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Efeitos quânticos envolvendo buracos negros

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Academic year: 2021

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Instituto de F´ısica

Trabalho de Conclus˜

ao de Curso

Efeitos quˆ

anticos envolvendo buracos negros

Samuel Motta De Paula Antunes

Niter´

oi-RJ

2019

(2)

SAMUEL MOTTA DE PAULA ANTUNES

EFEITOS QU ˆANTICOS ENVOLVENDO BURACOS NEGROS

Monografia apresentada ao Departamento de F´ısica da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obten¸c˜ao do grau de Bacharel em F´ısica.

Orientadora: Profa. Dra. RAISSA FERNANDES PESSOA MENDES

Niter´oi-RJ 2019

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Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradacer a Deus por me dar for¸cas e capacita¸c˜ao nos piores momen-tos de estresse e ansiedade que passei ao longo do curso, onde fui capaz de super´a-los. Em segundo lugar, gostaria de agradecer `a minha fam´ılia que sempre me apoiou nas minhas decis˜oes e nos momentos dif´ıceis, sou muito grato, em especial, ao meu pai (Cl´audio), minha m˜ae (Mara), minha av´o (Mar´ılia), minha av´o (Mirtes) e meu avˆo (Agapito), nunca vou esquecer o que vocˆes fizeram, amo todos vocˆes. Agrade¸co tamb´em aos meus amigos mais pr´oximos, dentre eles: Di´ogenes, Matheus, C´ıcero, Daniel, Igor, Jo˜ao Victor, Pedro e Fred que sempre alegraram meus dias. Gostaria de agradecer tamb´em a todos os professores da escola em que eu estudei, vocˆes me deram base, me ensinaram a ser humano e a ser um cidad˜ao que respeite o pr´oximo. Tamb´em quero agradecer aos meus amigos de viagem da gradua¸c˜ao que ficaram at´e o fim comigo: Caio, Felipe e Bernardo, foi muito bom estar com vocˆes at´e o final, trocando ideias e tirando d´uvidas, a maior prova que a uni˜ao faz a for¸ca. Agrade¸co aos amigos que conheci no in´ıcio da gradua¸c˜ao tamb´em: Igor, Sˆonia, Carol, Jo˜ao, Lucas, uma pena que n˜ao chegamos juntos at´e o final. Agrade¸co tamb´em ao meu querido amigo, Pedro Trist˜ao, que sempre foi muito sol´ıcito com todas as minhas quest˜oes. Quero agradecer tamb´em `a professora Raissa que sempre demonstrou muita paciˆencia com todas as minhas d´uvidas e demonstrou que al´em de ser uma ´otima professora, ´e um ser humano incr´ıvel. Enfim, eu gostaria de escrever o nome de todas as pessoas que influenciaram positivamente minha vida at´e aqui, mas citei as que foram as mais importantes na etapa da gradua¸c˜ao.

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Sum´

ario

Agradecimentos v Resumo viii Resumo ix 1 Introdu¸c˜ao 1 2 Relatividade Geral 5 2.1 Variedades . . . 5 2.2 Campos tensoriais . . . 6 2.2.1 Defini¸c˜ao . . . 6

2.2.2 Representa¸c˜ao das componentes . . . 6

2.3 Derivada covariante e transporte paralelo . . . 7

2.4 Curvatura . . . 11

2.5 Geod´esicas . . . 15

2.5.1 Comprimento pr´oprio . . . 15

2.5.2 Tempo pr´oprio . . . 15

2.6 Desvio geod´esico . . . 16

2.7 Equa¸c˜oes de campo de Einstein . . . 17

2.8 M´etrica de Schwarzschild e buracos negros . . . 19

3 Teoria Cl´assica de Campos 22 3.1 Defini¸c˜ao informal de campo . . . 22

3.2 Dinˆamica hamiltoniana . . . 22

3.3 Campos cl´assicos . . . 23

3.4 Generaliza¸c˜ao da a¸c˜ao para espa¸co-tempo curvo . . . 25

4 Teoria Quˆantica de Campos 27 4.1 Quantiza¸c˜ao canˆonica de um campo escalar . . . 27

4.1.1 Oscilador harmˆonico simples . . . 27

4.1.2 Osciladores harmˆonicos quˆanticos . . . 28

4.1.3 Limite do cont´ınuo . . . 29

(7)

4.2 Aproxima¸c˜ao de ordem normal . . . 32

5 Efeito Unruh 33 5.1 Efeito Unruh bidimensional . . . 33

5.2 Trajet´oria de um observador acelerado . . . 34

5.3 Campos quˆanticos em referenciais inerciais e acelerados . . . 37

5.4 Transforma¸c˜oes de Bogolyubov . . . 39

5.5 N´umero de ocupa¸c˜ao e temperatura de Unruh . . . 41

6 Radia¸c˜ao Hawking 43 6.1 Colapso gravitacional estelar bidimensional . . . 43

6.1.1 Espa¸co-tempo da casca . . . 43

6.1.2 Quantiza¸c˜ao de um campo escalar . . . 46

6.1.3 C´alculo do fluxo de energia no infinito . . . 48

6.2 Buracos negros eternos . . . 53

6.2.1 Buraco negro eterno bidimensional . . . 53

6.2.2 Termodinˆamica de buracos negros . . . 55

6.2.3 Leis da termodinˆamica para buracos negros . . . 56

7 Conclus˜ao 57

(8)

Resumo

A Teoria Quˆantica de Campos em espa¸cos curvos estuda o comportamento dos campos quˆanticos sendo propagados num campo gravitacional cl´assico. Tanto a natureza quˆantica dos campos quanto os efeitos gravitacionais cl´assicos ser˜ao de suma importˆancia para os fenˆomenos que iremos descrever. Note tamb´em que, para fazermos essa descri¸c˜ao, a poss´ıvel natureza quˆantica da gravidade n˜ao ´e de crucial importˆ an-cia. A ideia central desse trabalho acadˆemico ´e de falar sobre alguns efeitos quˆanticos descobertos no s´eculo XX. Iremos preparar o terreno para chegarmos no principal efeito a ser analisado, at´e chegarmos l´a, revisaremos a parte de Relatividade Geral, Teoria Cl´assica de Campos para depois vermos um pouco de Teoria Quˆantica de Campos, analisando a quantiza¸c˜ao do campo mais simples: o campo escalar. Ap´os introduzirmos a quantiza¸c˜ao dele, trataremos de alguns efeitos quˆanticos. Dentre esses efeitos, destaca-remos primeiramente o Efeito Unruh, que foi descoberto em 1976 pelo f´ısico canadense William George Unruh, onde um observador acelerado no espa¸co-tempo de Minkowski se sente imerso num banho t´ermico de part´ıculas. Outro efeito que iremos destacar nesse trabalho ser´a o efeito descrito pelo f´ısico inglˆes Stephen Hawking em 1974, que descreve a radia¸c˜ao emitida em forma de banho t´ermico de part´ıculas por buracos negros, sem necessariamente possu´ırem carga ou momento angular (acreditava-se que ape-nas buracos negros com momento angular e carga emitiriam radia¸c˜ao), fazendo com que o horizonte de eventos deles se torne cada vez menor at´e que evaporem. O mais curioso ´e que a radia¸c˜ao emitida por eles correponde perfeitamente `a radia¸c˜ao emitida por um corpo negro.

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Abstract

The Quantum Field Theory in curved spacetime study the behavior of the fields being propagated in a classical gravitational field. Both the quantum nature of the fields and the classical gravitational effects are of big importance for the effects that we are going to describe. It’s also important to say that to make this description, the possible quantum nature of gravity is not of crucial importance. The central idea in this academic work is to talk about some quantum effects discovered in the XX century. We will prepare the ground to get to the main effect that will be studied and until that we will make a revision on General Relativity, Classical Field Theory and after that we will see a little bit of Quantum Field Theory, analysing the quantization of the most simplest field: the scalar field. After we introduce it’s quantization, we will highlight firstly the Unruh Effect that was discovered by the canadian physicist William George Unruh, where an observer accelerated in the Minkowski spacetime fells himself immersed in a termal bath of particles. Another effect that we will highlight is the one described by the english physicist Stephen Hawking in 1974. His work describes the radiation emitted in the form of termal bath of particles by black holes without necessarily having charge or angular momentum (it was believed until there that only black holes with angular momentum and charge should emitte radiation) making it’s event horizon shorter until evaporate. The most curious thing is that the radiation emitted by black holes correponds perfectly with the radiation emitted by a black body.

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Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

Tudo come¸cou com Einstein em 1905. Em uma tentativa de resolver o problema eletrodinˆamico da inva-riˆancia das Equa¸c˜oes de Maxwell para qualquer referencial inercial, eis que ele obt´em resultados f´ısicos muito interessantes que s˜ao necess´arios para que essa invariˆancia exista na natureza: a dilata¸c˜ao temporal e a contra¸c˜ao do espa¸co. Para isso ele postula as seguintes afirma¸c˜oes:

1- As leis da f´ısica s˜ao as mesmas para quaisquer referenciais inerciais. 2- A velocidade da luz para qualquer referencial inercial ´e c (c ' 300 km/s).

Em suma, vale ressaltar que, mesmo sendo de forma n˜ao intencional, quando Maxwell desenvolve as equa¸c˜oes que descrevem o Eletromagnetismo Cl´assico, ele sem querer e sem saber acaba englobando a Relatividade Especial dentro de sua teoria. Coube ent˜ao a Einstein adaptar a mecˆanica newtoniana para o Eletromagnetismo de Maxwell. A Relatividade Especial, entretanto, ´e limitada, limitada pois privilegia apenas referenciais inerciais j´a que para a descri¸c˜ao de referenciais n˜ao inerciais as leis f´ısicas mudam. Com isso, Einstein tem a miss˜ao de generalizar a Relatividade Especial para referenciais n˜ao inerciais e nesse processo de formular uma teoria mais geral, tem o pensamento mais feliz da vida dele. Em 1907, enquanto trabalhava no escrit´orio de patentes (sim, n˜ao me pergunte o que um f´ısico fazia l´a) ele imagina um experimento. Suponha que vocˆe est´a dentro de um elevador e eis que repentinamente os cabos do ele-vador s˜ao cortados. Vocˆe entra, ent˜ao, em queda livre num campo gravitacional junto com o elevador de tal modo que localmente a gravidade ´e eliminada e vocˆe (localmente) se encontra num referencial inercial, onde fazendo quaisquer experimentos dentro do elevador dado um pequeno intervalo de tempo, vocˆe ser´a incapaz de distinguir se est´a livre da gravidade ou se est´a em queda livre. Isso significa que referenciais em queda livre podem ser considerados localmente inerciais. Depois ele imaginou que o elevador estava subindo de forma acelerada (suponha a = 9, 8m/s2) numa regi˜ao de campo gravitacional nulo. Nesse

caso, vocˆe se sente exatamente sob o efeito de um campo gravitacional uniforme de tal forma que n˜ao tem a capacidade de distinguir se vocˆe est´a submetido ao campo gravitacional terrestre ou se est´a acelerando para cima. Esses dois experimentos mentais permitiram que Einstein conclu´ısse duas coisas:

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1- Referenciais em queda livre s˜ao localmente inerciais.

2- Existe uma equivalˆencia entre referenciais acelerados e referenciais sujeitos a um campo gravitacional uniforme (Princ´ıpio da equivalˆencia).

A partir dessas duas conclus˜oes, Einstein viu a necessidade de desenvolver uma nova teoria da gravita¸c˜ao baseada na geometria e com seu amigo, Marcel Grossman, passa os pr´oximos anos apren-dendo as ferramentas necess´arias da geometria diferencial para desenvolvˆe-la. Em 1915, ele publica seu trabalho da Relatividade Geral [1]. Em 1919, duas expedi¸c˜oes foram organizadas pelo Observat´orio de Greenwich: uma com destino `a cidade de Sobral no Cear´a e outra `a Ilha de Pr´ıncipe, localizada no Golfo da Guin´e ( ´Africa Ocidental), localidades essas situadas na regi˜ao em que um eclipse total solar ocorreria. As expedi¸c˜oes acabaram por confirmar a deflex˜ao da luz pelo campo gravitacional do Sol, cujo ˆ

angulo de deflex˜ao tinha uma margem de erro experimental que englobava o valor te´orico encontrado por Einstein [2]. Sua Teoria da Relatividade Geral era ent˜ao comprovada e agora passa-se a ver que o fenˆ o-meno gravitacional ´e na verdade a curvatura do espa¸co-tempo1, um fenˆomeno completamente geom´etrico.

As equa¸c˜oes da Relatividade Geral previam a existˆencia de um astro com campo gravitacional t˜ao intenso que nem a luz seria capaz de escapar dele (buraco negro), solu¸c˜ao que ´e encontrada n˜ao por Einstein, mas por outra pessoa. Enquanto servia na R´ussia, apesar de sofrer de uma rara doen¸ca de pele muito dolorosa (pˆenfigo), o astrˆonomo e f´ısico alem˜ao Karl Schwarzschild conseguiu escrever trˆes trabalhos fundamentais [4] nos quais dois deles continham algumas solu¸c˜oes exatas para as equa¸c˜oes de campo de Einstein da Teoria Geral da Relatividade. Seus trabalhos sobre a Teoria Geral da Relatividade deram a primeira solu¸c˜ao exata para as equa¸c˜oes de campo da gravita¸c˜ao no espa¸co vazio com simetria esf´erica, solu¸c˜ao essa que leva o seu nome (m´etrica de Schwarzschild). Ao receber manuscritos de Karl no dia 22 de dezembro de 1915, Einstein ficou agradavelmente surpreso ao saber que suas equa¸c˜oes de campo de gravita¸c˜ao chegaram a admitir solu¸c˜oes exatas e que apesar de sua complexidade, segundo ele, foram elegantemente demonstradas por Schwarzschild de “uma forma t˜ao simples...”. Em 1916, Einstein escreveu a famosa carta a Schwarzschild, a respeito de seu resultado obtido recentemente:

“Li a sua carta com o m´aximo interesse. N˜ao esperava que se pudesse formular a solu¸c˜ao exata do problema de maneira t˜ao simples. Gostei muito do seu tratamento matem´atico sobre o assunto. Na pr´oxima quinta-feira apresentarei o trabalho `a Academia com algumas palavras de explica¸c˜ao” [5].

Vale ressaltar que a solu¸c˜ao exata encontrada por Schwarzschild n˜ao foi a ´unica. Em 1963, Roy Kerr, um matem´atico neozelandˆes, encontrou uma solu¸c˜ao das equa¸c˜oes da Relatividade Geral que descrevem buracos negros que possuem rota¸c˜ao. Se o buraco negro n˜ao possui rota¸c˜ao, a solu¸c˜ao se reduz ao caso de Schwarzschild.

Mas afinal como se formam os buracos negros? Para entendermos como buracos negros se for-mam, precisamos, primeiramente, entender como funciona o ciclo das estrelas. Uma estrela ´e formada por

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uma grande quantidade de g´as. `A medida que a densidade do g´as aumenta devido `a atra¸c˜ao gravitacio-nal, os ´atomos do g´as ir˜ao colidir uns com os outros de forma cada vez mais frequente e com velocidades maiores. Assim o g´as come¸ca o processo de fus˜ao nuclear. O calor produzido nas rea¸c˜oes das estrelas ´e o que faz com que a estrela brilhe. ´E importante notar que ´e a press˜ao gerada nas rea¸c˜oes nucleares dentro da estrela que ir´a balancear sua atra¸c˜ao gravitacional de tal forma que ela fique est´avel por um longo per´ıodo de tempo. Eventualmente os elementos qu´ımicos respons´aveis pelas rea¸c˜oes nucleares da estrela come¸cam a se esgotar, ela n˜ao ´e capaz de produzir press˜ao t´ermica para balancear sua pr´opria atra¸c˜ao gravitacional e ela come¸ca a colapsar. A partir do colapso gravitacional, existe um limite de massa que ir´a determinar o destino desse colapso (limite de Chandrasekhar) [6]. O limite de Chandrasekhar ´e a massa m´axima de uma an˜a branca (cerca de 1.4 vezes a massa do Sol). Estrelas de nˆeutrons podem ter massas maiores, at´e 2-3 vezes a massa do Sol, acima disso, s´o buracos negros. Mas note que ´e a massa do objeto final ap´os o processo de colapso gravitacional que determinar´a o destino da estrela. An˜as brancas podem ser formadas a partir de estrelas mais massivas (at´e 5-10 vezes a massa do Sol), desde que material suficiente da estrela progenitora seja ejetado no processo de colapso. Para o caso em que a estrela se torna um buraco negro seu campo gravitacional ´e t˜ao intenso que nem mesmo a luz ´e capaz de escapar dele a partir de um certo limite de distˆancia. Isso significa que existir´a uma fronteira que ir´a delimitar eventos que podem ser vistos por observadores longe do buraco negro e eventos que n˜ao podem ser vistos por eles, essa fronteira se chama horizonte de eventos. Mais tarde, astrˆonomos observaram um sistema que possu´ıa uma estrela vis´ıvel do sistema Cygnus X-I, que orbitava um outro “corpo celeste” que n˜ao era vis´ıvel. Esse “corpo celeste” poderia n˜ao ser necessariamente um buraco negro, entretanto, esse sistema ´e uma fonte muito grande de raios-X. A melhor explica¸c˜ao para essa ocorrˆencia ´e que a mat´eria da estrela vis´ıvel ´e atra´ıda em dire¸c˜ao ao “corpo celeste” n˜ao vis´ıvel, seguindo uma trajet´oria espiral e assim, essa mat´eria se torna muito quente, emitindo raios-X. A partir da trajet´oria da estrela vis´ıvel, pode-se encontrar a massa do “corpo celeste” e quando ela ´e calculada, sua massa ´e de 1,5 massas solares superior `a massa m´axima de an˜as brancas e estrelas de nˆeutrons, ent˜ao, o astro n˜ao vis´ıvel deve ser um buraco negro.

Vamos agora falar um pouco da segunda lei da termodinˆamica. Ela afirma que a entropia de um sistema isolado nunca diminui. Portanto, quando dois sistemas s˜ao unidos em um, a entropia desse novo sistema ´e maior do que a entropia individual de cada sistema antes da jun¸c˜ao. Imagine um sistema de g´as de mol´eculas em uma caixa em que cada mol´ecula pode ser pensada como uma bola de bilhar colidindo com as demais e ricocheteando na parede. Quanto maior for a temperatura do g´as mais r´apido as mol´eculas ir˜ao se mover e a frequˆencia do choque com a parede ser˜ao cada vez maiores. Suponha que seja colocada uma parede que divida a caixa entre lado esquerdo e lado direito e que, inicialmente, todas estejam confinadas no lado esquerdo. Se a parede for removida, as mol´eculas ir˜ao tender com maiores chances a ocupar tanto o lado direito quanto o lado esquerdo de forma igual. Esse novo estado ´e dito me-nos ordenado ou mais desordenado que o estado inicial. Dizemos, ent˜ao, que a entropia do g´as aumentou. Vamos pensar agora no buraco negro. Existiria um meio de violarmos a segunda lei da termodinˆamica, a princ´ıpio, jogando mat´eria em seu interior com muita entropia, por exemplo, a caixa que menciona-mos com g´as. Nesse caso, a entropia total do sistema iria diminuir. Vocˆe at´e poderia argumentar que

(13)

a entropia total do sistema, incluindo a do buraco negro, n˜ao diminuiu, mas em Relatividade Geral a temperatura de um buraco negro ´e zero e sua entropia tamb´em ´e zero. Seria interessante se, atrav´es de alguma caracter´ıstica do buraco negro, um observador fora do horizonte de eventos pudesse medir sua entropia e que, de alguma forma, ela aumentasse ap´os jogarmos mat´eria dentro dele. Seguindo, ent˜ao, a descoberta de que a ´area do horizonte de eventos sempre aumenta ao jogarmos mat´eria dentro dele [6], um estudante pesquisador, Jacob Bekenstein, em 1972, sugere que a ´area do horizonte de eventos de um buraco negro est´a relacionada com a medida da entropia do mesmo [6]. Quando a mat´eria entra no interior do buraco negro, sua ´area aumenta e, consequentemente, sua entropia tamb´em aumenta, assim, a segunda lei da termodinˆamica n˜ao ´e violada. Entretanto, para que um buraco negro possua entropia, ´e necess´ario que ele tamb´em tenha temperatura. Mas um corpo que possui uma temperatura particular deve emitir radia¸c˜ao, portanto, buracos negros dever˜ao emitir radia¸c˜ao. O problema ´e que, por defini¸c˜ao, buracos negros n˜ao deveriam emitir nada, ent˜ao, a ´area do buraco negro n˜ao devia estar relacionada com sua entropia. Tal problema fez com que o f´ısico inglˆes Stephen Hawking, Brandor Carter e seu colega estadunidense, Jim Bardeen escrevessem um artigo mostrando esse problema [6]. Entretanto, no fim das contas, Bekenstein estava certo.

Em setembro de 1973, Stephen Hawking estava visitando Moscow e discutiu sobre buracos negros com dois cientistas da ´area: Yakov Zeldovich e Alexander Starobinsky. Eles convenceram Hawking de que, a partir da mecˆanica quˆantica e do princ´ıpio da incerteza, buracos negros com rota¸c˜ao deveriam emitir radia¸c˜ao2 A partir do tratamento feito por eles, Hawking tira o embasamento para desenvolver

um trabalho que misturava a teoria quˆantica com a Relatividade Geral para chegar numa express˜ao ma-tem´atica que mostrasse que buracos negros sem rota¸c˜ao tamb´em emitiam radia¸c˜ao [7]. O que convenceu Hawking de seu resultado foi que o espectro de radia¸c˜ao emitido pelo buraco negro era exatamente o espectro de um corpo negro. Desde esse c´alculo, uma s´erie de formas de c´alculos diferentes feitas por diferentes pessoas chegaram ao mesmo resultado: buracos negros devem emitir part´ıculas e radia¸c˜ao como um corpo negro e a temperatura relacionada com a radia¸c˜ao ir´a depender da massa: quanto menor a massa, maior a temperatura do buraco negro. O fluxo de energia emitido pelo buraco negro far´a com que sua massa se reduza at´e que ele evapore. Um efeito muito interessante que mistura termodinˆamica, Relatividade Geral e Teoria Quˆantica de Campos. Seria essa uma pista da poss´ıvel quantiza¸c˜ao do campo graviacional? S´o o tempo dir´a...

(14)

Cap´ıtulo 2

Relatividade Geral

O objetivo desse cap´ıtulo consiste em apresentar os ingredientes principais das equa¸c˜oes de campo de Einstein para que possamos compreender o significado f´ısico delas. Depois iremos analisar uma das solu¸c˜oes dessas equa¸c˜oes que descrevem os buracos negros. Afinal, qual seria a rela¸c˜ao entre curvatura e gravita¸c˜ao? O que ´e uma variedade? Como a mat´eria curva o espa¸co-tempo? Por que a luz n˜ao ´e capaz de escapar da atra¸c˜ao gravitacional de um buraco negro abaixo de uma determinada distˆancia? Come¸caremos falando sobre variedades e tensores para depois introduzirmos as ideias de transporte paralelo, curvatura, geod´esica, desvio geod´esico, o tensor energia-momento, as equa¸c˜oes de campo de Einstein e, por fim, uma solu¸c˜ao anal´ıtica delas (m´etrica de Schwarzschild).

2.1

Variedades

Precisamos de uma base matem´atica para come¸car investigando a estrutura do espa¸co-tempo, sendo assim, necessitamos de uma no¸c˜ao precisa do que ´e uma variedade. Antes de definir a no¸c˜ao de uma variedade, vamos recordar que uma bola aberta em Rn de raio r, centrada em torno de y = (y1, ..., yn)

consiste nos pontos nos quais: |x − y| < r ;

|x − y| =

n

X

µ=1

(xµ− yµ)2.

Um conjunto aberto em Rn´e qualquer conjunto que pode ser expresso como uma uni˜ao de bolas abertas.

Uma variedade real M , n − dimensional; C∞, ´e um conjunto junto com uma cole¸c˜ao de subconjuntos Oαque satisfazem as propriedades:

(1): Cada ponto p ∈ M reside em pelo menos um Oα.

(2): Para cada α, existe um ψα que mapeia os subconjuntos que pertencem a M em subconjuntos que

pertencem `a Rn:

ψα: Oα→ Uα. (2.1)

(3): Se quaisquer 2 conjuntos Oα e Oβ respeitam Oα∩ Oβ 6= ∅, podemos considerar o mapeamento

ψβ◦ ψα−1 que leva os pontos em ψα[Oα∩ Oβ] ⊂ Uα para os pontos em ψβ[Oα∩ Oβ] ⊂ Uβ. N´os supomos

(15)

que esses subconjuntos de Rn sejam abertos e que esse mapeamento seja C.

Figura 2.1: I

lustra¸c˜ao dos 3 axiomas que as variedades respeitam (extra´ıdo de [2]).

Informalmente, variedades s˜ao estruturas que localmente se parecem com Rn. Sua importˆancia em Relatividade Geral est´a no fato de que o espa¸co-tempo, o objeto mais importante em Relatividade Geral, pode ser definido como uma variedade dotada de uma m´etrica. Tendo visto o conceito de variedade, vamos passar agora ao de tensores e discutir a no¸c˜ao de m´etrica.

2.2

Campos tensoriais

2.2.1

Defini¸

ao

Nessa parte n˜ao entraremos em muitos detalhes.

Seja V um espa¸co vetorial finito e V∗um espa¸co dos covetores. Um tensor do tipo (k, l) ´e um mapeamento multilinear:

T : V∗× ... × V∗× V × ... × V −→ Rn,

onde V∗× ... × V∗tem dimens˜ao k e V × ... × V tem dimens˜ao l. Portanto, um tensor pode ser definido

como uma entidade matem´atica que mapeia vetores e covetores em n´umeros reais.

2.2.2

Representa¸

ao das componentes

Seja vµ ´e uma base de V ; µ ∈ {1, ..., dim(V )} e vν uma base de V∗; ν ∈ {1, ..., dim(V∗)}. Portanto,

temos que vµ1N ...vµkN v

ν1∗N ... N vνl∗ gera uma base para os tensores.

Portanto, as componentes de um tensor podem ser expressas da seguinte forma:

T = n=dimV X µ1,...,νl=1 Tµ1...µk ν1...νlvµ1 O ...vµk O vν1∗O...Ovνl∗.

Em geral, as componentes de um tensor se transformam da seguinte forma:

Tµ 0 1...µ 0 k ν0 1...νl0 = n=dimV X µ1,...,νl=1 Tµ1...µk ν1...νl ∂xµ01 ∂xµ1... ∂xνl ∂xν0 l .

(16)

Um exemplo de tensor que ´e muito importante na Relatividade Geral ´e o tensor m´etrico que ´e do tipo (0, 2): g = n X µ,ν gµνdxµ O dxν,

onde dxµN dxν representa um elemento de base coordenada de tensores (0, 2). As vezes ´` e usada a

nota¸c˜ao ds2 para representar o tensor m´etrico:

ds2=

n

X

µ,ν

gµνdxµdxν.

O uso de tensores na Relatividade Geral se deve ao fato de que um princ´ıpio b´asico da Relatividade Geral diz que todas as leis da natureza s˜ao invariantes sobre qualquer mudan¸ca geral de coordenadas. Portanto, como uma equa¸c˜ao tensorial ´e v´alida em qualquer referencial, as leis f´ısicas ser˜ao expressas como equa¸c˜oes tensoriais. Al´em disso, o tensor m´etrico equipa o espa¸co-tempo com uma esp´ecie de produto interno e fornece uma medida de distˆancia.

Obs: A partir de agora, usaremos a conven¸c˜ao de Einstein para a soma de componentes:

X

c

AcBc≡ AcBc.

2.3

Derivada covariante e transporte paralelo

Vamos denotar o operador ∇a que representa a derivada covariante. Ela ´e a generaliza¸c˜ao para o que

conhecemos como derivada parcial de uma fun¸c˜ao escalar. Introduziremos um exemplo para o caso de Rn.

Suponha que tenhamos n campos vetoriais que em cada ponto formam uma base de vetores {e1, ..., en}.

Um campo ~v pode ser expresso em termos da base acima:

~v = vke~k,

onde vk ao as componentes do vetor na base dada. Caso estejam-se usando coordenadas curvil´ıneas, os

vetores tangentes `as curvas coordenadas variam de ponto a ponto, como observamos na figura 2.2. Isso significa que mesmo quando o campo vetorial ´e constante, em geral, os vetores de base n˜ao s˜ao constan-tes e a partir da´ı precisamos generalizar o conceito de derivada parcial, essa generaliza¸c˜ao ´e a derivada covariante. A derivada covariante representa um mapeamento, levando um campo tensorial do tipo (k, l) em um campo tensorial do tipo (k, l + 1). Esse operador satisfaz as seguintes propriedades:

1. Linearidade: para todo tensor A, B, vale:

∇a(αAµ1...µkν1...νl+ βB µ1...µk ν1...νl) = α∇aA µ1...µk ν1...νl+ β∇aB µ1...µk ν1...νl.

2. Regra de Leibnitz: an´aloga ao c´alculo de uma vari´avel, a diferen¸ca ´e que ao inv´es de dxd aparece ∇a.

3.Comuta¸c˜ao com a contra¸c˜ao: Para todo A ∈ τ (k, l) :

∇d(Aµ1...c...µkν1...c...νl) = ∇dA

µ1...c...µk

(17)

4. Consistˆencia com a no¸c˜ao de vetores tangentes como derivadas direcionais atuando em escalares. Seja f um escalar e ta um vetor, ent˜ao vale que:

t(f ) = ta∇af.

Prova:

Considere o vetor tangente ta=∂xa ∂s , t =

∂s, onde s ´e o parˆametro da curva, ent˜ao, vale que:

t = ∂x a ∂s ∂ ∂xa = t a a t = ta∇a.

5.Tors˜ao nula: Para toda fun¸c˜ao escalar, vale:

∇a∇bf = ∇b∇af.

Juntando as condi¸c˜oes 4 e 5, podemos obter uma nova propriedade:

[v, w](f ) = vw(f ) − wv(f ) = va∇a(wb∇bf ) − wa∇a(vb∇bf ) = (va∇awb− wa∇avb)∇bf.

Portanto, n´os temos:

[v, w]b= va∇awb− wa∇avb.

Pela propriedade 4, percebemos que essa express˜ao define as componentes de um vetor: zb bf .

Considere dois operadores derivada covariante ∇a e ˜∇a que satisfazem as cinco propriedades acima.

Queremos encontrar o valor da diferen¸ca entre ˜∇a e ∇a. ∇˜a− ∇a define um mapeamento de covetores

em tensores do tipo (0,2), consequentemente ˜∇a− ∇a define um tensor do tipo (1,2) que denotaremos

por Caba . Portanto, por esse racioc´ınio vale que:

∇awb= ˜∇awb− Cabc wc.

Da condi¸c˜ao (5), se n´os tomamos que wb = ∇bf = ˜∇af , temos:

∇a∇bf = ˜∇a∇˜bf − Cabc wc.

Portanto, como ∇a∇b e ˜∇a∇˜b s˜ao sim´etricos, isso implica que Cabc wc = Cbac wc.

Por outro lado, para um vetor ta e para um covetor, temos a seguinte rela¸ao:

( ˜∇a− ∇a)wbtb= (Cabc wc)tb+ wb( ˜∇a− ∇a)tb.

Colocando em evidˆencia e supondo que wb 6= 0 chegamos na rela¸c˜ao: ∇atb= ˜∇atb+ Cacb t

c.

Portanto, para um tensor geral:

∇aTµ1...µkν1...νl= ˜∇aT µ1...µk ν1...νl+ X i Cµi adT µ1...d...µk ν1...νl− X j CdjTµ1...µk ν1...d...νl. (2.2)

(18)

Figura 2.2: Transporte paralelo.

O caso mais importante da equa¸c˜ao (2.2), ´e o caso particular em que ˜∇a ´e uma derivada parcial, nesse

caso, C ir´a assumir um nome especial, gama mai´usculo que representa os s´ımbolos de Christoffel. Por exemplo:

∇atb= ∂atb+ Γbact

c. (2.3)

Derivadas covariantes s˜ao importantes em v´arios contextos, em particular para definirmos a no¸c˜ao de transporte paralelo. A ideia ´e que dado um vetor que ´e transportado paralelamente em um caminho fechado sobre uma superf´ıcie, a curvatura da superf´ıcie implica que o vetor, ao completar a volta na curva e retornar ao ponto de in´ıcio, n˜ao ´e o mesmo que saiu, como est´a mostrado na figura 2.2. O vetor na imagem representada ´e transportado paralelamente ao longo de uma curva fechada em uma esfera. Portanto, dada uma derivada covariante ∇a, podemos definir a no¸c˜ao de transporte paralelo de um vetor

ao longo de uma curva C, xµ(λ), onde λ ´e o parˆametro da curva com vetor tangente ta= dxa

dλ. Considere

um vetor va sendo transportado paralelamente ao longo dessa curva. Dado um sistema de coordenadas

localmente inercial em um ponto P , as componentes do vetor transportado paralelamente `a curva devem ser constantes:

dvb

dλ = t

a

avb= ta∇avb= 0.

Portanto, temos a equa¸c˜ao para o transporte paralelo:

ta∇avb= 0. (2.4)

Generalizando para um tensor qualquer:

(19)

Escolhendo um sistema de coordenadas e usando a equa¸c˜ao (2.3), podemos expressar (2.4) da seguinte forma:

ta∂avb+ taΓbacv c= 0.

Ou podemos expressar a equa¸c˜ao em termos das componentes numa base e do parˆametro t ao longo da curva:

dvν

dt + t

µΓν

µλvλ= 0. (2.5)

N´os devemos impor uma condi¸c˜ao natural para o transporte paralelo: dados dois vetores va e wa, n´os

afirmamos que seu produto interno gabvawb permanece igual se n´os realizarmos o transporte paralelo ao

longo de qualquer curva. Portanto:

ta∇a(gbcvbwc) = 0.

Usando a equa¸c˜ao (2.4) que vb e wc devem satisfazer, obtemos:

tavbwc∇agbc= 0.

Portanto, ´e necess´ario que:

∇agbc= 0.

Vamos verificar a consequˆencia desse resultado:

0 = ∇agbc= ˜∇agbc− Cabd gdc− Cacd gbd,

ou seja:

Ccab+ Cbac= ˜∇agbc. (2.6)

Fazendo uma substitui¸c˜ao de ´ındices: a trocado por b e b trocado por a:

Ccba+ Cabc= ˜∇bgac. (2.7)

Agora fazendo a troca: b por c e c por b, temos a seguinte equa¸c˜ao:

Cbca+ Cacb= ˜∇cgab. (2.8)

Somando as equa¸c˜oes (2.6), (2.7) e subtraindo de (2.8):

Ccab+ Cbac+ Ccba+ Cabc− Cbca− Cacb= ˜∇agbc+ ˜∇bgac− ˜∇cgab. (2.9)

Usando a simetria de que:

Cabc = Cbac . (2.10) Temos de (2.10) que: Ccab= Ccba, Cbac= Cbca, e finalmente: Ccba= Ccab.

(20)

Portanto, a equa¸c˜ao (2.9) fica:

Ccab+ Cbac+ Ccab+ Cabc− Cbac− Cacb= ˜∇agbc+ ˜∇bgac− ˜∇cgab.

Portanto:

2Ccab= ˜∇agbc+ ˜∇bgac− ˜∇cgab.

Portanto, subindo o primeiro ´ındice de C e isolando o mesmo, teremos que:

Cabc =1 2g

cd( ˜

agbd+ ˜∇bgad− ˜∇cgab).

Em particular, para o s´ımbolo de Christoffel:

Γcab= 1 2g

cd(∂

agbd+ ∂bgad− ∂dgab).

2.4

Curvatura

Antes de tudo, vamos considerar a atua¸c˜ao de duas derivadas covariantes em um escalar e em um covetor:

∇a∇b(f wc) = ∇a(wc∇bf + f ∇bwc) = (∇a∇bf )wc+ ∇bf ∇awc+ ∇af ∇bwc+ f ∇a∇bwc.

Se n´os subtrairmos isso do tensor: ∇b∇a(f wc), vamos obter a seguinte equa¸c˜ao:

(∇a∇b− ∇b∇a)(f wc) = f (∇a∇b− ∇b∇a)wc.

Portanto temos que ∇a∇b− ∇b∇a define um mapeamento linear de covetores em tensores do tipo (0,3).

Sua a¸c˜ao define um tensor do tipo (1,3). Portanto, existe um tensor do tipo Rabcd tal que para um covetor:

∇a∇bwc− ∇b∇awc = Rabcdwd.

Agora, vamos considerar o transporte paralelo feito na figura 2.3. Ela est´a representando o transporte paralelo no sentido anti-hor´ario ao longo de duas curvas nas quais t ´e constante e duas curvas nas quais s ´e constante. Vamos ent˜ao considerar o transporte paralelo do vetor va ao logo da curva da figura 2.3,

inicialmente no ponto p = (0, 0). As varia¸c˜oes em cada curva, no sentido mostrado na figura s˜ao: δ1, δ2,

δ3, δ4. ´E mais f´acil computar a mudan¸ca de va quando voltamos ao ponto p deixando wa ser um covetor

arbitr´ario e assim encontrando a mudan¸ca do escalar vawa.

Vamos no momento dar ˆenfase em δ1 e em δ3. Teremos, ent˜ao, para δ1 a seguinte expans˜ao de

Tay-lor no ponto (∆t, 0): (vawa)(∆t,0)≈ (vawa)(0,0)+ ∂ ∂t(v aw a)(0,0)∆t + 1 2 ∂2 ∂t2(v aw a)(0,0)∆t2.

Portanto, n´os temos que:

δ1= (vawa)(∆t,0)− (vawa)(0,0)= ∂ ∂t(v aw a)(0,0)∆t + 1 2 ∂2 ∂t2(v aw a)(0,0)∆t2.

Por outro lado, se considerarmos a expans˜ao de Taylor no ponto (∆t/2, 0): ∂ ∂t(v aw a)(∆t/2,0)= ∂ ∂t(v aw a)(0,0)∆t + 1 2 ∂2 ∂t2(v aw a)(0,0)∆t2.

(21)

Figura 2.3: Ilustra¸c˜ao do transporte paralelo. Logo: δ1= ∂ ∂t(v aw a)(∆t/2,0)∆t.

Ent˜ao, se considerarmos Ta= ∂x∂sa como sendo o vetor tangente `as curvas 1 e 3, teremos que: δ1= ∆tTb∇b(vawa)(∆t/2,0)= ∆tTbva∇b(wa)(∆t/2,0).

Na ´ultima igualdade usamos a propriedade da equa¸c˜ao do transporte paralelo (2.4), j´a que ´e o vetor va

que est´a sendo transportado.

O c´alculo de δ3 ´e an´alogo, a diferen¸ca ´e que, pela forma que o transporte paralelo ´e feito e como n´os

estamos expandindo a s´erie de Taylor no ponto (∆t, ∆s), o sinal ´e oposto, portanto, temos que:

δ1+ δ3= ∆t[vaTb∇bwa(∆t/2,0)− vaTb∇bwa(∆t/2,∆s)]. (2.11)

Por´em, n´os podemos expandir o escalar vaTb

bwa considerando uma nova curva intermedi´aria entre os

pontos (∆t/2, 0) e (∆t/2, ∆s) com uma curva onde s varia e t ´e constante de tal forma que teremos a seguinte express˜ao:

vaTb∇bwa(∆t/2,∆s)≈ vaTb∇bwa(∆t/2,0)+

∂ ∂s(v

aTb

bwa)(∆t/2,0)∆s + ...

Substituindo isso na equa¸c˜ao (2.11), temos que:

δ1+ δ3= −∆t ∂ ∂s(v aTb bwa)(∆t/2,0)∆s = −∆t∆sSc∇c(vaTb∇bwa)(∆t/2,0), onde Sc= ∂xc

∂t ´e o vetor tangente `as curvas onde t ´e constante e s varia. Mas agora, se v

a´e transportado

paralelamente, temos que:

(22)

Agora vamos analisar δ2e δ4, onde tudo ´e muito an´alogo ao primeiro caso, portanto iremos pular algumas partes: δ2= ∂ ∂s(v aw a)(∆t,∆s/2)∆s = ∆sSb∇b(vawa)(∆t,∆s/2),

e para a outra curva:

δ4= − ∂ ∂s(v aw a)(∆t,∆s/2)∆s = −∆sSb∇b(vawa)(∆t,∆s/2). Portanto: δ2+ δ4= ∆s[vaSb∇bwa(∆t,∆s/2)− vaSb∇bwa(0,∆s/2)].

Mas, fazendo novamente o processo de expandir o segundo termo da equa¸c˜ao acima no ponto (0, s/2), considerando o transporte paralelo sobre uma curva intermedi´aria, na qual o vetor tangente ´e o Ta e

substituindo na equa¸c˜ao de δ2+ δ4, temos que:

δ2+ δ4≈ ∆s∆tTc∇c(vaSb∇bwa)(0,∆s/2)≈ ∆s∆t(vaTc∇c)(Sb∇bwa)(0,0).

Portanto, somando todos os delta’s, teremos que:

δ(vawa) = ∆t∆sva[Tc∇c(Sb∇bwa) − Sc∇c(Tb∇bwa)] =

∆t∆sva[(Tc∇cSb− Sc∇cTb)∇bwa+ TcSb(∇c∇b− ∇b∇c)wa].

O primeiro termo dentro do colchete se anula, pois :

Tc∇cSb− Sc∇cTb=

∂2

∂t∂s− ∂2

∂s∂t = 0.

Portanto, temos que:

δ(va) = ∆t∆svdTcSbRcbda.

Isso significa que existe uma rela¸c˜ao entre uma superf´ıcie ser curva com o fato de, ao realizarmos o trans-porte paralelo de um tensor ao longo de um circuito fechado, esse tensor n˜ao retornar inalterado ao ponto inicial. Rcbda representa as componentes do tensor de curvatura ou tensor de Riemann.1

N˜ao vamos demonstrar, mas vale a seguinte rela¸c˜ao:

(∇a∇b− ∇b∇a)Tµ1...µkν1...νl= − k X i=1 R µi abe T µ1... e ...µk ν1...νl + l X j=1 RabνjeTµ1...µk ν1... e ...νl.

Vamos estabelecer algumas propriedades do tensor de Riemann que n˜ao iremos demonstrar:

1Caso n˜ao tenha ficado muito claro, Ta´e o vetor tangente `as curvas em que t ´e o parˆametro vari´avel, com s = cte e Sa´e

o vetor tangente `as curvas em que s ´e o parˆametro vari´avel, com t = cte. Al´em disso, ´e importante notar a seguinte rela¸c˜ao para os c´alculos dessa se¸c˜ao:

Sa∇a= ∂ ∂s, onde: Sµ=∂xµ ∂s Essa observa¸c˜ao ´e an´aloga para o vetor tangente Ta.

(23)

1. R d

abc = −Rbacd.

2. R d

[abc] = 0, onde abrindo a express˜ao ao lado, verificamos essa igualdade:

R[abc]d= 1 3![R d abc − R d bac − R d cba + R d bca − R d acb + R d cab ] = 0. 3. Rabcd= −Rabdc. 4. As identidades de Bianchi: ∇[aRbc]de= 0.

Agora, vamos definir as componentes do tensor de Ricci, que s˜ao geradas pela contra¸c˜ao de dois ´ındices do tensor de Riemann:

Rac= Rabcb.

O tensor de Ricci ´e sim´etrico, ou seja:

Rac= Rca.

O escalar de Ricci ´e definido pela contra¸c˜ao:

R = Raa= Racgca,

que representa o tra¸co do tensor de Ricci. Vamos abrir a identidade de Bianchi:

∇[aRbc]de=

1 3![∇aR

e

bcd − ∇aRcbde+ ∇bRcade− ∇bRacde+ ∇cRabde− ∇cRbade] = 0.

Portanto, usando as propriedades de simetria do tensor de Riemann:

∇[aRbc]de= [2∇aRbcde+ 2∇bRcade+ 2∇cRabde] = 0,

∇aRbcde+ ∇bRcade+ ∇cRabde= 0.

Fazendo a contra¸c˜ao do primeiro termo, tomando c = e na equa¸c˜ao, temos que:

∇aRbd− ∇bRad+ ∇cRabdc= 0.

Agora, fazendo a contra¸c˜ao do segundo termo, usando o tensor m´etrico para subir o ´ındice d:

∇aRba− ∇bR + ∇cRabac= 0.

Mas n´os sabemos que:

∇cRabac= ∇cRbaca= ∇cRbc.

Portanto, teremos que:

∇aRba− ∇bR + ∇cRbc= 0.

Fazendo uma substitui¸c˜ao: c trocado por a ; a trocado por b ; b trocado por c ; d trocado por d, temos:

∇bRcb− ∇cR + ∇aRca= 0.

Note que o primeiro e o terceiro termo s˜ao iguais, ent˜ao temos:

(24)

Se definirmos o tensor de Einstein por: Gab= Rab− 1 2Rgab, temos que: ∇aG ab= ∇aRab− 1 2gab∇ aR = 0. Logo: ∇aGab= ∇aRab− 1 2∇bR = 0. (2.12)

Portanto, o tensor de Einstein ´e aquele que possui divergˆencia nula. Veremos adiante que ele ´e um ingrediente fundamental nas equa¸c˜oes de campo de Einstein.

2.5

Geod´

esicas

Intuitivamente, geod´esicas s˜ao linhas que “curvam o m´ınimo poss´ıvel”. Portanto, definimos uma geod´esica como sendo uma curva cujo vetor tangente ´e propagado paralelamente ao longo de si mesmo. Portanto, uma curva geod´esica cujo vetor tangente ´e Ta satisfaz a seguinte equa¸c˜ao:

Ta∇aTb= 0.

Podemos parametrizar a curva atrav´es de coordenadas xµ(t), onde t ´e o parˆametro da curva. Vale que

pela equa¸c˜ao (2.5): dTµ dt + Γ µ σνT σTν = 0.

Como Tµ´e o vetor tangente,

Tµ= dx

µ

dt . Portanto, numa base, a equa¸c˜ao da geod´esica toma a forma:

d2xµ dt2 + Γ µ σν dxσ dt dxν dt = 0.

2.5.1

Comprimento pr´

oprio

Dada uma curva C em uma variedade M com as componentes do tensor m´etrico definidas por gab, o

comprimento pr´oprio l, de C ´e definido por:

l = Z C (gabTaTb) 1 2.

Obs: Uma curva ´e do tipo espa¸co se gabTaTb> 0 em todos os pontos de C.

2.5.2

Tempo pr´

oprio

Dada uma curva C em uma variedade M com as componentes do tensor m´etrico definidas por gab, o

tempo pr´oprio τ , de C ´e definido por:

τ = Z C (−gabTaTb) 1 2.

(25)

Obs: Uma curva ´e do tipo tempo se gabTaTb< 0 em todos os pontos de C.

Obs: Uma curva ´e do tipo nulo ou tipo luz se gabTaTb= 0 em todos os pontos de C.

2.6

Desvio geod´

esico

Vamos supor que γs(t) ´e uma congruˆencia de geod´esicas parametrizadas pelo parˆametro afim t. Considere

a imagem abaixo:

Figura 2.4: Fam´ılia gerada pela varia¸c˜ao do parˆametro t, com vetor tangente Ta e vetor desvio Xa.

Como um primeiro passo, note que podemos fazer sempre uma nova parametriza¸c˜ao linear do tipo t0 =

b(s)t + c(s), de tal forma que Xa seja sempre perpendicular a Ta

; s ∈ R. Antes de prosseguir vamos demonstrar a seguinte propriedade:

Tb∇bXa = Xb∇bTa. (2.13)

Vamos supor que:

Ab= (Tc∇cXb− Xc∇cTb). Portanto: A(f ) = Ab∂bf = (Tc∇cXb− Xc∇cTb)∇bf. A(f ) = Tc∇cXb∇bf − Xc∇cTb∇bf. (2.14) Logo: Ab∂bf =  ∂2f ∂s∂t− ∂2f ∂t∂s  ∇bf.

Ent˜ao, podemos a partir disto concluir que a equa¸c˜ao (2.13) ´e v´alida.

A quantidade va = Tb

bXa d´a a taxa de varia¸c˜ao da distˆancia entre uma geod´esica e outra,

dize-mos que essa ´e a velocidade relativa de mudan¸ca. Analogamente, definimos a acelera¸c˜ao, dada por: aa = Tc

cva= Tc∇c(Tb∇bXa). Teremos ent˜ao o seguinte desenvolvimento:

(26)

Abaixo usaremos as seguintes propriedades: (i): Tb bXa= Xb∇bTa (ii): ∇c∇bTa= ∇b∇cTa− RcbdaTd (iii): Tb bTa = 0 aa = Tc∇c(Xb∇bTa) (usando (i)) = (Tc∇cXb)(∇bTa) + XbTc∇c∇bTa(usando (i)) = (Xc∇cTb)∇bTa+ XcTb∇c∇bTa− RcbdaT cXbTd(usando (ii)) = (Xc∇cTb)∇bTa+ XcTb∇c∇bTa− RcbdaT

cXbTd(renomeamos os ´ındices mudos: b−→ c e c−→ b)

= Xc∇c(Tb∇bTa) − RcbdaT cXbTd

= RcbdaXbTcTd(usando (iii)).

Assim:

aa = −RcbdaXbTcTd. (2.15)

A equa¸c˜ao (2.15) chama-se equa¸c˜ao do desvio geod´esico. Portanto, o desvio geod´esico est´a intimamente ligado com o tensor de curvatura. O desvio geod´esico mostra que algumas geod´esicas de uma superf´ıcie ir˜ao “acelerar” , se aproximando ou se afastando uma da outra se essa superf´ıcie possuir curvatura. Como veremos a seguir, a gravidade ´e a manifesta¸c˜ao da curvatura do espa¸co-tempo, ent˜ao a ideia descrita sobre o desvio de geod´esicas se manifestar´a em Relatividade Geral.

2.7

Equa¸

oes de campo de Einstein

Partimos da ideia que, diferente da relatividade especial, n˜ao podemos estabelecer um referencial inercial global, mas podemos estabelecer um referencial inercial local. Portanto, a m´etrica do espa¸co-tempo n˜ao ´e plana como assume-se em relatividade especial, mas sim localmente plana. As linhas de mundo (trajet´oria no espa¸co-tempo) de corpos em queda livre num campo gravitacional s˜ao geod´esicas do espa¸co-tempo. Como resultado dessa suposi¸c˜ao, passamos a ver a gravidade como um aspecto da estrutura do espa¸ co-tempo. Ent˜ao matematicamente vamos dizer que: O espa¸co-tempo ´e uma variedade M na qual ´e definida uma m´etrica lorentziana gab.

As leis da f´ısica da Relatividade Geral s˜ao governadas por 2 princ´ıpios b´asicos:

(1)O princ´ıpio da covariˆancia geral : A m´etrica gabe as quantidades derivadas dela s˜ao as ´unicas

quanti-dades do espa¸co-tempo que podem aparecer na equa¸c˜ao f´ısica do fenˆomeno.

(2)Redu¸c˜ao para o caso especial : As equa¸c˜oes que descrevem a Relatividade Geral devem se reduzir para as equa¸c˜oes que satisfazem a relatividade especial no caso em que gab´e plano.

(27)

Figura 2.5: Representa¸c˜ao matricial das componentes do tensor energia-momento.

a sua linha de mundo. Uma part´ıcula livre satisfaz a equa¸c˜ao da geod´esica:

ua∇aub= 0.

O quadrimomentum ´e definido por:

pa = mua,

onde m ´e a massa de repouso da part´ıcula. A energia de uma part´ıcula medida por um observador que intercepta a linha de mundo da part´ıcula ´e:

E = −pava,

onde va´e a quadrivelocidade do observador. Em particular se va = ua, obtemos que E = m, ou E = mc2, onde usamos que uµuµ= −1.

Em Relatividade Geral, uma distribui¸c˜ao cont´ınua de mat´eria e de campos ´e descrita pelo tensor energia-momento. O tensor de um fluido perfeito ´e dado por:

Tab= ρuaub+ P (gab+ uaub), (2.16)

onde ua ´e a quadrivelocidade dos elementos de fluido, P denota a press˜ao e ρ denota a densidade de energia. A figura 2.5 representa bem o significado f´ısico da componente do tensor energia-momento em coordenadas cartesianas. Importante notar que densidade de momento e fluxo de energia s˜ao a mesma coisa [17]. Uma forma alternativa de definir o fluxo de energia ´e pela express˜ao:

JEν = ηµTµν, (2.17)

que representa a proje¸c˜ao do tensor energia-momento sobre a quadrivelocidade ηµ de um observador.

O tensor energia-momento (2.16) satisfaz a equa¸c˜ao de movimento:

∇aT ab= 0,

que gera:

(28)

Mas afinal, que equa¸c˜ao descreve a rela¸c˜ao entre a geometria do espa¸co-tempo e a distribui¸c˜ao de mat´eria? Vamos fazer uma compara¸c˜ao da descri¸c˜ao de for¸cas de mar´e na gravita¸c˜ao newtoniana e na Relatividade Geral. Na teoria de Newton, o campo gravitacional ´e representado pelo potencial, φ e a acelera¸c˜ao entre dois corpos ´e dada por: −(~x · ~∇)~∇φ, onde ~x ´e o vetor de separa¸c˜ao entre as duas part´ıculas. Por outro lado, na Relatividade Geral, a acelera¸c˜ao entre 2 part´ıculas ´e: −Rcbdavcxbvd, onde va ´e a quadrivelocidade da part´ıcula e xa ´e o vetor de desvio. Isso sugere que fa¸camos uma

correspondˆencia:

Rcbda vcvd ⇐⇒ ∂b∂aφ.

Entretanto, a equa¸c˜ao de Poisson nos diz que:

∇2φ = 4πρ,

onde ρ ´e a densidade de massa da mat´eria e estamos usando: ~ = G = c = kb = 1, que ser˜ao usadas nos

outros cap´ıtulos tamb´em. Portanto, n´os temos a seguinte correspondˆencia:

Tabvavb ⇐⇒ 4πρ.

Essa correspondˆencia ent˜ao, nos sugere que: R a cad v

cvd ⇐⇒ 4πT

cdvcvd, que acaba sugerindo a equa¸c˜ao

de campo Rcd= 4πTcd. Essa equa¸c˜ao inclusive foi postulada por Einstein, mas, ela possui um pequeno

problema. Como discutimos acima, o tensor energia-momento satisfaz: ∇cT

cd= 0 e isso implicaria que

∇cR

cd = 0, ou seja, R e consequentemente T = Taa s˜ao constantes ao longo do universo, o que ´e algo

fisicamente invi´avel. Por´em, podemos definir essa equa¸c˜ao como sendo:

Gab≡ Rab−

1

2Rgab= 8πTab.

Assim, n˜ao existir´a mais nenhum conflito devido `a identidade de Bianchi, eq. (2.12), e a conserva¸c˜ao local de energia. Essas equa¸c˜oes s˜ao conhecidas como Equa¸c˜oes de campo de Einstein e foram primeiramente publicadas em 1915. A ideia da Relatividade Geral ´e ent˜ao resumida na seguinte ideia: o espa¸co-tempo ´e uma variedade M na qual ´e definida uma m´etrica de Lorentz gab. A curvatura de gab ´e relacionada com

a distribui¸c˜ao de mat´eria no espa¸co-tempo pelas Equa¸c˜oes de campo de Einstein.

2.8

etrica de Schwarzschild e buracos negros

Uma das solu¸c˜oes para a equa¸c˜ao de campo de Einstein ´e descrita pela m´etrica de Schwarzschild [15]:

ds2=  1 −2M r  dt2−  1 − 2M r −1 dr2− r2dΩ2, onde : dΩ2= dθ2+ sin2θdφ2.

Claramente as componentes da m´etrica de Schwarzschild divergem em r = 0 e r = 2M , mas n˜ao est´a claro se essas divergˆencias de fato representam singularidades do espa¸co-tempo ou apenas singularidades

(29)

das coordenadas que estamos usando.

Para simplificarmos nossos c´alculos, iremos considerar um buraco negro bidimensional cuja m´etrica ser´a:

ds2= gabdxadxb=  1 −rg r  dt2−1 − rg r −1 dr2,

onde rg= 2M . ´E conveniente introduzir uma coordenada alternativa r∗(r) que satisfaz:

dr∗= dr

1 − (rg/r)

.

Resolvendo a equa¸c˜ao diferencial acima, temos:

r∗(r) = r − rg+ rgln ((r/rg) − 1). (2.18)

A m´etrica toma a forma:

ds2= [1 − (rg/r(r∗))][dt2− dr∗2].

Nessas novas coordenadas, observamos que r∗´e definida somente para r > rge varia no intervalo −∞ <

r∗< ∞.

Introduzindo as coordenadas do cone de luz:

u0= t − r∗ e v0 = t + r∗. (2.19)

Podemos reescrever a m´etrica da seguinte forma:

ds2=  1 − rg r(u0, v0)  du0dv0.

As coordenadas de Schwarzschild possuem uma singularidade no ponto r = rg. Nas coordenadas

alter-nativas que usamos tamb´em temos uma singularidade de tal forma que elas cobrem somente o exterior de um buraco negro (r > rg). Para descrevermos inteiramente o espa¸co-tempo, usaremos as coordenadas

de Kruskal-Szekeres. Usando a equa¸c˜ao (2.18) e a equa¸c˜ao (2.19), obtemos:

1 −rg r = rg r exp  1 −rg r  exp v 0− u0 2rg  .

Portanto, a m´etrica que obtivemos anteriormente ser´a:

ds2=rg r exp  1 − r rg  e −u0 2rg e2rgv0 du0dv0.

Definindo as coordenadas do cone de luz de Kruskal-Szekeres:

u = −2rg exp  −u0 2rg  , v = 2rg exp  v0 2rg  . (2.20)

A m´etrica toma a forma:

ds2= rg r(u, v) exp  1 − r(u, v) rg  dudv.

Assim, nessas novas coordenadas, a m´etrica se torna regular em r = rg. Portanto, a singularidade

que t´ınhamos anteriormente ´e uma singularidade relacionada `as coordenadas e que ´e removida por uma transforma¸c˜ao das mesmas. Como foi definido pelas coordenadas de Kruskal-Szekeres, −∞ < u < 0 e 0 < v < ∞ cobrindo o exterior do buraco negro em r > rg. Entretanto, podemos estender analiticamente

(30)

o intervalo de u e v, onde a m´etrica ainda ser´a bem definida de forma que −∞ < u < ∞ e −∞ < v < ∞ cobrir˜ao inteiramente o espa¸co-tempo de Schwarzschild.

A rela¸c˜ao entre as coordenadas do cone de luz de Kruskal u, v e as coordenadas originais t, r pode ser obtida a partir de (2.20) se levarmos em conta (2.19) e (2.18):

uv = −4r2g exp  r∗ rg  = −4r2g  r rg − 1  exp r rg − 1  . v u 2 = exp 2t rg  .

O horizonte de eventos corresponde a r = rg que corresponde a u = 0 e v = 0. Introduzindo coordenadas

tipo tempo e tipo espa¸co T e R que satisfazem:

u = T − R, v = T + R, (2.21)

podemos, ent˜ao, desenhar no plano (T, R) o diagrama de Kruskal para o espa¸co-tempo de Schwarzschild. Geod´esicas nulas (u = cte e v = cte) v˜ao corresponder `as retas T − R = cte e T + R = cte. Multiplicando as duas equa¸c˜oes de (2.21), obtemos a hip´erbole: uv = T2− R2. Para r > r

g, temos uv < 0 e as linhas

r = cte s˜ao tipo tempo, representando a regi˜ao I do diagrama. Para r < rg, uv > 0 e as linhas r = cte s˜ao

tipo espa¸co, representando a regi˜ao II do diagrama. As curvas de u = 0 e v = 0 representam a fronteira entre o interior e o exterior do buraco negro, definida pelo horizonte de eventos. Portanto, claramente, a regi˜ao I ´e a parte externa e a regi˜ao II ´e a parte interna. Qualquer pulso de luz emitido por um observador da regi˜ao II n˜ao ´e capaz de passar do horizonte de eventos. Portanto, ao tentar cruzar o horizonte de eventos, nem mesmo a luz ´e capaz de escapar da atra¸c˜ao gravitacional do buraco negro.

(31)

Cap´ıtulo 3

Teoria Cl´

assica de Campos

Ser´a extremamente importante entendermos um pouco de Teoria Cl´assica de Campos para que possamos, no final desse cap´ıtulo, escrever a a¸c˜ao descrevendo um campo escalar cl´assico. A partir dessa a¸c˜ao, seremos capazes de chegar nas equa¸c˜oes de Hamilton que tamb´em ser˜ao importantes no pr´oximo cap´ıtulo para a quantiza¸c˜ao do campo escalar.

3.1

Defini¸

ao informal de campo

Mas o que seria um campo, informalmente falando? Definiremos que campo ´e um tipo de “m´aquina” que “engole” a posi¸c˜ao definida no espa¸co-tempo e “cospe” um objeto representando a amplitude de algo nesse ponto no espa¸co-tempo. A amplitude pode ser um escalar, um vetor, um n´umero complexo, um spinor ou um tensor. No caso que analisaremos (campo escalar), teremos obviamente a amplitude como sendo um escalar.

3.2

Dinˆ

amica hamiltoniana

Precisamos entender como a teoria cl´assica de campos se comporta no espa¸co-tempo plano. Vamos a princ´ıpio derivar as equa¸c˜oes de movimento para uma part´ıcula 1-D com coordenadas generalizadas q(t) usando o princ´ıpio da m´ınima a¸c˜ao:

S = Z

L(q, ˙q)dt.

L(q, ˙q) ´e a lagrangiana que tipicamente, para sistemas conversativos, tem a forma:

L = K − V,

onde K ´e a energia cin´etica e V o potencial.

Seguindo o c´alculo variacional de livros avan¸cados de mecˆanica cl´assica [8], temos que os pontos cr´ı-ticos da a¸c˜ao s˜ao aqueles que satisfazem a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange:

∂L ∂q − d dt  ∂L ∂ ˙q  = 0. (3.1) 22

(32)

Entretanto, n´os iremos dar uma ˆenfase maior `a dinˆamica Hamiltoniana. As equa¸c˜oes de Lagrange para um sistema com n graus de liberdade constituem um conjunto de n equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias de segunda ordem no tempo para coordenadas generalizadas q1(t), q2(t), ..., qn(t).

Na formula¸c˜ao introduzida por Hamilton, o quadro ´e diferente. As equa¸c˜oes de movimento s˜ao 2n equa¸c˜oes que est˜ao relacionadas com as quantidades: q1, ..., qn e p1, ..., pn, onde pi´e o momento canˆonico

conjugado a qi definido por:

pi=

∂L ∂ ˙qi

, i = 1, ..., n. (3.2)

Assim, a descri¸c˜ao hamiltoniana envolve a substitui¸c˜ao de vari´aveis (q, ˙q) por (q, p) em todas as grandezas mecˆanicas, e a introdu¸c˜ao de uma fun¸c˜ao H(q, p, t) em lugar da Lagrangiana. A mudan¸ca de descri¸c˜ao ´e feita por meio de uma transformada de Legendre, consistindo na substitui¸c˜ao de velocidades generalizadas por momentos canˆonicos e na introdu¸c˜ao da fun¸c˜ao de Hamilton, definida por:

H(q, p, t) = n X i=1 ˙ qipi− L(q, ˙q, t) (3.3)

Tomando o diferencial da equa¸c˜ao (3.3), obtemos:

dH = n X i=1 ( ˙qidpi+ pid ˙qi) − n X i=1  ∂L ∂qi dqi+ ∂L ∂ ˙qi d ˙qi  +∂L ∂tdt. (3.4)

Mas pela defini¸c˜ao (3.2) e pela defini¸c˜ao (3.1) para o momento canˆonico conjugado, a equa¸c˜ao (3.4) fica:

dH = n X i=1 ( ˙qidpi− ˙pidqi) − ∂L ∂tdt. (3.5)

Mas, tamb´em:

dH = n X i=1  ∂H ∂qi dqi+ ∂H ∂pi dpi  +∂H ∂t dt. (3.6)

Portanto, comparando a eq. (3.5) com a eq. (3.6), chegamos que:

˙ qi= ∂H ∂pi , p˙i= − ∂H ∂qi , i = 1, ..., n. (3.7)

As duas equa¸c˜oes de (3.7) s˜ao as equa¸c˜oes de Hamilton.

3.3

Campos cl´

assicos

A teoria de campos ´e formulada de modo parecido com o que vimos at´e aqui, por´em tomamos o limite em que o n´umero de graus de liberdade n −→ ∞ e o ´ındice discreto i torna-se cont´ınuo (x). A a¸c˜ao S ´e um funcional desses campos. Numa teoria de campos, a lagrangiana pode ser expressa como uma integral no volume de uma uma densidade de lagrange L que ´e fun¸c˜ao do campo φi e de sua derivada ∂µφ

L = Z L(φ, ∂µφ)d3x. S = Z L(φ, ∂µφ)d4x.

(33)

A densidade de Lagrange ´e um escalar de Lorentz. Vamos nos referir `a densidade de Lagrange como sendo apenas a lagrangiana.

As equa¸c˜oes de Euler-Lagrange vˆem de requerer que a a¸c˜ao deve ser imut´avel sob pequenas varia¸c˜oes dos campos.

φ −→ φ + δφ.

∂µφ −→ ∂µφ + δ(∂µφ).

δφi´e pequeno, podemos expandir ent˜ao a lagrangiana em uma s´erie de Taylor sobre a varia¸ao:

L(φ, ∂µφ) −→ L(φ + δφ, ∂µφ + ∂µδφ) = L(φ, ∂µφ) + ∂L ∂φδφ + ∂L ∂(∂µφ) ∂µ(δφ).

A varia¸c˜ao da a¸c˜ao ent˜ao toma a seguinte forma:

δS = Z d4x ∂L ∂φδφ + ∂L ∂(∂µφ) ∂µ(δφ)  .

Depois de algumas manipula¸c˜oes a partir da regra da integra¸c˜ao por partes, chegamos na seguinte rela¸c˜ao de Euler-Lagrange para os campos:

∂L ∂φ − ∂µ  L ∂(∂µφ)  = 0.

Essa ´e a equa¸c˜ao de Euler Lagrange para campos no espa¸co-tempo plano. O exemplo mais simples ´e de um campo escalar φ(xµ).

Consideremos agora um campo escalar cl´assico que possui:

• Energia cin´etica: 1 2φ˙ 2, onde ˙φ = ∂φ ∂t • Energia gradiente: -1 2(∇φ) 2. • Energia potencial: V (φ).

Portanto, a lagrangiana pode tomar a seguinte forma:

L = −1 2η µν(∂ µφ)(∂νφ) − V (φ). Portanto: ∂L ∂φ = − dV dφ. ∂L ∂(∂µφ) = −ηµν∂νφ.

Logo, a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange fica:

φ −dV = 0, onde  = ηµν µ∂ν ´e o d’alambertiano. A equa¸c˜ao ´e equivalente `a: ¨ φ − ∇2φ +dV dφ = 0.

(34)

Uma escolha plaus´ıvel para o potencial ´e um do tipo quadr´atico em que m tem a interpreta¸c˜ao de massa do campo: V (φ) =m22φ2. Portanto, nesse caso, temos que:

φ − m2φ = 0, que ´e a equa¸c˜ao de Klein-Gordon.

O momento conjugado para um campo ´e: π = ∂(∂∂L

tφ) =

∂L

∂(∂ ˙φ) = ˙φ. Para a equa¸c˜ao de Klein-Gordon:

π = ˙φ. O hamiltoniano pode ser expresso por H = R d3xH ,onde a densidade hamiltoniana H est´a

relaionada com a lagrangiana pela transformada de Legendre:

H = π ˙φ − L(φ, ∂µφ) = π2 2 + (∇φ)2 2 + m2φ2 2 ,

onde a equa¸c˜ao acima representa a densidade de energia total do sistema.

3.4

Generaliza¸

ao da a¸

ao para espa¸

co-tempo curvo

Nosso objetivo principal ´e analisar um fenˆomeno onde existe a propaga¸c˜ao de um campo quˆantico escalar num campo gravitacional de um buraco negro, portanto, precisamos generalizar a a¸c˜ao de espa¸co-tempo plano para espa¸co-tempo curvo.

Lembrando que a densidade de Lagrange para um campo escalar real φ(x) em espa¸co-tempo plano ´e:

L = 1 2η

µν(∂

µφ)(∂νφ) − V (φ), (3.8)

onde ηµν = diag(1, −1, −1, −1) ´e a m´etrica de Minkowski e V (φ) ´e o potencial que descreve a

auto-intera¸c˜ao do campo. Para um campo n˜ao interagente de massa m, o potencial ´e:

V (φ) = 1 2m

2φ2.

Para generalizar a densidade lagrangiana (3.8) para espa¸co-tempo curvo, com m´etrica arbitr´aria gµν,

temos que:

(i) Substituir a m´etrica de Minkowski pela m´etrica geral gµν.

(ii) Substituir as derivadas ordin´arias pelas derivadas covariantes. (iii) Usar o elemento de volume d4x−g, onde g = det(g

µν).

Portanto, teremos a a¸c˜ao de um espa¸co-tempo curvo representada por:

S = Z d4x√−g  1 2g µν µφ∇νφ − V (φ)  .

A justificativa para (iii) pode se basear no seguinte argumento:

Considere um plano euclidiano bidimensional com coordenadas x0 e y0 cuja m´etrica tem componentes gij(x0) nesse sistema de coordenadas, onde i, j = 1, 2 e essas componentes diferem da m´etrica euclidiana

(35)

elemento de ´area infinitesimal do paralelogramo definido a partir dos vetores ~l1= (dx0, 0) e ~l2= (0, dy0). O tamanho do vetor l1´e: |~l1| = q gijI1iI j 1 = √ g11dx0. Analogamente, |~l2| = √

g22dy0. O produto escalar dos dois vetores que definem o paralelogramo ´e:

~

l1· ~l2= gijI1iI j

2 = g12dx0dy0. (3.9)

Tamb´em podemos representar o produto escalar da seguinte forma:

~l1· ~l2= |~l1| |~l2| cos θ. (3.10)

Comparando (3.9) com (3.10), chegamos na seguinte express˜ao:

cos θ = √g12 g11g22

.

Pela rela¸c˜ao trigonom´etrica cos2θ + sen2θ = 1 determinamos o valor de sen θ. Calculamos a ´area

infinitesimal dA do paralelogramo como:

dA = |~l1| |~l2| sen θ =

p

g11(g12)2dx0dy0=pdet gijdx0dy0.

Em n dimens˜oes, teremos a generaliza¸c˜ao: dV = dnxp|g(x)|. No espa¸co-tempo quadridimensional, com

a m´etrica com assinatura (+, −, −, −), o determinante g ´e negativo, logo, o elemento de volume ser´a dado por: d4x−g.

Vamos, por fim, dar um exemplo que representa a a¸c˜ao para o campo gravitacional, a a¸c˜ao de Einstein-Hilbert :

Sgrav= − 1 16π

Z

d4x√−g (R + 2Λ),

onde R ´e o escalar de Ricci e Λ ´e a constante cosmol´ogica. As equa¸c˜oes de campo de Einstein s˜ao obtidas extremizando a a¸c˜ao com respeito `a gαβ. Fazendo isso, chegamos que:

δSgrav δgαβ = − √ −g 16π  Rαβ− 1 2gαβR  = 0,

(36)

Cap´ıtulo 4

Teoria Quˆ

antica de Campos

Como queremos estudar a propaga¸c˜ao de campos quˆanticos escalares em um campo gravitacional cl´assico de um buraco negro, precisamos entender como podemos quantizar um campo escalar. Usaremos [9] e [10] como textos-base para esse cap´ıtulo. A ideia central ´e que, para quantizar um campo cl´assico, devemos trat´a-lo como um conjunto infinito de osciladores harmˆonicos. Sendo assim, entender como quantizamos um oscilador harmˆonico ser´a essencial para quantizarmos o campo escalar.

4.1

Quantiza¸

ao canˆ

onica de um campo escalar

4.1.1

Oscilador harmˆ

onico simples

Um oscilador harmˆonico simples tem lagrangiana definida por:

L(t, q, ˙q) = 1 2q˙

21

2w

2q2(massa m = 1).

O hamiltoniano de um oscilador harmˆonico simples ´e dado por:

H(p, q) = 1 2p˙

2+1

2w

2q2(massa m = 1).

As equa¸c˜oes de Hamilton s˜ao:

˙

q = p, p = −w˙ 2q. (4.1)

Na teoria quˆantica, q(t) e p(t) s˜ao quantizados, formando os operadores ˆq(t) e ˆp(t) satisfazendo a rela¸c˜ao de comuta¸c˜ao: [ˆq, ˆp] = i. A partir das equa¸c˜oes de Hamilton, obtemos:

dˆq dt = ˆp,

dˆp dt = −w

2q.ˆ

Vamos introduzir dois operadores hermitianos:

ˆ a−=r w 2  ˆ q(t) + i ωp(t)ˆ  , aˆ+=r w 2  ˆ q(t) − i ωp(t)ˆ  .

Esses s˜ao os operadores de aniquila¸c˜ao e de cria¸c˜ao respectivamente, satisfazendo a rela¸c˜ao de comuta¸c˜ao:

[ˆa−, ˆa+] = 1. 27

(37)

Isolando os operadores ˆp e ˆq, temos: ˆ q = √1 2ω(ˆa −+ ˆa+), p =ˆ √ ω i√2(ˆa −− ˆa+). (4.2)

As equa¸c˜oes de movimento ser˜ao dadas usando a rela¸c˜ao (4.1) e substituindo em (4.2), obtendo ent˜ao: d dtˆa −= −iωˆa. d dtˆa += +iωˆa+.

4.1.2

Osciladores harmˆ

onicos quˆ

anticos

Um campo livre pode ser tratado como um conjunto infinito de osciladores harmˆonicos. Portanto, n´os quantizamos o campo escalar generalizando o m´etodo usado para descrever um conjunto finito de oscila-dores.

A a¸c˜ao mais geral descrevendo N osciladores harmˆonicos com coordenadas generalizadas q1, ..., qN

S[qi] = 1 2 Z   N X i=1 ˙ qi− N X i,j=1 Mijqiqj   dt,

onde a matriz Mij ´e sim´etrica. Escolhendo um conjunto normal de coordenadas:

qα0 =

N

X

i=1

Cαiqi,

a matriz Mij pode ser diagonalizada, Mij −→ Mαβ= δαβωα2de tal forma que os osciladores “desacoplam”

um do outro. Nessas novas coordenadas, a a¸c˜ao toma a forma:

S[qα0] = 1 2 Z N X α=1 ( ˙qα− ωα2qα2) dt,

onde retiramos o s´ımbolo ’ de q para simplificar a nota¸c˜ao.

Os modos qα s˜ao quantizados introduzindo os operadores ˆqα(t) e ˆpα(t) que satisfazem as rela¸c˜oes de

comuta¸c˜ao postuladas para um tempo t fixo:

[ˆqα, ˆpβ] = iδαβ, [ˆqα, ˆqβ] = [ˆpα, ˆpβ] = 0.

Vamos definir os operadores de cria¸c˜ao e aniquila¸c˜ao como sendo:

ˆ a±α(t) =r ωα 2  ˆ qα(t) ∓ i ωα ˆ pα(t)  .

Usando a mesma ideia do oscilador harmˆonico simples, obtemos as equa¸c˜oes de movimento: d

dtˆa

±

α(t) = ±iωαˆa±α(t).

Portanto, a solu¸c˜ao geral para essas equa¸c˜oes ser´a:

ˆ

a±(t) = ˆa±α(0) e±iωαt,

onde ˆa±α(0) s˜ao operadores/constantes de integra¸c˜ao que satisfazem a rela¸c˜ao de comuta¸c˜ao: [ˆa−α, ˆa+β] = δαβ.

(38)

Abaixo, iremos usar operadores de cria¸c˜ao e aniquila¸c˜ao que n˜ao dependem do tempo (ˆa±α(0)) e n˜ao vamos colocar explicitamente o tempo t = 0, ficando apenas ˆa±α na nova nota¸c˜ao. O espa¸co de Hilbert para um sistema de osciladores harmˆonicos ´e constru´ıdo com a ajuda dos operadores ˆa±α. Particularmente, o estado de v´acuo, denotado por: |0, ..., 0i, ´e o autovetor de todos os operadores de aniquila¸c˜ao ˆa−α com autovalor 0:

ˆ

a−α|0, ..., 0i = 0, α = 1, ..., N.

O estado |n1, n2, ..., nNi com n´umero de ocupa¸c˜ao nα para cada oscilador qα´e definido por:

|n1, ..., nNi = N Y α=1 (ˆaα)nα √ nα! |0, 0, ..., 0i.

4.1.3

Limite do cont´ınuo

Entretanto, estamos interessados no limite do cont´ınuo, que estar´a relacionado com um campo cl´assico. Um campo cl´assico ´e descrito por uma fun¸c˜ao φ(x, t). Podemos interpretar um campo como um conjunto infinito de osciladores qi(t) ⇐⇒ φx(t). Usando essa analogia, tratamos o campo escalar φ(x, t) como uma

cole¸c˜ao infinita de osciladores harmˆonicos. Substitu´ımos as somas sobre ´ındices discretos i por integrais sobre o ´ındice cont´ınuo x, portanto, a a¸c˜ao para o campo escalar deve ser:

S[φ] = 1 2 Z dt Z d3x ˙φ2(x, t) − Z d3x d3y φ(x, t) φ(y, t) M (x, y)  (4.3)

A a¸c˜ao acima deve ser invariante com respeito `as transforma¸c˜oes de Lorentz e transla¸c˜oes espa¸co-temporais (grupo de Poincar´e). A a¸c˜ao mais simples que satisfaz essa invariˆancia para um campo escalar real ´e obtida para o caso em que:

M (x, y) = [−∆x+ m2]δ(x − y),

onde ∆x´e o laplaciano em rela¸c˜ao `a coordenada x. Assim a a¸c˜ao toma a forma:

S[φ] = 1 2

Z

d4x [ ηµν(∂µφ)(∂νφ) − m2φ2],

que tamb´em pode ser representada da forma:

S[φ] = 1 2 Z

d3x dt [ ˙φ2− (∇φ)2− m2φ], (4.4)

onde estamos usando a m´etrica: ηµν = diag (1, −1, −1, −1). Sabemos que a derivada de um funcional ´e

dada por: δS δφ = ∂L ∂φ− ∂ ∂t  ∂L ∂ ˙φ  − ∇ ·  ∂L ∂(∇φ)  .

Obtemos a equa¸c˜ao de movimento: δS δφ(x, t) = ¨φ

2(x, t) − ∆φ(x, t) + m2φ(x, t). (4.5)

Pela equa¸c˜ao (4.5), observamos que os osciladores φ(x, t) est˜ao acoplados, pois o laplaciano cont´em derivadas de segunda ordem de φ com respeito `a posi¸c˜ao.

Para desacoplarmos os osciladores, iremos usar a transformada de Fourier:

φ(x, t) =

Z d3k

(2π)3/2 e ik·xφ

(39)

Substituindo a transformada de Fourier de (4.6) em (4.5), obtemos:

d2

dt2 φk(t) + (k

2+ m2) φ

k(t) = 0,

onde k ´e o m´odulo de seu valor. Em termos de φk(t), (4.4) toma a forma:

S = 1 2

Z

dt d3k( ˙φkφ˙−k− ω2kφkφ−k),

onde φ−k = φ∗k e ωk2= k2+ m2.

Agora iremos quantizar um campo escalar em espa¸co-tempo plano. Primeiro iremos reformular a teoria cl´assica de campos no formalismo Hamiltoniano. A partir da a¸c˜ao em (4.4), temos que:

L = 1 2η µν(∂ µφ)(∂νφ) − 1 2m 2φ2.

O momento canˆonico ´e definido como a derivada funcional da lagrangiana com respeito `a velocidade generalizada ∂φ∂t. Portanto:

π(x, t) = δL

δ ˙φ(x, t)= ˙φ(x, t). Como vimos anteriormente, para um campo escalar:

H = π ˙φ − L(φ, ∂µφ) = π2 2 + (∇φ)2 2 + m2φ2 2 , logo : H = Z d3x  π 2 2 + (∇φ)2 2 + m2φ2 2  . (4.7)

Portanto as equa¸c˜oes de movimento de Hamilton ser˜ao: ∂φ(x, t) ∂t = δH δπ(x, t) = π(x, t). ∂π(x, t) ∂t = − δH δφ(x, t) = ∆φ(x, t) − m 2φ(x, t).

Para quantizarmos o campo escalar, iremos introduzir os operadores ˆφ(x, t) e ˆπ(x, t) e postularemos as seguintes rela¸c˜oes de comuta¸c˜ao:

[ ˆφ(x, t), ˆπ(y, t)] = i δ(x − y). (4.8)

[ˆπ(x, t), ˆπ(y, t)] = [ ˆφ(x, t), ˆφ(y, t)] = 0.

Usando a transformada de Fourier:

ˆ φ(x, t) = Z d3k (2π)3/2 e ik·xφˆ k(t). (4.9) ˆ π(y, t) = Z d3k0 (2π)3/2 e ik·yπˆ k0(t).

Substituindo as transformadas de Fourier nas rela¸c˜oes de comuta¸c˜ao acima, obtemos:

[ ˆφk(t), ˆπk0(t)] = i δ(k + k0).

Vamos introduzir os operadores de cria¸c˜ao e de aniquila¸c˜ao:

ˆ a−k(t) =r ωk 2  ˆ φk+ iˆπk ωk  , (4.10)

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