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A reincidência da delinquência juvenil após aplicação das medidas na cidade de FortalezaCE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MÁCIO ANTÔNIO GUIMARÃES LIMA

A REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL APÓS APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE FORTALEZA - CE

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MÁCIO ANTÔNIO GUIMARÃES LIMA

A REINCIDÊNCIA DA DELINQUENCIA JUVENIL APÓS APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE FORTALEZA – CE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Raul Carneiro Nepomuceno.

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MÁCIO ANTÔNIO GUIMARÃES LIMA

A REINCIDÊNCIA DA DELINQUENCIA JUVENIL APÓS APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NA CIDADE DE FORTALEZA – CE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Aprovada em: 29/11/2013.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________ Profº Me. Raul Carneiro Nepomuceno (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Profº Francisco de Araújo Macedo Filho

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Profº Dr. Francisco Regis Frota Araújo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a seu filho Jesus por ajudarem-me durante toda a minha vida e proporcionarem-me a mais esta conquista de vida.

Aos meus pais a quem devo a minha existência.

Aos meus dois filhos, Rebeca e João Marcelo por serem presença viva na minha vida e motivo para continuar lutando na jornada árdua da vida.

Aos professores que contribuíram durante a vida acadêmica e em especial ao meu Orientador Professor Raul Carneiro Nepomuceno.

Aos amigos por colaborarem cada um a sua forma.

A todos meus irmãos pela compreensão e companheirismo. Ao Dr. Daniel pelo seu grande trabalho que me prestou.

A minha namorada, Gismagda, pelo grande incentivo que me deste para a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho trata sobre a reincidência da delinqüência juvenil no município de Fortaleza Estado do Ceará. A partir de uma perspectiva teórica das legislações sobre a criança e o adolescente em vigor no Brasil, buscamos compreender a problemática da delinquência juvenil e suas reincidências. Analisaremos os atos infracionais e a competência da delegacia da criança e do adolescente. Dando continuidade, buscaremos fazer uma avaliação das principais medidas socioeducativas com suas principais características e criticas. As unidades investigativas foram a DCA e URLBM do município de Fortaleza – CE, durante o período de janeiro a outubro de 2013. Adotaram-se como procedimentos metodológicos recursos qualitativos, através do uso dos seguintes instrumentos e técnicas: tabela. e observação. Baseado na análise e resultados da pesquisa e a luz da teoria da delinqüência juvenil, são esboçados algumas recomendações para melhoria da reincidência da delinqüência juvenil no município de Fortaleza.

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ABSTRACT

This paper focuses on the recidivism of juvenile delinquency in Fortaleza Ceara State . From a theoretical perspective of the laws on children and adolescents in force in Brazil , we tried to understand the problems of juvenile delinquency and their recurrence . We will analyze the offenses and the competence of the police station of the child and adolescent . Continuing , we will seek to make an assessment of major educational measures with its main features and reviews. Investigative units were DCA and URLBM in Fortaleza - CE , during the period January to October 2013. Been adopted as methodological procedures qualitative resources , through the use of the following tools and techniques : table. and observation. Based on the findings of the research and the light of the theory of juvenile delinquency , are outlined some recommendations for improving the recidivism of juvenile delinquency in the city of Fortaleza .

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ... 10

2. FATOS HISTÓRICOS SOBRE A LEGISLAÇÃO DO MENOR: ... 12

2.1 Ordenações Filipinas ... 12

2.2 O Código Penal do Império de 1830 ... 13

2.3 A República. O Código Penal de 1890 ... 14

2.4 O Código Mello Mattos ... 14

2.5 O Código de Menores ... 15

2.6 Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA ... 18

2.7 Princípios de Proteção a Criança e ao Adolescente ... 19

2.7.1 Princípio da Proteção Integral ... 20

2.7.2 Princípios da Prioridade Absoluta ... 20

2.7.3 Princípios da Condição Peculiar da Pessoa em Desenvolvimento ... 21

2.7.4 Principio da Intervenção Mínima ... 22

3. DO ATO INFRACIONAL E AS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS ... 24

3.1 Conceito de ato infracional ... 24

3.2 Vetores do cometimento do ato infracional... 25

3.3 As Medidas Socioeducativas ... 27

3.3.1 Da Advertência ... 28

3.3.2 Da Obrigação de Reparar o Dano ... 29

3.3.3 Da Prestação de Serviço a Comunidade ... 30

3.3.4 Liberdade Assistida ... 31

3.3.5 Regime de Semiliberdade ... 33

3.3.6 Internação ... 35

3.3.7 Da Remissão ... 37

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4.2 A Delinquência Juvenil na Cidade De Fortaleza ... 39

4.3 Da Competência da Delegacia da Criança e do Adolescente- DCA ... 44

5. FATORES QUE LEVAM OS ADOLESCENTES À REINCIDÊNCIA NOS ATOS INFRACIONAL ... 47

5.1 Aspectos que Motivam a Reincidência dos Atos Infracionais após a Aplicação as Medidas socioeducativas. ... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS: ... 58

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1.INTRODUÇÃO

Nos tempos de hoje a prática de crimes na juventude vem aumentando em índice elevados, tanto no interior dos estados brasileiro como também nas capitais, sendo estas com um elevado número bem maior. A cidade de Fortaleza, como outras capitais do país, vem passando por grandes dificuldades em coibir estes tipos de delitos na esfera juvenil e conseqüentemente evitar as reincidências.

Durante o século XIX já presenciamos legislações aplicadas aos jovens de nosso país. Desde o inicio o século XX as legislações brasileiras se organizam de formas diferentes no tocante a preocupação do adolescente infrator. Nos dias de hoje, temos legislações complexas, o ECA, que trás medidas tanto de proteção como medidas socioeducativas para os adolescentes infratores.

No capítulo dois deste trabalho, faremos algumas explicações sobre pontos históricos da legislação em relação ao menor infrator, na qual analisaremos mudanças que ocorreram nas legislações brasileiras que tratam sobre o assunto. Procuramos fazer uma síntese na legislação sobre a parte criminal juvenil desde as ordenações Filipinas ate a promulgação da legislação atual, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA. No referido item, também analisaremos os principais princípios de proteção à criança e ao adolescente os quais estão inseridos no estatuto da criança e o do adolescente. O objetivo neste item é compreender o processo de mudanças da legislação, os direitos e deveres estabelecidos.

No capítulo três, será realizado um estudo sobre atos infracionais, como conceitos e compreender os vetores do cometimento do ato infracional e as medidas socioeducativas.

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2. FATOS HISTÓRICOS SOBRE A LEGISLAÇÃO DO MENOR:

No que diz respeito às legislações que cuidam de menores não são muitos atuais. A preocupação com o menor infrator vem sendo debatida por legislações criadas desde a colonização de nosso país. A denominação menores, também será utilizada uma vez que nessa época ainda não se tinha o entendimento atual de serem chamados exclusivamente de crianças e adolescentes.

Os menores desvalidados passaram por muitos grupos que os acolheram, em cada período elas eram cuidados por determinadas instituições. Podemos citar como exemplo, as ordenações criadas por D. Felipe II. Neste item, analisaremos algumas legislações que existiram no Brasil, tais como: Ordenações Filipinas, O Código Penal do Império de 1830, o Código Penal de 1890, o Código Mello Mattos, o Código de Menores.

Analisaremos também a nossa legislação mais recente sobre a Criança e o Adolescente, a Lei 8.069/90(ECA),

2.1 Ordenações Filipinas

No plano do Direito Penal, quando D. João VI desembarcou por aqui com sua corte, em 1808, estavam em vigência no Brasil as Ordenações Filipinas. Estas ordenações vigeram em Portugal a partir de 1603 e, no Brasil, até 1830, com o advento do Código Penal do Império.

Havendo Naquele tempo uma igreja oficial, que era a Igreja Católica, primados do Direito Canônico presidiam a jurisdição do Estado. Pelo tradicional catecismo católico, a idade da razão era alcançada aos setes anos. Também do ponto de vista do Estado, no inicio do século XIX, sete anos era o marco da responsabilidade penal. No Título CXXXV, do Livro Quinto, estabelecia-se naquele diploma legal:1

“Quando algum homem, ou mulher, que passar de vinte anos cometer qualquer delito, dar-lhe-á a pena total, que lhe seria dada, se de vinte e cinco anos passasse. E se for de idade de dezessete anos até vinte, ficará ao árbitro dos julgadores dar-lhe a pena total, ou diminuir-lha.

E neste caso olhará o julgador o modo com que o delito foi cometido e as circunstancias dele, e a pessoa do menor; e se achar em tanta malícia, que lhe pareça que merece pena total, dar-lhe-á, posto que seja de morte natural.

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E parecendo-lhe que não a merece, poder-lhe-á diminuir, segundo qualidade, ou simpleza, com que achar, que o delito foi cometido.

E quando o delinqüente for menor de dezessete anos cumpridos, posto que o delito mereça morte natural, em nenhum caso lhe será dada, mas ficará em arbítrio do julgador dar-lhe outra menor pena.

“E não sendo o delito tal, em que caiba pena de morte natural, se guardará a

disposição do Direito comum”.

Em síntese no inicio do século XIX, quando Dom João VI aportou no Brasil, a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos, eximindo-se o menor da pena de morte e concedendo-lhe redução da pena. Entre dezessete e vinte e um anos havia um sistema de “jovem adulto”, o qual poderia ser até mesmo condenado a morte, ou, dependendo de certas circunstancias, ter sua pena diminuída. A imputabilidade penal plena ficava para os maiores de vinte e um anos, a quem se cominava, inclusive, a morte em certos delitos.

Enquanto no Brasil a legislação vigorante era essa, confirmando a expressão de John Stuart Mill, na Inglaterra se construía o embrião do Direito da Infância. Era editada a primeira normativa de combate ao trabalho infantil, conhecida como Carta dos Aprendizes, de 1802, ato que limitava a jornada de trabalho a criança trabalhadora ao máximo de doze horas diárias e proibida o trabalho noturno.2

2.2 O Código Penal do Império de 1830

Com a Proclamação da Independência em 1822, tivemos, em 1830, o primeiro Código Penal brasileiro. Este Código Penal fixou a idade de Imutabilidade penal plena em 14 anos.3

O Código previu ainda um sistema biopsicológico para punição de crianças entre sete e quatorze anos, destacando o mestre paranaense Rolf Koerner Júnior em parecer de sua lavra, citando o professor Manoel Pedro Pimentel, da USP:

“Declaração do Tribunal da Corte, proferida em de março de 1864, assentou que os

menores de sete anos não tinham responsabilidade alguma, não estando, portanto, sujeitos a processo. Entre os sete e quatorze anos, os menores que obrassem com discernimento poderiam ser considerados relativamente imputáveis e, nos termos do artigo 13 do mesmo Código, serem recolhidos as casas de correção pelo prazo que o

juiz parecer, contanto que o recolhimento não exceda a idade de dezessete anos.”4

2 Saraiva, João Batista Costa. Desconstruindo o Mito da Impunidade: um Ensaio de Direito Penal Juvenil. Brasília: do autor, 2002 p. 19

3 Art. 10 Também não serão julgados criminosos: § 1º Os menores de quatorze anos.

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Vale lembrar, visando a apropriar-se dos valores da época, que em 1840 foi procedida a emancipação de Dom Pedro II, que, aos 14 anos de idade, passou a governar o Brasil, extinguindo-se o período da Regência. Aos 14 anos de idade, o Imperador era tido por adulto, casando-se com dezessete anos.

2.3 A República. O Código Penal de 1890

Com o advento da República, em 1890, o Código Penal do Império deu lugar ao Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890.

A imputabilidade penal que no início do século se dava aos sete anos, e pelo Código Penal do Império de 1830, passou para um critério biopsicológico baseado no “discernimento” entre sete e quatorze anos, evoluiu no Código Republicano de 1890: Irresponsável penalmente seria o menor com idade até nove anos (art. 27, § 1º).

Pelo Código Penal de 1890, adotando o critério biopsicológico fundado na idéia do “discernimento”, o maior de nove anos e menor de quatorze anos submeter-se-ia a avaliação do Magistrado (art. 27, § 2º) sobre “a sua aptidão para distinguir o bem do mal, o reconhecimento de possuir ele relativa lucidez para orientar-se em face das alternativas do justo e do injusto, da moralidade e da imoralidade, do lícito e do ilícito”. Rolf Koerner Junior aborda este tema, citando doutrina de Basileu Garcia.5

Bento faria, em comentário ao art. 30 do Código Penal de 1890 ( que fixava a idade de imputabilidade penal em quatorze anos) informa de uma série de decisões de Tribunais mandando soltar meninos recolhidos em prisões misturados com adultos por falta de instituições adequadas.

Ao final do século XIX, por critério objetivo, a imputabilidade penal era alcançada aos quatorze anos, podendo retroagir aos nove anos, de acordo com o “discernimento” do infrator. Em cotejo com o início do século, quando a imputabilidade penal estava fixada aos sete anos, houve avanço.

2.4 O Código Mello Mattos

Seguindo o progresso de legislações relativas ao menor ocorreu surgimento do primeiro Juizado de Menores do Brasil, cujo titular foi o Magistrado José Cândido

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Albuquerque Mello Mattos. Com a criação do juizado veio a idéia de adoção de medidas que embora sem garantias de devido processo legal, misturava assistencialismo com ideal abstrato de justiça, para um saneamento moral de justiça. E como fruto dessa experiência, e em função do debate acerca da delinquência juvenil, instituiu-se o Código de Menores por meio do Decreto Federal 17.943 de 12 de outubro de 1927. Tendo em vista a importante participação do juiz na elaboração da lei, o Código ficou conhecido como Código De Mello Mattos.6

O Código de Menores era endereçado não a todas as crianças, mas apenas aquelas tidas como estando em “situação irregular”. O Código definia já em seu Artigo 1º, a quem a lei aplicava:

O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinqüente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas der assistência

e proteção contidas neste Código. Código de Menores Decreto N. 17.943 A – de 12

de outubro de 1927. SIC

O referido Código visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regularmente questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e da ética do juiz.7

2.5 O Código de Menores

Promulgado no Ano Internacional da Criança, em 10 de outubro de 1979/Lei 6.697 e fundamentado na doutrina da “situação irregular”. Preconizava que o Juiz de Menores estava autorizado a aplicar as medidas cabíveis se o menor de 18 anos estivesse classificado em alguma destas situações de irregularidade:8

Art. 2º - Para efeitos deste código, considera-se em situação irregular o menor: I – Privado de condições essências a sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente em razão de:

a) Falta, ação ou omissão dos pais ou responsável;

b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsáveis provê-las;

6 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema de Garantias e o Direito Juvenil. São Paulo: RT, 2008 p. 35-36

7 PRÒMENINO. Fundação Telefônica. História do direito da infância. Disponível em:

HTTP://promenino.org.br.

8PROMENINO> Fundação Telefônica. História do direito da infância. Disponível em:

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II – Vítima der maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos país ou responsável

III- Em perigo moral, devido a:

a) Encontra-se, de modo habitual em ambiente contrário aos bons costumes:

b) Exploração em atividade contrária aos bons costumes;

IV- Privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;

V- Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária;

VI- Autor de infração penal.

A Doutrina da Situação Irregular foi a ideologia inspiradora do Código de Menores, Lei 6.697 de 10.10,1979. Esta Doutrina pode ser sucintamente definida com sendo aquela em que os menores passam a ser objeto da norma quando se encontrarem em estado de patologia social.

O Código de Menores incluía praticamente 70% da população infantojuvenil brasileira nesta condição, permitindo que mais tarde se afirmasse que quem estava em situação irregular era o estado brasileiro. Por esta ideologia “os menores” tornam-se interesse do direito especial quando apresentam uma “patologia social”, a chamada situação irregular, ou seja, quando não se ajustam ao padrão estabelecido.

O Código de Menores foi posterior ao Código de Mello Mattos, na qual ocorreu o segundo momento da etapa tutelar, no Brasil. Segundo a doutrina este Código foi alvo de muitas críticas uma vez que criado no fim do regime militar apenas ratificava uma visão consolidada e ultrapassada, que ignorava garantias as crianças e adolescentes, considerando objetos de direitos ao invés de sujeito de direito.9

O período dos governos militares foi pautado, para área da infância, por dois documentos significativos e indicadores da visão vigente: A Lei que criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – Lei 4.513 de 1/12/64 – e o Código de Menores de 79 – lei 6.697 de 10/10/79.

O órgão criado pela Lei 4.513 de 64, A FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor tinha como objetivo formular e implantar a Política Nacional do Bem Estar do Menor, herdando do SAM – órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do sistema Penitenciário para a população menor de idade- prédio e pessoal e, com isso, toda a sua cultura organizacional. A FUNABEM propunha-se a ser a grande instituição de assistência a infância, cuja linha de ação tinha na internação, tanto dos abandonados e carentes como dos infratores, seu principal foco.

(17)

Esse Código se propôs no contexto sócio-econômico em que vivia o país, no qual eram pungentes as estatísticas sobre crianças e adolescentes carentes, abandonados, desassistidos ou dados à prática de atos anti-sociais, atualizarem o conceito dos direitos dos menores, bem como a criação de novas garantias, ante as profundas transformações ocorridas no corpo social entre 1927 (Código Mello Mattos) e 1979.10

O Código de Menores de 1979 constitui-se em uma revisão do Código de Menores de 27, não rompendo, no entanto, com sua linha principal de arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto a população infantojuvenil. Esta lei introduziu o conceito de “menor em situação irregular”, que reunia o conjunto de meninos e meninas que estavam dentro do que alguns autores denominam infância em “perigo e infância “perigosa”. Esta população era colocada como objeto potencial da administração da Justiça de Menores. E interessante que o termo “autoridade judiciária” aparece no Código de Menores de 1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar do Menor, respectivamente, 75 a 891 vezes, conferindo a esta figura poderes ilimitados quando ao tratamento e destino desta população. O que permite entender a atual situação da época e por conseqüente o tipo de preocupação dispensava ao menor.

Poucas foram as modificações introduzidas com a entrada em vigor do Código de Menores de 79, embora em seu artigo 9º, diferentemente do Código de 1927, previa a criação de entidades de assistência e proteção ao menor, pelo Poder Público, segundo o qual deveriam criar centros especializados destinados a recepção, triagem, observação de menores em conflito com a lei.

Olvidou-se, no entanto, de prever a possibilidade de atividades particulares dessas atividades, quando já era marcante o trabalho desenvolvido por educandários religiosos. Bastava serem credenciados junto à FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), criada em 1964 pela Lei 4513, que propôs fixar diretrizes fundamentais da Política do Bem-Estar do Menor em substituição à repressão e segregação, através dos programas educacionais. Criada como entidade normativa, previa ramificações nos estados e municípios, através das FEBENS – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. O Código de Menores de 1979, que também estava fundamentado na doutrina da situação irregular foi sucedido pela

10 PROMENINO> Fundação Telefônica. História do direito da infância. Disponível em:

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Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) fundamentada na doutrina da proteção irregular.11

2.6 Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA

A evolução histórica sobre a legislação do menor no Brasil se dá com a promulgação da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, na qual veio a regulamentação da Lei 8069/90, que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. O referido Estatuto é quem regulamenta os delitos que envolvem adolescente menores de dezoito anos, os quais são chamados pelo Código Penal Brasileiro penalmente inimputável.

A principal Proposta trazida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente é dar um tratamento diferenciado as crianças e jovens a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e a necessidade de reeducação e ressocialização. Entende encontrar-se o jovem em fase de imaturidade por isso merecedor de atenção especial. Constatamos que o índice de violência, principalmente em casos que envolvam jovens em atos inflacionais, gera na sociedade grande impacto, provocando inúmeros questionamentos em relação a responsabilidade dos adolescentes.12

A Constituição Federal de 1988 trouxe disposições sobre a criança e o adolescente em seus arts. 227 e 229, dando “proteção integral” e prioridade aos interesses destes, em substituição ao paradigma da “situação irregular”.

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

A etapa garantista decorreu de inúmeros debates internacionais de proteção a criança e ao adolescente, como por exemplo, a Declaração dos Direitos da Criança a qual trazia o propósito de reconhecer a necessidade de uma proteção diferenciada, em razão de sua imaturidade física e intelectual. O mais importante é mencionar que o ECA traz um sistema

11 PROMENINO> Fundação Telefônica. História do direito da infância. Disponível em:

http://www.gramadosite.com.br/cultura/autor:bianca/id:9765/xcoluna:1/xautor:1

12 SOUSA, Janaina Alves de: NPE Anais do V encontro de pesquisa e Extensão da Faculdade Luciano Feijão.

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de mais garantias, incorporando uma série de direitos matérias e processuais para a preservação dos direitos infanto juvenis.13

A promulgação do ECA – Lei 8.069/90, ocorreu em 13 de julho de 1990, consolidando uma grande conquista da sociedade brasileira: a produção de um documento de direitos humanos que contempla o que há de mais avançado na normativa internacional em respeito aos direitos da população infantojuvenil. Entre novo documento altera significativamente as possibilidades de uma intervenção arbitrária do estado na vida de crianças e jovens. Como exemplo disto se pode citar a restrição que o ECA impõe a medida de internação, aplicando-a como último recurso, restrito aos casos de cometimento de ato infracional.14

2.7 Princípios de Proteção a Criança e ao Adolescente

Com promulgação da nossa Constituição de 1988 e posteriormente a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA pela Lei 8.069/90 veio um novo modelo jurídico de responsabilidade dos jovens infratores, semelhantes ao modelo penal dos adultos afloraram alguns princípios comuns ao direito penal, da mesma forma surgiram alguns princípios específicos aplicáveis a matéria. No art. 228 da nossa constituição federal de 1988 previu a inimputabilidade penal aos dezoito anos dando a criança e ao adolescente direitos preferências em relação as demais pessoas, o que significa dizer que algumas normas diferenciadoras foram criadas, embora as normas que regulam a responsabilidade penal dos menores pertençam ao direito penal, por prevê situações que imponham conseqüências jurídicos – penas aos autores da infração.15

Vamos agora analisar alguns princípios para que possamos nos norteamos melhor na compreensão deste trabalho. São vários princípios, mas daremos destaque os que passamos a analisar tais como: da proteção, da prioridade absoluta, da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento, da intervenção mínima, dentre outros.

13 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema de Garantias e o Direito Penal Juvenil. São Paulo: RT, 2008 p.41 - 44

14 CINTERFOR, Centro Interamericano para El Desarrolo Del Conocimiento em La Formacion Professional. Juventude brasileira, um estudo preliminar. Disponível em: http://www.cinterfor.org.uy. acessado em 01 de Nov de 2013

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2.7.1 Princípio da Proteção Integral

Este princípio é de suma importância para o Estatuto, uma vez que mudou totalmente a forma de tratamento que era deliberada às crianças e adolescentes, rompendo com a visão de representarem meros objetos e passando a assumir o status de sujeitos de direito. Nesse momento, a responsabilidade perante estes sujeitos de direito passou a ser solidária e distribuída entre a família, o Estado e a sociedade, de modo a buscar uma perfeita cogestão e corresponsabilidade.

Há previsão deste princípio no art. 1º do ECA que assim preceitua: “esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”, reconhecendo direitos específicos e especiais e, principalmente, respeitando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Conforme D. Luciano de Almeida o “Estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso”. 16

Este Princípio está previsto no Art. 1º do ECA:

Art. 1o Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Afirma D. Luciano de Almeida que o “Estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso”.17

2.7.2 Princípios da Prioridade Absoluta

Este princípio tem previsão legal no art. 4º do Estatuto, o qual define que:

Art. 4º − É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

16 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral – CE Nov de 2012

17 CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Comentários Jurídicos e Sociais. São Paulo:

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Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

A enumeração não é considerada exaustiva, de forma que não estão especificadas todas as situações em que deverá ser assegurada a preferência à infância e juventude, nem todas as formas de assegurá-la.

Portanto, observamos uma norma aberta, com um mínimo legal elencado, mas permissiva de uma interpretação ampla a possibilitar o respeito e aplicação da doutrina da proteção irregular.

Neste aspecto, o Estatuto estabelece preferência em favor das crianças e do adolescente em todas as esferas de interesses. Seja no campo judicial, extrajudicial, administrativo, social ou familiar, o interesse infantojuvenil deve preponderar.

Existe, inclusive, pensamento doutrinário de que este princípio estabelece prioridade até em relação aos idosos, tendo como fundamento o fato de que a prioridade infantojuvenil está definida na constituição (art. 227, CF/88), enquanto que a prioridade dos idosos é prevista infraconstitucionalmente, mais especificamente na Lei nº 10.741/03 (Estatuto do idoso).18

2.7.3 Princípios da Condição Peculiar da Pessoa em Desenvolvimento:

O referido princípio está normatizado pelo art. 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA:

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.19

De acordo com o pedagogo Antonio Carlos o referido artigo é a chave, do ponto de vista teleológica, para a leitura e interpretação do ECA, pois para sua correta compreensão leva em contas vários aspectos, como o fim social, exigências do bem comum, direitos e

18 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral – CE Nov de 2012

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deveres individuais e coletivos e principalmente a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Esta é entendida como suporte a nova legislação vindo com isso a somar a condição jurídica de sujeito de direito e a condição política de absoluta prioridade. Implica ainda no reconhecimento der que a condição de defendê-los e fazê-los valer de modo pleno, e não terem ainda capacidades plenas de suprir suas necessidades básicas. Porém, a referida condição peculiar de desenvolvimento, não pode ser definida apenas a partir do que a criança não sabia, tenha condições ou não seja capaz. Devem-se analisar cada fase de forma singular, pois cada etapa é um período de plenitude que deve ser compreendida pela família, pela sociedade e pelo estado.20

A condição de pessoa em desenvolvimento transforma e impõe a grande importância que a legislação e os atos direcionados a este grupo específico devem observar.

Implica ainda no reconhecimento de que a criança e o adolescente não conhecem inteiramente os seus direitos, não tem condições de defendê-los e fazê-los valer de modo pleno, e não terem ainda capacidades plenas de suprir suas necessidades básicas.

Por fim, conforme assevera Shecaira, entende-se que o princípio em estudo veio trazer o reconhecimento da desigualdade do adolescente em relação ao adulto, que em razão dessa desigualdade não pode ser tratado com o mesmo rigor que os adultos ao praticar atos análogos.21

2.7.4 Principio da Intervenção Mínima

O aludido princípio veio orientar a intervenção mínima nas punições onde só deverão ser castigadas as infrações mais prejudiciais a sociedade e de maior relevância social e imposto um castigo proporcional a gravidade do delito.22

Sua Previsão está inserida no art. 37, b, na Convenção Sobre os Direitos da Criança nos seguintes Termos:

Os estados partes zelarão para que: “nenhuma criança seja privada de sua liberdade

de forma ilegal ou arbitrária. A detenção, a reclusão ou a prisão de uma criança,

20 COSTA, Antonio Carlos Gomes. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: Comentários jurídicos e

sociais. 8 ed. São Paulo: Malheiros, 2006. P. 54-55

21 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema e Garantias e o Direito Penal Juvenil,. São Paulo: RT, 2008 p 27

22 VAZQUEZ GONZALEZ, Carlos, apud, SHECAIRAS, Sérgio Salomão. Sistema de Garantias e o Direito

(23)

serão efetuadas conforme em conformidade com a lei e apenas com último recurso,

e durante o mais breve período de tempo que for apropriado”.23

A Nossa Constituição Federal de 2008 no seu Artigo 227 §3º, V também consagra:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;

23 BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Convenção sobre os direitos da criança. Brasília: MEC, 2005

(24)

3. DO ATO INFRACIONAL E AS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS

3.1 Conceito de ato infracional

O legislador teve uma preocupação por parte para definir o que seria o ato infracional. Inclusive nos termos utilizados ao se referir à sua conduta, uma das principais diferenças está na utilização do termo ato infracional para as condutas delitivas praticadas pelo menor infrator, distinguindo da denominação de crime utilizada para se referir aos demais sujeitos que não o menor e tratados pelo Código Penal.

Conforme preceitua o art. 103 do ECA, ato infracional será toda conduta descrita como crime ou contravenção penal:

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

Compreende-se por crime, para fins de diferenciá-lo de ato infracional, aquele cometido por qualquer pessoa que não seja o menor amparado pelo ECA, e sim aquele que embora definido como fato típico e antijurídico sejam atribuídos as pessoas não alcançadas pela referida legislação especial retromencionada. Enquanto que ato infracional é utilizado para se referir aos atos praticados pelo menor infrator, qualidade dada àquele amparado pela lei especial juvenil.

Nas palavras de Saraiva, é a própria definição da espécie inclui a garantia da observância do princípio da tipicidade, que exige subsunção da conduta aquela descrita pela norma penal. Assim só há ato infracional se houver típica penal que o preveja.24

O principal objetivo em mencionar a distinção entre um e outro, crime e ato infracional, é exatamente a má utilização dos termos ao se denominar o indivíduo, já que a criação da “lei ECA” surgiu para tratar de forma especial o penalmente inimputável menor de dezoito anos de idade devido sua condição juridicamente considerada. Pois assim afirma Paulo Lúcio: “não há diferença entre crime e ato infracional, pois ambos constituem condutas contrárias ao direito positivo, já que se situam na categoria do ilícito jurídico.25

24 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e Ato Infracional: Garantias processuais e medidas socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. P. 31-32

(25)

A conseqüência da prática do ato infracional é que o infrator estará sujeito à medida sócio-educativa, obedecidos aos princípios da legalidade ou da reserva legal e aos demais inerentes ao adolescente já discutidos.

3.2 Vetores do cometimento do ato infracional

Com tanto amparo para os jovens de hoje, nos indagamos como o numero der atos infracionais aumentam a cada dia. O ECA trás medidas sérias e educativas, a nossa constituição Federal também preconiza ações em prol das crianças e adolescentes e tanto são os amparos a estes jovens e precisamos saber quais as razoes que levam os jovens a praticar tantos delitos.

Shecaira relata em sua obra, que os adolescentes vivem em um influxo muito grande de colegas e amigos nesta fase, existindo uma forte tendência em rejeitar valores sociais institucionalizados pelo mundo adulto, assim estas uniões criadas entre si os levam as cultivarem seus próprios valores e padrões de existência. Porém esta associação muitas vezes leva estes jovens a praticarem delitos, envolvimento com gangues e brigas como demonstração de virilidade, consideradas condutas que expressam comportamentos experimentais e transitórios para a fase adulta. Porém essas ações anti-sociais típicas de jovens não significam que estes venham trazer uma raiz de criminalidade quando adultos, nem represente uma passagem para uma criminalidade mais violenta.26

Muitos jovens que entram cedo no mundo do crime, não conseguem chegar a maioridade. Perdem suas vidas ainda como adolescentes ou perdem logo quando chegam nos primeiros anos da sua fase adulta. Com isso vemos que existem muitas falhas nas medidas tomadas e aplicadas nos primeiros delitos cometidos por estes jovens, medidas estas que teceremos comentários adiante.

Muito jovem ao entrarem para o mundo do crime, para grupos ou gangues, decorre da vontade de se aventurar e do prazer no envolvimento delituoso. Ao furtar, agredir, praticar atos de vandalismo envolve uma excitação muito comum na idade de amadurecimento e decorre do interesse de autoafirmação entre seus pares.27

26 PFAU-VINCENT, B . A., Apud, SHECAIRA, Sérgio Salomão, Sistema de Garantias e o Direito Penal Juvenil. São Paulo: RT. 2008. P. 103

27 SPERGEL, Irving A., Apud, SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema de Garantias e o Direito Penal Juvenil.

(26)

Em demais casos estes jovens são levados ao envolvimento criminal por inexistirem projetos de vida fora da criminalidade, uma vez que a sua convivência em grupo facilita ganhos concretos que não obteria por meios lícitos, principalmente jovens da periferia, aproveitam-se dessa força individual quando em grupo, para alcançarem seus ganhos por meio da violência.28

Outro vetor destacados é a comunicação de massa que tem importante papel na formação dos valores da sociedade, com seus programas persuasivos e envolventes de matérias jornalísticas sobre violência, filmes e outros programas que influenciam no campo da criminalidade juvenil. Tudo isso é porque devido a personalidade ainda em formação e mais maleável são facilmente influenciadas pelo meio em razão da larga exposição de violência. Os meios de comunicação participam do processo de socialização do individuo, pois transmitem uma imagem codificada do mundo e altera o conteúdo e o significado da realidade.29

Temos a teoria da desviação social na qual apregoa ser a delinqüência juvenil o resultado do conformismo do jovem com um sistema de valores culturais em conflito com aqueles da sociedade como um todo. Nesta linha de pensamento surge a conceito de subcultura consideradas desviantes, pois estas se chocam com as culturas assim entendidas como o conhecimento, as crenças, valores, códigos, gostos e preconceitos, que são tradicionais em grupos sócias e adquiridos pela participação nesses grupos. Neste contexto existiria uma subcultura, que seria uma cultura dentro de outra formada por grupos menores, daí o surgimento da subcultura delinqüente que se resume em um comportamento de transgressão determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas de comportamentos transgressores em certas situações.30

Outra teoria com caráter de vetor da criminalidade é chamada de ecológica. Os defensores destas teorias consideram que a cidade não é apenas um amontoado de pessoas e de convenções sociais de correntes do agrupamento humano, mas um lugar onde existe estado de espírito, costumes e tradições. Daí a observação de que dependendo da área geográfica

28 COSTA, Ana Paula Motta, Apoud, SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema de Garantias e o Direito Penal Juvenil. São Paulo: RT, 20087 Idem, p. 117

29 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema e Garantias e o Direito Penal Juvenil,. São Paulo: RT, 2008 p. 122-123

(27)

pode haver um maior índice de delinqüência em regiões mais pobre, mais povoada, indústrias e habitações com varias famílias, como cortiços e favelas.31

Mas adiante do trabalho, analisaremos os principais atos infracionais cometidos pelo adolescente na cidade de Fortaleza no ano 2012 e ate outubro de 2013. As reincidências das Delinqüência juvenil, os principais bairro com maior casos de atos infracionais, a faixa etária de maior incidência destes atos.

3.3 As Medidas Socioeducativas

O ECA - O Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe em seu bojo a previsão de medidas de proteção, aplicadas às crianças e as medidas socioeducativas destinadas aos jovens em situação de risco, onde tais medidas visam dar ao jovem um meio de recuperação diante de sua condição e necessidade, aplicadas aos adolescentes autores de ato infracional, apurada sua responsabilidade após o devido processo legal, cujo objetivo não é a punição, mas a efetivação de meios para reeducá-los. Neste caso dar-se-á, enfoque às medidas socioeducativas como proposta do presente trabalho.

São medidas socioeducativas as previstas no ECA (art. 112):

Art. 112 − Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I- advertência;

II- obrigação de reparar o dano;

III- prestação de serviços à comunidade; IV- liberdade assistida;

V- inserção em regime de semi-liberdade; VI- internação em estabelecimento educacional.

Analisando as medidas, vemos que o adolescente infrator é submetido a tratamento mais rigoroso, diferentemente das crianças. Pelo princípio da legalidade, notamos que a aplicação das medicas são taxativas, conforme assegura Olympio Sotto Maior, na qual é totalmente vedado aplicar medidas que não sejam estas que estão no art. 112 do ECA. Com o principio da proteção integral e com aplicação das medidas socioeducativas em questão, o legislador reconheceu que a maneira mais eficaz de prevenir a criminalidade está no objetivo

31 RUTTER, Michael; GUILLER, Herri, Apud, SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema e Garantias e o Direito

(28)

de superar a situação de marginalidade experimentada pela maioria das crianças e adolescente atualmente em nosso país. 32

A seguir teceremos comentários em cada medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Analisaremos que o principal objetivo das medidas socioeducativas é a busca da reeducação e ressocialização do menor infrator. No decorrer deste trabalho, faremos uma analise destas medidas e suas eficiências com menores infratores e vermos os dados estatísticos na cidade de Fortaleza estado do Ceará.

3.3.1 Da Advertência

Esta medida vem disciplinada no art. 115 do ECA que assim é descrita:

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada.33

Esta medida é uma da mais branda aplicada ao infrator. E executada por um juiz da infância e da juventude sempre que houver indícios de auditoria e materialidade.

Muita aplicada a adolescentes infratores em pequenos delitos tais como: lesões leves, furtos em lojas, supermercados, coletivos, etc.

Aos adolescentes infratores que delinqüem pela primeira vez pode vir a ser um duro mecanismo controle social principalmente pelo seu caráter intimidatório sendo feito através da leitura do ato infracional e da decisão, na presença dos pais ou responsáveis legais, cujo caráter pedagógico tem o fim de evitar a recidiva.34

Segundo Nogueira a aplicação da Advertência é mais eficaz quando aplicada aos adolescentes primários. Este sustenta ainda que o juiz ao aplicar a medida, esta dependerá de critério e sensibilidade ao analisar o caso concreto, sem ser mais severo do que o necessário e nem muito tolerante ou benevolente, devendo sempre levar em conta a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.35

A advertência está sujeita a um período de prova, com obrigações tanto para o adolescente quanto para os pais ou responsável. O serviço social é o responsável pelo

32 MAIOR NETO, Olympio de Sá Sotto, In; CURY, munir. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado.

Ed. São Paulo: Malheiros, 2006. P. 378

33 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm , visto em 15 de Nov de 2013

34 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema e Garantias e o Direito Penal Juvenil,. São Paulo: RT, 2008 p. 196

(29)

acompanhamento exatamente para que a medida não perca sua eficácia educativa, fazendo-se acompanhar de notícias sobre o comportamento do menor, para constatar a possível recidiva.36

3.3.2 Da Obrigação de Reparar o Dano

A segunda medida socioeducativa prevista no artigo 112 do ECA é a obrigação de reparar o dano, sendo tipificada no seu art. 116 nos seguintes termos:

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.37

Segundo Albergaria: “a obrigação de reparar o dano objetiva despertar e desenvolver no menor o senso de responsabilidade em face do outro e do que lhe pertence”.38.

Vemos que o menor infrator passa por um ensinamento pedagógico no tocante em fazê-lo cumprir a lei.

Para Wilson Donizete, esta medida adverte que a interpretação deve ser em conformidade com o Código Civil, ao dizer que tendo o adolescente menos de 16 anos, a responsabilidade caberá aos pais ou responsáveis. Se tiver mais de 16 anos, a responsabilidade será solidária entre o adolescente e seus pais.39

Para João Batista Costa, a reparação do dano deve ser realizada pelo próprio adolescente infrator, sem confundir-se com o ressarcimento do prejuízo feito pelos pais do adolescente (natureza de responsabilidade civil, inerente a espécie, corolário do exercício do poder de família). Devendo, portanto, a reparação do dono resultar do agir do adolescente, de seus meios próprios.40

36 ALBERGARIA, Jason. Direito do Menor. Rio de Janeiro: Aide. 1995. P. 118

37 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm , visto em 15 de Nov de 2013

38 ALBERGARIA, Jason. Direito do Menor. Rio de Janeiro: Aide. 1995. P. 119

39 DA SILVA, André Tombo Inácio. As medidas socioeducativas aplicáveis aos adolescentes infratores. Gama p

DF. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Direito Jurplac. 2008 . p´. 25

40 SARAIVA, João Batista Costa, Apud, DA SILVA, André Tombo Inácio. As medidas socioeducativas

(30)

Segundo o Parágrafo Único do Art. 116, nada impede que esta seja substituída por outra adequada, caso o infrator se ache impedido de cumpri-la por falta de condições de arcar com o prejuízo.

3.3.3 Da Prestação de Serviço a Comunidade

A prestação de serviços à comunidade é a terceira prevista no art.112 do ECA, que segundo dispõe o art. 117:

Art. 117 − A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.41

Esta medida socioeducativa consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros. Pode também ser aplicada como forma alternativa de forma de que evite a imposição da medida privativa de liberdade. As tarefas são atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas, durante oito horas semanais, preferencialmente aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo que não prejudique as atividades escolares ou o trabalho do adolescente.42

Devemos salientar que a medida em questão não poderá consistir em tarefas humilhantes ou discriminatórias. A finalidade desta medida é mostrar ao infrator a idéia de responsabilidade, de cada ação sua acarretará uma reação. Além de mostrar ao menor o apego às normas comunitárias, de respeito pelo trabalho.43

41 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm , visto em 15 de Nov de 2013

42 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São Paulo: Saraiva, 1998 p. 181-182

43 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

(31)

O órgão ou entidade beneficiada com a prestação do serviço do adolescente deve enviar relatório ao juiz da infância e juventude que fiscaliza a execução da medida, narrar eventuais incidentes que possa ocorrer e controlar sua frequência. A duração máxima da medida é pelo período de seis meses. Dois motivos são buscados na realização da prestação de serviços à comunidade, onde um é a dignidade de quem trabalha e o outro é servir e ser útil a sociedade.44

Jacqueline Cardoso em seu trabalho acadêmico defende que a referida medida é uma das mais eficazes, vejamos:

Tal medida, particularmente, é uma das mais eficazes, pois ao se encontrar trabalhando, prestando serviços, o adolescente sente-se útil e inserido dentro da sociedade, de forma que, em não ficando ocioso, não tem tempo para pensar na discriminação que recai em se próprio. E, além disso, deixa de ter contato com elementos perversos e corruptores, sem falar que está colaborando, de certa forma, para a melhoria da sociedade em que vive.45

Concordo com a referida acadêmica, mas saliento que o trabalho deste adolescente deverá ser bem acompanhado tanto pelos pais ou responsáveis, como também ela autoridade judiciária. Não ocorrendo este acompanhamento o menor poderá desviar suas funções e utilizar a referida medida para cada vez mais aumentar sua intenção de delinqüente.

3.3.4 Liberdade Assistida

Das medidas na qual o adolescente é tratado em meio aberto, esta é a mais grave, pois restringe direitos, tem um prazo mínimo de seis meses podendo ser prorrogado ou substituído a qualquer tempo por outra medida, conforme descreve o art. 118 do ECA:

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.46

Vejamos o que diz o Ministério Publico do Estado do Paraná cerca desta medida:

44 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral – CE Nov de 2012

45 CARDOSO, Jacqueline de Paula Silva. Da Infância da Internação como medida sócioeducativa. São Paulo, SP. Trabalho de Conclusão de Curso, Faculdade de Direito de Presidente Prudente, 2006. P. 49

(32)

“A liberdade assistida é a medida que melhor traduz o espírito e o sentido do sistema socioeducativo estabelecido pela Lei n° 8.069/1990 e, desde que corretamente executada, é sem dúvida a que apresenta melhores condições de surtir os resultados positivos almejados, não apenas em benefício do adolescente, mas também de sua

família e, acima de tudo, da sociedade. Não se trata de uma mera “liberdade

vigiada”, na qual o adolescente estaria em uma espécie de “período de prova”, mas

sim importa em uma intervenção efetiva e positiva na vida do adolescente e, se necessário, em sua dinâmica familiar, por intermédio de uma pessoa capacitada para

acompanhar a execução da medida, chamada de “orientador”, que tem a

incumbência de desenvolver uma série de tarefas, expressamente previstas no art. 119, do ECA. Embora a liberdade assistida importe em muito mais que a simples

“vigilância” do adolescente, é admissível, por analogia, a aplicação das disposições da Lei nº 12.258/2010, de 15/06/2010, de modo que adolescentes vinculados a este tipo de medida sejam submetidos a monitoramento eletrônico,nos mesmos moldes do que passou a ser previsto em relação a adultos”.47

Esta medida é ideal para infrações de média gravidade por não ter os inconvenientes das medidas institucionais. Sua imposição se dará através do juiz que designará uma pessoa capacitada para acompanhar o adolescente. O encargo será pessoal, ainda que exista entidade governamental ou privada que estruture a fiscalização do acompanhamento. A pessoa responsável pelo acompanhamento é chamada de orientador.48

Todavia esta medida vem senso alvo de critica pela doutrina, haja vista a falta de meios e materiais humanos necessários para sua concretização. A falta de pessoas capacitadas para o acompanhamento do menor está comprometendo a eficaz do bom andamento da aplicação da medida em questão.

São inúmeros os fatores que devem ser observados para a boa aplicação da medida que vão desde profissionais capacitados como assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, etc., pessoas com adequada formação aos meios que efetivem a socialização do adolescente.49

Segundo Shecaira, a Liberdade Assistida é a pedra de toque do sistema de medidas socioeducativas. Se os programas não contarem com instrumentos adequados, ou se a medida constituir-se exclusivamente em controle passivo das atividades cotidianas do adolescente, é provável que a reincidência venha a ocorrer. Sabendo os adolescentes da falta eventual de fiscalização, a liberdade assistida poderia ser até mesmo porta de entrada para o regime institucional. Por isso é fundamental que os programas, comunitários e assistências,

47 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da

Criança e do Adolescente. Estatuto da Criança e do Adolescente anotado. Curitiba. 2010

48 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral – CE Nov de 2012

49 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

(33)

sejam eficazes no acompanhamento das atividades do jovem e que ele saiba da sua existência.50

No Art. 119 do ECA preceitua a importância do orientador, na qual deverá dar uma assistência ao adolescente tais como: Promover socialmente, supervisionar frequência em escola e etc. Se não vejamos:

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;

II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;

III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;

IV - apresentar relatório do caso.51

3.3.5 Regime de Semiliberdade

Constitui a medida privativa de liberdade intermediaria entre a internação e as medidas do meio aberto. A quinta medida do artigo 112 do ECA, estando tipificada no art. 120 que assim dispõe:

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial.

§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação.52

A Aplicação desta medida é feita pelo juiz fixando-a já de inicio ou funcionando como progressão, a exemplo do previsto no Código Penal, servindo como transição do regime mais gravoso de privação de liberdade para o chamado maio aberto, ou seja, da internação para a semiliberdade.53

50 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Sistema e Garantias e o Direito Penal Juvenil,. São Paulo: RT, 2008 p. 201 51 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm , visto em 15 de Nov de 2013

52 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm , visto em 15 de Nov de 2013

53 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

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Esta medida não tem tempo determinado, podendo durar até três anos. No entanto pode o juiz a cada seis meses analisar, com base em relatórios de equipes multidisciplinares, reavaliar se convém ou não manter a semiliberdade ou substituí-la pela liberdade assistida.54

A semiliberdade é das medidas de execução mais complexa e difícil dentre todas as previstas na Lei n° 8.069/1990. Em 1996, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA expediu a Resolução n° 47, de 06/12/1996, na tentativa de regulamentar a matéria. Em que pese tal esforço, vários aspectos sobre a forma como se dará o atendimento do adolescente permanece obscuro, o que sem dúvida contribui para a existência de poucos programas em execução em todo o País. Talvez mais do que qualquer outra, por suas características e particularidades, a medida de inserção em regime de semiliberdade pressupõe a elaboração de um programa socioeducativo de excelência (conforme art. 90, inciso VI, do ECA), que deverá ser devidamente registrado no CMDCA local (conforme art. 90, §1º, do ECA) e executado por profissionais altamente capacitados.

Pressupõe ainda uma adequada avaliação da sua efetiva capacidade de cumprimento, pelo adolescente individualmente considerado (cf. art. 112, caput, do ECA) que, afinal, irá realizar atividades externas e permanecerá recolhido na entidade apenas durante determinados períodos, de acordo com o previsto no programa em execução. Vale lembrar que, em se tratando de medida privativa de liberdade, sua aplicação tem restrições, tanto de ordem legal (vide arts. 127, in fine e 121, caput c/c 120, in fine, todos do ECA), quanto constitucional (art. 227, §3º, inciso V, da CF). De qualquer modo, a exemplo do mencionado em relação à liberdade assistida, é aqui admissível, por analogia, a aplicação das disposições da Lei nº 12.258/2010, de 15/06/2010, de modo que adolescentes vinculados a este tipo de medida sejam submetidos a monitoramento eletrônico, nos mesmos moldes do que passou a ser previsto em relação a adultos.

Vale o registro que não há qualquer obrigatoriedade de o adolescente está internado passe primeiro pela semiliberdade antes de ganhar o meio aberto. Vide, como conta-ponto, que o disposto no art. 121 §1º, do ECA, que não se aplica à semiliberdade, ou seja, a autoridade judiciária não pode impedir a realização de atividades externas pelo adolescente que se encontra em regime de semiliberdade.55

Neste sentido:

54 SOUSA, Janaina Alves de e SILVA Jacqueline Aragão da: NPE Anais do V encontro de pesquisa e

Extensão da Faculdade Luciano Feijão. Sobral – CE Nov de 2012

55 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da

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Habeas Corpus. Estatuto Da Criança e do Adolescente. Ato Infracional Equiparado do Crime de Roubo. Regime de Semiliberdade. Atividades Externas. Desnecessidade de Autorização Legal. Art. 120 do Eca. Ordem Concedida.

1. A Sexta Turma desta Corte tem entendido que o cumprimento de medidas sócioeducativas pelo menor infrator no regime de semiliberdade dispensa a autorização judicial para a realização de atividades externas, que será exigível somente quando se tratar de regime de internação, consoante o disposto no art. 120 da Lei nº 8.069/90. 2. Ordem concedida. (STJ. 6ª T. HC nº 35413/RJ. Rel. Min. Paulo Gallotti. J. em 19/04/2005) e Habeas Corpus. Estatuto da Criança e do Adolescente. Medida Socioeducativa de Semiliberdade. Limite Máximo de Duração. Restrição à Realização de Atividades Externas e Imposição de Condições Relativas ao Bom Comportamento do Paciente dara Visitação à Família. Impossibilidade. Artigo 227 da Constituição do Brasil.

1. Ressalvadas as hipóteses arroladas nos artigos 121, § 3º e 122, § 1º, o Estatuto da Criança e do Adolescente não estipula limite máximo de duração da medida socioeducativa de semiliberdade. Resulta daí que, por remissão à aplicação do dispositivo concernente à internação, o limite temporal da semiliberdade coincide com a data em que o menor infrator completar vinte e um anos [art. 120, § 2º]. 2. O artigo 120 da Lei n. 8.069/90 garante a realização de atividades externas independentemente de autorização judicial. 3. O Estado tem o dever de assegurar à criança e ao adolescente o direito à convivência familiar [artigo 227, caput, da Constituição do Brasil]. O objetivo maior da Lei n. 8.069/90 é a proteção integral à criança e ao adolescente, aí compreendida a participação na vida familiar e comunitária. 4. Restrições a essas garantias somente são possíveis em situações extremas, decretadas com cautela em decisões fundamentadas, o que no caso não se dá. Ordem parcialmente concedida para permitir ao paciente a realização de atividades externas e visitas à família sem a imposição de qualquer condição pelo Juízo da Vara da Infância e Juventude.

(STF. 2ª T. HC nº 98518/RJ. Rel. Min. Eros Grau. J. em 25/05/2010). Vide arts. 4º, caput, 123, 124, inciso XI, 208, inciso VIII e 246, do ECA.

Vide arts. 113 c/c 100, caput, parte final, do ECA. Notadamente no que diz respeito ao prazo máximo para sua duração, que deverá ser de 03 (três) anos, na forma do disposto no art. 121, §3º, com a obrigatoriedade da reavaliação da necessidade de sua manutenção, no máximo, a cada 06 (seis) meses, ex vi do disposto no art. 121, §2º, do ECA. Ainda em função deste dispositivo, lógico também concluir que as hipóteses que autorizam a aplicação da medida de semiliberdade, são as mesmas previstas para a medida de internação (art. 122, do ECA).56

3.3.6 Internação

Das medidas ate aqui estudada, a Internação é a mais grave criada pelo sistema de medidas socioeducativa prevista no ECA, na qual é destinada aos casos mais extremos. Esta medida está definida no arts. 120 e seguintes, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que assim dispõe:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.

56 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da

Referências

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