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Migração Norte/Nordeste para a Amazônia Oriental / North/Northeast Migration to Eastern Amazonia

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.75526-75545,oct. 2020. ISSN 2525-8761

Migração Norte/Nordeste para a Amazônia Oriental

North/Northeast Migration to Eastern Amazonia

DOI:10.34117/bjdv6n10-109

Recebimento dos originais: 08/09/2020 Aceitação para publicação: 06/10/2020

Cleide Pereira dos Anjos

Doutoranda em Geografia Humana pelo PPGH/USP

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.75526-75545,oct. 2020. ISSN 2525-8761 RESUMO

O presente trabalho tem como problemática a relação entre a migração Norte-Nordeste para as regiões Sul e Sudeste do estado do Pará e a criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) nos governos Lula-Dilma (2002-2016). Desta forma, o objetivo é compreender que conexão existe entre as dinâmicas migratórias das regiões Norte-Nordeste para as regiões Sul e Sudeste do Pará e a criação da Unifesspa. Como resultados preliminares, têm-se um Estudo de Caso com pesquisa bibliográfica, aplicação de questionários aos (as) alunos (as) da referida universidade, sendo uma turma por curso e realização de entrevistas semiestruturadas com sujeitos das instâncias governamentais, diretamente relacionadas com a criação da Unifesspa. A dinâmica regional amazônica de desenvolvimento ocorreu a partir de formas centralizadas de apropriação de seu território, dentro de uma política de territorialização do capital e expansão do capitalismo. De acordo com Loureiro (1992), receando uma intervenção internacional, o governo militar do Presidente Médici (1969-1974) decide concretizar um projeto territorial de integrar a Amazônia ao restante do Brasil. O lema ideológico “homens sem terra para terras sem homens” criou a solução perfeita para resolver o problema da seca no Nordeste e povoar a Amazônia, criou-se para isso o Programa de Integração Nacional (PIN) de caráter geopolítico, pelo governo militar, através do decreto-lei 1.106 de 16 de julho de 19 70. Isso se constituía como uma ação territorial pública, através da criação das frentes pioneiras, Mello (2006); A partir do PIN, implementaram-se os Planos Nacionais de Desenvolvimento I e II (PND I e II). O conceito de território na pesquisa é o de Santos e Silveira (2008), onde se entende território como uma extensão apropriada e usada. Hebétte (2004) caracteriza este fenômeno da migração em massa de nordestinos como a mobilidade da força de trabalho, num contexto de expansão do capitalismo e territorialização do capital (Heidemann, Toledo e Boechat, 2018), como meio de produção internacionalmente dominante. A partir desta política é que é criado o lema “integrar para não entregar” e ocorre a abertura da rodovia Transamazônica como a principal via de comunicação e de colonização regional. Ratzel (1990) concebe o Estado como organismo territorial, referência ao seu papel de articular o povo ao solo, por meio de políticas territoriais. Dele se origina o termo geopolítica que é o pensamento ideológico do Estado. Assim, pretende-se investigar o fenômeno da migração Norte-Nordeste no contexto da criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) como mais uma política de modernização do território, e como perspectiva de desenvolvimento da região, sustentada por propostas que promovam a dignidade humana, através da educação.

Palavras-chave: Migração, Território e Educação. ABSTRACT

The present work deals with the relationship between North-Northeast migration to the South and Southeast regions of Pará state and the creation of the Federal University of Southern and Southeastern Pará (Unifesspa) in the Lula-Dilma governments (2002-2016). In this way, the objective is to understand the connection between the migratory dynamics of the North-Northeast regions to the South and Southeast regions of Pará and the creation of Unifesspa. As preliminary results, there is a Case Study with bibliographical research, questionnaires applied to the students of that university, one class per course and semi-structured interviews with subjects of the governmental instances, directly related to the creation of Unifesspa. The regional Amazonian dynamics of development occurred from centralized forms of appropriation of its territory, within a policy of territorialization of capital and expansion of capitalism. According to Loureiro (1992), fearing an international intervention, the military government of President Medici (1969-1974) decides to concretize a territorial project to integrate the Amazon to the rest of Brazil. The ideological slogan "landless men for land without men" created the perfect solution to solve the problem of drought in the Northeast and populate the Amazon, created the National Integration

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Program (NIP) of geopolitical character by the military government, through Decree-Law 1,106 of July 16, 1970. This was constituted as a public territorial action, through the creation of the pioneer fronts, Mello (2006); From the PIN, the National Development Plans I and II (PND I and II) were implemented. The concept of territory in the research is that of Santos and Silveira (2008), where territory is understood as an appropriate and used extension. Hebtette (2004) characterizes this phenomenon of the mass migration of northeastern people as the mobility of the labor force, in a context of capitalist expansion and territorialization of capital (Heidemann, Toledo and Boechat, 2018), as an internationally dominant means of production. From this policy is created the motto "integrate not to deliver" and the opening of the Trans-Amazon Highway as the main means of communication and regional colonization occurs. Ratzel (1990) conceives the State as territorial organism, reference to its role of articulating the people to the ground, through territorial policies. From him originates the geopolitical term that is the ideological thought of the State. Thus, it is intended to investigate the phenomenon of North-Northeast migration in the context of the creation of the Federal University of Southern and Southeastern Pará (UNIFESSPA) as another policy for the modernization of the territory, and as a development perspective for the region, supported by proposals that promote human dignity through education.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.75526-75545,oct. 2020. ISSN 2525-8761 1 INTRODUÇÃO

Pretende-se investigar nesta pesquisa qual seria a relação existente entre o fenômeno da migração Norte-nordeste para a Amazônia Oriental, mesorregião do Sudeste do estado do Pará, no contexto do decreto e execução do PIN, na década de 1970, e a criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), nos governos Lula-Dilma (2002-2016), no ano de 2013, dentro da política de expansão do ensino superior, através do REUNI.

A criação da universidade se constitui como mais uma política de modernização do território e, também, como perspectiva de desenvolvimento para a região, já que o REUNI tem por meta reduzir as desigualdades sociais a partir de propostas que visam promover adignidade humana e a redução das disparidades através da educação.

De acordo com Hebétte (2204), a migração Norte-nordeste promovida pelo Programa de Integração Nacional (PIN) na mesorregião sudeste do Pará, através do decreto-lei 1106 de 16 de julho de 1970, no governo do Presidente Médici, decorrente do I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), constituía-se na mobilidade da força de trabalho nordestina para a Amazônia.

Assim, o referencial teórico contempla estudos sobre as políticas públicas para a região amazônica, a mobilidade da força de trabalho e a criação da UNIFESSPA, através do REUNI. Desta maneira, este estudo se torna relevante devido as condições atuais da mesorregião do Sudeste do Pará marcada por fortes desigualdades sociais, tensões fundiárias e conflitos, tanto no campo quanto nas áreas urbanas.

2 METODOLOGIA

A investigação terá como procedimentos metodológicos diversas etapas e será fundamentada nos pressupostos da pesquisa quali-quantitativa (GAMBOA, 1997, p. 105), com auxílio da pesquisa historiográfica. Serão trabalhados dados estatísticos do IBGE e a aplicação de um questionário aos (as) alunos (as) de todos os cursos da UNIFESSPA. Também serão utilizados dados qualitativos através de entrevistas semi-estruturadas, a partir das orientações teóricas de Cajueiro (2015). Com isso, assegura-se a interpretação e atribuição de significados que são situações básicas de pesquisa qualitativa.

Neste sentido, serão utilizados os procedimentos técnicos de um Estudo de Caso Interpretativo e Pesquisa Bibliográfica de acordo com os estudos de Cajueiro (2015, p. 22). A amostra de pesquisa será composta de uma turma de alunos (as) de cada curso da UNIFESSPA, englobando todos os campi.

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Para a análise de dados, vai se trabalhar com a proposta da Análise de Conteúdo de Franco (2005, p. 13). Trata-se de um Estudo de Caso, com pesquisa bibliográfica, aplicação de questionários aos (as) alunos (as) dos cursos da UNIFESSPA, nos campi, uma turma por curso e realização de entrevistas semiestruturadas com sujeitos das instâncias governamentais, diretamente relacionadas com a criação da respectiva universidade.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A pesquisa será realizada na mesorregião do Sudeste do Pará, na UNIFESSPA, em seus múltiplos campi. Far-se-á visitas aos campi para aplicação do questionário e também aos entrevistados que se situam na cidade de Marabá/Pa e em Belém/Pa).

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS TERRITORIAIS PARA A AMAZÔNIA BRASILEIRA E A MOBILIDADE DA FORÇA DE TRABALHO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A dinâmica regional de planejamento do desenvolvimento do território amazônico ocorreu a partir de uma política de planejamento centralizada baseada nos princípios de integração nacional, segurança e desenvolvimento com financiamento internacional. Onde, o que ocorreu efetivamente foi a apropriação de seu território por diferentes atores políticos. De acordo com Oliveira (1990, p. 11), em função “da importância econômica e estratégica dessa região, muitos tem sido os projetos internacionais para mundializá-la”.

Nesta pesquisa, adota-se como conceito de território o definido por Santos e Silveira (2008) onde se entende por território“[...] geralmente a extensão apropriada e usada” (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p. 19). A discussão sobre o assunto é bastante complexa e em nosso problema de estudo, compreende-se que o território amazônico foi planejado e organizado, sob o ponto de vista político, pelos governos militares conforme pressupostos do pensamento geopolítico, alicerçados nos princípios de segurança e desenvolvimento.

Efetivamente, concebia-se esta população migrante apenas como força de trabalho e, também, por conta das tensões sociais como uma ameaça à segurança nacional. Entretanto, território, além de ser uma extensão apropriada e usada, igualmente envolve o fato de se construir territorialidade ao se habitar uma determinada porção do território, que quer dizer pertencer aquilo que nos pertence. Isto significa que há um princípio de identificação cultural de quem habita este território.

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Loureiro (1992) afirma que, com medo de uma intervenção internacional, o governo militar do Presidente Emílio Garrastazu Médici decide concretizar um projeto territorial de integrar a Amazônia ao restante do Brasil. O lema ideológico “homens sem terra para terras sem homens” criou a solução perfeita para resolver o problema da seca no Nordeste e as tensões sociais provocadas pela forte concentração de terras na região, bem como a luta por reforma agrária pelas ligas camponesase, assim, povoar a Amazônia, conceituada como uma região de imensos “vazios demográficos” a fim de induzir o seu desenvolvimento.

Segundo Mello (2006), “seu dever era garantir a segurança das fronteiras, fazê-las mais povoadas, ligá-las aos centros dinâmicos do país, e encontrar meios de reduzir tensões locais [...]”. (p. 24). Para isso, criou-se o Programa de Integração Nacional (PIN) - de caráter geopolítico - pelo governo militar, através do decreto-lei nº 1106 de 16 de julho de 1970, assinado pelo Presidente Médici. A proposta era baseada na utilização de mão-de-obra nordestina, liberada pelas grandes secas de 1969-1970 e da noção de “vazios demográficos” amazônicos, por meio de um projeto de colonização.

Mapa 01 – mapa rodovias

Fonte: Org. autor

O PIN é decorrente do I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) elaborado e executado entre 1972 a 1974, onde o princípio de desenvolvimento regional brasileiro foi organizado a partir

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de uma política de integração nacional. Conforme Oliveira (1988, p. 89), “coube ao I PND, consagrar este princípio gestado nas escolas militares norte-americanas e transferido para o Brasil, por meio de inúmeros acordos militares entre os dois países na Segunda Guerra Mundial”.

O I PND se constitui no início da política de expansão do capitalismo na Amazônia. Por essa razão, ao longo da abertura da estrada Transamazônica foi criado um projeto de colonização e assentamento de famílias vindas da região Nordeste e Centro-Sul. Tratava-se de construir 15 mil quilômetros de rodovias nessa região; Dos quais, 3.300 quilômetros pertenceriam à rodovia Transamazônica (BR-230).

Dentro dessa política de integração nacional, a Amazônia era concebida pelos governos militares, na década de 70, como um território onde era preciso “integrar para desenvolver” (OLIVEIRA, 1988, p. 89-90). Para Oliveira (1988), o que ocorreu foi um planejamento orientado para o aumento da participação de “[...] empresas estrangeiras no esforço nacional de conquista de mercados e a associação a empresas de países desenvolvidos que já dispunham de mecanismos de comercialização de âmbito internacional”. (p. 89-90).

Por isso, os objetivos do PIN seriam, num primeiro momento, deslocar a fronteira econômica - no caso a fronteira agrícola para as margens do rio Amazonas - integrar a estratégia de ocupação econômica da Amazônia à estratégia de desenvolvimento do Nordeste, criar as condições para a incorporação à economia de mercado, de amplas faixas da população antes dissolvidas na economia de subsistência, reorientar as emigrações de mão-de-obra do Nordeste, em direção aos vales úmidos da própria região e a nova fronteira agrícola, e assegurar apoio do Governo Federal ao Nordeste, para garantir um processo de industrialização tendente à autossustentação.

O Programa de Integração Nacional (PIN) seria materializado na execução de três projetos prioritários que são: a) a construção da Rodovia Transamazônica e da Cuiabá-Santarém [...]; b) o plano de colonização associada às margens das referidas rodovias; e c) a primeira etapa do Plano de Irrigação do Nordeste; programas de colonização de vales úmidos do Nordeste.

E, num primeiro momento, seria implantado, em faixas de terras de 10 km de cada lado das novas rodovias, um programa de colonização e reforma agrária. Mais tarde, um novo decreto foi publicado com a ampliação destas faixas de terras o Decreto-Lei nº 1.164 de 1º de abril de 1971, definindo 100 km às margens direita e esquerda das rodovias.

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Mapa 02 – Assentamentos nas regiões Sul e Sudeste do Pará

Fonte: Org. autor

A preocupação com a segurança nacional estava evidenciada nos dispositivos legais elaborados visando regulamentar a implementação dos referidos objetivos, a exemplo do disposto no Decreto-Lei nº 1.164 de 1º de abril de 1971 sobre as terras devolutas situadas na faixa de cem quilômetros de largura em cada lado do eixo das rodovias na Amazônia Legal, declarando-se indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais. Tratava-se de um projeto de colonização oficial, fundamentada na noção de propriedade privada que é uma diferença que marca a abertura das novas frentes pioneiras.(VELHO, 1976, p. 209).

A intensa propaganda sobre a política de colonização a partir da abertura da estrada Transamazônica estimulou a migração para a Amazônia. Entretanto, as ações de grilagem de terras, característica desta política fundiária, tornaram-se fato consumado em toda a Amazônia, bem como a absorção das propriedades menores pelas grandes propriedades.

Ao mesmo tempo, os conflitos fundiários que são apontados por Martins (1991) como um dos problemas causados em função do insucesso do projeto de ocupação territorial, devido à superposição da “frente pioneira” sobre a “frente de expansão”, tornaram-se mais acirrados, violentos e sangrentos. Esses conflitos perduram até as décadas atuais sem que se apresentem políticas que visem à redução dos mesmos.

Para Mello (2006), “a crítica ao principal ator nesse processo de colonização – o governo federal – se focalizou sobre as dificuldades de implantação e a distância entre o planejado e o

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executado, dando margem a argumentos favoráveis à colonização privada”. (p. 31). Assim, no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) a ideia é legitimar os programas de colonização relacionados aos grandes projetos, onde ocorreram ações de colonização privada, com destaque para o estado de Mato Grosso, com iniciativa por parte dos sindicatos de pecuaristas da região.

Por determinação constitucional, havia uma obrigação de cada governo novo lançar um Plano Nacional de Desenvolvimento [...]. O II PND (1975-1979) foi um plano econômico brasileiro, lançado no final de 1974, instituído durante o governo do general Ernesto Geisel e tinha como finalidade estimular a produção de insumos básicos, bens de capital, alimentos e energia [...]. Foi o último grande plano econômico do ciclo desenvolvimentista e, provavelmente, o mais amplo programa de intervenção estatal na economia.

Dentre as ações do II PND que se pode destacar estão a criação do POLOAMAZONIA que, de acordo com o Decreto 74.607 de 25 de setembro de 1974, tinha por finalidade “[...] promover o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais em áreas prioritárias da Amazônia [...]”. (MELLO, 2006, p. 38).

Dentro do II PND estava previsto a criação do Projeto Grande Carajás (PGC) que estabeleceu uma aliança entre o capital nacional e o internacional, através das multinacionais do alumínio e as empresas estatais correspondentes. Também se planejou o uso racional dos recursos florestais com destaque para a madeira, visando a exploração deste setor de forma projetada, institucionalizada e permanente, bem como uma política de uso racional dos solos da Amazônia.

Havia ainda o POLOCENTRO dentro do II PND, as políticas territoriais do Governo Geisel - Programa de Desenvolvimento dos Cerrados, criado a partir do Decreto nº 75.320 de 29 de janeiro de 1975. Esse Programa estava situado nas frações goiana e mato-grossense da Amazônia Legal e no Centro-Oeste, em geral. Conforme Oliveira (1988) “[...] previa a instalação nessa região de obras de infraestrutura, sobretudo armazenagem, estradas e etc. além de pesquisa de sementes para promover o plantio em massa de soja no cerrado [...]”. (p. 970).

O Estado brasileiro adota como política de desenvolvimento socioeconômico as prerrogativas da organização territorial a partir da perspectiva da expansão do capital, num contexto de pressão social por reforma agrária, políticas de desenvolvimento por meio da perspectiva endógena e para enfrentamento das graves desigualdades regionais e sociais. Neste sentido, a solução para enfrentamento destas graves questões foi a política de segurança e desenvolvimento afirmando que “[...] a solução para a área de tensão social – Nordeste - estava no estímulo ao processo migratório para a “área vazia” – a Amazônia (OLIVEIRA, 1988, p. 31).

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A estratégia do desenvolvimento passava a ser concebida como necessariamente concentrada, polarizada, sendo que a tarefa geopolítica de ocupação das fronteiras do país ficaria por conta das populações regionais [...] (OLIVEIRA, 1988, p. 31). Isto com lugar garantido para o capital estrangeiro. Desta maneira, deflagrou-se a Operação Amazônia, a partir da ideologia que serviu de lema ao Projeto Rondon, “integrar para não entregar”; Assim, passou-se das fronteiras geográficas às fronteiras ideológicas.

De acordo com Oliveira (1988), “[...] era necessário entregar aos americanos para não entregar aos comunistas [...]. Integrar significava abrir caminhos, criar condições para que fosse possível a exploração dos recursos naturais pelos grandes monopólios internacionais [...]”. (p. 31-32). A fim de subsidiar esta política de ocupação territorial, o Estado criou uma política de incentivos fiscais, com a criação do Fundo para Investimentos Privados do Desenvolvimento da Amazônia (FIDAM) e reorganizou o Banco da Amazônia (BASA).

Além disso, fazia parte da referida Operação Amazônia a criação, em 1967, da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), portanto estavam criadas as condições para a “[...] implantação de um enclave de importação.(Oliveira, 1988, p. 39). Os finais dos anos 50 e início dos anos 60 foram marcados pelas lutas políticas dos trabalhadores rurais, com destaque para o Nordeste com a criação e atuação das Ligas Camponesas. A importância desta luta se tornou mais acentuada com a criação da Superintendência da Política Agrária (SUPRA), no governo João Goulart, órgão responsável pela política de reforma agrária no Brasil.

Como referência de política pública de desapropriação territorial ficou conhecido o caso do Engenho Galileia, na região Nordeste. Foi também no governo de Joao Goulart que, efetivamente, um projeto de lei influenciou os rumos da reforma agrária. O projeto de Lei que alterava o artigo da Constituição que tratava das terras públicas previa a indenização prévia em dinheiro para as desapropriações, que seriam realizadas a partir dos títulos da dívida pública.

Previa a desapropriação de terras situadas às margens das rodovias e dos açudes públicos federais, orientando-se a partir do princípio de que “o uso da propriedade é condicionada ao bem-estar social” (Goulart 1977 apud Oliveira 1988, p. 164 – 165). Com o golpe militar de 1964, o projeto de reforma agrária de Goulart (1961-1964) foi extinto e as lideranças sindicais das Ligas Camponesas foram brutalmente reprimidas. (Oliveira 1988, p. 39).

Ocorre neste período também a federalização das terras devolutas, com a execução do Decreto-lei nº 1.164 de 1 de abril de 1971, que declarava ser fundamental à segurança e ao desenvolvimento as terras devolutas situadas nas faixas de 100 km de largura em cada lado do eixo das rodovias na Amazônia Legal.

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Dessa política é surge o que Oliveira (1988) denomina de contrarreforma agrária. Assim, surgiu o INCRA da fusão destes dois órgãos o IBRA e o INDA, através do decreto-lei 1.110 de 09 de julho de 1970. Dentro do plano de colonização previu-se a necessidade de levar trabalhadores para que fosse possível implementar a Operação Amazônia.

O PIN e o INCRA são “peças deste jogo” (OLIVEIRA, 1988, p. 74). Ao longo da Transamazônica, rodovia que nascia no Nordeste e corta a Amazônia, estava criada uma rota para a migração, que também se processava para o Maranhão, Goiás, Pará e Mato Grosso, modificando a rota migratória comum que até então era do Nordeste para o Sudeste.

A abertura da rodovia Transamazônica foi a principal via de instrumento de colonização. Ratzel (1990) apud Moraes (1990) concebe o Estado como organismo territorial [...], como referência ao seu papel de articular o povo ao solo, por meio de políticas territoriais. Dele se origina o termo chamado de geopolítica, que é o pensamento ideológico do Estado. A geopolítica é uma forma para descrever tais coisas como: interpretar o espaço do ponto de vista do Estado [...].

O PIN promoveu um fato histórico no modo de produção capitalista que é a mobilidade da força de trabalho para atender as necessidades do capital. A seguir se discutirá o conceito de força de trabalho a partir das pesquisas de Hebétte (2004) sobre a Amazônia e os projetos de colonização, reforma agrária e implantação de indústrias.

A respeito da chamada contrarreforma agrária na Amazônia, Ianni (1979, p. 11) afirma que esta já vinha ocorrendo no Sudeste do Pará desde a construção da rodovia Belém-Brasília nos anos 1956-60, com a colonização espontânea engendrada pelos posseiros. A proposta de colonização oficial seria transformar a colonização espontânea em colonização dirigida, transformar posseiros em colonos e peões.

Para tanto, afirma Ianni (1979), “a colonização, como contra-reforma, é condição e consequência pela forma pela qual o Estado foi levado a recriar a “fronteira amazônica”, para favorecer o desenvolvimento extensivo do capitalismo na região” (p. 7). Esta era a já mencionada política estatal de expansão da agropecuária, mineração e extrativismo, que recoloca a questão da terra e do trabalhador rural sem terra no território amazônico.

E, assim, o território amazônico foi se constituindo como a nova fronteira territorial e solução para graves problemas sociais e econômicos da população brasileira nas décadas de 60 e 70. E, assim, vão se acentuando os problemas de estrutura fundiária do Brasil, em quase todas as suas regiões. Ianni (1979) conceitua este movimento como inicialmente uma reforma agrária de fato e a segunda a colonização dirigida como um processo de contrarreforma agrária.

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3.2 A MOBILIDADE DA FORÇA DE TRABALHO: A MIGRAÇÃO DOS NORDESTINOS PARA O TERRITÓRIO AMAZÔNICO

O processo de colonização ocorreu a partir da inserção na região amazônica com uma população desprovida de recursos mínimos capazes de potenciar sua força física individual, desenvolvendo assim uma economia condicionada às imposições de um meio natural, a um só tempo superabundante e indomado (Loureiro, 1992). A principal força que impulsionava as atividades produtivas que aí se desenvolviam era, como nas demais áreas amazônicas, a força humana.

E o migrante, pela dificuldade de assimilação dos padrões culturais de uma região completamente diferente da sua de origem, encontrava enormes dificuldades em se estabelecer às margens da rodovia e à beira dos rios. O processo de migração ocorrido no território amazônico não é um fenômeno natural. No capitalismo, este fenômeno nunca é natural e sim promovido pelas forças do sistema capitalista, que cria demandas reprimidas a fim de fazer mover para onde for necessário, onde esta força de trabalho possa obter mais lucros.

A dinâmica da mobilidade do capital fez do território amazônico a nova fronteira de expansão do capitalismo, dentro do processo de internacionalização do capital onde a expansão do projeto de ocupação das terras ocorre ao mesmo tempo dentro de um projeto de expansão das fronteiras ideológicas.

Dessa forma, a maior parte dos estudos sobre migrações e colonização da Amazônia tomam como ponto de partida a fixação do colono à terra ou até mesmo a retenção do migrante num lugar de destino, como se a estabilidade, a fixação ou a retenção do migrante num lugar de destino fossem o que há de esperar. A mobilidade é vista como um acidente de percurso a evitar uma distorção a ser corrigida (HEBÉTTE, 2004, p. 113). Segundo os estudos de Gaudemar (1977) apud Hebétte (2004, p. 117):

A mobilidade da força de trabalho [...] abrange três fases do processo global de produção-reprodução dessa força: a fase da produção (transformação em força de trabalho, do trabalhador regido por formas de produção não capitalista, e formação, qualificação e especialização dessa força de trabalho; fase da circulação (integração da força de trabalho ao mercado e sua distribuição espacial, setorial e profissional); a fase da aplicação produtiva para valorização do capital.

Apesar de que entre 1964 e 1974 foram várias as estratégias territoriais que implementaram a ocupação territorial. Com isso, o Estado impõe sobre o território uma malha de duplo controle, técnico e político - constituída de todos os tipos de conexões e redes, capaz de controlar os fluxos e estoques, e tendo as cidades como base logística para a ação. Assim, pode-se compreender melhor

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a questão a partir dos estudos de Becker (2004, p. 27), onde se criou para implantação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND I e II). Para Hebétte (2004, p. 132):

O destino econômico da Amazônia está nas mãos de grandes grupos industriais que operam conjuntamente com o capital financeiro. São empresas como Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), as Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A (Eletronorte), a Antunes, ou internacionais como United States Steel, Nippon Steel, Alcan, Sharp. Afinal, são elas que possuem papel sempre decisivo, pois [...] decidem a respeito dos investimentos na região [...].

Nesse sentido, a mão-de-obra migrante tem um caráter itinerante, superexplorado e mutável que caracterizavam o trabalho e a vida dos migrantes nordestinos na Amazônia. A mobilidade do colono nordestino, mineiro ou goiano, deixa de ser uma mobilidade que ocorre num determinado espaço para se tornar um fato social, o que provoca mudanças no seu modo de produção e na construção do seu pertencimento territorial.

A política de concentração de terras, as dificuldades de emprego, a baixa rentabilidade de pequenas propriedades, conflitos sociais e fundiários fazem com que se forme a força de trabalho. É preciso entender também como o procedimento de urbanização vai sendo forjado neste processo de colonização e ocupação das terras “[...] ao processo de penetração espacial e expansão econômica do capitalismo, nas áreas de fronteira, corresponde um processo de urbanização [...]” (HEBETTE, 2004, p. 10).

E assim, além da reprodução das relações capitalistas de produção, ao lado da permanência da profunda concentração de terras, as consequências desta geopolítica foram a devastação da floresta e o genocídio de povos nativos, intensos e sangrentos conflitos fundiários e a prática de trabalho considerado análogo à escravidão.

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Mapa 03 – Mapa de desmatamento nas regiões Sul e Sudeste do Pará

Fonte: Org. autor

E de acordo com Loureiro (1992, p. 80) havia vinte e nove tribos indígenas ao longo da rodovia Transamazônica, que tiveram suas terras expropriadas pelo projeto de colonização. A geografia política moderna reflete as características políticas frente aos aspectos socioeconômicos, nos âmbitos local, regional, nacional e internacional. Assim, na Amazônia coexistem fronteiras de diversos tipos e os projetos de desenvolvimento regional implantados nesta região, com destaque para as regiões Sul e Sudeste do Pará, sendo fortemente gerados pela produção do território via Estado.

Segundo Becker (2004, p. 21), há um [...] novo significado da geopolítica, que não mais atua na conquista de territórios, mas sim na apropriação da decisão sobre o seu uso. Os conflitos sociais no campo e nas áreas urbanas, a marcante desigualdade social na apropriação e uso do espaço marcam as regiões Sul e Sudeste do Pará com destaque atual para os graves problemas ambientais e sociais decorrentes de tais políticas.

Os processos migratórios ainda são uma realidade na Amazônia e nas regiões Sul e Sudeste do Pará tanto nacionais como internacionais. A condição de fronteira de recursos, área de expansão do povoamento e da economia nacional e internacional são muito presentes; E tanto caracterizam a região amazônica como servem de atrativo para processos migratórios. O que se verifica nas regiões

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Sul e Sudeste do Pará é o acirramento das disputas territoriais, com conflitos cada vez mais violentos e a organização desse contingente populacional em movimentos sociais e sindicatos.

Mapa 04 – mapa de localização das regiões Sul e Sudeste do Pará

Fonte: Org. autor

Este é o atual estado da arte desta categoria de estudo. De acordo com Santos (2006), “[...] caminhamos, ao longo dos séculos, da antiga comunhão individual dos lugares com o Universo à comunhão hoje global: a interdependência universal dos lugares é a nova realidade do território [...]”. (, p. 15).

Neste sentido, os projetos de desenvolvimento do território amazônico são pensados a partir de uma perspectiva globalizadora, cada vez mais associada ao capital internacional e mais distante da realidade dos habitantes do território amazônico. Assim, os projetos de desenvolvimento estão associados à ideia de mercado, um mercado cada vez mais universal que não engloba apenas produtos, mas natureza, ideias e pessoas.

Este território, denominado de transnacionalizado, dominado pela tecnologia, informação e ciência pode também servir a processos de outra globalização que, de acordo com o autor supracitado, pode ser útil a processos solidários de construção e vivência dentro de determinado território, capaz de restaurar o ser humano em sua dignidade e de contemplar as suas reais condições

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de vida. Para Haesbaert (2013), “[...] podemos nos deparar com interpretações diametralmente opostas sobre o des-ordenamento territorial e/ou a des-organização regional do mundo”. (p. 11).

De acordo com este pesquisador “[...] o Estado sempre manteve um função e que hoje parece, relativamente, fortalecer-se, é o do controle da força de trabalho – ou, pelo menos, de sua mobilidade”. Isto se dá através do controle dos fluxos migratórios, seja na forma de legislações rígidas, seletivas ou do controle físico, ou informacional de suas fronteiras territoriais como, por exemplo, a construção de muros fronteiriços.

Para os gestores dos grupos hegemônicos, estes fluxos migratórios são inoportunos, gerando problemas de integração e encargos sociais, criam barreiras para contenção, no caso, os muros fronteiriços. Entende-se também que a extrema precarização das relações de trabalho pode gerar contradições dentro do processo globalizador; A acumulação exacerbada pode se voltar contra a globalização por conta da exclusão e de promover a desintegração.

O aumento das desigualdades promove a criação de uma massa de desempregados, miseráveis e excluídos - de modo geral; Uma massa cada vez mais fora do círculo da produção, modificando inclusive o conceito de exército industrial de reserva, que enfraquece o movimento trabalhista e se torna um problema de necessidade de inclusão no mundo globalizado, como consumidor, claro.

De acordo com Andrade (1985, p. 12), “[...] os desníveis e as desigualdades entre as regiões não vem sendo corrigidos, ao contrário, vêm sendo acentuados com a expansão do modo de produção capitalista por todo o território nacional”. Ainda segundo este autor, a questão regional deve ser tratada como um processo, uma vez que uma área marginalizada, decadente, pode ser reativada e se desenvolver em consequência das transformações econômicas e sociais, bem como da organização da sociedade em movimentos sociais reivindicatórios.

Existem grandes novos projetos para a Amazônia neste cenário de globalização e entre os novos grandes projetos está a criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) com sede e foro em Marabá (PA) e natureza jurídica de autarquia, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), criada no dia 06 de junho de 2013, com a vigência da Lei Federal nº 12.824 de 05 de junho de 2013, a partir da estrutura da Universidade Federal do Pará (UFPA), tendo como base o desmembramento do Campus de Marabá da UFPA. A seguir o mapa de localização da UNIFESSPA nas regiões sul e sudeste do Pará:

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Mapa 05 – localização dos Campi da UNIFESSPA nas regiões Sul e Sudeste do Pará

Fonte: Org. autor

Na concepção inicial, a UNIFESSPA já nasceu como universidade multicampi, sendo constituída pelo Campus de Marabá (sede) e os campi de Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Felix do Xingu e Xinguara. Entretanto, a área de abrangência da UNIFESSPA vai além dos muncípios citados, envolvendo os 39 municípios da mesorregião do Sudeste paraense, além de potencial no Norte do Tocantins, Sul do Maranhão e Norte do Mato Grosso, envolvendo não só a Amazônia Oriental, mas toda a Amazônia Legal.

A criação da UNIFESSPA está relacionada com a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), programa este criado pelo Governo Federal para promover a expansão do ensino superior, a partir do Decreto 6.096, de 24 de abril de 2007. Um dos propósitos do REUNI é diminuir as desigualdades sociais no país.

O REUNI é fruto do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que, por sua vez, foi criado a partir do Plano Nacional de Educação (PNE), previsto na Constituição de 1988. O PDE foi lançado em abril de 2007, cujo objetivo é melhorar a qualidade da educação no Brasil e fortalecer o regime de colaboração reorganizando a forma de trabalhar do Ministério da Educação (MEC), com estados e municípios por meio do Plano de Ações Articuladas (PAR) do município.

O PAR constitui-se de um diagnóstico minucioso da realidade educacional local a partir das seguintes dimensões: gestão educacional, formação de professores e dos profissionais de serviço e

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apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação e infraestrutura e recursos pedagógicos. A partir do PAR foi criado o Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR) a ser ofertado por universidades públicas federais e estaduais e algumas universidades comunitárias.

As políticas públicas são o principal instrumento para permitir o acesso ao conhecimento de forma democrática. Entretanto, precisa-se considerar a indústria do conhecimento na atual fase do desenvolvimento do capitalismo mundial, um mercado global altamente competitivo e com a necessidade de uma formação que proporcione a compreensão deste contexto socioeconômico, bem como promova a luta por cidadania, dentro de uma sociedade democrática.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Antes de iniciar a discussão, vale destacar que os resultados a serem apresentados são preliminares. Desta maneira, observou-se que a dinâmica regional amazônica de desenvolvimento ocorreu a partir de formas centralizadas de apropriação de seu território, dentro de uma política de territorialização do capital e expansão do capitalismo. De acordo com Loureiro (1992), receando uma intervenção internacional, o governo militar do Presidente Médici (1969-1974) decide concretizar um projeto territorial de integrar a Amazônia ao restante do Brasil.

O lema ideológico “homens sem terra para terras sem homens” criou a solução perfeita para resolver o problema da seca no Nordeste e povoar a Amazônia, criou-se para isso o Programa de Integração Nacional (PIN) de caráter geopolítico, pelo governo militar, através do decreto-lei 1.106 de 16 de julho de 19170.

Isso se constituía como uma ação territorial pública, através da criação das frentes pioneiras, Mello (2006), a partir do PIN, implementaram-se os Planos Nacionais de Desenvolvimento I e II (PND I e II). O conceito de território na pesquisa é o conceito de Santos e Silveira (2008), onde se entende território como uma extensão apropriada e usada.

Hebétte (2004) caracteriza este fenômeno da migração em massa de nordestinos como a mobilidade da força de trabalho, num contexto de expansão do capitalismo e territorialização do capital (Heidemann, Toledo e Boechat, 2018), como meio de produção internacionalmente dominante. A partir desta política é que é criado o lema “integrar para não entregar” e ocorre a abertura da rodovia Transamazônica como a principal via de comunicação e de colonização regional.

Ratzel (1990) concebe o Estado como organismo territorial, referência ao seu papel de articular o povo ao solo, por meio de políticas territoriais. Dele se origina o termo geopolítica, que

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é o pensamento ideológico do Estado. Assim, pretende-se investigar o fenômeno da migração norte-nordeste, no contexto da criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) como mais uma política de modernização do território e como perspectiva de desenvolvimento da região, sustentada por propostas que promovam a dignidade humana, através da educação. Estes são os resultados até então, e continuarão com a pesquisa bibliográfica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÕES

Colocam-se as considerações finais retomando a problemática de investigação onde se pretende investigar, cientificamente, o fenômeno da migração Norte-nordeste no contexto da criação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) como mais uma política de modernização do território e, também, como perspectiva de desenvolvimento da região, sustentada por propostas que promovam a redução das desigualdades sociais e a dignidade humana, através da educação. A pesquisa está em andamento, ainda na fase da pesquisa bibliográfica.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.75526-75545,oct. 2020. ISSN 2525-8761 REFERÊNCIAS

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SANTOS, Milton, SOUSA, Maria Adélia A. de e SILVEIRA, Maria Laura. Território:globalização e fragmentação, 5ª ed. São Paulo: HUCITEC, 2006.

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Referências

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