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Seção Judiciária do Distrito Federal 20ª Vara Federal Cível da SJDF

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Seção Judiciária do Distrito Federal 20ª Vara Federal Cível da SJDF PROCESSO: 1001681-75.2018.4.01.3400

CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA (65) AUTOR: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL RÉU: UNIÃO FEDERAL

D E C I S Ã O

O Ministério Público Federal exerce direito de ação, por meio da presente demanda, que trafega sob o rito especial da Lei nº 7.347/1985, em face de ato da União, objetivando “tutela de urgência para suspender o corrente processo de promoção por merecimento ou, quando menos, sejam as deliberações realizadas mediante ampla publicidade a todos os servidores interessados, indicando objetivamente os critérios de avaliação” (ID Num. 4203914 - Pág. 8).

Aduz, em síntese, que os procedimentos relativos à promoção por merecimento da carreira de diplomacia não observam os princípios da impessoalidade e da publicidade, considerando que Decreto nº 6.559/2008 extrapola o poder regulamentar conferido pela Lei nº 11.440/2006, ao prever no § 2º do seu art. 24 que “Os trabalhos da Câmara de Avaliação-I, da Câmara de Avaliação - II e de suas Secretarias-Executivas serão de natureza sigilosa”.

Defende que o mencionado decreto não poderia prever restrição à publicidade não indicada por lei e que incide em nova irregularidade ao deixar de regular os critérios específicos, isonômicos e impessoais para a efetiva promoção por merecimento.

Afirma que “As irregularidades se iniciam na terceira fase, ocasião em que a lista é encaminhada para a “votação” da Câmara de Avaliação II. Trata-se, na verdade, de deliberação realizada a portas fechadas, sem previsão objetiva de questões, para análise pelos integrantes das Câmaras do perfil dos candidatos à promoção. O mesmo procedimento se adota na quarta fase perante a Câmara de Avaliação I” (ID Num. 4203914 - Pág. 2).

Acrescenta que, ao candidato que possui interesse na promoção não é facultado assistir às deliberações ou mesmo ter acesso ao inteiro teor das reuniões, estando a ‘publicidade’ dos atos adstrita à previsão do art. 34, Decreto nº 6.559/2008, que permite apenas que “Tornado público o quadro de acesso, o Departamento do Serviço Exterior dará a conhecer, ao Diplomata que o solicitar, o número de votos e de pontos que tiver recebido nas votações horizontal e vertical, bem como sua colocação final relativa na lista da respectiva classe.” (Num. 4203914 - Pág. 3)

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Informa ainda que “foi expedida a Recomendação nº 88 ao MRE no sentido de que suspendesse a seleção de promoção por merecimento ou garantisse ampla publicidade aos trabalhos das Câmaras de Promoção I e II e das Secretarias Executivas do Ministério das Relações Exteriores, bem assim, para que estabelecesse critérios públicos objetivos para balizarem as deliberações em cada uma das Câmaras e junto à Comissão de Promoção do mesmo órgão”.

Esclarece, no entanto, que mesmo advertido da ilegalidade, o Secretário das Relações Exteriores deu seguimento ao procedimento e abriu as deliberações das Câmaras em janeiro de 2018, ignorando as recomendações, ao argumento de que “o cumprimento do Decreto nº 6559/2008 e que não teria suspendido a fase de votações horizontais e verticais, porque a Representação teria ocorrido durante o período de acesso” (Num. 4203914 - Pág. 3), mesmo que as votações horizontais e verticais, relativas às fases anteriores à impugnação do MPF, não tivessem sido questionadas em nenhum momento.

É, no essencial, o relatório. DECIDO.

O deferimento da tutela provisória de urgência requer a presença de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, nos termos do art. 300, do NCPC.

Com razão o Parquet; explico.

Conforme lição de Matheus Carvalho acerca do princípio da publicidade, “Trata-se de premissa que proíbe a edição de atos secretos pelo poder público, definindo a ideia de que a Administração deve atuar de forma plena e transparente. A administração não age em nome próprio e por isso nada mais justo que o maior interessado – o cidadão – tenha acesso ao que acontece com sues direitos”. Acrescenta que “A publicidade tem grande abrangência, não só pela divulgação oficial, mas também para conhecimento e fiscalização interna de seus agentes.”[1]

Isso porque, a informação é viabilizadora do pleno exercício do direito de petição .

junto aos órgãos públicos, em defesa de direitos pessoais dos administrados

O art. 5º, inciso XXXIII, da CF prevê que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

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Por outro lado, não sendo o direito à informação absoluto, a Lei nº 12.527/2011, que regula o acesso à informação, além de estabelecer a diretriz referente à excepcionalidade do sigilo, disciplina que tipo de informação poderia ser enquadrada na categoria de “imprescindível à segurança da

”, quais sejam: sociedade e do Estado

Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam:

I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território nacional;

II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismos internacionais;

III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;

IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do País;

V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças Armadas;

VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas de interesse estratégico nacional;

VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou

VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de infrações.

Em consonância com tais dispositivos, a Lei nº 11.440/2006, ao estabelecer os critérios para a promoção na carreira de Diplomata, não faz qualquer menção à necessidade/possibilidade de sigilo nas fases integrantes avaliações dos candidatos à mudança de classe, como se pode conferir abaixo:

Art. 51. As promoções na Carreira de Diplomata obedecerão aos seguintes critérios: I - promoção a Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe, Conselheiro e Primeiro-Secretário, por merecimento; e

II - promoção a Segundo-Secretário, obedecida a antigüidade na classe e a ordem de classificação no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata - CACD, cumprido o requisito previsto no art. 53 desta Lei.

Art. 52. Poderão ser promovidos somente os Diplomatas que satisfaçam os seguintes requisitos específicos:

I - no caso de promoção a Ministro de Primeira Classe, contar o Ministro de Segunda Classe, no mínimo:

a) 20 (vinte) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais pelo menos 10 (dez) anos de serviços prestados no exterior; e

b) 3 (três) anos de exercício, como titular, de funções de chefia equivalentes a nível igual ou superior a DAS-4 ou em posto no exterior, de acordo com o disposto em regulamento;

II - no caso de promoção a Ministro de Segunda Classe, haver o Conselheiro concluído o Curso de Altos Estudos – CAE e contar pelo menos 15 (quinze) anos de efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais um mínimo de 7 (sete) anos e 6 (seis) meses de serviços prestados no exterior; III - no caso de promoção a Conselheiro, haver o Primeiro-Secretário concluído o Curso de Atualização em Política Externa - CAP e contar pelo menos 10 (dez) anos de

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efetivo exercício, computados a partir da posse em cargo da classe inicial da carreira, dos quais um mínimo de 5 (cinco) anos de serviços prestados no exterior; e

IV - no caso de promoção a Primeiro-Secretário, haver o Segundo-Secretário concluído o CAD e contar pelo menos 2 (dois) anos de serviços prestados no exterior.

§ 1 A conclusão do CAP, a que se refere o inciso III do caput deste artigo, seo constituirá em requisito para a promoção à classe de Conselheiro, decorridos 2 (dois) anos de sua implantação pelo Instituto Rio Branco.

§ 2 Contam-se, para efeito de apuração de tempo de serviço prestado no exterior, oso períodos que o Diplomata cumpriu em:

I - missões permanentes; e

II - missões transitórias ininterruptas de duração igual ou superior a 1 (um) ano. § 3 Será computado em dobro, somente para fins de promoção, o tempo de serviço noo exterior prestado em postos do grupo C e em triplo em postos do grupo D, apurado a partir do momento em que o Diplomata completar 1 (um) ano de efetivo exercício no posto.

§ 4 Nas hipóteses previstas no § 2 deste artigo, será computado como tempo deo o efetivo exercício no posto o prazo compreendido entre a data de chegada do Diplomata ao posto e a data de partida, excluindo-se desse cômputo os períodos de afastamento relativos a: licença para trato de interesses particulares; licença por afastamento do cônjuge; licença para trato de doença em pessoa da família, por prazo superior a 60 (sessenta) dias, desde que a doença não haja sido contraída em razão de serviço do servidor; licença extraordinária; e investidura em mandato eletivo, cujo exercício lhe exija o afastamento.

Art. 53. Poderá ser promovido somente o Diplomata das classes de Ministro de Segunda Classe, Conselheiro, Primeiro-Secretário, Segundo-Secretário ou Terceiro-Secretário que contar pelo menos 3 (três) anos de interstício de efetivo exercício na respectiva classe.

§ 1 O tempo de serviço prestado em posto do grupo D será computado em triplo parao fins do interstício a que se refere o caput deste artigo, a partir de 1 (um) ano de efetivo exercício no posto.

§ 2 O tempo de efetivo exercício no posto a que se refere o § 1 deste artigo seráo o computado conforme o disposto no § 3 do art. 52 desta Lei.o

Em resumo, não houve previsão legal que justificasse o estabelecimento de procedimento de natureza sigilosa na promoção dos agentes em questão, o que deveria ter sido observado na edição do Decreto nº 6.559/2008.

Diante de tais disposições, é escorreita a avaliação do MPF no sentido de que o Decreto nº 6.559/2008 extrapola os limites da legislação que se presta a regulamentar, tanto ao determinar que “Os trabalhos da Câmara de Avaliação-I, da Câmara de Avaliação-II e de suas Secretarias-Executivas serão de natureza sigilosa” quanto ao não dispor sobre critérios objetivos complementares aos já previstos na Lei nº 11.440/2006.

Tal situação causa evidente mácula a outro princípios administrativos. A partir o momento em que é ferido o princípio da publicidade, no caso, impedindo que os interessados controlem a legalidade dos critérios utilizados pela Administração para a promoção, abre-se espaço para condutas que firam o princípio da impessoalidade, com a escolha indevida de candidatos à promoção por motivos outros que não o interesse público.

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Conforme narrado na inicial, o Ministério Público Federal expediu recomendação ao Presidente da República para que reconsiderasse as determinações constantes do Decreto questionado, suspendendo “a seleção de promoção por merecimento ou garantindo ampla publicidade aos trabalhos das Câmaras de Promoção I e II e das Secretarias Executivas do Ministério das Relações Exteriores, bem assim, estabeleça critérios objetivos para que sejam realizadas as deliberações em cada uma das referidas Câmaras e junto à Comissão de Promoção do mesmo órgão” (ID Num. 4203990).

No entanto, em resposta, o Secretário-Geral das Relações Exteriores limitou-se a informar a conclusão das fases de votação vertical e horizontal, garantindo a observância da devida publicidade nessas etapas, as quais não foram objeto de impugnação pelo Órgão Ministerial (ID. Num. 4203990).

Assim, diante dos argumentos acima expostos e da iminência da realização das demais etapas, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA para determinar a suspensão da realização processo de promoção por merecimento até que seja garantida a ampla publicidade a todos os servidores

, , e que sejam

interessados sem previsão de natureza sigilosa em quaisquer das fases em certame

definidos critérios objetivos de avaliação.

Cite-se e intimem-se.

À Secretaria para providências necessárias.

Brasília-DF, 14 de fevereiro de 2018.

(assinado eletronicamente)

RENATO C. BORELLI

Juiz Federal Substituto da 20ª Vara/SJDF

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