Comercialização de
Energia – ACL e ACR
Prof. Alvaro Augusto W. de Almeida
Universidade Tecnológica Federal do Paraná Departamento Acadêmico de Eletrotécnica alvaroaugusto@utfpr.edu.br
Generalidades
• O fundamento teórico usado no projeto RE/SEB foi de que a expansão do setor seria garantida por meio de
negociações no mercado baseadas em um preço spot.
• Contudo, o racionamento e os problemas decorrentes dele levaram o novo governo iniciado em 2003 a reestruturar a comercialização de energia no setor elétrico. Uma das
reformas foi a criação do Ambiente de Contratação Livre (ACL), que passou a exercer as atividades do MAE. Outra reforma foi a criação do Ambiente de Contratação
Regulada (ACR), no qual a energia é comercializada exclusivamente via leilões.
• A CCEE é responsável pela operacionalização tanto do ACL quanto do ACR.
Principais Produtos da CCEE
• Liquidação MCP: apuração mensal das sobras e déficits do Mercado de Curto
Prazo.
• RRV: Reajuste da Receita de Venda. Atualização monetária da Receita Fixa e
do CVU e da Receita de Venda das UTEs do ACR na modalidade por Disponibilidade.
• MCSD: Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits das distribuidoras do
ACR.
• Energia de Reserva: A CCEE representa os agentes de consumo nos leilões de
energia reserva.
• Regime de Cotas de GF: As hidrelétricas alcançadas pela MP 579/2012 têm
suas remunerações decorrentes da aplicação de tarifas definidas pela ANEEL sobre suas respectivas Garantidas Físicas.
• Regime de Cotas de Angra I e II: Correspondente à remuneração das usinas
Principais Produtos da CCEE em 2013
Leilões de Energia Nova
• As distribuidoras submetem anualmente suas Declarações de Necessidade de Contratação ao MME.
• Os leilões de compra de energia nova são realizados com antecedência suficiente para que o novo empreendimento possa se instalar: A-3: três anos de antecedência; A-5: cinco anos de antecedência.
• Prazo de contratação: 15 a 30 anos. • Leilões de projetos estruturantes
são promovidos unicamente para a contratação de energia dos em-preendimentos classificados como “estratégicos” e de “interesse públi-co” pelo CNPE.
Leilões de Energia Existente
• Leilões de compra que visam a contratação de energia proveniente de empreendimentos em operação.
• Prazos de contratação:
• 3 a 15 anos no caso dos leilões A-1.
Leilões de Fontes Alternativas
• Leilões que têm o objetivo de aumentar a participação de PCHs, usinas eólicas e de biomassa na matriz elétrica brasileira.
• O Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica), criado em 2002, tinha objetivo semelhante.
• O Decreto 5.163/2004 prevê a possibilidade de realização de Leilões de Fontes Alternativas entre os leilões A-1 e A-5.
Leilões de Energia de Reserva
• Regulamentos pelo Decreto 6.353/2008.
• Usados para implementar políticas energéticas, como a promoção de fontes específicas.
• A energia garantida dos empreendimentos de Energia de Reserva não pode constituir lastro para revenda de energia.
• A Energia de Reserva é contabilizada e liquidada exclusivamente no Mercado de Curto Prazo da CCEE.
• Os custos da Energia de Reserva são rateados por todos os consumidores por meio do Encargo de Energia de Reserva (EER).
CONER – Conta de Energia de Reserva
Alguns Critérios
• Custo do Déficit: custo econômico da falta de energia, estimado probabilisticamente. • Custo Marginal da Expansão (CME): Custo da adição ao sistema de uma usina por
expansão.
• Índice Custo-Benefício (ICB): computa o custo da energia comercializada levando em conta:
• A configuração do parque gerador vigente.
• Os cenários hidrológicos plausíveis, dado o histórico.
• O CVU declarado pelo empreendedor no processo de habilitação técnica, e sua trajetória
futura.
• O padrão sazonal de produção de energia esperado do empreendimento. • O custo fixo das usinas.
• A projeção de cargas.
Outros Critérios
• Custo Variável Unitário (CVU): Custo de operação e manutenção das UTEs, proporcional à quantidade de energia produzida.
• Taxa de Inflexibilidade: taxa de utilização mínima das UTEs, alheios aos critérios operacionais da usina.
• Comprovação de disponibilidade de combustível: Garantia de que uma UTE terá
capacidade de entrar e funcionamento quando solicitado. Como lembra o INSTITUTO ACENDE BRASIL (2012), “em 2006, cerca de 4.000 MW médios de termelétricas a
gás natural tiveram que ser retirados da configuração de oferta do sistema por falta de fornecimento de combustível pela Petrobrás”.
• Energia Assegurada: Energia esperada do sistema, com uma determinada probabilidade de déficit. Calculada pelo Newave.
• Energia Firme: Energia que cada UHE seria capaz de produzir durante o período crítico do sistema (junho de 1949 a novembro de 1956). Calculada pelo MSUI.
Armazenamento e CMO no SEB durante o
período crítico
Definições Regulatórias
• Lastro para venda: possibilita controlar a oferta
estrutural de energia proporcionar flexibilidade para a comercialização de energia, desvinculando as
entregas físicas de energia das transações comerciais individuais.
• Cláusulas contratuais de indexação: mitigam a exposição dos empreendedores aos riscos da variação de custos de seus insumos de produção.
Lastro Para Venda
• O Lastro para Venda tem como base a Garantia Física de cada usina, que é a quantidade de energia que uma usina adiciona ao sistema levando em conta critérios de segurança econômicos e probabilísticos.
• O Critério econômico é obtido pela equalização do CMO e do CME.
• O critério probabilístico foi estabelecido pelo CNPE e define o Lastro Físico de cada usina de modo que a probabilidade de déficit seja igual ou menor a 5%.
Teoria dos Leilões
• Princípio da revelação: constatação de que é possível definir um conjunto de
regras que leve os agentes a revelar suas verdadeiras percepções sobre o valor de um produto, mesmo que não sejam conhecidos os perfis dos demais
participantes.
• Descoberta de preços: processo de revisão das avaliações dos proponentes no
decorrer de um certame, decorrente da observação do comportamento dos outros agentes. Lances mais agressivos aumentam a probabilidade de se vencer o
certame, mas também elevam o risco do vencedor se arrepender ao verificar que o valor comum era diferente do valor que ele havia preliminarmente estimado. Esse processo é também denominado “maldição do vencedor”.
• Tais princípios são relacionados ao Dilema do Prisioneiro da Teoria dos Jogos.
O Dilema do Prisioneiro
• Jogo não cooperativo de soma zero.
• Dois indivíduos cometem um crime em conjunto e são capturados.
• A polícia interroga cada um deles
separadamente e oferece as seguintes opções:
• Se ficarem calados (cooperação), ambos serão
condenados a um ano de cadeia.
• Se ambos confessarem (falta de cooperação),
ambos serão condenados a dois anos.
• Se apenas um confessar (traição), aquele que
confessou ganhará liberdade e o outro será condenado a cinco anos.
Matriz de Resultados
A Melhor Estratégia Para Ambos
A Melhor Estratégia Para “V”
A Melhor Estratégia Para “D”
O Equilíbrio de Nash
Nomeando os Quadrantes
Nomeando os Quadrantes
Nomeando os Quadrantes
Nomeando os Quadrantes
Jogos de Soma Zero
• John von Neumann e Oskar Morgenstern, 1944: “Theory of Games and Economic Behavior”. 625 páginas.
• Nos jogos de soma zero o ganho de um jogador é igual à perda do outro.
• Exemplos: todos os esportes olímpicos,
considerando-se que nos esportes coletivos (futebol, vôlei, etc.) os jogadores são
Jogos de Soma Não Zero
• John Forbes Nash, 1950.
• Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1994, juntamente com Reinhard Selten e John Harsanyi, (“pelas suas análises pioneiras do equilíbrio na teoria dos jogos não cooperativos”) .
• “A Beautiful Mind” (2002).
• Nos jogos de soma não zero os ganhos totais dos jogadores são não nulos.
• Exemplos: A “tragédia dos comuns” e suas representações modernas, como a pesca predatória, o desmatamento, o aquecimento global, o crescimento populacional, a poluição hídrica e o uso descontrolado de plásticos não biodegradáveis.
Voltando aos leilões...
• Leilão eficiente é aquele que induz os agentes a submeterem lances baseados em suas verdadeiras avaliações e, consequentemente, que é capaz de:
• Nos leilões de venda, assegurar a venda do produto ao comprador que dá maior preço
ao produto.
• Nos leilões de compra, assegurar a aquisição do produto ofertado pelo menor preço.
• Em um leilão de compra, o lance dos proponentes vendedores tipicamente é baseados em dois fatores:
• quanto menor o seu lance de preço, maior é sua chance de efetuar a venda; por outro
lado;
• quanto maior o seu lance de preço, maior tende a ser a receita adquirida na transação,
caso seja efetuada.
Tipos de Leilão
• Leilão reverso (“Reverse auction”): os participantes submetem quantos lances quiserem, desde que o preço do novo lance seja inferior ao do último lance recebido. O leilão se encerra quando não houver mais lances.
• Leilão de envelope fechado de primeiro preço: os vendedores participam por meio de um único lance, submetido por escrito, contendo o preço ao qual estão dispostos a ofertar o produto. O negócio é fechado com o proponente que ofertar o produto ao menor preço, ao seu respectivo valor de lance >> Dilema do
Prisioneiro.
• Leilão de envelope fechado de segundo preço: igual ao leilão de primeiro preço. Contudo, o vencedor é aquele que oferecer o segundo menor preço. A estratégia ótima dos proponentes vendedores consiste em submeter lance de preço igual ao seu custo de produção, pois este é o preço que maximiza a sua probabilidade de vitória no leilão.
Leilão da CERJ – Envelope Fechado de Melhor Preço.
R$ 605 milhões, ágio de 30,27% sobre o preço
Alguns Leilões Recentes – 25/11/2015
• Jupiá e Ilha Solteira
• Vencedor: China Three Gorges.
• Oferta de R$ 2.381.037.417,00/ano. • Preço-teto pela prestação do serviço: R$
2.381.037.418,68/ano.
• Bonificação de outorga: R$ 13.803.752.349,87.
• Governador Parigot de Souza (Capivari/Cachoeira)
• Vencedor: Copel GT
• Oferta de R$ 130.865.794,29/ano.
• Preço-teto pela prestação do serviço: R$
130.865.794,29/ano.
• Bonificação de outorga: R$ 574.826.745,42.
Alguns Leilões Recentes – 25/11/2015
• Usina Rochedo
• Vencedor: Celg GT.
• Oferta de: R$ 5.006.000,00 (deságio de 13,58%). • Preço-teto pela prestação do serviço: R$
5.792.970,07/ano.
• Bonificação de outorga: R$ 15.820.919,60.
• Garcia, Bracinho, Cedros, Salto e Palmeiras
• Vencedor: Celesc Geração.
• Oferta: R$ 68.963.090,05 (deságio de 5,21%). • Preço-teto pela prestação do serviço: R$ 72,753
milhões/ano.
• Bonificação de outorga: R$ 228.559.551,80.
Governança dos Leilões
Como São Realizados os Leilões
Leilões de Energia Nova
• Primeira fase:
• Os empreendedores disputam entre si o direito de participar da segunda fase. Nesta
primeira fase são ofertados aproveitamentos hidrelétricos inventariados pela EPE e com potência superior a 50 MW.
• Os proponentes podem analisar os s Estudos de Viabilidade Técnico-Econômica,
Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), e a Licença Prévia Ambiental, previamente obtidos sob a coordenação da EPE.
• Segunda fase: uma vez definidos os aproveitamentos que cada empreendedor poderá leiloar, eles disputam entre si contratos de comercialização de energia em dois grandes blocos:
• Os empreendimentos a serem comercializados na “modalidade por quantidade”. • Os empreendimentos a serem comercializados na “modalidade por disponibilidade”
Leilões de Energia Nova – 1ª Fase
• Cada proponente insere no sistema computacional um único lance de preço ao qual está disposto a vender a energia proveniente do respectivo
empreendimento hidrelétrico.
• O lance de preço precisa ser igual ou inferior ao preço máximo permitido para o empreendimento, em R$/MWh.
• Se a diferença entre o menor lance e o segundo menor lance for inferior a 5% do menor lance, os dois empreendedores com os menores lances disputam a
segunda etapa da Primeira Fase, denominada Etapa Contínua.
Leilões de Energia Nova – 2ª Fase
• Cada empreendedor insere lance declarando o número de lotes de energia que está disposto a ofertar a este preço.
• Se a quantidade de lotes ofertada na rodada for superior à Oferta de Referência, o Preço Corrente é reduzido e se inicia uma nova rodada para recebimento de lances de quantidade de lotes.
• Se a quantidade de lotes ofertada na rodada for igual ou inferior à Oferta de Referência, a Etapa Uniforme é encerra.
• Na Etapa Discriminatória os empreendedores submetem um único lance de preço de venda para os lotes remanescentes na última rodada da Etapa
Uniforme. O preço de lance precisa ser igual ou inferior ao Preço Corrente da última rodada.
Leilões de Energia Nova – 1ª Fase
Leilões de Energia Nova – 2ª Fase
Garantias dos CCEARs
Garantias dos CCEARs
Expansão da Geração via Leilões (MWmed)
Referências do Capítulo 4
• CCEE, Tipos de leilões, http://goo.gl/BlBLIr
• FIANI, R. Teoria dos jogos, com aplicações em economia, administrações e ciências sociais. 2006.
• MATHIAS, S. A dinâmica dos leilões de energia no Setor Elétrico Brasileiro, Eletronuclear, http://slideplayer.com.br/slide/365509
• MELO, E. Dinâmica da reestruturação do setor elétrico – o processo de
comercialização de energia. 2008. http://slideplayer.com.br/slide/365560 • INSTITUTO ACENDE BRASL (2012). Leilões no Setor Elétrico Brasileiro:
Análises e Recomendações. White paper 7, São paulo, 52 p. 2012.
http://goo.gl/FkEd7G
• VIANA, A. Leilões de energia elétrica – mercado regulado brasileiro – visão panorâmica. Reunião Técnica da ABINEE. 2013. http://goo.gl/73gmfA