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Desenvolvimento da versão brasileira da Intergenerational Exchanges Attitude Scale

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Academic year: 2021

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ROBERTA DOS SANTOS TARALLO

DESENVOLVIMENTO DA VERSÃO BRASILEIRA DA

INTERGENERATIONAL EXCHANGES ATTITUDE SCALE

CAMPINAS 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Ciências Médicas

ROBERTA DOS SANTOS TARALLO

DESENVOLVIMENTO DA VERSÃO BRASILEIRA DA INTERGENERATIONAL EXCHANGES ATTITUDE SCALE

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Gerontologia.

ORIENTADOR: MEIRE CACHIONI

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ROBERTA DOS SANTOS TARALLO E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MEIRE CACHIONI.

CAMPINAS 2015

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Tarallo, R. S. (2015). Desenvolvimento da versão brasileira da Intergenerational Exchanges Attitude Scale. Dissertação de Mestrado em Gerontologia, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

RESUMO

O presente estudo consistiu em três etapas e a amostra foi composta por 148 idosos e 52 profissionais vinculados a programas de educação permanente. A primeira etapa abordou a validação semântica e cultural da Intergenerational Exchanges Attitude Scale (IEAS) para a língua portuguesa do Brasil. Esse processo envolveu as seguintes fases: tradução inicial da IEAS; síntese das traduções; retrotradução; revisão e pré-teste. A escala sofreu alterações orientadas ao seu refinamento cultural e a IEAS está adaptada e validada para a população brasileira com a denominação Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI). A segunda parte do estudo derivou evidências de validade de construto para a EATI e investigou correlações entre os itens dos fatores dessa escala com os domínios da Escala de Crenças em relação à Velhice. A EATI apresentou três fatores e foram obtidos valores mais elevados para a escala como um todo (α=0,80) e para o Fator 3 - Percepções sobre a interação entre crianças e idosos (α=0,80) e, em seguida, para o Fator 1 - Percepções sobre atitudes de crianças em relação a idosos (α=0,79) e para o Fator 2 - Percepções sobre atitudes de idosos em relação às crianças (α=0,73). Mesmo sendo estatisticamente significativas, as correlações entre os itens dos fatores da EATI e os domínios da Escala de Crenças em Relação à Velhice foram baixas. Por fim, a terceira parte deste estudo descreveu e comparou o comportamento de um grupo de idosos e de um grupo de profissionais na presença da EATI. Em comparação com os profissionais, os idosos apresentaram de modo mais negativo Percepções sobre atitudes de crianças em relação a idosos (p<0,001) e expressaram mais positivamente Percepções sobre atitudes de idosos em relação às crianças (p<0,001). Verificou-se diferença estatisticamente significativa entre os idosos que convivem e os que não têm convivência com crianças para o escore do fator Percepções sobre a interação entre crianças e idosos, sendo mais negativas nos idosos que não convivem com crianças (p=0,003). Os profissionais que trabalham com grupos intergeracionais apresentaram de modo mais positivo Percepções sobre a interação entre crianças e idosos (p=0,015) em relação aos profissionais que trabalham apenas com

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idosos. Conclui-se que a EATI pode ser uma ferramenta útil para programas que realizam atividades entre crianças e idosos, bem como para profissionais que desenvolvem ações intergeracionais. Além disso, a EATI apresentou boa confiabilidade interna, o que permite recomendar seu uso no Brasil em estudos descritivos e de intervenção.

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ABSTRACT

This study consisted of three stages and the sample consisted of 148 elderly and 52 professionals bound to continuing education programs. The first stage tackled the semantic and cultural validation of Intergenerational Exchanges Attitude Scale (IEAS) into Portuguese of Brazil. This process involved the following phases: initial translation of IEAS; synthesis of translations; back translation; review and pretest. The scale has changed oriented to their cultural refinement and IEAS is adapted and validated for the Brazilian population with the denomination Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI). The second part of the study derived evidence of construct validity for EATI and investigated correlations between items of the factors that scale with areas of Escala de Crenças em Relação à Velhice. The EATI presented three factors were obtained and higher values for the scale as a whole (α = 0.80) and Factor 3 - Perceptions about the interaction between children and the elderly (α = 0.80) and then for Factor 1 - Perceptions of attitudes of children toward elderly (α = 0.79) and for Factor 2 - Perceptions of elderly attitudes towards children (α = 0.73). Even though statistically significant, correlations between items of the EATI factors and areas of Escala de Crenças em Relação à Velhice were low. Finally, the third part of this study described and compared the behavior of a group of elderly and a group of professionals in the presence of EATI. Compared with professionals, the elderly showed more negative way perceptions of attitudes of children toward elderly (p <0.001) and expressed more positive perceptions of elderly attitudes towards children (p <0.001). There was a statistically significant difference among the elderly that living together and those not living together with children for to score factor Perceptions about the interaction between children and the elderly, being more negative in the elderly who do not live with children (p = 0.003). Professionals working with intergenerational groups presented more positively perceptions of the interaction between children and the elderly (p = 0.015) compared to those working only with older people. It concludes that the EATI can be a useful tool for programs that perform activities among children and the elderly as well as for professionals who develop intergenerational activities. In addition, the EATI had good internal reliability, enabling recommend its use in Brazil in descriptive and intervention studies.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ………. xiii

LISTA DE QUADROS ………. xv

LISTA DE FIGURAS ………... xvii

LISTA DE TABELAS ……….. xix

APRESENTAÇÃO ………. 1

INTRODUÇÃO ……….…... 3

Atitudes em relação à velhice ...…….….. 3

As gerações e as relações estabelecidas...………...……….…. 6

Programas intergeracionais ………...….…….…. 10

Intergeracionalidade: pesquisas e instrumentos ……….. 14

Validação de um instrumento intergeracional ……… 18

JUSTIFICATIVA ...………...…... 21 OBJETIVOS ...………...…... 23 HIPÓTESES ...………… 25 ARTIGOS ………..……… 27 ARTIGO 1……….….. 28 ARTIGO 2……….….. 48 ARTIGO 3……….…….. 68 CONCLUSÕES……… 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………. 93 REFERÊNCIAS ……….………. 95 ANEXOS ……….………..……... 103 APÊNDICE…..………. 107

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AGRADECIMENTOS

Com carinho, agradeço à minha mãe, ao meu falecido tio, à minha irmã e ao meu cunhado que sempre me apoiaram incansavelmente.

Agradeço à professora Dra. Meire Cachioni pelo interesse, pela orientação, pela compreensão e pela paciência na condução desta pesquisa.

Enuncio o meu sincero agradecimento aos membros da banca de qualificação e de defesa desta dissertação que contribuíram para meu crescimento acadêmico e profissional, com importantes observações e sugestões para que o trabalho se tornasse enriquecedor.

Agradeço também a todos os professores que auxiliaram na construção de uma base mais sólida na área a que me dedico.

Agradeço aos envolvidos no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas por proporcionarem um ensino e um atendimento de altíssima qualidade.

Esta pesquisa envolveu muitas pessoas que com disponibilidade contribuíram para a conclusão desta dissertação. A elas desejo expressar meu sincero agradecimento, em especial aos tradutores, retrotradutores, coordenadores, professores, monitores e aos idosos que participaram do estudo e a todos os locais de coleta.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa e apoio financeiro para a realização deste trabalho.

Enfim, a todos que possibilitaram que esta dissertação fosse concretizada e concluída.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Resultados do processo de validação semântico-cultural da IEAS para o português

brasileiro. Campinas – SP. 2014……….………...……... 37

Quadro 2. Domínios fatoriais e itens da EATI para avaliação das atitudes em relação a trocas

intergeracionais ………..………..……… 55

Quadro 3. Domínios fatoriais e itens da Escala Neri para avaliação de crenças em relação ao

idoso ………. 56

Quadro 4. Domínios fatoriais e itens da EATI para avaliação das atitudes em relação a trocas

intergeracionais ……….... 75

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LISTA DE FIGURAS

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Composição dos fatores resultantes após a rotação ortogonal Varimax para a EATI.

Brasil, 2014………... 58

Tabela 2. Análise de consistência interna da EATI pelos três fatores da análise fatorial

(n=200)………... 59

Tabela 3. Correlações entre escores das escalas, por grupo e no total. Brasil, 2014 ………...… 60 Tabela 4. Perfil dos participantes do processo de validação de construto e validação

convergente da EATI. Brasil, 2014.……….. 77

Tabela 5. Comparação das médias dos fatores da EATI entre idosos e profissionais. Brasil,

2014……… 78

Tabela 6. Comparação das médias dos fatores da EATI entre idosos que têm ou não

convivência com crianças. Brasil, 2014………. 79

Tabela 7. Comparação das médias dos fatores da EATI entre profissionais que trabalham com

grupos intergeracionais e os que trabalham só com idosos. Brasil, 2014……….………. 80

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APRESENTAÇÃO

Com o intuito de romper paradigmas e desconstruir estereótipos e preconceitos, a investigação sobre as atitudes em relação ao envelhecimento, à velhice e à intergeracionalidade necessita de mais investimentos. A escasses de referências disponíveis e de estudos sobre a temática se fundamenta no levantamento bibliográfico realizado nas seguintes bases de dados: AgeLine; APA PsyNET; American Psychological Association; Biblioteca Digital da UNICAMP; Cambridge Journals; Scielo; Science Direct; Scopus; The Gerontological Society of America. Os conceitos utilizados para a busca foram:

Children, Elderly, Generation, Intergenerational Relationship e Intergenerational Program.

No que se refere às relações intergeracionais, evidenciou-se, com a literatura levantada, que as categorias família, atividades institucionais e impacto intergeracional estiveram presentes, com maior ou menor frequência e se correlacionaram, de modo interdependente, com os conceitos de atitudes, gerações, crianças, idosos, atividades e programas intergeracionais.

Apesar do aumento do interesse em estudos na área do envelhecimento, há poucos instrumentos brasileiros que mensurem as atitudes no que diz respeito aos idosos e à velhice. Após levantamento na literatura nacional, encontraram-se instrumentos que avaliam as atitudes de adultos e idosos em relação à velhice como aEscala de Crenças e Atitudes em Relação à Velhice, composta por 30 itens ancorados por dois adjetivos em oposição (Neri, 1991, 1997); e para avaliar atitudes de crianças em relação à velhice há a Avaliação de Atitudes de Crianças em Relação a Idosos, que é uma escala diferencial semântica composta por 14 adjetivos bipolares (Todaro, 2008).

Diante da necessidade de um instrumento que pudesse auxiliar no entendimento do comportamento, das percepções e das atitudes em relação às trocas intergeracionais, o presente estudo teve como objetivo realizar a tradução, a adaptação cultural e a validação para o português do Brasil da Intergenerational Exchanges Attitude Scale. Essa escala foi criada nos Estados Unidos e avalia as atitudes em relação às trocas que ocorrem entre crianças e idosos (Stremmel, Travis e Kelly-Harrison, 1996). Com o processo de validação semântica e cultural, a escala em questão é referida pelo título em português do Brasil como Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI).

Este trabalho apresentará inicialmente os fundamentos teóricos relacionados às atitudes em relação à velhice, bem como sobre as gerações, as relações intergeracionais e os programas intergeracionais. Na sequência serão apresentados detalhadamente os objetivos e as hipóteses desta pesquisa.

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A partir deste estudo foram elaborados três artigos. O primeiro, denominado “Validação semântica e cultural da Intergenerational Exchanges Attitude Scale”, submetido ao periódico Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O segundo artigo, intitulado “Validade da versão brasileira da Escala de Atitudes em relação às Trocas Intergeracionais (EATI)”, e o terceiro, “Atitudes de idosos e de profissionais brasileiros em relação às trocas intergeracionais”, serão submetidos respectivamente à revista Psicologia: Reflexão e Crítica e ao Journal of Intergenerational Relationships.

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INTRODUÇÃO

Dissertar-se-á sobre as atitudes em relação à velhice, bem como sobre as gerações e as relações que elas estabelecem. O contexto e o panorama dos programas intergeracionais também são abordados ao longo do excerto. A última parte se refere à validação de instrumentos, como forma mais detalhada de entender a metodologia utilizada neste estudo.

Atitudes em relação à velhice

Atitudes são avaliações em relação a pessoas, objetos ou instituições e podem ser aprendidas, desenvolvidas ou alteradas a partir das experiências e informações obtidas em diversas situações pelo indivíduo, podendo influenciar os comportamentos que se vão construindo ao longo da vida. Aprende-se também diante das obAprende-servações e das experiências mediadas por diversas fontes como a literatura, o cinema, a propaganda, os programas de televisão, a internet, a educação, que ampliam as possibilidades de aprender ao incluir eventos, modelos, situações, códigos e símbolos (Lopes, 2006; Neri, 2007; Todaro, 2008; Neves, 2012; Suh et al., 2012).

As atitudes são avaliações complexas e expressam componentes valorativos de caráter negativo, neutro ou positivo e de intensidade. De modo explícito e implícito, consciente ou não, as atitudes preveem, explicam e orientam determinadas ações, crenças, pensamentos, sentimentos e verbalizações (Cachioni, 2002; Neri, 2005; Neri, 2007; Spielman, 2012; Suh et al., 2012).

Quando o indivíduo avalia outro indivíduo ou um grupo, o conteúdo associado a essas avaliações constitui a base para a formação de categorias. Desde muito cedo, os indivíduos expressam comportamentos associados a determinadas categorias como gênero, idade, faixa etária (criança, adulto, velho), classe social e etnia (Neri, 2007; Gluth, Ebner & Schmiedk, 2010; Neves, 2012).

Assim, as respostas avaliativas dependem de como o objeto é classificado. O mesmo objeto pode suscitar diferentes respostas avaliativas em diferentes contextos, na medida em que as pistas contextuais levam a diferentes categorizações de um determinado objeto, pessoa ou ideias (Gawronski et al., 2014).

Com base na categorização podem surgir os estereótipos. Os estereótipos são crenças simplificadas e distorcidas da realidade que generalizam características de um grupo de pessoas e seus

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membros, gerando interpretações e influenciando as percepções e os comportamentos sobre esses indivíduos (Gluth et al., 2010; Fonseca, 2011; Neves, 2012; Emile et al., 2014).

O estereótipo é uma forma usual de apresentação de um grupo específico que cunha um preconceito de acordo com aparência, comportamento ou hábitos. Os estereótipos são utilizados com tanta frequência que são entendidos como características naturais, mas são meras representações da sociedade (Fonseca, 2011; Neves, 2012).

As atitudes, positivas ou negativas, influenciam as interações sociais. Níveis mais elevados de preconceito resultam em menos amizade com grupos diferentes. Fatores como os temores sobre ser alvo de preconceito e a falta de comunicação podem fazer os indivíduos hesitarem em envolver-se com outros grupos. Logo, os estereótipos e os preconceitos contra as pessoas de outros grupos sociais podem decorrer da falta de contato e interação social. Em relação à velhice, as atitudes tendem a se manifestar com o uso de denominações, de rótulos sociais e de afirmações que ora desvalorizam e rejeitam o idoso, ora demonstram excesso de otimismo, desconsiderando os limites que o envelhecimento normal impõe (Cachioni, 2002; Neri, 2007; Gluth et al., 2010; Davies et al., 2011; Neves, 2012).

Estudos internacionais recentes evidenciaram a associação que as atitudes em relação à velhice, ao idoso e ao envelhecimento têm com demais aspectos e variáveis comportamentais, de saúde e geracionais. Uma pesquisa realizada por Top e colaboradores (2012) envolvendo 550 idosos teve como objetivo investigar e correlacionar a qualidade de vida com atitudes em relação ao envelhecimento. O gênero, a escolaridade, a segurança social, a idade e o estado civil afetaram algumas dimensões da qualidade de vida e de atitudes em relação à velhice. Os resultados indicaram uma associação estatisticamente significativa entre qualidade de vida e atitudes em relação ao envelhecimento. Concluiu-se que as atitudes também influenciam as decisões que afetam comportamentos promotores de saúde e bem-estar.

Um estudo transversal realizado por Emile e colaboradores (2014), com 192 idosos, objetivou identificar a internalização dos estereótipos em relação ao envelhecimento com aspectos relacionados à saúde e à atividade física. Apontaram, por fim, que atitudes mais positivas em relação ao envelhecimento prevêem envelhecimento bem-sucedido e, por outro lado, os estereótipos se relacionam com maior presença de riscos e menos cuidado com a saúde.

Uma pesquisa feita por Lu e colaboradores (2010), com 316 idosos, investigou as atitudes em relação à velhice e a associação com o bem-estar. Identificaram que idosos possuíam atitudes mais

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positivas em relação à velhice nos aspectos psicológicos e cognitivos. Os idosos que tinham maior grau de escolaridade e residiam na zona urbana tiveram atitudes mais positivas em relação à velhice e observaram que as atitudes positivas em relação à velhice foram relacionadas ao maior bem-estar.

O estudo realizado por Suh e colaboradores (2012), com 405 idosos, avaliou a atitude e o conhecimento sobre o envelhecimento e a satisfação com a vida. Verificou-se que quanto mais conhecimento e melhor atitude em relação ao envelhecimento, maior é a satisfação com a vida. O fator atitudes em relação ao envelhecimento foi mais significativo para a satisfação com a vida do que para o conhecimento sobre o envelhecimento. Além disso, os idosos com atitudes mais positivas em relação à velhice tinham melhor situação física, emocional e econômica e apresentaram ter envelhecido de forma bem-sucedida.

Por fim, uma pesquisa internacional realizada por Randler e colaboradores (2013) analisou as atitudes de 935 alunos, do quinto ao nono ano, em relação às pessoas idosas. Em média, os alunos apresentaram atitudes positivas em relação aos idosos. Verificou-se também significativa influência de gênero, idade e proximidade com os avós. As meninas apresentaram atitudes mais positivas em relação aos idosos. Com o aumento da idade, aumentou o preconceito e diminuíram as atitudes positivas em relação aos idosos do que os meninos. A distância entre eles e os avós influenciou significativamente as atitudes: os alunos com avós próximos valorizaram mais positivamente os idosos do que os alunos com avós distantes, bem como os alunos com mais contato com os idosos tiveram um pouco mais de conhecimento sobre a outra geração. Dados semelhantes foram encontrados na pesquisa nacional realizada por Todaro (2008).

Diante dos estudos realizados, evidencia-se que há associação entre atitudes positivas em relação à velhice e os benefícios ressaltados principalmente sobre os aspectos biológicos relacionados à saúde, psicológicos e sociais, com ênfase no bem-estar, na satisfação com a vida e na intergeracionalidade.

Tendo vista as atitudes e as questões sobre a intergeracionalidade, faz-se necessário abordar a concepção das gerações e as relações instituídas, uma vez que o diálogo entre as gerações e a educação spbre o envelhecimento podem ser as principais técnicas de intervenção que visem o aumento da consciência sobre o outro e à minimização de estereótipos, preconceitos e discriminação (Spudich & Spudich, 2010).

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As gerações e as relações estabelecidas

A constituição do conceito de geração tem a sua gênese na construção sociocultural das faixas etárias. A idade é uma designação cronológica essencial para a manutenção da organização e do funcionamento da sociedade, pois contribui para a percepção e para a integração do indivíduo no âmbito social, ao criar uma expectativa e de continuidade. Com isso, a idade é marcada por papéis e por expectativas sociais definidas de acordo com os valores culturais de cada contexto. Desde o nascimento até a morte, o indivíduo tende a cumprir determinadas tarefas sociais gerenciadas por um sistema dominante de ideias e de crenças que são influenciadas pelo momento histórico, social e econômico. Esses papéis instigam o cumprimento de determinadas tarefas e o próprio indivíduo tende a ansiar por tais eventos e condições. Em uma visão linear, espera-se que os indivíduos vivenciem, prioritariamente, a etapa da escolarização na infância e na adolescência, adentrem no mercado de trabalho na idade jovem e adulta e, na velhice, se aposentem. Essa categorização das idades é compreendida como um processo de socialização, de integração e de controle dos indivíduos e de construção dos cursos de vida acerca das instituições sociais – família, educação e trabalho (Eisenstadt, 1976; Henkin & Kingson, 1998; Silva & Günther, 2000; Barros, 2004; Debert, 2004).

Os cursos de vida são modelados pelas crenças socioculturais sobre a vida do indivíduo, institucionalizando as funções e as posições sociais, com restrições e/ou permissões em relação às decisões tomadas e aos desempenhos de papéis etários e de gênero. O estabelecimento de comportamentos apropriados para as diferentes faixas etárias leva o indivíduo e as instituições a considerarem os fatos ocorridos como sendo esperados. Os indivíduos e a sociedade criam conceitos e fases graduadas e demarcadas ao longo do envelhecimento, por meio da junção de ocorrências biológicas, como a menarca e a menopausa, e sociais, como a aposentadoria (Neri, 2011).

As tarefas evolutivas do curso de vida são acontecimentos normativos associados à idade e determinados conjuntamente pela maturação biológica, pela pressão cultural e pelos desejos, aspirações e valores do indivíduo para adquirir habilidades e conhecimento em um dado momento de sua vida. Tanto o indivíduo e quanto a sociedade criam papéis e funções sociais e almejam que esses tenham continuidade e se perpetuem. Sendo assim, o indivíduo e a sociedade se influenciam de modo mútuo e são coparticipantes no processo de construção da trajetória de desenvolvimento da vida (Eisenstadt, 1976; Bengtson, Furlong & Laufer, 1983; Domingues, 2002; Neri, 2011).

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Quando os indivíduos se agrupam conforme a mesma faixa etária, em determinado contexto social e dentro de um mesmo processo histórico constitui-se uma geração. O fenômeno geracional pode ser compreendido por uma perspectiva restrita, ao considerar a linhagem familiar, ou também por uma dimensão mais ampla, quando se designa a extensão de um período longitudinal considerando um tempo em anos (Bengtson et al., 1983; Ferrigno, 2003).

As gerações são influenciadas por oportunidades socialmente estruturadas, por valores e crenças, por suposições culturais e por vários significados e referências ideológicas compartilhadas. Além de todos usufruírem dos mesmos benefícios, vantagens, desvantagens e tensões ao se inserirem na estrutura social, há certa organização de movimentos coletivos com demarcação consciente e com identidade bem esclarecida ao longo do curso de vida de seus membros (Bengtson et al., 1983; Domingues, 2002; Lima, 2008; Spudich & Spudich, 2010).

As gerações são heterogêneas diante das experiências vivenciadas, da localização social e do uso de signos, códigos e linguagens específicos. Essa heterogeneidade é resultante da interatividade de cada indivíduo com o todo e da influência de forma mútua, diferente e casual de uma geração sobre a outra. Sendo assim, a dinâmica das gerações envolve transformações influenciadas também por outras gerações ou por outros grupos, alcançando uma dimensão coletiva (Bengtson et al., 1983; Domingues, 2002; Lima, 2008; Spudich & Spudich, 2010).

As gerações podem ser objeto de analogia às reflexões e às contribuições que Elias (1994) faz a respeito da interação entre a sociedade e os indivíduos, em que tanto o indivíduo influencia a sociedade, como a sociedade influencia o indivíduo, sendo interdependentes e estando ambos à mercê de influências mútuas a todo momento. Com isso, as gerações se moldam e são moldadas a partir das dinâmicas vigentes, tornando-se um processo interativo em que uma geração não se define isoladamente, pois interage, delineia e contribui para o estabelecimento de outra geração (Domingues, 2002).

Quanto à constituição e à convivência intergeracional, a família é a instituição primária para a construção de significados, transmissão de valores e aprendizagem mútua. O processo de socialização das diferentes gerações dentro e fora do âmbito familiar é igualmente fundamental para a continuidade social, trazendo uma tendência baseada em preceitos de solidariedade e de geratividade (Wachholz & Fiamoncini, 2006; Lima, 2008; Morangoni & Oliveira, 2010; Suitor et al., 2011).

O estabelecimento da relação entre gerações distintas pode se instaurar de modo: estrutural, por meio da interação efetiva; associativo, diante da quantidade e do tipo do contato intergeracional;

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afetivo, no que se refere à qualidade da relação; consensual, cujos valores e crenças estão arraigados na interação; normativo, ao considerar os membros do grupo; e funcional, que envolve o suporte financeiro, instrumental e emocional (Steinbach, 2012).

Tanto a geração mais velha quanto a geração mais nova têm algo para ensinar e aprender por meio do compartilhamento de informações e das interações de qualidade. Os mais velhos têm a experiência do viver e os mais novos anseiam pelo que está por vir. As diferentes gerações que se relacionam podem ter pensamentos e reações diversos, o que contribui para o crescimento e o desenvolvimento mútuo. Assim, a essência das relações intergeracionais é a troca de conhecimentos, experiências, valores (Carvalho, 2007; Holmes, 2009).

A intergeracionalidade é a comunicação, o relacionamento e a permanente troca de ideias que ocorrem entre os indivíduos com faixas etárias distintas e pode constituir-se como um vínculo que permite aos sujeitos dessa relação enriquecerem seus conhecimentos e adquirirem experiências com o outro (Nunes, 2009; Spudich & Spudich, 2010).

Quando a intergeracionalidade é estabelecida, por meio da amizade e do suporte social, os indivíduos conseguem reconhecer as necessidades que ambas as diferentes gerações apresentam e essa interação pode estimular a aquisição de conhecimento e atitudes mais positivas sobre a outra geração (Paukert et al., 2010; Davies et al., 2011; Cuba, 2012).

A convivência e a transmissão de conhecimento entre a geração mais nova e a mais velha não são lineares, pois cada geração possui sabedorias que podem ser desconhecidas da outra geração. A troca desses saberes possibilita vivenciar diversos modos de pensar, de falar, de agir e de sentir, podendo, assim, renovar as opiniões e visões acerca da sociedade, dos indivíduos e de si (Carvalho, 2007; Gamliel et al., 2007a).

As gerações mais novas podem contribuir com a transmissão de novas visões a respeito de problemas, na busca de soluções coletivas, com novas estratégias e outras atitudes perante o mundo com novas tecnologias. No que se refere à contribuição das gerações mais velhas, destacam-se a educação para o envelhecimento; a perpetuação da memória cultural; a apresentação de modelos a serem seguidos ou evitados, dependendo de seu grau subjetivo de sucesso; a capacidade de enfrentamento e superação diante de grandes dificuldades; e a capacidade de lidar com perdas. Todavia, deve-se atentar para as generalizações que podem fomentar estereótipos, pois nem todos os idosos viveram ou vivem uma condição de vida arraigada em eventos que julgam marcantes para serem transmitidos, assim como nem todos os jovens dominam as tecnologias que, em um curto espaço de

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tempo, são inovadas. Além disso, na relação entre diferentes gerações também podem ocorrer desencontros de visões de mundo, ocasionando conflitos diversos, por diferenças entre os valores culturais. Em toda a história da humanidade, desde os tempos antigos, na mitologia grega e em relatos de sociedades longínquas, o conflito intergeracional sempre existiu (Ferrigno, 2003; Neri, 2007; Pacheco, 2008; Lüscher, 2011).

Devido à lacuna cultural, o conflito que ocorre entre as diferentes gerações pode ser associado com acúmulo de conhecimento, fatores sociais, de autoridade e poder . Os conflitos ocasionados por questões de autoridade e pela retenção de conhecimento estão relacionados ao controle social que cada geração exerce. As gerações mais velhas, por vezes, se preocupam em transmitir seus valores com sucesso, a fim de justificar sua própria existência, enquanto as gerações mais novas buscam estabelecer seus próprios valores, causando, assim, conflitos por espaço, poder e hierarquia (Wachholsz & Fiamoncini, 2006; Gamliel et al., 2007a).

No entanto, a presença de conflitos entre as gerações, se não negligenciada, por vezes, pode contribuir para o desenvolvimento de mudanças sociais, desde que eles sejam compreendidos, enfrentados e superados. Assim, tais conflitos, presentes nas relações intergeracionais, podem apresentar um caráter positivo quando resultam em transformações e crescimento dos envolvidos, garantindo a dinâmica das relações sociais (Ferrigno, 2003; Lopes, 2005).

É importante que medidas que visem à diminuição de conflitos sejam realizadas, procurando ao mesmo tempo um aumento do bem-estar e da qualidade de vida. Uma dessas estratégias é a atuação com ambas as gerações para a adoção de atitudes positivas. Assim, o desenvolvimento de programas intergeracionais entre idosos e crianças ou jovens se torna necessário para combater as atitudes negativas (Davies et al., 2011; Neves, 2012).

O contato positivo direto intergeracional pode melhorar as percepções e atitudes sobre o outro, ajuda a transmitir tradições culturais e constrói um senso de identidade pessoal e social, incentivando a tolerância. Com isso, estratégias de intervenção devem ser desenvolvidas para promover a interação efetiva, melhorando a comunicação e o entendimento entre as gerações. Para tanto, é importante incentivar espaços intergeracionais como forma de aproximar as gerações. O desenvolvimento de programas intergeracionais é um movimento positivo em direção ao objetivo de promover atitudes positivas e construir relacionamentos sólidos (Waites, 2007; Todaro, 2008, Holmes, 2009; Davies et al., 2011; Newman, 2011).

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Programas e atividades intergeracionais

Os programas intergeracionais são veículos sociais caracterizados por atividades contínuas que reúnem mais de uma geração para a realização de atividades planejadas, com objetivos bem-definidos que visem à aprendizagem, à construção de laços significativos e de reciprocidade entre os participantes, por meio do convívio e da troca (Pinquart, Wenzel & Rensen, 2000; Herrmann et al., 2005; Butts & Chana, 2007; Spudich & Spudich, 2010; Alcock, 2011; Newman, 2011).

Na perspectiva do desenvolvimento das trocas de experiências e do fortalecimento de laços afetivos, determinados fatores dos programas intergeracionais intensificam a relação entre as diferentes gerações. O estabelecimento de interesses comuns; o prazer proporcionado pelo lúdico em decorrência das características singulares da atividade; a predominância de relações igualitárias entre os mais velhos e os mais jovens; a duração do convívio e do processo grupal para a formação de amizades; a participação democrática e coletiva do planejamento, da execução e da avaliação das tarefas; e a consciência sobre a importância do papel no grupo são condições fundamentais para o bom desenvolvimento de ações intergeracionais (Ferrigno, 2011).

Os locais onde os programas intergeracionais podem ser implementados são diversos e vão desde lugares públicos, instituições filantrópicas até ambientes privados. Os clubes, as escolas, as bibliotecas, os museus, as creches infantis, as universidades, os hospitais, as igrejas, terreiros, templos e sinagogas, os centros-dia, os centros comunitários, as associações, os parques são espaços possíveis para o estabelecimento de ações intergeracionais. Esses cenários precisam ser compatíveis especificamente com as atividades que serão desenvolvidas (Newman, 2011).

O programa intergeracional deve apresentar planejamentos detalhados, com estabelecimento de metas, materiais específicos, seleção, organização e compromisso dos envolvidos. Esses programas oferecem uma variedade de serviços, incluindo lazer, educação, cuidados, orientação e aconselhamentos (Bullock & Osborne, 2000; Pinquart et al., 2000; Herrmann et al., 2005; Butts & Chana, 2007; Gamliel et al., 2007a; Lima, 2008; Ruggiano, 2010; Alcock, 2011).

As ações intergeracionais de cunho educativo diferem conforme suas propostas e objetivos. As atividades escolares podem ser associadas ao lazer, ao jogo e à criatividade, envolvendo festas e rituais; as diferentes gerações julgam ser parceiras e, com isso, a participação se torna agradável e gratificante. As atividades de aprendizagem com base no conhecimento acumulado tendem a abordar temas históricos e culturais por meio de resolução de problemas, de lendas, de mitos, de provérbios populares,

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de entretenimento (piada, culinária, escultura, andar de bicicleta, pesca, jardinagem). As atividades de caráter tecnológico se baseiam na aprendizagem e na experiência que as gerações mais novas têm de tecnologia, servindo como professores para as gerações mais velhas. Em atividades de aprendizagem formal, o professor transmite novos conhecimentos para ambas as gerações, que aprendem conjuntamente, completam missões, participam da aula e adquirem novos conhecimentos; os envolvidos podem expressar suas dificuldades na compreensão e podem pedir ajuda uns aos outros (Gamliel et al., 2007a).

As dinâmicas dos programas intergeracionais possibilitam a efetivação da relação entre as diferentes gerações, que pode envolver ora idosos que auxiliam crianças e jovens, ora crianças e jovens que auxiliam idosos, ora adultos e jovens que colaboram para ajudar a comunidade, ora adultos e jovens que se envolvem em atividades informais de aprendizagem. Ambas as gerações têm muito a contribuir, principalmente quando há a horizontalidade nas relações intergeracionais, ou seja, quando há igualdade na interação e não hierarquia, autoridade e poder de uma geração sob a outra. Para se promover a intergeracionalidade, a proposta não pode ser imposta, pois as relações precisam de tempo e, por isso, devem ser desenvolvidas a cada dia com base em pequenas ações concretas (Lima, 2008; Fonseca, 2011; Newman, 2011).

Para que esses programas sejam viabilizados, deve-se trabalhar com métodos próprios, que facilitem os encontros e que resultem em ações conjuntas. Os interesses, tanto da geração mais velha quanto da geração mais nova, precisam ser estimulados considerando as habilidades das diversas faixas etárias e sempre evitando o dirigismo, o paternalismo, a adultização e a infantilização. Um método de grupo com essas adequações das gerações-alvo é fundamental para alcançar os objetivos das atividades, quebrar os preconceitos e atingir o diálogo e a solidariedade intergeracional, promovendo um contato significativo entre as diferentes gerações (Carvalho, 2007; Nunes, 2009; Todaro, 2009; Fonseca, 2011). Os programas intergeracionais criam uma história em comum entre as gerações que se relacionam. Em programas de caráter intergeracional, o suporte social pode ser estabelecido quando a interação entre os participantes de distintas gerações atinge um grau de satisfação diante das necessidades preexistentes. Tal fato ocorre quando há o intercâmbio e o respeito às diversidades e aos saberes prévios de cada um, bem como o mútuo reconhecimento das necessidades que cada geração apresenta e a solidariedade no relacionamento intergeracional estabelecido (Carvalho, 2007; Siqueira, 2008; Pais-Ribeiro & Ponte, 2009; Schlossberg & Alcoba, 2009; Chalise, 2010; Corrêa et al., 2010).

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Além disso, os programas intergeracionais promovem o engajamento social e representam um aspecto diferencial e significativo no curso de vida dos participantes de diferentes gerações. Sentir-se útil, identificar-se com os motivos e valores do grupo, inserir-se socialmente e realizar-se pessoalmente promovem a ascensão de um estado de bem-estar, que permite às pessoas uma reafirmação do seu eu, no sentido existencial. O engajamento social reflete a participação e a capacidade de iniciar e interagir socialmente. Os benefícios do engajamento social são diversificados para aqueles que participam de atividades intergeracionais e envolvem sentimentos de pertencimento, valor, controle, companheirismo, autoestima e autoeficácia e promovem o estabelecimento de amizades novas e profícuas (Silva, 2007; Dupuis-Blanchard et al., 2009).

Ao perceber os diversos benefícios que podem ser proporcionados pelas atividades intergeracionais, a pessoa se sente mais encorajada a participar de programas sociais dessa natureza. Os programas intergeracionais promovem benefícios para ambas as gerações que se relacionam.

Para os idosos, os benefícios que os programas intergeracionais estruturados fornecem estão relacionados com a ressignificação da identidade social; o despertar de um novo olhar sobre as questões do envelhecimento; a possibilidade de novas perspectivas de vida e realização pessoal. Há aumento da autoestima e da satisfação com a vida; redução do sentimento de solidão e do isolamento social; promoção de um estilo de vida mais saudável e melhoria da saúde física e mental; aperfeiçoamento das habilidades e funções cognitivas; maior disponibilidade para aceitar, respeitar e compreender o comportamento da geração mais nova; estimulação da prática de atividades sociais; criação de oportunidades que permitam transferir valores e experiência de vida; promoção de apoio social e novos relacionamentos positivos e estimulantes, ao oferecer oportunidade de desenvolver amigos; além da atualização, valorização e reconhecimento de si como um ser integrado e integrador da sociedade (Bullock & Osborne, 2000; Herrmann et al., 2005; Lopes, 2005; Lima, 2008; Newman, 2011).

Para os jovens, os benefícios ao participarem de atividades intergeracionais estão relacionados com a promoção da troca afetiva com a geração mais velha; o fortalecimento dos vínculos sociais por meio da interação; o aumento do interesse pela aprendizagem, pelo saber e pelo conhecimento; melhor entendimento sobre o envelhecimento e conscientização sobre o próprio envelhecimento; compreensão das necessidades dos idosos; maior respeito com a geração mais velha; desconstrução de estereótipos em relação ao idoso; melhoria das habilidades acadêmicas e sociais; diminuição da taxa de evasão escolar; aumento da autoestima e da autoconfiança; aumento das habilidades de liderança. Além de

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aprenderem tradições, histórias, culturas, os mais jovens podem partilhar, escutar e, sobretudo, entender sobre a importância das amizades; a promoção de novos relacionamentos positivos e estimulantes (Bullock & Osborne, 2000; Herrmann et al., 2005; Lopes, 2005; Butts & Chana, 2007; Martínez, 2011; Newman, 2011).

Por outro lado, os programas intergeracionais podem apresentar contato limitado entre as gerações, principalmente, se apenas envolverem atividades dispersas que não se alinhem a um objetivo comum. A falta de infraestrutura adequada para a realização das atividades propostas, a reciprocidade limitada e o não estabelecimento de confiança entre as gerações, bem como a ausência de intencionalidade e contrato pedagógico, com métodos e ambientes apropriados são fatores que podem prejudicar o desenvolvimento das relações intergeracionais. Atitudes negativas sobre a outra geração e o reforço de opiniões estereotipadas também atrapalham a transmissão e a construção intergeracional. Em intervenções específicas, a presença de determinadas doenças pode limitar a participação de alguns membros; por isso, as atividades devem ser planejadas e conduzidas com presteza, perseverança, assiduidade e precisão, para que ambas as gerações possam participar (Gamliel et al., 2007a; Gamliel et al., 2007b; Weintraub & Killian, 2007; Spudich & Spudich, 2010; Jarrot et al., 2011).

A simples coexistência não garante a intergeracionalidade, pois as relações não são espontâneas. As atividades precisam ter um caráter facilitador e intermediador das relações intergeracionais, necessitando, assim, de pessoas que interfiram e proporcionem qualidade a essa convivência. Ou seja, a supervisão da relação pode aprimorar e potencializar o contato intergeracional. Em programas intergeracionais, os mediadores (professores e monitores das atividades) são considerados membros da geração do meio e podem contribuir para o processo de interação das gerações mais novas com as mais velhas. Esses mediadores mantêm e cultivam as relações intergeracionais, transmitindo valores, incentivando a participação e estabelecendo papéis entre os envolvidos. É importante que o mediador tenha consciência das diferentes possibilidades e efeitos sobre o processo de aprendizagem e das implicações do conflito intergeracional que pode se fazer presente. Além disso, os profissionais – professores, supervisores e coordenadores – precisam estar cientes das necessidades, características e habilidades tanto dos participantes mais velhos (adultos e idosos) como dos mais jovens (crianças e adolescentes), visando à continuidade e ao estabelecimento de relações intergeracionais profícuas (Ferrigno, 2003; Gamliel et al., 2007a; Gamliel et al., 2007b; Newman, 2011).

Diante da importância do mediador, a formação de recursos humanos e a sensibilização de gestores de instituições são desafios para o campo intergeracional. Com vista a desenvolverem uma

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percepção mais abrangente sobre a intergeracionalidade e, com isso, conseguirem proporcionar um encontro intergeracional produtivo e prazeroso, visando à redução de estereótipos e preconceitos etários, faz-se necessário treinamento dos profissionais quanto à atividade praticada, o perfil dos participantes e a própria relação que as gerações estabelecem (Gamliel et al., 2007b; Spudich & Spudich, 2010; Ferrigno, 2011).

Em síntese, tendo em vista a promoção de atitudes positivas, os programas intergeracionais precisam ser bem-estruturados e focar o encontro e o vínculo entre as gerações. Sendo assim, o levantamento de pesquisas que vêm sendo realizadas no campo intergeracional sobre o impacto dos programas e das atividades dessa natureza e as atitudes de uma geração em relação a outra é fundamental.

Intergeracionalidade: pesquisas e instrumentos

Os programas intergeracionais são atividades organizadas que reúnem diversas gerações e buscam causar impacto positivo sobre as atitudes geracionais. Os primeiros programas intergeracionais são datados da década de 1960, nos Estados Unidos. Com a expansão desse conceito, alguns países como o Brasil tiveram os seus primeiros registros no final dos anos 1970. Em outros países, esses programas ganharam mais visibilidade e importância apenas nos anos 1990 (Gamliel et al., 2007a; Ferrigno, 2011; Newman, 2011; Ruggiano, 2012).

Os estudos têm usado métodos para melhor documentar o efeito das atividades intergeracionais sobre os diferentes participantes (crianças, jovens e idosos) e as atitudes em relação à outra geração (Lynott & Merola, 2007). Estudos internacionais mais recentes evidenciam as mudanças atitudinais mais positivas que ocorreram após a participação em programas intergeracionais.

A pesquisa de Gagglioli e colaboradores (2014) foi realizada com idosos e crianças que participaram de uma atividade de reminiscência intergeracional. A reminiscência intergeracional é uma atividade em que os idosos contam histórias autobiográficas, compartilham memórias pessoais e lembranças do passado com o intuito de transmitir tradições populares e experiências de vida para as gerações mais jovens, favorecendo a interação e reduzindo barreiras entre as diferentes gerações. As análises de medidas antes e depois de seis encontros revelaram que a percepção das crianças sobre os idosos melhoraram após a participação no programa. Os idosos foram considerados mais sábios e legais pelas crianças. A evidência de atitudes mais positivas das crianças em relação a idosos, após a

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intervenção, indica que as atividades intergeracionais podem ser uma estratégia eficaz para promover o contato entre gerações e reduzir estereótipos e preconceitos etários.

O estudo realizado por Morita e Kobayashi (2013) teve como objetivo comparar as mudanças na atitude, na atenção visual, na expressão facial e na conversa entre as gerações promovidas por um programa que envolvia idosos e crianças. Os participantes foram divididos em dois grupos com base no seu estilo de interação: atividade baseada no desempenho (crianças cantavam e dançavam para os idosos) e atividade intergeracional conjunta (idosos e crianças jogavam juntos). Foi aplicada a versão japonesa da Intergenerational Exchanges Attitude Scale (IEAS), sendo a confiabilidade estabelecida com base no coeficiente kappa (0,60 ~ 0,90). Constatou-se que a atenção visual entre as gerações foi significativamente maior no grupo de atividade baseada no desempenho do que no grupo de atividade intergeracional conjunta. Por outro lado, as atitudes, o comportamento construtivo e a conversa entre as gerações foram significativamente mais positivos no grupo de atividade intergeracional conjunta quando comparadas com atividades intergeracionais baseadas na demonstração de habilidades de uma geração para a outra. Em síntese, os programas intergeracionais aproximam as diferentes gerações e tendem a promover atitudes mais positivas sobre o outro.

Outra pesquisa que utilizou a IEAS foi realizada por Jarrot e colaboradores (2011) e teve por objetivo avaliar a sua eficácia no fortalecimento da comunidade intergeracional, considerando o desempenho e as atitudes em relação à intergeracionalidade. A amostra foi composta por profissionais que trabalhavam com programas para crianças e para adultos separadamente e por profissionais que desenvolviam programas intergeracionais. Constatou-se grande variabilidade em termos de confiabilidade de fatores individuais da escala aplicada; somente os itens do fator relações e interações de idosos com crianças demonstraram bons resultados alfa em ambos os períodos de avaliação. As mudanças de atitude ao longo do estudo foram significativas para os participantes ativamente envolvidos com programação intergeracional. Por outro lado, o grupo não envolvido na facilitação intergeracional apresentou uma variação mais negativa de atitude. Portanto, evidencia-se que a experiência com programas intergeracionais promove atitudes mais positivas em relação às trocas intergeracionais em profissionais que desenvolvem atividades desse caráter quando comparados com profissionais que não trabalham com ações intergeracionais.

O estudo realizado por Travis, Stremmel e Kelly-Harrison (1997), com administradores de centros-dia para idosos e administradores de creches infantis, também utilizou a IEAS e constatou que os administradores que desenvolviam atividades intergeracionais apresentaram atitudes mais positivas

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em relação às trocas entre crianças e idosos quando comparados com profissionais que não trabalhavam com ações que integravam as diferentes gerações. Além disso, a pesquisa notou que a programação das instituições tinham menos atividades intergeracionais do que se esperava encontrar inicialmente.

A IEAS, também denominada Intergenerational Attitudes Scale, foi criada por Stremmel, Travis e Kelly-Harrison (1996) e tem por intuito mensurar as atitudes em relação às trocas intergeracionais que ocorrem entre crianças e idosos. A escala contém 24 itens atitudinais, alocados em cinco fatores: relações e interações entre idosos e crianças; percepções dos idosos sobre as crianças; atributos das crianças; atributos dos idosos; e controle e poder. Os itens são declarações avaliativas que representam atitudes negativas ou positivas sobre trocas intergeracionais. As categorias de resposta são pontuações de 5 (concordo plenamente) a 1 (discordo totalmente), sendo que a maior pontuação representa atitudes intergeracionais mais positivas. A escala apresenta consistência interna que varia para cada fator de 0,60 para controle e poder e 0,86 para relações e interações de crianças com idosos.

Tendo em vista os instrumentos que avaliam as atitudes geracionais, no Brasil, as escalas mais utilizadas estão relacionadas apenas à mensuração de atitudes em relação à velhice.

A Escala de Crenças em Relação à Velhice foi construída por Neri (1991, 1995, 1997) e trata-se de uma escala diferencial semântica composta por 30 pares de adjetivos em oposição. A intensidade das respostas é indicada por cinco pontos em direção positiva ou negativa da posição dos adjetivos em cada par. A estrutura fatorial compreende quatro domínios: 1) cognição, cujos dez itens são relativos à capacidade de processamento de informação e de solução de problemas, com reflexo sobre a adaptação social dos idosos como sábio-tolo, claro-confuso, preciso-impreciso, concentrado-distraído, rápido-lento, flexível-rígido, criativo-convencional, persistente-inconstante, alerta-embotado, seguro-inseguro; 2) agência, em que os seis itens são referentes a autonomia e instrumentalidade para realização de ações como entusiasmado-deprimido, saudável-doentio, ativo-inativo, esperançoso-desesperado, independente-dependente, produtivo-improdutivo; 3) relacionamento social, onde os sete itens alusivos aos aspectos afetivos e emocionais refletem na interação social dos idosos como construtivo-destrutivo, bem-humorado e mal-humorado, confiante-desconfiado, cordial-hostil, interessado pelas pessoas-desinteressado pelas pessoas, generoso-mesquinho, condescendente-crítico; e 4) persona, em que sete pares de itens dizem respeito à imagem social dos idosos, rótulos sociais comumente usados para designar os idosos como aceito-rejeitado, integrado-isolado, atualizado-ultrapassado, valorizado-desvalorizado, agradável-desagradável, progressista-retrógrado, sociável-introvertido.

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Para avaliar atitudes de crianças em relação aos idosos, a Escala de Crenças em Relação à Velhice foi adaptada, resultando na Escala Todaro para Avaliação de Atitudes de Crianças em Relação a Idosos, que contém 14 itens bipolares sobre a premissa “Os idosos são”: sábios e bobos; bem-humorados e mal-bem-humorados; colocados de lado e aceitos; alegres e tristes; valorizados e maltratados; legais e chatos; doentes e saudáveis; bonzinhos e bravos; pães-duros e mãos-abertas; claros e confusos; inseguros e seguros; atentos e distraídos; lentos e rápidos; criativos e sem criatividade. A intensidade da resposta é indicada pelas crianças em direção positiva ou negativa da posição dos adjetivos em cada par a escolha da melhor alternativa. Os itens também são divididos nos quatro domínios: cognição, agência, relacionamento social e persona. A consistência interna da escala foi testada e considerada satisfatória para crianças em idade escolar, de sete a dez anos (Todaro, 2008).

A pesquisa realizada por Todaro (2008) teve por objetivos a construção e a avaliação da confiabilidade interna de uma escala diferencial semântica que mensura as atitudes de crianças em relação a idosos. No mesmo estudo, as atitudes de crianças foram verificadas, controlando gênero, idade e intensidade da convivência com os avós, bem como foi testada a eficácia de um programa de leitura de textos infantis contendo personagens idosos. A amostra foi de 248 crianças, entre sete e dez anos, que participaram de uma intervenção educacional, com pré-teste, tratamento e pós-teste, composta por cinco sessões com duração média de 50 minutos cada.

Comparando os escores dos itens de acordo com os domínios da Escala Todaro para Avaliação de Atitudes de Crianças em Relação a Idosos, de modo geral, as atitudes das crianças em relação aos idosos foram mais positivas, principalmente para os domínios relacionamento social e persona. As pontuações menos positivas de crianças em relação aos idosos foram para agência e cognição. Os meninos e as crianças com mais idade tiveram atitudes mais negativas, mas foram os que mais melhoraram entre o pré-teste e o pós-teste. As crianças que não moravam com os avós tiveram atitudes mais negativas sobre o domínio persona e constatou-se que quanto maior o número de atividades realizadas com os avós, mais positivas as atitudes das crianças sobre o domínio cognição. Tal estudo destaca a importância das relações intergeracionais na mudança e na promoção de atitudes mais positivas em relação à velhice.

No cenário brasileiro existem instrumentos que medem atitudes em relação à velhice, tanto por parte dos próprios idosos, como das gerações mais novas e até mesmo das crianças. Porém, no que se refere à relação que as diferentes gerações estabelecem e considerando, de modo mais específico, a relação entre crianças e idosos, há uma lacuna na investigação da intergeracionalidade. Portanto, faz-se

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necessário validar um instrumento que avalie as atitudes em relação às trocas intergeracionais, como a Intergenerational Exchanges Attitude Scale.

Validação de um instrumento intergeracional

Validar para a língua portuguesa do Brasil uma escala intergeracional estrangeira, como a Intergenerational Exchanges Attitude Scale, requer um procedimento que considere as questões linguísticas e culturais no processo de adequação do instrumento para produzir os efeitos originalmente semelhantes (Beaton et al., 2000; Viana, 2008).

O processo de validação e de adaptação cultural tem como objetivo alcançar a equivalência semântica, idiomática, cultural, experimental e conceitual entre a versão original e a adaptada. Esse método corresponde à semelhança do significado das palavras, questões, conceitos e ao uso de expressões da língua original e da língua-alvo (versão adaptada) e verifica se as situações nos itens apresentados na escala correspondem às vivenciadas no contexto da nova cultura estudada (Beaton et al., 2000; Viana, 2008; Almeida, 2013).

A adaptação e a validação de um questionário e/ou de uma escala exigem o uso de um método único, específico e rigoroso, a fim de ser utilizada em uma cultura diferente da qual ela foi criada, com linguajar e símbolos distintos. Há métodos que, em sua essência, se assemelham quanto aos procedimentos de tradução, adaptação e validação (Beaton et al., 2000; Viana, 2008; Almeida, 2013).

O guia proposto por Beaton e colaboradores (2000) é um método aprimorado de outros procedimentos e técnicas, tem sido largamente utilizado para adaptação cultural de medidas de saúde e outros campos do conhecimento e compreende cinco passos:

Estágio I – primeira tradução: com o objetivo de refletir com mais precisão as nuances da língua, dois tradutores bilíngues, cuja língua materna é a língua-alvo, produzem uma versão e um relatório cada qual contendo a justificativa e os comentários adicionais que destaquem frases, escolhas e incertezas. Um dos tradutores deve estar ciente sobre a temática que está sendo analisada. O outro tradutor não deve ter conhecimento e nem ser informado sobre os conceitos. Assim, haverá maior probabilidade de detectar diferentes significados da versão original, pois o segundo tradutor estará menos influenciado pela área e refletirá uma linguagem mais próxima da população de origem.

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Estágio II – síntese das traduções: um terceiro tradutor tem a função de sintetizar e documentar as escolhas e os resultados trabalhando a partir do questionário original, bem como das versões do primeiro tradutor e do segundo tradutor.

Estágio III – retrotradução: processo de verificação de validade que certifica se a versão traduzida reflete o mesmo conteúdo das versões originais, destacando inconsistências ou erros conceituais na tradução. A partir da síntese e sem ter acesso à versão original, os dois retrotradutores elaboram, cada um, uma versão no idioma de origem.

Estágio IV – comitê de especialistas: com esse processo busca-se a obtenção da equivalência transcultural, por meio da consolidação de todas as versões da escala, seguindo critérios conceituais e não apenas literais. A composição mínima compreende metodólogos, linguistas ou especialistas e os tradutores envolvidos no processo. O papel do comitê de especialistas é consolidar todas as versões do questionário e desenvolver o que seria considerado a versão pré-final do questionário para os testes de campo. A comissão, portanto, revê todas as traduções e chega a um consenso sobre qualquer discrepância. O material à disposição do comitê inclui o questionário original e cada tradução feita nas etapas anteriores.

Estágio V – pré-teste: aplica-se a versão do comitê de especialistas em um grupo de 30 a 40 pessoas, com o intuito de testar a validade e a qualidade do conteúdo. Após o preenchimento do instrumento, cada sujeito é entrevistado e questionado sobre o significado de cada item da escala e da resposta escolhida. Tal processo assegura que a versão terá a equivalência na aplicabilidade. A distribuição das respostas é examinada para procurar uma alta proporção de itens em falta ou respostas individuais.

Com um aprimorado procedimento de tradução, adaptação e validação, o comportamento de diferentes culturas pode ser estudado para compreender como as situações semelhantes têm reações distintas.

Após a adaptação semântica e cultural, a validação de um instrumento de avaliação, seja um questionário, seja uma escala, exige adequação e legitimidade sobre o que se propõe a medir. Por isso, é preciso considerar as validades de critério, convergente, de construto e fatorial para que o instrumento mensure o que de fato espera avaliar.

Na validade convergente ocorre o estabelecimento de correlações entre um novo instrumento e um instrumento equivalente validado e confiável, considerado como “padrão-ouro”. Para evidenciar se o instrumento mede o mesmo conceito ou construto, os dois instrumentos equivalentes são aplicados ao

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mesmo tempo, na mesma amostra de indivíduos e é realizada a análise posterior dos escores obtidos (Novelli, 2006; Minosso et al., 2010; Almeida, 2013).

Ao utilizar técnicas estatísticas, a validade fatorial permite determinar o quanto a escala está relacionada aos conceitos teóricos que a fundamentam. As análises fatoriais exploratórias e confirmatórias possibilitam avaliar as intercorrelações de um grupo de itens de uma escala, definindo um conjunto de fatores contidos nessa escala. As análises fatoriais avaliam quantitativamente quais itens pertencem a cada subdimensão do construto. Segundo Laros (2010), a validade de construto tem na análise fatorial o seu melhor suporte metodológico, que permite determinar como e o quanto a escala está relacionada aos conceitos teóricos que a fundamentam. Possibilita avaliar as correlações entre distintos grupos de itens, formando uma estrutura fatorial explicada por variáveis associadas à teoria estudada. Avalia a proporção da variância do instrumento total que é explicada pelos itens de cada fator. A derivação da estrutura fatorial promove indícios sobre a validade de construto do instrumento e é complementada pela análise da confiabilidade interna dos fatores e do instrumento total. A confiabilidade interna é geralmente indicada pelo alfa de Cronbach; quanto mais próximo de 1,0, melhor a consistência interna entre os itens avaliados (Novelli, 2006; Viana, 2008; Almeida, 2013).

De acordo com Paschoal (2000), a validade de construto assegura que os itens de um instrumento representam suficientemente a teoria subjacente ao instrumento, ou seja, o que dizem medir, e permite que qualquer escore seja interpretado de forma apropriada. A validade de construto examina em que extensão o assunto de interesse, ou o conteúdo, é coberto de modo abrangente pelos itens e pelas dimensões do instrumento.

Assim, a validação de construto e a validação convergente verificam a correlação dos itens da escala na expectativa de que apresentem congruência com o instrumento conceitualmente equivalente ao instrumento que será validado. No presente estudo, a consistência na mensuração do fenômeno que pretende medir é referente às atitudes em relação às trocas intergeracionais.

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JUSTIFICATIVA

Na literatura nacional e internacional disponível, a produção literária que aborda as relações intergeracionais que ocorrem no âmbito familiar é mais abundante e mostra consideráveis estudos sobre as gerações. Em menor quantidade há pesquisas sobre as atitudes, as crenças, os mitos e estereótipos dos sujeitos perante a outra geração. As práticas e as experiências intergeracionais são pouco registradas e, quando há, apresentam-se de modo muito pulverizado e escasso, tornando-se uma expressa demanda acadêmica.

Tendo em vista a necessidade de promover as relações intergeracionais e de implementar atividades eficientes que integrem as distintas gerações, reconhecer as atitudes se faz importante principalmente quando se visa à desconstrução de estereótipos e de preconceitos.

Além disso, ressalta-se a inexistência de um instrumento nacional que identifique as atitudes dos profissionais que conduzem as atividades intergeracionais em relação às trocas entre as gerações, tal qual a Intergenerational Exchanges Attitude Scale o faz.

Por fim, é relevante considerar os programas de educação permanente como um campo promissor e enriquecedor para a obtenção de dados sobre atividades intergeracionais, uma vez que se destacam pelo pioneirismo em ações que visam integrar as diferentes gerações.

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OBJETIVOS

Objetivo Geral

Obter equivalência semântica e cultural entre a Intergenerational Exchanges Attitude Scale (IEAS) e sua versão brasileira, a Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI).

Objetivos Específicos

1. Derivar evidências de validade de construto da Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI).

2. Verificar se há correlações entre os itens dos fatores da EATI com os domínios da Escala de Crenças em relação à Velhice.

3. Descrever e comparar o comportamento de um grupo de idosos e de um grupo de profissionais na presença da EATI, considerando-se as variáveis convivência com crianças, por parte dos idosos, e trabalho com grupos intergeracionais ou só com idosos, por parte dos profissionais.

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HIPÓTESES

1. A aplicação da Intergenerational Exchanges Attitude Scale apresenta equivalência semântica e cultural entre a versão brasileira denominada Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI).

2. A EATI apresenta evidências de validade de construto, com base em análise fatorial e em análise de confiabilidade interna alta para cada fator encontrado e da escala como um todo.

3. Há correlações entre os dados obtidos com a aplicação da EATI e a aplicação paralela da Escala de Crenças em Relação à Velhice, assumida como conceitualmente equivalente por mensurar atitudes.

4. Na presença da EATI, o grupo de idosos que tem convivência com crianças, bem como o grupo de profissionais que trabalham com atividades intergeracionais pontuaram mais alto para atitudes positivas em relação às trocas intergeracionais do que os idosos que não tem convivência com crianças e profissionais que não desenvolvem atividades intergeracionais.

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ARTIGOS

A presente dissertação foi redigida três artigos, cada qual versando sobre um dos principais objetivos do estudo. O primeiro artigo aborda a validação semântica e a adaptação transcultural da Intergenerational Exchanges Attitude Scale (IEAS). O segundo artigo é referente à validade de construto e a análise convergente da versão brasileira da IEAS, denominada Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI). O terceiro artigo compara o comportamento de um grupo de idosos e de um grupo de profissionais na presença da EATI. As três publicações têm como autoras Roberta dos Santos Tarallo, Anita Liberalesso Neri e Meire Cachioni.

O artigo 1, intitulado “Validação semântica e cultural da Intergenerational Exchanges Attitude Scale”, foi submetido à Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O comprovante do aceite é encontrado no Anexo 1.

O artigo 2, intitulado “Validade da versão brasileira da Escala de Atitudes em relação a Trocas Intergeracionais (EATI)”, será submetido à revista Psicologia: Reflexão e Crítica.

O artigo 3, intitulado “Atitudes de idosos e de profissionais brasileiros em relação às trocas intergeracionais”, será submetido ao Journal of Intergenerational Relationships.

Referências

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