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AÇÕES PEDAGÓGICAS DE RESPEITO À DIVERSIDADE SEXUAL E COMBATE À HOMOFOBIA NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO EM SALVADOR/BAHIA -2017/2018

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ISSN 2176-1396

AÇÕES PEDAGÓGICAS DE RESPEITO À DIVERSIDADE SEXUAL E

COMBATE À HOMOFOBIA NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO

EM SALVADOR/BAHIA -2017/2018

Ivanete Alves de Sousa1- UDE/EMCA Eixo – Educação e Direitos Humanos Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

A naturalização dos padrões heteronormativos de sexualidade, piadas, xingamentos e outras formas de desrespeito às pessoas LGBT são constantes no cotidiano escolar. Crianças/adolescentes que se reconheçam atraídos por pessoas do mesmo sexo se ocultam, por medo de isolamento ou agressões. Isto revela lacunas entre as políticas previstas no Programa Brasil Sem Homofobia2 e a prática pedagógica no dia-a-dia escolar. Assinalar ou ocultar existência de homofobia3escolar determina o respeito ou desrespeito na convivência com diversidades, propalar atitudes cidadãs ou sustentar hostilidades e rejeições diversas. Esta investigação objetiva descortinar as lacunas entre as normativas legais e ações pedagógicas no cotidiano escolar para promoção do respeito à diversidade sexual e combate à homofobia. O presente tema revelou-se pertinente a partir de um levantamento entre estudantes de uma escola pública sobre os tipos de bullying mais recorrentes entre eles/elas, no qual, o homofóbico figurou como o segundo tipo de bullying mais frequente. Neste estudo serão consideradas três dimensões: sociológica, político-pedagógica e formativa. Por serem responsáveis pela organização de projetos, implantação de ações escolares, acolhimento a alunos, orientação de professores com relação às ações pedagógicas, e suporte ao trabalho dos professores, os/as coordenadores pedagógicos/as são considerados parte central desta pesquisa. Ao final deste projeto de pesquisa, apresentam-se as questões que impulsionam a investigação qualitativa que utilizará como instrumentos, a entrevista semiestruturada a estudantes, professores e coordenadores pedagógicos, análise do livro de ocorrências e entrevista com alguns atores do nosso campo. A pesquisa ocorrerá em escola Pública de Ensino Fundamental do Município de Salvador, nos anos 2017/2018. A triangulação dos dados será feita através da Análise de Discursos.

Palavras-chave: Ação Pedagógica. Homofobia. Contexto escolar.

1 Mestranda em Educação na Universidad De la Empresa – UDE,/Uy. Membro do grupo de pesquisa As Fronteiras da Educação. Especialista em Supervisão Escolar - UEFS. Licenciada em Ciências Biológicas - UEFS. Professora de Ciências no Ensino Fundamental II, em Salvador/BA. netesousa@gmail.com.

2 Programa Nacional de Combate à Violência e à Discriminação contra LGTB e de Promoção à Cidadania LGBT.

3 O termo homofobia refere-se aqui a aversão em qualquer grau, à vivência e/ou identidade sexual diferente da heterossexual.

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Introdução

Este projeto, cujo tema é o Combate à Homofobia na escola e promoção do respeito à Diversidade Sexual, vincula-se à linha de pesquisa Saberes e Práticas Educativas do Programa de Mestrado em Educação da Universidad de La Empresa (UDE). A inquietação que originou esta pesquisa deu-se, por perceber que, no cotidiano escolar, apesar da aprovação do Programa Brasil Sem Homofobia em 2004, e de haver neste, um capítulo que traz orientações específicas para o sistema educativo, a manutenção de preconceitos e discriminações contra pessoas LGBT4. A questão é atemporal, uma vez que o sistema educativo persiste com o padrão heteronormativo5 de sexualidade e com o modelo binário de gênero6. A coordenação pedagógica é considerada parte fundamental da pesquisa devido às suas funções, as quais congregam, além de outras atividades, as funções de organizar a dimensão pedagógica; receber das instâncias superiores - como o MEC, as políticas para serem aplicadas na escola e repassá-las ao corpo docente; orientar e incentivar os professores no cumprimento de tais políticas, além de cuidar da formação continuada do corpo docente na Instituição da qual faz parte. Desta forma, a importância do coordenador pedagógico para esta pesquisa está em seu papel articulador das ações pedagógicas, no entanto, a pesquisa buscará também o ponto de vista de professores e alunos. As informações obtidas serão importantes para validação dos dados subjetivos, bem como na triangulação dos dados, que serão analisados por meio da Análise dos Discursos.

A escolha do tema relaciona-se com a história de vida da pesquisadora aliada à prática docente, pois desde a juventude, através das experiências na militância social, atuando principalmente no Movimento de Mulheres e no Movimento LGBT, questionava o fato a naturalização de um modelo de mulher e um modelo de homem, compulsoriamente impostos. A viabilidade da pesquisa está no fato de ser a pesquisadora, professora na Rede Municipal, o que facilitará o acesso da mesma às escolas de interesse do estudo. Esta pesquisa se justifica pelo fato de que, embora a escola seja um espaço de construção do saber e transformação da realidade, a homofobia vem se constituindo num forte sustentáculo para a padronização da sexualidade e, por conseguinte, da própria homofobia, o que pode ser percebido no constante

4 LGBT ou LGBTTT é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, utilizada para identificar todas as orientações sexuais minoritárias e manifestações de identidades de gênero divergentes do sexo designado no nascimento.

5 Considera-se, como padrão heteronormativo, aquele que privilegia a relação heterossexual, e que é imposto socialmente, em detrimento de outros tipos de sexualidade.

6 O termo refere-se aos modelos cultural e socialmente repassados, da dicotomia homem-mulher, os quais desconsideram outras possibilidades de gênero que surgem.

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primor pela uniformização de padrões sociais na escola, que reforça o comportamento bulliyng contra estudantes que “não se encaixam” no padrão de sexualidade estabelecido. Além disso, As escolas a serem pesquisadas inserem-se no Nordeste do Brasil, região que foi, por 23 anos (de 1993 até 2016), “a região de maior incidência de crimes homofóbicos”. Dos 318 assassinatos de pessoas LGBT em 2015, 1/3 foram na Região Nordeste7, ficando a Bahia, em 2016, com o segundo lugar em assassinatos de pessoas LGBT8, de acordo com dados da entidade de maior representatividade LGBT do país.

Este estudo é relevante por se tratar de um tema referente a direitos individuais e coletivos, e que coloca em pauta questões como compreensão de valores e discussão de cidadania. O alcance desta pesquisa está no âmbito das escolas participantes e do universo de professores e coordenadores pedagógicos das escolas pesquisadas, além de servir como subsídio para construção de novos conhecimentos que poderão contribuir com a mudança em diversas esferas da vida e das práticas pedagógicas.

Referencial Teórico

Este Projeto de pesquisa apoia-se em Autoras brasileiras, como Abramovay, que estuda a violência nas/das escolas e Louro, que nos faz perceber a presença, na escola, ainda que de forma inviabilizada, das várias expressões de sexualidades e identidades gênero, em contraposição ao binarismo e à heteronormatividade socialmente impostas. A pesquisa também se orienta nos conceitos de Habitus, entre outros, contidos na Sociologia crítica de Pierre Bourdier, e os estudos sobre a sexualidade de Foucault.

Contextualizando a construção social das sexualidades

Embora o termo “homossexual” e outras derivações da sexualidade não heterosexual tenham surgido bem mais tarde, já no século XIX, encontra-se referência ao sexo entre homens, desde a antiguidade. Entre os atenienses havia uma espécie de fase natural de acesso dos rapazes à Polis, dado o “caráter educativo da relação erótica entre homens” (POMPEU, 2011, p.116).

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Dados do jornal A Tarde. Disponível em < http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1742381-318-homossexuais-foram-mortos-no-brasil-em-2015 > Acessado em 26/04/2017.

8 Dados do Relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). Disponível em <

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Era permitido ao homem, relacionar-se com outras pessoas, entretanto, era seu dever garantir a procriação com a esposa e a vida religiosa da família. A mulher era proibida de praticar sexo fora do casamento, devendo utilizá-lo para garantir a continuidade da família e do culto, o qual seria importante para a dominação social e, consequentemente, a manutenção do sistema, através do controle do corpo pelo Estado, pela religião e pelas elites (FOUCAULT, 1985).

A partir do século XII surge o paradigma de reflexão moral (SALLES & CECCARELLI, 2010), exaltando-se o “sexo natural”, ou seja, o sexo normal, que ocorre entre homem e mulher, dentro do casamento, com fins de procriação em detrimento do anormal, desviante, “contra a natureza divina”, que busca prazer (SALLES & CECCARELLI, 2010).

Dessa forma, a ideia da heteronormatividade, que parte do entendimento da heterossexualidade como “natural” em detrimento de outras possibilidades de sexualidades, criou-se a partir da supremacia do binarismo, dos papéis determinados para homem e para mulher (FOUCAULT, 1988), ideias estas, fomentadas principalmente pelo cristianismo e pelo jogo econômico de poder. A sexualidade é um dispositivo de estimulação dos corpos, utilizado para intensificação dos prazeres. Seria uma rede de formação de conhecimentos, “símbolo de poder” (FOUCAULT, 1988, p. 100),

Segundo o filósofo, os corpos eram tratados de acordo com a camada social do indivíduo, sendo para a burguesia, fonte de inquietação e cuidado, a partir de garantia de higiene e saúde. A homossexualidade era tida como amoral e o tratamento era o mesmo dado a ladrões ou assassinos, o desviante era uma preocupação da “justiça penal, que por muito tempo ocupou-se da sexualidade, sobretudo sob a forma de crimes crapulosos e antinaturais” (FOUCAULT, 1988. p. 30). Não se produzia estudos sobre o tema, nem mesmo era dialogado, a não ser para incriminar sua prática. No entanto, o não falar de sexo também é um discurso, visto que pressupõe barreira, limite, proibição. “Não é um só, mas vários silêncios e são parte integrante das estratégias que apoiam e atravessam os discursos”. (FOUCAULT, 1988. p. 30).

A partir da Revolução Francesa, a homossexualidade saiu da esfera penal, mas ainda era assunto do Estado, tratada agora, como uma enfermidade, requerendo tratamento médico psiquiátrico. Desta forma, a homossexualidade passou a ser considerada uma doença:

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é o início, tanto do internamento dos homossexuais nos asilos, quanto da determinação de curá-los. Antes eles eram percebidos como libertinos e às vezes como delinquentes (...). A partir de então, todos serão percebidos no interior de um parentesco global com os loucos, como doentes do instinto sexual (Foucault 1988, p. 233-234).

Desta forma, a tese de que a homossexualidade, a ninfomania e a masturbação deveriam ser consideradas questões de saúde mental9, ganha força (FOUCAULT, 2010).

Dimensão sociológica: a construção social do preconceito

Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (2003), o preconceito e a discriminação se ancoram em padrões culturais que determinam hierarquias e valorizam um padrão de sexualidade em detrimento de outros. Assim, a sexualidade é moldada, controlada e vigiada para que seja exercida dentro da norma, e quando assim não for, submetem-se os “desviantes”, a preconceitos e discriminações que sustentam a homofobia (ABRAMOVAY, 2004).

De acordo com o sociólogo, para que a escola possa constituir-se enquanto espaço de socialização cultural, precisa antes, atuar na promoção,entre os estudantes das classes menos favorecidas, do capital cultural não herdado (BOURDIEU, 2003). A escola, da forma como vem exercendo seu papel, atua na reprodução de desigualdades, e se mostra incapaz de investir na contradição que existe entre a função disciplinadora e a tarefa social de produção de cidadãos (e cidadãs) agentes de transformação social. (idem).

A imposição da dominação é política, e serve para garanti-la, fazendo com que os dominados assumam como seus, os discursos dos dominantes, naturalizando-os. Segundo o antropólogo, este conceito se apresenta também nas palavras de Weber, na expressão “domesticação dos dominados” (BOURDIEU, 1998, p. 11). Neste contexto surge outro importante conceito, também de Pierre Bourdieu, que é violência simbólica, por meio do qual se percebe a disseminação das igualdades sociais no ambiente escolar (conservador), que desenvolve, continuamente, estratégias de reprodução das desigualdades.

9 Depois de ser vista como resultado de “inversão congênita”, e tratada como crime, no fim do séc. XIX, a homossexualidade, que desde 1977 era colocada no Código Internacional de Doenças (CID) como doença mental Deixa de fazer parte do rol de doenças em 1990, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia, desde 1985, deixou de conceber a “opção sexual” como doença.

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A violência simbólica se configura como uma coerção que só se institui por intermédio da adesão que o dominado acorda ao dominante quando, para pensar e, se pensar a sua relação com ele, dispõe apenas de instrumentos de conhecimento que tem em comum com o dominante e que faz com que essa relação pareça natural. Muitas vezes os preconceitos e as discriminações, se apresentam de forma velada, se reproduzem na escola de forma sorrateira. Embora às vezes imperceptível, a homofobia está instalada no cotidiano escolar e participa do senso comum. Borrillo (2009, p. 19, in: Lionço & Diniz, 2009).

Dimensão Político-pedagógica: o papel da escola na (des) construção do preconceito

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/1996), toda orientação sexual diferente da heteronormativa, seja homossexual, transexual ou de outro tipo, finalmente foi colocada como uma possibilidade real, saudável e possível. Em 1997, numa perspectiva não biologizante da sexualidade, os Parâmetros Curriculates Nacionias (PCN`s)trazem a proposta de que a Orientação Sexual seja tratada de forma transversal entre as diversas disciplinas do currículo escolar. Sobre essa mudança de visão a resito da diversidade sexual representa um complemento aos princípios democrátios e de cidadania:

a política foi complementada em 1997/98 pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para o Ensino Básico, cujo décimo volume trata da Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, sendo que neste caso o sentido da palavra “orientação” é a educação sobre a sexualidade. (REIS, 2012, p. 19).

Os PCN’s tratam mais especificamente da diversidade sexual, ao dizer que a escola deve intervir nos momentos de “discriminação de um aluno em seu grupo, com apelidos jocosos e às vezes questionamento sobre sua sexualidade.” (BRASIL, 2000, p. 145). O papel da escola na formação de cidadãs e cidadãos está previsto em documentos oficiais:

nas sociedades contemporâneas, a escola é local de estruturação de concepções de mundo e de consciência social, de circulação e de consolidação de valores, de promoção da diversidade cultural, da formação para a cidadania, de constituição de sujeitos sociais e de desenvolvimento de práticas pedagógicas. (BRASIL, 2007, p. 41).

No entanto, na opinião de Junqueira (2009), a escola tem produzido e reproduzido, muitas vezes sem nem mesmo perceber, padrões culturais e homofóbicos, e segue reproduzindo a heteronormatividade como modelo-padrão de vivência da sexualidade.

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Dimensão Formativa: A formação dos atores da escola e as políticas LGBT

A implementação das políticas LGBT nas escolas depende fundamentalmente do entendimento que os coordenadores pedagógicos tenham a respeito da homossexualidade e da heteronormatividade, ou seja, do seu Habitus10. Candau (1997) coaduna com este pensamento, ao afirmar que “Não é o simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que garante a presença de condições mobilizadoras de um processo formativo”. (CANDAU, 1997, p. 57). As condições para um real processo formativo, dependem também das representações que circulam o ambiente escolar, visto que “a sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas é social e política.” (LOURO, 1999, p.5) e culminarão nas ações pedagógicas da escola, uma vez que, “distintas e divergentes representações podem, pois, circular e produzir efeitos sociais”. (LOURO, 1999, p. 9). Percebe-se, diante das vivências e da literatura que “um corpo disciplinado pela escola é treinado no silêncio e num determinado modelo de fala” (LOURO, 1999, p. 14), ou seja, há uma forte vinculação entre a cultura escolar e o imaginário social, de forma que um reflete diretamente sobre o outro..

Espera-se que o coordenador pedagógico, dê suporte ao professor para atendimento às demandas socioeducativas e das transformações sociais, além de articular, transformar e fomentar as práticas escolares, cabendo a ele, “oferecer condições ao professor para que aprofunde sua área específica e trabalhe bem com ela, ou seja[...]. Imbricados no papel formativo, estão os papéis de articulador e transformador”. Placco; Almeida e Souza, (2011, p. 230). Nesse sentido, Medina (2002) afirma que a formação e a disponibilidade do profissional de coordenação pedagógica são imprescindíveis para que a escola desenvolva um trabalho organizado, efetivo e coerente com a realidade dos estudantes.

Metodologia

O estudo terá enfoque qualitativo e será desenvolvido em 2 escolas Municipais de Salvador/Bahia/Brasil, durante os anos 2017/2018. O mesmo terá como objeto de estudo, as

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Um dos conceitos mais importantes para o entendimento deste processo. Surgiu com Émile Durkheim e foi revisto por Bourdieu. Explica o condicionamento que a “estrutura social” exerce na formação das subjetividades, de forma contínua e contundente, que mesmo quando cessem as pressões, a ideia, a simbologia do resultado continua no íntimo das pessoas, como uma marca, que Bourdieu e Passeron (1982, p. 44) chamam de inculcação. Desta forma, delineam- se ”as formas de ser” dos “campos” ou “grupos consensuais”, ou seja, que no decorrer do processo de socialização, as experiências são repassadas culturalmente entre os sujeitos sociais, criando assim, “percepções determinadas” que são introjetadas de forma sutil e continuamente.

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ações pedagógicas para promoção do Respeito à Diversidade Sexual e Combate à Homofobia. Os procedimentos metodológicos empregados serão a análise documental do Projeto Político Pedagógico (PPP) e do livro de ocorrências da escola, questionários e entrevistas com alguns atores do ambiente escolar (coordenadores pedagógicos, professores, estudantes).

Considerações da pesquisadora

O sistema escolar “é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural” (BOURDIEU, 2003, p. 41). Desta forma, a uniformização pretendida na escola traz em sua simbologia, para o ambiente escolar, a homofobia presente na sociedade, juntamente com todos os tabus e mitos construídos social e culturalmente em torno das sexualidades (LOURO, 2003), sendo então:

um dos espaços mais difíceis para que alguém “assuma” sua condição de homossexual ou bissexual. Com a suposição de que só pode haver um tipo de desejo e que esse tipo - inato a todos - deve ter como alvo um indivíduo do sexo oposto, a escola nega e ignora a homossexualidade (provavelmente nega porque ignora) [...[. O lugar do conhecimento mantém-se, com relação à sexualidade, como lugar do desconhecimento e da ignorância (Louro, 1999, p. 30).

São reiteradamente relatadas situações de homofobia no cotidiano escolar (BORRILLO, 2010 apud FRANÇA, e VIEIRA, 2012), os quais podem ser percebidos em brincadeiras, piadinhas, situações de humilhação, segregação dos “diferentes” e até mesmo, abandono escolar por quem sofre tais situações (CASTRO, ABRAMOVAY E SILVA, 2004). Devido à concepção social de que há uma sexualidade padrão, muitas vezes adolescentes que se reconheçam atraídos (as) por pessoa do mesmo sexo, tendem a se ocultar, por medo de serem rejeitados (as) ou agredidos (as).

[...] para que um (a) jovem possa vir a se reconhecer como homossexual será preciso que ele (ela) consiga desvincular gay e lésbica dos significados a que aprendeu a associá-los, ou seja, será preciso deixar de percebê-los como desvios, patologias, formas não-naturais e ilegais de sexualidade. (LOURO, 2008, p. 83-84).

Diante de vários conceitos encontrados na literatura para definir a homofobia, foi adotada nesta pesquisa a seguinte definição:

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hostilidade geral, psicológica e social contra aquelas e aqueles que, supostamente, sentem desejo ou têm práticas sexuais com indivíduos de seu próprio sexo. Forma específica do sexismo, a homofobia rejeita, igualmente, todos aqueles que não se conformam com o papel predeterminado para seu sexo biológico. Borrillo (2010 apud FRANÇA, e VIEIRA, 2012, p. 34)

Mesmo hoje, com tantas mudanças garantidas por meio das conquistas da sociedade organizada, a qual tem demonstrado maior aceitação em relação às diversidades, notadamente, as de orientação sexual, e em que a militância de movimentos LGBT tem impulsionado tal mudança social, ainda é possível observar como estes modelos binários de gênero estão presentes na escola e o quanto estes contribuem para a perpetuação de preconceitos e discriminações contra as pessoas que não se enquadram em tais padrões.

A ainda que atue na perspectiva de manter as desigualdades “herdadas” e de reprodução das classes, a escola teria condições de promover a socialização, caso se disponha a oferecer aos estudantes de classes menos favorecidas as condições necessárias à aquisição capital cultural não herdado (BOURDIEU, 2003). No entanto, seria ingenuidade imaginar que a escola, da forma como está estruturada, possa protagonizar tal embate e promover as contradições que poderiam culminar em mudança significativa, substancial, e desta forma, “impedir a instituição encarregada da conservação e da transmissão da cultura legítima, de exercer suas funções de conservação social” (BOURDIEU, 2003, p. 58).

Como pergunta central, pretendemos responder nesta pesquisa: Quais as lacunas que se interpõem entre as políticas públicas de Combate à homofobia e a Promoção da Cidadania LGBT na escola estudada? A partir deste questionamento surgem outros, que chamamos de perguntas subsequentes: O que pensam os coordenadores pedagógicos, professores e estudantes envolvidos na pesquisa, a respeito de diversidade sexual e da homofobia? Quais as ações de Respeito à cidadania LGBT e de combate à homofobia, desenvolvidas pela coordenação pedagógica nas referidas escolas? Os/As coordenadores/as Pedagógicos/as e Professores/as recebem formação inicial e/ou continuada sobre como lidar com a diversidade sexual?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORRILLO, D. (2009) in LIONÇO, T. & DINIZ, D. Homofobia & educação: um desafio ao silêncio. Letras Livres. 2009.

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Referências

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