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PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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Academic year: 2021

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ORIGEM: PRT da 3ª Região

ÓRGÃO OFICIANTE: Dr. Marcelo dos Santos Amaral INTERESSADO 01: 1ª Vara do Trabalho de Formiga INTERESSADO 02: Adição Distribuição Express LTDA

REVISTA ÍNTIMA. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE, INTIMIDADE, DA IMAGEM E DA HONRA DA PESSOA TRABALHADORA, AINDA QUE PROCEDIDA DE FORMA RESERVADA E MERAMENTE VISUAL. A reforma da decisão primária, proferida pela 1ª Vara do Trabalho de Formiga, que redundou na instauração do presente procedimento investigatório, por si só, não constitui fundamento válido para o encerramento da investigação. Dessa forma, o provimento parcial dado ao recurso ordinário, interposto pela empresa investigada em reclamação individual, não tem o condão de afastar os indícios de que o procedimento adotado na proteção do patrimônio empresarial implica na violação dos princípios constitucionais protetores da intimidade, da dignidade, da vida privada, da honra e da imagem da pessoa trabalhadora. Registro, também, que, se o Judiciário Trabalhista ainda não sedimentou entendimento uniforme acerca da matéria, nós do Ministério Público do Trabalho já fechamos questão sobre o tema, através da Orientação 2, da Coordigualdade, verbete que peço vênia para transcrever, verbis:“2 – Revista íntima. Limites. Não serão admitidas revistas íntimas dos empregados, assim compreendidas aquelas que importem contato físico e/ou exposição visual de partes do corpo ou objetos pessoais.” (Aprovada na III Reunião Nacional da Coordigualdade, dias 26 e 27/04/04)”. Destarte, a revista íntima viola os princípios constitucionais em apreço, ainda que procedida de forma reservada e contato meramente visual em relação ao pertences do empregado. Arquivamento que não se homologa.

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I – RELATÓRIO

Trata-se de Inquérito Civil instaurado a partir da remessa de sentença proferida pela 1ª Vara do Trabalho de Formiga, noticiando a prática de revista íntima, atentatória do princípio da dignidade da pessoa trabalhadora, pela empresa investigada.

O órgão oficiante promoveu o arquivamento do feito, com base no Precedente nº 12 do CSMPT, convencido da licitude da prática adotada pela empresa, haja vista que a decisão judicial de primeiro grau que ensejou a instauração do presente inquérito civil foi reformada pelo TRT da 3ª Região (fls. 165/166).

É o breve relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

Com a vênia devida ao órgão de origem, entendo que a revista íntima de bolsas, ainda que procedida de forma visual e sem contato físico, corporal ou com os pertences do empregado, viola a intimidade da pessoa trabalhadora, devendo ser objeto de atuação rigorosa do Ministério Público do Trabalho. Existem diversos outros remédios de segurança privada patrimonial até mais eficazes, como a utilização de câmeras de vídeo, sensores e diversos aparatos tecnológicos, que podem resguardar o patrimônio empresarial, sem agredir os direitos da personalidade dos trabalhadores.

Ademais, penso que a reforma da decisão primária, proferida pela 1ª Vara do Trabalho de Formiga, que redundou na

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instauração do presente procedimento investigatório, por si só, não constitui fundamento válido para o encerramento da investigação. Dessa forma, o provimento parcial dado ao recurso ordinário, interposto pela empresa investigada em reclamação individual, não tem o condão de afastar os indícios de que o procedimento adotado na proteção do patrimônio empresarial implica na violação dos princípios constitucionais protetores da intimidade, da dignidade, da vida privada, da honra e da imagem da pessoa trabalhadora.

Ressalto, ainda, que a decisão proferida na referida ação individual não vincula o Ministério Público na sua atividade precípua de tutelar os interesses transindividuais emergentes da agressão aos princípios suso mencionados.

Observo, também, que embora se verifique uma tendência da jurisprudência de algumas Turmas do TST, no sentido de considerar que a mera revista visual nos pertences dos empregados não configura, por si só, ofensa à sua moral e intimidade, constituindo, em verdade, exercício regular do direito de direção e fiscalização do empregador, a matéria está longe de ser pacificada, conforme as decisões precedentes exaradas recentemente pela 3ª, 6ª e 7ª Turmas da Corte Superior, a seguir colacionadas, verbis:

“INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REVISTA ÍNTIMA. A revista pessoal - íntima ou não -, viola a dignidade da pessoa humana e a intimidade do trabalhador, direitos fundamentais de primeira geração que, numa ponderação de valores, têm maior intensidade sobre os direitos de propriedade e de autonomia da vontade

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empresarial. Além disso, é evidente a opção

axiológica adotada pelo constituinte de 1988 da primazia do SER sobre o TER; da pessoa sobre o patrimônio; do homem sobre a coisa. No caso, o Tribunal Regional registrou que a desconformidade do ato da reclamada com a ordem jurídica violou direito individual e causou dano ao reclamante. Configurado, portanto, o direito à indenização por dano moral, decorrente da realização de revista íntima. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TST-RR-214700-21.2009.5.09.0029, Relator Ministro Cláudio Brandão).

“RECURSO DE REVISTA. 1. REVISTA (AINDA QUE MODERADA) DE BOLSAS E SACOLAS. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. 1.1. “Não se olvida que o poder empregatício engloba o poder fiscalizatório (ou poder de controle), entendido este como o conjunto de prerrogativas dirigidas a propiciar o acompanhamento contínuo da prestação de trabalho e a própria vigilância efetivada ao longo do espaço empresarial interno. Medidas como o controle de portaria, as revistas, o circuito interno de televisão, o controle de horário e frequência e outras providências correlatas são manifestações do poder de controle. Por outro lado, tal poder empresarial não é dotado de caráter absoluto, na medida em que há em nosso ordenamento jurídico uma série de princípios limitadores da atuação do controle empregatício. Nesse sentido, é inquestionável que a Carta Magna de 1988 rejeitou condutas fiscalizatórias que agridam a liberdade e dignidade básicas da pessoa física do trabalhador, que se chocam, frontalmente, com os princípios constitucionais tendentes a assegurar um Estado Democrático de Direito e outras regras impositivas inseridas na Constituição, tais como a da ‘inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade’ (art. 5º,

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caput), a de que ‘ninguém será submetido (...) a

tratamento desumano e degradante’ (art. 5º, III) e a regra geral que declara ‘invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem da pessoa, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação’ (art. 5º, X). Todas essas regras criam uma fronteira inegável ao exercício das funções fiscalizatórias no contexto empregatício, colocando na franca ilegalidade medidas que venham cercear a liberdade e dignidade do trabalhador. Há, mesmo na lei, proibição de revistas íntimas a trabalhadoras - regra que, evidentemente, no que for equânime, também se estende aos empregados, por força do art. 5°, ‘caput’ e I, CF/88 (Art. 373-A, VII, CLT). Nesse contexto, e sob uma interpretação sistemática dos preceitos legais e constitucionais aplicáveis à hipótese, entende-se que a revista diária em bolsas e sacolas, por se tratar de exposição contínua do empregado a situação constrangedora no ambiente de trabalho, que limita sua liberdade e agride sua imagem, caracterizaria, por si só, a extrapolação daqueles limites impostos ao poder fiscalizatório empresarial, mormente quando o empregador possui outras formas de, no caso concreto, proteger seu patrimônio contra possíveis violações. Nesse sentido, as empresas, como a reclamada, têm plenas condições de utilizar outros instrumentos eficazes de controle de seus produtos, como câmeras de filmagens e etiquetas magnéticas. Tais procedimentos inibem e evitam a violação do patrimônio da empresa e, ao mesmo tempo, preservam a honra e a imagem do trabalhador” (Ministro Mauricio Godinho Delgado). 1.2. A jurisprudência da Eg. 3ª Turma evoluiu para compreender que a revista dita moderada em bolsas e sacolas de trabalhadores, no início ou ao final da jornada de trabalho, mesmo que sem contato físico ou manipulação de pertences, provoca dano moral e

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autoriza a condenação à indenização correspondente.

Ressalva de ponto de vista do Relator. Recurso de revista conhecido e provido.” (TST-RR-61000-41.2013.5.13.0007, Relator Ministro Maurício Godinho Delgado)

“INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REVISTA ÍNTIMA. A revista pessoal - íntima ou não -, viola a dignidade da pessoa humana e a intimidade do trabalhador, direitos fundamentais de primeira geração que, numa ponderação de valores, têm maior intensidade sobre os direitos de propriedade e de autonomia da vontade empresarial. Além disso, é evidente a opção axiológica adotada pelo constituinte de 1988 da primazia do SER sobre o TER; da pessoa sobre o patrimônio; do homem sobre a coisa. No caso, o Tribunal Regional registrou que a desconformidade do ato da reclamada com a ordem jurídica violou direito individual e causou dano ao reclamante. Configurado, portanto, o direito à indenização por dano moral, decorrente da realização de revista íntima. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TST-AIRR-1455-09.2010.5.03.0012, Relator Ministro Cláudio Brandão).

Ainda que se aceitasse o entendimento sufragado na decisão proferida pelo TRT da 3ª Região sobre o caso concreto (ação individual) que ensejou a instauração do presente inquérito civil, o encerramento da investigação é descabido, porquanto não houve o esgotamento das diligências investigatórias para apurar-se, em dimensão coletiva, se a realização das revistas íntimas no âmbito da investigada não extrapola os limites do “razoável”, considerados pela ala da Magistratura menos rigorosa na proteção da intimidade alheia. Nesse sentido, até mesmo as Turmas mais refratárias à atuação

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do MPT nessa matéria têm como ilícitos todos os procedimentos empresariais que exponham vexatoriamente os trabalhadores com a referida revista de seus pertences, ainda que meramente visual e em recinto reservado.

In casu, embora o Ilustre Órgão oficiante tenha

obtido dados dos empregados da investigada para fins de produção de prova testemunhal, apenas um trabalhador listado na relação de fls. 105/110 foi ouvido. Não se realizou a oitiva de outros empregados, ou mesmo efetuaram-se novas diligências investigatórias.

Desse modo, os elementos carreados aos autos são insuficientes para delinear-se a realidade fática, no que concerne à proteção da intimidade, da dignidade, da honra e da imagem dos trabalhadores potencialmente atingidos pela conduta da empresa.

Registro que, se o Judiciário Trabalhista ainda não sedimentou entendimento uniforme acerca da matéria, nós do Ministério Público do Trabalho já fechamos questão sobre o tema, através da Orientação 2, da Coordigualdade, verbete que peço vênia para transcrever, verbis:

“2 – Revista íntima. Limites. Não serão admitidas revistas íntimas dos empregados, assim compreendidas aquelas que importem contato físico e/ou exposição visual de partes do corpo ou objetos pessoais.” (Aprovada na III Reunião Nacional da Coordigualdade, dias 26 e 27/04/04).

Seguindo essa linha de intelecção, entendo que a aceitação pura e simples de algumas decisões judiciais esparsas

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e contrárias ao entendimento prevalente dentro do MPT acerca da realização de revistas íntimas não é o melhor caminho institucional. Ao contrário, avalio que devemos cerrar fileiras ao lado daqueles Juízes, Desembargadores e Ministros, magistrados da Justiça do Trabalho, para que possamos ter voz ativa nessa batalha entre as correntes que pregam a supremacia dos direitos da personalidade sobre os direitos patrimoniais e vice-versa.

Desse modo, rejeito o fundamento esposado pelo órgão de origem para o arquivamento do inquérito, a par de considerar precoce o encerramento da investigação, na medida em que não existem nos autos elementos mínimos de convicção que possam atestar a presença ou não da lesão de cunho transindividual, como dito em linhas transatas.

Logo, com reiterada vênia ao membro oficiante, entendo que a investigação ministerial deve prosseguir, com fulcro no inciso II, do § 4º, do art. 10, da Resolução nº 69, de 12 de Dezembro de 2007.

III – CONCLUSÃO

À vista do exposto, voto pela não homologação do arquivamento, devolvendo-se os autos à origem para as providências cabíveis, nos termos da fundamentação.

Brasília, em 19 de agosto de 2014.

Fábio Leal Cardoso

Procurador Regional do Trabalho Membro da CCR - Relator

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