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22/05/2014 14:53:48 | Valor Recomenda

ESPECIAL: Ucrânia terá eleição crucial no domingo; “Rei do Chocolate” é o favorito

Gabriel Bueno e Ana Cristina Dib

De São Paulo

A Ucrânia realiza eleições presidenciais neste domingo, em um quadro de distúrbios no leste do país, problemas econômicos graves, tensão com a Rússia e perda recente de parte do seu território. Analistas ouvidos pelo Valor destacam a importância da votação, mas também notam que não há solução milagrosa à frente. Os desafios para a ordem geopolítica e financeira devem persistir, independente de quem vença.

Os especialistas, no entanto, acham pouco provável que Moscou intervenha no resultado. Segundo eles, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não tem interesse em continuar desafiando as grandes potências internacionais e correr o risco de endurecimento das sanções, o que debilitaria ainda mais a economia russa.

“Muito dependerá do nível de comparecimento”, diz a professora de Ciência Política da Universidade de Oxford, Gwendolyn Sasse, referindo-se à importância de uma participação forte para respaldar o futuro governo.

Sasse lembra que algumas pesquisas apontam que o comparecimento pode ficar em entre 70% e 85%, o que caso se confirme, segundo ela, seria “uma mostra forte de apoio ao regime”. Ela alerta, porém, que pode haver muitos distúrbios no leste do país, onde militantes pró-Moscou dominam as regiões de Donetsk e Luhansk, ameaçando separar-se do restante do país para se unir à Rússia.

“Obviamente, não será uma eleição totalmente normal”, diz o professor Frank Sysyn, diretor do Centro Peter Jacyk para Pesquisa da Ucrânia da Universidade de Alberta, no Canadá, com vários livros e artigos publicados sobre questões históricas e políticas do país europeu. Segundo Sysyn, a questão é se haverá votação em Donetsk e Luhansk. “Espero que a Rússia questione a legitimidade das eleições”, já que as eleições nessas regiões devem ter dificuldades, diz o professor.

Orysia Lutsevych, especialista em Ucrânia da organização independente Chatham House, em Londres, acredita que, com as eleições, as Forças Armadas do país tendem a se reorganizar sob o comando do novo presidente legítimo, que buscará manter a unidade. “Isso com certeza ajuda a combater as ameaças à integridade territorial e o vácuo na segurança. Mas acho que no dia da votação e nos dias seguintes o clima pode ficar bem tenso, porque os militantes separatistas vão tentar atrapalhar o processo eleitoral”, afirma.

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Turbulência na vizinhança

Moscou e Kiev têm mantido uma relação turbulenta nos últimos meses, reflexo das divisões dentro da própria Ucrânia. O problema começou quando o então presidente Viktor Yanukovych desistiu no último momento de um acordo para se aproximar da União Europeia, preferindo um pacote financeiro do governo do presidente russo, Vladimir Putin. A população pró-europeia do país não gostou e Yanukovych acabou deposto pelo Parlamento em fevereiro, acusado de responsabilidade na repressão violenta a protestos. Foi a vez, então, de o governo russo ficar descontente e reagir, elevando o preço do gás vendido aos ucranianos. O impasse em torno do gás preocupa também a União Europeia, já que uma parcela importante do gás russo em direção às nações da Europa passa pelo território ucraniano.

Outro problema mal resolvido entre os governos vizinhos é a anexação da Crimeia pelos russos em março, após a península ter votado em referendo para se separar da Ucrânia e se unir à Federação Russa. A incorporação não foi reconhecida pelos Estados Unidos nem pela União Europeia, que reagiram impondo sanções contra Moscou. Até agora foram poupados, porém, setores relevantes dos negócios bilaterais, como o de energia.

Após perder a Crimeia, a Ucrânia enfrenta atualmente protestos de militantes pró-Rússia no leste do país, nas províncias de Donetsk e Luhansk. Lideranças separatistas chegaram a declarar a independência da área, mas o governo russo não mostrou a mesma pressa que na Crimeia em agir. “Acho que a Rússia não está ativamente buscando anexar essas regiões. Se a situação na área se descontrolar, poderia haver uma intervenção, mas é muito improvável”, diz Sasse.

Sysyn aponta que Donetsk e Luhansk representam um déficit econômico para Kiev, pois são áreas com uma população mais envelhecida e um alto índice de criminalidade. As áreas têm uma quantidade considerável de minas de carvão, mas a Rússia não precisa disso, segundo o professor. Caso houvesse a anexação, o restante da Ucrânia seria majoritariamente pró-Europa.

“Acredito que Putin quer criar uma federação na Ucrânia. Ele não quer anexar mais territórios, quer uma área de influência”, afirma Sysyn. Orysia concorda com Sysyn e ressalta que o poder que o Kremlin exerce na região está diminuindo.

“Por inúmeros fatores, Putin gostaria de ver a Ucrânia sempre sob sua influência. A Ucrânia é um dos maiores compradores de gás da Gazprom e fornece equipamentos cruciais para as forças militares russas, entre eles tanques e aviões, 30% dos quais não podem ser substituídos por empresas russas. Além disso, a Rússia não tem interesse que a Ucrânia passe por um processo transparente e responsável de reformas, com base nas normas europeias, porque isso pode prejudicar acordos corruptos firmados entre as elites russas e ucranianas, especialmente nas indústrias de gás e de bens de produção. O maior controle sobre

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a Ucrânia também aumentaria a influência russa na Europa”, diz Orysia.

Rei do Chocolate

Os ucranianos votam neste domingo o primeiro turno das eleições. O favorito nas pesquisas é Petro Poroshenko, influente empresário conhecido como o “Rei do Chocolate”, à frente da segunda colocada, a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko. Poroshenko foi ministro do Comércio e, durante o governo de Tymoshenko, ocupou o posto de ministro das Relações Exteriores entre 2009 e 2010.

Dono de uma fortuna estimada em US$ 1,3 bilhão, segundo a revista Forbes, ele aparece com vantagem folgada nas pesquisas e poderia ganhar no primeiro turno. Em reportagem desta semana, o jornal “Financial Times” diz que o governo russo vê Poroshenko como um homem com quem se pode negociar, tendo já trabalhado com os dois lados da política ucraniana.

Já Yulia Tymoshenko, considerada por muitos a figura mais emblemática da oposição ucraniana, voltou ao cenário político do país em fevereiro, depois de ficar presa por mais de dois anos, acusada de corrupção e abuso de poder. Durante a campanha eleitoral, ela fez duros ataques à Rússia e prometeu que, se vencer, o país tentará tornar-se membro da União Europeia.

Se a disputa for mais apertada do que sugerem as pesquisas, o segundo turno deve ocorrer em 15 de junho. Seja qual for o resultado, não está claro, porém, como o novo governo poderá conseguir salvar uma economia que está à beira do colapso.

O sistema bancário do país precisa de uma recapitalização para se reerguer, enquanto o governo estima que necessita de US$ 35 bilhões para honrar seus compromissos nos próximos dois anos. As reservas internacionais continuam baixas e, no fim de abril, estavam em US$ 14,22 bilhões.

Recentemente, o primeiro-ministro interino Arseniy Yatsenyuk afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país pode encolher 3% este ano, após retrair 0,3% no ano passado, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Além disso, do início de 2014 para cá, a moeda do país, a hryvnia, já sofreu uma desvalorização acima de 40% em relação dólar.

“São tantas prioridades que é difícil saber por onde começar. Antes de tudo é preciso manter a segurança e a unidade do território. Será importante também promover a reforma constitucional e dar mais poderes para o Parlamento aprovar as reformas. É fundamental ampliar a parceiria comercial com a União Europeia, diversificar as exportações e direcioná-las para novos mercados como China, Brasil e Canadá”, afirma Orysia.

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Os distúrbios geopolíticos pioraram um quadro já delicado. A companhia russa Gazprom exige que Kiev pague US$ 3,5 bilhões por entregas de gás já realizadas e diz que os ucranianos devem pagar adiantado, caso queiram seguir recebendo o produto. Já o governo ucraniano acusa Moscou de impor um aumento abusivo no gás, a fim de pressioná-lo politicamente. A União Europeia tenta mediar o caso, mas não há solução por enquanto.

“Antes da crise, a economia da Ucrânia já estava em situação desesperadora”, afirma Sysyn. Segundo o professor, o país precisa fazer grandes reformas econômicas, reduzindo, por exemplo, os gastos com energia na indústria.

Ajuda Internacional

Em 2010, o país recebeu ajuda do FMI, mas o auxílio foi congelado, após o governo ucraniano fracassar em alterar os subsídios. No fim de abril deste ano, o FMI aprovou um novo pacote de ajuda, de US$ 17 bilhões. Apesar do plano de resgate, a diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, declarou no início deste mês que o empréstimo não será suficiente para tirar a economia do buraco e outras instituições teriam de colaborar. Em troca do financiamento, o FMI espera que Kiev adote amplas reformas, equilibrando suas contas e reduzindo subsídios.

“Não há resultado ideal nessas eleições, mas no momento Poroshenko parece ser o nome mais provável para estabilizar o país e fazer reformas”, diz a professora Sasse. Segundo ela, no entanto, não será fácil realizar essas mudanças. A eleição pode, de qualquer modo, romper o atual impasse no país e também em suas relações com a Rússia, acredita a pesquisadora de Oxford.

Para Taras Kuzio, economista britânico e pesquisador sobre Ucrânia, os conflitos na região só eclodiram recentemente, mas são consequência dos “quatro anos de corrupção massiva” durante o mandato de Yanukovych.

“A decisão de Yanukovych de abandonar os planos de integração com a Europa provocou a ira de estudantes e da classe média. Ucranianos insatisfeitos com a corrupção e com a piora da economia se juntaram a esses grupos, mas a gota d’água para a deposição dele foi a morte de 102 manifestantes durante protestos no início do ano”, afirmou Kuzio, acrescentando que a Rússia se aproveitou da situação caótica para anexar a Crimeia.

“A verdade é que a Rússia nunca reconheceu a soberania da Ucrânia sobre a Crimeia e viu vantagens na anexação

principalmente porque a península dá acesso ao Mar Negro. Os russos não respeitam a Ucrânia como um Estado independente. Apesar disso, acho muito pouco provável que Moscou intervenha no resultado das eleições. Putin superestimou o movimento

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separatista no leste da Ucrânia, mas descobriu que só tinha apoio minoritário em duas das oito regiões que falam russo. E ele tem consciência que, se atrapalhar que o novo presidente assuma o cargo, as sanções impostas pelas potências internacionais certamente vão ficar mais duras e isso pode ser devastador para a economia da Rússia”.

De fato, não só o governo ucraniano sai perdendo com o conflito. Caso o embate se agrave, a perspectiva para os russos não é nada animadora. No fim de abril, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou pela primeira vez desde 2008 o rating da Rússia, de “BBB” para “BBB-“, apenas um nível acima do grau especulativo. A S&P citou entre os motivos que contribuíram para a decisão “a fuga de capitais e o risco para os investimentos gerados pelas tensões com a Ucrânia”. O rublo já desvalorizou mais de 8% em relação ao dólar, do início do ano até o fim de abril, enquanto a bolsa russa recua 11% no ano.

Referências

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