A DIDÁTICA COMO PRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DAS
IDENTIDADES E DA DIFERENÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Luciano Henrique da Silva Amorim Pamela Tamires Bezerra Ferreira da Silva
José Gomes da Silva Netto Universidade Federal de Alagoas- UFAL
Eixo V- Educação e Diversidade amorim.ped@hotmail.com
INTRODUÇÃO
O tema escolhido parte da problemática e discussão atual que envolve as questões sobre identidade e o que as diferenças que não são discutidas no âmbito escolar, no qual posteriormente podem acarretar em situações desastrosas no que diz respeito à formação do individuo.
Discutir sobre isso é de suma importância na área da educação, pois isso implica nas futuras situações existentes na sociedade, pois no âmbito educacional há a formação prévia de valores, de posicionamento ético e moral dos indivíduos. Logo, a didática e a prática docente e a intervenção proposta pelo educador torna-se essencial para a elaboração dessa discussão em sala de aula, e que não seja apenas tida como uma mera informação.
Os aspectos metodológicos, teóricos e práticos tratados no trabalho, basear-se-ão nos textos aplicados na disciplina de Didática na turma do terceiro período de Pedagogia na Universidade Federal de Alagoas (2012), além dos resultados obtidos nas discussões promovidas em sala, assim como nos próprios relatos dos alunos e suas experiências.
Enfim, tentando fazer um elo entre a teoria e prática, o trabalho apresentará as questões e posicionamentos que envolvem essa temática tão necessária, mas ao mesmo tempo tão difícil de ser trabalhada em sala de aula.
Antes de iniciarmos a discussão, é interessante que entendamos o objeto a ser discutido, e algumas concepções e conceitos teóricos formulados previamente. Um autor brasileiro que discutiu as questões de identidade juntamente com as práticas educativas, e que sintetizou de forma mais lógica e objetiva o que seria identidade, que foi Tomaz Tadeu da Silva. Silva (2011) diz que “A identidade é simplesmente aquilo
que se é: “sou brasileiro”, “sou negro”, “sou heterossexual”, “sou jovem”, “sou homem”“. A identidade assim concebida parece ser uma positividade ("aquilo que sou"), uma característica independente, um "fato" autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela é autocontida e autossuficiente.
Observando esse conceito, vemos que a identidade é algo muito individual, pessoal, porém depende de fatores externos e do meio social em que o individuo está inserido. Ou seja, ela se dá em um processo de construção, sendo assim a escola tem um papel fundamental na elaboração dessas discussões no âmbito escolar, pois ela se torna a principal instituição que interfere nas questões identitárias na formação do ser.
As questões de identidade estão ligadas diretamente com as diferenças existentes e promovidas pelo ambiente escolar, pois as discussões que envolvem identidade quando não ocorridas, podem acarretar na criação subjetiva ou diretiva das diferenças. Há um enorme problema e dificuldade nas questões que envolvem essa temática, pois requer do professor uma preparação e um entendimento e leitura da turma mais afinco. Como resolver esses problemas? A didática pode ajudar nessa questão como veremos a seguir.
UM RESGATE DE IDENTIDADES
O primeiro passo para a realização dessa prática se dá com a observação do terreno (no caso, a escola). Entender o local, a situação e a classe que o docente está inserido é uma tarefa que necessita destreza e cuidado. A questão primordial é lembrar que os alunos possuem nome, e a professora ou professor também, mas fazendo isso de forma dialógica. Madalena Freire (1986) nos traz uma pesquisa realizada em uma comunidade, mas que pode se aplicar tranquilamente no contexto atual. Fazer com que as crianças entendam que elas têm um nome próprio e que elas são gente, é essencial, pois isso acarreta na construção da própria cidadania, de levar a criança a pensar e refletir na importância da existência da mesma na sociedade.
A identidade docente também tem que ser refletida pelo próprio professor e discutida com os alunos. Freire também traz à tona uma grande questão existente, principalmente nos cursos de educação, que é a questão do “tio” e “tia”. Madalena expõe que o resgate do nome próprio e da utilização do termo “professora”, pois isso além de ser um regate da identidade docente, acarreta também nas questões que envolvem a profissionalização e caracterização desse profissional perante a sociedade. Lembrando que o regate da própria identidade contribui para a melhora do trabalho coletivo e das atividades em grupo na sala de aula.
Percebe-se que há um processo de construção da própria prática pedagógica. As atividades em grupo que geralmente ao realizadas na educação infantil, são melhoradas (e até podem ser aperfeiçoadas) a partir das discussões e entendimentos da própria identidade, que como já ditos, devem ser realizados com cuidado e destreza para não implicar na criação de diferenças, o que será apresentado a seguir.
ANALISANDO A CONSTRUÇÃO DAS DIFERENÇAS NA SALA DE AULA
Silva (2011) afirma que a configuração da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, em algumas operações que terminam no ato de incluir ou de excluir. Como vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence (coisas pessoais e sociais), sobre quem está incluído e quem está excluído. Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre "nós" e "eles". Se tratando do ambiente escolar, existe uma enorme demarcação de fronteiras entre professor e aluno, e certa dificuldade na construção do dialogo entre os dois.
Uma didática que envolve essas questões se encontra em atividade, necessita estimular a dinâmica da perturbação, do questionamento, da subversão e da transgressão entre as identidades existentes. Uma didática e uma pedagogia da diferença devem ser capazes de ampliar o campo da identidade para as estratégias que tendem a colocar seu congelamento e sua estabilidade em xeque: hibridismo, nomadismo, cruzamento de fronteiras, homossexualidade, lesbianismo, questões sociais e relações étnico raciais ( no caso da educação infantil, a própria construção do EU como pessoa e agente ativo na sociedade). Trabalhar com afinidade as questões de identidade, o impensado e o
arriscado, o inexplorado e o ambíguo, em vez do consensual e do assegurado, do conhecido e do assentado. Ou seja, ultrapassar e romper todas as barreiras do eu existentes na escola (e que a mesma reproduz essas identificações), para que possamos pensar no EU não idêntico.
A IDENTIDADE E A DIFERENÇA NO CONTEXTO SOCIAL E CULTURAL: IMPLICAÇÕES PARA O AMBIENTE ESCOLAR
Como já vimos à construção da identidade não parte apenas do sujeito, mas meio social em que o mesmo está inserido. O aluno já possui um pré-identidade formada quando chega ao ambiente, que deve ser discutida inclusive não só com ele, mas que ele possa socializar seu estilo de vida e o que pensa. As questões culturais que podem interferir são discutidas também por Moreira (2003), no qual apresentam em um trabalho as questões que envolvem a educação e a cultura. Como bem lembra Apple apud Moreira (2003), as culturas travam uma batalha pela hegemonia, porém há na escola um enorme problema: a centralidade da cultura. A instituição escolar produziu ao longo dos séculos uma cultura dominante, em que temos que passar os costumes religiosos, europeus e o que o sistema do capital impôs sempre, como a própria professora Rosimeire Reis sempre expõe.
Portanto, discutir as identidades de forma particular respeitando as opiniões de cada, e, sobretudo tentando compreende-las é uma tarefa obrigatória para o educador. Quebrar com esse paradigma e estigma criado pela instituição escolar que produz indiferenças subjetivamente e diretivamente nos faz repensar em uma prática pedagogia moderna e que contribua para o crescimento intelectual e descoberta do eu em cada aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identidade e diferença são questões indissociáveis e que são importantes para a discussão no âmbito educacional, pois implicam na própria prática docente.
Vimos que a identidade é um processo contínuo e que quando discutido na sala de aula, requer do docente um cuidado e destreza, pois se trata de um assunto pessoal e que necessita de um aporte teórico do educador. Lembrando que as diferenças já existentes na sociedade são ampliadas no espaço escolar, tendo como uma das causas, a
ausência da abordagem sobre identidades na educação infantil principalmente, mas na educação como um todo, inclusive no ensino superior.
Portanto, finalizando com uma citação de Madalena Freire:
Educador que não assume a orientação, direção desse processo, perde a oportunidade de fazer educação. Com medo de ser autoritário cai no espontaneismo, abandonando a condução de um processo que a ele cabe assumir enquanto educador. (1986, p. 92).
O educador que não assume um compromisso com qualquer temática, em qualquer nível da educação, imerge o aluno em mundo obscuro, no qual ele não exerce sua prática como um verdadeiro docente, e abstém o aluno de uma verdadeira aprendizagem.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Madalena. Relatos da (com) vivência. Caderno de Pesquisa, fev., 1986.
MOREIRA, Antônio F.B. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003.
SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença. UFPEL, 2011. Disponível em: http://ccs.ufpel.edu.br/wp/wp-content/uploads/2011/07/a-producao-social-da-identidade-e-da-diferenca.pdf.