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Academic year: 2021

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Benefícios alcançados por adultos que retornam à escola

Maurilio José Pereira

Mestre em Planejamento e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté (UNITAU); Professor de Ensino Superior na Faculdade de Tecnologia de Cruzeiro – Prof. Waldomiro May; Professor e Coordenador do curso técnico em Administração na Etec Pe. Carlos Leôncio da Silva; mauriliopereira@yahoo.com.br

Adriana Leônidas de Oliveira

Possui graduação em em Psicologia pela Universidade de Taubaté (1992), mestrado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000), doutorado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2005) e Pós-Doutorado em Administração de Empresas pela EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas). Atualmente é professor assistente doutor da Universidade de Taubaté, atuando como Diretora do Departamento de Psicologia e como professora no Programa de Pós-Graduação em Administração (Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional/Mestrado em Planejamento e Desenvolvimento Regional). Tem experiência na área de Psicologia da Saúde e Psicologia Organizacional e do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde da família, saúde do trabalhador, desenvolvimento humano e regional, gestão de pessoas, qualidade de vida, qualidade de vida no trabalho, cultura organizacional e interculturalidade.

Resumo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua saúde abrangendo questões biológicas, psicológicas e sociais e não somente ausência de doença. Assim como o conceito de saúde, o conceito de desenvolvimento envolve mais do que apenas o crescimento do PIB ou renda per capta, envolve também aspectos sociais, de igualdade de rendimentos, educação, saúde e qualidade de vida. Para que os conceitos de saúde e desenvolvimento possam se desenvolver plenamente, a educação tem papel fundamental, principalmente para os indivíduos adultos que retornam à escola. O objetivo desse artigo é analisar os benefícios alcançados por adultos que retornaram à escola, descrevendo o conceito de desenvolvimento humano e econômico, em sua perspectiva mais ampla, englobando conceitos de qualidade de vida, bem-estar físico, psíquico e social e apresentar dados e indicadores de indivíduos adultos que frequentaram a escola. Para isso foi realizado um estudo com objetivo descritivo, abordagem qualitativa e delineamento bibliográfico e documental, apresentando indicadores de desenvolvimento, relatos publicados de pessoas adultas que retornaram à escola sobre os benefícios alcançados, e também análise de relatório de uma instituição pública de ensino técnico sobre a perspectiva que levaram esses indivíduos a retornarem à escola. Pode-se concluir que os indivíduos adultos, ao retornarem à escola, desenvolvem habilidades que transformam suas vidas. As habilidades desenvolvidas são de aspectos biológicos, psicológicos, mas, principalmente, sociais.

Palavras-chave

Educação; Desenvolvimento Regional; Desenvolvimento Humano.

Abstract

The World Health Organization (WHO) conceptualizes health including biological, psychological and social issues and not merely the absence of disease. Just as the concept of health, the concept of development involves more than just growth of PIB or per capita income, it also involves social aspects, income equality, education, health and quality of life. For the concept of health and development can realize fully, education plays a fundamental role, principally for adults returning to school. The aim of this paper is to analyze the benefits achieved by adults returning to school, describing the concept of human and economic development, in its broader perspective, incorporating concepts of quality of life; physical, psychological and social well-being; and present data and indicators of adults who attended school. For this it was realized a study with a descriptive objective, qualitative approach and bibliographic and documentary design, featuring development indicators, published reports of adults who returned to school about the benefits achieved, and also report analysis of a public institution technical education from the perspective that led these individuals to return to school. It can be concluded that the adults, when they return to school, develop skills that transform their lives. The skills developed are biological, psychological, but mainly social.

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Education; Regional Development; Human Development.

Introdução

O conceito de saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), envolve muito mais do que a ausência de doença, mas inclui também a questão física ou biológica, psicológica e social. Ao pensar nesse conceito mais amplo de saúde, é possível relacioná-lo com o conceito de desenvolvimento, que também não se restringe somente a crescimento econômico, mas deve se levar em consideração aspectos como questões sociais, igualdade de rendimentos, renda, educação, saúde e como as pessoas participam e se relacionam em uma sociedade (FURTADO, 1980; MENDES, TEIXEIRA, 2004; SEN, 2000). E, ao pensar em saúde e desenvolvimento, nos conceitos mais amplos, pode-se remeter à qualidade de vida.

A educação e escolarização dos indivíduos são fatores primordiais para que possam se manter informados e obter conhecimento para agir ativamente na sociedade em que estão inseridos. No entanto, quando não se tem o desenvolvimento adequando, vários indivíduos são privados de educação quando jovens ou quando em idade regular de frequentar a educação básica. O Estado garante o acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA), estabelecida na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996. No entanto, ao retornarem à escola, já adultos, as dificuldades podem ser diversas, assim como os benefícios.

Um indicador que vem sendo bastante utilizado para mensurar o desenvolvimento é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). O IDHM é formado pela média geométrica de três itens: Renda, Longevidade e Educação. Apesar do IDHM brasileiro estar na faixa do alto desenvolvimento humano, o item Educação do IDHM do Brasil está na faixa do médio desenvolvimento, com 0,637, o que indica que ainda é preciso pensar na educação como uma área a ser estudada e melhorada no país.

A pesquisa abordou os conceitos sobre saúde e desenvolvimento, logo após procurou-se conceituar sobe a escolarização e a perspectiva social dos indivíduos adultos que retornam à escola. Em seguida foram apresentados alguns indicadores que podem ser utilizados para mensurar a qualidade de vida. Após essa conceituação teórica é apresentado o método utilizado, os resultados e discussões e as considerações finais, seguidas das referências utilizadas para a construção da pesquisa.

O objetivo desse artigo é analisar os benefícios alcançados por adultos que retornam à escola, descrevendo o conceito de desenvolvimento humano e econômico, em sua perspectiva mais ampla, englobando conceitos de qualidade de vida, bem-estar físico, psíquico e social e apresentar dados e indicadores de indivíduos adultos que frequentam ou frequentaram a escola.

Desenvolvimento humano

Desenvolvimento é uma questão que aborda diversos fatores. Ao se falar em Desenvolvimento Regional, é preciso destacar dois importantes conceitos: desenvolvimento econômico e desenvolvimento humano.

O desenvolvimento econômico é mais do que apenas o crescimento econômico e envolve aspectos relacionados a qualidade de vida, questões sociais, igualdade de

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rendimentos, renda, educação, saúde e como as pessoas participam e se relacionam em uma sociedade (FURTADO, 1980; MENDES, TEIXEIRA, 2004; SEN, 2000).

Furtado (1980, p. 2) afirma que como parte do desenvolvimento econômico está a ideia de progresso, evidenciando a preocupação com o futuro e a promessa de melhor bem-estar. "O progresso está inscrito no horizonte de possibilidades do homem, e o caminho para alcançá-lo é perceptível com base no sentido comum. Tudo se resume em dotar a sociedade de instituições que possibilitem ao indivíduo realizar plenamente suas potencialidades".

Sen (2000, p. 17, grifo nosso) coloca a liberdade como fator direto do desenvolvimento:

O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais restritas de desenvolvimento, como as que identificam desenvolvimento com crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço tecnológico ou modernização social. O crescimento do PNB ou das rendas individuais obviamente pode ser muito importante como um meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da sociedade. Mas as liberdades dependem também de outros determinantes, como as disposições sociais e econômicas (por exemplo, os serviços de

educação e saúde) e os direitos civis (por exemplo, a liberdade de participar

de discussões e averiguações públicas).

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) também relaciona a questão do bem-estar sendo influenciada pela liberdade. O bem-estar das pessoas é grandemente influenciado pelas liberdades mais vastas de que desfrutam e pela sua capacidade de reagir e recuperar da adversidade - natural ou obra do Homem (PNUD, 2014)

Percebe-se uma grande preocupação com o estar das pessoas. Para que esse bem-estar seja contemplado é preciso pensar em Desenvolvimento Humano, que para promover esse conceito é necessário, segundo o PNUD (2010), valores humanos, valores de vida e valores públicos. Esses valores são necessários para "ter paz nas nossas casas, na rua e ter esperança de futuro por meio de uma educação de qualidade" (PNUD, 2010, p. 85).

Quando se fala em esperança de futuro por meio de uma educação de qualidade, valores humanos, valores de vida e valores públicos, é preciso enfatizar que, para que tudo isso ocorra de maneira sinérgica e holística, a questão da saúde deve ser pensada como pilar de sustentação para que ocorra, de fato, o desenvolvimento humano e o desenvolvimento econômico.

A saúde é mais do que simplesmente a ausência de doença. Ela envolve qualidade de vida, bem estar social autoestima. A OMS possui o entendimento de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade (CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1946).

Nessa vertente, Gadelha et. al. (2011, p. 3005) afirmam que "as ações em saúde remetem para o padrão nacional de desenvolvimento econômico e social", apontando para a transversalidade da saúde, "o que demanda tanto a ampliação dos esforços e dos investimentos setoriais quanto a confluência e articulação entre diversas políticas".

Nessas concepções, é evidente que a saúde, no conceito da OMS, deve ser levada em consideração ao se pensar em uma sociedade mais digna, com mais qualidade de vida e bem-estar, dotada de capacidade para agir e reagir ativamente no contexto em que se está inserida.

No entanto, Gadelha et al. (2011) afirmam que é um reducionismo indesejável restringir a relação entre saúde e desenvolvimento apenas à vertente do capital humano, uma vez que há diversas relações entre esses campos. E que fazer essa restrição é não assumir o

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100 importante papel que os interesses sociais, econômicos, territoriais e políticos ocupam nas economias dos países. Enfatizam ainda que

A relação entre saúde e desenvolvimento é complexa, caracterizada por um processo social e político que requer, para sua análise, uma aproximação ao campo da economia política, uma vez que estão envolvidos interesses diversos: sociais, econômicos, territoriais e políticos. Estes, em seu conjunto, geram conflitos distributivos, formas diversas de organização e pactuação entre atores, disputas pela priorização do orçamento público nos distintos níveis de governo e relações entre o Estado e o setor privado, para citar algumas dimensões da complexidade inerente a este sistema (p. 3004).

Nessas diferentes perspectivas de desenvolvimento, Akerman (2008) aborda os principais substantivos e qualificativos de desenvolvimento a partir dos "descritores em ciências da saúde" da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que pode ser verificado no Quadro 1.

Quadro 1 - Principais substantivos e qualificativos sobre desenvolvimento e seus significados baseados nos descritores em ciências da saúde da BVS

Substantivos e qualificativos de desenvolvimento Sinônimos Definição Desenvolvimento Ecológico Desenvolvimento ambiental / Desenvolvimento e Meio Ambiente

Modalidade do desenvolvimento econômico que postula a utilização racional dos recursos naturais, para satisfazer as necessidades atuais e futuras, empregando uma tecnologia apropriada que não prejudique a natureza nem produza contaminação, e recicle ou reutilize materiais e recursos naturais.

Desenvolvimento da Comunidade

Promoção Comunitária

Correspondente a organização da vida comunitária em todos seus aspectos, em particular aos projetos de inovações e/ou aperfeiçoamento das instalações existentes em uma comunidade.

Desenvolvimento Econômico

Difere de crescimento econômico, que possui uma ótica mais expansionista e quantitativa; desenvolvimento econômico, de caráter mais evolucionista e qualitativo, estaria mais voltado para o aprimoramento das relações econômicas e da satisfação das necessidades e aspirações humanas e menos dirigidas para os fins econômicos, em si.

Desenvolvimento Humano

Mudanças sequenciais contínuas que ocorrem nas funções fisiológicas e psicológicas durante a vida do indivíduo (NLM). O processo de ampliação das opções das pessoas. As mais fundamentais consistem em viver uma vida longa e sã, ter educação e desfrutar de um nível de vida decente, liberdade, dignidade e respeito por si mesmo e pelos demais (Informe sobre desenvolvimento humano, PNUD, 1997).

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Desenvolvimento Regional

Orientação das políticas do Estado, no sentido de propiciar que as orientações do desenvolvimento nacional sejam decididas e executadas no âmbito regional, considerando elementos da atividade produtiva, padrões culturais e contemplando a participação dos atores, segundo um conceito de descentralização dos recursos e das decisões.

Desenvolvimento Social

Promover o desenvolvimento social é refutar a ideia de que somente o crescimento econômico possa gerar melhorias nas condições de vida através da teoria do “gotejamento”, ou que “só com o crescimento do bolo” é que se pode levar benefícios aos mais pobres. Com isso, entende-se o desenvolvimento não só como melhoria do capital econômico (fundamentos da economia, infraestrutura, capital comercial, capital financeiro etc.) mas também como melhoria do capital humano (capacitação e qualificação das pessoas) e do capital social (valores partilhados, cultura, capacidades para agir sinergicamente e produzir redes e acordos voltados para o interior da sociedade).

Desenvolvimento Sustentável Crescimento Econômico Sustentado / Economia Sustentável

Estratégia para o desenvolvimento econômico e social que implica a satisfação das necessidades básicas das gerações atuais sem entorpecer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas.

Desenvolvimento

Urbano Reforma urbana

A melhoria planejada de uma área urbana deteriorada e que envolve reconstrução, renovação ou restauração. Frequentemente se refere a programas de demolição principal e reconstrução de áreas arruinadas.

Fonte: Akerman (2008, p. 48)

Como se observa no Quadro 1, os diversos substantivos, adjetivos e definições para o desenvolvimento, torna ainda mais complexa a relação com a saúde. Neste artigo o significado de desenvolvimento estará mais relacionado a Desenvolvimento Econômico, Humano, Regional e Social, pois abordará a questão da qualidade de vida, a questão da educação e sua relação com o empoderamento das pessoas para participar ativamente da sociedade em que estão inseridos, bem como os benefícios para os indivíduos adultos que retornam à escola.

A escolarização e a perspectiva social dos indivíduos adultos que

retornam à escola

O acesso à educação é um direito de todos, garantido pela Constituição da República Federativa do Brasil, que objetiva garantir o acesso a todos os cidadãos, independentemente de condições socioeconômicas.

Art.206 - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

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102 II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. (BRASIL, 1988).

A constituição ainda vai além, quando no inciso I do artigo 208, diz que é dever do Estado a garantia de "educação obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria".

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), estabelecida pela Lei nº 9.396, de 20 de dezembro de 1996, também estabelece regras para a oferta da educação básica, inclusive para os que não tiveram acesso na idade própria:

Art. 4º - O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

I - ensino fundamental, gratuito e obrigatório, inclusive para os que a ele

não tiveram acesso em idade própria;

[...]

VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, 1996, grifo nosso).

Diante das Leis que estabelecem o direito à educação, o parecer aprovado, em 10 de maio de 2000, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), através da Câmara de Educação Básica (CEB) - Parecer CNE/CEB 11/2000 - faz algumas considerações importantes a respeito da Educação de Jovens e Adultos (EJA):

A universalização dos ensinos fundamental e médio libera [sic] porque o acesso aos conhecimentos científicos virtualiza uma conquista da

racionalidade sobre poderes assentados no medo e na ignorância e possibilita o exercício do pensamento sob o influxo de uma ação sistemática. Ela é também uma via de reconhecimento de si, da auto-estima [sic] e do outro como igual. De outro lado, a universalização do

ensino fundamental, até por sua história, abre caminho para que mais

cidadãos possam se apropriar de conhecimentos avançados tão necessários para a consolidação de pessoas mais solidárias e de países mais autônomos e democráticos. (BRASIL, 2000, p. 8, grifo nosso).

Observa-se que na própria legislação a respeito da EJA, menciona-se critérios a respeito do conceito de saúde, em sua perspectiva mais ampla, como por exemplo, a autoestima, já mencionada pela OMS, a conquista de poderes e racionalidade, o tratamento do outro como igual, da solidariedade e de pessoas mais autônomas, mencionados nos diversos conceitos de desenvolvimento, já apontados nesse artigo.

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Singer (1996) comenta sobre o propósito da educação de proporcionar motivação que lhe permita o engajamento coletivo para tornar a sociedade mais igualitária, tornando o indivíduo liberto para prosseguir os estudos, sozinho ou coletivamente.

Ainda sobre a questão de autonomia, liberdade e de capacidade de aprendizado, Freire (1977) coloca que a educação é necessária para que o oprimido se liberte e que leve o indivíduo a uma reflexão, recuperando sua humanidade.

Percebe-se uma concordância entre Sen (2000), Singer (1996) e Freire (1977), em relação ao poder da educação em proporcionar o desenvolvimento, em diversas definições já apresentadas, principalmente em dotar os indivíduos de confiança, liberdade, autoestima, bem-estar e empoderamento para viver e participar ativamente de uma sociedade.

Coura (2007) ao estudar sobre a terceira idade na EJA afirma que os idosos possuem diversos motivos para retornar à escola, sentindo-se inseguros para ocupar um banco escolar em razão do pensamento deles de que a sociedade não os aceitaria. E, com o passar dos dias frequentando a escola, eles podem ampliar seu conhecimento, sentirem-se mais seguros diante de situações do cotidiano e até para conversar com outras pessoas, além de aumentar a expectativa em relação aos estudos, que inicialmente era de apenas aprender e ocupar o tempo ocioso, passa a ser a de conclusão do ensino médio e até mesmo ingressar no ensino superior.

A autora ainda acrescenta que o principal motivo que fizeram os indivíduos da terceira idade, investigados em sua pesquisa, frequentarem a EJA foi "poder realizar o sonho de estudar, que os acompanhava desde infância" (p. 111). E que os argumentos utilizados para que esses indivíduos não concluíssem os estudos quando jovens foram a falta de escolas públicas, problemas financeiros e familiar, além de necessidade de trabalhar para ajudar no sustento de suas famílias.

O trabalho de Bruno (2011) corrobora com essa realidade, reforçando o papel da escola e do meio social do processo formativo. Enfatiza ainda que, em algumas regiões, os baixos salários recebidos pelos pais levam os jovens a trabalharem mais cedo, afastando-os da escola.

Em se tratando da capacidade que a escola tem de fazer com que as pessoas se relacionem melhor com o outro, fortalecendo o desenvolvimento social e humano, e aumentando a expectativa em relação ao próprio potencial do indivíduo, aumentando o empoderamento das mesmas, Coura (2007, p. 113) afirma que os indivíduos "ao frequentarem a escola, descobriram-se capazes e, renovando sua auto-imagem [sic], as expectativas quanto à própria escolarização começaram a ser ampliadas. Perceberam-se como capazes de aprender e, assim, puderam deixar aflorar sonhos de 'voar mais alto'”. A autora, ao analisar a entrevista de um indivíduo, cujo nome apresentado na pesquisa não corresponde ao real, afirma que

A relação de amizade estabelecida é, às vezes, de tanto carinho que alguns, como é o caso de Ivan, consideram que os amigos da escola fazem parte de sua família. Se ao buscarem uma escolarização esperam ter acesso a conteúdos escolares, acabaram encontrando muito mais. Seja através de festas, trabalhos de campo ou atividades tradicionais do cotidiano escolar, a escola vem mudando a vida destes sujeitos de forma significativa (p. 114). A perspectiva social, proporcionada pela educação é evidente em qualquer faixa etária. No entanto, para os indivíduos adultos que retornam à escola, tem um significado diferente, pois os mesmos foram privados desse direito quando jovens ou quando em idade própria. A partir da oportunidade e a procura desses indivíduos pela escolarização, o aumento da perspectiva social tende só a aumentar, proporcionando uma maior qualidade de vida, como evidenciando no trabalho de Coura (2007).

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104 A qualidade de vida é um estado que pode ser difícil de mensurar. No entanto, há alguns indicadores criados para que essa dificuldade possa, ao menos, ser amenizada.

Indicadores de desenvolvimento e qualidade de vida

Indicador é uma medida de mensuração de um determinado item. Em questões de saúde, numa concepção apenas de ausência de doenças, pode-se observar o número mortalidade infantil numa determinada região; a expectativa de vida; o número de hospitais; o número de casos de doenças, por exemplo. No entanto, ao se deparar com a definição mais ampla, principalmente em relação a questão da qualidade de vida, o que poderia se mensurar para evidenciar a saúde dos indivíduos? A resposta não é simples, nem será esgotada nesse artigo. O que se pretende aqui é apresentar alguns indicadores, já estudados e utilizados pela sociedade, como um instrumento de verificar uma melhora ou um estado de saúde, principalmente em relação a qualidade de vida, de determinada região.

Gadelha et. al. (2011) afirma que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o indicador de referência mais utilizado nas análises comparativas do grau de desenvolvimento dos Estados nacionais. Minayo, Hartz, Buss (2000) concordam com Gadelha et. al. (2000) e acrescentam que essa ampla utilização se dá pela facilidade na obtenção dos índices que o compõem na maioria dos países e regiões do mundo, o que garante a aplicabilidade em realidades totalmente diversas.

O IDH é uma medida do PNUD, de longo prazo, e que contempla três dimensões: renda, educação e saúde. É uma medida que foi criada em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB), que leva em consideração apenas as riquezas econômicas produzidas em um país. No entanto o próprio PNUD ressalta que o IDH não abrange todos os aspectos do desenvolvimento e "não é uma representação da 'felicidade' das pessoas, nem indica 'o melhor lugar do mundo para se viver'". O PNUD ainda coloca outros aspectos que contemplam o desenvolvimento: democracia, participação, equidade, sustentabilidade e muitos outros.

As dimensões que contemplam o IDH são mensuradas da seguinte forma:

Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida; O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança;

E o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência. (PNUD, s. d., grifo nosso).

O índice também recebe algumas críticas, inclusive do próprio PNUD, responsável pela elaboração desse indicador. No entanto, apesar das críticas, consideradas justas por Minayo, Hartz, Buss (2000), o IDH tem sido bastante utilizado e inspirado outros como o Índice de Condições de Vida (ICV), desenvolvido pela Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte, em consórcio com o IPEA, o IBGE e o PNUD; o Índice de Qualidade de Vida (IQV) de São Paulo, criado pelo jornal Folha de S. Paulo, que inclui um conjunto de nove fatores (trabalho, segurança, moradia, serviços de saúde, dinheiro, estudo, qualidade do ar, lazer e serviços de transporte); e o IQV de Belo Horizonte (IQV/BH) criado a partir de um

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levantamento das questões consideradas relevantes pela população e tendo como objetivo fundamentar os debates públicos sobre o orçamento participativo. (MINAYO, HARTZ, BUSS, 2000).

Do indicador IDH, foi criado o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Segundo o PNUD, o IDHM brasileiro segue os mesmos padrões do IDH Global, que adequa metodologia utilizada para o contexto brasileiro e que apesar de medir os mesmos fenômenos são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros.

Como medida de verificação e mensuração do desenvolvimento, o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil adota as seguintes faixas de desenvolvimentos humano municipal:

 IDHM entre 0 – 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano;  IDHM entre 0,500-0,599: Baixo Desenvolvimento Humano;  IDHM entre 0,600 - 0,699: Médio Desenvolvimento Humano;  IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano;  IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto

Vale ressaltar que “as faixas de Desenvolvimento Humano Municipal não seguem as faixas do IDH Global e foram adaptadas para contextualizar melhor a realidade brasileira” (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, s. d.).

Não será objeto de discussão desse artigo se o IDH ou o IDHM é ou não suficiente para mensurar o desenvolvimento de um município ou região. Já foi exposto que não. No entanto, como foco do artigo se dá em relação aos benefícios alcançados dos indivíduos adultos que retornam à escola, analisar um indicador que contemplem a educação, a saúde e a renda parece ser um bom início para representar, em termos de qualidade de vida, o bem-estar social desses indivíduos.

Metodologia

O artigo abordou o assunto sobre o perfil sociodemográfico de indivíduos adultos que retornam à escola e análise dos benefícios por eles alcançados através de estudo com objetivo descritivo, abordagem qualitativa e delineamento bibliográfico e documental.

Para Oliveira (2007, p. 188), a abordagem qualitativa “busca entender significados, interações, dinâmicas ou processos inerentes a um fenômeno” e “não busca ‘descobrir’ a realidade objetiva de seu objeto de estudo, mas tem em mente que tal conhecimento será construído na relação pesquisador-pesquisado”.

A pesquisa bibliográfica é definida por Severino (2007, p. 122) como sendo a análise de materiais já publicados por outros autores como livros, revistas, teses, jornais. A pesquisa documental é aquela que tem como fonte “documentos no sentido amplo, ou seja, não só de documentos impressos, mas, sobretudo de outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais”. O autor ainda complementa que o conteúdo desses documentos servirá de matéria-prima para que o pesquisador faça suas investigações e análises.

A pesquisa foi desenvolvida em três etapas: (i) revisão teórica, a partir de livros e artigos científicos, com a finalidade de embasamento teórico a respeito do conceito de desenvolvimento humano, perspectiva e benefícios sociais alcançados por indivíduos que retornam à escola e indicadores de desenvolvimento e qualidade de vida; (ii) busca de dados e

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106 informações nos documentos publicados pelos órgãos oficiais dos principais indicadores de desenvolvimento, bem como buscou-se em outros trabalhos científicos o relato de pessoas adultas que retornaram à escola e os benefícios alcançados; (iii) busca de dados internos de uma instituição pública de ensino técnico da cidade de Lorena, buscando analisar os motivos que levaram os indivíduos adultos a retornarem à escola, escolher determinado curso e também em relação à sua perspectiva de ingresso no ensino superior. Esse estudo é desenvolvido por meio de um questionário que os alunos ingressantes respondem nos primeiros dias de aula. Foram utilizados como amostra, de forma aleatória, os alunos ingressantes no ano de 2015. O objetivo do estudo desenvolvido pela instituição é conhecer o perfil socioeconômico dos alunos ingressantes para que a mesma possa pensar em estratégias de ensino e aprendizagem. Buscou-se as respostas de indivíduos de 26 a 35 anos e de indivíduos com mais de 35 anos. Essas faixas etárias foram escolhidas por serem as opções de respostas do questionário que representam indivíduos que não estão em idade regular para os ensinos fundamental e médio. Também corresponde à faixa etária que compõe o item Educação, analisado pelo IDH (número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos).

Resultados e discussão

Indicadores de educação e desenvolvimento

A cidade de Lorena é uma das 39 que compõem a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), situada a aproximadamente 200 km da capital do Estado, São Paulo (GOOGLE MAPS, 2016). A Tabela 1 apresenta alguns indicadores demográficos de educação da cidade, em comparação com a capital, São Paulo.

Tabela 1 – Dados demográficos das cidades de Lorena e São Paulo e do Brasil.

Indicador Brasil São Paulo Lorena

População estimada para o ano de 2015 204.450.649 44.396.484 87.178 Pessoas de 10 anos ou mais de idade, sem instrução

e fundamental incompleto 14.974.003 27.641

Pessoas de 25 anos ou mais de idade, residentes em domicílios particulares, fundamental completo e médio incompleto, cônjuge ou companheiro(a)

1.940.153 2.622

Pessoas de 25 anos ou mais de idade, residentes em domicílios particulares, sem instrução e fundamental incompleto, cônjuge ou companheiro(a)

3.192.044 5.137

Pessoas que frequentavam alfabetização de jovens e

adultos 165.406 86

Pessoas que frequentavam educação de jovens e

adultos do ensino fundamental 356.658 620

Pessoas que frequentavam educação de jovens e

adultos do ensino médio 388.930 711

População residente que nunca frequentou creche ou

escola 2.966.325 5.335

Fonte: Elaborada pelos autores, baseado em IBGE (s. d.); IBGE (2010)

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documento analisado não traz os resultados em números absolutos, mas em porcentagem. No entanto o censo demográfico, quando consultado em níveis de Brasil, apresenta informações com mais detalhes e notas explicativas. Para essa pesquisa, os dados referentes apenas ao município de Lorena já seriam suficientes.

Vale destacar nos resultados apresentados os dados referentes às pessoas sem instrução e com fundamental incompleto, indicando claramente que são pessoas que podem se beneficiar da EJA. Destaca-se o indicador “População que nunca frequentou creche ou escola”, com 5.335 pessoas, representando 6,5% da população do município em 2010. A tabela apresenta também que, em 2010, 1.417 pessoas frequentavam alguma modalidade da Educação de Jovens e Adultos.

O cenário da modalidade de ensino EJA, no ano de 2015, para as regiões analisadas é apresentado na Tabela 2, conforme dados do censo escolar:

Tabela 2 – Número de matrículas iniciais na modalidade EJA no Brasil e no estado de São Paulo, no ano de 2015*

Matrícula inicial EJA presencial

Brasil São Paulo Lorena

Fundamental Médio Fundamental Médio Fundamental Médio Estadual Urbana 462.549 879.244 22.820 138.403 19 320 Estadual Rural 41.085 27.204 259 313 0 0 Municipal Urbana 1.013.026 15.127 127.314 6.224 146 0 Municipal Rural 352.766 1.757 367 0 0 0 Total Estadual e Municipal 1.869.426 923.332 150.760 144.940 165 320

Fonte: Elaborada pelos autores, baseados em dados do INEP (2015)

* Os resultados referem-se à matrícula inicial na Educação de Jovens e Adultos presencial Fundamental e Médio (incluindo a EJA integrada à educação profissional) das redes estaduais e municipais, urbanas e rurais em tempo parcial e integral e o total de matrículas nessas redes de ensino.

A Tabela 2 demonstra que o número de matriculados na EJA é bem pequeno se comparado à população estimada da cidade, e também aos dados do Censo de 2010. Vale, no entanto, enfatizar que a base de dados é diferente, sendo a da Tabela 2 retirado do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). É interessante também verificar que todos os alunos matriculados na EJA são residentes da zona urbana e que a maioria dos alunos (66%) frequenta o ensino médio.

Diante dos dados apresentados, vale dizer que há indícios de que ainda há pessoas no município de Lorena que poderiam estar frequentando a Educação de Jovens e Adultos, mas que ainda não estão. Partindo do princípio dos autores consultados para a elaboração desse artigo, é possível afirmar que essas pessoas estão deixando de ter uma qualidade de vida melhor e também deixando uma oportunidade de aumentar a autoestima e de ter uma liberdade interior. (SEN, 2000; FURTADO, 1980; FREIRE, 1977; OMS, 1946; SINGER, 1996)

Como o desenvolvimento, em sua concepção mais ampla e englobando as diversas definições apresentadas no Quadro 1 (p. 4-5), pode ser mensurado parcialmente, como já citado, através do IDH e IDHM, esse indicador é apresentado na Tabela 3.

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Tabela 3 - IDHM do Brasil, do Estado de São Paulo e da cidade de Lorena.

IDHM IDHM Renda 2010 IDHM Longevidade 2010 IDHM Educação 2010 Ranking BRASIL 0,727 0,739 0,816 0,637 75 de 188 SÃO PAULO 0,783 0,789 0,845 0,719 2 de 27 LORENA 0,766 0,736 0,856 0,713 131 de 645 municípios no Estado; 274 de 5.565 municípios no Brasil

Fonte: Elaborada pelos autores, baseado em PNUD (2013) e Portal ODM

O IDHM de Lorena é maior que o do país e menor do que o estado de São Paulo, com destaque para o item Longevidade que é o maior das três regiões analisadas e também para o item Renda que é o menor dos três. O item educação acompanha o IDHM ficando superior ao do Brasil e abaixo do estado de São Paulo.

Vale destacar também o item Educação do Brasil, pois é o único item que se situa na faixa de médio desenvolvimento humano, porém o IDHM de todas as regiões analisadas se situa na faixa de alto desenvolvimento humano.

O fato de o item Educação estar abaixo da faixa de alto desenvolvimento humano, significa que é preciso pensar em situações e políticas públicas para tentar reverter a situação, como destaca Gadelha et al. (2011). Nesse aspecto, pensar em educação, seja ela na modalidade regular ou na EJA, foco desse artigo, sempre serão necessárias discussões e estudos a respeito.

Pessoas adultas (idosas) que retornaram à escola e os benefícios

alcançados

Para expressar os benefícios mais subjetivos alcançados pelos indivíduos adultos que retornam à escola, são apresentadas nos próximos parágrafos, as principais conclusões e alguns depoimentos publicados na dissertação de Isamara Martins Coura, intitulada A TERCEIRA IDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: expectativas e motivações, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 2007.

Um dos aspectos apontados pela autora é de que a volta aos bancos escolares proporcionou, através da vivência e espaço escolares, melhorias de relacionamentos com os familiares, seja pelas caronas necessárias ou pela ajuda no desenvolvimento das atividades escolares ou ainda por dar subsídios teóricos para participarem de conversas e discussões a respeito de assuntos atuais, ampliando o diálogo com a família. A escola também tem promovido autoconfiança, o que pode ser observado nas falas de Elvira e Isabel, nomes fictícios utilizados por Coura (2007, p. 115) para identificar os indivíduos estudados por ela:

Eu fico mais tranqüila, né? Tenho mais segurança, não fico tão tímida. Até mesmo quando tem reunião em família, assim, eu já converso. Não sou

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assim de me intrometer muito não. Mas se é um assunto que eu acho que eu posso entrar, eu converso e “troco idéias”, não fico assim mais no cantinho igual eu ficava. .(Elvira)

É, eu tinha muito acanhamento de participar assim, de uma conversa. Não junto com os meus filhos, porque pelo contrário, eu sempre cheguei perto deles e perguntava: “O que é isso?” Que palavra é essa? “Como é que escreve isso?”. Então assim, igual hoje, vai juntar uma turma aí, né? Tem professor disso, daquilo, daquilo outro e tal, e eu hoje não tenho acanhamento de sentar no meio deles. Então eu fiquei muito mais desinibida depois que eu comecei a estudar. E mesmo feliz, né? (Isabel)

Esses depoimentos direcionam a mudança de comportamento, promovendo um desenvolvimento social, não só em família, mas em qualquer ambiente frequentado por eles. Essa mudança é resultado dos benefícios alcançados por esses indivíduos.

Um outro benefício apontado por Coura (2007, p. 119) é a reativação da memória, citando a fala de Claudina: "Menina, a saúde da gente é outra! A escola para mim é uma

terapia, sabe? Eu melhorei." e também a fala de Ivan: "Eu estava esquecendo as coisas, sabe como é? Eu acho que os neurônios estavam queimando. Até hoje eu ainda falo na aula que eu tenho uma dificuldade assim, de gravar, de guardar as coisas. Mas já está reativando novamente." Esses depoimentos apresentam, na prática, o conceito de saúde da OMS, em que

demonstra, claramente, a qualidade de vida proporcionada pela volta à escola. Entre as conclusões que a autora chega, vale destacar:

Freqüentar uma instituição escolar vem provocando uma transformação na vida destas pessoas no âmbito físico, psicológico e social. No âmbito físico tornou suas vidas mais dinâmicas e mais saudáveis. No plano social desenvolveu suas relações interpessoais fazendo com que conquistassem novos amigos e, através da participação em variados eventos, lhes proporcionou mais segurança e desenvoltura para atuar cada vez mais na sociedade em que vivem. Já em relação ao aspecto psicológico melhorou a imagem que tinham de si mesmos garantindo, assim, uma auto-imagem mais elevada. Todos estes aspectos transformaram a visão de mundo que essas pessoas tinham e fez com despertassem nelas novas expectativas e novos desejos frente à vida. (COURA, 2007, p. 123, grifo nosso) [sic].

Esses resultados evidenciam que o retorno à escola promoveu mudanças significativas na vida dos indivíduos que retornaram. Os benefícios foram além do aprendizado de conteúdo, mas potencializaram o poder de relacionamento e de participar ativamente da sociedade em que estão inseridos.

Perspectivas de indivíduos adultos que retornaram a uma escola

técnica

A escola técnica também pode representar um local de indivíduos adultos que retornam à escola, de acordo com o Parecer CNE/CEB/11/2000 - Sobre as diretrizes curriculares para educação de jovens e adultos:

Sob o novo quadro legal, a existência de iniciativas que já faziam a articulação entre formação profissional e educação de jovens e adultos

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110 implica que a relação entre ensino médio e educação profissional de nível técnico se dê de modo concomitante ou seqüencial. O ingresso de um estudante na educação profissional de nível técnico, supõe a freqüência em curso ou término do ensino médio, tanto quanto o diploma daquela supõe o certificado final deste [sic] (BRASIL, 2000).

Para expressar as perspectivas de indivíduos que retornam à escola, optou-se por utilizar o relatório de uma instituição pública de ensino técnico, da cidade de Lorena, sobre o perfil socioeconômico dos alunos ingressantes nessa instituição. A instituição possuía, no ano de 20151, cerca de 600 alunos, sendo a maioria deles do próprio município, mas também há aluno de cidades vizinhas, como Cachoeira Paulista, Canas, Guaratinguetá, Cruzeiro. A instituição possui cursos técnico integrados ao ensino médio e também cursos modulares, foco dessa pesquisa. Atualmente são oferecidos os cursos técnicos integrados ao ensino médio em Administração, Informática para Internet, Serviços Jurídicos e Marketing; e os cursos técnicos modulares em Administração, Informática para Internet Logística, Segurança do Trabalho e Serviços Jurídicos. Esse estudo é desenvolvido por meio de um questionário que os alunos ingressantes respondem nos primeiros dias de aula. O objetivo do estudo feito pela instituição é conhecer o perfil socioeconômico dos alunos ingressantes para que a instituição possa pensar em estratégias de ensino e aprendizagem.

No questionário utilizado pela instituição, pode-se identificar duas questões que podem remeter à ideia de futuro dos indivíduos que estão ingressando, conforme é demonstrado no Quadro 2:

Quadro 2 - Questões que podem remeter à ideia de futuro dos alunos ingressantes nos cursos modulares de ensino técnico na instituição pesquisada

Questão Alternativas de respostas

Por que você escolheu esse curso?

Para seguir carreira na área; Alta empregabilidade;

Influência dos familiares; Influência de amigos; Gosta da área;

Já trabalha na área;

Qualidade dos cursos oferecidos pela instituição;

Outros.

Sobre o ensino superior (faculdade), assinale a alternativa que mais se adéqua à essa situação

Pretende fazer uma faculdade depois de concluir os estudos na instituição;

Em caso de aprovação em algum vestibular, você desistiria do curso na instituição;

Não pretende fazer faculdade

Fonte: Elaborado pelos autores, baseado em dados internos da instituição (2015)

Na primeira questão, uma das oito alternativas de resposta, remete à ideia de futuro: Para seguir carreira na área. Para a segunda questão, as duas primeiras alternativas foram agrupas como intenção de fazer uma faculdade.

O questionário é aplicado sempre que há alunos ingressantes na instituição, que no caso dos cursos modulares ocorre nos meses de fevereiro e julho. Para fins desse artigo, foram

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utilizados os dados dos alunos ingressantes no primeiro e no segundo semestre de 2015, que são apresentados na Tabela 4 e Figura 1:

Tabela 4 – Indivíduos adultos que ingressaram em uma instituição pública de ensino técnico

Homens Mulheres Escolheu o curso para seguir carreira na área Pretende fazer uma faculdade após concluir os estudos na instituição Não pretende fazer faculdade De 26 a 35 anos 24 32 38 45 8 Mais que 35 anos 20 13 17 27 6 SUB-TOTAL 44 45 TOTAL GERAL 89 55 72 14

Fonte: Elaborada pelos autores, baseado em dados internos da instituição (2015)

No ano de 2015, ingressaram 320 alunos na instituição. Os indivíduos com 26 anos ou mais representam 28% desse total. Em relação ao gênero, é igual o número de homens e mulheres nessa faixa etária que ingressaram na instituição em 2015. A Tabela 1 evidencia que não há interferência de gênero na hora de ingressar na escola técnica, no entanto há mais mulheres na faixa etária de 26 a 35 anos, e mais homens na faixa etária acima de 35 anos. Apesar das diferenças, não há impacto sobre a expectativa de futuro, uma vez que 81% dos ingressantes pretendem cursar o ensino superior.

Figura 1 - Indivíduos com 26 anos ou mais cujas respostas indicam uma perspectiva de futuro

Fonte: Elaborado pelos autores, baseados em dados internos da instituição (2015)

A Figura 1 indica que 39% dos indivíduos com 26 anos ou mais responderam que pretendem seguir carreira na área do curso escolhido. Esse número é bastante representativo, pois na pergunta havia, no total, sete alternativas. Indica também que mais da metade desses

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112 indivíduos ainda pretendem ingressar no ensino superior e apenas 10% não pensam em ingressar no ensino superior.

Fica evidente que os indivíduos, ao retornarem à escola, tem uma perspectiva que vai além do que pode encontrar nos espaços e convivências escolares. O fato de querer ingressar no ensino superior ou seguir uma carreira na área em um curso que está começando demonstra esse pensamento nos indivíduos pesquisados pela instituição.

Considerações finais

Este artigo teve como objetivo traçar o perfil sócio demográfico de adultos que retornam à escola e analisar os benefícios proporcionados por essa retomada aos estudos, descrevendo o conceito de saúde, em sua perspectiva mais ampla, englobando conceitos de qualidade de vida, bem estar físico, psíquico e social e apresentar dados e indicadores de indivíduos adultos que frequentam ou frequentaram a escola.

Desenvolvimento regional e humano têm conceitos mais amplos e estão relacionados com aspectos de educação, saúde, renda, escolaridade, liberdade, empoderamento e capacidade de agir de forma autônoma e independente na sociedade em que o indivíduo esteja inserido. O conceito de saúde ainda envolve aspectos relacionados a bem-estar físico, psicológico e social e não somente ausência de doenças.

Os indivíduos adultos, ao retornarem à escola, desenvolvem habilidades que transformam suas vidas. As habilidades desenvolvidas são de aspectos biológicos, quando, na pesquisa de Coura (2007) há relatos de ganho de memória; aspectos psicológicos, quando se sentem empoderadas para perguntar algo ou participar de discussões com os familiares; e sociais, quando percebem a melhora do relacionamento com os familiares e as amizades desenvolvidas nos espaços escolares.

Quando tem a iniciativa de retornar à escola, os indivíduos apresentaram pensamentos de que aquilo não era o fim, mas o recomeço de uma nova etapa da vida, como pode ser observado nos indivíduos adultos que retornaram à escola técnica analisada e também ao relato de um indivíduo que mencionou a esperança de ingressar no ensino superior, no trabalho de Coura (2007).

Jovens e adultos que buscam a formação profissional também veem no retorno aos bancos escolares, uma expectativa de futuro, uma vez que muitos pensam em seguir carreira na área e/ou ingressar no ensino superior, demonstrando a prática do recomeço.

Apesar de não representar fielmente o desenvolvimento de uma região, o IDH foi analisado nesse trabalho por apresentar dentre os itens que o compõem a saúde e a educação. Nesse último, pode-se verificar que o Brasil apresenta médio desenvolvimento, enquanto que nos outros índices o país está na faixa de alto desenvolvimento. É preciso analisar conjuntamente outros indicadores de desenvolvimento. Alguns dos possíveis indicadores foram apresentados nesse trabalho (ICV, IQV e IQV/BH), porém não foram aprofundados. Cabe uma análise mais profunda para relacionar a educação, a saúde e o desenvolvimento utilizando esses indicadores.

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