Até os dez anos de idade Gui-marães Rosa viveu em Cordis-burgo, um lugarejo situado entre Sete Lagoas e Curvelo em Mi-nas Gerais, onde Mi-nasceu. A par-tir de 1918, viveu em Belo Hori-zonte, na casa da avô, para onde se mudou a fim de estudar. En-trou para a Faculdade de medi-cina em 1926, mas o interesse pela literatura não ficou de lado. Escrevia contos e participou,
inclusive, de concursos tendo sido premiado. Formado médico, foi exercer carreira em uma cida-de interiorana, mas em 1932, ano da Revolução Constitucionalista, voltou a Belo Horizonte para servir como médico voluntário da Força Pública. No ano de 1934, atuou como oficial-médico no 9º Batalhão de Infantaria em Barba-cena. No entanto, a carreira de escritor não era esquecida – parti-cipou em 1936, de um concurso da Academia Brasileira de Le-tras, com uma coletânea de con-tos chamada Magma, e, em 1937,
concorreu a prêmio, com o volu-me Contos, que dez anos depois
se transformaria no livro Sagara-na.
Em 1952, em excursão ao estado do Mato Grosso [naquela época
MS e MT eram um só estado], conviveu com vaqueiros do oeste do Brasil e começou a realizar um projeto majestoso: O livro Grande Sertão: Veredas,
que publicou em 1956, consa-grando definitivamente seu estilo. Promovido a diplomata em 1958, preferiu não sair do Brasil, vivendo no Rio de Janei-ro. Indicado para a Academia Brasileira de letras em 1963, adiou sua entrada por quatro anos. Finalmente assumiu a cadeira em 1967, falecendo três dias depois de tomar posse.
Do livro “Literatura História e Texto 3” de Samira Youssef
Campedelli – 1ª edição-1994-Editora Saraiva-São Paulo-SP-pag. 263 e 264
Um pouco sobre Guimarães Rosa e o Grande Sertão Mineiro
O ambiente do sertanejo chamado peão boiadeiro
Gado solto no pasto que não foi arado nem plantado. Peão boiadeiro era profissão, ofício hoje quase extinto. Vida de peão era vivida no meio do mato, cozinhando feijão com toucinho e carne seca numa panela de ferro pendurada num tripé de varas verdes cortadas no mato com fogo de lenha por debaixo, mais fari-nha depois de cosido. Rapa-dura ou café era a sobremesa. Isso, o almoço e o jantar do peão. De vez em quando visi-tava a cidade, mas na maior parte do tempo a lua e as es-trelas enfeitavam o teto do imenso cômodo onde dormia e descansava da lida, enquan-to acalentava sonhos de fincar
raízes, ter terra para plantar, ter mulher, algum gado e filhos. Sua despensa era o alforje pendurado atrás da sela onde a carne seca, touci-nho salgado, linguiça curtida na fumaça, grãos de feijão e arroz, farinha de mandioca, rapadura, açúcar, fubá, pó de café e sal viajavam junto com ele. Nas grandes comiti-vas, costumava existir uma carroça substituindo o alforje e um cozinheiro oficial pre-parava a boia pra toda a tur-ma que atravessava distanci-as tangendo o gado até o destino final. Banho, só quando a parada era na beira do rio ou lagoa. O gado era propriedade de um ou alguns
coronéis e tinha que chegar ao destino custasse o que custasse. Peão boiadeiro sempre foi homem honesto e trabalhador, não tinha educa-ção nem dinheiro sobrando, não tinha casa para morar, não sabia ler nem escrever, mas era honesto. Sabia atirar, mas só para defender a si ou o companheiro, era isso e a fé em Deus que o
diferencia-va do “outro” jagunço
inimi-go. Rezando, sonhando e trabalhando duro ele ia, atra-vessando o tempo, tocando o gado e a vida.
José Antônio C.
Disciplina: Setor Agrário e Organização Social no Brasil - Escola de Veterinária
Novembro de 2014 Volume 1, edição 01
Boletim do Sertão
Editores: Grupo de estudantes da UFMG graduandos em Aquacultura Filosofia da disciplina e do Boletim: Entender o produtor rural, as políticas para a agricultura no Brasil, os acontecimentos correlatos relatados na Literatura Brasileira e nas estatísticas que a mídia não divulga, as consequências sociais destas políticas.
Guimarães Rosa
Nesta edição:
JULGAMENTO NO SERTÃO-
Reportagem de Cláudio Tomaz Pag. 2
UM CONTO DO SERTÃO
Texto de Jéssica Sanches Pag. 3
O DIABO EXISTE?
Texto de Roberta Motta Pag. 4
UM AMOR VELADO NO SERTÃO Texto de Rayssa Marques Pag. 4
UM ESTUDO SOBRE JAGUNÇOS: HONRA E VIOLÊNCIA
Chrystian Santos
Pag. 5
GRANDE SERTÃO VEREDAS?
Roberto Carlos Evangelista Pag. 6
CURSO DE AQUACULTURA DA UFMG, JÓIA OU BIJOUTERIA? José Antônio da Conceição
Pag. 7
PEQUENO VOCABULÁRIO
José Antônio da Conceição Pag. 7
BIOGRAFIA - JOÃO GUIMARÃES ROSA
Giovani Podesta
Pag. 8
ESTE BOLETIM
Quando o Professor Matheus Ramirez pediu que nosso gru-po desenvolvesse um trabalho sobre as páginas 245 até 280 do livro Grande Sertão Vere-das não sabíamos por onde começar, nem o que fazer. Surgiu a ideia de brincarmos com o tema das páginas do livro fingindo que éramos jornalistas. O resultado está em suas mãos. Boa leitura!
Após vencerem a guerra, os líderes dos jagunços baniram do sertão mineiro um dos maiores defen-sores dos interesses do governo na região, o temi-do José Rebelo Adro Antunes, 41, conhecitemi-do como Zé Bebelo. A decisão foi tomada em um julgamento polêmico e que dividiu a opinião dos “coronéis”. O julgamento, comandado pelo principal líder da região, Joca Ramiro, ocorreu na Fazenda Sempre-Verde e contou com a presença de cerca de 500 jagunços. Também estavam presentes Sô Candelá-rio, Hermógenes, Ricardão, Titão Passos e João Goanhá, importantes chefes de bandos do sertão. De acordo com as informações dos jagunços, as ordens, que supostamente foram dadas por, Joca Ramiro, eram de pegar Zé Bebelo vivo. Desta for-ma, ele foi o único sobrevivente de seu grupo, pelo menos, entre os homens que participaram daquela batalha.
A captura de Zé Bebelo ocorreu após seu bando, com cerca de 20 homens, perder uma batalha con-tra aproximadamente 15 jagunços na região de Chapada da Seriema Correndo. Na ocasião, o gru-po era chefiado gru-por Zé Curiol. Conhecido gru-por ser uma pessoa destemida, Zé Bebelo exigiu ter um julgamento justo, dentro da lei, ou preferia ser exe-cutado ali mesmo. Desta forma, ele foi conduzido até Joca Ramiro.
Segundo o jagunço Riobaldo, ao ser levado à Joca Ramiro o “coronel” derrotado exigiu ser respeitado pelos vencedores. “Ele disse: Dê respeito, chefe. O senhor está diante de mim, o grande cavaleiro, mas eu sou seu igual. Dê respeito!", afirma o jagun-ço.
Joca Ramiro, por sua vez, tratou de pedir calma à Bebelo e chegou a afirmar que estava diante de
um “homem valente” preso.
De acordo com Riboaldo, um dos jagunços de Joca Ramiro, que participou do julgamento, o primei-ro a se pprimei-ronunciar, foi Hermógenes. Para ele o réu, que seria pago pelo Governo para guerrear contra os sertanejos, de-veria ser executado. Ou-tro que considerou a morte de Zé Bebelo co-mo a melhor condenação foi Ricardão. Ele lembrou das mortes e do sofri-mento na região em fun-ção da guerra.
Já Sô Candelário chegou a desafiar Zé Bebelo pa-ra um duelo. Porém, no final, ele propôs soltar o réu para que ele reagru-passe seu bando e vol-tasse à batalha. Titão
Passos também era contra a morte do réu, bem como, João Goa-nhá. Para eles Zé Bebe-lo não havia cometido crimes.
Até mesmo os jagunços participaram ativamen-te do julgamento. Entre eles estava Riobaldo que já conhecia Zé Be-belo e o defendeu dian-te dos líderes do sertão.
A palavra final foi de Joca Ramiro que deter-minou a retirada do réu da região. Zé Bebelo se comprometeu a reunir os sobreviventes de seu bando e ir para Goiás. O “coronel” derrotado não poderá retornar até “segunda ordem”.
Claudio Tomáz
JULGAMENTO NO SERTÃO
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Página
2
Boletim do SertãoParecia ser mais um dia como outro qualquer na vida de um sertão, mas naquele dia algo de novo aconteceria...
Percebia um movimento muito estranho na redon-deza, era uma movimen-tação de pessoas e ani-mais – muita movimen-tação, diga-se de passa-gem.
Estava bastante ensola-rado neste dia, mas pa-recia que nem o sol es-caldante impediria o que estava para começar. No primeiro momento vê-se um homem, que pos-suía ombros largos, ca-belos negros e lisos e belos olhos, e ele estava em um cavalo branco, o que mostrava que ele era um líder de algum grupo. Seu nome era Jo-ca Ramiro. Logo atrás dele havia vários ho-mens, aproximadamente duzentos homens, ou até mais.
Cada homem carregava algo em mãos que reluzi-a nreluzi-a luz do sol, mreluzi-as reluzi- ain-da não ain-dava para ter cer-teza do que era.
Logo no horizonte, via-se a aproximação de mais alguns homens, mas es-tes não estavam com o outro grupo, e também estavam segurando algo que reluzia na luz do sol. Como havia dito, só pare-cia ser mais um dia co-mum...
De repente, via-se uma correria, de ambas as partes, e a partir desse momento, dava para
per-ceber que estava aconte-cendo uma guerra. Tiros, correria, animais fugindo, mortes, nuvem de poeira subindo, grita-ria... Ouve-se uma
pesso-a gritpesso-ar “Jocpesso-a Rpesso-amiro
quer o homem vivo! Joca Ramiro quer, deu
or-dem!”, e aos poucos o
grito foi ganhando outras vozes.
Aos poucos, os tiros co-meçaram a parar, a cor-reria acaba e só se ouve
um grito: “A guerra aca-bou! A guerra acaaca-bou!”.
Houve apenas um vence-dor, mas não para o ho-mem em que eles o que-riam vivo. Seu nome? Zé Bebelo.
Pobre homem, depois de ter quase morrido, ainda virou prisioneiro e passa-rá por um julgamento... Apenas parecia que a-quela semana seria mais uma como outra qual-quer...
O julgamento do então prisioneiro, Zé Bebelo, não ocorreu no mesmo dia, eles se juntaram e resolveu fazer em outro dia e outro local. E foi o que fizeram, chegaram ao local, que foi na Fa-zenda Sempre-Verde, em que possuía uma linda e enorme casa.
Ao chegarem ao local, fizeram uma roda em volta do Zé Bebelo e dos
“conselheiros” de Joca
Ramiro, estes os quais é que decidiria qual seria a sua sentença. Zé Bebelo se assentou, enquanto
os “conselheiros” e Joca
Ramiro permaneceram em pé.
O começo do julgamento não tinha muita ordem, cada um falava algo, mas ao mesmo tempo em que outro falava. Não dava para entender mui-to bem o que diziam. Até que chegou um momen-to em que ninguém mais prestava muito atenção, uns cochilavam, outros já não falavam sobre o julgamento...
Por fim, Joca Ramiro to-mou a frente e colocou ordem no julgamento, em que cada um falaria algo. E o que foi feito, cada um falou a penali-dade que Zé Bebelo teri-a. Uns dizia que ele deve-ria ser amarrado ou ser pisoteado pelos cavalos, um outro propôs um due-lo, outro quis que ele reunisse seu povo e que continuasse a guerra... Até que então alguém
teve uma ideia “menos sangrenta”, em se
con-sistia que ele fosse exila-do. A ideia agradou a todos, até mesmo o pró-prio condenado. Ele só possuía uma restrição: poderia voltar, mas so-mente com a morte de Joca Ramiro ou quando
ele não der “contra
-ordem”.
E assim Zé Bebelo saiu do sertão em direção à Goiás...
Apenas parecia que seria mais uma história como outra qualquer...
Jéssica Sanches
UM CONTO DO SERTÃO
SETOR AGRÁRIO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL NO BRASIL
Professor Matheus Anchieta Ramirez
A equipe de editores saúda e agradece o apoio.
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DIRETO DA SALA DE
REDAÇÃO
Trabalho em grupo na
U n i v e r s i d a d e
é
sempre um ‘trabalho’.
Com mais labor para
uns e menos para
outros, o ‘trabalho em
g r u p o ’ é u m a
o p o r t u n i d a d e
d e
a l c a n ç a r
a l g u n s
pontos
a
mais
e
facilitar a tarefa de
ser
aprovado
na
disciplina.
Existiram dificuldades
para
organização,
edição e impressão
deste Boletim? Sim.
To d a v i a ,
f o r a m
s u p e r a d a s ,
t r a n s p o s t a s ,
contornadas com a
mesma
tenacidade
i n e r e n t e
a o s
p e r s o n a g e n s
d e
Guimarães Rosa. Não
os perca de vista. Leia
a obra!
Página
3
Um dos temas abordados no livro de Guimarães Rosa,"Grande sertão veredas",é a existência de Deus e o Diabo. O bem e o mal. Brasil,uma mistura de religiões. Histórias são contadas e repassadas dos pais para os filhos. Mulheres benzedeiras, pa-dres exorcistas e pacto com o Diabo. Essas são as que mais despertam atenção das pessoas.
No enredo de Grande sertão veredas, amor, ódio, crenças e vivências estão contidos em um cenário preenchido por lutas, conquistas e tristezas. A reli-giosidade é mostrada claramente em várias partes do romance. Riobaldo, personagem que narra a própria vida, possui crenças que são um reflexo das próprias crenças de Guimarães Rosa.
É supostamente católico,mas também aceita os ensinamentos de outras doutrinas como o protes-tantismo e o espiritismo.
"Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação da alma... muita religião seu moço! Eu cá não perco ocasião de religião. Aproveito de to-das. Bebo água de todo o rio." (pág.8) (...) "Deus a gente respeita,do demônio a gente esconjura e aparta".(pág.170).
Na trajetória de sua vida, Riobaldo às vezes afirma que o Diabo não existe e outras vezes dá qualida-des e formas para ele. O fato é que para se tornar mais forte e derrotar seu inimigo Hermógenes, Rio-baldo faz um suposto pacto com o Diabo nas vere-das mortas. Ele nunca mais será o mesmo depois desse encontro que não aconteceu, mas talvez te-nha acontecido. Após alguns anos,as margens do Rio São Francisco o ex jagunço questiona os valo-res da própria vida." O Diabo não há! É que digo,se for... Existe é o homem humano Travessia". (GSV,P 568).
Roberta Motta
“
Quem díria que aqueles
olhos verdes cortantes
como palha de cana, que
um dia navegaram em
companhia do menino
assustado ao longo do
‘velho Chico’ iam
termi-nar a cruzada do Sertão
Semi-árido mais negros
que o próprio paredão
que lhe deu fim, oh
coita-do Diancoita-dorim
”Assim termina o
re-lato de um dos
pou-cos viventes
daque-las bandas do Norte
de Andrequicé,
divi-sa do São Francisco
local de sossego,
a-tual sede da fazenda
de um homem que
um dia amou
aque-les olhos verdes
cor-tantes como palha,
que terminaram
fe-chados pela grande
batalha. Hoje
Riobal-do ou Urubu-Branco
como era chamado
trocou seu tempo de
jagunço no Sertão
de homens
valen-tes, aonde Deus
Quando vier que
venha armado, pela
tranquilidade
da
fazenda
herdada
de seu padrinho,
pelas lembranças
dos tempos de luta
e pela tristeza ao
ver aquele corpo de
mulher
desnudo
em uma incontida
sangria, corpo
ago-ra sem vida que
te-ve a oportunidade
de viver somente as
desventuras de um
amor oculto
proibi-do para a época.
Rayssa Marques
O DIABO EXISTE ? UM AMOR VELADO NO SERTÃO
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Página
4
Boletim do SertãoO livro Grande Sertão:
Veredas retrata uma
passagem de
julga-mento de um de seus
principais
persona-gens, o antagonista de
boas intenções
–
Zé
Bebelo. Sendo
coliga-do ao governo, o
per-sonagem, apesar de
bem proseado e
mo-dernizado, não perde
suas características de
coronel, de jagunço.
Melhor explicação de
um julgamento para tal
homem não há, pois
apesar de a morte ser
ponto final, resolução
de problemas, Zé
Be-belo era sertanejo
eliti-zado como os outros, o
Dilema estava
monta-do: Fazer justiça de
forma que não se
inti-midasse os demais.
Porém, para a
maiori-a dos jmaiori-agunços,
violên-cia não está contida
nos valores de sua
classe, acusar é
desa-costume e condenar é
o que sabem, então,
quando pressionados
a refletirem sobre suas
opiniões e
argumenta-rem de forma sabida,
tentam alegar de
for-ma simplória que a
danação é a própria
acusação, “Não houve
crime, houve guerra, e
ele perdeu”.
Já alguns poucos se
mostravam mais
diplo-matas, mais astutos e
articulados,
encontran-do base para suas
fa-lácias dentro do
pró-prio código de conduta
jagunço, “Não havia
jagunço que não
acei-tasse o razoável da
ponderação, o
relem-brado”. Argumentava
Joca Ramiro, homem
de frente do processo
judicial.
Mas é em Riobaldo
que a coisa se mostra
mais complicada, sua
visão sobre o jagunço
é dúbia, vai do
bandi-do para o heroico, e
essas ideias não se
fundem, o jagunço é
extremamente
violen-to, atira, corta, faz
cru-eldade, mas jagunço é
guerreiro, honrado e
vinculado a ideias de
nobreza universal, é
leal, é justo, é corajoso
e político.
Para o autor Claudino
de Oliveira Queiroz,
Jagunço se fazia a
par-tir de um crime
cometi-do, seguido de busca
por proteção junto a
uma figura de
expres-são política, ali se
mos-trava sua alta
lealda-de, sendo peão,
cam-ponês, homem de
ser-viços, e quando
mos-trada a necessidade,
guerrilheiro,
matador
de aluguel, segurança.
Jagunço pode ser
tra-tado como o homem
sem oportunidades, o
explorado, o não
edu-cado, que por viver ás
margens das mais
du-ras
condições,
não
consegue
enxergar
brutalidade como algo
a ser repugnado, mas
quando se vê como
alguém a ser punível,
procura redenção
so-bre seus atos, ficando
a mercê de um homem
de mais créditos, de
mais posses, que dita
o caminho a ser
toma-do pelo jagunço, em
sua concepção,
jagun-ço é um homem
honra-do, forte, sobrevivente,
humilde, justo, e não
perde essas
particula-ridades se o patrão
disser que não é
con-denável ser cruel.
Esse é o jagunço,
ho-mem criado no
entor-no das oportunidades
que o cercam, seu
có-digo de honra é aquele
que acha correto, ou
que um superior impõe
como correto, e sua
violência não deve ser
penalizada se o
con-texto de suas ações
exige-a, porém seu
ní-vel de crueldade e é
relacionada sua
con-duta, jagunço violento
não significa jagunço
cruel, jagunço cruel
não significa jagunço
honrado, e jagunço
violento significa
ja-gunço honrado?
De-pende
somente
do
ponto de vista do
pa-trão.
Chystian Santos
Um estudo sobre jagunços: Honra e violência
SETOR AGRÁRIO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL NO BRASIL
A equipe de editores saúda e agradece o apoio.
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DIRETO DA SALA DE
REDAÇÃO
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, segunda esposa do escritor, faleceu aos 102 anos em março de
2011. Dona Aracy prestou
serviços ao Itamaraty, quando trabalhou no Consulado Brasileiro em H a m b u r g o e f i c o u conhecida por ter ajudado muitos judeus, que fugiam do holocausto, a entrarem ilegalmente no Brasil durante o Governo Getúlio Vargas. Ela tem o nome inscrito no Jardim dos Justos entre as nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel e também é homenageada no no Museu do Holocausto em Washington (EUA).
Página
5
O rádio, o jornal e a
te-levisão só me falam de seca, calor, e altas tem-peraturas. MINAS GERA-ES arde em chamas, é fogo na serra do cipó, no sul de minas, o norte também queima sem parar, incêndio na serra do rola moça, na serra do curral e no oeste mi-neiro também,o estado todo esta em chamas.
Estas notícias me
re-metem ao clássico de Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, travesti-do na pele de RIOBALDO, este ilustre filho de CO-DISBURGO, médico e diplomata, nos relata a história de amores e guerras que vaqueiros e jagunços travaram nos sertões de Minas, onde este rico bioma o CERRA-DO é descrito o tempo todo.
GUIMARÃES ROSA,
com a propriedade de quem andou nestas ter-ras nos relata a riqueza da fauna e da flora e também nos fala de rios e veredas fartos em á-gua.
O autor descreve
sem-pre a sem-presença de pequi-zeiros jatobás gravatás e umbuzeiros, os coatis, surubins e seriemas.
Mas isto foi há muito
tempo, tempo em que, nas águas do Velho Chi-co, tinha diversas espé-cies de peixes dentre elas surubins, moleques, pintados e até dourados. Porém, a sede dos fazen-deiros, grandes proprie-tários de terra, em abrir
novas áreas e o calor das carvoarias cuidaram de devastar quase tudo, os pequizeiros e seus pequis carnudos, os ipês roxos, amarelos e bran-cos, também tombaram a golpe de machado .
As carvoarias vão
quei-mando tudo e junto e com elas o fogo usado para abrir novas áreas, para os grandes plantios
(monocultura) também
vão devastando e matan-do. Assim; não se vê mais os tatus-tebas as formigas, cupins e ta-manduás, não vejo e nem ouço mais a alga-zarra verde dos papagai-os dpapagai-os periquitpapagai-os e das maritacas e nem o vôo soberano do carcará e nem se ouve o canto a-paixonado dos sabiás. Quando alguém ouve falar de onça pintada ou da suçuarana é porque elas estão fora do seu habitat. Posso parecer amargo, mas toda esta devastação para criar áreas de pastagens ou para florestas plantadas
(eucaliptos) dizimou com
os mais doces sabores do cerrado, araçás, ca-gaitas, mangabas, arati-cuns dentre tantas mara-vilhas que serviam de alimento e muitas vezes fonte de renda para os sertanejos.
A ganância dos
gran-des fazendeiros devas-tou quase todo cerrado chegando até as mar-gens dos rios, provocan-do grandes assoreamen-tos e a consequente
mor-te de muitos cursos
d’água dentre eles as
veredas tão falada e de-cantada por GUIMARÃES ROSA, também o pisotei-o dpisotei-os inpisotei-ocentes nelpisotei-ores afogou diversos olhos
d’agua donde o precioso
liquido aflorava na super-fície da terra.
Há muito, que os
ecolo-gistas e conservacionista gritam pela preservação da natureza, mas parece que todos estão surdos. Hoje pode se sentir facil-mente a conseqüência das irresponsabilidades de nossos governantes que não assumiram seus papéis no momento cer-to, e hoje vemos e ouvi-mos nos noticiários uma grita geral, que há falta de água até mesmo para o consumo humano. Antes que alguém culpe SÃO PEDRO melhor lem-brarmos dos nossos tão grandes erros.
Mas este otimista
incu-rável aqui, acredita que ainda é possível se fazer alguma coisa, embora saiba que extinção é pa-ra sempre, podemos sal-var e presersal-var o que ainda temos, reflorestar, proteger nascentes e
cursos d’agua, defender
a fauna que, heroica-mente sabe se lá como, ainda sobrevive.
Quanto ao JOÃO
GUI-MARÃES ROSA, só nos cabe tirarmos proveito de tanta sabedoria,que ele nos deixou.
Carlos
Roberto Evangelista
Grande Sertão Veredas?
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“Os primeiros textos
de Guimarães Rosa
foram jornais feitos à
mão, escritos quase
sempre em folhas de
papel de embrulho da
loja do pai, sendo ele o
diretor e único redator.
Cada número trazia
artigo, conto, noticiário,
seção humorística e
critica de costumes
sociais.”
Página
6
Boletim do SertãoEditores: Grupo de estudantes da UFMG graduandos em Aquacultura
TÓPICO ESPECIAL
Leia na página 7 o artigo
“CURSO DE AQUACULTURA DA UFMG, JÓIA OU BIJOUTERIA ?”
O artigo fala de uma luta que se iniciou recentemente, por causa de alguns problemas dentro do curso. Talvez, este seja o motivo que levará este informativo a publicar outras edições.
Os estudantes do curso de AQUACULTURA da UFMG estão numa encruzilhada, encruzi-lhada não sinalizada.
Existem estatísticas mostran-do que a taxa de retenção e de evasão do curso são altas. O fluxo dos estudantes dentro do curso está sendo alterado ao longo do percurso e, há casos de turmas com pouquíssimos estudantes dentro da sala de aula, encarecendo o custo da hora-aula-aluno.
Fala-se em “reestruturação” do curso, fala-se até na possi-bilidade de o acesso (25 alu-nos por semestre) ser inter-rompido, o que significaria que
em futuro próximo o curso poderia simplesmente deixar de existir,
Em reunião recente foi criada uma comissão para construir, até maio de 2015, um relató-rio que irá subsidiar a Congre-gação na decisão a respeito do futuro do curso.
O OUTRO LADO DA QUESTÃO
1— Como ter acesso a estas
estatísticas e compará-las com as estatísticas de outros cur-sos da UFMG ?
2—Estudantes do curso estão
empenhados em colher depoi-mentos de colegas que aban-donaram o curso, citando as
causas que os levaram a esta atitude, para construir um retrato fiel dos acontecimen-tos aos quais o acesso dos estudantes é vedado.
3— A UFMG adotou o SISU
como forma de acesso. Está na hora de verificar se ela se preparou para o perfil de estu-dantes que adentram a cada semestre pelo novo sistema, ou se o perfil deste público está sendo uma surpresa para a instituição.
4— Em breve estaremos
en-contrando respostas, inclusive para a pergunta do título deste artigo.
José Antônio C.
VOCABULÁRIO (páginas 248 até 255 do livro Grande Sertão: Veredas, Copyright © 1984-Círculo do Livro-Editora Nova Fronteira S.A.)
Os sertanejos de Minas Gerais -escreve Guimarães Rosa- isolados entre as montanhas, no imo de um Estado central, conservador por excelência, mantiveram quase intacto um idioma clássico arcaico, que foi o meu, de infância, e que me seduz. Tomando-o por base, de certo modo, instintivamente tendo a desenvolver suas tendências evolutivas, ainda
embri-onárias, como caminho que uso.”
AMIUDAR - (...eu acordei ainda com o escuro, no amiudar.)=> aquilo que é praticado com
frequência, repetidas vezes. No caso, o amiudaré o canto do galo na madrugada.
REPONTEI - (..."Estou enfermo. Então vou? Quem é que rala a minha mandioca?"
-reponteiáspero. ) => amanheci, raiei, respondi, retorqui. Reponteié responder asperamente a
alguém.
CAVALHADA=> manada de cavalos. Um grupo de muitos cavalos reunidos num espaço. CATRE - (...aquele catre de couro.)=> pequeno leito de couro, dobradiço e portátil. Catreé
uma cama.
PICUMÃ - (...e a picumã nos altos.) => Fuligem. Teia de aranha enegrecida pela fuligem e
engrossada pela poeira aderente.
SACRIPANTE (...Diadorim sacripantese riu, encolheu um ombro só.)=> Que não demons-tra nem possui dignidade; que engana de maneira proposital; velhaco. Pessoa que demonsdemons-tra ser beata, mas não é.
ALARIDA - (...eu dividido naquela alarida.) => aquela coisa pouco usual. Alarido =>
Baru-lho excessivo; que está repleto de ruídos; muitas vozes em simultâneo; gritaria, berreiro, alga-zarra. Choradeira, lamurias ou clamor de guerra.
CARAPINA - (...uma mesa de carapina retombada.) => carpinteiro (ou maceneiro)
IXE - (...Ixe de inimigo.)=> interjeição. O "uai" de mineiro é uma interjeição de espanto, de
curiosidade... em espanhol, Ixe, palabra náhuatl que significa "El que da la cara y cumple con su palabra".
AMANUENSE– (...de se voltar para a mesa, para se escrever, amanuense.) => Copista,
escrevente, escriturário.
ESTIPENDIADO–(...tinha sido homem pago, estipendiado pelo Governo...) =>
Assalaria-do
DESBRAGA - (...no meio da desbraga, do quanto combate...) => Tornar libertino, dar largas
a...
RECACHOU - (...prazido consigo, recachou, e me disse...) => Levantar os ombros com
afetação, importância ou desprezo. Levantar o colo ou todo o corpo em atitude vaidosa; apru-mar-se. Responder a uma cilada com outra cilada; revidar...
CURSO DE AQUACULTURA DA UFMG, JÓIA OU BIJOUTERIA ?
Pequeno Vocabulário - Palavras utilizadas por Guimarães Rosa
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Guimarães Rosa disse:
“Não gosto de falar em
infância. É um tempo de
coisas boas, mas sempre
com pessoas grandes
incomodando a gente,
intervindo, estragando os
prazeres. Recordando o
tempo de criança, vejo por
lá excesso de adultos, todos
eles, os mais queridos, ao
modo de policiais do
invasor, em terra ocupada.
F u i r a n c o r o s o e
revolucionário permanente,
então. Gostava de estudar
sozinho e de brincar de
geografia. Mas, tempo
bom, de verdade, só
começou com a conquista
de algum isolamento, com
a segurança de poder fechar
-me num quarto e trancar
a porta. Deitar no chão e
imaginar estórias, poemas,
romances, botando todo
mundo conhecido como
personagem, misturando as
melhores coisas vistas e
ouvidas.”
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VEREDA
=
Caminho estreito (lo latim vereda) derivado de veredus, caminho por onde se viaja. Caminho apertado (desprovido de espaço); sendeiro.Caminho alternativo através do qual se consegue chegar mais rápi-do a um determinarápi-do local; atalho.
Brasil. Uso Regional. Minhas Gerais e Região Centro-Oeste. No cer-rado, fluxo de água cercado por buritis (planta).
(1948); representante do Brasil
na Sessão Extraordinária da Con-ferência da UNESCO, em Paris
(1948); delegado do Brasil à IV
Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em Paris (1949). Em
1951, voltou ao Brasil, sendo
no-meado novamente chefe de gabi-nete do ministro João Neves da Fontoura; depois chefe da Divisão de Orçamento (1953) e promovi-do a ministro de primeira classe. Em 1962, assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fron-teiras.
A publicação do livro de contos Sagarana, em 1946, garantiu-lhe um privilegiado lugar de destaque no panorama da literatura brasi-leira, pela linguagem inovadora, pela singular estrutura narrativa e a riqueza de simbologia dos seus contos. Com ele, o regionalismo estava novamente em pauta, mas com um novo significado e assu-mindo a característica de experi-ência estética universal. Em
1952, Guimarães Rosa fez uma
longa excursão a Mato Grosso e escreveu o conto "Com o vaqueiro Mariano", que integra, hoje, o li-vro póstumo Estas estórias
(1969), sob o título "Entremeio:
Com o vaqueiro Mariano". A im-portância capital dessa excursão foi colocar o Autor em contato com os cenários, os personagens e as histórias que ele iria recriar em Grande sertão: Veredas. É o único romance escrito por Guima-rães Rosa e um dos mais impor-tantes textos da literatura brasi-leira. Publicado em 1956, mesmo Terceiro ocupante da Cadeira 2 da
Academia Brasileira de Letras, e-leito em 6 de agosto de 1963, na sucessão de João Neves da Fon-toura e recebido pelo Acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em
16 de novembro de 1967.
Guima-rães Rosa foi contista, novelista, romancista e diplomata, nasceu em Cordisburgo, MG, em 27 de junho de 1908, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de novem-bro de 1967.
Filho de Florduardo Pinto Rosa e Francisca Guimarães Rosa. Aos 10 anos passou a residir e estudar em Belo Horizonte Em 1930, for-mou-se pela Faculdade de Medici-na da Universidade de MiMedici-nas Ge-rais. Tornou-se capitão médico, por concurso, da Força Pública do Estado de Minas Gerais. Sua es-treia literária deu-se, em 1929, com a publicação, na revista O Cruzeiro, do conto "O mistério de Highmore Hall", que não faz parte de nenhum de seus livros. Em
1936, a coletânea de versos
Mag-ma, obra inédita, recebe o Prêmio Academia Brasileira de Letras, com elogios do poeta Guilherme de Almeida.
Diplomata por concurso que reali-zara em 1934, foi cônsul em Ham-burgo (1938-42); secretário de embaixada em Bogotá (1942-44); chefe de gabinete do ministro Jo-ão Neves da Fontoura (1946); pri-meiro-secretário e conselheiro de embaixada em Paris (1948-51); secretário da Delegação do Brasil à Conferência da Paz, em Paris
ano da publicação do ciclo nove-lesco Corpo de baile, Grande sertão: Veredas já foi traduzido para muitas línguas. Por ser uma narrativa onde a experiência de vida e a experiência de texto se fundem numa obra fascinante, sua leitura e interpretação cons-tituem um constante desafio pa-ra os leitores.
Nessas duas obras, e nas subse-quentes, Guimarães Rosa fez uso do material de origem regio-nal para uma interpretação míti-ca da realidade, através de sím-bolos e mitos de validade univer-sal, a experiência humana medi-tada e recriada mediante uma revolução formal e estilística. Nessa tarefa de experimentação e recriação da linguagem, usou de todos os recursos, desde a invenção de vocábulos, por vá-rios processos, até arcaísmos e palavras populares, invenções semânticas e sintáticas, de tudo resultando uma linguagem que não se acomoda à realidade, mas que se torna um instrumen-to de captação da mesma, ou de sua recriação, segundo as ne-cessidades do "mundo" do escri-tor.
Grande sertão: Veredas recebeu o Prêmio Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Prê-mio Carmen Dolores Barbosa
(1956) e o Prêmio Paula Brito
(1957).