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A supressão do crime de infanticídio no Código Penal Brasileiro.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

JEFFERSON PEREIRA DUTRA

A SUPRESSÃO DO CRIME DE INFANTICÍDIO NO CÓDIGO PENAL

BRASILEIRO

SOUSA - PB

2006

(2)

A SUPRESSÃO DO CRIME DE INFANTICÍDIO NO CÓDIGO PENAL

BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Professora Drª. Jônica Marques Coura Aragão.

SOUSA - PB

2006

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A S U P R E S S A O D O C R I M E DE I N F A N T I C I D I O N O C O D I G O P E N A L B R A S I L E I R O

B A N C A E X A M I N A D O R A

Prof3. Ms. Jonica M a r q u e s Coura A r a g a o (orientador)

Prof.

Prof.

S O U S A - P B J U N H O - 2 0 0 6

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A nosso D e u s , O n i p o t e n t e e O n i p r e s e n t e ;

A m i n h a f a m i l a . E m especial a m i n h a m a e , S r3 Inacia Pereira de A r a u j o ; m e u pai,

Sr. J o s e Dutra de Oliveira; m e u s irmaos J o s e Dutra de Oliveira Junior e liana Jozi Pereira Dutra e a minha d i g n i s s i m a avo, Francisca Leopoldina d a C o s t a , pela c o m p r e e n s a o , c o l a b o r a c a o e por t u d o aquilo de que nos p r i v a m o s d u r a n t e t o d a esta Jornada;

A o s p r o f e s s o r e s que dividiram c o m i g o seus c o n h e c i m e n t o s ;

A o s m e u s a m i g o s fieis e unicos: Paulo G e r m a n o M a h o n Barros, L e o n a r d o Freitas de A l m e i d a , J o s e Laurindo da Silva S e g u n d o , L e o n a r d o Davi Silva de C a r v a l h o e

L e o n a r d o Bruno M e d e i r o s C u n h a ;

E f i n a l m e n t e a H a n n a Carolina, pelo carinho, apoio e c o m p r e e n s a o nos m o m e n t o s dificeis n e s s a e t a p a final do m e u curso.

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O v i n c u l o q u e une m a e e filho e r e a l m e n t e d o s m a i s significativos e v e r d a d e i r o s ja r e v e l a d o s na h u m a n i d a d e . P o r e m , n e m s e m p r e e s s e v i n c u l o e suficiente para evitar q u e , n a o raro, verificam-se c a s o s d e m a e s q u e , logo a p o s o parto, m a t a m o seu proprio filho. A p e s a r da r e p u g n a n c i a que c a u s a este tipo de c o n d u t a , o c r i m e de infanticidio foi previsto pelo legislador c o m o u m a f o r m a , especial e a u t o n o m a , de h o m i c i d i o privilegiado, o q u e autoriza a a t e n u a c a o d a punigao. O p r e s e n t e trabalho tern por objetivo geral analisar os e l e m e n t o s tibios da figura tipica, b u s c a n d o suporte juridico-legal para a s u p r e s s a o do c r i m e de Infanticidio do C o d i g o Penal Brasileiro. C o m o objetivos e s p e c i f i c o s , a p o n t a m - s e , r e s p e c t i v a m e n t e , levantar informagoes de carater historico sobre o crime de infanticidio; c o n h e c e r as diversas previsoes a respeito do crime de infanticidio na legislagao penal a l i e n i g e n a ; investigar as i n c o n g r u e n c i a s legais impostas a aplicagao d o tipo penal d e infanticidio. Para tanto, s e r a o utilizados, c o m o apropriados m e t o d o s de pesquisa bibliografica, o historico-evolutivo, o c o m p a r a t i v o e o exegetico j u r i d i c o . A l m e j a - s e c o m e s s e trabalho de c o n c l u s a o de curso, alcangando os objetivos a p r e s e n t a d o s , a solugao do seguinte p r o b l e m a , c o m a confirmagao da hipotese correlata: Ha s e g u r a n g a j u r i d i c a na f o r m a de previsao e aplicagao do dispositivo penal que define o crime d e infanticidio no C o d i g o Penal brasileiro? Nao, p o r q u e inexiste orientagao m e d i c o - l e g a l segura q u a n t o a manifestagao e duragao do e s t a d o puerperal; b e m a s s i m , p o r q u e nos c a s o s e m q u e o crime for praticado e m c o n c u r s o de p e s s o a s , g r a v e inconveniente legal surgira, atribuindo t a m b e m ao terceiro, a punigao especial d e s t i n a d a s o m e n t e a autora ( m a e ) , por sua peculiar situagao. A c o n c l u s a o a que se c h e g a e que a previsao do delito de infanticidio e incerta, c a r r e g a n d o serios v i c i o s d e c o n g r u e n c i a d e n t r o do s i s t e m a penal e, por isso, e d i s p e n s a v e l . A s s i m , a m a e que matar seu filho, d u r a n t e ou logo a p o s o parto, devera responder por h o m i c i d i o qualificado, d e v e n d o , c o n t u d o , receber t r a t a m e n t o a d e q u a d o ao seu perfil no terreno d a culpabilidade, c o n f o r m e seja c o n s i d e r a d a imputavel, inimputavel ou s e m i - i m p u t a v e l . C o n c l u i - s e , por f i m , pela necessaria e justificada s u p r e s s a o d a previsao legal do c r i m e d e infanticidio do C o d i g o Penal patrio, e s t a n d o a c o n d u t a c o m p r e e n d i d a na previsao d o crime de h o m i c i d i o do m e s m o d i p l o m a legal.

Palavras-chave: infanticidio. estado puerperal, concurso de p e s s o a s . inseguranga juridica. supressao. homicidio.

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T h e b o u n d that links mother and son is really o n e of the m o s t significant and true links already revealed in m a n k i n d . However, nor always this b o u n d is e n o u g h to prevent that be c a s e s of m o t h e r s w h o , after birth, kills her o w n s o n s . Despite the r e p u g n a n c e that this kind of behavior causes, the infanticide c r i m e w a s f o r e s e e n by t h e legislator as a special a n d independent w a y of privileged homicide, w h a t authorizes t h e attenuation of the p u n i s h m e n t . T h e present w o r k has as general objective to a n a l y z e the typical figure's tibian e l e m e n t s , searching legal support for t h e s u p p r e s s i o n of the infanticide c r i m e of Brazilian's Criminal C o d e . A s specific objectives, are pointed, respectively, to raise historical informations about the infanticide crime; to know the diverse forecasts regarding the c r i m e of infanticide in t h e foreign criminal legislation; to investigate the i m p o s e d legal p a r a d o x e s in the application of t h e infanticide criminal type. For so, w e r e used as a p p r o p r i a t e m e t h o d s of bibliographical research, the historical-evolutive, t h e c o m p a r a t i v e and t h e legal e x e g e t i c m e t h o d s . Is w a n t e d with this c o u r s e conclusion w o r k , reaching the p r e s e n t e d objectives, the solution of the following p r o b l e m , with t h e confirmation of t h e related hypothesis: Is there legal security in the w a y of forecast and apply the criminal d e v i c e that defines the infanticide c r i m e in brazilian's C r i m i n a l C o d e ? No, b e c a u s e there isn't secure medical-legal orientation about the manifestation and duration of the puerperal state; likewise, b e c a u s e in the c a s e s w h e r e t h e crime is practiced along with other people, serious legal i n c o n v e n i e n c e will appear, also attributing to the third the special p u n i s h m e n t only destined to the author (mother), for its peculiar situation. T h e conclusion that is got is that the forecast of the infanticide c r i m e is uncertain, loading serious vices of c o n g r u e n c e inside the criminal s y s t e m a n d , b e c a u s e of it, this prevision is d i s p e n s a b l e . T h u s , the mother w h o kills its s o n , d u r i n g or s o o n after birth, will r e s p o n d for qualified murder, however, having to receive proper t r e a t m e n t to its profile in the culpability g r o u n d , as either c o n s i d e r e d imputable, inimputable or half-imputable. Its c o n c l u d e d , finally, for the n e c e s s a r y and justified s u p p r e s s i o n of the infanticide crime legal forecast in the native Criminal

C o d e , being the behavior understood in the homicide crime f o r e c a s t of the s a m e legal statute.

Keywords: infanticide, puerperal status, concur of people, legal unreliability. Suppression. Homicide.

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I N T R O D U Q A O 10

C A P J T U L O 1 E V O L U Q A O H I S T 6 R I C A D O C R I M E DE I N F A N T I C I D I O 12

1.1 O infanticidio na Idade Antiga 13 1.2 O infanticidio na literatura religiosa 15 1.3 O infanticidio na literatura mundial e patria 16

1.4 O infanticidio social 17 1.5 E v o l u g a o do crime de infanticidio no Brasil 19

C A P l T U L O 2 A S P E C T O S C O N C E I T U A I S E C O M P A R A T I V O S D O C R I M E D E

I N F A N T I C I D I O 2 3

2.1 D o s sujeitos do crime 2 3 2.2 C o n c e i t u a c a o legal do crime de infanticidio 27

2.3 Do direito c o m p a r a d o 30 2.3.1 Legislacoes q u e utilizam o Criterio Psicologico 30

2..3.2 Legislacoes que utilizam o Criterio Fisiopsicologico 32 2.3.3 Legislagoes que utilizam o Criterio Misto ou C o m p o s t o 35

2..3.4 S e m Classificagao Criterial 36 2.3.5 O Infanticidio nos EUA, na Inglaterra e na Franga 38

2.4 F o r m a s Medico-Legais de c o n s t a t a g a o do crime de infanticidio 41

C A P l T U L O 3 F U N D A M E N T O S P A R A A E X C L U S A O D O I N F A N T I C I D I O N O

C O D I G O P E N A L B R A S I L E I R O 4 5

3.1 Do Estado Puerperal 4 5 3.1.1 Da possibilidade de inexistencia do estado puerperal 4 9

3.2 Da E x p r e s s a o "durante ou logo a p o s o parto" 51 3.3 Da possibilidade do c o n c u r s o de a g e n t e s (artigo 2 9 e 30 C P ) 53

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I N T R O D U Q A O

Q u a l a razao, se e q u e existe u m a , q u e leva u m a m u l h e r q u e a c a b a de dar a luz a e s t e n d e r u m a m a o enfurecida, para sufocar o fruto d e s u a s e n t r a n h a s , s o b r e p u j a n d o a s s i m o instinto natural d a m a t e r n i d a d e ? E m p o u c a s palavras: o que leva u m a m a e a matar o proprio filho?

Este vil c r i m e e c o l o c a d o no m e s m o pedestal que o e s t u p r o e o parricidio, ate por a q u e l e s que a g e m contra a lei.

O c r i m e de infanticidio, devido a sua conjuntura, g e r a urn g r a n d e i m p a s s e no e n t e n d i m e n t o d o s juristas pathos, a s s i m c o m o para os juristas e s t r a n g e i r o s , pois este delito nada m a i s e do que u m a verdadeira fonte de c e l e u m a s . Para alguns d o u t r i n a d o r e s , o crime e m e s t u d o deveria sair, s e m prejuizo a l g u m , da esfera j u r i d i c o - p e n a l nacional.

A m a e , a g e n t e do crime a b o r d a d o por este estudo, p o d e ser t o t a l m e n t e r e s p o n s a b i l i z a d a pelo seu ato? Devera ela sentir, a l e m d a s c o n s e q u e n c i a s morais, c o n s e q u e n c i a s penais pelo seu ato, c u m p r i n d o a s s i m u m a pena imposta pelo Estado por s e u homicidio? Para tanto, apresentar-se-a c o m o p r o b l e m a desse T r a b a l h o de C o n c l u s a o de Curso, o seguinte: Deve o delito de infanticidio ser s u p r i m i d o d o rol de crimes contra a vida?

O presente trabalho mostrara, de f o r m a objetiva, os principals a s p e c t o s que e n v o l v e m o c r i m e de infanticidio. A p e s q u i s a se conduziu atraves d a leitura e f i c h a m e n t o da analise de livros, textos, revistas e outras p u b l i c a c o e s , i m p r e s s a s e digitals q u e a b o r d a s s e m , direta ou indiretamente, o c r i m e e m e s t u d o . A p o s a o r g a n i z a c a o d o s d a d o s colhidos, realizada u m a triagem do material, s e l e c i o n a n d o -se os t o p i c o s pertinentes, a g r u p a n d o o e s s e n c i a l a realizacao d o t r a b a l h o e m tela.

D e s s e m o d o , o T r a b a l h o de C o n c l u s a o de Curso tera por objetivo geral analisar os e l e m e n t o s tibios da figura tipica, b u s c a n d o , a s s i m , suporte juridico-legal para a s u p r e s s a o d o crime de Infanticidio do C o d i g o Penal Brasileiro.

C o m o objetivos e s p e c i f i c o s , a p o n t a m - s e , r e s p e c t i v a m e n t e , levantar i n f o r m a g o e s de carater historico sobre o crime de infanticidio; c o n h e c e r as diversas previsoes a respeito do crime de infanticidio na legislagao penal alienigena; investigar as incongruencias legais i m p o s t a s a aplicagao do tipo penal de infanticidio, a l m e j a n d o - s e , c o m e s s e trabalho de conclusao de curso, alcangar os

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objetivos a p r e s e n t a d o s , c u l m i n a n d o c o m a a s o l u c a o do s e g u i n t e p r o b l e m a : Ha s e g u r a n g a j u r i d i c a na f o r m a de previsao e aplicagao do dispositivo penal que define o c r i m e d e infanticidio no C o d i g o Penal brasileiro? A c o n c l u s a o a q u e se c h e g a e q u e a p r e v i s a o do delito de infanticidio e incerta, c a r r e g a n d o serios vicios de c o n g r u e n c i a dentro do sistema penal e, por isso, esta figura e d i s p e n s a v e l .

Posto isso, de u m a f o r m a clara e objetiva v e - s e q u e o primeiro c a p i t u l o tratara d a e v o l u g a o historica do crime de infanticidio, p a s s a n d o por diferentes s o c i e d a d e s e culturas. Expora c o m o ele p a s s o u de urn c o s t u m e aceito a urn c r i m e c o m s e v e r a s punigoes. D e m o n s t r a r a t a m b e m u m a f o r m a sociologica de infanticidio, q u e ocorre e m a l g u m a s regioes do m u n d o . Por ultimo sera m o s t r a d a a e v o l u g a o do referido c r i m e no Brasil, p a s s a n d o pelos c o d i g o s repressivos de 1830, 1890 e, f i n a l m e n t e , o d e 1940.

O s e g u n d o capitulo a b o r d a r a a s p e c t o s mais tecnicos, t r a t a n d o de conceitos j u r i d i c o s i m p o r t a n t e s para o e n t e n d i m e n t o do crime e m estudo, c o m o os sujeitos do

crime: a crianga (sujeito passivo) e a m a e (sujeito ativo). No q u e t a n g e a esta ultima, realizar-se-a urn estudo m a i s p o r m e n o r i z a d o , por ser ela a a g e n t e d o delito e m e s t u d o .

A conceituagao do crime t a m b e m sera e s m i u g a d a , s e g u i n d o criterios e s t a b e l e c i d o s pelos legisladores penalistas. A s f o r m a s m e d i c o - l e g a i s de constatagao d a materialidade do delito t a m b e m serao explicadas. C o m o ponto principal deste c a p i t u l o , a p o n t a - s e a exposigao de varias doutrinas estrangeiras, c o m a finalidade d e p o d e r se obter u m a c o m p a r a g a o objetiva entre as diferentes f o r m a s de se valorar tal c o n d u t a , v i s a n d o obter melhor nogao do crime e m estudo.

Por f i m , o terceiro capitulo tern c o m o e n f o q u e a exposigao d a problematica g e r a d o r a d e s t e trabalho. Serao m o s t r a d a s varias nogoes sobre o e s t a d o puerperal e de c o m o este e tratado pelos d o u t r i n a d o r e s pathos, b e m c o m o t a m b e m a p o l e m i c a c a u s a d a pela possibilidade do c o n c u r s o de a g e n t e s no crime e m p a u t a , concluindo, s e g u r a m e n t e , pela insustentabilidade da p e r m a n e n c i a do delito infanticidio na legislagao patria.

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C A P i T U L O 1 E V O L U Q A O H I S T O R I C A D O C R I M E DE I N F A N T I C I D I O

0 p r e s e n t e capitulo tera c o m o objetivo principal mostrar a e v o l u g a o historica d o c r i m e de infanticidio no Brasil e no m u n d o , assim c o m o a aplicagao de sua pena e m d i f e r e n t e s m o m e n t o s historicos.

A e x p r e s s a o infanticidio, do latim infanticidium s e m p r e t e v e o significado de m o r t e d e crianga, e s p e c i a l m e n t e do r e c e m - n a s c i d o . O crime tern sido tratado, d u r a n t e a historia, ora de f o r m a severa, ora de f o r m a indulgente.

D e a c o r d o c o m as c o n v e n i e n c i a s sociais de c a d a e p o c a e c o m as diversas m a n e i r a s d e ser ver tal crime, c h e g o u - s e ao conceito a d o t a d o por varias legislagoes atuais, o n d e o estado pos-parto figura c o m o c a u s a a t e n u a n t e .

O infanticidio, "lato sensu", e e n t e n d i d o c o m o o a s s a s s i n a t o (ou matanga indiscriminada) d e criangas nos primeiros a n o s de vida. Tal ato e praticado e m t o d o s os c o n t i n e n t e s e por p e s s o a s c o m diferentes niveis de f o r m a g a o cultural d e s d e a a n t i g u i d a d e . Existem evidencias historicas para d o c u m e n t a r a i m p r e s s i o n a n t e p r o p e n s a o de alguns pais a m a t a r e m s e u s proprios filhos s o b a p r e s s a o de c o n d i g o e s estressantes.

De certa f o r m a , nos t e m p o s antigos a infancia nao tinha muita importancia. D o e x a m e de varias obras, historicas o u literarias, p o d e - s e inferir q u e a s criangas f o r a m b a s t a n t e vilipendiadas durante varios m o m e n t o s historicos. S a b e - s e q u e elas f i g u r a v a m c o m o protagonistas ou c o m o objetos e m varios atos d a s s o c i e d a d e s antigas, c o m o rituais m a g i c o s , sacrificios, a b a n d o n o s , ordalios, castigos, e s p a n c a m e n t o s e crimes (no caso, o infanticidio), c o m o b e m a f i r m o u Orlando O r l a n d i , e m s e u livro "Teoria e pratica do a m o r a crianga - introdugao a pediatria social no Brasil" (Silva apud Orlandi, 1985).

O Professor Vicente de Paula R o d r i g u e s M a g g i o ( 2 0 0 4 ) , faz o seguinte c o m e n t a r i o sobre o crime de infanticidio:

Para a legislagao atual, o infanticidio e um delito de natureza privilegiada em fungao da influencia do estado puerperal. Neste crime, a propria mae, contrariando os impulsos da natureza, dirige sua conduta criminosa contra o proprio filho; um ser inocente,

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indefeso, fragil e desprotegido, came da came e sangue do seu proprio sangue.

1 . 1 0 infanticidio na Idade A n t i g a

Na A n t i g u i d a d e , o Infanticidio tinha u m a c o n c e i t u a c a o e u m a c o n s e q u e n c i a social diversa d a atual. Na Grecia, R o m a Antiga e entre as tribos b a r b a r a s p r o x i m a s ,

0 infanticidio era uma pratica aceita. C o m o a oferta de comida era p e q u e n a , uma

d a s f o r m a s de s e c o m b a t e r a f o m e era controlar a p o p u l a c a o infantil. A i n d a , se a crianga n a s c e s s e m a l f o r m a d a , ou m e s m o se o pai tivesse a l g u m outro motivo, a crianga seria a b a n d o n a d a a propria sorte, g e r a l m e n t e m o r r e n d o por falta de c u i d a d o s b a s i c o s . Se u m a crianga nao era aceita, c o n s i d e r a v a - s e c o m o se ela nao t i v e s s e nascido. A s s i m , o infanticidio nao era e n c a r a d o c o m o u m a s s a s s i n a t o , pois a crianga "nao estava capacitada para lutas".

Nas tribos barbaras, a morte d o s filhos e de criangas era pratica corriqueira e nao se figurava c o m o delito, a l e m de, t a m b e m , nao atentar contra os c o s t u m e s e a m o r a l vigente.

Na Grecia e R o m a antigas, o infanticidio era pratica n o r m a l m e n t e e x e c u t a d a . A s criangas e r a m f e c h a d a s e m v a s o s ate asfixiarem, a b a n d o n a d a s e m c a m i n h o s , atiradas a a n i m a i s s e l v a g e n s ; outras v e z e s , d e i x a d a s e m c e s t o s a beira de rios, c o m o foi o caso relatado no A n t i g o T e s t a m e n t o , q u a n d o M o i s e s foi d e i x a d o e m um c e s t o , a beira d o Rio Nilo (Ex::2, 1-10).

A i n d a ha relatos dos f a m o s o s sacrificios que os p o v o s p r e s t a v a m ao d e u s M o l o c h , o f e r e c e n d o seus filhos e outras criangas e m geral. Tal fato ocorria t a m b e m no oriente e na A m e r i c a P r e - C o l o m b i a n a ( A n d r a d e apud V i n c e n t i n i , 2 0 0 4 ) .

O s A n t i g o s Hebreus a p l i c a v a m a pena de morte a q u e l e s q u e p r a t i c a s s e m infanticidio. Essa pena de m o r t e era e x e c u t a d a de diversas m a n e i r a s , c o m o : lapidagao, m o r t e no fogo, decapitagao e o u t r o s .1

No s e c u l o IV, c o m o a d v e n t o do catolicismo c o m o religiao oficial do Imperio, o infanticidio p a s s a a ser c o n d e n a d o e e n c a r a d o c o m o um p e c a d o . A s criangas e r a m

1 Pena de morte. Disponivel em http://br.geocities.com/guto_souza/pagina9-21.html,

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batizadas e os r e c e m - n a s c i d o s p a s s a m a ter u m a certa identidade na c o m u n i d a d e , s o f r e n d o s e u s eventuais algozes p e n a s c o m crueldades e x t r e m a s . ( N O R O N H A , 1996)

C o m o e x e m p l o inicial d a nova moral objetiva r o m a n a , t e m - s e as Institutas de Justiniano. E m s e u Livro IV, Titulo X V I I I , § 6 ° era previsto u m a p e n a atroz para o infanticida (o culeus). O c o n d e n a d o era cosido e m u m saco c o m u m cao, u m galo, u m a v i b o r a e u m a m a c a c a , e langado ao mar ou ao ho, c o n f o r m e t r e c h o d a obra de Nelson Hungria (1979, p. 2 4 0 ) , transcrito a seguir:

Alia deinde lex asperrima crimen nova poena persequitur, quae Pompeia de parricidis vocatur. Qua cavetur ut, si quis parentis vel filii, aut omnino adfectionis ejus quae muncupatione parricidii continetur, fata properavit, sive clam sive palam id ausus fuerit: nec non is cujus dolo maio id factum est, vel conscius criminis existit, licet extraneus sit, poena parricidii puniatur, et neque gladio neque ignibus ulla alia solimni poena subjiciatur: sed insutus culeo cum cane et gallo gallinaceo et vipera et simia, et inter eas ferales angustias comprehensus, secundum quod regiones qualitas tulerit, vel in vicinum mare vel in amnem projiciatur; ut omnium elementorum usu vivus carere incipiat, et ei coelum superstiti et terra mortuo auferatur

D u r a n t e a Idade Media, na o r d e n a g a o de Carlos V ( c o n h e c i d a c o m o a Carolina), e m s e u artigo 1 3 1 , ao c o n d e n a d o por este c r i m e era imposto o s e p u l t a m e n t o e m vida, e m p a r e d a m e n t o , a f o g a m e n t o , e m p a l a m e n t o o u a dilaceragao c o m t e n a z e s ardentes, c o n f o r m e a s s e v e r a Hungria (1979, p. 2 4 0 ) :

As mulheres que matam secreta, voluntaria e perversamente os filhos, que delas receberam vida e membros, sao enterradas vivas e empaladas, segundo o costume. Para que se evite o desespero, sejam estas malfeitoras afogadas, quando no lugar do julgamento houver para isso comodidade de agua. Onde, porem, tais crimes se dao frequentemente, permitimos, para maior terror dessas mulheres perversas, que se observe o dito costume de enterrar e empalar, ou que, antes da submersao, a malfeitora seja dilacerada com tenazes ardentes.

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1.2 O infanticidio na literatura religiosa

N o relato biblico do livro G e n e s i s , no A n t i g o T e s t a m e n t o , ha u m a m e n g a o ao infanticidio c o m o sacrificio. E a respeito do sacrificio de Isaac, filho d e A b r a a o . O proprio D e u s d e t e m a m a o de A b r a a o e o filho e substituido por u m cordeiro. Esta p o d e ser c o n s i d e r a d a c o m o u m a d a s primeiras referencias historicas sobre a tentativa d e infanticidio. (Genesis: 2 2 , 1-13).

A i n d a no Livro S a g r a d o , p o d e - s e encontrar m a i s relatos s o b r e o crime, c o m o t a m b e m d a sua tentativa. No Livro d o E x o d o ( 1 , 15-16), e n c o n t r a - s e a o r d e m dada pelo rei do Egito as parteiras hebreias para q u e estas e l i m i n e m as criangas do sexo m a s c u l i n o :

Falou o rei do Egito as parteiras das hebreias, das quais uma se chamava Sifra e a outra Pua, dizendo: Quando ajudardes no parto as hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, mata-lo-eis; mas se for filha, vivera.

N o N o v o T e s t a m e n t o , no e v a n g e l h o de M a t e u s ( M a t e u s : 2, 16), esta d o c u m e n t a d o a seguinte p a s s a g e m da historia do m e n i n o J e s u s :

Entao Herodes, vendo que fora iludido pelos magos, irou-se grandemente e mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo que havia em Belem, e em todos os seus arredores, segundo o tempo que com precisao inquirira dos magos.

A s tradigoes dos g r a n d e s c a b a l i s t a s1 d i z e m q u e A d a o tinha d u a s e s p o s a s :

Lilith e N a h e m a h . Lilith e m a e dos abortos, da pederastia, da d e g e n e r a g a o sexual, d o infanticidio, etc, e N a h e m a h a m a e do adulterio, que s e d u z c o m o e n c a n t o de sua beleza m a l i g n a . So N a h e m a h p o d e ser m a e , m a s nao cria os filhos; e n t r e g a - o s a Lilith, sua f u n e s t a irma, para que os m a t e e os devore.

1 Dusk and her embrace - Cradle of filth - tradugoes. Disponivel em

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1.3 O infanticidio na literatura m u n d i a l e patria

Na mitologia grega, t a m b e m t e m o s historias f a m o s a s de infanticidio. E m u m a de s u a s f a m o s a s tragedias ( M e d e i a ) , E u r i p i d e s , o mais j o v e m d o s tres g r a n d e s e x p o e n t e s d a tragedia grega c l a s s i c a1 narra a historia de M e d e i a , filha do rei Eetes,

d a C o l q u i d a (atualmente, a Georgia), sobrinha de Circe e, por a l g u m t e m p o , m u l h e r de J a s a o . E m Corinto, ja c o m filhos de J a s a o , ela foi alvo d a intriga do rei Creonte, de T e b a s , que influenciou J a s a o a deixa-la, d e m o d o a casa-lo c o m a sua filha, G l a u c e . T e n d o c o n v e n c i d o J a s a o , tratou de banir Medeia de Corinto. M e d e i a antes de fugir para A t e n a s , mata os filhos nao n u m a c e s s o de loucura, m a s n u m ato de fria e p r e m e d i t a d a vinganga e m relagao ao marido infiel. E u m a d a s p e r s o n a g e n s mais t e r r i v e l m e n t e f a s c i n a n t e s desta mitologia, ao envolver s e n t i m e n t o s contraditorios e p r o f u n d a m e n t e crueis, que inspiraram muitos artistas ao longo da historia.

E m sua f a m o s a obra, Do Delito e Das Penas, afirma C e s a r e Beccaria (2004, p.92):

O infanticidio e ainda o resultado quase inevitavel da cruel alternativa em que se acha uma infeliz, que so cedeu por fraqueza, ou que sucumbiu sob os esforgos da violencia. De um lado a infamia, de outro a morte de um ser incapaz de sentir a perda da vida: como nao havia de preferir esse ultimo partido, que a rouba a vergonha, a miseria, juntamente com o desgragado filhinho.

Na literatura patria, t e m - s e u m b o m e x e m p l o . L e v a n d o e m c o n s i d e r a g a o o c o n c e i t o lata sensu do crime, vale citar a obra de M a c h a d o de A s s i s , D o n C a s m u r r o ( 2 0 0 5 , p. 163). N u m gesto e x t r e m o , Bento, p e r s o n a g e m principal, d e c i d e suicidar-se c o m v e n e n o , c o l o c a d o n u m a xicara de cafe. Interrompido pela c h e g a d a do p e q u e n o E z e q u i e l , filho suspeito de ter sido havido c o m seu melhor a m i g o , Escobar, altera i n t e m p e s t i v a m e n t e s e u piano e d e c i d e dar o cafe e n v e n e n a d o ao filho, m a s , no

1 Os outros dois eram Sofocles e Esquilo, de acordo com a Enciclopedia Virtual Wikipedia

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ultimo instante, recua, e m seguida d e s a b a f a n d o , d i z e n d o a Ezequiel q u e nao e seu pai, c o m o transcrito a seguir:

Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xicara, tao tremulo que quase a entornei, mas disposto a faze-la cair pela goela abaixo, caso o sabor Ihe repugnasse, ou a temperatura, porque o cafe estava frio... Mas nao sei que senti que me fez recuar. Pus a xicara em cima da mesa, e dei por mim a beijar doudamente a cabeca do menino.

1.4 O infanticidio social

E m a l g u m a s regioes do m u n d o , d e v i d o a razoes socio-culturais, existe u m tipo d e infanticidio, c h a m a d o pelos p e s q u i s a d o r e s de Infanticidio Social. Este tipo de c r i m e tern c o m o principal caracteristica a s e l e c a o de r e c e m - n a s c i d o s , privilegiando u m d o s s e x o s e eliminando o outro, s e n d o o sexo e x c l u i d o , m a j o r i t a r i a m e n t e , o f e m i n i n e

Esta pratica e oriunda do s e x i s m o patriarcal, s e n d o bastante c o m u m no m u n d o a r a b e p r e - m a o m e t a n o (570-632 a . C ) . P o r e m , c o m o a d v e n t o do A l c o r a o , o infanticidio seletivo f e m i n i n o foi c o n s i d e r a d o pratica criminosa, c o m o p o d e ser visto a seguir ( 2 0 0 6 , p.748):

769. Alguns dos arabes idolatras chamavam os anjos de as filhas de Deus. Em suas proprias vidas eles odiavam ter filhas, como e explicado nos dois versiculos seguintes. Praticavam o infanticidio feminino. Em seu estado de permanente guerra, os filhos constituiam uma fonte de reforco para eles, ao passo que as filhas tornavam-nos sujeitos a humilhantes incursoes!

(...)

800. Os arabes pre-islamicos eram afeitos ao infanticidio feminino. Numa sociedade permanentemente em estado de guerra, um filho homem constituia uma fonte de reviramento, ao passo que uma filha constituia uma fonte de enfraquecimento. Mesmo agora, o infanticidio, por razoes economicas, nao e desconhecido em outros paises. Esse crime contra as vidas das criangas e aqui tido como um dos maiores pecados.

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C o n t u d o , ainda hoje, e s p e c i a l m e n t e na C h i n a continental, e s t a m o d a l i d a d e de infanticidio e muito praticada. O g o v e r n o d e s s e pais nao oferece assistencia a l g u m a a f a m i l i a s q u e tern u m s e g u n d o filho, o que levava as f a m i l i a s de u m a s o c i e d a d e tao patriarcal a a b o r t a r e m s u a s filhas (as f a m i l i a s p r e c i s a m de m e n i n o s para perenizar o n o m e d a f a m i l i a ) . O g o v e r n o e n t a o proibiu a ultra-sonografia, e as f a m i l i a s p a s s a r a m e n t a o a a b a n d o n a r s u a s m e n i n a s ou mata-las de diversas f o r m a s . A g r a n d e c o n s e q u e n c i a d e s t e c o s t u m e e o macigo desequilibrio entre os s e x o s na populagao d o p a i s1.

A India e u m outro pais o n d e ha e l e v a d o indice de infanticidio f e m i n i n o . E pratica c o m u m c o m e t e r aborto ou infanticidio q u a n d o o b e b e e u m a m e n i n a , o que leva a o m e s m o desequilibrio entre os s e x o s na populagao do pais.

Por ser seletiva, esta f o r m a de infanticidio t a m b e m virou u m a f o r m a de e u g e n i a nas primeiras d e c a d a s d o S e c u l o XX. C o m a "cultura de m o r t e " imposta pelo m e i o social, Adolf Hitler, e m s u a b u s c a pela raga pura ariana para a "Grande G e r m a n i a " , a s s a s s i n a v a , e m m a s s a , as criangas c o m m a s f o r m a g o e s fisicas e deficientes m e n t a i s .

E o m a i s alarmante: e s s a nao foi so caracteristica da A l e m a n h a Nazista. Importantes p e n s a d o r e s e m e d i c o s a m e r i c a n o s p r e g a v a m a m e s m a ideia, c o m o M a r g a r e t Sanger, a f u n d a d o r a do f a m i g e r a d o Planned Parenthood (Paternidade P l a n e j a d a . T r a d u g a o nossa.), u m a p o d e r o s a O N G internacional q u e p r o m o v i a f o r m a s d e e u g e n i a e m todo o m u n d o . C o m o e x e m p l o final d o p e n s a m e n t o m o n s t r u o s o d e Sanger, eis u m a frase d e sua autoria a favor do infanticidio, na obra W o m a n and N e w R a c e (A Mulher e a Nova Raga. T r a d u g a o nossa):

Muitos pensarao, talvez, que e inutil demonstrar a imoralidade (sic) das familias grandes (...). A coisa mais misericordiosa que uma familia grande faz por um de seus membros infantis e mata-lo (Pedrosa, apud Sanger.)

Estes a n t e c e d e n t e s historicos revelam alguns a s p e c t o s i m p o r t a n t e s do infanticidio, e t r a n s p o r t a m ao t e m p o atual a l g u m a s de s u a s c a u s a s latentes.

1 De acordo com os artigos encontrados em

http://www.medicinalegal.com.br/artigos.asp7CritM9 e

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1.5 Evolugao do crime de infanticidio no Brasil

N e l s o n Hungria, e m sua o b r a C o m e n t a r i o s ao C o d i g o P e n a l , mostra p e r f e i t a m e n t e a evolugao do crime de infanticidio no Brasil. E e por ele q u e esta parte d o trabalho e b a s e a d a .

E m nosso pais, a legislagao penal, atraves d o s estatutos repressivos de 1830, 1890 e 1940, tern c o n c e i t u a d o o crime de infanticidio d e f o r m a s diversas.

O c r i m e e m estudo foi introduzido no pais pelo C o d i g o Criminal Imperial de 1830, q u e nos artigos 197 e 198 constituia d u a s m o d a l i d a d e s :

D e t e r m i n a v a seu artigo 197: "Matar a l g u m r e c e m - n a s c i d o : p e n a s - d e prisao por 0 3 (tres) a 12 (doze) a n o s e de multa c o r r e s p o n d e n t e a m e t a d e d o t e m p o " .

C o m esta redagao, pode-se observar q u e o crime poderia ser praticado por q u a l q u e r p e s s o a , ate m e s m o u m e s t r a n h o . A l e m disso, nao trazia c o n s i g o o motivo da preservagao de honra da mulher. Isso c o n c e d i a u m e s t r a n h o privilegio aos a g e n t e s do delito, pois matar criangas no p e r i o d o imperial era m e n o s grave d o que m a t a r u m adulto, u m a v e z que a p e n a aplicada para h o m i c i d i o poderia c h e g a r ate m e s m o a pena capital.

O s e u artigo 198 trazia a especificagao d o tipo, t r a z e n d o a s e g u i n t e redagao: "Se a propria m a e matar o r e c e m - n a s c i d o para ocultar d e s o n r a : pena - de prisao c o m trabalho por 01 (um) a 03 (tres) anos".

De a c o r d o c o m a redagao d e s t e artigo, pode-se notar q u e o legislador patrio t r a t o u o c r i m e c o m o u m a figura e x c e p c i o n a l , mitigando s e n s i v e l m e n t e a s a n g a o por ele i m p o s t a .

O C o d i g o Penal de 1890, e m seu caput do artigo 2 9 8 a s s i m definia o crime:

Matar recem-nascido, isto e infante, aos sete primeiros dias de seu nascimento, quer empregando meios diretos e ativos, quer recusando a vitima os cuidados necessarios a manutengao da vida e a impedir a sua morte: pena - de prisao celular por 06 (seis) a 24 (vinte e quatro) anos.

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T a l d i p l o m a legal c o n c e i t u o u o crime de u m a f o r m a a b s u r d a m e n t e generalista, nao h a v e n d o n e n h u m e l e m e n t o capaz d e separar o infanticidio do h o m i c i d i o s i m p l e s . P e r c e b e - s e a presenga de u m lapso t e m p o r a l , este p r o v a v e l m e n t e s e m base cientifica, dentro d o qual se caracterizava o fato, f a z e n d o c o m q u e a q u e l e que m a t a s s e o infante ate o setimo dia a p o s o n a s c i m e n t o r e c e b e s s e pena a t e n u a d a , e n q u a n t o q u e a q u e l e que c o m e t e s s e do c r i m e no oitavo dia e m diante suportaria a m e s m a pena do homicidio.

O paragrafo unico c o m i n a v a p e n a m a i s branda "se o c r i m e for perpetrado pela m a e , para ocultar a d e s o n r a propria: pena - de prisao celular por 03 (tres) a 09 (nove) anos".

V e - s e a i q u e o criterio d e a b r a n d a m e n t o da pena fora m a n t i d o , na f o r m a de honoris causa, a s s i m c o m o o estatuto q u e o precedia. S o m e n t e a m a e d a vitima caberia a s u a incidencia.

A t e se c h e g a r na legislagao vigente, passaria o pais a i n d a por tres i m p o r t a n t e s projetos: o de G a l d i n o Siqueira, o de Sa Pereira e o d e A l c a n t a r a M a c h a d o .

O primeiro trata o infanticidio c o m o u m a e s p e c i e de h o m i c i d i o privilegiado, pois dizia q u e o m e s m o so poderia ser c o m e t i d o pela m a e , no m o m e n t o do n a s c i m e n t o ou logo apos, para ocultar d e s o n r a . Dizia:

Se o crime tiver sido cometido contra recem-nascido, isto e, crianga no momento do seu nascimento ou logo apos, e pela propria mae, para ocultar desonra: pena - detengao de 02 (dois) a 08 (oito) anos.

O S e g u n d o buscou c o m o f u n d a m e n t a g a o o artigo 107 do c o d i g o p e n a l suigo de 1916, c o n s i d e r a n d o o infanticidio c o m o u m crime a u t o n o m o . Trazia a i a primeira m e n g a o ao e s t a d o puerperal no o r d e n a m e n t o j u r i d i c o patrio. Dizia:

Aquela que, durante o parto, ou, ainda, sob influencia do estado puerperal, matar o filho recem-nascido, sera punida com prisao e ate 03 (tres) anos, ou com detengao por 06 (seis) meses, no minimo.

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Por sua vez, o ultimo r e t o m o u o criterio tradicional d a p r e s e r v a g a o d a honra, e s t e n d e n d o o privilegio d a minoragao d a pena e m favor d e outras p e s s o a s a l e m da m a e d a v i t i m a . Dizia:

Matar infante, durante o parto ou logo apos deste, para ocultar a desonra propria ou a de ascendente, descendente, irma ou mulher: pena - detengao ou reclusao por 02 (dois) a 06 (seis) meses.

O C o d i g o Penal de 1940 foi e l a b o r a d o a partir d a revisao d o projeto de A l c a n t a r a M a c h a d o , feita por u m a c o m i s s a o integrada por Nelson Hungria e Roberto Lyra, entre outros.

A legislagao vigente a d o t o u c o m o a t e n u a n t e no crime de infanticidio o conceito b i o p s i q u i c o do "estado puerperal", aperfeigoando o projeto d e Sa Pereira.

A exposigao de motivos do C o d i g o Penal justifica o infanticidio c o m o delictum exceptum, praticado pela parturiente sob influencia d a q u e l e tal e s t a d o . A s s i m o c o n c e i t u a , s o b o prisma do seu artigo 123: "Matar, sob a influencia d o estado p u e r p e r a l , o proprio filho, durante o parto ou logo apos".

P e r c e b e - s e , portanto, q u e h o u v e alteragao radical do conceito do crime, q u a n d o e m vez de, s e g u n d o a lei anterior, adotar o sistema psicologico f u n d a d o no m o t i v o d e honra (honoris causa), que e o t e m o r a v e r g o n h a d a m a t e r n i d a d e ilegitima, o p t o u o legislador pelo s i s t e m a biopsiquico ou fisiopsicologico, a p o i a d o no e s t a d o p u e r p e r a l . Esta orientagao tern m e r e c i d o criticas e e motivo de controversia, muito por se e n t e n d e r nao c o m p r o v a d a a suposta problematica influencia do estado p u e r p e r a l no psiquismo da parturiente.

A Partir d o s a n o s de 1960, f o r a m f o r m u l a d o s , por r e n o m a d o s autores, varios anteprojetos, v i s a n d o u m a reformulagao do codigo de 1940.

O primeiro deles e o A n t e p r o j e t o d e 1963 de Nelson Hungria, q u e c o n c e i t u a v a o infanticidio d e f o r m a mais a m p l a , o p t a n d o pelo criterio misto ( p r e s e r v a g a o da h o n r a d a vitima ao lado do e s t a d o puerperal). Em s e u artigo 119, o citado A n t e p r o j e t o previa o ato da seguinte f o r m a : "Matar, para ocultar sua d e s o n r a ou sob a influencia de perturbagao fisiopsiquica p r o v o c a d a pelo e s t a d o p u e r p e r a l , o proprio filho, d u r a n t e ou logo apos o parto: pena - detengao de 02 (dois) a 06 (seis) anos".

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E m 1964, a partir da revisao d o A n t e p r o j e t o de Nelson H u n g r i a , foi e l a b o r a d o u m projeto q u e resultou no C o d i g o Penal de 1969, nao t e n d o e s t e e n t r a d o e m vigor no Brasil. A c o m i s s a o responsavel pela revisao nao a c a t o u o criterio c o m p o s t o e a d o t o u o criterio classico do motivo d a preservagao da propria honra.

O Artigo 122 d e s t e codigo a s s i m descrevia o crime: "Matar a m a e o proprio filho, para ocultar sua d e s o n r a , d u r a n t e ou logo a p o s o parto: pena - d e t e n g a o de 02 (dois) a 06 (seis) anos".

Por f i m , t e m - s e ainda o A n t e p r o j e t o do C o d i g o Penal - Parte Especial, publicado inicialmente pela portaria n u m e r o 304, de 17 de j u l h o de 1984 e, p o s t e r i o r m e n t e , pela portaria n u m e r o 790, de 27 de outubro d e 1987. Este A n t e p r o j e t o traz n o v a m e n t e a tona a d i s c u s s a o entre os criterios d a preservagao da h o n r a propria e d a influencia do estado puerperal. Dizia seu artigo 123:

Matar o proprio filho, durante ou logo apos o parto, sob influencia perturbadora deste ou para ocultar desonra propria: pena - reclusao de 02 (dois) a 06 (seis) anos. Paragrafo unico: quern concorre para o crime incide nas penas do artigo 121 e paragrafos.

P e r c e b e - s e , de piano, q u e nao houve, durante o as p r o p o s t a s de reforma do C o d i g o P e n a l , c o n c o r d a n c i a sobre qual d o s fatores serviriam d e f u n d a m e n t o para a tipificagao d o infanticidio: o estado puerperal, criterio fisiopsicologico, a preservagao d a honra, criterio psicologico, ou os dois fatores, s o m a d o s e m u m criterio misto, preferindo o legislador patrio a p e n a s p e r m a n e c e r c o m o disposto o r i g i n a l m e n t e no C o d i g o , ou seja, c o m o criterio fisiopsicologico.

E m vista do exposto, o p r e s e n t e capitulo tratou da e v o l u g a o historica d o crime de infanticidio, m o s t r a n d o que e s t e foi tratado de m a n e i r a s d i v e r s a s , d e f o r m a natural de sobrevivencia a crime de punigoes s e v e r a s , f i g u r a n d o a i n d a c o m o f o r m a d e e u g e n i a .

No c a p i t u l o seguinte, serao tratados os a s p e c t o s conceituais e c o m p a r a t i v o s d o c r i m e de infanticidio, c o m o a conceituagao legal, os sujeitos d o crime, as f o r m a s m e d i c o - l e g a i s d e constatagao e os institutos de direito c o m p a r a d o a l i e n i g e n a s , v i s a n d o u m a conceituagao atual e precisa de todos e s s e s fatores, para so entao p o d e r se entrar na problematica e m q u e s t a o .

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C A P l T U L O 2 A S P E C T O S C O N C E I T U A I S E C O M P A R A T I V O S D O C R I M E D E I N F A N T I C I D I O .

O p r e s e n t e capitulo mostrara alguns e l e m e n t o s e s s e n c i a i s imprescindiveis para a c o n f i g u r a c a o do crime d e infanticidio. Em u m primeiro m o m e n t o serao m o s t r a d o s os a g e n t e s do crime. E m s e g u i d a , serao e x p o s t a s as f o r m a s de c o n c e i t u a g a o legal existentes na doutrina patria, para so e n t a o p o d e r fazer u m paralelo entre a legislagao brasileira e a estrangeira.

E m u m m o m e n t o final, s e r a o b r e v e m e n t e m o s t r a d a s as f o r m a s utilizadas pela m e d i c i n a legal para a constatagao do crime e m pauta.

2.1 Dos sujeitos do c r i m e

R e s u m i d a m e n t e , os sujeitos do crime sao dois: a crianga ( n e o n a t o ou n a s c e n t e ) e a m a e . O primeiro e o sujeito passivo d o crime. O s e g u n d o , o sujeito ativo.

O sujeito passivo do crime e m estudo pode ser classificado c o m o natimorto, feto n a s c e n t e , infante n a s c i d o e r e c e m - n a s c i d o . Genival V e l o s o d e Franga (1998, p.242) define natimorto c o m o o feto morto d u r a n t e o p e r i o d o perinatal. T a l p e r i o d o inicia-se a partir d a 22a s e m a n a d e gestagao, q u a n d o o p e s o fetal e d e 5 0 0 g . A m o r t a l i d a d e perinatal pode ter c a u s a natural ou violenta, e as c a u s a s naturais mais c o m u n s s a o a anoxia anteparto, p r e m a t u r i d a d e , a n o m a l i a s c o n g e n i t a s e doenga hemolitica congenita. A s c a u s a s criminosas s a o as m e s m a s d o a b o r t o violento (intoxicagao q u i m i c a , c u r e t a g e m , etc).

O conceito de feto nascente e estabelecido devido a verificagao da e x p r e s s a o "durante o parto" do artigo 123 do C o d i g o Penal Brasileiro. E m outras legislagoes, e s s a m o d a l i d a d e de crime, nesse estagio, d e n o m i n a - s e feticidio. O feto nascente a p r e s e n t a t o d a s as caracteristicas d o infante nascido, m e n o s a f a c u l d a d e de ter respirado. A s lesoes c a u s a d o r a s de morte e s t a o situadas nas regioes o n d e o feto c o m e g a a se e x p o r (geralmente a cabega) e tern as caracteristicas d a s feridas p r o d u z i d a s in vitam ( e m vida).

(24)

O professor Genival V e l o s o d e Franca (1998, p.242) define infante nascido c o m o a q u e l e que a c a b o u de nascer, respirou, m a s nao r e c e b e u n e n h u m cuidado e s p e c i a l . A p r e s e n t a proporcionalidade de s u a s partes, peso e estrutura habitual, d e s e n v o l v i m e n t o d o s o r g a o s genitais, nucleos de ossificagao femur-epifisaria e, ainda, outras caracteristicas c o m o : Estado S a n g u i n o l e n t o ; Induto S e b a c i o ; T u m o r do Parto; P r e s e n c a de M e c o n i o ; e Respiragao A u t o n o m a (so e infante n a s c i d o quern respirou).

O e s t a d o de r e c e m - n a s c i d o e caracterizado pelos vestigios c o m p r o b a t o r i o s d a vida intra-uterina. Tern o r e c e m - n a s c i d o u m estagio que vai d e s d e os primeiros c u i d a d o s a p o s o parto ate a p r o x i m a d a m e n t e o 7o dia de n a s c i m e n t o . Esse conceito e p u r a m e n t e m e d i c o - l e g a l , a fim de atender a exigencia pericial t o c a n t e a p e r m a n e n c i a de e l e m e n t o s de prova d o estado de r e c e m - n a s c i d o . E m Pediatria, c o n s i d e r a - s e ate o 30o dia, o q u e e perfeitamente aceitavel s o b o ponto de vista clinico-terapeutico, c o n f o r m e afirmacao de Genival V e l o s o de Franca (1988, p.243).

C o m o e d e c o n h e c i m e n t o a c a d e m i c o , o sujeito ativo do c r i m e e a genitora, pois o artigo 123 e e x p r e s s o e m prever que o crime sera c o m e t i d o por esta contra o filho. A f i r m a F e r n a n d o C a p e z (2004, p. 100) q u e " C o m o trata-se de c r i m e proprio, s o m e n t e a m a e puerpera, o u seja, a genitora q u e se e n c o n t r a s o b a influencia do e s t a d o puerperal, pode praticar o crime e m tela".

C o n v e m trazer a baila, alguns a s p e c t o s relativos ao sujeito ativo do crime de infanticidio, relatados no trabalho cientifico intitulado: "As ' m a n i a s esquisitas' de C a s e m i r a : u m estudo sobre a pratica e o j u l g a m e n t o do infanticidio" de G e o r g i a n e G a r a b e l y Heil P l e m , q u e d u r a n t e o a n o de 2 0 0 3 era aluna do m e s t r a d o d o s cursos de P 6 s - G r a d u a c a o e m Historia da Universidade Federal do P a r a n a . Ela t o m o u c o m o b a s e para o seu trabalho o P r o c e s s o C a s e m i r a A , n° 2 4 9 7 / 5 6 ; a u t o s de p r o c e s s o de infanticidio iniciado e m 22 de outubro d e 1956, disponivel na Sala d a D o c u m e n t a g a o Judiciaria d o D e p a r t a m e n t o de Historia d a Universidade Estadual de Ponta G r o s s a , PR.

E m se tratando, c o m o dito, o infanticidio de u m crime proprio, t e n d o c o m o autora a propria m a e , c o m p r e e n d e - s e a politica criminal e m p r e g a d a pelo legislador ao disciplinar a figura criminosa. Neste norte, apresenta a peculiar situacao d a m a e c o m o s e n d o o f o c o da q u e s t a o . A s s i m se reportou a d e f e s a do c a s o C a s e m i r a G e o r g i a n e Pleim (2003):

(25)

[...] em alguns casos, principalmente em mulheres anemicas, neuroticas, neuropaticas extenuadas por precedentes enfermidades, por asslduas gestacoes, por acidentes do parto em curso, especialmente pela perda de sangue, poderiam ocorrer puros estados de raptus melancholicus e entao a vida do neonato corria graves perigos em funcao dos delirios transitorios que atingiam verdadeiras formas de loucura com perturbagoes notaveis na consciencia, ou impulsos irrefreaveis gerando estados obsessivos.

N o u t r o sentido, a p o n t a m os a r g u m e n t o s da a c u s a g a o , o n d e a autora do crime era d u r a m e n t e criticada pela a u s e n c i a do instinto maternal G e o r g i a n e Pleim (2003):

Casemira foi vista como incapaz de qualquer outro sentimento de ternura e amor, pois sem o essencial a condigao feminina, o amor materno, nenhum outro tipo de amor poderia nascer e se desenvolver. O desinteresse pela gestagao ou mesmo pela crianga foi entendido como um pecado grave para as maes. Mais do que gerar uma crianga era necessario amar incondicionalmente o filho, pois a maternidade e o amor materno eram tidos como naturais e portanto cobrados de todas as mulheres.

T o d a v i a , o b s e r v a - s e u m ponto c o m u m entre os dois d i s c u r s o s a p a r e n t e m e n t e a n t a g o n i c o : a m b a s c o n c o r d a v a m haver u m disturbio, u m d e s v i o , na p e s s o a do sujeito ativo d o crime de infanticidio, de a c o r d o c o m G e o r g i a n e Pleim ( 2 0 0 3 ) :

Dentro desta perspectiva, o caso de Casemira foi analisado como uma excegao, uma especie de desvio patologico da acusada, um desafio que ia contra as regras da natureza feminina.

A d e s p e i t o das c o n c l u s o e s a c e r c a da personalidade da infanticida, longe vai o t e m p o e m que se justificava a grotesca agao de eliminar a vida do proprio filho, por razoes e m i n e n t e m e n t e sociais, a p o n t a d a s c o m o motivos para o desequilibrio pessoal d a autora, c o m o ilustrado no d e s f e c h o do caso C a s e m i r a , de a c o r d o c o m G e o r g i a n e Pleim (2003):

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Mesmo sendo apresentada como um monstro, desprovida de amor materno, por meio de suas declaracoes, Casemira buscou reafirmar que sentia vergonha, nao do ato de matar o filho, mas sim de assumi-lo enquanto um bastardo. [...] A absolvigao de Casemira teve um forte vies moral. Enquanto moca pobre, ela nao tinha muitos bens materials a zelar, porem possuia sua honra, entendida como um capital simbolico que Ihe conferia certa posigao social de reconhecimento e pertenga ao grupo de "mulheres honestas".

E patente q u e d a f o r m a c o m o esta previsto o delito de infanticidio na legislagao brasileira, muitas injustigas sao reveladas no t r a t a m e n t o judicial recebidas. N e s s e sentido, conclui G e o r g i a n e Pleim (2003): "o p r o c e s s o de C a s e m i r a e a p e n a s u m d o s e x e m p l o s de c o m o o judiciario tratou este tipo de crime, pois via de regra as infanticidas f o r a m absolvidas ou e n t a o nao f o r a m s e q u e r j u l g a d a s , u m a vez q u e s e u s p r o c e s s o s p r e s c r e v e r a m " .

Foi infeliz a previsao legal r e s p a l d a d a e m a s p e c t o s honoris causa, c o n f o r m e a f i r m a g a o de Genival V e l o s o de Franga (1998, p. 2 4 1 ) :

Trazer a honoris causa ao corpo do novo estatuto penal outra coisa nao reflete senao um infeliz retrocesso e a flagrante confissao de que a sociedade nao evoluiu nos seus conceitos nem se redimiu de seus preconceitos falsos, posto que nenhuma gravidez pode ser considerada imoral, a nao ser que os propositos que a motivaram sejam ilicitos e imorais.

A f i r m a ainda o doutrinador (1998, p.241) q u e "o infanticidio e c r i m e verificado nas p o p u l a g o e s mais pobres e de m e n o r relevancia social cuja g r a v i d e z ilegitima nao i m p o e c o m tanta significagao a ocultagao da desonra".

C o m base nessas afirmagoes, t e m - s e c o m o temerario, e m pleno sec. X X I , considerar, ainda que indiretamente, motivos morais c o m o e l e m e n t o s c a p a z e s de respaldar o ato criminoso de m a t a r o proprio filho, c o n f o r m e p r e m i s s a do C o d i g o Penal Brasileiro vigente, cuja conceituagao do crime de infanticidio sera a b o r d a d a a seguir n e s t e trabalho.

(27)

2.2 C o n c e i t u a g a o legal do crime de infanticidio

Para poder e x a m i n a r a aplicagao penal e m outras legislagoes, e preciso que se d e s t a q u e os pontos de vista conceituais u s a d o s pelas ciencias para a explicagao do ato q u e leva u m a m a e a matar o s e u proprio filho, c o m e t e n d o a s s i m o infanticidio. De a c o r d o c o m D a m a s i o E. d e J e s u s (1998, p. 106) s a o tres os criterios para a c o n c e i t u a g a o legislativa do infanticidio: o psicologico, o fisiopsicologico e o misto.

D e a c o r d o c o m o criterio p s i q u i c o ou psicologico, o infanticidio e descrito t e n d o e m vista o motivo de honra. O c o r r e q u a n d o o fato e c o m e t i d o pela m a e , a fim de ocultar d e s o n r a propria. A c o n t e c e q u a n d o , por e x e m p l o , a mulher, e n g r a v i d a n d o de relagoes sexuais ilicitas ( c o m o adulterio ou incesto), t e m e n d o a reprovagao social, v e n h a a c o m e t e r ato delituoso por e x t r e m a v e r g o n h a e pudor, o q u e levaria a u m a diminuigao da pena aplicada. Afirma Nelson Hungria (1979, p.243) sobre o p o n t o d e vista p u r a m e n t e psicologico:

O obsedante receio da descoberta do seu erro, que a sociedade ao perdoa, cria na mulher engravidada fora do matrimonio (ou por dissimulavel adulterio), e que ainda nao perdeu o pudor, um verdadeiro estado de angustia, em que, gradativamente, se Ihe vai apagando o proprio instinto de piedade para com o fruto do seu amor legitimo.

O s u p r a c i t a d o autor (1979, p.244) d e s c r e v e , c o m viva e l o q u e n c i a , citando Miguel L o n g o , as c a u s a s que levam u m a m a e a c o m e t e r o infanticidio, a p o i a n d o - s e no criterio psicologico {honoris causa):

A principio, consegue esconder a prova do pecado, e leva uma existencia de sobressaltos e forgadas reservas; mas, aos poucos, cresce o perigo da publicidade, e a infeliz comega a perder ate a coragem de simular um sorriso. Seu animo e possuido de agitagoes convulsivas, desorientagoes, desequilibrio de sentimentos e de ideias. As proprias caricias prodigalizadas por seus desvelados pais sao causa de remorso, sao novos abalos ao periclitante dominio da razao, as dolorosas arritmias do coragao, e entrementes, de longe,

(28)

apavorante como um espectro, vem-se aproximando, minaz, de dia em dia, de hora em hora, o momento fatal em que a desgraga ja nao pode esconder a propria vergonha a familia, aos parentes, ao publico; e torna-se deprimida, aviltada sob o incubo medonho que nao a abandona, de dia ou de noite, ate mesmo nos poucos momentos de repouso que Ihe sao concedidos pela fadiga, pela exaustao, pela absorvente angustia. E um abismo de travas, de tempestades, de imperscrutaveis misterios que se cava naquela alma; a piedade, ate a piedade Ihe e negada, porque pedi-la e vergonha, merece-la e desonra, espera-la e sinal de maior humilhagao da dignidade e do decoro pessoal!

V e - s e a i a dramatizagao q u e faz o autor (1979, p. 2 4 4 ) , d e s c r e v e n d o a a n g u s t i a sofrida pela m a e a g e n t e q u e c o m e t e r a o crime, c a u s a n d o a o c i s a o do p e q u e n o ser. C o n t i n u a n d o :

E chega o dia fatal, e a hora se aproxima: a agitagao sucede o desvairo, o desatino do naufrago a procura, na desesperada agonia, de uma tabua de salvagao; enfim, a surpresa do parto tira a infeliz o ultimo raio de luz mental, o derradeiro baluarte de defesa, a esperanga de um remedio imprevisto; e ela, num momento reativo de conservagao instintiva, e impelida, automaticamente, a suprimir a prova da vergonha, do erro infamante, da desonra... e o infanticidio se consuma! A lei escrita pedira contas a essa mulher, como autora de um crime; mas a lei moral dira aos seusjuizes: acima e alem dos codigos ha a lei da necessidade, a infelicitas fati, o imperio inelutavel das fatais contingencias da vida.

P o d e - s e ver, na citagao, a m e n t a l i d a d e da s o c i e d a d e a l t a m e n t e patriarcal d a e p o c a . A s u b m i s s a o feminina perante os c o s t u m e s da s o c i e d a d e patriarcal e a s s u n t o q u e ainda instiga a muitos, t u d o p o r q u e as m u l h e r e s c o n q u i s t a m c a d a vez m a i s s e u espago, igualdade e a propria s u p e r a g a o .

Nos t e r m o s do criterio fisiopsicologico, nao e levada e m c o n s i d e r a g a o a honoris causa, relegando-a para s e g u n d o piano, m a s sim a influencia do estado p u e r p e r a l d a m u l h e r que, durante o parto, sofre perturbagoes f i s i o p s i q u i c a s e m c o n s e q u e n c i a d a s d o r e s , d a perda de s a n g u e e do e x c e s s i v o esforgo m u s c u l a r que a t e n u a sua imputabilidade. E o criterio utilizado pela nossa legislagao vigente.

(29)

Codigo Penal de 1940, abandonando o monopolio do motivo de honra, na conceituagao do infanticidio, passou a admitir o criterio fisiopsicologico atrelando o tipo penal a influencia do estado puerperal, como motivo determinante para a concessao do privilegio.

P o d e - s e perceber c l a r a m e n t e , na Exposigao de Motivos d a Parte Especial do C o d i g o P e n a l , item 40, q u e a lei nao p r e s u m e a imputabilidade restrita e m favor da parturiente, d e v e n d o estar provada a existencia de a l g u m abalo p s i q u i c o c a p a z de diminuir a c a p a c i d a d e de e n t e n d i m e n t o feminino:

O infanticidio e considerado um delictum exceptum quando praticado pela parturiente sob influencia do estado puerperal. Esta clausula, como e obvio, nao quer significar que o puerperio acarrete sempre uma pertubagao psiquica: e preciso que fique averiguado ter esta realmente sobrevindo em consequencia daquele, de modo a diminuir a capacidade de entendimento ou de auto-inibigao da parturiente. Fora dai, nao ha porque distinguir entre infanticidio e homicidio. Ainda quando ocorra a honoris causa (considerada pela lei vigente como razao de especial abrandamento de pena), a pena aplicavel e a de homicidio.

E m sua obra, T r a t a d o de Direito P e n a l , o nobre m e s t r e J o s e Frederico M a r q u e s (1999, p. 174) corrobora o trecho anteriormente citado:

Como pode ser visto, matar recem-nascido e crime de homicidio, sujeito as circunstancias que atenuam ou agravam a pena prevista para o que tira a vida de outrem. Somente quando cometido pela mae, sobre influencia do estado puerperal, durante o parto ou logo apos, e o que o infanticidio se apresenta como delito privilegiado e autonomo.

O ultimo criterio, o misto, t a m b e m c h a m a d o de c o m p o s t o , leva-se e m c o n s i d e r a g a o , a u m so t e m p o , a influencia do estado puerperal e o motivo d a p r e s e r v a g a o d a honra da genitora agente. Usa os t e r m o s do criterios psicologicos e fisiopsicologico ao m e s m o t e m p o . E u m a f u s a o d o s dois criterios anteriores.

(30)

C o m b a s e nesses conceitos, serao s e p a r a d a s e s t r a n g e i r a s de acordo c o m cada criterio d e conceituagao.

as legislagoes penais

2.3 D o direito c o m p a r a d o

O direito c o m p a r a d o auxilia nos e s t u d o s de diversos r a m o s d a s ciencias j u r i d i c a s , e x e r c e n d o o essencial papel de c o m p a r a g a o entre o r d e n a m e n t o s juridicos.

O direito c o m p a r a d o e o r a m o d a ciencia juridica q u e e s t u d a as diferengas e as s e m e l h a n g a s entre os o r d e n a m e n t o s juridicos de diferentes Estados. S e n d o a s s i m , o p r e s e n t e capitulo p a s s a agora a mostrar c o m o as legislagoes penais e s t r a n g e i r a s t r a t a m o crime e m e s t u d o ao redor do m u n d o , o f e r e c e n d o suporte teorico para q u e se p r o c e d a a c u r a d a analise d a previsao legal do crime d e infanticidio no C o d i g o Penal Brasileiro.

2.3.1 Legislagoes q u e utilizam o Criterio Psicologico

C o m o foi dito anteriormente, o criterio psicologico e a q u e l e que d e s c r e v e o infanticidio c o m o crime c a u s a d o por motivo da d e f e s a d a h o n r a . E m nosso o r d e n a m e n t o juridico, e s s e criterio foi utilizado pela revisao do anteprojeto de Nelson Hungria q u e resultou o C o d i g o Penal de 1969.

U m a m e l h o r n o m e n c l a t u r a para este criterio seria "Sociopsicologico", pois o motivo de honra nada m a i s e q u e a perturbagao mental o c a s i o n a d a a partir de u m p r o b l e m a social, no caso e m e s t u d o , a d e f e s a d a honra f e m i n i n a .

Na legislagao estrangeira, t e m - s e e x e m p l o s varios.

Na Bolivia, e m s e u artigo 2 5 8 , o C o d i g o Penal afirma q u e "La m a d r e que, para encubrir su fragilidad o d e s h o n r a , diere m u e r t e a su hijo d u r a n t e el parto o hasta tres d i a s d e s p u e s , incurrira en privacion de libertad de uno a tres anos".

(31)

E visto u m fator interessante. 0 supracitado artigo delimita u m e s p a c o t e m p o r a l para q u e o crime ocorra, no caso, tres dias. V e n c i d o este prazo, o crime nao e m a i s de infanticidio e sim o d e h o m i c i d i o .

Na legislacao penal da Costa Rica e vista a m e s m a delimitagao de t e m p o de tres dias d a carta penal boliviana, p o r e m c o m u m a pena maior: d e u m a seis anos. Ha t a m b e m u m a sutil diferenga: a "exaltagao" d a honra d o sujeito ativo, a f i r m a n d o e s s a d e v a ser d e boa f a m a , c o n f o r m e escrito no artigo 113, § 3°: "A la m a d r e de b u e n a f a m a q u e para ocultar su d e s h o n r a diere m u e r t e a su hijo dentro de los tres d i a s s i g u i e n t e s a su nacimiento."

N o Equador, a pena para o c r i m e de infanticidio, e x p o s t o no artigo 4 5 3 de sua carta penal nao e aplicada s o m e n t e a m a e . A p l i c a - s e t a m b e m a o s a v o s m a t e r n o s , c o m o visto a seguir:

La madre que por ocultar su deshonra matare al hijo recien nacido, sera reprimida con la pena de reclusion menor de tres a seis anos. Igual pena se impondra a los abuelos maternos que, para ocultar la deshonra de la madre, cometieren este delito.

E curiosa a previsao legal m e n c i o n a d a s u p r a , p o r e m , c o m o foi dito a n t e r i o r m e n t e , lato sensu, o infanticidio e o ato de matar u m a crianga. Nao importa quern seja. Se para proteger a h o n r a familiar, o c a u s a d o r d a m o r t e sao os pais da m a e d a crianga? Nota-se a i a p r e o c u p a g a o do legislador e q u a t o r i a n o e m proteger o motivo d a honra d a familia, aplicando a o s avos m a t e r n o s da crianga m o r t a a m e s m a pena d a m a e que c o m e t e este delito.

E m H o n d u r a s , a redagao do s e u artigo 123 e p r a t i c a m e n t e a m e s m a d a carta penal boliviana, p o r e m m a i s r e s u m i d a . A g r a n d e diferenga esta na p e n a , m a i s grave. Esta escrito: "La m a d r e q u e para ocultar s u d e s h o n r a da m u e r t e al hijo q u e no haya c u m p l i d o tres (3) d i a s de nacido, sera s a n c i o n a d a con seis (6) a n u e v e (9) a n o s de reclusion".

Por sua vez, o codigo penal m e x i c a n o e x p o e e m s e u artigo 3 2 7 a seguinte redagao:

(32)

Se aplicaran de tres a cinco anos de prision a la madre que cometiere el infanticidio de su propio hijo, siempre que concurran las siguientes circunstancias:

I. - Que no tenga mala fama;

II. - Que haya ocultado su embarazo;

III. - Que el nacimiento del infante haya sido oculto y no se hubiere inscrito en el Registro Civil, y

IV. - Que el infante no sea legitimo.

E m s e u s incisos, a carta penal m e x i c a n a mostra caracteristicas e c i r c u n s t a n c i a s especiais para q u e o c o r r a m o crime. A a g e n t e nao p o d e ter m a fama (I), e s c o n d e u sua gravidez (II), q u e o n a s c i m e n t o da crianga f o s s e e s c o n d i d o e este nao sera inscrito no Registro Civil (III)1 e q u e a crianga nao seja filho legitimo.

E m C u b a , o infanticidio e tratado c o m p e n a s mais s e v e r a s . A legislagao penal d o g o v e r n o de Fidel Castro trata o c r i m e e m e s t u d o c o m o a s s a s s i n a t o , s o b o prisma d o artigo 2 6 4 , aplicando as p e n a s d e s t e ultimo:

La madre que dentro de las setenta y dos horas posteriores al parto mate al hijo, para ocultar el hecho de haberlo concebido, incurre en sancion de privacion de libertad de dos a diez anos

2..3.2 Legislagoes que utilizam o Criterio Fisiopsicologico

C o m o foi dito a n t e r i o r m e n t e , o criterio fisiopsicologico ou criterio psicofisiologico e a q u e l e que o legislador patrio nao leva e m c o n s i d e r a g a o a honoris causa, isto e, o motivo de preservagao d a honra, e sim a a t e n u a g a o d a p e n a levando e m c o n s i d e r a g a o o desequilibrio fisiopsiquico d a mulher paturiente. E o criterio utilizado pela legislagao penal brasileira vigente, pois o seu artigo 123 faz m e n g a o a o " e s t a d o puerperal", u m tipo de perturbagao fisiopsicologica.

(33)

D e n t r e as legislagoes penais estrangeiras, existem varias q u e a d o t a m o criterio q u e evidencia a o c i s a o d a crianga devido ao e s t a d o de p e r t u r b a g a o mental m a t e r n a .

Na G u a t e m a l a , o codigo p e n a l , e m s e u artigo 129 tras a s e g u i n t e redagao:

La madre que impulsada por motivos intimamente ligados a su estado, que le produzcan indudable alteration psiquica, matare a su hijo durante su nacimiento o antes de que haya cumplido tres dias, sera sancionada con prision de dos a ocho anos.

V e - s e a i u m a descrigao a p r o x i m a d a da legislagao brasileira para a efetivagao d o c r i m e . Mostra a condigao psiquica d a m a e , p o r e m i m p o e u m limite t e m p o r a l para a realizagao do ato: tres dias.

O C o d i g o Penal de M a c a u trata o c r i m e de infanticidio s o b o p r i s m a de seu artigo 1 3 1 : "A m a e que matar o filho d u r a n t e o parto ou logo a p o s este, e s t a n d o sob a s u a influencia perturbadora, e p u n i d a c o m pena de prisao de 1 a 5 a n o s . "

Esta redagao e inteiramente b a s e a d a na Carta Penal de Portugal, q u e traz e m seu artigo 136: "A m a e que matar o filho d u r a n t e ou logo a p o s o parto e estando a i n d a s o b a s u a influencia p e r t u r b a d o r a , e punida c o m pena de prisao d e 1 a 5 a n o s . "

O t e r m o "influencia p e r t u r b a d o r a " e u m termo mais a b r a n g e n t e que "influencia do e s t a d o puerperal", pois este ultimo nada m a i s e q u e u m tipo de perturbagao m e t a l .

N o C a n a d a , u m a mulher c o m e t e infanticidio q u a n d o , por ato negligente ou o m i s s a o , c a u s a a morte do r e c e m - n a s c i d o . A f i r m a o codigo ainda q u e a a g e n t e , na hora d o ato ou o m i s s a o ela nao esta m e n t a l m e n t e recuperada d o s t r a n s t o r n o s do parto o u d o efeito de lactagao, c o n s e q u e n t e s d o n a s c i m e n t o d a crianga. A f i r m a o artigo 2 3 3 d o seu codigo penal:

A female person commits infanticide when by a wilful act or omission she causes the death of her newly-born child, if at the time of the act or omission she is not fully recovered from the effects of giving birth to the child and by reason thereof or of the effect of lactation consequent on the birth of the child her mind is then disturbed.

(34)

O C o d i g o Penal da Suiga a d o t o u o criterio fisiopsiquico e m toda a s u a pureza. S a b e - s e q u e este criterio deixa d e s e g u n d o piano a honoris causa, n a o distinguindo a gravidez legitima da ilegitima. A o inves d a impetus pudoris, pesa a i o impetus doloris.

O supracitado codigo traz a s e g u i n t e redagao e m s e u artigo 116:

La mere qui aura intentionellement tue son enfant pendant I'accouchement ou alors qu'elle se trouvait encore sous I'influence de I'etat puerperal sera punie de la reclusion pour trois ans au plus ou de I'emprisonnement pour six mois au moins.

Nelson Hungria ( 1 9 7 9 , p.245) afirma q u e esta redagao d o c o d i g o penal suigo influiu e m legislagoes d e outros p a i s e s , c o m o a D i n a m a r c a , Polonia, A r g e n t i n a (antes d a reforma), Brasil e P e r u . Este ultimo, por sinal, limitou-se a traduzir o dispositivo d a lingua francesa para a c a s t e l h a n a , c o m o visto a seguir na transcrigao d o s e u artigo 110:

La madre que mata a su hijo durante el parto o bajo la influencia del estado puerperal, sera reprimida con pena privativa de libertad no menor de uno ni mayor de cuatro anos, o con prestation de servicio comunitario de cincuentidos a ciento cuatro jornadas.

A A l e m a n h a , no r e v o g a d o1 artigo 2 1 7 d e sua legislagao p e n a l , c o m i n a v a u m a

pena d e reclusao d e tres a n o s o u u m a d e t e n g a o d e seis m e s e s a m a e q u e m a t a s s e , d u r a n t e o nascimento o u logo a p o s , s o b influencia d o e s t a d o pos-parto, v o l u n t a r i a m e n t e a s u a crianga.

Totet eine Mutter wahrend der Geburt oder solange sie unter dem Einfluss des Geburtsvorganges steht, ihr Kind vorsatzlich, so wird sie

(35)

mit Zuchthaus bis zu drei Jahren oder mit Gefangnis nicht unter sechs Monaten bestraft.

V e a i q u e o legislador a l e m a o entrava e m u m a certa "contradicao", pois c o m o a m a e m a t a v a v o l u n t a r i a m e n t e s e ela estava s o b influencia d e u m e s t a d o psiquico a n o r m a l ? Esta pode ter sido u m a d a s c a u s a s d e sua tardia revogagao.

2.3.3 Legislagoes q u e utilizam o Criterio Misto o u C o m p o s t o

O r e v o g a d o1 inciso 2° d o Artigo 81 d o C o d i g o Penal a r g e n t i n o trazia a

s e g u i n t e redagao:

Se impondra reclusion hasta tres anos o prision de seis meses a dos anos a la madre que para ocultar su deshonra, matare a su hijo durante el nacimiento o mientras se encontrara bajo influencia del estado puerperal y a los padres, hermanos, marido e hijos, que para ocultar la deshonra de su hija, hermana, esposa o madre, cometiesen el mismo delito...

Nota-se a i a utilizagao d o criterio misto d e conceituagao j u r i d i c a para o crime e m e s t u d o . A redagao d o inciso a c i m a e x p o s t o mostra q u e a m a e incide no crime q u a n d o tern o intuito de matar para e s c o n d e r d e s o n r a propria o u s o b r e a influencia do e s t a d o puerperal. O c r i m e t a m b e m s e e s t e n d e para o s p a r e n t e s p r o x i m o s da a g e n t e , m a s s o m e n t e , claro, para ocultar d e s o n r a desta ultima.

Hoje o infanticidio e m terras argentinas e tratado c o m a a n a l o g i a aplicada entre o s artigos 79 e 80 d o m e s m o codigo, q u e tratam do h o m i c i d i o :

Articulo 79 - Se aplicara reclusion o prision de ocho a veinticinco anos, al que matare a otro, siempre que en este Codigo no se estableciere otra pena.

Referências

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