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Antigo Convento das Capuchinhas em Guimarães: análise retrospetiva do edifício

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Academic year: 2020

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Pedro Miguel Oliveira Paiva

Antigo Convento das Capuchinhas em

Guimarães: Análise retrospetiva do edifício

Pedr o Miguel Oliv eir a P aiv a Outubro de 2014 UMinho | 20 14 Antigo Con

vento das Capuc

hinhas em Guimarães: Análise r etrospe tiv a do edifício

Universidade do Minho

Escola de Arquitectura

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Outubro de 2014

Tese de Mestrado

Cultura arquitetónica / História da Arquitetura

Trabalho efectuado sob a orientação do

Professor Doutor Jorge Manuel Simão Alves Correia

Pedro Miguel Oliveira Paiva

Antigo Convento das Capuchinhas em

Guimarães: Análise retrospetiva do edifício

Universidade do Minho

Escola de Arquitectura

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DECLARAÇÃO

Nome: Pedro Miguel Oliveira Paiva

Correio eletrónico: pedromigueloliveirapaiva@hotmail.com Tlm: 916196094

Número do Cartão de Cidadão: 14017084

Título da dissertação: Convento das Capuchinhas em Guimarães: Análise retrospetiva do edifício Ano de conclusão: 2014

Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Simão Alves Correia Designação do Mestrado:

Ciclo de Estudos Integrados Conducentes ao Grau de Mestre em Arquitetura Área de Especialização: Cultura Arquitetónica

Ramo do Conhecimento: História da Arquitetura

Escola: Escola de Arquitetura da Universidade do Minho

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Guimarães, ___/___/_______

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Aos meus pais e ao meu irmão por todos os sacrifícios.

Agradecimentos

Ao Professor Jorge por todo o apoio e ensinamentos.

Ao Jorge e a todos os que deram ajudas indispensáveis no levantamento. Ao Centro Juvenil de São José por toda a disponibilidade demonstrada. A todas as pessoas que contribuíram para que o trabalho fosse possível. Aos meus amigos por me acompanharem sempre.

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Resumo

O Convento das Capuchinhas, também conhecido por Madre de Deus, em Guimarães, foi fundado no ano de 1683 no Lugar do Campo Gallego, atual freguesia de S. Sebastião. No seu primeiro período de funcionamento abrigou Clarissas Reformadas e após a extinção das ordens religiosas tornou-se casa das Oficinas de São José, hoje Centro Juvenil de São José.

A investigação surge como uma encomenda no âmbito do centenário da fundação das Oficinas de São José e teve por objetivo constituir-se como uma monografia histórica sobre o antigo edifício do convento. Devido à escassez de informação sobre a história do complexo, o levantamento métrico e fotográfico realizado no âmbito do trabalho surge como uma ferramenta essencial de análise. A sua materialização em cortes, plantas e modelo tridimensional cria uma representação do edifício que auxilia na sua compreensão. A linha cronológica das várias fases resulta de um processo de interpretação e cruzamento do levantamento com documentação existente e comparações com outros complexos religiosos. São propostas seis fases construtivas pelas quais o edifício terá passado durante as suas diferentes ocupações. Procurando os vestígios construtivos para cada uma delas são estabelecidas relações com a arquitetura chã e proto-barroca da época. É feito um enquadramento tipológico, morfológico e artístico do objeto através de comparações com outros complexos da mesma região ou Ordem religiosa.

Além de criar um documento informativo que contribui para o reconhecimento e valorização do complexo, a investigação procura ser uma ferramenta de apoio a futuras intervenções no mesmo.

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Abstract

The Convent of Capuchinhas, also know as Madre Deus, in Guimarães, was founded in the year of 1683 placed on Campo Gallego, know today as S. Sebastião. It’s initial function housed the reformed Clarissa’s, after the extinction of the religious orders it became a house of Oficinas de São José, today it’s Centro Juvenil de São José.

This investigation came up as proposal to produce a historical monograph about the historical building in order to celebrate the centennial anniversary of the foundation of the Oficinas de São José. Due to the limited amount of historical information available this led to the need to produce a thorough metric and photographic survey as an essential tool of analysis. It’s realization through section, plans and a three dimensional model helps to represent the building, creating a strong base to help understand the building. The timeline of the various phases results from a process of interpretation and cross-referencing between: the survey, existing documents and other religious complexes. Six proposals of different constructive phases the building went through with the different occupations it had along time. In search for traces for each of them a relationship can be established between two architectural styles, chã and proto-baroque at that period in time. A typological, morphological and artistic framework is produced of the object in study through the comparison with other complexes in the same region or religious orders.

On top of creating a document that registers all the information gathered it also contributes with recognition to the importance of the complex. The investigation was done with the intention of being a tool that will support future interventions with the same character.

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SUMÁRIO

PREÂMBULO 11 NOTAS PRÉVIAS 13 Justificação 15 Objeto de estudo 17 Metodologia CAPITULO 1 21 DA HISTÓRIA AO EDIFÍCIO 23 Registo 23 - Fontes e referências 27 - Levantamento

37 - Da atualidade como síntese 41 Cronologia e Vivências 41 - Acontecimentos e pessoas 45 - Obras e construção 49 - Evolução programática 55 - Vivências CAPITULO 2

63 DA LEITURA DO EDIFÍCIO À INTERPRETAÇÃO

65 Método interpretativo 69 Faseamento: 69 Conventual: 69 - Fundação 81 - Crescimento 97 - Manutenção 107 Abandono: 107 - Degradação

115 Oficinas e Centro Juvenil: 115 - Reabilitação

127 - Remodelação

135 Análise crítica e especulativa 135 - Imagem síntese 139 - Metodologia

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CAPITULO 3

141 DO ENQUADRAMENTO LOCAL AO GLOBAL

143 Artístico e social

143 - Séculos XVI e XVII

143 - Expansão urbana de Guimarães

147 - Estilo Chão

151 - Século XVIII

151 - Monumentalização da cidade

155 - Barroco

159 - Século XIX

159 - Extinção das ordens religiosas 161 - Séculos XX e XXI

161 - Ocupação social e industrialização 165 Religião 165 - Tipologias 173 - Franciscanismo 177 Interesse patrimonial 183 NOTAS FINAIS 185 BIBLIOGRAFIA 193 ÍNDICE DE IMAGENS

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PREÂMBULO

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NOTAS PRÉVIAS

13 Justificação

A investigação sobre arquitetura conventual, como forma de valorização e proteção do edifício, será sempre um contributo para a compreensão da história da arquitetura religiosa portuguesa. Nesse sentido, com vista a adicionar informação científica sobre o tema, e em simultâneo gerar nova documentação sobre um objeto específico, surge a investigação sobre o Convento das Capuchinhas ou da Madre de Deus em Guimarães.

Numa aproximação contemporânea ao edifício, o trabalho procurará ser uma mais-valia para duas grandes problemáticas. Com a carência de documentação escrita, o maior registo histórico é o próprio edifício. Os traços deixados na contrução em cada período histórico são importantes registos físicos que permanecem. Paralelamente, explora-se um enquadramento artístico, no contexto arquitetónico e patrimonial vimaranense e nacional, de forma a encontrar o valor específico do edifício e, assim, criar um novo olhar sobre a sua importância para a história da arquitetura e para a cidade de Guimarães.

Tendo por objetivo gerar nova informação relativa ao Convento das Capuchinhas, procurar-se-á construir uma monografia que permita não só uma reflexão e aprendizagem sobre o mesmo, como também criar um documento informativo para o futuro. Num ano em que se celebra o centésimo aniversário da instituição das Oficinas de São José, a investigação analisa a evolução morfológica desde a fundação do convento até ao seu estado atual. Será feito um enquadramento programático e histórico no que à influência do complexo monástico na estrutura urbana vimaranense diz respeito. Criar-se-á uma linha cronológica de imagens que sintetize as suas diversas fases, fundamentando-a com registos físicos e documentais, onde se compreenda a evolução e transformação volumétrica do complexo monástico. A análise tipológica e morfológica alimenta contextualizações, através da comparação com outros conventos da mesma ordem ou região.

Assim, dissecando a construção contemporânea, e numa abordagem transdisciplinar entre a história e a arquitetura, a investigação procurará ser um ensaio metodológico com repercussões na valorização e reconhecimento patrimonial do edifício.

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NOTAS PRÉVIAS

15 Objeto de estudo

O Convento de Madre Deus de Guimarães, também conhecido por Capuchinhas, é um

complexo monástico que se localiza na freguesia de São Sebastião – Guimarães [fig. 1]. A sua

fundação remonta ao final do século XVII, e enquadra-se no período de expansão monástica pós Concílio de Trento.

Podemos dividir a sua existência em duas ocupações distintas: uma primeira, até 1888, em que foi habitado por uma comunidade religiosa da Ordem das Clarissas Reformadas; uma segunda desde 1918 em que foi utilizado como centro de apoio juvenil. O acontecimento central que faz a transição entre estes dois tempos é a extinção das ordens religiosas no século XIX. Construído originalmente para albergar um grupo de beatas, que viviam no recolhimento do Anjo, no largo de São Paio, o convento implantou-se em 1683 no lugar do Campo Gallego ou Rosal de Santa Isabel. Durante o funcionamento do convento as várias obras feitas levaram a um crescimento progressivo do complexo que alteraram a sua volumetria. Sob propriedade do convento existiam vários campos de cultivo rodeados por uma cerca da qual ainda restam vestígios.

Com a extinção das ordens religiosas, o edifício alterou o seu programa e com isto as

lógicas de crescimento também. O convento passou a acolher as Oficinas de São José, que mais tarde se vieram a chamar Centro Juvenil de São José. Com a alteração de programa foram feitas obras de adaptação à nova realidade sendo as transformações feitas nos anos 80 do século XX especialmente intrusivas. Os campos agrícolas que se encontravam no interior da cerca foram entregues a caseiros que ali construíram habitação mas neste momento encontram-se ao abandono.

Atualmente o edifício é constituído por quatro alas em redor de um claustro com fonte ao centro, e alguns aumentos para sul do claustro. Com três das alas a funcionarem em dois pisos e uma a funcionar em três, a grande parte da sua construção utiliza a pedra como material principal. Na ala nordeste destaca-se a igreja com entrada lateral decorada e capela-mor revestida a azulejaria. No seu exterior levanta-se um cruzeiro no centro de um terreiro.

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NOTAS PRÉVIAS

17 Metodologia

Com vista a criar uma monografia histórica do antigo edifício do Convento das Capuchinhas em Guimarães, e sob a forma de ensaio metodológico, o trabalho tem como base duas aproximações distintas e complementares: uma analítica e uma interpretativa. O trabalho analítico incide sobre o registo, compilação e análise de documentos, referências e marcas deixadas no edificado. Dessa forma procura-se recolher um conjunto de marcas na construção que fundamentem as várias fases históricas do complexo. O trabalho interpretativo, apoiando-se na primeira, procura criar narrativas relativas à transformação do edifício ao longo dos mais de trezentos anos de história e, assim, enquadra-lo no contexto e artisticidade de cada época.

A dissertação divide-se em três capítulos distintos. O primeiro, intitulado ‘Da História ao edifício’, trabalha sobre o registo histórico e sobre as diversas vivências das comunidades que ocuparam o complexo monástico. A pesquisa em arquivos vimaranenses como Arquivo Municipal Alfredo Pimenta ou a Sociedade Martins Sarmento revelaram informação pertinente em especial sobre os primeiros anos de funcionamento conventual.

O levantamento métrico e fotográfico da totalidade do edifício tornou-se a maior ferramenta de aproximação e registo, ao serviço da investigação. Através do método de triangulações,

manualmente foram medidos todos os espaços interiores e exteriores próximos do convento [fig. 2].

Resultando em desenhos de plantas, cortes e modelação tridimensional do objeto, o levantamento constitui-se como o grande registo arquitetónico original e atual de todo o complexo monástico. Através dele pode fazer-se análises métricas, volumétricas e proporcionais que contribuam para a construção de uma linha cronológica do Convento de Madre Deus.

O levantamento fotográfico procura complementar os desenhos, registando as texturas, marcas e vestígios que encontramos no edifício e de alguma forma nos remetem para a compreensão do seu presente e passado. A análise da regra de Santa Clara, e a recolha de informação sobre o funcionamento e ideologias das Oficinas de São José, permitiu criar textos que procuram transmitir as formas de habitar os diferentes espaços e assim compreender as transformações. Em suma, o primeiro capítulo procura, acima de tudo, apresentar a história conhecida do edifício através do seu registo, criando bases que estruturem a fundamentação da interpretação.

No segundo capítulo, ‘Da leitura do edifício à interpretação’ é construída uma linha cronológica com base nos dados recolhidos. É proposta uma criação de ‘imagens’ que

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Fig. 3: Anotações do processo de interpretação das fases

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NOTAS PRÉVIAS

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sintetizem e construam estratos do edifício desde a sua origem, em 1683, até à atualidade. Com uma divisão em três épocas mediante o tipo de ocupação na construção, observa-se um primeiro faseamento que será depois subfaseado mediante os registos de obras encontradas, pertinentes para cada uma das épocas. A estrutura que leva à definição de cada uma das fases incorpora a exploração de registos documentais e orais, análise dos vestígios e marcas encontrados no

levantamento, interpretação e criação de narrativas sobre a fase [fig. 3]. Com a imagem final de cada

fase procura-se sintetizar todas as questões levantadas, criando uma linha histórica coerente com registos e vestígios. No final do capítulo, o conjunto das imagens relativas a cada fase constrói uma cronologia de transformação do edifício que lança motes para o enquadramento das suas obras no conjuntura vimaranense e no panorama nacional.

O terceiro capítulo, ‘Do enquadramento local ao global’, contextualiza o antigo Convento de Madre Deus na sociedade e produção arquitetónica de cada época. O seu enquadramento religioso é também destacado, de forma a encontrar relações tipológicas e morfológicas com outros edifícios religiosos. Além dos registos e levantamento, esta terceira parte da investigação contempla a análise de gestos e intenções no edifício e a sua relação com acontecimentos importantes da história da arte. A confrontação da linguagem de cada uma das fases com outras obras de arquitetura vimaranenses permite chegar a conclusões sobre a importância deste complexo para a cidade. Assim, estabelecem-se pontos que, resultado de todo o processo metodológico, contribuem para a valorização do Convento das Capuchinhas na cidade de Guimarães.

Desta forma, através do registo documental e levantamento métrico e fotográfico das várias partes do edifício no primeiro capítulo, procura-se compreender o objeto como resultado de várias transformações e obras, no segundo, e chega-se a um enquadramento na cidade e em Portugal do convento, no terceiro. Partindo da análise e interpretação, procuram-se registar contributos que fomentem o interesse patrimonial no complexo. Assim, esta investigação procura ainda, colocar-se de forma ativa num eventual futuro processo de intervenção.

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CAPÍTULO 1

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DA HISTÓRIA AO EDIFÍCIO

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REGISTO

Fontes e referências

A documentação existente, relativa ao Convento de Madre Deus de Guimarães, além de variada, encontra-se muito fragmentada. Existe uma diversidade de fontes diretas e indiretas tais como: registos escritos, visuais, arqueológicos e relatos verbais. A comparação com conventos semelhantes e a contextualização na história da cidade de Guimarães são também aspetos que contribuem para a perceção e leitura histórica do edifício. A dispersão temporal das referências disponíveis criam assim, uma “nuvem de acontecimentos” que ajudará a criar uma interpretação da história do edifício.

As referências encontradas variam relativamente a cada época, podendo dividir-se em três diferentes intervalos de tempo: um primeiro remete para a fundação e fase inicial da evolução do edifício (início do século XVIII) onde diversos acontecimentos são apresentados ao longo de um período de cinquenta anos; um segundo, mais extenso (desde os meados do século XVIII até ao final do século XIX), onde se encontram apenas referências históricas pontuais, sem registos de grande importância quanto às obras realizadas; uma terceira remete para reabilitação do edifício (século XX), no qual a documentação é encontrada de forma mais frequente e permite a criação de uma linha cronológica mais rigorosa.

Da época relativa à fundação e primeiros anos de funcionamento do convento destaca-se os

“Livros de Sessões de Vereações da Câmara Municipal de Guimarães”1 [fig. 4] ou, de forma mais

aprofundada, a obra “Guimarães – Apontamentos para a sua história”2. Em termos visuais,

encontram-se aspetos relativos à implantação e orientação da capela e do respetivo complexo monástico.

Sobre o segundo período, onde terá ocorrido uma expansão do convento que se prolonga até à morte da última freira, em 1888, apenas se encontram referências pontuais como datações no cruzeiro, ou referências a momentos específicos relativos à vida no interior do mosteiro. O

“Boletim de trabalhos históricos Volume II – nº 4”3 transcreve o Livro de sepulturas do século XIX,

onde além da morte das freiras, registam anotações sobre as invasões napoleónicas.

Durante o período final (século XX e XXI), encontram-se registos de forma continuada e relativamente bem localizados temporalmente. Destaca-se para esta época o livro “História Breve

1 LIVRODE SESSÕES DE VEREAÇÕES DA CÂMARA MUNICIPAL DE GUIMARÃES. Guimarães: Camara Municipal de Guimarães, 13 de Abril

de 1716.

2 CALDAS, Padre António José Ferreira - Guimarães, Apontamentos para a sua história. Guimarães: Edição Câmara Municipal de Guimarães/

Sociedade Martins Sarmento, 1996.

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Fig. 4: Manuscrito do Livro de Atas da Câmara referente a 13 de Abril 1716, (Arquivo Municipal Alfredo Pimenta).

Fig. 5: Página do Livro Corografia Portugueza onde é descrita a história de fundação do convento. (http://purl.pt/434/3/hg-1065-v/hg-1065-v_item3/index.html#/10).

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das oficinas de São José de Guimarães”4, os registos verbais de ex-alunos das oficinas e registos

fotográficos existentes no arquivo do Centro Juvenil de S. José, plantas e secções do projeto de reabilitação de 1973 bem como o edifício como se encontra hoje.

Além das fontes diretas que registam e contribuem para a construção de uma cronologia histórica datada, existe um conjunto de fontes indiretas que ajudam a caracterizar o edifício na sua

envolvente e a inseri-lo nas correntes artísticas da época em que foi construído [fig. 5]. Relativamente

ao enquadramento urbano, destaca-se as plantas de Guimarães de 1600, 1863 e 1922, e o livro

“A evolução da forma urbana de Guimarães e a criação do seu património edificado”5. A

comparação com outros complexos monásticos, em Guimarães, e da mesma regra religiosa fora da cidade, apresenta-se como uma fonte indireta que pode caracterizar tipologias, épocas de construção e fases artísticas. Bibliografia como “Arquitectura chã – Entre especiarias e

diamantes”6, “Arquitectura Portuguesa: Renascimento, Maneirismo, Estilo Chã”7, teorizam e

definem a arquitetura das épocas em que o edifício é construído, sendo por isso também fontes indiretas que contribuem para uma melhor interpretação da construção.

Como fonte mais recente, e construída no âmbito deste trabalho, destaca-se o levantamento do edifício. O levantamento fotográfico, os desenhos de plantas e secções atualizadas e os desenhos de enquadramento urbano constituem a maior fonte de registo já produzida sobre o convento.

4 ABREU, Araújo, FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da, “História Breve das Oficinas de São José de Guimarães”, Companhia Editora do Minho,

Barcelos, 1989.

5AFONSO, José Ferrão, FERRÃO, Bernardo, “A evolução da forma urbana de Guimarães e a criação do seu património edificado”, Câmara

Municipal de Guimarães, Guimarães.

6 KLUBER, George, Arquitectura Portuguesa Chã, Veja, Lisboa.

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27 Levantamento

Com o intuito de registar o estado atual do edifício foi elaborado o levantamento fotográfico e métrico. Com as fotografias procura criar-se uma narrativa visual sobre temas importantes para a perceção e interpretação da realidade encontrada. O levantamento métrico constitui a base desenhada para todas as especulações sobre fases propostas. Ambos, de forma distinta, constituem ferramentas indispensáveis para a produção da narrativa da vida do edifício no seu passado e presente.

O levantamento fotográfico elaborado encontra-se organizado em quatro partes: ‘Envolvente’; ‘Enquadramentos’; ‘Espaços do Edifício’; ‘Texturas do Edifício’. Para cada uma delas foi feita uma recolha que permitisse construir uma imagem que seja representativa da realidade. As fotos da Envolvente procuram retratar o contexto no qual o edifício se encontra. Desde a sua implantação a ruas ou edifícios, que indiretamente o influenciam, são registadas imagens de elementos que contribuíram/contribuem para a sua marcação na paisagem vimaranense. As imagens dos Enquadramentos permitem entender as várias referências visuais que se estabelecem entre o interior do edifício e o seu exterior. Questões como a relação do convento com a cidade, com o interior da cerca ou com a igreja retratam as formas de viver que estiveram na origem das Capuchinhas. As fotos dos Espaços do Edifício têm por objetivo diferenciar vivências e caracterizar programaticamente os espaços que existem atualmente. São retratados os lugares e atividades que os habitantes e utilizadores do Centro Juvenil aí realizam no dia-a-dia. O registo fotográfico de Texturas do Edifício permite a criação de um registo relativo à materialidade do edifício, dissecando estereotomias, diferenciando paredes e tipos de construção. Construindo um mapa de texturas do edifício procura-se encontrar pistas que fundamentem a especulações das propostas.

O levantamento métrico permite a representação do edifício em secções horizontais (plantas) e secções verticais (Cortes e Alçados). Foram elaboradas quatro plantas, três delas correspondentes a cada piso do objeto arquitetónico e uma de cobertura, onde é representado todo o interior da cerca. As secções horizontais foram feitas utilizando um plano a 1.5 metros de altura em relação à cota de piso a que diz respeito. Nestas pode observar-se a divisão espacial atual no edifício e algumas porções de paredes que remetem para anteriores divisões (existentes em tempos conventuais). Os perfis permitem ter a perceção altimétrica da forma como o antigo convento se organiza e das relações que se estabelecem entre os vários pisos e de cada um destes com a envolvente. Percebem-se também, nas secções verticais, estereotomias e tipos de

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construção que indiciam análises sobre as várias épocas da construção. Da complementaridade entre as plantas e os perfis surgem análises de espessuras de parede, medidas e métricas, vãos e linguagens artísticas que diferenciando-se, distinguem várias fases em que o edifício foi construído.

Partindo do levantamento métrico, constrói-se mais uma das ferramentas de registo visual: o modelo tridimensional do edifício. Através da representação volumétrica do complexo existente, conseguem tirar-se ilações e fazer análises da forma como este poderá ter evoluído e sido transformado. Em simultâneo, permite-se uma perceção da implantação do edifício no terreno e da sua relação com a cerca e a envolvente próxima.

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37 Da atualidade como síntese

Atualmente podem observar-se marcas que remetem para as várias fases e épocas construtivas que o edifício atravessou. O edifício constitui-se como um registo histórico de gestos dos mestres, arquitetos ou simples pedreiros que (re)desenharam o objeto, o traçado e os volumes ao longo da história e demonstra as transformações que ocorreram. A capela-mor da igreja,

orientada a sudoeste, definiu a direção para a qual o edifício se viria a desenvolver [fig. 6]. A ala

sudeste, com uma fachada parcialmente encastrada nos rochedos e outra voltada para a cidade, e o claustro, com fonte central, terão definido o segundo gesto após a implantação da igreja. De planta quadrada com oito pilares contraventados com verga reta e uma fonte austera ao centro, o claustro apresenta-se com um desenho simplista. Já no século XX, com a construção da nova fachada da ala nordeste o volume sudoeste definem um novo gosto e um registo de

contemporaneidade no convento abandonado [fig. 7]. Da mesma forma, a remodelação total do

edifício na década de 80 reflete a crescente necessidade de viver com melhores condições.

A composição de cada parede apresenta-nos uma série de camadas sobrepostas

temporalmente que hoje se apresentam unificadas. Ao perceber e interpretar os panos que constituem a parede poder-se-ão reconstituir fases históricas pelas quais o edifício terá passado. Com uma variabilidade de espessuras de paredes em pedra que vão desde 0.4 até 1.2 metros torna-se presente uma diferenciação de várias fases na construção.

Ao palimpsesto construtivo observável no edifício, composto por vários estratos, junta-se ainda uma sobreposição de intenções e simbolismos criados pelos seus habitantes ao longo dos séculos. É procurada uma marcação de centralidades, recorrendo a água e/ou crucifixos nos vários espaços abertos do convento. À semelhança daquilo que acontece no claustro, o espaço a sudeste do convento (exprimindo a vontade de crescimento do convento com um novo claustro),

organiza o espaço vazio recorrendo a uma fonte [fig. 8]. Já perto da cerca, ainda mais a sudeste

encontra-se um “jardim” marcado por uma fonte com crucifixo. No centro do terreiro, hoje utilizado como Estacionamento do Centro Juvenil de São José, levanta-se um cruzeiro que data de 1775. Todos estes elementos, de forma diferente mas complementar, procuraram uma marcação do poder da igreja (terreiro) e uma comunicação entre aquilo que seria o terreno com o divino através da centralidade e da água.

Com a análise dos vários elementos programáticos podem encontrar-se marcas que refletem as duas grandes ocupações do edifício. Algumas apropriações de espaços, como a cozinha, o respeito pela igreja e a marcação de centralidades no desenho de implantação são

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Fig. 6: Fachada nordeste da igreja com terreiro e cruzeiro - séculos XVII e XVIII.

Fig. 7: Fachada sudoeste do refeitório - século XX.

Fig. 8: Fachada sudoeste - século XVIII.

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sinais que reencaminham o observador para tempos de clausura. A tipografia, as adegas, na ala sudoeste, e a casa dos caseiros, localizada na cota mais alta da cerca, recordam a época das Oficinas em que funcionavam a Escola de Agricultura e a Escola de Tipografia.

Como elementos que remetem para o passado, mas que sofreram alterações, encontra-se ainda a cerca que terá fechado a propriedade e o tanque que abasteceria o convento com água. As volumetrias dos edifícios, atualmente com alturas semelhantes, terão tido outrora diversas altimetrias, das quais se encontram vestígios soltos.

A observação e análise de todos os sinais encontrados no edifício apresentam a atualidade como uma síntese das várias épocas. Ao dissecar e desconstruir as várias camadas que constituem este palimpsesto encontrar-se-ão pistas sobre o passado e sobre as transformações que o edifício terá sofrido. Seja pela implantação e composição do edifício, pelas diferenças construtivas, pelas simbologias ou pela análise programática, o presente é influenciado pelas várias referências ao passado.

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CRONOLOGIA E VIVENCIAS

Acontecimentos e pessoas

Ao longo da história do edifício foram várias as pessoas que mostraram um papel

importante na evolução e transformação do convento [fig. 9]. D. Catarina de Chagas foi a primeira

“regente” do grupo de freiras que sonhou com o Convento de Madre Deus, e uma das pessoas que marcaram e possibilitaram a fundação desta casa em Guimarães. Da mesma forma Soror Luísa Maria da Conceição foi a primeira abadessa. Durante o seu período de regência foram várias as obras de ampliação e melhoramento edifício. Com a morte da última freira, Soror Luísa Maria José, o convento então a funcionar como recolhimento de freiras, foi extinto. D. Domingos foi o principal responsável pela reativação e reabilitação do edifício tendo por objetivo ali viver e ensinar um conjunto de jovens do sexo masculino.

Foi em Junho de 1672 que D. Catarina de Chagas, como regente, se instalou em Vale de

Donas, “onde com as companheiras pudesse observar aquela imitação de vida monástica”8.

Durante o tempo que se encontraram no interior das muralhas da cidade foram recolhendo esmolas e donativos com a ajuda do padre Francisco do Salvador, e assim “principiou a fundação

dum novo convento, hoje de Madre Deus, em 1681, no lugar do Campo Galego, Também chamado

Rosal de Santa Isabel1.

D. Catarina de Chagas e as suas companheiras entraram de forma solene no novo

convento a 4 de Abril de 1683, tendo lá vivido sem “sanção pontifícia nem regra autorizada”9 até

1690, altura em que a D. Catarina parte, para Roma, envergando10 trajes de homem, com o fim

de obter a primeira Regra de Santa Clara. Embora conseguida a 21 de Junho de 1693, não viria a ser executada, devido à morte da regente, quando esta fazia a viagem de regresso.

Em 8 de Janeiro de 1716 é sentenciado em Braga novo Breve, desta feita através do Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, nomeando de seguida a sua irmã, Soror Luísa Maria da Conceição, recolhida no Mosteiro de Madre Deus de Lisboa, como primeira Abadessa do convento. A nova abadessa entrou solenemente na casa conventual vimaranense a 13 de Abril

de 1716, juntamente com “as vinte recolhidas que tomaram o véu”3. Os anos seguintes, em que

foi regente, foram de “valiosos serviços”3 e variadas obras sendo que aquando da sua morte (1 de

Abril de 1739) o número de recolhidas elevava-se já a trinta e três. As décadas seguintes, não

8 CALDAS, Padre António José Ferreira - Guimarães, Apontamentos para a sua história. Guimarães: Edição Câmara Municipal de Guimarães/

Sociedade Martins Sarmento, 1996, p. 341.

9 Idem, Ibidem, p. 342. 10 Idem, Ibidem, p. 344.

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Fig. 9: Cronologia de acontecimentos e pessoas marcantes.

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voltaram a ter uma figura referenciada de tão grande importância à cabeça do convento, tanto pela proximidade ao Arciprestado de Braga como pelas obras do convento.

Pelos inícios do século XIX e sendo Abadessa Soror Maria Magdalena de S. José regente do convento, o Capelão Fr. José de N. Sr.ª dos Anjos registou no verso do frontispício do “Livro

das Sepulturas que tem esta Igreja do Convento das Religiosas da Madre Deos desta Villa de

Guimaraens feito aos 20 de Nob.º de 1793”11 uma nota relativa à passagem das invasões

francesas pelo edifício: “No dia 16 de Março de 1809, sendo perto de nove horas da noite, teve

esta communidade, e Nós todos a disgraça, e ainfeliz sorte de serm os invadidos pello Inimigo

Francês; (…) a onde fizerão as Mais Crueis hostilidades”1

Mais tarde, em 1833, com a proibição do noviciado, o convento precipita-se para a sua extinção. Com morte da última freira, Soror Maria de S. José, em 1888, morre também o último habitante do edifício, que por décadas ficaria fechado e em degradação contínua até 1910, altura em que é profanado e salteado.

Em 1918, surge uma figura que voltará a ser muito influente nos destinos do convento: D. Domingos. O Padre iniciador das Oficinas de S. José tinha por objetivo “educar e instruir em regime

de internato”12 “rapazes pobres e desamparados”2 vai arrendar o convento dando assim início a

um período marcado por consecutivas obras de reabilitação e ampliação que dotaram, progressivamente, o complexo edificado de condições para habitação dos rapazes. Em 1942,

“eram já 70 os alunos internados na Oficinas de São José e pouco mais tarde, seriam já 120”13.

No dia 4 de Junho de 1960 falece D. Domingos, após uma grande obra deixada nas Oficinas e no edifício do antigo Convento das Capuchinhas, onde estas se sediavam.

11 BOLETIM DE TRABALHOS HISTÓRICOS VOLUME II – Nº 4. Guimarães: Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, 1937, p. 190-192.

12 ABREU, Araújo; FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da - História Breve das Oficinas de São José de Guimarães. Barcelos: Companhia Editora

do Minho, 1989 p. 30.

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45 Obras e construções

Em 1681, “principiou a fundação dum convento, hoje da Madre Deus, no Lugar do Campo

Galego, também chamado Rosal de Santa Isabel”14. Durante os séculos seguintes foram várias

as obras de melhoramento e ampliação que resultaram no objeto arquitetónico encontrado hoje [fig.

10]. Embora se encontrem registos de obras elaboradas ao longo de vários séculos, certamente o

edifício terá passado por várias outras não documentadas. A primeira referência ao edifício depois

da sua fundação regista a “entrada solene na sua nova casa”1 a 4 de abril de 1683.

Após execução do Breve que dotava o convento com a Regra de Santa Clara, faz-se referência à entrada solene de Luísa Maria da Conceição, primeira abadessa da casa, a 13 de

abril de 1716. Na mesma semana, a 17 de abril foi benzido o “cemitério interior do convento”15.

Subsequentemente, a abadessa faria diversas obras nos anos de regência (1716-1739). Nos primeiros doze anos “ladrilhou o claustro, que era térreo; dividiu-o em sepulturas; levantou um

novo dormitório, dotando-o com uma sala de labor, ampla e alegre; acrescentou várias celas,

casas do noviçado e livraria”16. Em 1728, após a morte do Arcebispo D. Rodrigo Moura de Teles,

irmão de D. Maria Luísa da Conceição, “construiu uma vasta e espaçosa enfermaria, com cozinha

dentro dela para o serviço da mesma; refeitório para comerem juntas as convalescentes; capela ao fundo da enfermaria para ali dizerem missa os padres que vão administrar os sacramentos e

mais duas capelas para uso das convalescentes”3. Mais tarde, ainda antes de falecer, mandou

“construir uma cozinha com quatro torneiras de água dentro, e várias casas térreas e celeiros.

Alargou e ornou o coro que era muito limitado e escuro; e conseguiu licença para nele terem o sacramento, que aí foi colocado a primeira vez, com grande solenidade em dia das chagas de S.

Francisco em 1734”3. Anos depois, em 1775, “no adro fronteiro à porta da igreja, levanta-se um

cruzeiro modesto”17. Após 1888, com a morte de Soror Luísa Maria de São José, o edifício fica em

contínuo abandono acontecendo a “profanação da capela do convento das Capuchinhas”18.

Com o arrendamento do edifício pelas Oficinas foram feitas obras de restauro que permitissem a sua habitabilidade. Corria o ano de 1919 quando “a Igreja foi recoberta com um

novo telhado”19. Em 1930 sendo que “os dormitórios tinham vindo, desde o início da ocupação do

14 CALDAS, Padre António José Ferreira - Guimarães, Apontamentos para a sua história. Guimarães: Edição Câmara Municipal de Guimarães/

Sociedade Martins Sarmento, 1996, p. 341.

15 Idem, Ibidem, p. 343. 16 Idem, Ibidem, p. 344. 17 Idem, Ibidem, p. 345.

18 ABREU, Araújo; FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da - História Breve das Oficinas de São José de Guimarães. Barcelos: Companhia Editora

do Minho, 1989, p.78.

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convento a serem melhorados”20, as “obras continuaram a fazer-se e alargaram-se à cozinha”1.

Dois anos mais e “era preciso continuar com o restauro do velho convento para se poder começar

a lecionar a instrução primária em boas condições”21. No ano de 1935 terminou-se “o restauro da

parte sul”22 que vinha sendo levada a cabo com apoios da Direção dos Monumentos Nacionais e

do Fundo de Desemprego.

“Em 1936 as Oficinas foram dotadas com uma padaria própria”23 funcionando como

escola. Seis anos depois, abrem as escolas de alfaiataria, de tecelagem e de serralharia. Relativamente a 1943, há registo de obras na igreja tendo no ano seguinte “retomadas as obras

de restauro do edifício”24. Abriu-se a Escola Profissional de Sapataria decorria o ano de 1948,

recebendo um fundo da Direção Geral dos Serviços de Urbanização no ano de 1949 para dotar as escolas profissionais de novos pavilhões e para se reparar a parte velha do antigo convento.

No final da década de 70, são executadas obras, a mando da Direcção da Comissão de Equipamentos Colectivos da Secretaria de Estado da Segurança Social, para remodelar todo o edifício. Estas obras tiveram por objetivo melhorar as condições de habitação. Os dormitórios foram dotados de novo mobiliário, a cozinha e o refeitório apetrechados com novos equipamentos. O Centro Juvenil passou ainda a dispor de uma nova lavandaria que até então não possuía. No ano de 1982, após visita ao lugar, o Ministro dos Assuntos Sociais doou 300 mil escudos para a construção de um ringue desportivo que viria a ser construído a nordeste do edifício.

20 ABREU, Araújo; FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da - História Breve das Oficinas de São José de Guimarães. Barcelos: Companhia Editora

do Minho, 1989, p.45.

21 Idem, Ibidem, p.50. 22 Idem, Ibidem, p.52. 23 Idem, Ibidem, p.52. 24 Idem, Ibidem, p.54.

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49 Evolução programática

O convento foi originalmente construído no século XVII para servir como local de habitação, clausura e contemplação, para um conjunto de freiras que adotaram a ordem das Capuchinhas e a regra de Santa Clara para a orientação da sua vida. O edifício ter-se-á desenhado como um lugar de habitação em comunidade no qual imperaria o silêncio e a reflexão, associado a uma série de rituais de culto. Séculos mais tarde, aquando da sua reocupação, o edifício voltava a ser utilizado para habitação coletiva, por um grupo de rapazes pobres. A arquitetura de interioridade e clausura passou então progressivamente a transformar-se com espaços de exterioridade e relação com a sociedade vimaranense.

Como se pode depreender, o conceito de “família”, enquanto grupo de pessoas que partilha as suas atividades diárias foi uma constante ao longo de toda a história do edifício. Enquanto família de religiosas, em conjunto, as freiras tentavam perceber e interpretar os ensinamentos bíblicos baseando-se da regra de Santa Clara. Partilhavam os seus almoços, sacrifícios, e o próprio estilo de vida. Desde a abadessa até às noviças, cada elemento desta comunidade teria um papel a desempenhar no funcionamento da casa, contribuindo para o bom funcionamento interno, representativo do mundo que habitavam e partilhavam. Como família de rapazes, os jovens encontravam nos seus orientadores uma imagem paternal e nos seus colegas irmãos espelhos de irmandade. Com estes partilhavam as suas rotinas, atividades, o dia-a-dia e as aprendizagens. A relação entre eles era de tal forma representativas que ainda hoje se pode

observar os dormitórios divididos em “Famílias”25.Nestes locais de dormida, os rapazes tinham

representado o grupo de irmãos que constituía a sua família mais próxima, dentro da grande família das Oficinas.

A primeira implantação do edifício surgiu muito devido à vontade das freiras em levar uma vida em clausura e culto. A construção da igreja respondeu à necessidade de criar um lugar próprio das freiras, onde estas pudessem fazer as suas preces e reflexões diárias. O claustro e as suas alas tornaram possível a vida em clausura. O convento transformava-se, progressivamente, de forma a responder a todas as necessidades da sua comunidade. O edifício procurava conter uma cidade em si próprio. O programa da “urbis” aparecia numa escala diferente no interior do convento. Desde os lugares de pernoita até ao de alimentação, ou cultura, o complexo adquiriu

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programas diversos que visavam responder no seu interior a todas as questões que a própria cidade continha. Dormitórios, cozinha, refeitório, livraria, capelas, lugar de enterramento, e

enfermaria são espaços de existência registada26.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834 e proibição do noviciado em 1833, o convento ficou com o seu cessar programado. No ano de 1888 morre a última freira ficando o edifício sem qualquer tipo de utilização durante vinte e dois anos. Quando apropriado pelas Oficinas, a função dos espaços foi repensada. Lugares como dormitórios ou cozinha faziam também parte das necessidades para o dia-a-dia de uma “família” de rapazes. Situada a Noroeste, a igreja teve um papel importante para a formação dos jovens. D. Domingos, pároco vimaranense iniciador do grupo, sempre “ia celebrar e mesmo confessar para que a assistência religiosa “aos

seus rapazes” nunca viesse a faltar”27.

Além da educação religiosa e das necessidades básicas de habitação, o edifício foi sofrendo alterações muito devido a novas “escolas” de ensino profissional que ali se foram estabelecendo. Escola de Alfaiataria, Escola de Tecelagem, Escola de Serralharia, Escola de Sapataria, Escola de Carpintaria, Escola Agrícola e Banda Musical, foram os vários programas que procuraram fazer uma integração dos seus alunos com a realidade e necessidades sociais vimaranenses. Atualmente encontra-se ainda a tipografia como único programa que continua a funcionar. A relação das Oficinas com a indústria e mercado vimaranense foi uma constante no último século. Observou-se uma formação de trabalhadores especializados nos espaços onde funcionavam as “escolas”, produção agrícola nas terras do antigo convento e mais recentemente a exploração das próprias instalações como hostel.

A integração social nas oficinas contrasta com a outrora clausura conventual das freiras. O mesmo edifício que funcionava como barreira entre o mundo e a vida dos seus habitantes é hoje, e cada vez mais, uma peça que se liga com a cidade pela sua adaptabilidade programática. O modo de viver, produzir e interagir nos seus espaços demonstra uma forte ligação com várias outras atividades, como o desporto, a educação e a própria vida familiar fora do Centro Juvenil. Ao crescente fluxo de turismo da cidade, o Centro respondeu com a abertura de um hostel, no sentido de aumentar essa abertura progressiva do edifício á urbe.

Em termos gerais pode então considerar-se que o edifício teve duas grandes fases ideológicas que influenciaram o edificado: uma primeira de clausura que desenvolveu o convento

26 CALDAS, Padre António José Ferreira - Guimarães, Apontamentos para a sua história. Guimarães: Edição Câmara Municipal de Guimarães/

Sociedade Martins Sarmento, 1996, p. 341.

27 ABREU, Araújo; FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da - História Breve das Oficinas de São José de Guimarães. Barcelos: Companhia Editora

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para funcionar em si e para si próprio; uma segunda que o tem dotado de uma abertura para a cidade e para a população. Nas duas fases encontram-se alguns programas semelhantes, como dormitórios, cozinha ou zona de trabalho, mas também em ambas observam-se programas específicos de cada época, como capelas em tempos conventuais ou escolas de formação e hostel enquanto Oficinas e Centro Juvenil.

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DA HISTÓRIA AO EDIFÍCIO

55 Vivências

A partir do momento em que as religiosas capuchinhas abraçaram a vida em comunidade

no convento, passaram a viver sob os ensinamentos e preceitos de “Santa Clara”28. A “vida

enclausurada”29 das irmãs passava, então, a centralizar as suas forças na interioridade pessoal e

busca do divino, relegando todo o mundo exterior para segundo plano. Assim, “não lhes seja

permitido sair do mosteiro sem um motivo útil, razoável, manifesto e aprovado”30.

A organização e gestão do convento seria feita de forma hierárquica. A abadessa, regente e maior figura do edifício, responderia perante o “governador, protector e corrector o cardeal da

Igreja romana que for designado pelo senhor Papa para os Frades Menores”31. A abadessa e

todas as suas irmãs subordinadas teriam por incumbência o ensino e transmissão dos valores da ordem às noviças. Aquando da entrada, as noviças comprometiam-se a “viver comunitariamente

em espírito de unidade e com voto de altíssima pobreza”32 e “se for idônea, digam-lhe a palavra

do Santo Evangelho que vá vender tudo o que é seu e procure dá-lo aos pobres”33.

Todas as religiosas teriam de “observar o santo evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo

vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade”34. O ambiente de todo o complexo

seria marcado por um constante silêncio, escutando-se o som da água e da natureza que dentro

da cerca se poderia sentir [fig. 11]. A regra de Santa Clara faz referência a este ambiente dizendo:

“observem o silêncio desde a hora de completas até à Terça. Calem-se também continuamente

na Igreja e no dormitório; no refeitório só enquanto comem”35.

O sacrifício e auto admoestação seriam uma constante no dia-a-dia do convento, fosse pela regra que a tal obrigava, fosse pela falta de recursos que na comunidade se poderia encontrar. O contacto entre as freiras e o exterior seria evitado ao máximo. Junto ao portão de entrada deveria ter “uma porta de madeira, bem defendida por duas fechaduras de ferro diferentes, ferrolhos e

trancas”36 onde de encontraria o único ponto de comunicação do edifício com a população: a

grade. Sobre a comunicação neste local é ainda dito que “ninguém deve falar com alguém na

grade, de

28 REGRA DE SANTA CLARA POR PAPA INOCÊNCIO IV, 1247. 29 Idem, Ibidem, Prólogo.

30 Idem, Ibidem, Capítulo XII, 12. 31 Idem, Ibidem, Prólogo. 32 Idem, Ibidem, Capítulo II, 8. 33 Idem, Ibidem, Capítulo V, 1-2. 34 Idem, Ibidem, Capítulo VII, 2. 35 Idem, Ibidem, Capítulo III, 8. 36 Idem, Ibidem, Capítulo V, 11.

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modo algum, antes do nascer do sol ou depois do pôr do sol”37 e que “não seja permitido às irmãs

falar no locutório ou na grade sem licença da abadessa ou de sua vigária”38.

Quando alguma irmã necessitar de sair do convento “não se ausente por muito tempo, a

não ser que o exija uma manifesta necessidade”39 e “devem falar pouco, para poderem identificar

sempre os que as virem”40.

As freiras Capuchinhas assistiriam à celebração eucarística atrás de uma grade de forma

a conseguirem ver sem serem vistas [fig. 12]. Entrariam em contacto com o confessor que teria o

encargo aconselhar as mesmas devendo no momento da confissão estar num lugar em que pudesse ser visto.

Para sustento da casa e “afastando o ócio, inimigo da alma”41, as freiras teriam tarefas a

realizar que “a abadessa ou a vigária devem indicar em capítulo”42. Estas tarefas poderiam ir desde

trabalhos na enfermaria, até ao cultivo agrícola no interior da cerca, à preparação de refeições ou ao zelo pelo asseio das instalações.

Cada espaço do edifício teria um ambiente específico sendo a vivência diversificada e definida pelas atividades que neles se fariam. A igreja seria o lugar mais sagrado e respeitado do complexo, aquele no qual as freiras teriam mais brio e orgulho. As celas, voltadas para o interior da cerca, seriam locais habitados apenas durante a noite. O claustro seria silencioso, ouvindo-se apenas o som da água na fonte. Na enfermaria poderia haver algum ruído “para distrair as

doentes”43.

No final do século XIX, com o edifício sem utilização, os espaços começaram a degradar-se e com isso as vivências foram substituídas pelo abandono pela progressiva apropriação pela natureza. No interior do convento restariam os poucos bens das freiras, e encontrar-se-iam rebocos e madeiras a deteriorarem-se pela falta de manutenção.

Em 1918, após obras de remodelação, D. Domingos e os seus rapazes instalam-se no edifício monástico dotando os espaços com um novo caracter. Em espirito cristão, os rapazes viam o padre educador como figura paternal de todos, demonstrando pelo mesmo grande respeito e devoção. Resgatando jovens pobres, as oficinas procuravam a sua reintegração social alterando

os seus hábitos [fig. 13]. Educavam-nos de forma a melhorar o seu futuro. O espírito de “educação

37 REGRA DE SANTA CLARA POR PAPA INOCÊNCIO IV, 1247 Capítulo V, 14. 38 Idem, Ibidem, Capítulo V, 5.

39 Idem, Ibidem, Capítulo IX, 12. 40 Idem, Ibidem, Capítulo IX, 13. 41,Idem, Ibidem, Capítulo VII, 2. 42 Idem, Ibidem, Capítulo VII, 3. 43 Idem, Ibidem, Capítulo V, 3.

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Fig. 13: Jovens das Oficinas do São José na primeira colónia de férias (História Breve das Oficinas de S. José de Guimarães).

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religiosa”44 para a vida, regeu o ensino desde a fundação das Oficinas até à sua transição para

Centro Juvenil de S. José. O catolicismo era de tal forma importante no início que D. Domingos “aconselhava todos os alunos a que, sempre que passassem pela capela, não deixassem de entrar

nela”45.

Ao contrário das freiras, era para a integração na cidade e na sociedade que esta nova comunidade trabalhava. O projeto propunha uma integração dos rapazes na cidade e por isso estabeleciam-se fortes ligações com a mesma. As saídas, em forma de visita de estudo como “a

1ª colónia de férias em Vila do Conde”46 era um desses sinais de abertura. A integração de

profissionais, formados nas escolas das Oficinas, no mercado de trabalho ou a participação da

“Banda de Música”47 em alguns acontecimentos e festas da cidade reforçam a ideia que as

Oficinas trabalhavam em conjunto com a sociedade e a cidade Vimaranense.

A integração dos alunos formados nas escolas das Oficinas em indústrias ou grupos de Guimarães foi uma constante. Da escola de Tipografia saíram alguns dos melhores profissionais

do ramo [fig. 14] e da escolas de Carpintaria, Serralharia, Tecelagem e Sapataria trabalhadores que

ainda hoje laboram na mesma área. Saíram também músicos que ingressaram na Banda dos Guizes, dos Bombeiros e várias outras.

Após a instalação das Oficinas no antigo convento, várias personagens passam a desempenhar diversas tarefas num mesmo lugar. Com os rapazes, a serem os utilizadores principais dos espaços, surgem novas figuras de destaque no funcionamento da comunidade: diretores, professores ou auxiliares de manutenção trabalham em simultâneo no edifício e complexificam o seu programa.

Atualmente, fruto da diversidade de usos, a espacialidade original do edifício encontra-se subdividida, e cada atividade/sector a usufrui do seu espaço próprio: a igreja apresenta-se como um lugar museológico de acesso pontual e com valor artístico; a tipografia, descendente da antiga escola, aparece como espaço de trabalho industrial estandardizado; a secretaria e as salas de direção surgem como lugares de administração; nos dormitórios, espaços formalmente semelhantes, encontram-se dois tipos de vivência: uma associada aos jovens do Centro que os utilizam apenas para dormir (fruto da ocupação com atividades no resto do dia) e uma outra ligada ao hostel, onde os quartos deixam de ser apenas locais de repouso e adquirem uma dimensão de

44 ABREU, Araújo; FONSECA, Álvaro Baltasar Moreira da - História Breve das Oficinas de São José de Guimarães. Barcelos: Companhia Editora

do Minho, 1989, p.77.

45 Idem, Ibidem, p.79. 46 Idem, Ibidem, p.44. 47 Idem, Ibidem, p.97.

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casa (utilização dos dormitórios durante todo o dia e com usos que vão desde a alimentação ao lazer e repouso); a cantina é provavelmente o programa atual mais próximo ao antigo refeitório existente ao tempo conventual com a preparação de refeições de forma comunitária a manter-se e a utilização do espaço a confinar-se às horas das refeições tal como antes.

Em termos da relação das pessoas que habitaram o convento com a cidade e a sociedade observa-se uma progressiva alteração ao longo da sua história. Desde as freiras que se enclausuravam até aos dias de hoje, em que os alunos vivem fora durante a maior parte do dia, houve uma crescente abertura na forma de viver. O convento “muralha”, fechado em si próprio, é cada vez mais um equipamento que faz parte da cidade, estabelece relações e encontra-se ligado à sua envolvente. Em simultâneo, o edifício sofreu uma fragmentação faseada como resposta à diversificação de utilizadores e de novas tarefas que surgiram.

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CAPÍTULO 2

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DA LEITURA DO EDIFICÍO À INTERPRETAÇÃO

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MÉTODO INTERPRETATIVO

Tendo por objetivo criar uma narrativa histórica do edifício propõe-se a criação de um olhar específico sobre o objeto. Devido a esta abordagem, o trabalho será sempre marcado por uma singularidade resultante do cruzamento da nova informação recolhida com o conhecimento já adquirido. Com a interpretação pretende-se criar uma reconstituição das formas e volumes de um edifício sobre o qual existe pouco registo. Dados relativos à construção e contexto (local e temporal) são tratados de forma a conseguir criar informação que contribua para a elaboração da linha cronológica do objeto. Para o desenvolvimento da narrativa utilizam-se como fontes principais o levantamento métrico e visual elaborado e os registos escritos e verbais encontrados.

A construção de uma linha cronológica relativa ao Convento das Capuchinhas implica que seja definido o intervalo de tempo em que o edifício terá existido. A sua fundação (1683) marca assim o ponto inicial de reflexão sobre o objeto. O estado atual (2014) apresenta-se como última fase do intervalo em estudo. Relativamente ao período anterior á existência do convento serão feitas referências que se considerem importantes para perceber os motivos que levaram á sua construção ou que justifiquem a forma e morfologia do edifício.

As obras e os acontecimentos marcantes que mantiveram o Convento das Capuchinhas em constante transformação conduzirão á definição das suas fases de evolução. Fazendo uma divisão temporal da linha cronológica de forma a obter uma síntese da transformação do edifício, consideraram-se três intervalos principais que se subdividem do seguinte modo: ‘Conventual’ analisa o convento desde a sua fundação até à data em que se deu a extinção da vida monástica com a morte da última capuchinha (1683-1888); ‘Abandono’ interpreta aquilo que terá sido o convento numa fase de abandono posterior á sua extinção (1888-1918); ‘Oficinas e Centro Juvenil’ faz uma síntese das transformações ocorridas desde a introdução das Oficinas de São José no edifício até à atualidade (1918-2014). Cada intervalo de tempo será subdividido em fases que funcionam como “secções temporais” da linha cronológica. Em conjunto, estas imagens do edifício em diversos momentos explicam a transformação que o objeto sofreu ao longo dos séculos e o seu estado atual.

Esta divisão contribuirá para uma identificação e valorização de cada setor do edifico em relação ao seu todo. Com a dissecação do palimpsesto das camadas construtivas, sobrepostas ou justapostas ao longo do tempo, encontrar-se-ão fragmentos que serão utilizados como pistas e justificações para a interpretação de cada fase. Numa investigação de vestígios, visíveis no edifício atual, procura-se recriar cenários anteriores do volume. Em paralelo estarão os registos

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DA LEITURA DO EDIFICÍO À INTERPRETAÇÃO

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escritos e orais sobre o passado que justificam e servem de linhas matrizes para a investigação da construção. Após a definição de cada fase, utilizando os fragmentos e registos, procurar-se-á fazer uma interpretação da mesma de forma a conseguir construir uma linha cronológica coerente e representativa da transformação do edifício.

Metodologicamente, a interpretação começou com o levantamento das marcas encontradas, através do recurso a desenhos e fotografias. Depois disto foram definidos, com o auxílio de documentação, os três intervalos de tempo nos quais os vestígios se enquadram. Viriam a ser subdivididos em fases após uma interpretação dos dados relativos a cada intervalo com exceção ‘Abandono’ representa-se apenas numa fase, por ser referente a um curto período de tempo no qual não terão existido obras. Numa segunda parte, os fragmentos dentro de cada intervalo foram analisados e reorganizados de forma mais profunda com objetivo de conseguir fazer o enquadramento de cada um deles no contexto artístico/arquitetónico da época. Ressalva-se a possibilidade de haver marcas cuja faRessalva-se não Ressalva-se encontre bem definida e que, por isso, Ressalva-sejam referenciados como possibilidade interpretativa em mais que uma fase.

Para a análise dos traços do edifício foram consideradas várias ferramentas: o levantamento que possibilita a comparação direta com outros vestígios do convento ou com construções semelhantes na região ou na ordem capuchinha; o contexto histórico, social e artístico da época que pode justificar intervenções e caracterizar objetos no tempo pelas suas linguagens; os registos escritos e verbais encontrados que documentam e fazem referências diretas e indiretas a construções e transformações no edifício.

Após todas as pistas conseguidas através do estudo dos fragmentos, são criadas possíveis “imagens” do edifício. Uma nova interpretação original ganha espaço nesta parte do trabalho de forma a colmatar algumas incertezas ou incoerências de dados resultantes da análise e da inconstância de registos existentes. São definidas várias possibilidades de “imagens” que criem narrativas coerentes sobre o edifício utilizando os dados disponíveis. A proposta final de evolução do edifício funcionará como uma síntese das transformações ocorridas ao longo dos séculos. A sua fundamentação incorporará todos os dados importantes sobre a construção desde a sua fundação até à atualidade. Pela sua abordagem, o olhar interpretativo deste método transforma esta investigação, num trabalho aberto a futuros contributos que permitam aprofundar as narrativas. As “imagens” finais criadas para cada uma das fases resultam da análise feita e dos dados recolhidos em relação ao edifício. Por isso, este processo de trabalho pode ser considerado um exercício de criação e compilação de conhecimento inédito relativo á história do edifício.

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Fig. 15: Recolhimento do Anjo no Largo Condessa do Juncal antes da sua demolição (http://www.amap.com.pt/uploads/c/content/4/6-66-5-7.jpg).

Fig. 16: Rua Val de Donas (http://reimaginar.webprodz.com/imagem/pt-rmgmr-cfm-268/).

Imagem

Fig. 1: Ortofotomapa de Guimarães com localização do Convento de Madre Deus
Fig. 4: Manuscrito do Livro de Atas da Câmara referente a 13 de Abril 1716, (Arquivo Municipal Alfredo Pimenta)
Fig. 6: Fachada nordeste da igreja com terreiro e cruzeiro - séculos XVII e XVIII.
Fig. 13: Jovens das Oficinas do São José na primeira colónia de férias (História Breve das Oficinas de S
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