MONTEIRO LOBATO E “O PRESIDENTE NEGRO” DENTRO DA SALA DE AULA.
Aline de Paula Sá...Antônio Ravanelli
Universidade do Vale do Paraíba/ FEA – Letras, R. Tertuliano Delphim Jr.,181 – Jd. Aquarius – SJCampos - SP alinedepaulasa@hotmail.com
Universidade do Vale do Paraíba/ FEA – Letras, R. Tertuliano Delphim Jr.,181 – Jd. Aquarius – SJCampos - SP rosana.ravanelli@bol.com.br
Resumo: Este artigo é parte de uma pesquisa em andamento a respeito da obra lobatiana " O Presidente Negro ou O Choque das Raças" editada em 1926. Esta obra, proposiocionalmente polêmica, traz a tona diversas discussões de cunho social. Pouco divulgado e trabalhado em sala de aula, este romance adulto de Monteiro Lobato é também tão provocador e crítico quanto seus trabalhos de fama maior e nos traz margem para transitar em diversos assuntos trabalhando com a interdisciplinaridade dentro do ambiente de ensino. A política, as novas tecnologias e o preconceito racial são alguns dos temas que podemos discutir colaborando para a ampliação do conhecimento e para a formação crítica dos alunos, contemplando assim esta obra esquecida entre tantos trabalhos bem sucedidos do renomado escritor.
Palavras – chave: Monteiro Lobato, presidente negro, racismo, leitura. Área de conhecimento: Literatura Brasileira
Introdução
Em 1926, Monteiro Lobato publicou seu primeiro e único romance adulto inicialmente intitulado de “ O Choque das Raças ou O Presidente Negro” e posteriormente de “O Presidente Negro ou O Choque das Raças: romance americano do ano 2228”. O enredo apresentado em estilo tradicional, primeiramente publicado em capítulos no folhetim “A manhã" de Mário Rodrigues, de 1926, e em seguida compilado pela editora do próprio autor, traz em si um conteúdo inovador para a época, já que Monteiro Lobato tinha um olhar crítico e visionário a cerca da sociedade de modo geral.
A Eugenia - ciência que estuda condições mais propícias para reprodução e melhoria da raça humana - com seus parâmetros duvidosos de perfeição racial e uma carga de preconceitos explícita é o assunto central da obra que se passa no futuro, no ano de 2228, através de um roteiro romântico e simplório, a saga futurista de um
presidente norte-americano eleito
democraticamente não teria nada de novo não fosse pela cor de sua pele.
O "Presidente Negro" vencendo a eleição contra uma feminista e o presidente da situação fez com que muitas especulações surgissem a respeito no final do ano de 2008 quando os Estados Unidos elegeram um presidente negro em circunstâncias muito parecidas, coincidências a parte, o que se pode observar foi uma re-edição da obra, o que
propicia sua divulgação e assim o despertar de novas discussões pertinentes a nossa sociedade, aproveitando o gancho visionário desse autor a introdução de tal obra nas salas de aula geraria um fascínio e a abertura de novos horizontes para leitores em potencial, o que temos como objetivo geral.
Metodologia
A pesquisa bibliográfica é o recurso utilizado neste trabalho, através da análise da obra em seus aspectos já apresentados, biografia do autor, leitura científica sobre eugenia, pesquisa de periódicos pela internet e outros meios pertinentes.
Resultados
Com essa pesquisa esperamos valorizar, divulgar e incentivar a leitura de “ O presidente negro ou O choque das raças”, além de destacar seus pontos relevantes afim de gerar proveitosas discussões em sala de aula e ressaltar a sua importância no cenário da literatura brasileira, já que as outras obras de Monteiro Lobato têm os seus respectivos destaques.
Sabemos que nos dias de hoje a dificuldade de ensinar é muito grande, o professor como facilitador desse processo precisa cada vez mais de criatividade, inovação, percepção e dinamismo. A abordagem de temas polêmicos em sala de aula sempre despertou a atenção e o interesse dos alunos, o nosso objeto de pesquisa vem exatamente como uma sugestão de trabalho para professores de língua materna e consequentemente de leitura para alunos e público em geral.
A apresentação de “ O Presidente Negro” em turmas do ensino médio, onde os educandos tem maturidade suficiente para sustentar discussões e defender suas opiniões, vem para confirmar o que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio sugerem na página 124
“ A opção do aluno por um ponto de vista coerente, em situação determinada, faz parte de uma reflexão consciente e assumida, mesmo que provisória. A importância de liberar a expressão da opinião do aluno, mesmo que não seja a nossa, permite que ele crie um sentido para a comunicação de seu pensamento. Deixar falar/escrever de todas as formas, tendo como meta a organização de textos.”
Assuntos como o racismo, o emprego exagerado das tecnologias, o feminismo e a corrupção política geram calorosos debates e posições diversas a respeito de cada tema, estimulando a formação de opinião e exercitando a cidadania. O professor como mediador trazendo informação ética, pode instigar os alunos trabalhando ao mesmo tempo a oralidade e a produção de textos ou até mesmo dramatizações de situações existentes na obra ou contextualizadas atualmente.
Outra opção seria o estudo do contexto em que a obra foi concebida, na época o autor, falido financeiramente, tinha esperanças de que este livro fosse sucesso nos Estados Unidos por seu conteúdo racista, acreditando que agradaria os americanos tentou a publicação, que não foi vista com bons olhos, e nenhuma editora norte-americana quis publicar sua obra. Esse gancho biográfico de Monteiro Lobato, também é muito rico para o trabalho em sala de aula, trazer os fatos e acontecimentos da vida desse autor, por si só polêmico, aguça a curiosidade dos alunos e pode despertar o interesse pela vida de outros autores. O fato de saber quem é o criador da obra e o contexto que a permeou durante sua criação traz um novo
Este tipo de trabalho requer tempo e disposição da parte do professor, a interdisciplinaridade com História e Geografia por exemplo, pode dividir essa carga de trabalho, já que sabemos da sobrecarga que a maioria dos professores assumem. Um trabalho coletivo pode gerar aprendizado de melhor qualidade e realmente fazer sentido para o aluno porque a cidadania faz parte de nossas vidas e é preciso sempre exercitá-la.
Conclusão
Este trabalho traz a obra “ O Presidente Negro ou O Choque das Raças” como uma sugestão de aula onde muito pode ser aproveitado e desenvolvido a partir de seus diversos aspectos já discutidos, mas a leitura desse livro, fácil e prazerosa, não é somente para ficar em sala de aula. Como as outras obras de Monteiro Lobato, esta também merece seu lugar de destaque.
O professor como formador deve não somente usar obras como essa de maneira didática, mas também incentivar a leitura aguçando a curiosidade do aluno, apresentando outros escritores interessantes de acordo com a faixa etária e o tipo de interesse do aluno.
A leitura forma um cidadão, instrui, traz subsídios de discussão, inclui, dá segurança para que ele possa transitar em qualquer meio com igualdade, abre horizontes, estimula a criticidade, enfim é indispensável.
Referências
A barca de Gleyre. Quarenta anos de correspondência literária entre Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. São Paulo: Brasiliense, 1950.
Literatura Geral. Obras Completas, XXII, 2 v.
A barca de Gleyre. São Paulo: Cia. Editora
Nacional, 1944. p.133.
Cartas escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1959.
Vol. 1, p. 189.
Cartas Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1964:
75-77.
FRAIZ, P. O racismo em Monteiro Lobato: um
estudo de O choque das raças ou O presidente negro in "Pensar e Dizer", Rio de Janeiro,
José Bento Monteiro Lobato. Conferências, Artigos e Crônicas. São Paulo: Brasiliense, 1964, p. 221.
LOBATO, Monteiro. O Presidente Negro. São Paulo: Brasiliense, 1979 (13ª edição).
LOBATO, Monteiro. O Presidente Negro ou O
Choque das Raças: Romance Americano do Ano 2228. São Paulo: Brasiliense, 1964, p. viii.
LOBATO, José Bento Monteiro. Velha Praga in
Urupês, 1918. Publicado originalmente in "O Estado
de São Paulo", 1914.
