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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

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23 de agosto de 2017

4ª Câmara Cível

Apelação - Nº 0842627-51.2015.8.12.0001 - Campo Grande Relator – Exmo. Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte

Apelante : Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A. Advogado : Wilson Roberto Victorio Santos (OAB: 6726/MS)

Advogado : Henrique Alberto Faria Motta (OAB: 113815/RJ) Advogado : Pedro Henrique Bandeira Sousa (OAB: 155834/RJ) Advogado : Fabio João Soito (OAB: 114089/RJ)

Apelada : Nazha Rusten Costa Irabi

Advogado : Fabiano Espíndola Pissini (OAB: 13279/MS)

Advogado : Helen Cristina Cabral Ferreira Loubet (OAB: 11782/MS) Apelado : José Carlos Camargo

Advogado : Fabiano Espíndola Pissini (OAB: 13279/MS)

Advogado : Helen Cristina Cabral Ferreira Loubet (OAB: 11782/MS)

E M E N T A – RECURSO DE APELAÇÃO – COBRANÇA DE SEGURO DPVAT – MORTE DO NASCITURO PROVOCADA POR ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – INDENIZAÇÃO DEVIDA A AMBOS OS PAIS – PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

Segundo precedentes do Superior Tribunal de Justiça, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana, considera-se devida a indenização do seguro DPVAT na hipótese de morte do nascituro provocada por acidente automobilístico, motivo pelo qual mantém-se incólume a sentença que concedeu a indenização aos pais do nascituro.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator.

Campo Grande, 23 de agosto de 2017.

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R E L A T Ó R I O

O Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte.

Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A, ré nos autos da ação de cobrança ajuizada por José Carlos Camargo e Nazha Rusten Costa Irabi José Carlos Camargo, inconformada com a sentença que julgou procedentes os pedidos formulados pelos autores, interpõe recurso de apelação.

Em suas razões recursais (f.126-133), a seguradora narra que o magistrado a quo julgou procedente o pedido de indenização formulado na inicial "em razão da morte prematura do feto, isto é, pelo falecimento deste ainda quando no ventre da genitora, sob a alegação de que o natimorto adquiriu a personalidade necessária para ter o direito previsto no art. 3º, da Lei nº 6.194/74" (f.128)

Todavia, sustenta merecer reforma a sentença, haja vista que não existe o dever de indenizar porque a verdadeira vítima do acidente foi a Apelada, haja vista ter sido ela quem sofreu toda a dor pela interrupção na gestação, ressaltando "que o natimorto sequer adquiriu personalidade civil, motivo pelo qual não há que se admitir a ocorrência do fato jurídico previsto no art.3º da Lei em comento" (f.129).

Enfatiza que o ordenamento jurídico brasileiro entende que a interrupção da vida intra-uterina não enseja o pagamento de seguro obrigatório, pois o nascituro não pode ser considerado "pessoa vitimada" para fins de pagamento do DPVAT.

Transcreve entendimento jurisprudencial e conceito doutrinário sobre o nascituro, pedindo, ao final, provimento ao recurso de apelação para o fim de que seja julgado improcedente o pedido de indenização formulado na inicial "porquanto o nascituro somente adquire personalidade jurídica, com a consequente aquisição de direitos e obrigações, a partir do nascimento com vida, que não é o caso dos autos" (f.132).

Em contrarrazões apresentadas à f.140-153, os apelados batem-se pela manutenção da sentença recorrida

V O T O

O Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte. (Relator)

Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A, ré nos autos da ação de cobrança ajuizada por José Carlos Camargo e Nazha Rusten Costa Irabi José Carlos Camargo, inconformada com a sentença que julgou procedentes os pedidos formulados pelos autores, interpõe recurso de apelação.

Em suas razões recursais (f.126-133), a seguradora narra que o magistrado a quo julgou procedente o pedido de indenização formulado na inicial "em razão da morte prematura do feto, isto é, pelo falecimento deste ainda quando no ventre da genitora, sob a alegação de que o natimorto adquiriu a personalidade necessária para ter o direito previsto no art. 3º, da Lei nº 6.194/74" (f.128)

Todavia, sustenta merecer reforma a sentença, haja vista que não existe o dever de indenizar porque a verdadeira vítima do acidente foi a Apelada, haja vista ter sido ela quem sofreu toda a dor pela interrupção na gestação, ressaltando "que o

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natimorto sequer adquiriu personalidade civil, motivo pelo qual não há que se admitir a ocorrência do fato jurídico previsto no art.3º da Lei em comento" (f.129).

Enfatiza que o ordenamento jurídico brasileiro entende que a interrupção da vida intra-uterina não enseja o pagamento de seguro obrigatório, pois o nascituro não pode ser considerado "pessoa vitimada" para fins de pagamento do DPVAT.

Transcreve entendimento jurisprudencial e conceito doutrinário sobre o nascituro, pedindo, ao final, provimento ao recurso de apelação para o fim de que seja julgado improcedente o pedido de indenização formulado na inicial "porquanto o nascituro somente adquire personalidade jurídica, com a consequente aquisição de direitos e obrigações, a partir do nascimento com vida, que não é o caso dos autos" (f.132).

Em contrarrazões apresentadas à f.140-153, os apelados batem-se pela manutenção da sentença recorrida

É o relatório, passo ao voto.

Extrai-se da leitura das razões recursais que a matéria devolvida ao exame deste Tribunal diz respeito em saber se o julgador de primeiro grau agiu ou não com acerto quando entendeu que a morte de nascituro provocada por acidente automobilístico gera o direito a indenização do seguro DPVAT.

Registro que mencionada matéria foi examinada em profundidade pelo Superior Tribunal de Justiça quando do julgamento do Recurso Especial n. 1415727/SC, ocorrido em 29 de setembro de 2014, que resultou em acórdão cuja ementa transcrevo:

DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO.

AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT.

PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA.

1. A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil - que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei.

2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva

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do nascituro - embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título referente a "crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658).

3. As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro - natalista e da personalidade condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros.

4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais.

5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei n. 6.194/1974. Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina.

6. Recurso especial provido. (REsp 1415727/SC, Rel. Ministro

LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014)

Em outro precedente do STJ, mais antigo e não unânime, restou decidido que a mulher grávida atropelada em acidente automobilístico, cujo feto vem a falecer, tem direito ao recebimento do seguro dpvat. Confira:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO SECURITÁRIO. SEGURO DPVAT. ATROPELAMENTO DE MULHER GRÁVIDA. MORTE DO FETO. DIREITO À INDENIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DA LEI Nº 6194/74.

1 - Atropelamento de mulher grávida, quando trafegava de bicicleta por via pública, acarretando a morte do feto quatro dias depois com trinta e cinco semanas de gestação.

2 - Reconhecimento do direito dos pais de receberem a indenização por danos pessoais, prevista na legislação regulamentadora do seguro DPVAT, em face da morte do feto.

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3 - Proteção conferida pelo sistema jurídico à vida intra-uterina, desde a concepção, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana.

4 - Interpretação sistemático-teleológica do conceito de danos pessoais previsto na Lei nº 6.194/74 (arts. 3º e 4º).

5 - Recurso especial provido, vencido o relator, julgando-se procedente o pedido.

(REsp 1120676/SC, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 04/02/2011)

Após mencionados precedentes, esta Quarta Câmara Cível, em processo da relatoria do Desembargador Amaury da Silva Kukinski, trilhou o entendimento do STJ. Vejamos:

RECURSO DE APELAÇÃO - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO DPVAT - GRAVIDEZ INTERROMPIDA DEVIDO AO ACIDENTE DE TRÂNSITO - DIREITOS DO NASCITURO GARANTIDOS PELO CÓDIGO CIVIL - DEVIDA A COBERTURA SECURITÁRIA À MÃE – SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

Apesar de o art. 2º do Código Civil condicionar a aquisição da personalidade jurídica ao nascimento com vida, resguardou os direitos do nascituro desde a concepção, e conforme disposto no art. 3º da Lei nº 6.194/1974, vê-se que o aborto decorrente de acidente de trânsito se adéqua perfeitamente ao preceito legal.

A legislação vigente sobre o DPVAT (Lei nº 6.194/1974) objetiva ressarcir o acidentado ou seus beneficiários nas hipóteses de morte, invalidez permanente e despesas médicas provenientes de acidente automobilístico, razão pela qual não há óbices a que a mãe, solteira, menor de 18 anos na data do fato, seja beneficiária do referido seguro.

(TJMS. Apelação n. 0834549-39.2013.8.12.0001, Campo Grande, 4ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Amaury da Silva Kuklinski, j: 23/06/2015, p: 24/06/2015).

Corroborando com o entendimento exprimido nos julgados acima, a Primeira Câmara Cível decidiu, in verbis:

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO – DPVAT – MORTE DO NASCITURO DECORRENTE DO ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO AOS PAIS – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES DO STJ – NEXO DE CAUSALIDADE DEMONSTRADO – RECURSO IMPROVIDO.

Conforme a orientação do Superior Tribunal de Justiça, é juridicamente possível o pagamento de indenização a título do seguro obrigatório DPVAT aos pais do nascituro, pela morte intrauterina do feto gestado.

(TJMS. Apelação n. 0803007-18.2014.8.12.0017, Nova Andradina, 1ª Câmara Cível, Relator (a): Des. Divoncir Schreiner Maran, j: 12/05/2015).

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Diante de tais precedentes e, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana, deve ser reconhecido o direitos dos recorridos ao recebimento de indenização securitária pela morte do nascituro, motivo pelo qual a manutenção da sentença recorrida é medida que se impõe.

Dispositivo

Posto isso, conheço do recurso de apelação interposto pela Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A e nego-lhe provimento.

Por fim, com fundamento no artigo 85, § 11, do CPC/20151, fixo os

honorários recursais em favor do advogado da parte autora no importe de 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, majorando aqueles estabelecidos na sentença (10%), considerando a complexidade da matéria debatida no recurso, o lapso de tempo necessário ao julgamento e a relevância da causa.

D E C I S Ã O

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO

RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte Relator, o Exmo. Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte.

Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte, Des. Dorival Renato Pavan e Des. Amaury da Silva Kuklinski.

Campo Grande, 23 de agosto de 2017.

rpa

1Art. 85. (...) §11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2o a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2o e 3o para a fase de conhecimento.

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