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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: UM ESTUDO ACERCA DO PARQUE ESTADUAL DO PAU FURADO - UBERLÂNDIA (MG)

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA: UM ESTUDO ACERCA DO PARQUE ESTADUAL DO PAU FURADO - UBERLÂNDIA (MG)

Resumo: A criação de espaços territoriais especialmente protegidos vem

demonstrando ser uma importante estratégia para conservação dos ecossistemas e da diversidade biológica. Este estudo objetivou fazer uma análise do papel do Parque Estadual do Pau Furado (PEPF) na conservação e proteção dos recursos naturais e no desenvolvimento de atividades de educação ambiental no município de Uberlândia, MG. O procedimento metodológico escolhido foi uma visita in loco e consulta ao plano de manejo da unidade. Concluiu-se que o PEPF tem contribuído com seu real objetivo, atendendo ao propósito de uma UC, preservando a biodiversidade, estimulando o trabalho científico e proporcionando atividades de recreação e educação ambiental, assim consolidando a relevância de sua existência para a manutenção e o equilíbrio da vida silvestre dos municípios de sua abrangência.

Palavras chave: proteção integral, biodiversidade, unidades de conservação.

Introdução

A proteção, conservação e manutenção da biodiversidade exige esforços constantes e uma alternativa para isso tem sido a criação das unidades de conservação da natureza. Diversidade biológica ou biodiversidade é a riqueza de todas as formas de vida no planeta, desde os organismos unicelulares como protozoários, bactérias e alguns fungos até os seres mais complexos, os multicelulares, representados principalmente pelos animais e vegetais. Inclui-se também na diversidade biológica a variação genética dentro das espécies, os diferentes tipos de habitat e ecossistemas (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

Nas últimas décadas todas essas formas de vida tem sido ameaçadas pelas ações antrópicas que degradam o meio ambiente, seja através da fragmentação, redução ou destruição completa de habitat, colocando em risco a sobrevivência das espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. Ricklefs (2005)

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alerta que a redução de áreas de habitats pode arrastar uma população em direção à extinção tornando-a vulnerável as mudanças estocásticas ou causando redução da variabilidade genética e assim diminuindo a capacidade da população sobreviver a mudança ambiental.

As perturbações antrópicas são crescentes e representam uma grande ameaça ao equilíbrio dos ecossistemas. Embora os ambientes mais ricos em termos de quantidade de espécies sejam as florestas tropicais, há abundância de espécies nas florestas estacionais, formações savânicas, regiões áridas e temperadas. Todas as espécies são interdependentes e a perda de uma espécie dentro de seu ambiente natural pode ter consequências para outros membros da comunidade biológica (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). O número de espécies classificadas em situação de ameaça de extinção vem aumentando significativamente, indicando que os planos de conservação da biodiversidade se encontram insuficientes (LIMA et al., 2005).

O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 diz que:

“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Diante disso o governo brasileiro criou em 18 de julho de 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), através da lei federal 9.985.

O SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação (UC) federais, estaduais e municipais. É gerido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), responsável pela sua implementação, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), órgão coordenador do Sistema, e órgãos executores, como o Instituto Chico Mendes (ICMBIO) e o Ibama. Em caráter supletivo, estão os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiando propostas de criação e administração das unidades de conservação da natureza.

Unidades de Conservação (UC) são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual

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se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000). São divididas em dois grupos: Unidade de Proteção Integral (UPI) sendo permitido apenas o uso indireto de seus recursos, exceto casos previstos por lei e Unidade de Uso Sustentável (UUS) onde é permitido o uso sustentável de parcelas dos recursos ambientais.

Fazem parte da categorias de UPI: Estação Ecológica (EE), Reserva Biológica (RB), Monumento Natural (MN), Parque Nacional (PN) e Refúgio de Vida Silvestre (RVS). O grupo das UUS é composto pelas seguintes categorias de manejo: Floresta Nacional (FLONA), Área de Proteção Ambiental (APA), Reserva Extrativista (RESEX), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Reserva de fauna (REFAU), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A principal diferença entre essas categorias está nos objetivos específicos de cada uma delas.

Entre as doze categorias de UC, está o Parque Nacional, unidade de proteção integral, categoria que tem como objetivos a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Uma vez criada pelo estado ou município, unidades dessa categoria passam a ser denominadas respectivamente de Parque Estadual e Parque Municipal (BRASIL, 2000). Esta é a categoria que possibilita uma interação direta entre o visitante e a natureza. Atualmente as UC vivem grandes desafios, pois o grande aumento no número destas áreas nos últimos anos não foi acompanhado pela estruturação das mesmas, nem dos órgãos que as gerenciam (ALVES et al., 2010). Assim sendo muitas delas não são capazes de atingir os seus objetivos.

Este estudo objetivou analisar o papel do Parque Estadual do Pau Furado (PEPF) no trabalho de conservação da natureza e no desenvolvimento de atividades de educação ambiental no município de Uberlândia, MG.

O presente trabalho justifica-se pela importância que as unidades de conservação têm na preservação, proteção, conservação in situ e promoção de atividades de educação ambiental em contato direto com a natureza.

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Procedimento metodológico Coleta de dados

Os dados dessa pesquisa foram coletados por meio de uma visita in loco realizada em setembro de 2015 no Parque Estadual do Pau Furado (PEPF) e consulta ao plano de manejo do PEPF. O plano de manejo é o guia da administração, documento técnico que contém normas, zoneamento da área e o manejo dos recursos naturais.

Área de estudo

O Parque Estadual do Pau Furado (PEPF) é uma unidade de conservação de proteção integral tendo sido criado em 27 de janeiro de 2007, estando sob administração do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Esta unidade abriga importantes remanescentes do bioma Cerrado, com pequenas intercorrências de Mata Atlântica no vale do rio Araguari, possuindo uma área de 2.186,85 hectares (Figura 1), abrangendo os municípios de Uberlândia e Araguari. Por estar dentro dos limites de dois munícipios, esta unidade caracteriza-se como Parque Estadual.

O PEPF foi implantado para assegurar a proteção de remanescentes do bioma Cerrado e Mata Atlântica, dos recursos hídricos da região, para proteger espécies autóctones, preservar o patrimônio genético, realizar monitoramento ambiental, conservar paisagens de beleza cênica, promover atividades de educação ambiental, incentivar a pesquisa científica, e fomentar o uso sustentável dos recursos naturais. A criação desta unidade ocorreu para atender uma medida compensatória florestal prevista no processo de licenciamento ambiental do Complexo Energético Amador Aguiar (Usinas Hidrelétricas Capim Branco I e II) localizado no rio Araguari (PMPEPF, 2009).

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Figura 1. Área total do Parque Estadual do Pau Furado (PEPF). Fonte: PMPEPF.

Resultados e discussão

O PEPF possui uma área de uso intensivo de fácil acesso e bem estruturada, construída sobre a infraestrutura de um antigo curral leiteiro que ali existia antes da sua criação, de modo que não gerou impactos significativos na área. A sede contém sala administrativa, sala de convenções, cantina, banheiros masculino e feminino, com acessibilidade, lixeiras para destinação de resíduos secos e úmido, além de outros espaços de uso exclusivo dos funcionários (Figura 2).

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Para possibilitar a visitação é essencial que uma UC possua infraestrutura adequada para receber e acomodar bem os visitantes. As visitas podem ser monitoradas e ocorrem de terça a domingo, inclusive nos feriados, devendo ser agendadas previamente através do blog do Parque (http://paufurado.blogspot.com.br/). É possível realizar visitas sem monitoramento, mas estas também necessitam de agendamento, exceto aos sábados, domingos e feriados. A fim de minimizar impactos negativos, o número de visitantes por dia é limitado a 150 pessoas. O Parque conta com um caderno para controle das visitas que pode ser assinado na entrada da sede (Figura 3).

Figura 3. PEPF, Uberlândia-MG: caderno de assinaturas para controle de visitantes. Fonte: o

autor.

Uma unidade de conservação precisa estar devidamente delimitada e cercada a fim evitar ameaças de invasão e degradação e assim encontra-se o PEPF, cercado e sinalizado com placas que proíbem a entrada sem autorização (Figura 4). O Parque conta com vigilância diuturnamente.

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Figura 4. PEPF, Uberlândia-MG: placa informativa na cerca de proteção do PEPF. Foto: o

autor.

Na perspectiva de realizar atividade de educação ambiental e recreação, uma unidade de conservação deve possuir uma zona classificada como aérea de uso extensivo. Verificou-se que o PEPF possui este zoneamento que conta atualmente com cinco trilhas (Tabela 1).

Tabela 1. Trilhas do PEPF.

Trilha do córrego Marimbondo  Extensão 500 m  Tempo de percurso 30 minutos Trilha da Cachoeira Marimbondo  Extensão 897 m  Tempo de percurso 50 minutos Trilha do Curral de Pedras  Extensão 2,1 mil m  Tempo de percurso 2 horas Trilha do Angico  Extensão 500 m  Tempo de percurso 30 minutos Trilha da Cachoeira Terra Boa  Extensão 1,9 mil m  Tempo de percurso 1h30

As trilhas são devidamente demarcadas, passam por vistorias periodicamente, facilitam o acesso aos pontos de recreação e contém placas informativas e com mensagens educativas, alertando sobre riscos de acidentes e mudanças nas condições do tempo (Figura 5).

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Figura 5. PEPF, Uberlândia-MG: a) Trilha da cachoeira do Marimbondo; b) Placa informativa.

Foto: o autor.

O PEPF possibilita atividades de lazer e contemplação da natureza em função das belezas cênicas protegidas dentro de seus limites. Um atrativo é o uso da cachoeira do Córrego do Marimbondo (Figura 6). A mata marginal deste córrego nos limites do Parque encontra-se preservada e não há registros de nascentes fluviais em seus limites.

Figura 6. a) Cachoeira Terra Branca; b) Cachoeira do Córrego do Marimbondo. Foto: o autor.

Com relação ao registro e proteção da fauna local, há ocorrência de espécies da mastofauna do Cerrado bastante conhecidas, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), raposa-do-campo (Pseudalopex vetulus) e a onça

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parda (Puma concolor), da herpetofauna, como a jiboia (Boa constrictor), cascavel (Crotalus sp.) e o jabuti-tinga (Chelonoidis sp.) (Figura 7), e da avifauna, como a águia cinzenta (Urubutinga coronata), atual símbolo do parque, e que já teve sucesso reprodutivo em uma área intangível dentro do Parque. Já foram registrados cerca de 932 espécies da fauna e flora nos limites do Parque, sendo que algumas entram na lista de espécies ameaçadas de extinção (PMPEPF, 2009).

Figura 7. PEPF, Uberlândia-MG: Jabuti-tinga (Chelonoidis sp.) Foto: o autor.

O PEPF apoia e está aberto para a pesquisa científica. Um grupo de pesquisadores do Programa de Conservação dos Mamíferos do Cerrado (PCMC) tem desenvolvido no local pesquisa sobre a conservação de mamíferos carnívoros silvestres.

Embora seja uma unidade de conservação da natureza, o PEPF possui áreas degradas, como as que foram ocupadas por Brachiaria sp. para pastagem, antes de sua criação. Está espécie exótica invasiva impede o processo de regeneração natural na área e dificulta planos de restauração sem tratamentos radicais, proibidos nas unidades de conservação.

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O PEPF é uma importante unidade de conservação da natureza que muito tem contribuído para a conservação dos recursos naturais na região do triângulo mineiro e atende ao propósito de uma UC, contribuindo para o uso recreativo e educativo da comunidade, apresentando-se como um abrangente campo de oportunidades de pesquisa e elaboração de trabalhos científicos aos acadêmicos e pesquisadores das diversas áreas de estudo, além da preservação de recursos naturais, da fauna e flora. A criação e manutenção de um parque como este é uma ferramenta indispensável para manter a diversidade biológica associada aos recursos genéticos bem como para a melhoria da qualidade de vida da população.

Referências

ALVES, R.G.; REZENDE, J. L. P.; BORGES, L. A.C.; FONTES, M. A. L.; ALVES, L. W. R. BRASIL. Análise da Gestão das Unidades de Conservação do Sistema Estadual de áreas protegidas de Minas Gerais. Espaço & Geografia, Vol.13, Nº1, 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

BRASIL. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Lei 9.985, 18 de julho de 2000. Brasília: MMA/SBF, 2000. 32 p.

LIMA, G. S.; RIBEIRO, G. A.; GONÇALVES, W. Avaliação da efetividade de manejo das unidades de conservação de proteção integral em Minas Gerais. Revista Árvore, v. 29, n. 4, p. 647-653, 2005.

PMPEPF. Plano de Manejo do Parque Estadual do Pau Furado. Disponível em: <http://paufurado.blogspot.com.br/p/sobre-o-pepf.html>. Acesso em 10 set. 2015.

PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina, 2001. 328p.

RICKLEFS, R.E. A Economia da Natureza. 5ª ed. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2003.

Referências

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