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Academic year: 2021

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SENTENÇA

Processo Digital nº: 1043715-76.2017.8.26.0100

Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Direito de Resposta ou Retificação do Ofendido - Lei 13188/2015

Requerente: João Agripino da Costa Doria Junior Requerido: Diário da Causa Operária e outros

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Samira de Castro Lorena

Vistos.

Cuida-se de ação de obrigação de fazer c/c pedido de tutela de urgência proposta por JOÃO AGRIPINO DA COSTA DORIA JÚNIOR contra

DIÁRIO DA CAUSA OPERÁRIA, EDINALDO AUGUSTO DA SILVA, RAFAEL DANTAS PORTO NASCIMENTO, WILLIAM TERENCE DUNNE, PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA - PCO alegando, em síntese, que no dia 28/04/2017, William

Terence escreveu e publicou no site denominado Diário da Causa Operária a matéria “Sobre a Brutal Morte do Prefeito João Doria”. Informou que o texto trata-se de um conto fantasioso, na qual o criador abusa da violência empregada, estimulando uma “caça ao autor” dos leitores que acompanham o site. Relatou que o réu traz em seu texto uma narrativa de estímulo para que seja cometido algum ato de violência contra o autor. Sustentou que a incitação à violência não pode estar sob o prisma da liberdade de expressão. Argumentou que a matéria publicada viola a integridade física do autor. Postulou, assim, pela concessão de tutela de urgência para a suspensão da veiculação da página do âmbito virtual e, ao final, a procedência do pedido, com a confirmação da liminar, proibindo os réus de realizarem prática semelhante. A inicial foi emendada (fls. 42/45) e instruída com documentos (fls. 15/36).

A decisão de fls. 37/38 remeteu o processo para o Foro do Jabaquara.

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A tutela de urgência foi indeferida (fls. 46/47), razão pela qual o autor interpôs agravo de instrumento (fls. 54/73), sendo-lhe negado provimento.

Devidamente citados (fls. 132, 133, 224, 227 e 257) os réus

deixaram transcorrer in albis o prazo para apresentar contestação, conforme certidão (fls. 258).

É o relatório.

Fundamento e Decido.

Prescinde o feito de dilação probatória comportando seu julgamento antecipado, nos termos do art. 355, I e II, do Código de Processo Civil, por se tratar de matéria exclusivamente de direito.

Nesse passo, como os réus, pessoalmente citados, não apresentaram contestação no prazo legal (cf. Certidão de fls. 258), decreto sua revelia.

Contudo, não obstante os efeitos da revelia, os elementos de convicção coligidos aos autos não autorizam o acolhimento da pretensão.

Com efeito, recai a controvérsia sobre se a matéria veiculada e publicada pelos réus copiada às fls. 16/17 ultrapassa os limites constitucionais do exercício da liberdade de expressão.

Outrossim, é sabido que a liberdade de expressão, cujo fundamento reside no próprio texto da Constituição da República, assegura ao profissional de imprensa – inclusive àquele que pratica o jornalismo digital – o direito de expender crítica, ainda que desfavorável e em tom contundente, contra quaisquer pessoas ou autoridades (STF, Pet 3.486/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), garantindo-lhe, também, além de outras prerrogativas, o direito de veicular notícias e de divulgar informações.

Não se pode olvidar que a liberdade de imprensa, enquanto projeção da liberdade de manifestação de pensamento e de comunicação, reveste-se de conteúdo abrangente (STF, AI 705.630-AgR/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), por compreender, entre outras prerrogativas relevantes que lhe são inerentes, (a) o direito de informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de

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criticar.

À vista da especial relevância da liberdade de expressão, o STF posicionou-se de forma intensa em favor da sua proteção contra a censura, quando do julgamento da paradigmática ADPF 130, cujo teor transcrevo abaixo, em parte:

EMENTA: "ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA "LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA", EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A "PLENA" LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO REFORÇO OU SOBRE TUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA. PROPORCIONALIDADE ENTRE

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LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À

VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU

OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO". (ADPF 130, Rel. Min. Ayres Britto, Pleno, DJe de 06/11/2009).

Nesse contexto, essencial reconhecer, haja vista o que acima se expôs a respeito da liberdade de imprensa, qualificada por sua natureza essencialmente constitucional, que esta assegura aos profissionais da comunicação social, inclusive aos que praticam o jornalismo digital, o direito de buscar, de receber e de transmitir informações e ideias por quaisquer meios, ressalvada, no entanto, a possibilidade de intervenção judicial – necessariamente “a posteriori” – nos casos em que se registrar prática abusiva dessa prerrogativa de ordem jurídica.

"Tanto não significa: a) adiantar juízo de mérito quanto ao conteúdo do que veiculado em sítios da internet; b) autorizar o exercício irrestrito e ilimitado das liberdades de expressão, de imprensa e de opinião pelos Reclamantes, c) tampouco “menosprezar a honra e a imagem de eventuais ofendidos, mas a afirmar que esses bens jurídicos devem ser tutelados, se for o caso, com o uso de outros instrumentos de controle que não importem restrições imediatas à livre circulação de ideias, como a responsabilização civil ou penal e o direito de resposta” (STF, Rcl 23.364/GO, Relator: Ministro Roberto Barroso, decisão monocrática, DJ 28.5.2018).

Nessa linha, há outros instrumentos de controle que não importem restrições imediatas à livre circulação de ideias que podem ser utilizados pelo

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ofendido, como a responsabilização civil ou penal e o direito de resposta.

Nessa medidar, o uso abusivo da liberdade de expressão pode ser reparado por mecanismos diversos, que incluem a retificação, a retratação, o direito de resposta, a responsabilização civil ou penal e a interdição da divulgação.

Somente em hipóteses extremas se deverá utilizar a última possibilidade. Nas questões envolvendo honra e imagem, por exemplo, como regra geral será possível obter reparação satisfatória após a divulgação, pelo desmentido por retificação, retratação ou direito de resposta e por eventual reparação do dano, quando seja o caso.

É por esta razão que a medida própria, por excelência, para a reparação de eventuais danos morais ou materiais é aquela a posteriori, mediante indenização ou direito de resposta, nos termos do art. 5º, V da CF e não a supressão de texto jornalístico, podendo o interessado, se desejar, valer-se de outros meios que não a censura para postular direitos que considere tenham sido violados.

Feitas tais considerações, temos que no caso concreto, a matéria questionada foi veiculada em 2017, ou seja, há mais de dois anos atrás, e embora seu conteúdo seja fantasioso e de mau gosto, é certo que sua divulgação nenhum prejuízo trouxe ao autor, seja no que tange à sua integridade física ou psíquica, ou ao seu bom nome, sendo certo que, inclusive, posteriormente, ele foi eleito Governador do Estado, não se justificando, a vista de todo o exposto, que, neste momento, determine-se a a retirada da matéria, relocando em foco, o que se pretende deixe de ser objeto de atenção.

Diante do exposto e do mais que dos autos consta julgo

IMPROCEDENTE o pedido, extinguindo o feito com resolução do mérito nos termos do

artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.

Condeno o autor ao pagamento das custas e despesas processuais. Sem condenação em verba honorária uma vez que não houve apresentação de contestação.

Caso interposto recurso de apelação, intime-se para contrarrazões, remetendo-se, após, ao E. Tribunal de Justiça.

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São Paulo, 04 de junho de 2019.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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