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Efeito da hora do dia em tarefas de reconhecimento facial e de rotação mental e sua relação com o cronótipo

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Academic year: 2021

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Universidade de Aveiro Ano 2019

Departamento de Educação e Psicologia

Fátima Andreia

Andrade Pita

Efeito da hora do dia em tarefas de reconhecimento

facial e de rotação mental e sua relação com o

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Universidade de Aveiro Ano 2019

Departamento de Educação e Psicologia

Fátima Andreia

Andrade Pita

Efeito da hora do dia em tarefas de reconhecimento

facial e de rotação mental e sua relação com o

cronótipo

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Saúde e Reabilitação Neuropsicológica, realizada sob a orientação científica da Doutora Isabel Maria Barbas dos Santos, Professora Auxiliar do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.

Trabalho financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto

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Dedico este trabalho ao meu avô, Estevão, por ter sido quem mais acreditou em mim desde o início e em todas as etapas e por, ainda que a vida, por pouco, não nos tenha permitido partilhar este momento, ter deixado claro o seu orgulho no meu trabalho e a sua vontade de me ver prosperar. Levarei para sempre comigo todos os ensinamentos e memórias felizes que me deixou.

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o júri

presidente Prof. Doutora Anabela Maria Sousa Pereira

professora associada com agregação da Universidade de Aveiro

Prof. Doutor Paulo Joaquim Fonseca da Silva Farinha Rodrigues professor auxiliar da Universidade da Beira Interior

Prof. Doutora Isabel Maria Barbas dos Santos professora auxiliar da Universidade de Aveiro

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agradecimentos A minha chegada a esta fase foi indiscutivelmente marcada por um conjunto de pessoas indispensáveis, neste processo e não só, às quais passo a agradecer. À professora Isabel Santos, pela orientação no processo de construção da presente dissertação.

A todos participantes do presente estudo, que de forma voluntária disponibilizaram o seu tempo e se empenharam em tudo o que lhes foi pedido, possibilitando a elaboração deste trabalho.

Aos meus pais, Inês e José, por me darem a liberdade de escolher e decidir de forma autónoma o caminho que queria seguir, apoiando-me incondicionalmente, e por terem instigado a minha resiliência e perseverança nos momentos mais difíceis. São sem dúvida alguma cruciais e centrais em todas as vertentes da minha vida.

Ao meu irmão e companheiro de todas as jornadas, José Luís, por ser porto de abrigo e fonte de motivação em todas as fases da minha vida, e em especial neste processo.

À minha avó, Ilda, por me ter incentivado e por ter acreditado em mim, sempre. Aos meus avós, Estevão e Julieta, que tiveram um papel fundamental na minha formação moral e pessoal e que nunca deixaram de estar presentes em nenhuma fase da minha vida, mesmo após partirem.

Aos meus padrinhos, tios e primos, pela preocupação e apoio constantes, assim como pelos conselhos e palavras tranquilizadoras nos momentos em que foram necessários.

Ao meu sempre amigo, e agora namorado, João Baptista, por nunca me ter deixado desistir, por ser pilar e impulsionador nas alturas certas e por estar ao

meu lado nesta jornada e em tantas outras.

À minha amiga, Francisca Gouveia, pelas palavras de incentivo, pelo apoio e pelo companheirismo em todas as etapas e dimensões da vida.

Aos meus amigos e companheiros neste processo, Carlota, Cátia, Dora, Luísa, João e Maria, pela amizade, pelas memórias criadas, pelas aprendizagens e por todas as partilhas ao longo dos últimos dois anos.

À doutora Cecília Lourenço, pelas palavras de incentivo e pela disponibilidade e prontidão em todas as alturas em que a conciliação da elaboração do presente trabalho com o decorrer do estágio académico se tornou mais complicada.

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palavras-chave cronótipo, hora do dia, reconhecimento facial, rotação mental, efeito de sincronia, funções cognitivas.

resumo Os indivíduos podem ser classificados em matutinos, vespertinos ou

intermédios/ indiferentes em função do seu cronótipo, que se traduz, entre outras coisas, numa preferência por estar ativo em diferentes horas do dia. Desta forma, os indivíduos do tipo matutino atingem o seu pico de atividade no período da manhã e os do tipo vespertino no período da tarde. Vários estudos apontam para a existência de um efeito que traduz uma relação síncrona entre a hora do dia e os ritmos circadianos: o efeito de sincronia. Este efeito ocorre quando os participantes realizam as tarefas no seu pico de atividade (hora ótima) e o seu desempenho é melhor que nas restantes horas do dia. No presente estudo procurou-se explorar o efeito da hora do dia e a sua relação com o cronótipo numa tarefa de reconhecimento facial em diferentes pontos de vista e numa tarefa de rotação mental. Quarenta participantes foram distribuídos por quatro grupos em função da hora do dia. Todos completaram duas tarefas computorizadas, uma de reconhecimento facial em diferentes pontos de vista e uma de rotação mental. O cronótipo foi avaliado através do Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne & Ostberg. Os resultados encontrados apontam para a influência da orientação das faces e do ângulo de rotação dos objetos no desempenho dos participantes nas tarefas. Encontraram-se ainda evidências da existência de um efeito da hora do dia e do cronótipo no desempenho dos participantes na tarefa de reconhecimento facial, na condição em que se manipulou o ângulo de rotação, sendo este efeito, contrariamente ao esperado, de assincronia (i.e., os participantes evidenciaram um melhor desempenho na sua hora não ótima). Na tarefa de rotação mental não se encontrou efeito da hora do dia nem relação com o cronótipo no desempenho dos participantes. Os resultados encontrados apontam para uma possível influência do cronótipo e da hora do dia no desempenho nestas tarefas. O presente estudo contribui para o conhecimento nas áreas da cronobiologia, reconhecimento facial e rotação mental, apontando para uma possível interação entre variáveis cronobiológicas e o desempenho cognitivo.

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keywords chronotype, time of the day, facial recognition, mental rotation, synchrony effect, cognitive abilities.

abstract Individuals can be classified as morning-type, evening-type or intermediate/ neither-type, according to their chronotype, which manifests itself, among other things, by a preference for being active at different times of the day. Thus, morning types reach their peak of activity in the morning and evening types reach their peak of activity later in the afternoon. Several studies point to the existence of an effect that reflects a synchronous relation between time of day and circadian rhythms: the synchrony effect. This effect occurs when subjects perform tasks at their peak activity period (optimal time) and their performance is better than in the remaining periods of the day. The present study aimed to explore the effect of time of day and its relation with chronotype on participants’ performance on a face recognition task and a mental rotation task. Forty participants were distributed in four groups concerning the time of day. All participants completed two computerized tasks, one of face recognition and one of mental rotation. Chronotype was assessed using the Morningness- Eveningness Questionnaire of Horne & Ostberg. Results point to an influence of face orientation and object rotation angle on participants’ performance. Evidence of an influence of time of day and chronotype on participants’ performance in the face recognition task when angle of rotation was manipulated was also found. Contrary to what was expected, this was an asynchronous effect (i.e., performance was better at the participants’ non-optimal time-of-day). On the mental rotation task, no significant effects of time of day or chronotype were found. Results point to a possible influence of time of day and chronotype in participants’ performance on both tasks. The present study contributes to knowledge in the areas of chronobiology, facial recognition and mental rotation, pointing to a possible interplay between chronobiological variables and cognitive performance.

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Índice

Introdução ... 1

Cronótipo... 1

Cronótipo, hora do dia e desempenho cognitvo ... 2

Reconhecimento Facial ... 5 Rotação Mental ... 7 Objetivos ... 8 Métodos ... 9 Participantes ... 9 Materiais ... 10 Questionários ... 10 Questionário sociodemográfico. ... 10

Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne e Ostberg (MEQ). ... 10

Tarefas computorizadas ... 10

Tarefa de Reconhecimento de Faces em Diferentes Pontos de Vista. ... 11

Tarefa de Rotação Mental. ... 12

Procedimento ... 13

Análise de dados ... 14

Resultados ... 14

Tarefa de Reconhecimento Facial ... 14

Análise do efeito da hora do dia, controlando o cronótipo... 14

Análises de correlação entre o cronótipo e o desempenho na tarefa ... 16

Análise do efeito da hora do dia no desempenho, em função do cronótipo ... 17

Tarefa de Rotação Mental ... 19

Análise do efeito da hora do dia, controlando o cronótipo... 19

Análises de correlação entre o cronótipo e o desempenho na tarefa ... 20

Análise do efeito da hora do dia no desempenho, em função do cronótipo ... 21

Discussão... 22

Conclusão ... 25

Referências Bibliográficas ... 27

Anexos... 31

Anexo A- Resultados das ANCOVAs ... 32

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Lista de tabelas

Tabela 1. Síntese das caraterísticas demográficas e de tipologia circadiana da

amostra……….9

Tabela 2. Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ

e o desempenho na condição em que as faces diferem no ângulo de rotação……….…...17

Tabela 3. Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ

e o desempenho na condição em que as faces diferem na orientação………..17

Tabela 4. Desempenho dos participantes em função do cronótipo na condição em que as faces

diferem no ângulo de rotação………..……...18

Tabela 5. Desempenho dos participantes em função do cronótipo na condição em que as faces

diferem na orientação………..………...19

Tabela 6. Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ

e o desempenho na tarefa de rotação mental………...21

Tabela 7. Desempenho dos participantes na tarefa de rotação mental de objetos, nos vários ângulos

de rotação, em função do cronótipo………...…….22

Tabela A1. Resultados da ANCOVA para a tarefa de reconhecimento facial, considerando os fatores

ângulo de rotação das faces e horário, e controlando o cronótipo…….………...….32

Tabela A2. Resultados da ANCOVA para a tarefa de reconhecimento facial, considerando os fatores

orientação das faces e horário, e controlando o cronótipo………….………..…....32

Tabela A3. Resultados da ANCOVA para a tarefa de rotação mental, considerando os fatores ângulo

de rotação das faces e horário, e controlando o cronótipo………...……..32

Tabela B1. Diferenças no desempenho dos participantes de cada grupo horário na tarefa de

reconhecimento facial, em função do seu cronótipo, na condição em que o ângulo de rotação das faces foi manipulado………..………...…….33

Tabela B2. Diferenças no desempenho dos participantes de cada grupo horário na tarefa de

reconhecimento facial, em função do seu cronótipo, na condição em que a orientação das faces foi manipulada ………...……….33

Tabela B3. Diferenças no desempenho dos participantes de cada grupo horário na tarefa de rotação

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Lista de Figuras

Figura 1. Exemplos de faces apresentadas na Tarefa de Reconhecimento Facial em Diferentes

Pontos de Vista………...………12

Figura 2. Exemplo dos pares de objetos iguais e diferentes apresentados na Tarefa de Rotação Mental…….13 Figura 3. Desempenho no reconhecimento de faces em função do seu ângulo de rotação (0º e 45º), controlando o cronótipo ………15

Figura 4. Desempenho no reconhecimento de faces em função da sua orientação (direita e invertida), controlando o cronótipo ………16

Figura 5. Desempenho na rotação mental de objetos em função do ângulo de rotação, controlando o

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Introdução Cronótipo

O cronótipo consiste na manifestação comportamental dos ritmos circadianos, i.e., dos processos que se dão de forma cíclica ao longo das 24h do dia, e que se manifestam, entre outras coisas, sob a forma de preferências / caraterísticas individuais em termos de horários para dormir e estar acordado (Adan et al., 2012; Kalmbach et al., 2017). Esta manifestação é desencadeada pela interação entre processos homeostáticos, que regulam a pressão de sono durante o período de vigília e a sua dissipação durante o sono, e o relógio circadiano interno, que promove o estado de vigília ao longo do dia. Essa interação parece resultar na variação ao longo do dia dos níveis subjetivos de sonolência e de estado de alerta, que influenciam o comportamento e nível de produtividade dos indivíduos (Schmidt, Collette, Cajochen, & Peigneux, 2007).

Em função das suas preferências, os indivíduos podem ser classificados num continuum que tem nos seus extremos os sujeitos do tipo matutino (cotovias) e vespertino (corujas), e no centro os do tipo intermédio/ indiferente (Natale & Cicogna, 2002), sendo que os primeiros atingem o seu pico de produtividade pela manhã e/ou início da tarde e os segundos ao fim do dia e/ou noite. Os indivíduos que se situam nestes extremos distinguem-se ainda pelos seus horários de sono preferenciais: os matutinos tendencionalmente dormem e acordam mais cedo e os vespertinos dormem e acordam mais tarde (Adan et al., 2012; Kalmbach et al., 2017; Song & Stough, 2000).

A tipologia circadiana pode ser influenciada quer por fatores ambientais (zeitgebers), sobretudo a alternância entre o dia e a noite (Fabbian et al., 2016), quer por fatores genéticos e individuais (Roenneberg et al., 2007), e varia ao longo da vida, havendo uma maior tendência para a matutinidade após a adolescência e para a vespertinidade durante esta (Randler, 2016; Randler, Faßl, & Kalb, 2017; Roenneberg et al., 2007). Repercute-se ainda nos processos cognitivos, desde os mais simples até aos mais complexos, bem como nos processos fisiológicos, como os ciclos do sono, tendo um impacto significativo no bem-estar físico e psicológico, assim como mental (Adan et al., 2012; Kalmbach et al., 2017).

Os tipos de cronótipo tendem a apresentar uma distribuição relativamente normal na população (Adan et al., 2012; Kalmbach et al., 2017), com a maior parte dos indivíduos a inserir-se na classificação de tipo intermédio/indiferente (60%-70%) e uma minoria dos indivíduos a situar-se num dos extremos do continuum (Natale & Cicogna, 2002). Têm sido também encontradas diferenças entre géneros, sendo que as mulheres tendem a ser mais matutinas e os homens têm mais propensão para a vespertinidade (Schmidt et al., 2007).

As alterações sociais, civilizacionais, infraestruturais e tecnológicas que se têm vindo a dar ao longo dos anos têm influenciado largamente os comportamentos e rotina dos indivíduos, tendo impacto no cronótipo, na forma como este se distribui na população e até mesmo na relação entre os

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horários em que os indivíduos têm de levar a cabo as suas tarefas e a tipologia circadiana em que se inserem. Assim, vários estudos têm sido feitos em torno desta temática, com foco na relação do cronótipo com o género, faixa etária, qualidade de vida, saúde, humor, personalidade, processos cognitivos, entre outros (Adan et al., 2012; Cavallera & Giudici, 2008; Fabbian et al., 2016; Roenneberg et al., 2007).

Cronótipo, hora do dia e desempenho cognitvo

A interação do cronótipo com a hora do dia resulta num horário, designado hora ótima do dia, em que ocorre o pico do desempenho dos sujeitos nas mais diversas tarefas, sendo este efeito designado efeito de sincronia (May & Hasher, 1998). Considerando o efeito de sincronia, os indivíduos deveriam obter melhores resultados quanto mais próximo da hora ótima do dia fossem testados. No entanto, dada a natureza dos processos cognitivos, o estudo da influência do cronótipo e da hora do dia nos mesmos é complexo, uma vez que fatores como a motivação, a natureza e complexidade da tarefa a desempenhar, e outros processos compensatórios são significativamente determinantes do desempenho, podendo impactar, acentuando ou minimizando, a ação do efeito de sincronia (Adan et al., 2012; Schmidt et al., 2007).

Dada a sincronia entre os ritmos circadianos e o ciclo de sono-vigília, bem como a sua sincronização com o ciclo dia-noite, torna-se difícil o estudo do peso de cada um destes processos no desempenho dos indivíduos. Para esse fim, são implementados paradigmas experimentais distintos, o que contribui também para a grande heterogeneidade de resultados encontrada nos estudos relativos a esta temática (Adan et al., 2012; Schmidt et al., 2007).

São abordados, na literatura encontrada, três paradigmas experimentais neste campo:

paradigma de dessincronia forçada (forced desynchrony, FD), em que os sujeitos cumprem durante

semanas horários de sono artificiais com manipulação do número de horas do dia (i.e., durante períodos superiores ou inferiores a 24h), de forma a obter-se forçosamente uma dessincronização entre o ciclo de sono artificial e o ciclo circadiano; paradigma de rotina constante (constant routine, CR), no qual os indivíduos ficam num ambiente isolado e em condições artificiais mantidas constantes, de forma a controlar todos os fatores externos que possam sobrepor-se de alguma forma aos efeitos do ritmo circadiano; e paradigmas baseados no cronótipo, em que após aplicação de um teste subjetivo de cronótipo, os indivíduos são testados na sua hora ótima e na sua hora não ótima do dia, de forma a estudar o efeito de sincronia (Adan et al., 2012; Schmidt et al., 2007).

Não obstante a importância destes paradigmas, o facto de as condições criadas para a sua implementação serem manipuladas e de existirem limitações no isolamento para fins de investigação do efeito de cada um dos processos, pode comprometer os resultados obtidos e dificulta também o estudo do impacto da hora do dia e do cronótipo no desempenho em tarefas cognitivas (Adan et al.,

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2012; Schmidt et al., 2007). Não existe consenso na literatura em relação a esta temática, ainda que alguns estudos apontem para o impacto destes fatores na funcionalidade e desempenho ótimo dos indivíduos (Cavallera & Giudici, 2008; Cavallera, Boari, Giudici, & Ortolano, 2011; Song & Stough, 2000). Apesar da sua escassez e diferentes condições de realização, vários estudos têm sido feitos com o objetivo de avaliar o impacto do cronótipo e da hora do dia no desempenho dos sujeitos em tarefas específicas envolvendo a atenção, o raciocínio lógico, a memória e as funções executivas (Schmidt et al., 2007).

Segundo Schmidt et al. (2007), o desempenho em tarefas envolvendo funções cognitivas mais complexas, como as funções executivas, bem como controlo premeditado sobre a resposta, parece ser mais influenciável pela hora do dia e cronótipo que tarefas envolvendo funções mais simples. Pelo contrário, Natale, Alzani e Cicogna (2003) hipotetizaram que é nas tarefas que exigem menos recursos cognitivos que se encontram mais diferenças entre indivíduos do tipo matutino e vespertino, em função da hora do dia, encontrando diferenças entre sujeitos de cronótipos diferentes apenas nos tempos de resposta numa tarefa de procura visual simples (two-letter search), num estudo em que aplicaram também outras de tarefas de raciocínio lógico, espacial e matemático.

Matchock e Mordkoff (2009), estudaram o efeito da hora do dia e do cronótipo nos mecanismos atencionais - alerting, orienting e funções executivas. Os autores concluíram que a hora do dia e o cronótipo não interagem significativamente com o sistema de orientação, sendo que, no que diz respeito às funções executivas, o desempenho dos indivíduos tende a ser melhor à tarde, independentemente do seu cronótipo. Apenas no estado de alerta/vigília verificaram uma interação significativa entre o cronótipo e a hora do dia, com os sujeitos do tipo matutino e intermédio/ indiferente a obterem melhores resultados na segunda metade do dia, o que não é compatível com o efeito de sincronia.

Lara, Madrid e Correa (2014) estudaram o efeito dos mesmos fatores no funcionamento executivo, encontrando o efeito de sincronia nas tarefas que realizaram, i.e., o desempenho dos indivíduos foi melhor na sua hora ótima. Verificaram ainda que esse efeito era mais acentuado nas tarefas envolvendo controlo inibitório, do que nas tarefas go.

Barclay e Myachykov (2017) encontraram um efeito de assincronia no desempenho em tarefas do Attention Network Test (ANT), com os indivíduos do tipo vespertino a apresentar tempos de reação mais longos após 18h de vigília prolongada em comparação com o seu desempenho na realização das mesmas tarefas de manhã, e os matutinos a obter o resultado oposto. Ainda assim, após 18h de vigília, os sujeitos do tipo vespertino evidenciaram um melhor desempenho (tempos de resposta mais curtos e menos erros) na resolução de conflitos (ensaios incongruentes na tarefa de flanker do ANT) do que os sujeitos matutinos. Portanto, os indivíduos vespertinos parecem

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demonstrar uma preservação do controlo executivo na sua hora ótima, após 18h de vigília, apesar do efeito global de assincronia.

Facer-Childs, Campos, Middleton, Skene e Bagshaw (2019) constataram que nos indivíduos com um cronótipo mais tardio/ vespertino a conetividade funcional no cérebro era significativamente menor que nos indivíduos do tipo matutino, o que se traduz em limitações ao nível da consciência e afeta o desempenho cognitivo. Os mesmos autores relatam a manifestação do efeito de sincronia no desempenho dos indivíduos em tarefas cognitivas, bem como a influência da hora do dia e dos ritmos circadianos numa tarefa de vigilância psicomotora, e apenas da hora do dia numa tarefa de STROOP. Por seu lado, Facer-Childs, Boiling e Balanos (2018) haviam já encontrado evidências da influência da hora do dia e dos ritmos circadianos numa tarefa de vigilância psicomotora e no Memory and

Attention Test, relatando também a tendência de os matutinos se saírem melhor no período da manhã

e os vespertinos no período da tarde.

No que diz respeito à memória, Rowe, Hasher e Turcotte (2009) observaram o efeito de sincronia no desempenho de um grupo de adultos e idosos numa versão computorizada de uma tarefa de memória de trabalho visuoespacial. Schmidt et al. (2015) também encontraram um efeito de sincronia no desempenho numa tarefa de memória de trabalho, ainda que apenas para os sujeitos do tipo vespertino nos níveis mais complexos da tarefa que aplicaram, sendo que em qualquer das condições do estudo, os indivíduos do tipo matutino apresentaram tempos de resposta piores que os do tipo vespertino.

O cronótipo parece estar também relacionado com o sucesso académico, sendo que os indivíduos do tipo matutino parecem apresentar melhores resultados, o que possivelmente se deve ao facto de as aulas por norma terem início no período da manhã (Preckel, Lipnevich, Schneider, & Roberts, 2011).

Desta forma, considera-se o estudo desta temática de extrema importância para várias finalidades, quer em contexto terapêutico, quer no quotidiano, uma vez que há indícios de que o cronótipo parece influenciar largamente a vida dos indivíduos, repercutindo-se no seu desempenho nas mais diversas tarefas, nas suas relações interpessoais, nos seus papéis sociais, por exemplo em contexto laboral, e até mesmo na sua saúde (Adan et al., 2012; Beattie, Kyle, Espie, & Biello, 2015; Fabbian et al., 2016; Schmidt et al., 20017).

Dada a grande especificidade de algumas capacidades, como a capacidade de reconhecimento facial (Wilmer, Germine, & Nakayama, 2014) e a rotação mental (Tomasino & Gremese, 2016), há ainda algumas lacunas no seu estudo em relação com variáveis cronobiológicas. No presente trabalho pretende-se explorar a influência da hora do dia no desempenho em tarefas que avaliam a capacidade de reconhecimento de faces em diferentes pontos de vista, bem como em tarefas

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de rotação mental de objetos, controlando o cronótipo, pelo que se segue uma breve descrição destes processos.

Reconhecimento Facial

A perceção de faces é um processo complexo e específico, que ocorre de forma diferente do reconhecimento de objetos e recruta áreas corticais especializadas para faces (Haxby, Hoffman, & Gobbini, 2000, 2002). Inclui a identificação e processamento de informação relativa a aspetos como a identidade, o estado emocional, o foco atencional, género, idade, atratividade, etc. Todas estas informações que podem ser extraídas fazem das faces os estímulos em que mais nos focamos nas nossas interações sociais e torna cada face única, apesar de todas as faces terem os mesmos traços internos, isto é, dois olhos, um nariz e uma boca, e a mesma estrutura 3D (Duchaine & Yovel, 2015; Rivolta, 2014).

O reconhecimento facial baseia-se na capacidade de memorizar faces após tê-las visto uma ou mais vezes, e posteriormente identificá-las entre outras faces. Esta capacidade está envolvida nos processos sociais, permitindo aos indivíduos estabelecer e manter relações interpessoais no seu quotidiano, podendo também ser útil em variados contextos, entre eles o forense, na identificação de sujeitos por parte de testemunhas oculares, por exemplo (Freiwald, Duchaine, & Yovel, 2016; Megreya & Burton, 2006). Este processo é complexo e, sabendo que o desempenho em tarefas de reconhecimento facial tende a variar de indivíduo para indivíduo, permanece por explicar que fatores contribuem para uma melhor ou pior capacidade de reconhecimento facial, bem como qual a origem desses fatores (e.g., genética e/ou ambiental) e de que forma se alteram ao longo do ciclo de vida (Wilmer, 2017).

A aprendizagem de faces e o nível de familiaridade em relação às mesmas são influenciados por fatores como a quantidade de vezes em que somos expostos a elas e o número de perspetivas diversas em que se deu essa exposição. Quanto maior o número de vezes e de perspetivas em que se viu a face, maior a probabilidade de esta se tornar uma face familiar, fator que facilita o seu reconhecimento (Longmore, Liu, & Young, 2008; Young & Bruce, 2011).

A literatura indica também que faces familiares e faces não-familiares são reconhecidas de forma qualitativamente diferente (Johnston & Edmonds, 2009). Estas diferenças qualitativas são evidentes em alguns estudos, como o de Megreya & Burton (2006), que encontraram correlações significativas entre o reconhecimento de faces não-familiares direitas (posição normal) e de faces familiares invertidas. Este resultado aponta para semelhanças no processamento de faces não-familiares direitas e de faces não-familiares invertidas, e parece ser um indicador de que ambos os tipos de estímulo não são processados de forma holística, contrariamente às faces familiares direitas.

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Bruce e Young (1986) propuseram um modelo teórico explicativo do reconhecimento de faces familiares e da relação entre o reconhecimento de faces e outros aspetos do processamento das mesmas. Segundo os autores, os processos de codificação estrutural providenciam descrições adequadas para as análises do discurso e expressão facial e para as unidades de reconhecimento facial (FRUs). O reconhecimento de faces familiares envolve, segundo este modelo, a combinação dos produtos da codificação estrutural, extraídos inicialmente por meio do processamento quer holístico, quer de caraterísticas individuais das faces, e de códigos estruturais previamente armazenados nas FRUs, que caraterizam a aparência das faces familiares, dando resposta a caraterísticas e configurações específicas das mesmas. Posteriormente, ocorre nos nós de identidade pessoal (PINs - Personal identity nodes) o acesso aos códigos semânticos específicos da identidade, sendo subsequentemente extraídos os códigos de nome, que permitem a associação da face a um nome. Acredita-se que os códigos pictoriais, de expressão e de discurso facial têm um papel de menor importância no reconhecimento de faces familiares (Bruce & Young, 1986; Rivolta, 2014; Duchaine & Yovel, 2015; Young & Bruce, 2011). No caso das faces não familiares, os autores propuseram que, numa fase inicial, o seu reconhecimento se dá por meio de códigos pictoriais baseados em informação retirada de uma imagem estática da face, e parece depender de uma via de processamento diferente, que envolve um módulo denominado processamento visual direcionado (Bruce & Young, 1986; Rivolta, 2014; Young & Bruce, 2011).

Haxby, Hoffman e Gobbini (2000) apresentaram um modelo hierárquico, dividido num sistema nuclear e num sistema alargado, para a organização do sistema de perceção de faces, em que são distinguidas a representação de aspetos variáveis da face, como as expressões faciais, que estariam envolvidos na perceção de informação facilitadora da comunicação, e a representação de aspetos invariáveis, que estariam na base do reconhecimento de indivíduos. O processamento relativamente independente de aspetos variáveis e invariáveis das faces permite que mudanças em aspetos mutáveis, como a expressão, não sejam interpretados como mudanças de aspetos invariáveis, como a identidade (Bruce & Young, 1986).

O grau de rotação das faces parece influenciar o seu reconhecimento. Quando as faces são apresentadas invertidas, o desempenho dos indivíduos no seu reconhecimento fica significativamente mais comprometido que o reconhecimento de outros objetos mono-orientados, sendo esta tendência designada efeito da inversão de faces (Rakover, 2013). Este efeito é um possível indicador de que o processamento de faces se dá numa rede neuronal diferente do reconhecimento de outros objetos menos complexos de processar (Megreya & Burton, 2006; Rossion & Gauthier, 2002). No entanto, no que diz respeito à rotação no plano horizontal de faces direitas (0º), a 22.5º e 45º, McKone (2008) não encontrou diferenças no desempenho dos participantes do seu estudo no reconhecimento de faces, sugerindo que o reconhecimento de faces de frente e rodadas a três quartos não se dá de forma

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diferente. Porém, no reconhecimento de perfis (faces rodadas a 90º) os tempos de resposta encontrados foram maiores e a taxa de acertos foi menor, o que sugere que quando os graus de rotação são superiores a 45º o desempenho dos indivíduos é comprometido. Parece ainda haver uma relação entre o nível de familiaridade com as faces e a capacidade de reconhecimento das mesmas, sendo que o reconhecimento de faces não-familiares depende mais do ponto de vista que o de faces familiares (Johnston & Edmonds, 2009).

Rotação Mental

A rotação mental é um conceito introduzido por Shepard e Metzer (1971) e definido pelos mesmos como um processo cognitivo através do qual se modifica mentalmente um objeto, imaginando-o numa nova direção dentro de um certo limite, ditado por fatores como a dimensionalidade das formas, a sua complexidade, o tipo de estímulos, e o tipo de tarefa e respetivas instruções (Tomasino & Gremese, 2016). Estes fatores afetam o tempo de resposta em tarefas de rotação mental envolvendo estímulos não-familiares, bem como o ângulo máximo em que se consegue imaginar o objeto rodado (Milivojevic, Hamm, & Corballis, 2009; Searle & Hamm, 2017). Segundo Tomasino e Gremese (2016), os sujeitos começam por formar uma imagem visual do objeto, que vão rodando até que corresponda ao estímulo-alvo.

Assim que a codificação das formas tridimensionais ocorre, a rotação dessas pode ser imaginada tão rapidamente quanto a rotação de formas bidimensionais. Com a prática continuada com foco num estímulo particular, o ângulo de rotação dos estímulos continua a afetar diretamente o tempo de rotação. No entanto, a complexidade dos estímulos deixa de ter esse efeito, salvo em casos em que a estratégia de rotação mental adotada é mais analítica e descritiva (Bethell-Fox & Shepard, 1988; Shepard & Metzler, 1988).

Bethell-Fox e Shepard (1988) sugerem que as estratégias adotadas para a rotação mental de objetos dependem do nível de familiaridade com os mesmos, sendo que quando os sujeitos não estão familiarizados com o objeto optam por imaginar a sua rotação peça a peça, o que aumenta os seus tempos de resposta. Quando há familiarização com os objetos, o objeto é imaginado como um todo no processo de rotação, uma vez que já estão integrados em unidades cognitivas que o permitem. Segundo Tomasino e Gremese (2016), o tipo de estratégia adotada pode ainda divergir em função da perspetiva, podendo ser alocêntrica, i.e., centrada no objeto em si, ou egocêntrica, i.e., focada na posição do observador.

As zonas cerebrais ativadas durante a resolução de uma tarefa de rotação mental podem diferir em função do tipo de estímulo dado, i.e., em função de se é, por exemplo, uma parte do corpo, um objeto bidimensional ou tridimensional, entre outros, o que parece indicar que este processo é influenciado pelo tipo de imagem a rodar (Tomasino & Gremese, 2016). Kosslyn, DiGirolamo,

(18)

Thompson e Alpert (1998) hipotetizaram que a estratégia de rotação mental a que os sujeitos recorrem depende do tipo de estímulo que têm de rodar.

Segundo Khooshabeh, Hegarty e Shipley (2013), sujeitos que são bons criadores de imagens mentais tendem a ser mais rápidos e eficazes a rodar os objetos de forma integrada em vez de fragmentada, o que sugere que estes recorrem a estratégias mais holísticas no processo de rotação mental que aqueles que têm mais dificuldade em criar imagens mentais de objetos. Os mesmos também têm mais facilidade em mudar de estratégia de rotação se o objeto a rodar assim o exigir.

Shepard & Metzler (1971) constataram, numa tarefa de rotação mental em que o objetivo era os participantes identificarem se duas imagens de objetos 3D eram iguais (uma imagem era resultado da rotação da outra) ou diferentes (uma imagem era a imagem espelhada, possivelmente rodada da outra), que quanto maior a diferença angular entre o estímulo-alvo e o objeto rodado, mais tempo é necessário para que esse processo se dê, ou seja, mais longos são os tempos de resposta. Ganis & Kievit (2015) encontraram o mesmo efeito, assim como uma menor taxa de acertos quanto maior a diferença angular entre os objetos, aquando a validação de um set de objetos criado para testar o desempenho em tarefas de rotação mental.

Objetivos

Não foram encontrados, até à data da presente revisão da literatura, estudos que abordassem diretamente a influência do cronótipo e da hora do dia em tarefas de reconhecimento facial e de rotação mental. Constatou-se, no entanto, a influência destes fatores no desempenho em funções cognitivas como os mecanismos atencionais e as funções executivas, centrais para o desempenho em qualquer tipo de tarefa.

As tarefas aplicadas no presente estudo envolvem o reconhecimento de um objeto em diferentes pontos de vista, concretamente faces e objetos tridimensionais não faciais, envolvendo, portanto, alguma capacidade de rotação mental. Tendo isto em conta, pretende-se estudar o efeito da hora do dia e sua relação com o cronótipo, no desempenho numa tarefa de reconhecimento facial em diferentes pontos de vista e numa tarefa de rotação mental de objetos 3D, nomeadamente cubos.

Com o objetivo de identificar se variáveis circadianas afetam o desempenho nestas tarefas, será explorado o efeito da hora do dia no desempenho, controlando o efeito do cronótipo. Subsequentemente, procurar-se-á explorar o efeito de sincronia, avaliando o efeito da hora do dia para os diferentes cronótipos separadamente.

Tendo por base os resultados encontrados nos estudos supramencionados, hipotetiza-se que será encontrado um efeito de sincronia no desempenho nas tarefas, ou seja, espera-se que os participantes tenham melhor desempenho na sua hora ótima.

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É ainda expectável que, para os objetos, o desempenho piore à medida que o grau de rotação aumenta. No caso das faces, espera-se que nos ensaios em que as faces-alvo divergem em termos de orientação (direitas ou invertidas), haja um efeito de inversão no reconhecimento das faces, ou seja, que o desempenho dos participantes no reconhecimento de faces invertidas seja pior que no reconhecimento de faces direitas. Quanto à rotação no plano horizontal, à semelhança de estudos anteriores, não se espera encontrar um efeito do ângulo de rotação, dado que se trata de uma rotação de apenas 45º.

Métodos Participantes

A amostra é constituída por 40 estudantes da Universidade de Aveiro, 13 do sexo masculino e 27 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e os 27 anos (X̅ = 20.25, DP = 1.736).

Os participantes foram distribuídos de acordo com a sua disponibilidade por 4 grupos horários, cada um constituído por 10 elementos. Para efeitos de uma análise secundária, os indivíduos foram também classificados tendo em conta o seu cronótipo com recurso ao Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne e Ostberg (MEQ) (Silva et al., 2002), distribuindo-se da seguinte forma: 20 indivíduos do tipo moderadamente vespertino, 18 do tipo indiferente e 2 do tipo moderadamente matutino. A Tabela 1 apresenta o resumo das caraterísticas dos elementos de cada grupo horário.

Tabela 1

Síntese das caraterísticas demográficas e de tipologia circadiana da amostra

Horário

9h-11h30 11h30-14h 14h-16h30 16h30-19h Total

Média de idades (em anos) 19.9 22.1 20.2 18.8 20.25

Género Masculino 4 3 4 2 13 Feminino 6 7 6 8 27 Habilitações literárias Secundário 8 3 7 7 25 Licenciatura 2 7 3 3 15 Cronótipo Moderadamente matutino 0 0 0 2 2 Indiferente/ intermédio 3 7 4 4 18 Moderadamente vespertino 7 3 6 4 20

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Materiais

Questionários

Os participantes preencheram alguns questionários em formato de papel, nomeadamente o consentimento informado, o questionário sociodemográfico e o Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne e Ostberg (MEQ).

Questionário sociodemográfico.

Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico criado para efeito do presente estudo. Deste constavam questões sobre idade, género, habilitações literárias, existência de problemas visuais e/ ou psicológicos/psiquiátricos e medicação habitual.

Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne e Ostberg (MEQ).

Horne e Ostberg desenvolveram em 1976 a versão inglesa do Morningness-Eveningness

Questionnaire (MEQ), cujo objetivo era avaliar se os sujeitos eram de tipo mais matutino ou mais

vespertino (Silva et al., 2002, 2003).

A versão portuguesa deste questionário, designada Questionário de Matutinidade-Vespertinidade de Horne e Ostberg (MEQ), é constituída por 16 itens. As respostas a alguns itens são dadas numa escala temporal e a outros em formato de escolha múltipla. Com base na pontuação total, os indivíduos podem ser classificados como sendo de tipo definitivamente vespertino, moderadamente vespertino, indeterminado, moderadamente matutino ou definitivamente matutino, em função dos resultados obtidos (Silva et al., 2002, 2003), sendo que pontuações mais elevadas indicam maior grau de matutinidade.

A versão portuguesa do MEQ revelou boas propriedades psicométricas, tendo sido a consistência interna do mesmo avaliada com recurso ao α de Cronbach, cujo valor foi de 0.75 (Silva et al., 2002, 2003). No presente estudo obteve-se para este questionário um α de Cronbach de 0.69, ou seja, minimamente aceitável.

Tarefas computorizadas

As tarefas computorizadas realizadas pelos participantes foram aplicadas com recurso aos computadores do EvoCogLab, situado no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro. Para assegurar a uniformização das condições em que todos os participantes realizaram as tarefas, a recolha deu-se em computadores cujas caraterísticas em termos da dimensão e resolução do ecrã eram as mesmas.

As tarefas computorizadas foram programadas e corridas com recurso ao software E-Prime (Psychology Software Tools, Pittsburgh, PA).

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Tarefa de Reconhecimento de Faces em Diferentes Pontos de Vista.

A tarefa de reconhecimento de faces em diferentes pontos de vista consiste na identificação de uma face-alvo que foi vista imediatamente antes, entre duas faces que são apresentadas simultaneamente. Os estímulos consistem em faces de 28 pessoas diferentes (14 homens e 14 mulheres), obtidas a partir da Psychological Image Collection at Stirling (PICS), e pertencendo à base de imagens de Stirling (http://pics.stir.ac.uk/2D_face_sets.htm). Cada face tinha três versões: posição frontal (0º) orientada para cima, posição frontal (0º) invertida, ou rotação da face a 45º com orientação para cima. A tarefa consiste na apresentação de uma cruz de fixação durante 1000 ms, da face-alvo no centro do ecrã durante 300 ms, de uma nova cruz de fixação durante 500 ms, e finalmente duas faces, apresentadas lado a lado (sendo uma a face-alvo e outra um distrator do mesmo sexo), entre as quais o participante tem de identificar a que viu imediatamente antes. As duas faces permanecem no ecrã até ao participante responder. Os participantes foram instruídos a utilizar a tecla Z do teclado do computador quando a face da pessoa que viram antes corresponde à face do lado esquerdo e a utilizar a tecla M caso corresponda à face do lado direito, sendo-lhes pedido que respondam os mais rapidamente e da forma mais correta possível.

A tarefa encontra-se dividida em dois blocos, nos quais as faces apresentadas no momento do reconhecimento podem divergir da face-alvo mostrada inicialmente relativamente à orientação (direita ou invertida - Figura 1 (a)), ou ao ângulo de rotação (0º ou 45º- Figura 1 (b)). No início de cada bloco é indicado aos participantes quais as posições em que as faces que lhes serão apresentadas em seguida poderão aparecer (direita/invertida ou 0º/45º) e é salientado que o objetivo é identificar a pessoa vista imediatamente antes, mesmo que não seja apresentada na mesma posição.

Cada bloco da tarefa consistia em 56 ensaios. No bloco em que se manipulava a orientação, em 28 dos ensaios a face-alvo aparecia em orientação normal e nos outros 28 ensaios aparecia invertida. No bloco em que se manipulava o ângulo de rotação, em 28 dos ensaios a face-alvo aparecia em posição frontal (0º) e nos outros 28 ensaios aparecia com rotação a 45º. Na etapa de reconhecimento de cada um dos blocos, em metade dos ensaios, a face-alvo aparecia do lado direito, e na outra metade aparecia do lado esquerdo.

Com as 28 identidades selecionadas, foram criados dois sets de faces, cada um com 14 faces de pessoas distintas (metade de cada sexo), de forma a contrabalancear o set que servia de alvo e de distrator nos blocos de alteração da orientação e de alteração do ângulo. A ordem de apresentação dos blocos (alteração da orientação e alteração do ângulo) também era contrabalanceada entre participantes. Desta forma, foram criadas quatro versões da tarefa, pelas quais os sujeitos foram distribuídos de forma aleatória.

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Figura 1. Exemplos de faces apresentadas na Tarefa de Reconhecimento Facial em Diferentes Pontos de Vista. Nota: (a) variação na orientação (face direita e face invertida); (b) variação na rotação (0º e 45º).

Tarefa de Rotação Mental.

Foi aplicada aos participantes uma tarefa de rotação mental, cujo objetivo é indicar se dois objetos tridimensionais apresentados lado a lado são iguais ou diferentes, rodando mentalmente o objeto que aparece do lado esquerdo, de forma a verificar se ele se poderá alinhar com o da direita. Nesta tarefa são apresentados vários pares de objetos, um de cada vez, sobre um fundo preto e os participantes são instruídos a, caso os dois objetos apresentados no ecrã sejam iguais, i.e., o mesmo, considerando um certo ângulo de rotação, pressionar a tecla Z, e caso sejam diferentes, i.e., não sejam o mesmo, considerando um certo ângulo de rotação, pressionar a tecla M. É ainda pedido que a resposta seja dada com o máximo de rapidez e da forma mais correta possível. Os pares de objetos apresentados podem ser iguais ou diferentes, quando divergem em termos de rotação, e consistem em grupos de cubos que formam figuras tridimensionais cujos graus de rotação em que podem aparecer são variáveis e aleatórios, sendo que podem ser de 0º, 50º, 100º, e 150º (Figura 2). Todos os pares têm o mesmo número de cubos e diferem apenas na orientação no caso dos estímulos iguais. No caso dos estímulos diferentes, os objetos consistem na imagem espelhada um do outro (Ganis & Kievit, 2015).

A tarefa encontra-se dividida em duas fases: uma fase de treino em que são apresentados ao sujeito sete pares de objetos seguidos de um feedback, positivo ou negativo, em função de se a resposta dada está correta ou não, e uma fase de teste em que a tarefa é igual, no entanto os participantes não recebem feedback, sendo-lhes apresentados 96 pares de objetos (48 iguais e 48 diferentes). Os pares de objetos permanecem no ecrã até que uma resposta seja dada, sendo que assim que o participante responde, surge no centro do ecrã uma cruz de fixação, seguida do par de objetos seguinte.

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Figura 2. Exemplo dos pares de objetos iguais e diferentes apresentados na Tarefa de Rotação Mental. Nota: Pares iguais: (a) 0º; (b) 50º; (c) 100º; (d) 150º; Pares diferentes: (e) 0º; (f) 50º; (g) 100º; (h) 150º.

Procedimento

Os participantes foram distribuídos por quatro grupos, em função da hora a que realizaram a experiência, de acordo com a sua disponibilidade (Grupo 1 - 9:30h-11:30h; Grupo 2 - 11:30h-14:00h; Grupo 3 - 14:00h-16:30h; Grupo 4 - 16:30h-19:00h). As inscrições para participação decorreram na plataforma Doodle e por meio de contato direto. Após a inscrição, os participantes foram contactados de forma a confirmar a sua participação e informar o local onde decorreria a recolha de dados (EvoCogLab, Departamento de Educação e Psicologia). A sua participação não foi renumerada. No entanto, os participantes que frequentavam o curso de Psicologia obtiveram créditos para algumas disciplinas.

Cada sessão de recolha de dados teve uma duração de cerca de 1h30. Foi atribuído a todos os participantes um número de identificação (ID) e os mesmos assinaram o consentimento informado e tiveram a oportunidade de esclarecer quaisquer dúvidas que tivessem antes de iniciarem a sua participação. De seguida, e após confirmarem estar de acordo com os procedimentos de recolha de dados, os participantes foram instruídos a autopreencher o questionário sociodemográfico e o MEQ. Posteriormente, deu-se início à realização das tarefas computorizadas, em condições controladas no que diz respeito a fatores inerentes ao espaço e às condições contextuais como a iluminação, ruído, etc. Os participantes foram instruídos a ler com atenção as instruções de cada tarefa e, no fim de cada uma, chamarem a investigadora de forma a iniciarem a tarefa seguinte.

Do protocolo experimental faziam ainda parte duas tarefas adicionais, nomeadamente a Tarefa de Reconhecimento Facial de Cambridge (Cambridge Face Memory Test), e a Tarefa de Reconhecimento de Carros de Cambridge (Cambridge Car Memory Test), e dois questionários (a Hospital Anxiety and Depression Scale, e a Morningness-Eveningness-Stability-Scale improved). No entanto, os dados destas tarefas e questionários não foram analisados no âmbito da presente tese e não voltarão a ser referidos.

(a)

(b)

(c) (d)

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Análise de dados

Os dados foram inicialmente inseridos numa folha de cálculo do Microsoft Excel (2016), procedendo-se posteriormente ao tratamento estatístico dos mesmos no IBM SPSS Statistics 25. A análise de dados incidiu sobre as taxas de acerto e os tempos de resposta nos ensaios corretos, nas várias condições de cada uma das tarefas.

Tendo em conta o critério indicado por Kline (1998, cit. in Maroco, 2014), de que a realização de análises de modelos lineares generalizados não é considerada problemática para valores absolutos de assimetria não superiores a 3 e de kurtose não superiores a 7, recorreu-se a ANCOVAs mistas para explorar as diferenças no desempenho dos participantes dos 4 grupos horários, controlando o efeito do cronótipo. Sempre que necessário, realizaram-se comparações múltiplas com correção de Bonferroni para investigar efeitos principais ou interações significativas.

Posteriormente, para explorar as correlações entre as várias condições das tarefas e a pontuação no MEQ, utilizaram-se análises de correlação bivariada de Spearman.

Por fim, analisou-se o efeito da hora do dia no desempenho dos participantes para os diferentes cronótipos separadamente através do Teste de Kruskal-Wallis, considerando a dimensão reduzida da amostra.

Resultados Tarefa de Reconhecimento Facial

Análise do efeito da hora do dia, controlando o cronótipo

Realizaram-se quatro ANCOVAs mistas (ver Anexo A- Tabela A1 e Tabela A2), de forma a estudar o efeito da hora do dia no desempenho dos participantes em cada condição (ângulo de rotação e orientação), controlando o cronótipo: duas para a taxa média de acertos e duas para os tempos médios de resposta (variáveis dependentes). Foram consideradas variáveis independentes intra-sujeitos o ângulo de rotação (0º/45º) e a orientação (direitas/invertidas) das faces, respetivamente para cada uma das tarefas. O horário de realização das tarefas era uma variável independente entre-grupos, com quatro níveis. O cronótipo (i.e., a pontuação no MEQ [43.40]) deu entrada como covariável.

No que diz respeito à taxa de acertos na tarefa em que as faces se apresentavam direitas ou invertidas, verificou-se um efeito principal da orientação em que as faces são apresentadas, F(1,35) = 6.145, p = .018, 𝜂𝑝2 = .149. A taxa média de acertos no reconhecimento de faces direitas (M = 94.38%) foi significativamente superior a no reconhecimento de faces invertidas (M = 92.59%).

Na mesma tarefa, foi ainda encontrada uma interação significativa entre a orientação das faces e a pontuação dos participantes no MEQ, F(1,35) = 5.017, p = .032, 𝜂𝑝2 = .125, sendo que quanto mais matutinos são os participantes, pior é o seu desempenho na condição de faces direitas

(25)

(B = -0.294, p = .041), o mesmo não se verificando para as faces invertidas (B = 0.060, p = .733). Verificou-se ainda uma interação marginal entre a orientação das faces e o horário de realização das tarefas, F(1,35) = 2.881, p = .05, 𝜂𝑝2 = .198, sendo que as taxas de acerto na condição direita (M = 92.9%) e na condição invertida (M = 87.6%) apenas diferem significativamente (p = .005) no horário 14h-16h30. Para além disso, verificou-se uma diferença significativa no desempenho entre os grupos horários 11h30-14h (M = 95.7%) e 14h-16h30 (M = 87.6%) apenas na condição invertida.

No que diz respeito aos tempos de resposta nos ensaios da tarefa em que as faces se apresentavam a 0º ou 45º, verificou-se uma interação tendencialmente significativa entre a rotação e o horário, F(3,35) = 2.404, p = .084, 𝜂𝑝2 = .171. Análises de comparações múltiplas mostraram que os tempos de resposta na condição 0º eram significativamente (p = .008) mais longos (M = 898 ms) do que na condição 45º (M = 814 ms) apenas no horário 14h-16h30).

Nas Figuras 3 e 4 encontram-se as taxas médias de acerto e os tempos médios de resposta obtidos pelos participantes de cada grupo horário em cada condição, controlando o cronótipo.

Nenhuns outros efeitos se revelaram significativos.

Figura 3. Desempenho no reconhecimento de faces em função do seu ângulo de rotação (0º e 45º), controlando o cronótipo. (Grupo 1=9h-11h30; Grupo 2=11h30-14h; Grupo 3=14h-16h30; Grupo 4=16h30-19h)

96,1 96,1 95,3 93,2 92,9 92,9 93,9 94,3 0º 45º

Taxa média de acertos (%)

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

810 803 875 860 898 814 857 887 0º 45º

Tempos médios de resposta (ms)

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Figura 4. Desempenho no reconhecimento de faces em função da sua orientação (direita e invertida), controlando o cronótipo. (Grupo 1=9h-11h30; Grupo 2=11h30-14h; Grupo 3=14h-16h30; Grupo 4=16h30-19h)

Análises de correlação entre o cronótipo e o desempenho na tarefa

Realizaram-se testes de correlação de Spearman para explorar a associação entre os resultados dos participantes dos 4 grupos horários no MEQ e o seu desempenho no reconhecimento das faces nos vários pontos de vista - ângulo de rotação e orientação. Apenas foi encontrada uma correlação negativa significativa nos tempos médios de resposta, no reconhecimento de faces rodadas 45º para o grupo 3 (14h-16h30) (𝑟s = -.657, p = .039). Esta aponta para uma tendência no sentido de quanto maior o nível de matutinidade dos participantes desse grupo (i.e., pontuação no MEQ mais elevada), menores os seus tempos de resposta na condição em que as faces a reconhecer se encontram rodadas a 45º, o que é indicador de um efeito de assincronia neste grupo. Foi também encontrado um efeito de sincronia, cujo valor é apenas marginal (𝑟s =.596, p = .069), para os tempos médios de resposta do grupo 4 (16h30-19h), no reconhecimento de faces rodadas 45º. Ainda que não significativos, encontraram-se outros coeficientes de correlação de grande magnitude (>.5) (Cohen, 1988) para os grupos 2, 3 e 4 (Tabelas 2 e 3).

95,5 92,3 93,8 95,7 92,9 87,6 95,3 94,8

Faces direitas Faces invertidas Taxa média de acertos (%)

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

871 859 906 856 835 800 865 825

Faces direitas Faces invertidas Tempos médios de resposta (ms)

(27)

Tabela 2

Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ e o desempenho na condição em que as faces diferem no ângulo de rotação

Taxas médias de acertos Tempos médios de resposta

Horário Faces 0º Faces 45º Faces 0º Faces 45º

9h-11h30 Coeficiente de correlação .294 .336 .067 -.043 Sig. (2-tailed) .409 .343 .854 .907 11h30-14h Coeficiente de correlação -.532 -.530 .508 .477 Sig. (2-tailed) .113 .115 .134 -163 14h-16h30 Coeficiente de correlação -.025 -.156 -.474 -.657* Sig. (2-tailed) .946 .667 .166 .039 16h30-19h Coeficiente de correlação .120 .263 .097 .596 Sig. (2-tailed) .741 .464 .789 .069 * p < .05 Tabela 3

Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ e o desempenho na condição em que as faces diferem na orientação

Taxas médias de acertos Tempos médios de resposta Horário Faces direitas Faces invertidas Faces direitas Faces invertidas 9h-11h30 Coeficiente de correlação -.443 .022 .433 .287 Sig. (2-tailed) .200 .952 .211 .422 11h30-14h Coeficiente de correlação -.216 .148 .220 .177 Sig. (2-tailed) .550 .684 .541 .624 14h-16h30 Coeficiente de correlação -.136 .055 -.523 -.523 Sig. (2-tailed) .708 .879 .121 .121 16h30-19h Coeficiente de correlação -.169 .265 .188 .188 Sig. (2-tailed) .641 .460 .602 .602

Análise do efeito da hora do dia no desempenho, em função do cronótipo

Dada a reduzida dimensão da amostra, optou-se por realizar testes não-paramétricos de Kruskal-Wallis para avaliar as diferenças no desempenho dos participantes de cada grupo horário em função do seu cronótipo (ver Anexo B- Tabela B1 e Tabela B2). Apenas foi possível considerar os indivíduos de tipo moderadamente vespertino e de tipo indiferente, dado o número reduzido de participantes do tipo moderadamente matutino na nossa amostra (N = 2). Os resultados encontrados

(28)

apontam para a inexistência de diferenças significativas entre os participantes dos quatro grupos horários separadamente para cada tipo de cronótipo.

No entanto, observando as taxas médias de acertos dos participantes, assim com os seus tempos médios de resposta, é possível constatar que, na condição em que se manipulou o ângulo de rotação das faces, o desempenho dos participantes tende a ser pior ao fim da tarde. Assim, no caso dos indivíduos de tipo vespertino, o desempenho tende a ser melhor na sua hora não-ótima, i.e., de manhã, consistente com um efeito de assincronia. Este efeito da hora do dia não é, no entanto, significativo. A estatística descritiva para todas as condições em ambas as tarefas encontra-se nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 4

Desempenho dos participantes em função do cronótipo na condição em que as faces diferem no ângulo de rotação

Taxa média de acertos (%)

Tempos médios de resposta (ms)

Tipo de cronótipo Horário Faces 0º Faces 45º Faces 0º Faces 45º Moderadamente vespertino 9h-11h30 M (DP) 95.9 (4.8) 94.9 (3.5) 801.4 (137.9) 790.0 (133.1) 11h30-14h M (DP) 98.8 (2.1) 98.8 (2.1) 671.2 (84.1) 690.1 (78.0) 14h-16h30 M (DP) 92.3 (7.3) 94.6 (3.0) 965.3 (219.3) 888.9 (171.6) 16h30-19h M (DP) 94.6 (4.6) 92.9 (5.8) 863.0 (110.1) 829.9 (160.1) Indiferente 9h-11h30 M (DP) 96.4 (3.6) 98.8 (2.1) 782.3 (54.1) 764.0 (13.3) 11h30-14h M (DP) 93.9 (4.0) 90.8 (5.0) 967.1 (254.5) 940.8 (231.2) 14h-16h30 M (DP) 93.8 (7.9) 90.2 (6.1) 786.8 (136.6) 685.5 (82.7) 16h30-19h M (DP) 91.1 (6.8) 93.8 (3.4) 916.0 (292) 994.3 (344.9)

(29)

Tabela 5

Desempenho dos participantes em função do cronótipo na condição em que as faces diferem na orientação

Taxa média de acertos (%)

Tempos médios de resposta (ms)

Tipo de cronótipo Horário Faces

direitas Faces invertidas Faces direitas Faces invertidas Moderadamente vespertino 9h-11h30 M (DP) 97.4 (4.5) 92.3 (5.6) 791.7 (187.8) 782.5 (183.7) 11h30-14h M (DP) 95.2 (5.5) 96.4 (3.6) 758.5 (155.8) 676 (55.4) 14h-16h30 M (DP) 94.6 (4.9) 88.7 (9.7) 900.6 (206.9) 864.9 (133.1) 16h30-19h M (DP) 97.3 (3.4) 95.5 (3.4) 851.9 (202.4) 836.7 (183.2) Indiferente 9h-11h30 M (DP) 94.0 (5.5) 91.7 (4.1) 994.1 (365.0) 968.7 (365.8) 11h30-14h M (DP) 92.9 (4.6) 95.4 (5.3) 975.3 (356.8) 940.1 (316.5) 14h-16h30 M (DP) 91.1 (6.8) 85.7 (10.5) 722.5 (68.9) 686.7 (58.4) 16h30-19h M (DP) 92.0 (5.4) 92.9 (5.1) 960.4 (201.1) 882.9 (207.6)

Tarefa de Rotação Mental

Análise do efeito da hora do dia, controlando o cronótipo

Realizaram-se duas ANCOVAs mistas (ver Anexo A- Tabela A3), de forma a estudar o efeito da hora do dia no desempenho dos participantes na rotação mental de objetos em cada ângulo de rotação (0º, 50º, 100º e 150º), controlando o cronótipo: uma para a taxa média de acertos e uma para os tempos médios de resposta. A variável intra-sujeitos foi o ângulo de rotação, com quatro níveis, e a variável entre-grupos foi o horário de realização das tarefas, também com quatro níveis. A covariável foi a pontuação no MEQ (43.40). As taxas médias de acertos e os tempos de resposta foram as varáveis dependentes.

Apenas se verificou um efeito principal do ângulo de rotação na taxa média de acertos tendencialmente significativo, F(3,35) = 2.29, p = .083, 𝜂𝑝2 = .061. No entanto, as comparações múltiplas com correção de Bonferroni revelam a existência de diferenças significativas no desempenho em função do ângulo de rotação dos objetos, quer com relação à taxa média de acertos (que diminuia à medida que o ângulo de rotação aumentava), quer com relação aos tempos médios de resposta (que aumentavam à medida que o ângulo de rotação também aumentava).

As taxas médias de acerto e os tempos médios de resposta obtidos pelos participantes de cada grupo horário em cada condição, controlando o cronótipo, encontram-se representadas na Figura 5.

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Figura 5. Desempenho na rotação mental de objetos em função do ângulo de rotação, controlando o cronótipo. (Grupo 1=9h-11h30; Grupo 2=11h30-14h; Grupo 3=14h-16h30; Grupo 4=16h30-19h)

Análises de correlação entre o cronótipo e o desempenho na tarefa

Efetuaram-se testes de correlação de Spearman para explorar a associação entre os resultados dos participantes no MEQ e o seu desempenho na rotação mental de objetos a 0º, 50º, 100º e 150º, para cada um dos quatro grupos horários separadamente. Os resultados encontrados foram não significativos na sua generalidade (Cohen, 1988) (Tabela 6).

Ainda assim, encontrou-se um valor marginal para o coeficiente de correlação entre a classificação no MEQ e o desempenho dos participantes do grupo 2 (11h30-14h) na rotação mental de objetos a 150º, quer para a taxa média de acertos (𝑟s = .622, p = .055), quer para os tempos médios de resposta (𝑟s = .563, p = .09), o que aponta para uma tendência de, quanto mais matutinos os indivíduos, maior a sua taxa de acertos e tempos de resposta quando o objeto a comparar se encontra rodado 150º. 83,8 81,9 78,5 75,5 86,3 87,1 82,5 76,7 86,6 80,4 84,6 77,9 95,8 87,2 86,1 78,5 0º 50º 100º 150º

Taxa média de acertos (%)

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4

1 935 2 818 3 277 3 692 3 138 4 417 4 733 5 601 2 759 3 387 3 922 3 980 2 346 3 074 4 226 4 774 0º 50º 100º 150º

Tempos médios de resposta (ms)

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Tabela 6

Coeficientes de correlação de Spearman explorando a relação entre a pontuação no MEQ e o desempenho na tarefa de rotação mental

Taxas médias de resposta Tempos médios de resposta Ângulo Horário 0º 50º 100º 150º 0º 50º 100º 150º 9h-11h30 Coeficiente de correlação .108 -.214 -.174 -.132 -.085 -.104 -.421 -.189 Sig. (2-tailed) .767 .553 .631 .716 .815 .776 .226 .601 11h30-14h Coeficiente de correlação .096 .333 .438 .622 .422 .349 .440 .563 Sig. (2-tailed) .791 .347 .206 .055 .224 .323 .203 .090 14h-16h30 Coeficiente de correlação .059 -.272 -.389 -.091 -.365 -.036 .085 .073 Sig. (2-tailed) .872 .447 .267 .802 .300 .920 .815 .841 16h30-19h Coeficiente de correlação .234 .356 .252 .338 .018 -.018 -.122 -.018 Sig. (2-tailed) .515 .313 .483 .339 .960 .960 .738 .960

Análise do efeito da hora do dia no desempenho, em função do cronótipo

Finalmente realizaram-se testes não-paramétricos de Kruskal-Wallis para avaliar as diferenças na taxa média de acertos e tempos médios de resposta entre as diferentes horas do dia, para cada cronótipo separadamente (moderadamente vespertinos e indiferentes) (ver Anexo B- Tabela B3). Não se encontraram efeitos estatisticamente significativos em nenhuma das condições.

As taxas médias de acertos e os tempos médios de resposta dos participantes em função do seu cronótipo encontram-se sintetizados na Tabela 7.

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Tabela 7

Desempenho dos participantes na tarefa de rotação mental de objetos, nos vários ângulos de rotação, em função do cronótipo

Taxa média de acertos (%) (DP) Tempos médios de resposta (ms) (DP)

Tipo de cronótipo Horário 0º 50º 100º 150º 0º 50º 100º 150º

Moderadamente vespertino 9h-11h30 85.1 (15.0) 84.5 (20.5) 80.4 (11.2) 76.8 (14.405) 2007.3 (1026.0) 2693.1 (921.8) 3361.8 (1264.8) 3689.6 (1861.7) 11h30-14h 80.6 (33.7) 81.9 (15.8) 79.2 (15.0) 69.4 (12.7) 2614.1 (1419.2) 2932.2 (134.6) 3577.7 (237.4) 3928.8 (550.0) 14h-16h30 88.9 (9.7) 84.7 (13.1) 91.7 (5.9) 80.6 (9.0) 3133.2 (1642.0) 3279.1 (1282.9) 3824.9 (1258.7) 3856.5 (1390.5) 16h30-19h 96.9 (2.1) 83.3 (9.0) 83.3 (10.2) 75.0 (14.8) 2539.1 (1463.0) 3282.4 (1879.8) 4390.3(22 97.0) 4493.5 (2618.5) Indiferente 9h-11h30 81.9 (20.6) 76.4 (30.7) 73.6 (19.7) 68.1 (8.7) 1804.4 (821.1) 2800.8 (2005.6) 3008.2 (1431.0) 3240.3 (1149.2) 11h30-14h 88.7 (9.5) 89.3 (6.3) 84.0 (14.1) 80.4 (10.9) 3358.4 (1715.8) 5086.7 (4759.4) 5236.4 (3589.5) 6367.1 (4301.7) 14h-16h30 83.3 (25.2) 74.0 (25.8) 74.0 (19.9) 72.9 (22.7) 2207.2 (1348.1) 3477.3 (2450.4) 4050.3 (2534.7) 4057.8 (3300.7) 16h30-19h 91.7 (9.6) 87.5 (10.8) 86.5 (16.8) 80.2 (15.0) 2261.8 (378.9) 3350.7 (1169.0) 4393.3 (701.5) 5743.8 (1719.2) Discussão

O objetivo do presente estudo é contribuir para um melhor conhecimento sobre a influência dos ritmos circadianos no reconhecimento de faces e na rotação mental de objetos, duas habilidades complexas. Era expectável, considerando os dados encontrados na literatura relativos a outras tarefas cognitivas, que se verificassem variações no desempenho ao longo do dia e que ocorresse uma interação entre o cronótipo dos participantes e a hora do dia em que realizaram a tarefa. Assim, hipotetizou-se que o desempenho dos participantes seria melhor na sua hora ótima que não sua hora não-ótima, e que seria ainda influenciado pelo ângulo em que eram apresentados os objetos a identificar, no caso da tarefa de rotação mental, assim como pela orientação em que as faces-alvo eram apresentadas, nos ensaios da tarefa de reconhecimento facial em que a posição das faces apresentadas variava em termos de orientação (direitas ou invertidas).

Em relação à tarefa de reconhecimento facial, os resultados encontrados apontam uma influência significativa da orientação das faces no desempenho dos participantes no que diz respeito à taxa média de acertos. Os participantes tiveram, em média, um maior número de acertos no reconhecimento de faces direitas, em relação às faces invertidas, o que vai ao encontro do observado

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em outros estudos (Megreya & Burton, 2006; Rakover, 2013; Rossion & Gauthier, 2002). Em relação à variação no ângulo de rotação, os resultados encontrados, ou seja, a inexistência de diferenças significativas no desempenho dos participantes entre os dois ângulos de rotação das faces, vai também ao encontro do relatado por Mckone (2008), que verificou a existência de diferenças significativas no desempenho dos participantes em função do ângulo de rotação das faces apenas quando este era de pelo menos 90º.

No que concerne à influência da hora do dia no desempenho dos participantes, encontrou-se uma interação marginal entre a orientação das faces (direitas e invertidas) e o horário de realização das tarefas. Apenas no grupo horário 3 (14h-16h30) se encontraram diferenças significativas nas taxas de acerto, que foram maiores no reconhecimento de faces direitas. Na condição de faces invertidas encontraram-se diferenças significativas no desempenho entre os participantes do grupo horário 2 (11h30-14h) e do grupo horário 3 (14h-16h30). Nos ensaios em que as faces variavam em função do ângulo de rotação, encontrou-se uma interação tendencialmente significativa entre a rotação e o horário para os tempos de resposta. Apenas no grupo 3 (14h-16h30) os tempos de resposta na condição 0º foram significativamente mais longos que na condição 45º. Esta influência da hora do dia no desempenho dos participantes vai ao encontro do encontrado por outros autores, como Matchock e Mordkoff (2009) e Schmidt et al. (2007), que constataram haver influência da hora do dia em tarefas envolvendo funções cognitivas mais complexas, como as funções executivas.

Segundo Natale et al. (2003), o desempenho em tarefas mais simples é mais influenciável pelo cronótipo que em tarefas mais complexas. No entanto, não existe consenso entre autores no que diz respeito a esta questão, havendo autores que hipotetizam que é nas tarefas mais complexas que existe uma maior influência do cronótipo (Schmidt et al., 2007). No presente estudo não se encontrou influência significativa do cronótipo no desempenho dos participantes. Encontrou-se, no entanto, uma interação significativa entre a orientação das faces (direitas e invertidas) e a pontuação dos participantes no MEQ, sendo que quanto mais matutinos eram os participantes, pior o seu desempenho apenas na condição de faces direitas. Para a condição em que as faces divergiam em função do ângulo de rotação (0º e 45º), constatou-se haver uma correlação negativa significativa nos tempos médios de resposta no reconhecimento de faces rodadas 45º para o grupo 3 (14h-16h30), o que se traduz num melhor desempenho (tempos de resposta menores) quanto mais matutinos forem os indivíduos, i.e., num efeito de assincronia.

Quanto às análises do efeito da hora do dia para os diferentes cronótipos separadamente, os resultados encontrados apontam para, contrariamente ao hipotetizado, um efeito de assincronia no desempenho dos participantes quando analisada a taxa média de acertos. Constatou-se que, na condição em que os ângulos de rotação da face variam, o desempenho dos participantes tende a ser pior ao fim da tarde. Assim, no caso dos indivíduos de tipo vespertino, o desempenho tende a ser

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