• Nenhum resultado encontrado

III Simpósio Brasileiro de Captação de Água de Chuva no Semi-Árido - os Sistemas de Water Harvesting e sua Aplicação em Cabo Verde

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "III Simpósio Brasileiro de Captação de Água de Chuva no Semi-Árido - os Sistemas de Water Harvesting e sua Aplicação em Cabo Verde"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

OS SISTEMAS DE “WATER HARVESTING” E A SUA APLICAÇÃO EM

CABO VERDE

António Advino Sabino, Caixa Postal 534, Instituto Superior de Educação, Praia, Cabo Verde

RESUMO

A localização geográfica do arquipélago de Cabo Verde na zona saheliana entre as isoietas de 250 mm e 500 mm aproximadamente, aliada aos condicionalismos físicos, climáticos e económicos explicam em grande parte, os escassos recursos hídricos disponíveis. Devido ao caracter torrencial das chuvas, os resultados de aplicação das diferentes técnicas e sistemas de “water harvesting”, provaram no passado de que se tratam de tecnologias que podem contribuir para uma melhor gestão dos recursos hídricos. Por esta razão, deverão continuar a fazer parte dos programas de investigação aplicada, aperfeiçoadas e divulgadas no seio das comunidades rurais e nas áreas urbanas devido ao baixo custo do preço da água captada e as vantagens de caracter ambiental. Este trabalho faz uma abordagem sobre as tecnologias de aproveitamento de águas superficiais, com destaque para os sistemas de “water harvesting”, e discute as potencialidades do seu desenvolvimento em Cabo Verde.

(2)

Palavras-Chave: Water harvesting; Agrisistemas; Runoff farming; Rainwater; Área de captação; Área

cultivada; Reservatório; Culturas; Fogo; São Filipe; Praia; Ilha de Santiago; Ilha de Santo Antão; Micro-captações; Precipitações; Recursos hídricos; Telhados.

INTRODUÇAO

Os sistemas de “water harvesting” ou “agrisystems” são tecnologias desenvolvidas nas regiões áridas e semi-áridas destinadas a satisfazer as necessidades em água potável, superar os défices hídricos das culturas e/ou aumentar os rendimentos das culturas existentes ou, ainda, tornar possível a produção onde ela não seria possível sob as condições ambientais prevalecentes. Trata-se de uma tecnologia ou método de gestão de água em pequena escala que data desde a época em que os primeiros colonos portugueses se estabeleceram no país. Embora praticada em moldes puramente empíricos, ela ganhou expressão nalgumas ilhas do arquipélago, em particular na ilha do Fogo, onde praticamente, era ainda na década de 70 única fonte de água para consumo doméstico. Pretendemos discutir a sua aplicação e as potencialidades de desenvolvimento em Cabo Verde.

DEFINIÇÃO E SISTEMAS DE "WATER HARVESTING"

Os sistemas "water harvesting" podem ser definidos como métodos artificiais de recolha da água das chuvas que serão armazenadas até que sejam usadas beneficamente. Em termos simples, um sistema de "water harvesting" é constituído por: (1) uma área de captação, geralmente, preparada para aumentar a eficiência de escoamento superficial e; (2) um reservatório para o armazenamento da água captada, a não ser que ela se destina a ser armazenada directamente no perfil do solo de uma área mais pequena para o crescimento de plantas tolerantes à seca. A Figura 1 mostra um diagrama geral de como a água circula através dos sistemas desde a origem, até a sua utilização pelas culturas.

Escoamento superficial Água aplicada Escoamento superficial Precipitação Reservatório Área de Captação Área Cultivada

(3)

Percolação profunda Perdas por infiltraçäo e evaporaçäo

Figura 1. Diagrama geral da circulação da água através dos sistemas desde a origem até a sua utilização pelas culturas (incluindo perdas por evaporação, infiltração e percolação profunda)

Fonte: Dutt et al (1981); Critclhey et al (1989)

Tipos de Sistemas de “ Water Harvesting/ Runoff Farming”

Fundamentalmente existem três tipos de sistemas de " water harvesting/ runoff farming":

1. As águas de escoamento superficial são espalhadas nas áreas destinadas à produção agrícola, “flood

plain" ou "flood water" de acordo especialistas da língua inglesa e respectiva distribuição controlada por um sistema de pequenas barragens, diques e banquetas ou valas (Tadmor et al, 1979 );

2. A água é derivada de uma ribeira para um canal que a conduz para as proximidades das terras cultivadas. Terraços, muretes, ou outras estruturas podem ser usadas para o controlo e distribuição posterior das águas;

3. Áreas de captação são preparadas ou tratadas para captar água das chuvas, contribuindo para o alagamento das áreas adjacentes cultivadas ou para armazenamento em reservatórios para posterior uso..

OS SISTEMAS DE WATER HARVESTING EM CABO VERDE

Os Agrisistemas

Admite-se que a tecnologia de “water harvesting” e “runoff farming” em Cabo Verde tenham sido introduzidos no país pelos primeiros colonos portugueses que estabeleceram no país, instalando os seus morgados ou quintas. Com efeito os diques, canais e reservatórios construídos em terra batida prática, ainda hoje, corrente nas ilhas de Santo Antão e Santiago, parecem ser ainda a reminiscência das primeiras obras de hidráulica utilizadas para a rega de fruteiras e outras culturas destinadas ao consumo local e exportação, nomeadamente, as culturas de laranja, cana sacarina, banana, etc.

Perdas totais

(4)

Os sistemas de “water harvesting/agrisistemas” ganharam expressão no arquipélago, particularmente na ilha do Fogo onde só a partir dos meados da década 1980/90 a cidade de São Filipe, à 300 m de altitude e, a área de Monte Genebra à cerca de 750 metros de altitude, com um perímetro com cerca de 15 ha irrigáveis, começaram a ser abastecidos com água bombada da nascente da Praia Ladrão, situada ao nível do mar. Recentemente têm sido abertos furos, que se têm revelado muito produtivos, para satisfazer as necessidades em consumo doméstico e rega, mas de uma maneira geral, a ilha continua ser abastecida na sua globalidade com a água das chuvas captadas nos telhados das habitações, “rainwater” ou nas superfícies rochosas devidamente tratadas com argamassa de betão e armazenadas em pequenas cisternas de 10m3 a 20 m3 (cisternas familiares) ou grandes cisternas (cisternas públicas) de 50 m3 a 300 m3 cobertas, geralmente com lajes de betão armado. A construção de obras mais volumosas de armazenamento de água das chuvas destinadas a rega temporária ou permanente de fruteiras e hortícolas, até então, na nossa opinião, não têm sido projectadas, mais por falta de coragem dos quadros técnicos e vontade política para enfrentar o desafio do que por falta de recursos financeiros. Com efeito, a maioria dos sistemas existentes foram sempre executados com os poucos recursos disponíveis.

Na ilha de Santo Antão, a técnica de “water harvesting” consiste no armazenamento da máxima quantidade de água nos terrenos cultivados até a completa saturação dos solos. As águas pluviais em excesso são drenadas para o sistema de canais e reservatórios existentes a fim de regar os terrenos vizinhos das encostas. O ciclo deste processo empírico termina com a descarga ou o “fontear” das águas de escoamento superficial para o leito das ribeiras que se encarrega de as transportar juntamente com os solos desagregados das encostas através do processo de erosão hídrica para o Oceano Atlântico.

Os sistemas de “water harvesting/runoff farming” praticados em Cabo Verde foram sempre incompletos, salvo para os casos de captação da água dos telhados “rainwater” que foram sempre complementados com a construção de reservatórios. Eles limitaram-se a trabalhos de diversão e de espalhamento das águas de escoamento superficial mediante a construção de diques transversais e longitudinais “bardos” constituídos no leito das ribeiras.

Os sistemas de “water harvesting“ sofreram um grande incremento a partir da década 80, no quadro dos projectos de luta contra a desertificação (reflorestação e conservação do solo e água) financiados pelo GOCV e pela Cooperação Internacional, particularmente a USAID. Muitas obras foram realizadas (banquetas, muretes, terraços individuais ou micro-captações das águas de escoamento superficial para a fixação e estabelecimento de árvores, particularmente acácias e outras espécies tolerantes à seca e para a recarga de aquíferos. Contudo, a aplicação da tecnologia no domínio de agricultura, os agrisistemas propriamente ditos, em moldes técnica e cientificamente concebidos, tiveram o seu início com a implementação do “Watershed Management Project”, particularmente nas

(5)

Bacias Hidrográficas de Flamengos, Saltos, São Miguel, Santa Cruz e Ribeira Seca, financiados pela Cooperação Americana através da USAID. Mais recentemente, financiado pela UNESCO (African Bioscience Network) e pelo GOCV, foi concluído um projecto de ensaios de adaptação “adaptative research” nos campos experimentais do Instituto de Investigação Agrária sendo os resultados muito encorajadores (Tabela 1). Também a Figura 2 ilustra rendimentos obtidos nas diferentes zonas agro-ecológicas de Cabo Verde em função das quantidades de água disponível.

Tabela 1 - Resultados de ensaios de produção em Säo Jorge, Cabo Verde (1990-1992)

Rendimentos (kg/ha) Dif.Rendimentos (kg/ha) Grãos Biomassa Anos Culturas T NT T NT Grãos Biomassa 1991 Milho 540 51 647 29 489 618 Feijões 347 11 1421 228 336 1193 Citrinos 180 0 - - 180 - 1992 Feijões 392.2 190.3 537.5 252.6 201.9 284.9 Citrinos 1455 0 - - 1454.6 -

T = tratadas; NT = não tratadas

Fonte: Sabino (1991)

Figura 2. Rendimentos de culturas em função da água disponível em diferentes zonas agro-ecológicas de Cabo Verde. Fonte: Sabino (1997) REND = 11,669 x PRECIP - 2838,5 R2 = 0,3181 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 200 220 240 260 280 300 320 340 PRECIPITAÇÃO (mm) R E N D IM E N T O S ( k g s /h a ) EFEITO-DIQUE

(6)

Os agrisistemas em Cabo Verde têm representado o grande esforço e vontade de fazer algo durante os períodos pós-independência de 1976-1986. Contudo, razões várias limitaram o desenvolvimento e difusão dos agrisistemas em Cabo Verde.

OS PROJECTOS DE “RAINWATER”. A ILHA DO FOGO E A CIDADE

DA PRAIA

A ilha do Fogo

As áreas de captação das águas pluviais em Cabo Verde são particularmente os telhados mas há outras áreas suplementares de captação naturais ou impermeabilizadas (betão, pavimento, asfalto, etc.), tais como: terraços, estradas e bermas. A ilha do Fogo é, de longe com mais realizações no domínio de projectos de “rainwater”. Todas as comunidades das zonas de altitude na sua globalidade, abastecidas com a água das chuvas captadas nos telhados das habitações, “rainwater” ou em superfícies rochosas devidamente tratadas com argamassa de betão e armazenadas em pequenas cisternas de 10m3 a 20 m3 (cisternas familiares) ou grandes cisternas (cisternas públicas) de 50 m3 a 300 m3 cobertas, geralmente com lajes de betão armado. Só recentemente foram abertos furos, que se têm revelado muito produtivos, para satisfazer as necessidades em água potável para consumo doméstico e alguma rega sofisticada com sistemas gota-a-gota.

A Cidade da Praia. Ilha de Santiago

A área urbana do platô da cidade da Praia foi seleccionada para o estudo. A precipitação média anual anda à volta dos 192.5 mm. Considerando uma eficiência de escoamento de 90%, estima-se que uma média anual de 450,000 metros cúbicos de águas pluviais podem ser obtidas dos telhados, terraços e vias rodoviárias, além da contribuição das bacias hidrográficas de Trindade, São Filipe e Safende/Portugal. Os cálculos foram feitos através da seguinte equação:

Awrt = µµµµ x A x R (1)

Em que Awrt é a quantidade de água captada dos, µµµµ é a eficiência de captação em percentagem, A é a área de captação em hectares e R é a média de precipitação anual em mm.

A distribuição temporal das precipitações em função do período de retorno, Tr, e a probabilidade de distribuição das precipitações médias anuais na Praia para o período de

(7)

1901-1979 (Dittrich, 1982) e para o período de 1949-1997 (Sabino, 1997) estão ilustradas na Fig. 3-4. A Tabela 2 ilustra as precipitações máximas diárias e médias anuais para o período de 1949-1997 e áreas de captação dos telhados (Plateau) da cidade da Praia.

0 50 100 150 200 250 0 1 2 3 4 5 6 Tempo (horas) P re ci p it a ção (m m ) Tr = 2 Tr = 5 Tr = 10 Tr = 25 Tr = 50 Tr = 100

Figura 3 - Distribuição temporal das precipitações médias anuais em função dos períodos de retorno, Tr.Dados obtidos de Dittrich (1982)

0 100 200 300 400 500 600 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Probabilidade (%) P re ci p it a çã o ( m m ) (m m )

Figura 4 - Curva de frequências das precipitações médias anuais na Praia para o período, 1949-1997

Quadro 8 - Precipitação máxima diária e média anual para o período de 1949-1997 e áreas de captação dos telhados (Plateau)

(8)

Parâmetros estatísticos Precipitação máxima diária (mm)

Precipitação média anual (mm)

Àreas de captação dos telhados (m2)

Soma 2681,5 9430,4 129321

Média 54,72 192,46 2395

Fonte: Sabino (1991

CONCLUSÃO

As experiências e resultados obtidos em Cabo Verde, desde as obras de armazenamento de águas pluviais para abastecimento domestico nas zonas altas da ilha do Fogo (cisternas e espelhos de captação – telhados e micro-bacias hidrográficas), da ilha de Santo Antão (exemplos de Bardo de Ferro e Cruz de João Doróde), aos projectos da ilha de Santiago (Flamengos, São Jorge, Praia Formosa, Granja de São Filipe, Rui Vaz, etc.), aconselham a investir no aperfeiçoamento e difusão desta tecnologia promissora em Cabo Verde como um dos recursos fundamentais a ter em conta para o aumento dos recursos disponíveis em água, solos e vegetação e contribuir para o aumento da produção no pais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Critchley, W. R. S. and Klaus Siegert. Water Harvesting, a Manual for the Design and Constrution of Water Harvesting Schemes for Plant Production. FAO, Rome, 1989.

Dittrich, I. Les Debits de Projet pour la Zone de Praia et l’Influence d’Urbanisation sur l’Écoulement de Surface. MDR/GEP, Praia, République du Cap Vert, 1982.

Dutt, G.R. Hutchinson, C.F. and Garduno, M.A . (eds). Rainfall collection for agriculture in arid and semi-arid regions. Procedings of a workshop, University of Arizona and Chapino Postgraduate College. Commonwealth Agri. Bureaux, UK. Arizona, 1981.

Tadmor, N.H., Evanari, M. and Shanan, L. Runoff farming in the desert: Survival and yelds of perenial range plants. In: Agronomy Journal 62: 695-699, 1979.

Sabino, A. A. Contribuição das águas pluviais para o abastecimento da cidade da Praia. INIDA. São Jorge, Cabo Verde, 1991.

Sabino, A. A. “Water Management and Soil Conservation in Cape Verde”. IWRA. Montreal, Canada, 1997)

(9)

Referências

Documentos relacionados

Therefore, the analysis of suitability of the existing transportation network for riding bicycle in Coimbra should address two important aspects: (i) identifying

Como evitar preocupações e começar a viver / Dale Carnegie ; tradução de Breno Silveira ; revista por José Antonio Arantes de acordo com a edição americana de 1984 aument

Como objetivos específicos pretendeu-se iden- tificar os taxa existentes nesta gruta, determinar a riqueza de es- pécies de sua comunidade; verificar a influência de fatores

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

Mas ele é ( verbo ser, no Presente do Indicativo ) apenas um gato e não tinha tido ( verbo ter, no Pretérito Mais-Que-Perfeito Simples do Indicativo ) tempo de aprender (

Por último, temos o vídeo que está sendo exibido dentro do celular, que é segurado e comentado por alguém, e compartilhado e comentado no perfil de BolsoWoman no Twitter. No

nuestra especialidad por su especial proyección en el ámbito del procedimiento administrativo y el proceso contencioso administrativo, especialmente los alcances de la garantía

Guerra et al., 2016 relataram um caso de um paciente homem diabético de 70 anos de idade com doença renal crônica passou a fazer uso de colecalciferol e calcitriol