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Violência infantil no Brasil e suas consequências psicológicas: uma revisão sistemática / Child violence in Brazil and its psychological consequences: a systematic review

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761

Violência infantil no Brasil e suas consequências psicológicas: uma revisão

sistemática

Child violence in Brazil and its psychological consequences: a systematic

review

DOI:10.34117/bjdv6n10-392

Recebimento dos originais: 13/09/2020 Aceitação para publicação: 19/10/2020

Ana Clara Pereira Nunes

Graduanda em Psicologia

Instituição: Universidade Estácio de Sá - UNESA

Endereço: Rua Perseverança, 13 - Mangueira, Nova Iguaçu - RJ E-mail: acpn98@hotmail.com

Cíntia Cassimiro da Silva

Graduanda em Psicologia

Instituição: Universidade Estácio De Sá - UNESA

Endereço: Rua Oscar Soares (antiga Plínio Casado), 1466 - Centro, Nova Iguaçu - RJ, 26220-099 E-mail: cintiacassimiro@gmail.com

Clarissa Teixeira Cardoso de Carvalho

Graduanda em Psicologia

Instituição: Universidade Estácio de Sá - UNESA

Endereço: Rua Oscar Soares (antiga Plínio Casado), 1466 - Centro, Nova Iguaçu - RJ, 26220-099 E-mail: clarissacarvalho2009@hotmail.com/carvalho.clarissa.c@gmail.com

Fernanda Gonçalves da Silva

Doutoranda

Instituição: Universidade Estácio de Sá - UNESA

Endereço: Ed. Rodrigo de Melo Franco 400 bl3 apt 602 Barra da Tijuca. E-mail: fernandagoncalves.fgs@gmail.com

Pâmela Cristine dos Santos Bastos da Fonseca

Graduanda em Psicologia

Instituição: Universidade Estácio De Sá - UNESA

Endereço: Rua Déia Maia quadra 25 lote 3 Santa Rita, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro E-mail: pamelacsbdf@hotmail.com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

No Brasil, a violência se apresenta como um problema de saúde pública que atinge a população em larga escala, incluindo as crianças. Em função disso, este estudo trata-se de uma revisão sistemática sobre a violência infantil no Brasil e suas consequências psicológicas na criança, cujo objetivo foi buscar na literatura os efeitos psicológicos dessa violência na criança e de que maneira esta interfere em seu desenvolvimento biopsicossocial. As bases de dados escolhidas foram SciELO e PubMed. Os descritores usados foram "child abuse", "child abuse and Brazil", "violence against child", "psychological effects of child abuse in Brazil" e "consequences of child abuse in Brazil". Os critérios de exclusão dos estudos foram: artigos que não correspondiam aos descritores através do título, resumo, leitura na íntegra, artigos repetidos e idiomas (excluídos aqueles que não estavam em inglês, português ou espanhol). De um total de 291 artigos encontrados, restaram 36 para análise. Detectou-se nesta revisão sistemática distintos tipos de violências contra crianças, sendo evidenciadas pelos estudos a violência sexual e a física. Conquanto, foram encontradas outras modalidades de violências com apuração menor de conteúdo pesquisado, como: violência psicológica (emocional) e negligência. Já as consequências psicológicas mais identificadas foram: depressão, ansiedade, TEPT, hiperatividade, déficit de atenção, sequelas emocionais, afetivas, psicológicas, sociais e comportamentais. Assim, constatou-se que a violência infantil geralmente é intrafamiliar e que há a necessidade de estudos mais aprofundados acerca das consequências dessa violência nas crianças, as quais pouco são investigadas, mas que prejudicam amplamente seu desenvolvimento biopsicossocial.

Palavras-chave: Violência infantil, Brasil, consequências, Revisão Sistemática. ABSTRACT

In Brazil, the violence is a public health issue that hits population in a large scale, including children. Because of this, the present study is a systematic review about child abuse at Brazil and its psychological consequences on child, which achieves to search in the literature the psychological effects occasioned by the violence suffered by child and how these interfere in them development biopsychosocial. The data bases chosen were SciELO and PubMed. The descriptors used was "child abuse", "child abuse and Brazil", "violence against child", "psychological effects of child abuse in Brazil" and "consequences of child abuse in Brazil". The exclusion criteria of studies were: articles that have not matched to the descriptors through title, abstract, full reading, repeated articles and languages (it was excluded which had no English, Portuguese or Spanish languages). It was found 291 articles but only 36 left for analysis. It was detected different kinds of child abuse, highlighting by the highest amount of articles found, the sexual and physical violence. However, it was also found others modalities of violence but that have lower count of searched content, such: psychological violence (emotional) and negligence. In addition, the psychological consequences identified were: Depression, Anxiety, PTSD, Hyperactivity, Attention Deficit, emotional sequels, affective, psychological, social and behavioral. Then, it was found the child abuse is often intrafamily and there is a necessity of further studies about the consequences produced by violence on children, which are few investigated, but greatly harm their biopsychosocial development.

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo trata-se de uma revisão sistemática sobre violência infantil no Brasil e suas consequências psicológicas na criança, considerando a faixa etária de acordo com o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (2008), de 0 a 12 anos incompletos. Para tanto, se faz necessário discorrermos sobre o que é violência.

A palavra deriva do latim violentia significa "veemência", “impetuosidade” e sua origem está relacionada ao termo "violação" (violare). Assim, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), a violência é caracterizada como o "uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação". No Brasil, a violência é um problema de saúde pública que atinge a população em larga escala, no entanto, quando se trata das crianças a situação é ainda mais preocupante. De acordo com o estudo realizado por Rates, Melo, Mascarenhas et al. (2014), que contabilizou as notificações de violência infantil no Brasil cedidas pelo SINAN NET (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) no período entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2011, foram registrados 17.900 casos neste ano, dos quais 73,6% ocorreram em domicílio. O estudo também caracterizou a população agredida, apontando as meninas como o principal alvo das agressões. Já os registros com relação à cor da pele, crianças brancas sofreram mais agressões nos anos iniciais da vida, enquanto crianças pretas/pardas e amarelas/indígenas sofreram nos anos seguintes.

Para Albert Bandura (KRISTENSEN, 2003), a violência é socialmente aprendida, através de modelos (como a família, escola, entre outros). Esse processo de aprendizagem é denominado por este autor como “modelação”, no qual o indivíduo é recompensado quando emite um comportamento igual ou próximo ao seu modelo, o que explica a tendência à repetição intergeracional da violência. Então, pode-se afirmar que a violência é uma questão cultural e social, e no Brasil vem se tornando cada vez mais alarmante, podendo causar diversos tipos de consequências psicológicas para a criança a curto ou longo prazo, como ideação suicida, transtorno de estresse pós-traumático, comportamentos disfuncionais e transtornos mentais em geral, prejudicando assim o seu desenvolvimento (BACK; GUEDERT; HAUSCHILD et. al., 2014).

2 METODOLOGIA

A presente revisão sistemática segue o Modelo Prisma e teve por objetivo fazer uma análise estatística dos artigos abordando o tema da violência infantil no Brasil e seus efeitos psicológicos na criança. As bases de dados utilizadas foram SciELO e PubMed e os critérios de exclusão foram

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os artigos que não correspondiam aos descritores, através do título, resumo, leitura na íntegra, artigos repetidos e idiomas (foram excluídos os que não estavam em inglês, português ou espanhol).

Os descritores utilizados foram "child abuse", "child abuse and Brazil", "violence against child", "psychological effects of child abuse in Brazil" e "consequences of child abuse in Brazil". Foram considerados os estudos com publicação até 15 de fevereiro de 2019.

Para fins de organização, o organograma explica como se deu o processo de seleção dos artigos e algumas tabelas e gráficos foram realizados a fim de identificar perfis e características semelhantes entre os estudos. Assim, a tabela 1 aponta o perfil da vítima, a tabela 2 os tipos de violência mais identificados e suas consequências biopsicossociais na criança. Já a tabela 3 mostra as características dos estudos, e, por fim, a tabela 4 aponta o perfil do agressor. O gráfico 1 mostra o índice de prevalência dos tipos de violência e o gráfico 2 o índice das consequências biopsicossociais mais identificadas.

Este estudo analisou as produções científicas acerca do tema a fim de identificar possíveis lacunas na literatura sobre assunto. Os estudos foram comparados quanto à densidade do tema violência infantil e consequências e seus fatores adjacentes.

3 RESULTADOS

Foram encontrados 291 artigos, dos quais 70 foram excluídos por repetição, 124 foram excluídos por título, 32 por resumo, 2 por serem de outros idiomas (alemão e chinês), 22 por leitura na íntegra e 5 por estarem indisponíveis para acesso. Restaram então 36 artigos para análise.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Figura 1 – Organograma dos critérios de exclusão dos artigos

Nos artigos analisados haviam muitas disparidades no que diz respeito ao perfil da população agredida. Alguns destes fizeram a classificação através de características sócio-demográficas, enquanto outros fizeram de acordo com a cor da pele das crianças agredidas, além da faixa etária e do sexo.

Em função dessa grande variação que tange à classificação do perfil agredido, foi possível observar que não há um consenso entre as pesquisas. Alguns artigos apontam os meninos como as vítimas mais frequentes, enquanto outros apontam as meninas. Ademais, ora crianças não brancas e/ou pobres foram apontadas como população de risco e ora crianças brancas e/ou de classe média, como mostra a tabela abaixo:

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 1 – Perfil da vítima

Artigo Tipo de violência sofrida Raça/cor Idade Classe econômica 1 Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência? Alienação Parental --- --- --- 2 Violence against children: an analysis of mandatory reporting of violence, Brazil 2011 Negligência; violência física; violência sexual e violência psicológica Brancos e não brancos De 0 a 9 anos --- 3 **Violência sexual e coocorrências em crianças e adolescentes: estudo das incidências ao longo de uma década

Violência sexual --- Crianças < de 11 anos Adolescentes 12 a 18 anos --- 4 Ambiente familiar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade Violência física e psicológica --- 6 a 12 anos --- 5 **The impact of psychiatric diagnosis on treatment adherence and duration among victimized children an adolescents in São Paulo, Brazil

Negligência ou abuso emocional, físico e/ou sexual

--- 12 a 19 anos Baixa renda

6 A violência sexual contra crianças e adolescentes: conhecer a realidade possibilita a ação protetiva

Violência sexual --- Os maiores índices se encontravam entre as idades 3 a 5 anos e de 6 a 8 anos --- 7 **Violência contra crianças e adolescentes: proposta de classificação dos níveis de gravidade Negligência; violência física; violência sexual e violência psicológica --- 5 a 9 anos --- 8 Fatores associados à institucionalização: perspectivas de crianças vítimas de violência intrafamiliar

Violência intrafamiliar --- 8 a 11 anos ---

9 Violência contra a criança: revelando o perfil dos atendimentos em serviços de emergência , Brasil, 2006 e 2007

Abuso físico, sexual, emocional ou psicológico, negligência Brancos (menor percentual ); não brancos (maior percentual ) e outras < 10 anos --- 10 **Fatores de risco e de proteção Violência sexual --- --- ---

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 na rede de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual 11 **Abuso sexual: diagnóstico de casos notificados no município de Itajaí/SC, no período de 1999 a 2003, como instrumento para a intervenção com famílias que vivenciam situações de violência

Violência sexual e atos libidinosos e estupro --- 7 a 10 anos (16,50%) e 11 a 14 anos (13%) Baixa renda , além de péssimas condições de vida; alcoolismo e/ou uso de drogas 12 Alguns fatores observados no desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual Abuso sexual --- --- --- 13 **Maus-tratos contra criança e adolescente no Estado de São Paulo, 2009 Maus-tratos (violência física, psicológica, sexual, negligência/abandono) --- 3 a 14 anos --- 14 A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar Violência psicológica --- --- --- 15 **Grupoterapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

Abuso sexual intra ou extrafamiliar --- 9 a 16 anos --- 16 Psychobiology of childhood maltreatment: effects of allostatic load? Maus-tratos (abuso e negligência) --- --- --- 17 **Violência sexual contra criança: autores, vítimas e consequências

Abuso sexual Brancos e não brancos.

0 a 15 anos ---

18 **A violência física contra menores de 15 anos: um estudo epidemiológico em cidade sul do Brasil

Violência física --- Menores de 15 anos

---

19 **Severe physical punishment: risk of mental health problems for poor urban children in Brazil

Violência física --- Menores de 18 anos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 20 Violência contra

crianças na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: a prevalência dos maus-tratos calculada com base em informações do setor educacional Negligências e abuso psicológico --- 0 a 10 anos --- 21 Detecção de maus-tratos contra a criança: oportunidades perdidas em serviços de emergência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Violência psicológica, negligência e violência física --- 1 a 12 anos (incompletos) --- 22 Prevalência de maus-tratos em crianças da 1a a 4a série na cidade de Ribeirão Preto - SP Maltrato emocional, abandono emocional e falta de controle parental (tipos mais frequentes segundo o instrumento utilizado para mensurar a violência) --- 0 a 10+ anos --- 23 **Violência sexual contra crianças e adolescentes: características relativas à vitimização nas relações familiares Abuso sexual (intrafamiliar) --- 10 a 12 anos incompleto s (classificadas como crianças) 12 a 16 anos completos (classificadas como adolescentes) Baixa renda

24 Por que as crianças são maltratadas? Explicação para a prática de maus-tratos infantis na literatura

Maus-tratos --- 0 a 12 anos Baixa renda

25 **Consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação

Violência familiar (contra a criança e contra a mulher) --- --- --- 26 **The intertwined effect of lack of emotional warmth and child abuse and neglect on common mental disorders in adolescence

Abuso emocional., abuso físico, negligência emocional, negligência física. Brancos e não brancos 12 a 18 anos --- 27 Factors associated with child sexual abuse confirmation at forensic

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28 **Mental health of children who work on the streets in Brazil after enrollment in a psychosocial program

Violência urbana, abuso físico, emocional, sexual e negligência emocional e física.

Brancos e não brancos

7 a 14 anos Baixa renda

29 Childhood and adolescent sexual abuse, victim profile and its impacts on mental health

Violência sexual Branco --- Baixa renda

30 Serum copeptin in children exposed to maltreatment

Abusos físico, emocional, sexual e negligência. --- --- --- 31 Measuring child maltreatment using multi-informant survey data: a higher-order confirmatory factor analysis

Abuso físico, emocional e negligência física. --- 6 a 12 anos Médio 64,6% / alto 29,4 %/ Baixa e muito baixa renda 6 % 32 **Child and adolescent abuse in the state of São Paulo, Brazil, 2009

Violência física, sexual, psicológica e negligência e abandono Brancos e não brancos Menores de 15 anos --- 33 The presence of a stepfather and child physical abuse, as reported by a sample of Brazilian mothers in Rio de Janeiro

Violência Física --- 1 a 12 anos Baixa renda

34 Violence against children in Brazilian scenery

Negligência, violência física, psicológica e sexual

--- --- ---

35 Factors associated with violence against children in sentinel urgent and emergency care centers in Brazilian capitals Violência física (agressões, maus-tratos, lesões autoprovocadas voluntariamente/tentativa de suicídio), sexual e negligência --- 0 a 9 anos --- 36 **Health-related quality of life of maltreated children and adolescents who attended a service center in Brazil

Abuso físico, sexual e psicológico, negligência e múltiplos maus-tratos

--- 8 a 17 anos Baixa renda

Os artigos marcados com dois asteriscos (**) classificam como violência infantil a violência com indivíduos para além de 12 anos, chegando alguns desses estudos a incluir nesta categoria jovens de até 19 anos, apesar do ECA considerar como crianças apenas os indivíduos até 12 anos incompletos. Além disso, alguns estudos mostram dados percentuais para cada tipo de violência,

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sugerindo que determinado tipo é mais comum do que outros. Essa prevalência é expressa na ordem em que cada tipo de violência é indicada em cada célula da tabela.

Como é possível observar na tabela acima, a faixa etária também varia bastante, chegando a classificar como violência infantil as agressões de jovens com até 19 anos, mesmo no Brasil. Outro fato observado foi o de que não há uma vasta literatura sobre o assunto, apesar de ser um problema cada vez mais frequente em nossa sociedade.

Durante o processo de seleção dos artigos ficou evidente que a maioria das pesquisas publicadas até o período de 15 de fevereiro de 2019 sobre violência infantil deixam de abordar os efeitos psicológicos na criança ou apenas citam sua existência, e, por isso foram descartadas nesta pesquisa. É provável que isso ocorra por conta da cultura da educação punitiva que está enraizada e perdura por anos em nosso país. Verifica-se na tabela 2 os tipos de consequências que foram identificadas com mais frequência:

Tabela 2 – Tipos de consequências mais encontradas

Artigo Base de dados Tipo de violência encontrada Consequências ao desenvolvimento biopsicossocial 1 Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência? SciELO Alienação Parental

Causas sociais e problemas de desenvolvimento e personalidade. 2 Violence against children: an analysis of mandatory reporting of violence, Brazil 2011 SciELO Negligência, violência física, violência sexual e violência psicológica

Sofrimentos psíquicos e afetivos que provocam traumas existenciais. 3 **Violência sexual e coocorrências em crianças e adolescentes: estudo das incidências ao longo de uma década SciELO Violência sexual

Consequências emocionais, como estresse pós-traumático, entre outros comprometimentos ligados ao comportamento e desenvolvimento cognitivo e psicossocial. 4 Ambiente familiar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade SciELO Violência física e psicológica

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

5 **The impact of psychiatric diagnosis on treatment adherence and duration among SciELO Violência física, violência doméstica

Depressão, transtornos sociais, ansiedade e TEPT. Também são citados déficits acadêmicos, conflitos familiares, problemas legais, abuso de substâncias, comportamento suicida, risco de desistência do tratamento e tornar-se uma pessoa em situação de rua.

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victimized children an adolescents in São Paulo, Brazil 6 A violência sexual contra crianças e adolescentes: conhecer a realidade possibilita a ação protetiva SciELO Violência sexual

Sentimentos de baixa autoestima, culpa e vergonha; dificuldades em desenvolver relacionamentos de confiança; além da somatização, confusão emocional e até a reprodução da situação vivenciada por meio de comportamentos delinquentes, prostituição, dentre inúmeros outros.

7 **Violência contra crianças e adolescentes: proposta de classificação dos níveis de gravidade SciELO Violência doméstica (negligência, física, sexual e psicológica)

Sinais ou sintomas da agressão física ou psicológica; marcas físicas e/ou emocionais.

8 Fatores associados à institucionalização : perspectivas de crianças vítimas de violência intrafamiliar SciELO Violência intrafamiliar

Ansiedade, depressão nas crianças, podendo levar também a alterações no desenvolvimento.

9 Violência contra a criança: revelando o perfil dos atendimentos em serviços de emergência, Brasil, 2006 e 2007

SciELO Abuso físico, sexual,

emocional ou psicológico, negligência

Lesões, danos e transtornos ao desenvolvimento integral, danos físicos, psicológicos; danos ao crescimento, desenvolvimento e maturação da criança. 10 **Fatores de risco e de proteção na rede de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual SciELO Violência sexual

Sentimentos de culpa, vergonha e tolerância da vítima, além de severos problemas emocionais, sociais e/ou psiquiátricos. Também é salientado que tanto crianças como adolescentes podem desenvolver patologias como quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, dissociativos, hiperatividade e déficit de atenção e transtorno do estresse pós-traumático. Em especial as crianças, estas podem apresentar alterações comportamentais, cognitivas e afetivas, tais como sentimentos de culpa, diferença em relação aos pares, desconfiança, conduta hipersexualizada, baixo rendimento escolar, abuso de substâncias, ideações ou tentativas de suicídio, fugas do lar, isolamento social e irritabilidade. 11 **Abuso sexual: diagnóstico de casos notificados no município de Itajaí/SC, no período de 1999 a 2003, como SciELO Violência sexual e atos libidinosos 39,70% Estupro 20,50%

Crianças com idades entre 1 a 6 anos podem manifestar agressividade sexual contra amigos ou bonecos; desenhos com conteúdos sexuais, agressividade contra adultos e afastamento social. Crianças a partir de 6 anos podem demonstrar medo de adultos e/ou lugares específicos, como o quarto ou o banheiro;

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 instrumento para a intervenção com famílias que vivenciam situações de violência

mudanças bruscas nos modos, nas atitudes e no comportamento; usar linguagem sexualmente explícita e imprópria para a idade; além de ter pesadelos e distúrbios do sono; e falar coisas desconexas. 12 Alguns aspectos observados no desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual

SciELO Abuso sexual Em crianças de 0 a 6 anos: ansiedade, pesadelos, Transtorno de Estresse Pós-traumático e comportamento sexual inadequado.

Em crianças de 7 a12 anos: sentimento de culpa, medo, distúrbios neurológicos, agressão, problemas escolares, hiperatividade e comportamento agressivo. 13 **Maus-tratos contra criança e adolescente no Estado de São Paulo, 2009 SciELO Violência física e sexual

Dificuldade de aprendizado, transtornos comportamentais e de relacionamento, tabagismo, uso nocivo de álcool, depressão, problemas psíquicos. 14 A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar SciELO Violência psicológica

Ataques ao ego da criança, com sérios danos e distorções introduzidas em seu mapa psicológico sobre o mundo.

incapacidade de aprender, incapacidade de construir e manter satisfatória relação interpessoal, inapropriado comportamento e sentimentos frente a circunstâncias normais, humor infeliz ou depressivo e tendência a desenvolver sintomas psicossomáticos.

15 **Grupoterapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

SciELO Abuso sexual intra ou extrafamiliar

Depressão, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, déficit de atenção e hiperatividade, e transtorno de conduta. 16 Psychobiology of childhood maltreatment: effects of allostatic load?

SciELO Maus-tratos As consequências estruturais dos maus-tratos na infância incluem anormalidades no desenvolvimento do corpo caloso, neocórtex esquerdo, hipocampo e amígdala; as consequências funcionais incluem um aumento da irritabilidade nas áreas límbicas, disfunções do lobo frontal e redução da atividade funcional do vermis cerebelar; e as consequências neuro-humorais englobam a reprogramação do eixo HPA e subsequentemente à resposta ao estresse. 17 **Violência sexual

contra criança: autores, vítimas e consequências

SciELO Abuso sexual Transtorno mental, transtorno do comportamento, Transtorno do Estresse Pós-traumático e tentativa de suicídio.

18 **A violência física contra menores de 15 anos: um estudo epidemiológico em cidade sul do Brasil

SciELO Violência física

Sequelas físicas que causam dor, além de estresse, sequelas emocionais, afetivas e psicológicas. Segundo os autores, estas consequências facilitam comorbidades na fase adulta, tais como ansiedade e depressão, risco de autodestruição, baixa autoestima, visão

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pessimista do mundo, problemas de relacionamento, agressividade, timidez, isolamento social, submissão, déficit de atenção, hiperatividade, capacidade cognitiva e de linguagem inferiores, uso de álcool e drogas, além do comportamento abusivo que colabora para a perpetuação da violência

19 Severe physical punishment: risk of mental health problems for poor urban children in Brazil

SciELO Violência física

Este estudo classifica as consequências em internalizantes (sintomas emocionais e subjetivos, como a depressão e a ansiedade) e externalizantes (comportamentais, como assaltos, vandalismo e comportamento antissocial). A ocorrência de comorbidades é ressaltada. Já na idade adulta, atos agressivos ou criminosos, alcoolismo e depressão.

20 Violência contra crianças na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: a prevalência dos maus-tratos

calculada com base em informações do setor educacional

SciELO Negligências e abuso

psicológico

Sequelas físicas aparentes (citadas no contexto das notificações advindas de fontes da área da saúde). Além de indicadores emocionais/comportamentais em casos de negligência, que inclui a falta de controle parental, e há também o aparecimento de comportamento de excessiva independência, agressões, fugas de casa e procura por pares conflitivos nas crianças. Além de sérios problemas de comportamento, associando evasão escolar e permanência na rua, sem supervisão dos responsáveis.

21 Detecção de maus-tratos contra a criança: oportunidades perdidas em serviços de emergência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil SciELO Violência psicológica, negligência e violência física

Repercussões físicas, emocionais e sociais.

22 Prevalência de maus-tratos em crianças da 1a a 4a série na cidade de Ribeirão Preto - SP SciELO Maltrato emocional, abandono emocional e falta de controle parental

Baixa auto-estima, perda da confiança, sérias dificuldades de aprendizagem, agressividade, agir desafiador, hiperatividade, distúrbios alimentares, sintomas depressivos, retraimento e embotamento, falta de habilidades sociais, são algumas das consequências em crianças em idade escolar, pela literatura.

23 **Violência sexual contra crianças e adolescentes: características relativas à vitimização nas relações familiares

SciELO Abuso sexual (intrafamiliar)

Além das lesões físicas oriundas da violência, segundo os autores as vítimas também são propensas a apresentar distúrbios sexuais e depressão. Assim como outras condições como o uso de drogas, a prostituição e o suicídio.

24 Por que as crianças são maltratadas? Explicação para a prática de

maus-SciELO Maus-tratos Este artigo apresenta a violência como um ciclo que se repete nas famílias, logo Problemas psíquicos e psiquiátricos - fatores emocionais, questões relacionadas com autoestima e

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tratos infantis na literatura

problemas de personalidade em geral da família original propiciaram o desenvolvimento de indivíduo com as mesmas características. 25 **Consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação SciELO Violência familiar (contra a criança e contra a mulher)

A morbi-mortalidade é destacada além de consequências no desenvolvimento infantil nas esferas física, social, comportamental, emocional e cognitiva. O estudo classifica as consequências em dois grupos, as consequências traumáticas (físicas, como consequências traumato-ortopédicas tais como traumatismos cranianos, luxações e fraturas além das lesões de pele como escoriações e hematomas), as emocionais ou afetivas, os agravos habitualmente explorados pelo domínio da saúde materno-infantil (desnutrição, baixo peso ao nascer, etc.); e as outras consequências que não se enquadram nos agrupamentos da classificação anterior. As consequências emocionais/ afetivas são expressivamente apresentadas, dando destaque aos distúrbios psicossomáticos gastrointestinais crônicos e remitentes, ou dores abdominais inespecíficas; repercussões psicoemocionais, como a ansiedade ou a depressão; dificuldade de relacionamento e comportamento manifestada por agressividade, timidez, isolamento social progressivo e distúrbios do sono e do apetite; ou ainda, problemas na esfera de atividades, como a baixa performance social e intelectual. Na fase adulta, o estudo apresenta como consequência o abuso do álcool e drogas, depressão além de tentativa de suicídio. Sobre o abuso sexual, é destacada comportamento sexual incompatível com o esperado para a faixa etária.

26 The intertwined effect of lack of emotional warmth and child abuse and neglect on common mental disorders in adolescence PubMed Abuso emocional, Abuso físico, negligência emocional e negligência física

Risco de Comportamento suicida, estresse pós-traumático, distúrbios, pânico, bulimia e abuso de álcool.

27 Factors associated with child sexual abuse confirmation at forensic examinations

PubMed Abuso sexual infantil

Prejuízos ao desenvolvimento infanto juvenil, com repercussões cognitivas, emocionais, comportamentos físicos e sociais e ou psiquiátricos como: Depressão, Transtorno de ansiedade, transtornos alimentares, transtornos dissociativos, transtorno de Déficit de atenção/ hiperatividade e até transtorno de personalidade. Outros sintomas como: Tristeza, ideação suicida, medo exagerado dos adultos, comportamento sexual avançado para a idade, masturbação frequente ou ao público, baixa autoestima, abuso de substâncias químicas, sonolência, enurese, tiques e manias, isolamento social, dificuldades de aprendizagem, irritabilidade etc.

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28 Mental health of children who work on the streets in Brazil after enrollment in a psychosocial program PubMed Violência urbana, abuso físico, emocional, sexual e negligência emocional e física

Enurese (25%), transtorno Opositor Desafiador Depressivo maior (16,2%) Transtorno Depressivo maior (13,5%),Transtorno do Déficit de atenção e hiperatividade (10,8%), fobias (8,1%), ansiedade de separação (8,1%), ajuste (8,1), ansiedade generalizado (2,7%), TEPT (2,7%), estresse agudo (2,7%) e encoprese (2,7%). Diagnóstico psiquiátrico baseado no DSM-IV.

29 Childhood and adolescent sexual abuse, victim profile and its impacts on mental health

PubMed Violência sexual

Sintomas como pesadelos, depressão, comportamento de retirada, agressão, comportamentos regressivos e transtornos neuróticos, medo, ansiedade, baixa autoestima, insônia, transtorno de humor, como depressão. 30 Serum copeptin in

children exposed to maltreatment

PubMed Abusos físico, emocional, sexual e negligência

Depressão, transtorno ou Estresse Pós-traumático (TEPT) comportamento suicida, Transtorno Bipolar, esquizofrenia, distúrbios do espectro e comportamentos aditivos. Problemas psicológicos destacados pelos pais: ansioso/ deprimido, retraídos/queixas somáticas, problemas sociais, problemas de pensamento, problema de atenção, comportamento agressivo e quebra de regras. Taxas maiores de TEPT, transtornos de conduta, oposição, transtorno déficit de atenção e hiperatividade e depressão incluindo outros transtornos psiquiátricos como transtorno Obsessivo Compulsivo, Psicose, Transtorno bipolar. 31 Measuring child maltreatment using multi-informant survey data: a higher-order confirmatory factor analysis

PubMed Abuso físico, emocional e negligência física

TDAH, Desordem de Conduta, Transtorno desafiador opositor.

32 Child and adolescent abuse in the state of São Paulo, Brazil, 2009 PubMed Violência física, sexual, psicológica e negligência e abandono

Transtorno de déficit de atenção e comportamento destrutivo.

33 The presence of a stepfather and child physical abuse, as reported by a sample of Brazilian mothers in Rio de Janeiro PubMed Violência física

Estresse parental e depressão.

34 Violence against children in Brazilian scenery SciELO Negligência, violência física, psicológica e sexual

Desvios de conduta, principalmente transgressões das regras sociais, dificuldade de desenvolvimento no meio social e diminuição na capacidade de pensar e agir

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35 Factors associated with violence against children in sentinel urgent and emergency care centers in Brazilian capitals SciELO Física (agressões, maus-tratos, lesões autoprovocada s voluntariament e/tentativa de suicídio), sexual e negligência

Sofrimentos psíquicos e traumas profundos para toda a vida. 36 Health-related quality of life of maltreated children and adolescents who attended a service center in Brazil

PubMed Abuso físico, sexual e psicológico, negligência e múltiplos maus tratos

Uso de álcool e outras drogas, prostituição, gravidez precoce, obesidade, depressão, Transtorno do Estresse Pós-traumático

As consequências apontadas pelo artigo de número 5 estão associadas não somente à violência infantil, mas também ao abuso de substâncias. Já o artigo de número 8 aponta a violência intrafamiliar como o tipo de violência estudada, no entanto as consequências relatadas são referentes à violência institucional, quando a criança é separada de seus familiares significativos, ou seja, os mais próximos.

No entanto, outros tipos pouco estudados também apareceram nos resultados, o mais raro destes foi nomeado “violência urbana”, tipo que caracteriza a exposição da criança ao trabalho na rua, vendendo doces entre outras mercadorias. Provavelmente em razão deste fato e de outros comportamentos ocorrerem na maioria das vezes por ordens do próprio cuidador da criança que este tipo de violência seja classificado como negligência.

Detectou-se nesta revisão sistemática distintos tipos de violência realizadas contra crianças, sendo evidenciadas por maior parte dos artigos encontrados a violência sexual (abuso sexual infantil) e a violência física. Entretanto foram encontradas outras modalidades de violências com apuração menor de conteúdo, sendo elas: violência psicológica (violência emocional) e negligência, como é possível analisar no gráfico 1:

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Gráfico 1 – Índice de prevalência de violências dos artigos analisados

É importante ressaltar que a maior parte dos artigos analisados possuíam mais de um tipo de violência estudado, e, por isso, aparecem mais de uma vez no gráfico. Além disso, alguns tipos de violência também fazem parte de outras, tais como a violência doméstica e a alienação parental e por isso não aparecem no gráfico, o qual aponta os termos mais específicos.

21 21 16 14 6 3 2 1 0 5 10 15 20 25

Tipos de violências mais identificados

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Gráfico 2 – Índice de consequências biopsicossociais mais encontradas nos artigos analisados

Outros tipos de consequências foram identificadas, no entanto, apareceram poucas vezes na literatura em relação às destacadas neste gráfico. Além disso, nos estudos não foram exploradas, ou seja, explicadas de maneira pertinente a fim de justificá-las.

Além disso, as pesquisas analisadas são, em sua maioria, do tipo estudo transversal, como aponta a tabela 3, com amostras nas quais se evidenciam os cuidadores, suas percepções e cuidados (ou a falta deles) e não de fato a criança agredida, como mostram as tabelas 1 e 4.

13 11 9 6 6 5 0 2 4 6 8 10 12 14 Depressão Sequelas emocionais, afetivas, psicológicas, sociais e comportamentais Ansiedade Transtorno de estresse pós-traumático Hiperatividade Déficit de atenção

Transtornos mais identicados

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 3 – Características dos estudos

Artigo Ano Tipo de estudo Número da amostra Base de dados 1 Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência? 2017 Pesquisa qualitativa --- SciELO 2 Violence against children: an analysis of mandatory reporting of violence, Brazil 2011 2011 Estudo descritivo-analítico 17900 casos SciELO 3 **Violência sexual e coocorrências em crianças e adolescentes: estudo das incidências ao longo de uma década

2001 - 2010 Estudo epidemiológico 1418 casos SciELO 4 **Ambiente familiar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade 2010 Estudo longitudinal 479 escolares SciELO 5 **The impact of psychiatric diagnosis on treatment adherence and duration among victimized children an adolescents in São Paulo, Brazil 2007 Pesquisa exploratória 351 crianças SciELO 6 A violência sexual contra crianças e adolescentes: conhecer a realidade possibilita a ação protetiva 2006 Pesquisa exploratória 47 crianças SciELO 7 **Violência contra crianças e adolescentes: proposta de classificação dos níveis de gravidade 2003 --- --- SciELO 8 Fatores associados à institucionalização: perspectivas de crianças vítimas de violência intrafamiliar 2008 Pesquisa qualitativa 4 crianças SciELO 9 Violência contra a criança: revelando o perfil dos atendimentos em serviços de emergência, Brasil, 2006 e 2007

2006 Estudo descritivo 518 crianças SciELO

10 **Fatores de risco e de proteção na rede de atendimento a crianças e adolescentes 1992 Análise documental 94 vítimas SciELO

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 vítimas de violência sexual 11 **Abuso sexual: diagnóstico de casos notificados no município de Itajaí/SC, no período de 1999 a 2003, como instrumento para a intervenção com famílias que vivenciam situações de violência 2005 Estudo do tipo exploratório, com método de análise quantitativa 340 casos SciELO 12 Alguns aspectos observados no desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual 1998 Revisão da literatura --- SciELO 13 Maus-tratos contra criança e adolescente no Estado de São Paulo, 2009 2012 Estudo qualitativo, descritivo e quantitativo 4085 notificações válidas SciELO 14 A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar 2011 Revisão de literatura --- SciELO 15 Grupoterapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual 2009 Estudo longitudinal e quantitativo 40 crianças SciELO 16 Psychobiology of childhaad maltreatement: effects of allostatic load ? 2008 Revisão seletiva com base sistêmica 115 casos SciELO

17 Violência sexual contra criança: autores, vítimas e consequências 2016 Estudo transversal, descritivo e analítico 477 casos SciELO 18 A violência física contra menores de 15 anos: um estudo epidemiológico em cidade sul do Brasil

2006 Estudo transversal 479 casos SciELO

19 Several physical punishment: risk of mental health problems for poor urban children in Brazil

2006 Estudo transversal 89 casos SciELO

20 Violência contra crianças na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: a

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761

prevalência dos maus-tratos calculada com base em informações do setor educacional 21 Detecção de

maus-tratos contra a criança: oportunidades perdidas em serviços de emergência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil 2004 – 2005

Estudo transversal 524 casos SciELO

22 Prevalência de maus-tratos em crianças da 1a a 4a série na cidade de Ribeirão Preto - SP

2008 Estudo transversal 3885 casos SciELO

23 Violência sexual contra crianças e adolescentes: características relativas à vitimização nas relações familiares 1995 – 2000

Estudo transversal 226 casos SciELO

24 Por que as crianças são maltratadas? Explicação para a prática de maus-tratos infantis na literatura 1990 - 1999 Revisão bibliográfica --- SciELO 25 Consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação 1999 Revisão bibliográfica --- SciELO

26 The intertwined effect of lack of emotional warmth and child abuse and neglect on common

mental disorders in adolescence

2018 Estudo transversal 487 adolescentes PubMed

27 Factors associated with child sexual abuse confirmation at forensic examinations

2018 Estudo transversal 828 relatórios forenses

PubMed

28 Mental health of children who work on the streets in Brazil after enrollment in a psychosocial program 2017 Estudo longitudinal 126 crianças PubMed 29 Childhood and adolescent sexual abuse, victim profile and its impacts on mental health 2017 Análise descritivo- exploratória 101901 jovens abusados PubMed

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761

30 Serum copeptin in children exposed to maltreatmen

2016 Estudo transversal 136 crianças PubMed

31 Measuring child maltreatment using multi-informant survey data: a higher-order confirmatory factor analysis 2016 Pesquisa qualitativa e quantitativa 2512 crianças PubMed

32 Child and adolescent abuse in the state of São Paulo, Brazil, 2009

2012 Pesquisa

qualitativa e quantitativa

4085 notificações PubMed

33 The presence of a stepfather and child physical abuse, as reported by a sample of Brazilian mothers in Rio de Janeiro

2010 Estudo transversal 385 crianças PubMed

34 Violence against children in Brazilian scenery 2013 Revisão integrativa da literatura --- SciELO

35 Factors associated with violence against children in sentinel urgent and emergency care centers in Brazilian capitals

2014 Estudo transversal 404 crianças SciELO

36 Health-related quality of life of maltreated children and adolescents who attended a service center in Brazil

2015 - 2016 Estudo transversal 113 crianças e adolescentes

PubMed

Como aponta a tabela 3, nos artigos selecionados para esta revisão é possível observar que não há artigos muitos recentes sobre o tema, o que é inusitado, já que é algo tão presente em nossa sociedade e que deixa sequelas irreversíveis na criança agredida. Também não há um perfil consensual das características sócio-demográficas da criança que sofre a violência, apenas do agressor, como mostra a tabela 4:

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 4 – Perfil do agressor

Artigo Grau de parentesco mais frequente com a vítima Raça/co r

Idade Sexo Característic as Socioeconôm icas 1 Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência? --- --- --- --- --- 2 Violence against children: an analysis of mandatory reporting of violence, Brazil 2011 Pais e outros familiares --- --- Feminino e masculino Consumo de álcool 3 **Violência sexual e coocorrências em crianças e adolescentes: estudo das incidências ao longo de uma década

Parentes próximos, incluindo pai e mãe. --- Até 17 anos – 7,1% De 19 – 39 anos – 10,0% 40 e mais – 5,8% Masculin o 18,2% Feminino 5,3% --- 4 **Ambiente familiar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade Mãe --- --- Feminino Condições precárias e baixa escolaridade 5 **The impact of psychiatric diagnosis on treatment adherence and duration among victimized children an adolescents in São Paulo, Brazil Familiares --- --- Feminino e masculino Pobreza, violência, situação de risco 6 A violência sexual contra crianças e adolescentes: conhecer a realidade possibilita a ação protetiva Pai, padrasto, outros familiares, como o avô e o namorado da mãe. --- --- Masculin o --- 7 **Violência contra crianças e adolescentes: proposta de classificação dos níveis de gravidade A mãe, responsável por 44,6% dos casos em 2003 e 59% em 2004 --- --- Feminino --- 8 Fatores associados à institucionalização: perspectivas de crianças vítimas de violência intrafamiliar Mãe --- --- Feminino Situação de pobreza e uso de álcool 9 Violência contra a criança: revelando o perfil dos atendimentos em serviços de Familiares e conhecidos da família. --- --- Masculin o ou feminino ---

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 emergência, Brasil, 2006 e 2007 10 **Fatores de risco e de proteção na rede de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual

Pai 33% dos casos --- --- Masculin o Situação de pobreza, desemprego, uso de álcool e drogas. 11 **Abuso sexual: diagnóstico de casos notificados no município de Itajaí/SC, no período de 1999 a 2003, como instrumento para a intervenção com famílias que vivenciam situações de violência Para cada 10 violadores, 05 deles são os próprios pais da vítima, 01 é o padrasto, 03 são os tios e apenas 01 dos agressores é desconhecido --- --- --- Péssimas condições de vida; uso de drogas e álcool. 12 Alguns aspectos observados no desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual pai (41,6%), padrasto (20,6%), tio (13,8%), primo (10,9%) e irmão (3,7%). --- --- Masculin o --- 13 **Maus-tratos contra criança e adolescente no Estado de São Paulo, 2009 Pais e conhecidos --- --- Masculin o --- 14 A (in)visibilidade da violência psicológica na infância e adolescência no contexto familiar --- --- --- 15 **Grupoterapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

--- --- --- --- 16 Psychobiology of childhood maltreatment: effects of allostatic load? --- --- --- ---

17 Violência sexual contra criança: autores, vítimas e consequências Conhecidos --- Masculin o ---

18 **A violência física contra menores de 15 anos: um estudo epidemiológico em cidade sul do Brasil

Pai (48,8% da amostra), seguido de outros parentes --- 30 a 40 anos Masculin o Desemprego, alcoolismo 19 Severe physical punishment: risk of mental health problems

Mãe e/ou companheiro (pai, padrasto ou --- 15 a 49 anos Feminino e masculino Baixa renda, baixa escolaridade em sua

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for poor urban children in Brazil namorado da mãe da vítima) maioria ou somente o ensino médio concluído 20 Violência contra crianças na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: a prevalência dos maus-tratos calculada com base em informações do setor educacional --- --- --- --- 21 Detecção de maus-tratos contra a criança: oportunidades perdidas em serviços de emergência na cidade do Rio de Janeiro, Brasil Mãe, seguida do companheiro --- Idade média de 30,8 anos Feminino e masculino em menor escala Baixa renda 22 Prevalência de maus-tratos em crianças da 1a a 4a série na cidade de Ribeirão Preto - SP --- --- --- ---

23 Violência sexual contra crianças e adolescentes:

características relativas à vitimização nas relações familiares

Pais, seguidos dos padrastos além de demais parentes, como tios e irmãos --- Masculin o Baixa renda

24 Por que as crianças são maltratadas? Explicação para a prática de maus-tratos infantis na literatura Pais e parentes em sua maioria --- --- Masculin o e feminino dependen do do tipo de violência Desajuste familiar, psíquico e alcoolismo 25 Consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação Membros da família --- Feminino e masculino Abuso de álcool e drogas

26 The intertwined effect of lack of emotional warmth and child abuse and neglect on common mental disorders in adolescence Pais e Mães --- 16 a 24 anos Feminino e masculino ---

27 Factors associated with child sexual abuse confirmation at forensic examinations 80% dos abusos sexuais são realizados por --- --- Cita a influência das classes econômicas,

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.79408-79441, oct. 2020. ISSN 2525-8761 membros da família. porém não as relatam. 28 Mental health of

children who work on the streets in Brazil after enrollment in a psychosocial program --- --- --- --- 29 Childhood and adolescent sexual abuse, victim profile and its impacts on mental health

Pessoas

conhecidas na maioria dos casos como: namorado/ex 25,6%, familiares 19,6% amigos 19,2% e pais 10,5% --- --- --- 30 Serum copeptin in children exposed to maltreatmen --- --- --- --- 31 Measuring child maltreatment using multi-informant survey data: a higher-order confirmatory factor analysis --- --- --- ---

32 Child and adolescent abuse in the state of São Paulo, Brazil, 2009

43,8% dos agressores são responsáveis da vítima: Mães 18,6% pai 14,8%, padrasto 9,3 e madrasta 29,0% outros membros da família 7,9 % eram estranhos --- 72% Masculin o Variáveis socioeconôm icas e desiguais são vistas como fatores estruturais que podem favorecerem a ocorrência de abuso 33 The presence of a

stepfather and child physical abuse, as reported by a sample of Brazilian mothers in Rio de Janeiro Padrasto e Mães --- 31,1 anos a 35,6 anos. Masculin o e Feminino Renda mediana domiciliar per capita de R$ 299,80 34 Violence against children in Brazilian scenery Algum membro do grupo familiar --- 31,55 anos de idade (nos homens) Feminino (em alguns tipos de violência – a psicológic a e o castigo corporal e negligênci a) e ---

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masculino (violência sexual) 35 Factors associated with

violence against children in sentinel urgent and emergency care centers in Brazilian capitals Pai/mãe (mais frequente), familiares e amigos --- --- Masculin o e feminino --- 36 Health-related quality of life of maltreated children and adolescents who attended a service center in Brazil Perpetrador intrafamiliar --- --- --- ---

As pesquisas científicas sobre abuso sexual têm sido realçadas em razão deste ser, atualmente, o ponto central das pesquisas em violência infantil juntamente à violência sexual. A Organização Mundial da Saúde (2002) declara que toda criança tem direito à saúde e à vida longe da violência. Segundo Back e Platt et. al. (2018), o abuso sexual infantil sucede no momento que uma criança é subordinada à atividade sexual na qual não tem amadurecimento para compreender o que está acontecendo, sendo seu desenvolvimento incompatível à prática, e que não é capaz de permitir o ato, violando as leis ou as regras da sociedade.

Múltiplas pesquisas encontradas apontaram para consequências psicológicas acentuadas e preocupantes, sucedendo influências tanto no desenvolvimento físico, quanto no psíquico; ativadores de impactos negativos na sociedade, existindo relação entre a ocorrência de violência e a probabilidade de desenvolvimento de psicopatologias, dependências de substâncias e ideação suicida.

Já a violência física contra crianças ainda se encontra muito frequente em nossa sociedade, como se estivesse enraizada em classes menos favorecidas a cultura de disciplinar os filhos com agressões físicas. Essa modalidade de violência é praticada por responsáveis (pais ou cuidadores) com atitudes agressivas que podem colocar a criança agredida em risco de vida, de forma não acidental que pode ocasionar em doenças e/ou detrimento físico da mesma.

Nesta pesquisa foi observada a escassez de notificações oficiais, o que sugere que os números são bastante superiores aos que de fato chegam às autoridades. Estas notificações devem ser realizadas por serviços oficiais de proteção, segmento infanto-juvenil, profissionais de saúde e educação e por amigos e familiares da família.

O procedimento correto é que esses relatos sejam feitos por pessoas e profissionais que estejam em proximidade com a vítima, porém foi constatado que não acontece desta forma. Existe

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ainda muita omissão, passividade e despreparo de parte dos profissionais, parentes e amigos, tardando assim a ação de intervenção e proteção à criança, o que possibilita o agravamento das consequências psicológicas que são acrescidas a cada agressão.

A violência psicológica ou violência emocional também foi citada nas pesquisas e é caracterizada por Malta (2002) como uma “atitude do adulto em depreciar e inferiorizar de modo constante a criança ou adolescente, causando-lhe sofrimento psíquico e interferindo negativamente no processo de construção da sua identidade”.

As limitações dos estudos deste tipo de violência se destacam, no entanto, as quais trouxeram uma correlação entre vítimas que sofreram violência psicológica e maus tratos e a apresentação da ideação suicida. Outros artigos enfocam ainda somente consequências na vida adulta, deixando de considerar que tais consequências são presentes e se manifestam não somente na vida adulta, mas também na infância, quando iniciamos a apropriação do mundo, ou seja, do ambiente que nos rodeia. As consequências psicológicas dessa categoria são de complexa mensuração e provavelmente seja por isso que diversas vezes são desvalorizadas pelos responsáveis inicialmente, porém estudos revelaram que essas consequências geralmente se desenvolvem para um prejuízo maior que o apresentado anteriormente.

A violência psicológica pode apresentar-se com aspecto de ação ou omissão, sendo revelada por alguns aspectos como permissividade dos responsáveis, isolamento, uma proteção exagerada, corrupção, tortura psicológica e física, rejeitando e fazendo exigências excessivas. Já a violência urbana é um problema social pouco destacado em países em desenvolvimento, nos quais crianças normalmente são obrigadas a trabalhar para ajudar no sustento da família, característica que obtém dados estatísticos alarmantes no Brasil.

Nesta revisão foram encontrados poucos artigos relacionado a esse tema, no entanto, dados relevantes devem ser destacados. Segundo Mello, Maciel, Fossaluza et al. (2014), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2007, relatou que 2,5 milhões de crianças com idades entre 5 a 15 anos trabalham e estima-se que 2,3 milhões de crianças tenham entre 10 a 15 anos de idade; e que 36,5% trabalham em fazendas, 24,5% em lojas, oficinas e fábricas e 5,7% trabalham nas ruas. São dados relevantes que superestimam cerca de 130.000 mil crianças trabalhando nas ruas. O perfil dessas crianças de acordo com este estudo, são de famílias desintegradas socialmente, de baixo status socioeconômico e, em muitos casos, destaca-se que a renda que é trazida para a residência desta vítima é a única renda para sobrevivência da família.

As consequências psicológicas de todas as violências aqui descritas são diversas e é relevante enfatizar que as crianças que possuem um lar afetivo têm maior resiliência para resistir a

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essas consequências. No entanto, de acordo com os estudos selecionados nesta revisão sistemática, foi praticamente unânime a afirmação de que o local onde é mais frequente a ocorrência de violência infantil é no lar da própria vítima, sendo os agressores seus próprios pais ou cuidadores, fato que se mostra completamente contraditório ao que o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (2008) propõe, o qual enfatiza o papel da família, seja esta natural ou adotiva, do dever de proteger e garantir os direitos “à vida, à saúde, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

4 DISCUSSÃO

Todas as categorias de violência contra crianças produzirão consequências psicológicas, entretanto é válido ressaltar que não foi possível relatar todas elas em função da baixa apuração de pesquisas específicas acerca desta questão. É necessário também evidenciar que o desenvolvimento das consequências psicológicas dependerá da quantidade de vezes que a vítima sofreu a violência, de quem a praticou, o tempo que levou para ser descoberta e qual tipo de intervenção e apoio recebido pela criança.

Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (2002), a violência contra crianças e adolescentes é muitas vezes silenciada e há escassez de dados estatísticos sobre o assunto, o que prejudica o desenvolvimento de políticas públicas sobre o assunto, e, logo, perpetua a violência em suas várias maneiras. Destaca-se que as amostras encontradas ainda não contemplam uma evidência sobre a mensuração real problema, por existir barreiras institucionais, sociais e culturais que impedem as notificações, além da deficiência na qualificação profissional de diversas áreas, em especial da saúde e da educação, para a identificação da violência.

A respeito dos estudos encontrados durante esta revisão sistemática, alguns dados devem ser ressaltados. Uma característica ficou bem clara durante a etapa de seleção dos artigos: uma grande maioria dos estudos identificados discutem as consequências psicológicas da violência infantil somente na idade adulta, como algo que se apresentaria de maneira tardia, ou que teria seus efeitos prolongados, desconsiderando ou apenas citando os sintomas apresentados pela criança vitimizada. Outros, ainda, apontavam a violência por parte das mães (e pais) contra os filhos como uma dessas consequências, revelando a educação punitiva como algo cultural.

Os estudos acerca do tema desta revisão carecem de certa acurácia no que diz respeito às consequências psicológicas da violência na criança agredida, pois estes apresentam efeitos diferentes para o mesmo tipo de violência, além de pouco evidentes, citando apenas jargões como

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“traumas”, “consequências irreparáveis”, “distúrbios emocionais” ou “problemas escolares”, mas sem explicar através de evidências empíricas, apesar de pelo menos metade dos estudos selecionados serem do tipo corte transversal. As amostras possuem grande amplitude, variando de 4 a 101901 indivíduos.

Outro fato que se destacou nesta pesquisa foi a faixa etária dos estudos sobre violência infantil. Um terço dos artigos analisados consideram como infância idades acima de 12 anos, apesar de no Brasil o ECA considerar como crianças indivíduos de até 12 anos de idade incompletos. Assim, os resultados dessas pesquisas não separavam este público entre crianças e adolescentes, dado que sugere que a violência pode se perpetuar para além da infância. Como citado em grande parte dos estudos analisados, a violência infantil ocorre geralmente dentro dos lares das vítimas e por familiares próximos, como os pais, assim a partir desse dado é possível inferir que essa violência contra os filhos, que moram na mesma casa que seus pais, é considerada por muitos autores como violência infantil, apesar destes muitas das vezes se encontrarem fora da faixa etária da infância pré-estabelecida pelo ECA.

O objetivo inicial desta pesquisa foi identificar as consequências psicológicas da violência infantil, no entanto, como somos seres biopsicossociais, mais de 50% dos estudos selecionados, mesmo que de maneira rasa, abordavam não somente os efeitos psicológicos desta, mas também outros que prejudicavam o desenvolvimento biopsicossocial da criança, como a desnutrição e o comportamento social inadequado, por exemplo. Por esse motivo, esta revisão dedicou-se a fazer um estudo mais abrangente no que diz respeito às consequências globais da violência na criança agredida.

Portanto, através desta revisão sistemática foi possível observar que por mais que a violência, em suas várias maneiras, se apresente como um problema de saúde pública no Brasil muito se fala a respeito, mas pouco se produz, principalmente quando se trata de violência infantil. Há poucas produções científicas na Psicologia enfocando especificamente este tema e considerando também suas consequências psicológicas através de evidências. É necessário que se produza mais a respeito do tema a fim de que este conhecimento possa contribuir para a mudança desta realidade e para a elaboração de políticas públicas e intervenções para a redução dos índices de violência infantil no Brasil e, consequentemente, a diminuição do sofrimento dessas crianças.

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REFERÊNCIAS

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Figura 1 – Organograma dos critérios de exclusão dos artigos
Tabela 1 – Perfil da vítima
Tabela 2 – Tipos de consequências mais encontradas
Gráfico 1 – Índice de prevalência de violências dos artigos analisados
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