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O ensino de história para deficientes visuais e os recursos didáticos adaptados Maria Farias Viana i

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Academic year: 2021

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O ensino de história para deficientes visuais e os recursos didáticos adaptados

Maria Farias Vianai

Introdução

O ensino de História sempre foi considerado um desafio para os educadores, visto que é abrangente, complexo e de difícil conexão entre o tempo real e a época histórica a ser ensinada em sala de aula. Não é raro encontrar docentes que ainda limitam seu planejamento e o preparo das aulas utilizando-se da cronologia tradicional numa perspectiva da História Positivista, corrente filosófica que surgiu em meados do século XIX e que pressupunha que o conhecimento científico era o único válido para toda a sociedade. Hoje partilhamos da ideia que o grande desafio está em estabelecer o diálogo entre o passado e o presente e ao mesmo tempo perspectivar o futuro, ou seja, procurar, a partir da consciência histórica, alternativas de atribuir sentido à vida prática dos sujeitos.

Para explorar o potencial transformador do ensino de História, cabe ao professor elaborar estratégias didáticas que facilitem a aproximação dos conteúdos com o cotidiano dos alunos sendo que estas devem ter como ponto de partida os conhecimentos prévios que os alunos possuem acerca de determinada temática e ao mesmo tempo criar condições para que estes possam fazer inferências e elaborar novas narrativas acerca de determinado contexto histórico. Dessa forma, a História deixará de ser distante, cansativa e presa a memorizações, aumentando o interesse pela aquisição do conhecimento. Fazendo com que o educando seja capaz de estabelecer relações com o mundo em que vive, percebendo-se sujeito ativo do processo histórico e social.

Objetivo

Este trabalho tem por objetivo, discutir a importância do uso de recursos didáticos adaptados em aulas de História para deficientes visuais. Percebe-se que a inclusão, por medida legal, do deficiente físico no espaço escolar não foi suficiente para incluí-lo no processo de ensino aprendizagem visto que as práticas pedagógicas até então utilizadas, na sua grande maioria, não oportunizam à este público condições de realização de uma aprendizagem significativa.

A educação até o século XVIII era direcionada a crianças e jovens consideradas perfeitas e de família com poder aquisitivo favorável. Para a sociedade da época, criança que nascia com algum defeito era visto como uma abominação, um erro da natureza que deveria ser eliminado. Para essas pessoas eram dados dois tipos de tratamento. Na antiguidade havia

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de um lado a rejeição e eliminação sumária, e a proteção assistencialista e piedosa, de outro. Na Roma Antiga, tanto os nobres como os plebeus tinham permissão para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo de deficiência. Da mesma forma, em Esparta, os bebês e as pessoas que adquiriam alguma deficiência eram lançados ao mar ou em precipícios. Já em Atenas os deficientes eram amparados e protegidos pela sociedade. Na história sempre existiram indivíduos com algum tipo de limitação, seja ela física, sensorial ou cognitiva. No decorrer dos tempos esta visão começou a mudar a passos lentos e foi a partir do século XIX, que as pessoas com limitações passaram a serem vistas como pessoas que tinham os mesmos valores e capacidades de se desenvolverem no meio social com direitos e deveres iguais a qualquer ser humano.

A educação para as pessoas com deficiência começou a surgir a partir de 1770, fundada pelo abade Charles M. Eppée em Paris que inventou o método dos sinais, destinado a completar o alfabeto manual, no intuito de instruir os surdos mudos. Já a educação dos deficientes da visão, coube o papel de Valentín Haüy, que fundou em 1784 o Instituto Nacional dos Jovens Cegos. Naquela época já utilizava letras em relevo para o ensino de cegos.

Anos depois esteve no Instituto um oficial do exército francês Charles Barbier que desenvolveu um processo de escrita que revolucionou ensino dos estudantes cegos. Esses processos de escrita, codificada e expressa por pontos salientes, representava os trinta e seis sons básicos da língua francesa que possibilitou professores e alunos do Instituto uma forma de ensino aprendizado da pessoa cega.

Em 1829, um jovem cego francês, Louis Braille estudante daquele Instituto, fez uma adaptação do código militar de comunicação noturna criada por Barbier, para as necessidades dos cegos. De início, tal adaptação foi denominada de sonografia e, mais tarde, de braile. Até hoje não foi encontrado outro meio, de leitura e escrita, mais eficiente e útil para uso das pessoas cegas. Baseado em seis pontos salientes na célula braile, este código possibilita sessenta e três combinações.

A educação para deficientes visuais teve inicio no Brasil em 1854, quando, D. Pedro II, através do Decreto Imperial fundou, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, e que em 1891 foi renomeado com o nome de Instituto Benjamim Constant. O instituto até os dias atuais atente um grande número de crianças e jovens com deficiência visual.

A inclusão da educação de deficientes ou da educação especial na política educacional brasileira passou a ocorrer somente no final dos anos cinquenta e início, da década de sessenta

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do século XX. Nesta pesquisa procuramos nos ater a educação especial no Brasil a partir da Promulgação da Constituição Federal de 1988 no Art. 208. “O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”; e no ano de 1996 quando foi promulgada a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira_9.394/96 que assegurou a educação especial na rede regular de ensino para pessoas com deficiência e determina que estes estabelecimentos devem garantir seu acesso e permanência estabelecendo no “Art. 4°, inciso III atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” com destaque para o Art. 59 que determina:

- Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar

para os superdotados;

III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (LDB)

Como já foi mencionado no trabalho anteriormente, o intuito não é tratar sobre a educação especial de forma geral, embora seja importante refletir como é trabalhada a educação de pessoas com deficiência na nossa sociedade, mas discutir a educação especial para os deficientes visuais direcionada para o ensino de História e seus recursos didáticos. Para tanto precisamos também colocar na pauta de prioridades discutir a formação do professor. Torna-se fundamental que as instituições superiores responsáveis pela formação docente repensem seus currículos a partir desta realidade posta no espaço escolar.

Recursos

Os recursos são essenciais para um bom aprendizado, e desde que sejam bem selecionados e adequados à capacidade sensorial e ao nível de desenvolvimento do educando e ao conteúdo a ser dominado, são avaliados como instrumentos valiosos no processo de aprendizagem dos alunos com deficiência visual, à medida que numa exploração detalhada,

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lhes permitem estabelecer relações, analisarem, elaborarem seus próprios conceitos, além de criarem o hábito de pesquisarem habituando-os ao esforço consciente para o desenvolvimento de seus aprendizados.

Utilizando-se destes recursos, o professor contribuirá para que esse aluno possa realizar transferências e abstrações em temas relacionados à disciplina de História, tomando o processo educacional acessível, visando à formação de um cidadão participativo e autônomo em nossa sociedade. Para que isso aconteça é preciso que o professor busque meios que possibilitem os alunos com deficiência visual compreender os conteúdos de maneira clara, utilizando recursos didáticos adaptados possibilitando a esses educandos manipularem o material referente ao assunto discutido em sala de aula.

O segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN de História identificamos quais habilidades e competências espera-se desenvolver nos alunos nesta área de conhecimento e percebemos que pouco ou quase nada assegura a inclusão dos alunos com qualquer deficiência física, quiçá visual. Estas dificuldades estão ligadas preliminarmente à duas questões: pouca participação das universidades em definir políticas e propostas pedagógicas que atendem a este público no momento da formação de professores; pouca produção de materiais pedagógicos na área de História adaptados às capacidades perceptivas desse alunado.

Dentre tantas dificuldades existentes na educação, é notória a falta de adaptação no ensino, que não supre as necessidades dos alunos com deficiência, além do fato de que o professor não sabe o que fazer com esse estudante, nem mesmo como ajudar, o que compromete o seu desenvolvimento escolar. Outro problema enfrentado por este público é a falta de salas de recurso em muitas escolas, ou quando há disponibilidade da referida sala, muitas vezes não há pessoas preparadas para adaptar materiais didáticos para os educandos.

Segundo o Decreto 6.571, de 2008 afirma que cabe ao Estado oferecer apoio técnico e financeiro para o atendimento especializado em toda a rede pública de ensino. No entanto, cabe aos gestores das escolas e às Secretarias de Educação a administração e o requerimento dos recursos para essa finalidade.

A escola da rede pública que possui verba para seu plano de desenvolvimento escolar e recebe um aluno com deficiência deve contemplar a aquisição de materiais para que este aluno tenha condições de explorar e desenvolver o seu potencial. A inclusão escolar se faz desde o porteiro que percebe as dificuldades enfrentadas pelo aluno para chegar à sala de aula, aos diretores e professores que devem buscar métodos de ensino que possibilitem o ensino-aprendizado do aluno.

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Todos devem estar comprometidos com o processo de inclusão escolar. O aluno com deficiência tem por direito usar materiais adaptados, como livros didáticos transcritos para o braile, reglete para escrever durante as aulas, obter antecipadamente adaptados os textos junto aos educadores responsáveis pela sala multifuncional que deve contar com equipamentos indispensáveis para a adaptação destes materiais.

Nos dias atuais, além do método braile, a tecnologia tem possibilitado outros recursos que facilitam a conquista da cultura e dos conhecimentos socialmente originados ao longo da história, como é o caso dos programas de leituras em computadores e outros.

Considerações gerais

Com medidas institucionais, como a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 de Diretrizes e Base da Educação Brasileira- LDB, o acesso e a permanência da criança, jovem ou adulto com deficiência na rede regular de ensino passou a ser garantido, modificando a modalidade de educação escolar. Os sistemas de ensino asseguraram a esses educandos currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organizações para atender as suas necessidades.

A inclusão social e escolar desestruturou muitos espaços sociais solicitando a estes mudanças de atitude, derrubada de barreiras físicas, pedagógicas, linguísticas. O ensino do Braille e das novas tecnologias, a instalação de piso tátil, entre outros, são exemplos de algumas modificações que a escola deveria fazer para receber o educando cego.

O ensino de História envolve recuo temporal e abstração, que muitas vezes dificulta o processo de ensino-aprendizagem e o desafio torna-se ainda maior quando os conteúdos são trabalhados com deficientes visuais. Estas dificuldades estão inteiramente ligadas à falta de materiais de História adaptados às capacidades perceptivas desse alunado.

A educação especial é uma realidade em toda rede regular de ensino, mas é dada aos alunos com deficiência visual a possibilidade de reter conhecimento em História sem o professor mudar sua forma de ensino? Para o estudante cego e com baixa visão, o acesso à informação em um mundo que valoriza o visual é uma barreira que precisa ser superada. Neste sentido, toma-se imprescindível a produção de recursos didáticos adaptados perceptíveis por outros canais sensoriais, como por exemplo, os materiais percebidos pelo tato.

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BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

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SIMAN, Lana. A Temporalidade Histórica como Categoria Central do Pensamento Histórico: Desafios para o Ensino e a Aprendizagem. In: ROSSI, V.LS. ZAMBONI, E. Quanto tempo o tempo tem! 2ª ed. Campinas: Alínea, 2003.

Notas

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Aluna do Curso de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Orientadora professora Dra Iracema Oliveira Lima.

Referências

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