Registro: 2012.0000341541
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9122430-20.2008.8.26.0000, da Comarca de São José do Rio Preto, em que é apelante BANCO SANTANDER BRASIL S/A, é apelado MARCO ANTONIO BERNARDIS (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA).
ACORDAM, em 27ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO LEME (Presidente sem voto), CLAUDIO HAMILTON E DIMAS RUBENS FONSECA.
São Paulo, 17 de julho de 2012
Morais Pucci RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação n° 9122430-20.2008.8.26.0000
Comarca de São José do Rio Preto - 6ª V.CÍVEL Juiz de Direito Dr. Jaime Silva Trindade
Apelante: Banco Santander Brasil S/A Apelado: Marco Antonio Bernardis
Voto nº 1709
Ação de busca e apreensão. Bem não localizado. Conversão em ação de depósito. Sentença de procedência para condenar o réu a devolver o bem, no prazo de cinco dias, sob pena de multa diária. Insurgência do credor fiduciário pleiteando a execução do seu crédito nos próprios autos. Ação de depósito que tem por objetivo a restituição do bem ou, não sendo isso possível, o pagamento de seu equivalente em dinheiro. Equivalente em dinheiro, que na ação de depósito a que foi convertida ação de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, que deve corresponder (a) à soma dos valores das prestações vencidas corrigidos monetariamente, sem os acréscimos dos encargos moratórios, e das vincendas, ou (b) ao preço de mercado do veículo, o que for menor. A cobrança dos encargos moratórios deverá ser feita em outra ação. Impossibilidade da prisão civil do réu como depositário infiel nos termos da Súmula vinculante nº 25 do STF. Recurso do autor parcialmente provido julgar procedente a ação de depósito.
A r. sentença proferida a f. 156/161 nestes autos de ação de busca e apreensão convertida em de depósito, movida por,
Santander Brasil S/A, em relação a Marco Antonio Bernardis, julgou
procedente o pedido para condenar o réu a devolver ao autor, no prazo de cinco dias, o veículo objeto do contrato, sob pena de multa diária de 1/15 do salário mínimo, devida a partir da conversão da ação em de depósito (f. 69). O réu foi, ainda, condenado no pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da causa corrigido.
O autor apresentou embargos de declaração (f. 165/168) que foram rejeitados (f. 169).
Apelou o autor (f.172/194) buscando a reforma parcial da sentença para ser o réu condenado a restituir o bem alienado fiduciariamente ou a pagar o seu equivalente em dinheiro, prosseguindo nestes autos a cobrança, em execução, do débito, com cominação da pena de prisão civil ao devedor.
Alegou, a tanto, em suma que: (a) não localizado o veículo na posse do devedor, a ação de busca e apreensão foi convertida em de depósito; (b) a teor do art. 901 do CC a ação de depósito tem por finalidade a restituição da coisa depositada ou o recebimento de seu equivalente em dinheiro, podendo, nestes autos, se não for encontrado o veículo, ser cobrado o valor da dívida; (c) é cabível a prisão do devedor fiduciante como depositário infiel.
A apelação, preparada (f. 183/185), foi recebida em ambos os efeitos (f. 187) e contrarrazoada (f. 188/190).
É o relatório.
Disponibilizada a decisão que rejeitou os embargos de declaração no D.J.E. em 18 de dezembro de 2007 (f. 164), a apelação, protocolada em 02 de janeiro daquele ano, é tempestiva.
As partes celebraram, em 06 de abril de 2001, contrato de financiamento ao consumidor com alienação fiduciária em garantia do veículo Marca/Modelo Fiat Palio SLX, Gasolina, Ano Modelo/Fabr. 1994, Preta, Placas DAF FNH 1111, no valor de R$ 7.500,00, a ser pago em 36 parcelas, no valor unitário de R$ 350,30, vencendo-se a primeira aos 06 de maio de 2001 (f.16).
Houve aditamento do contrato para reduzir o valor da prestação mensal para R$ 287,78 e alterar a data de vencimento das prestações para todo dia 22, a partir de maio de 2003 (f. 17).
Em 17 de dezembro de 2003, o banco autor ajuizou esta ação de busca e apreensão, em razão do atraso no pagamento das parcelas vencidas a partir de agosto de 2.001.
Comprovada a mora do réu em relação às prestações vencidas em 22 de agosto e de setembro de 2003 (f. 21/22), foi concedida a liminar (f. 24) e, como o veículo não foi localizado (f. 53 verso, 58, 75), o autor requereu a conversão da ação de busca e apreensão em de depósito (f. 63/64), o que foi deferido (f. 69).
Não localizado o réu foi procedida sua citação por edital (f. 125/129).
Foi apresentada contestação pelo curador especial nomeado autos (f.139/140) que sustentou a ilegalidade da prisão civil do depositário infiel.
O douto magistrado entendendo que o objetivo do autor com o ajuizamento da ação de busca e apreensão era a cobrança das prestações não pagas, julgou procedente o pedido apenas para condenar o réu a apresentar o veículo, no prazo de cinco dias, sob pena de multa diária, consignando que o débito deverá ser cobrado pelas vias próprias.
Sem razão, porém.
A ação de depósito tem por objetivo a devolução do bem depositado ou, não sendo isso possível, o recebimento pelo depositante do valor equivalente em dinheiro a esse bem (art. 904, caput, CPC).
Assim, se não for possível a restituição do bem alienado fiduciariamente ao credor fiduciário, porque se deteriorou ou não foi encontrado, remanesce a obrigação secundária do devedor fiduciante, como depositário, de lhe pagar o equivalente em dinheiro a esse bem, o que lhe será cobrado nos mesmos autos da ação de depósito.
Prevaleceu, nesta C. Câmara, o entendimento de que a equivalência em dinheiro do bem depositado, na ação de depósito a que foi convertida ação de busca e apreensão, deve corresponder (a) à soma dos valores corrigidos monetariamente das prestações vencidas, sem os acréscimos moratórios (juros, multa e outros encargos contratuais), e das vincendas, ou (b) ao preço de mercado do veículo, o que for menor.
O credor poderá cobrar, em outra ação, a diferença de seu crédito, não, porém, nos autos da ação de depósito que não se qualifica como ação de cobrança da dívida oriunda do financiamento.
Menciono os seguintes precedentes do E. STJ que não incluíram os encargos moratórios da dívida, como comissão de permanência, multa e juros, valor em dinheiro equivalente ao do bem, nessa ação de depósito:
Recurso especial - Alienação fiduciária - Busca e apreensão - Conversão em depósito - Bem destruído em razão de acidente - Caso fortuito ou força maior - Prosseguimento da ação - Execução nos próprios autos. Art. 906 do CPC. Equivalente do bem em dinheiro, excluídos os encargos contratuais. - Nada obstante haja o reconhecimento pelo Tribunal "a quo" da impossibilidade justificada em se restituir o bem alienado fiduciariamente, a não restituição do bem continua rendendo ensejo ao processamento completo da ação de depósito, afastando-se apenas a decretação da prisão civil. - Em atendimento aos princípios da economia e celeridade processuais, bem como o art. 906 do CPC, processar-se-á a execução por quantia certa de sentença pelo equivalente em dinheiro, neste, compreendendo, para efeito de estimação, o valor atual do bem no mercado. - O perecimento do automóvel, objeto do contrato - em acidente de trânsito, com destruição da sua essência, porque reduzido a sucata -, implica na extinção da garantia. (REsp 269.293/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/05/2001, DJ 20/08/2001, p. 345)
ALIENAÇÃO FIDUCIARIA. EQUIVALENTE. INCLUIDO NO VALOR DO FINANCIAMENTO CONCEDIDO OS ENCARGOS DO CONTRATO, O VALOR DO EQUIVALENTE EM DINHEIRO A SER ENTREGUE PELO EXECUTADO, EM CUMPRIMENTO AO MANDADO EXPEDIDO NA FORMA DO ART. 904 DO CPC, (QUE CORRESPONDE AO VALOR ATUALIZADO DO DEBITO, SEGUNDO ORIENTAÇÃO PREDOMINANTE NESTA 4ª TURMA), NÃO DEVE INCLUIR ACRESCIMOS DE JUROS, MULTAS, COMISSÃO DE PERMANENCIA, ETC, LIMITANDO-SE À SOMA DAS PRESTAÇÕES VENCIDAS, CORRIGIDAS DESDE O RESPECTIVO VENCIMENTO. RECURSO CONHECIDO, PELA DIVERGENCIA, MAS IMPROVIDO. (REsp 138.096/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/1997, DJ 09/02/1998, p. 23)
(Súmula vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”).
Deve ser provido em parte o recurso para, julgando procedente a ação de depósito, condenar o réu a, em 24 horas, (a) restituir o bem alienado fiduciariamente ou (b) pagar o valor em dinheiro equivalente que consistirá (b1) na soma dos valores das parcelas vencidas apenas corrigidos monetariamente, sem o acréscimo de multa, juros e de comissão de permanência, e das vincendas, ou (b2) no valor de mercado do veículo, que será apurado com a juntada de tabelas publicadas na imprensa especializada (Revista Quatro Rodas, Jornal do Carro etc.) ou de resultado de consultas na Internet, o que for menor.
O autor apresentará tais pesquisas e cálculos em liquidação.
Pequena a sucumbência do autor, fica mantida a condenação do réu no pagamento das verbas da sucumbência.
Dou, pois, parcial provimento à apelação.
Morais Pucci