nela desenvolvidas faz com que a criança ou adolescente enfermo dê continuidade aos conteúdos que estavam sendo estudados na escola regular, de modo a não atrasar o processo de escolarização, mantendo, dessa forma, uma proximidade com a instituição.

Para isso, torna-se importante esclarecer questões pertinentes ao desenvolvimento do próprio ser humano, que está ligado à evolução contínua do indivíduo, ao longo de sua vida, que se dá em diversos campos da existência, tais como cognitivo, afetivo e social (RABELLO E PASSOS, 2007).

Estudos de enfoque cognitivo mostram que o aluno tem maior aquisição de conhecimento quando as propostas pedagógicas estão focadas em atividades auto estruturantes, isto é, quando os estudantes atuam como protagonistas de sua própria aprendizagem escolar. Vale salientar, no entanto, a importância da influência do professor e da intervenção pedagógica nesse processo, pois embora a construção do conhecimento seja interpretada como resultado autônomo do aluno em interação com o objeto de conhecimento, é de responsabilidade do professor orientar, intermediar e facilitar a aprendizagem, criando condições adequadas para que ocorra a interação construtiva do aluno com o objeto de conhecimento (COLL, 1994).

Os processos escolares de ensino/aprendizagem são, em essência, processos interativos com três vértices: o aluno que está levando a cabo uma aprendizagem; o objeto ou objetos de conhecimento que constituem o conteúdo da aprendizagem; e o professor que age, isto é, que ensina, com a finalidade de favorecer a aprendizagem dos alunos (COLL, 1994, p.103).

Portanto, pode-se afirmar, que o processo de ensino-aprendizagem escolar ocorre como uma atividade articulada e conjunta do professor e do 4 Disponível em: <https://www.dicio.com.br/vinculo/>.

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aluno em busca da concretização de tarefas escolares. Isto não anula, mas ao contrário, reforça, a existência da atividade auto estruturante. Nesse sentido, acredita-se que o desenvolvimento cognitivo ou intelectual é construído através de laços afetivos, tornando-se capaz de desenvolver ou retardar o processo de aprendizagem.

No ambiente escolar, é necessário que sejam estabelecidos vínculos harmoniosos entre professor e aluno que possam despertar o interesse da criança em ir para a escola, contribuindo assim para a manutenção do vínculo escolar. Contudo, acredita-se que para existir uma boa relação entre professor e aluno, deve-se existir o que chamamos de afetividade, teoria defendida por Henri Wallon.

Wallon (1968) discorda da opinião de que a inteligência dos indivíduos é o principal elemento do desenvolvimento e defende que os meios para essa evolução provêm da capacidade biológica e do ambiente, que o influencia de algum modo. Para o autor, a relação afetiva é inerente ao desenvolvimento cognitivo. Ele afirma ainda que no desenvolvimento humano não é a inteligência o fator mais importante, pois esse desenvolvimento está sujeito a outros três aspectos: afetivo, motor e cognitivo. O desenvolvimento cognitivo ou intelectual é construído através de laços afetivos, tornando-se assim capaz de desenvolver ou retardar o processo de aprendizagem.

Sendo assim, considera-se que quando existe a prática real da afetividade entre professor e aluno, desenvolve-se a possibilidade de garantir que aquelas crianças tenham disposição para enfrentar possíveis conflitos em um mundo tão cheio de diversidades e dificuldades que irão enfrentar. Quando a afetividade é desenvolvida durante o processo de ensino-aprendizagem, de forma coerente, favorece a criança uma autonomia de amenizar seus conflitos e assim torná-lo um ser afetuoso, além de que a criança se desenvolve cognitivamente melhor quando existe essa relação afetuosa estabelecida.

Por isso, aquele professor que trabalha com afeto contribui para a formação do sujeito, da personalidade e de valores. As crianças que se sentem amadas, aceitas e respeitadas, aprendem a ser mais autônomas, têm controle de si, conseguem adquirir respeito pelo próximo, são mais seguras, expõem suas opiniões sem medo de errar, e são mais positivas em relação a si mesmas.

(33)

Rabello e Passos (2007) enfatizam que a evolução cognitiva e afetiva do sujeito se dá de forma contínua e que esta não é determinada apenas por fatores biológicos e genéticos, mas também através das interações sociais, ou seja, da relação do indivíduo com o meio em que ele está inserido. Portanto, tem-se que o desenvolvimento do ser humano é fortemente influenciado pela sua cultura, logo, destaca-se a abordagem Sócio-interacionista de Vygotsky, também conhecida por sócio-histórica ou sócio-cultural.

Vygotsky foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são um produto de atividade cerebral. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio, ou seja, para ele o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação (RABELLO E PASSOS, 2007).

Nesse contexto, Vygotsky originou uma nova perspectiva de olhar às crianças e assumiu uma reflexão acerca do desenvolvimento infantil a partir de uma perspectiva sociocultural. Diante disso, a cultura é vista como algo dinâmico, em constante movimento, um sistema aberto que engloba a produção humana e os processos de significação nos seus mais diversos níveis.

De acordo com Gontijo (2009, p.79):

A criança seleciona e transforma, não necessariamente de forma intencional, mensagens culturais provenientes do seu contexto, essa interação criança-contexto é descrita pelo construto teórico de internalização/externalização. No processo de internalização a criança seleciona e se apropria de um conjunto único de significados e no processo de externalização a criança exerce impacto na cultura coletiva.

A citação acima deixa esclarecido o fato de que a criança se desenvolve a partir das suas interações com o meio, além disso, é importante ressaltar que as ações realizadas pelo homem lhe permitem um desenvolvimento cognitivo que lhe diferencia dos animais. De acordo com Vygotsky (1989) as características e atitudes individuais do ser humano são adquiridas por meio de trocas com o coletivo, ou seja, o humano foi construído a partir da sua relação com o outro e com o meio em que está inserido.

(34)

Portanto, tem-se que os principais objetivos da teoria sociocultural de Vygotsky são: caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formam ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida do indivíduo (Vygotsky, 1989). Diante disso, Lucci (2006, p.5-6) discute sobre as afirmações desta teoria, sendo estas:

a) o homem é um ser histórico-social ou, mais abrangentemente, um

ser histórico-cultural; o homem é moldado pela cultura que ele próprio cria; b) o indivíduo é determinado nas interações sociais, ou seja, é por meio da relação com o outro e por ela própria que o indivíduo é determinado; é na linguagem e por ela própria que o indivíduo é determinado e é determinante de outros indivíduos; c) a atividade mental é exclusivamente humana e é resultante da aprendizagem social, da interiorização da cultura e das relações sociais; d) o desenvolvimento é um longo processo marcado por saltos qualitativos que ocorrem em três momentos: da filogênese (origem da espécie) para a sociogênese (origem da sociedade); da sociogênese para a ontogênese (origem do homem) e da ontogênese para a microgênese (origem do indivíduo único); e) o desenvolvimento mental é, em sua essência, um processo sociogenético; f) a atividade cerebral superior não é simplesmente uma atividade nervosa ou neuronal superior, mas uma atividade que interiorizou significados sociais derivados das atividades culturais e mediada por signos; g) a atividade cerebral é sempre mediada por instrumentos e signos; h) a linguagem é o principal mediador na formação e no desenvolvimento das funções psicológicas superiores; i) a linguagem compreende várias formas de expressão: oral, gestual, escrita, artística, musical e matemática; j) o processo de interiorização das funções psicológicas superiores é histórico, e as estruturas de percepção, a atenção voluntária, a memória, as emoções, o pensamento, a linguagem, a resolução de problemas e o comportamento assumem diferentes formas, de acordo com o contexto histórico da cultura; k) a cultura é interiorizada sob a forma de sistemas neurofísicos que constituem parte das atividades fisiológicas do cérebro, as quais permitem a formação e o desenvolvimento dos processos mentais superiores.

Com vistas nisso, faz-se relevante compreender como se dá o processo de ensino-aprendizagem nas classes hospitalares, tomando como base as práticas pedagógicas dos professores atuantes neste âmbito.

3.1 MANUTENÇÃO DO VÍNCULO ESCOLAR NAS CLASSES

HOSPITALARES

Este tópico é destinado às discussões e análises acerca das práticas pedagógicas nas classes hospitalares, a fim de verificar sua importância para manutenção do vínculo escolar. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, cujo ambiente investigado foi a Classe Hospitalar Sulivan Medeiros, que está

(35)

localizada no Hospital do Seridó, município de Caicó/RN. Ressalta-se que a referida instituição oferta as modalidades de ensino da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Foram aplicados questionários com duas professoras e o coordenador pedagógico, atuantes na instituição. Vale salientar que os questionários foram elaborados a partir de sete questões abertas/discursivas (ver apêndice A), além de informações fundamentais para traçar o perfil profissional dos sujeitos participantes da pesquisa, como podemos observar no quadro abaixo.

Quadro 1 – Perfil dos profissionais PROFISSIONAL FORMAÇÃO GRADUAÇÃO PÓS- TEMPO DE ATUAÇÃO

DOCENTE TEMPO DE ATUAÇÃO EM CLASSES HOSPITALARES COORDENADOR Pedagogia Especialização em Pedagogia Hospitalar; Especialização em Supervisão escolar. 20 anos 15 anos PROFESSORA A Pedagogia Especialização em

Psicopedagogia 20 anos 2 anos

PROFESSORA B Pedagogia Especialização em

Psicopedagogia 15 anos 1 ano e 5 meses

Fonte: Autora (2019).

Observando o quadro acima, pode-se notar que, tanto o coordenador pedagógico como todas as professoras que participaram da referida pesquisa possuem graduação em pedagogia, curso de exigência para atuação na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, sendo estas as modalidades de ensino ofertadas na instituição investigada.

As informações estão em concordância com o que estabelece o Ministério da Educação, acerca da formação inicial do profissional para atuar em classes hospitalares:

O professor deverá ter a formação pedagógica preferencialmente em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, ter noções sobre as doenças e condições psicossociais vivenciadas pelos educandos e as características delas decorrentes, sejam do ponto de vista clínico, sejam do ponto de vista afetivo. Compete ao professor adequar e adaptar o ambiente às atividades e os materiais, planejar o dia-a-dia da turma, registrar e avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido. (BRASIL, 2002, p.22).

(36)

Ainda sobre a formação dos profissionais, buscou-se saber se os mesmos possuem cursos de pós-graduação, ficando esclarecido que os três têm cursos de especialização na área da Educação. O coordenador é especializado em duas áreas: Pedagogia Hospitalar e Supervisão Escolar. Segundo Marchi e Silva (2017, p.19), “o pedagogo que opta por atuar dentro do ambiente hospitalar deve possuir especialização, para poder ter as competências e saberes necessários para o seu trabalho”. No caso deste coordenador, pode-se dizer que o mesmo possui subsídios teóricos e práticos que lhes permite atuar de forma experiente neste ambiente de ensino, devido ao fato de que sua primeira especialização é voltada especificamente para atuar em classes hospitalares.

Sobre sua segunda especialização, enquanto supervisor escolar, sua especialidade lhe permite “oferece o apoio técnico, administrativo e pedagógico às escolas, garante a formação de gestores e coordenadores e dinamiza a implantação de políticas públicas” (ANDRADE, 2013, p.35-36). Nesse sentido, acredita-se que esta segunda especialização dá ao coordenador um suporte ainda melhor para sua atuação em classes hospitalares, tendo em vista que ele tem como uma de suas funções, orientar os professores em sua atuação, bem como contribuir para sua formação continuada, o que vem a ser de grande contribuição para o processo de ensino-aprendizagem nas classes hospitalares.

Quanto às professoras, ambas possuem especialização em Psicopedagogia, cuja especificidade e:

Oferece melhor reflexão sobre a aprendizagem de todos os sujeitos envolvidos. O objeto de estudo dela é compreender o aprender e o não-aprender. Onde existirem situações de aprendizagem, há espaço de reflexão psicopedagógica. Ela tem o seu olhar voltado sobre o ser humano em processo de construção de conhecimento, considerando as dimensões subjetivas e objetivas, auxiliando na busca da minimização dos problemas de aprendizagem e potencialização do aprender (WOLFFENBUTTEL, 2005 apud ARAGÃO, 2010, p.10). Nesse sentido, percebe-se que os profissionais especializados em Psicopedagogia, podem atuar em duas áreas: institucional e clínica. Em relação à função do psicopedagogo em instituições escolares, este tem sua atuação voltada para suspeitas de diagnósticos e encaminhamentos para demais profissionais, dependendo das necessidades particulares de cada

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