Estatuto da Criança e do Adolescente
Prof. Conrado Paulino
MEDIDAS PROTETIVAS E
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Ato Infracional: é tudo o que para um adulto seria crime ou contravenção penal. Se praticado por criança, serão
aplicadas as medidas protetivas. Se for cometido por adolescente, serão aplicadas as medidas socioeducativas, cu-muladas com medidas protetivas. A ideia não é punir e sim educar.
Medidas Protetivas (artigo 98 do ECA):
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III - em razão de sua conduta.
Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substitu-ídas a qualquer tempo.
O artigo 100 do ECA apresenta alguns princípios dirigidos a este tema, ressaltando o princípio da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, que deve ser aplicado no âmbito educacional e no ato praticado pela criança e pelo adolescente, bem como no fortalecimento dos vínculos familiares e com a sociedade. Os princípios estão arro-lados no aludido artigo, senão vejamos:
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direi-tos previsdirei-tos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendi-mento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida;
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;
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IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente;
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta;
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capaci-dade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determina-ram a intervenção e da forma como esta se processa.
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de respon-sável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responrespon-sável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente conside-rada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
No artigo 101 apresenta-se todas as medidas protetivas constantes no ECA. Que serão analisados caso a caso:
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta;
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como
forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das
providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
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Competência para aplicar as medidas protetivas (analise em conjunto do art 136 com o artigo 148 do ECA):
O JIJ pode aplicar quaisquer das medidas protetivas. Em relação ao Conselho Tutelar, este só pode aplicar as medi-das menos gravosas, quais sejam: colocação em família substituta, acolhimento institucional e acolhimento familiar.
Medidas Socioeducativas – Disposições Gerais:
Artigo 103 do ECA: Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.
Artigo106 do ECA: Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Art. 107 do ECA. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada. Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
Artigo 108 do ECA: apresenta a internação provisória, mediante sentença e com prazo máximo de 45 dias. Art. 109 do ECA: se a pessoa já tem identificação, resta dispensada a identificação compulsória.
Artigo 110 do ECA: garantia do devido processo legal;
Artigo 111 do ECA: são asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.
Das medidas Socioeducativas (artigo 112 do ECA):
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravida-de da infração.
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§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
2.1. Medidas socioeducativas não privativa de liberdade:
I. Advertência (art. 115): é a mais branda que o Estado pode aplicar, no sentido de chamar a atenção do
adolescen-te e adverti-lo que da próxima vez será mais grave.
II. Obrigação de reparar o dano (art. 116): observa-se que nem todo o dano é possível de ser reparado. Dessa
forma, pode ser aplicado em danos com reflexos patrimoniais.
III. Prestação de serviços (art. 117): nada mais é que a realização de tarefas de interesse geral que o adolescente
vai cumprir, de forma gratuita, num período não superior a 8 horas semanais, por no máximo 6 meses.
IV. Liberdade assistida (art. 118): será adotada sempre que figurar ser a medida mais pertinente a ajudar, auxiliar
o adolescente por um orientador, que terá alguns encargos (art. 119), como promover socialmente o adolescente, supervisionar a frequência escolar, entre outros, no mínimo, por 6 meses. Ao final, o orientador apresentará um relatório, concluindo pela liberação do adolescente ou a aplicação de uma nova medida socioeducativa.
2.2. Medidas socioeducativas restritivas de liberdade:
I. Semiliberdade (art. 120): em geral, é aplicado após a medida de internação, como meio de transição para a
liber-dade total, que não comporta um prazo determinado. É um meio mais adequado para a fase de transição.
II. Internação (art. 121): constitui medida restritiva de liberdade, com caráter peculiar ao sujeito em
desenvolvi-mento. Será permitida realização de atividades externas, salvo impedimento judicial. A medida não permite prazo determinado e deve ser avalizado a cada 6 meses. O período máximo de internação será de 3 anos. Se passar do referido prazo, o adolescente será colocado em regime de semiliberdade. Com 21 anos, este terá a liberação.
Artigo 122: A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo
ser decretada judicialmente após o devido processo legal;
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
Artigo 123: A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. Vide artigo 124 do ECA. Os direitos do adolescente privado de liberdade.
3. Alienação Parental (lei n. 12.318/2010): é uma campanha de desqualificação que um dos genitores fará em
rela-ção ao outro (artigo 2º da lei 12.318/10). Ela foi identificada por um psicólogo americano chamado Gardner, o qual classificou a alienação parental em: leve, moderada e grave.
Artigo 2º, § único da lei 12. 318/10: São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim decla-rados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
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I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive esco-lares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a con-vivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou ado-lescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento
proces-sual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgên-cia, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproxima-ção entre ambos, se for o caso. Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mí-nima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psico-lógica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanha-mento das visitas.
Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se
necessá-rio, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
§ 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso,
compreenden-do, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.
§ 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso,
aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90
(noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justifi-cativa circunstanciada.
Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança
ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental.