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A EXPOSIÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES DA AMAZÔNIA AOS AGROTÓXICOS E UMA POSSÍVEL RELAÇÃO COM O ADOECIMENTO PSÍQUICO

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Academic year: 2021

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A EXPOSIÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES DA AMAZÔNIA AOS AGROTÓXICOS E UMA POSSÍVEL RELAÇÃO COM O ADOECIMENTO PSÍQUICO

Rosani Teresinha da Silva Stachiw*; Emanuel Maia; Sandro Vargas Schons; Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais; Universidade Federal de Rondônia-RO; Brasil.

Contato: rosani.stachiw@gmail.com

Palavras-chave: Saúde mental. Depressão. Trabalhador rural.

Os agrotóxicos surgiram com a promessa de combater a fome através do aumento da produção agrícola e do cultivo em larga escala. Sua ampla utilização no sistema agrícola mundial se, por um lado, garantiu a produção em larga escala, por outro, não acabou com a fome no mundo e, além disso, aumentou o risco de exposição da população a partir do trabalho, da contaminação do meio ambiente, da água e dos alimentos (BRASIL, 2016). Estes riscos muitas vezes trazem impactos negativos, podendo afetar de forma irreversível a saúde humana.

Vários problemas à saúde são associados ao uso e exposição aos agrotóxicos com efeitos de intoxicações agudas, subagudas e crônicas (Araújo, Greggio & Pinheiro, 2013). A intoxicação crônica é a mais difícil de ser associado ao uso dos agrotóxicos devido ao tempo elevado para apresentação dos sintomas, ocultando os sintomas de adoecimento físico e mental (Neto, 2014).

A prevalência de doenças crônica aumentou nos últimos anos, incluindo os transtornos psíquicos, os quais representam 13% da carga global de doenças e chegam a 31% do total de anos vividos sem qualidade (WHO, 2010). A depressão é uma doença de causa multifatorial que traz prejuízos ao funcionamento social, moral e profissional do sujeito, afetando, assim, relações familiares, desempenho no trabalho, etc (Pereira et al., 2017), entre outros aspectos acaba refletindo diretamente a qualidade de vida, bem como a uma maior utilização dos recursos de saúde, trazendo grandes danos para a pessoa afetada e toda a sociedade (Neto, 2014).

O adoecimento psíquico tem atingido milhões de pessoas ao redor do mundo, estima-se que cerca de 322 milhões de pessoas estão com depressão, relatado pela organização Mundial da Saúde-OMS, (2015). O Brasil é o país com maior prevalência de indivíduos deprimidos da América Latina, 5,8% da população, totalizando 11,5 milhões de brasileiros com esse transtorno (OMS, 2015).

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Embora as pesquisas sobre os impactos do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana tenham crescido nos últimos anos, ainda é insuficiente para conhecer a real dimensão de que a exposição ocupacional e o uso intensivo de agrotóxicos causem na saúde psíquica destes trabalhadores. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar a associação entre a utilização de agrotóxicos em uma prevalência de sintomas depressivos na área rural.

Participaram do estudo 80 agricultores, tendo a participação de um indivíduo por propriedade. Foram considerados critérios de inclusão para este estudo: ter entre 25 a 65 anos, homens ou mulheres, e estar exposto há algum tipo de agrotóxicos, pelas diversas formas (aplicação, manuseio, lavagem de maquinários, entre outros).

A área de estudo foi composta por municípios que possuem características geográficas, sociais, ambientais e econômicas semelhantes, e as propriedades são exploradas predominantemente pela agricultura familiar. Os municípios participantes foram: Alta Floresta do Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Cacoal, Castanheiras, Ministro Andreazza, Nova Brasilândia do Oeste, Novo Horizonte do Oeste, Pimenta Bueno, Rolim de Moura e Santa Luzia do Oeste, município do interior do estado de Rondônia.

Para a caracterizarão sociodemográfico foi utilizado um formulário (contendo, idade, sexo); uma entrevista semiestruturada (estilo do trabalho ocupacional, doenças pre-existente, exposição a agrotóxicos, etc) e o Inventário de Depressão de Beck (BDI) adaptado no Brasil por Cunha (2001) para avaliar os sintomas de depressão. O levantamento dos dados aconteceu entre janeiro a junho de 2018, na propriedade rural de cada participante. Este artigo foi aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Dos 80 agricultores entrevistados, 57 foram do sexo masculino e 23 do sexo feminino, com idade média de 45 anos (36,25%). O número superior de participantes do sexo masculino se deu devido aos critérios de inclusão. Dentre os entrevistados (52,5%) se autodeclararam pardos, (25%) brancos e (22,5%) se declararam negros.

A rotina de trabalho é intensa para 92,5% dos entrevistados, que relatam trabalhar de segunda a sábado e, em média, mais de oito horas por dia. Essa rotina extensa é devido as atividades de policultivo desempenhadas pelos trabalhadores, e pelo fato de que algumas culturas

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necessitam de cuidados diários (como é o caso das hortaliças e a criação de animais) além de haver, em geral, baixa disponibilidade de mão-de-obra.

Das propriedades investigadas, 69% usavam agrotóxicos de vários grupos e classes toxicológicas, dentre eles os mais utilizados, são os herbicidas com o princípio ativo glifosato e o paraquat e o inseticida peritróide. Estes produtos também são os que mais trazem preocupações a saúde devido à gravidade dos efeitos toxicológicos que causam no organismo (Brasil, 2016).

A maiorias dos agricultores (77%), tem pouco conhecimento sobre as medidas de

segurança no que diz respeito ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI), além, de um conhecimento insatisfatório, com relação aos prejuízos causados pela utilização de agrotóxicos e os impactos causados ao meio ambiente e à saúde humana. O número de entrevistados com problemas de saúde pre-existentes é de 48%, destes, 15% fazem acompanhamento médico e

medicamentoso, outros 22% utilizam algum tipo de medicamento prescrito.

Quanto aos resultados do BDI, o nível mínimo para sintomas depressivos é mais frequente entre os participantes, seguido do nível leve, moderado e grave (Figura 1). Sendo os sintomas que mais se evidenciaram foram os dos itens: 4- Insatisfação, 10- Choro, 11- Irritação, 13- Indecisão, 16- Insônia e 17- Fatigabilidade.

O transtorno depressivo é um construto psicológico, biológico, social e ambiental de alta prevalência, não se pode padronizar a depressão com uma simples característica com sintomas iguais para todos os indivíduos (Matos & Oliveira, 2013), visto que cada um reage a ela de uma maneira, variando de acordo com os fatores externos e internos de cada um compreende ainda na presença de sintomas físicos como, fadiga, fraqueza, tonturas, palpitações, cefaléia, mudanças no padrão do sono, falta de ar, entre outros (DSM-V, 2014).

Através da experiência vivenciada à campo, dos relatos das causalidades, e variáveis envolvidas no contexto do uso de agrotóxicos e das doenças pre-existentes relatadas pelos entrevistados, aliados aos resultados das entrevistas e do instrumento (BDI), o peso para a incidência (multifatorial) no transtorno psíquico é ainda maior. Corroborando com essa hipótese a literatura verificada (Pereira et al., 2017), que permite a associação entre a exposição crônica aos agrotóxicos e o desenvolvimento de sintomas e efeitos sinérgicos que são desconhecidos ou não são levados em consideração, como é o caso da depressão.

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Figura 1. Distribuição relativa dos agricultores (%) nas classes dos níveis de depressão pela escala de Beck (DBI) N=80.

Fonte: Dados da pesquisa.

O Brasil é o país mais depressivo da América Latina (OMS, 2015). Neste estudo os resultados encontrados para depressão (16,25%) estão acima da média nacional, que é, de 5,8%. A depressão piora a situação de vida da pessoa afetada, sendo necessário um esclarecimento sobre esse transtorno, que em algumas vezes são limitantes, principalmente na área rural.

Existem muitas lacunas de conhecimento quando se trata de avaliar a multiexposição ou a exposição combinada de agrotóxicos. Os dados encontrados neste estudo trazem informações relevantes quanto aos aspectos comportamentais significativos dos entrevistados, onde pode-se dar ênfase a utilização intensa e variada de agrotóxicos, a falta de proteção adequada (uso dos EPI’s), o desconhecimento pela maioria dos agricultores quanto aos riscos que os agrotóxicos podem causar à saúde humana e ao meio ambiente.

A depressão torna-se, a cada dia, uma grave questão de saúde pública, uma doença que inicialmente achava-se que prejudicava apenas as pessoas que a contraiam, agora se demonstra como uma epidemia social. Vencer o estigma, promover atitudes positivas da comunidade em relação aos portadores de transtornos mentais e estimular a procura pelo tratamento são atitudes e questões urgentes da saúde pública, principalmente na área rural.

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Referências

Araújo, J. N. G., Greggio, M. R., & Pinheiro, T. M. M. (2013). Agrotóxicos: a semente plantada no corpo e na mente dos trabalhadores rurais. Psicol. Rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 19, n. 3, 389-406. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v19n3/v19n3a05.pdf.

Brasil. (2016). Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a

Agrotóxicos. Tiragem: 1ª edição, versão eletrônica. Brasília: Ministério da Saúde. Recuperado de

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/agrotoxicos_otica_sistema_unico_saude_v1_t.1. Cunha, J. (2001). Manual em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1ª Edição, 171.

American Psychiatric Association-APA. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (5. ed.). Porto Alegre: Artmed Editora.

World Health Organization-WHO (2016). Media Centre. Depression. Geneva: WHO. Recuperado de http://www.who.int/mental_health/management/depression/en/.

Matos, A. C. S., & Oliveira, I. R. (2013). Terapia cognitivo-comportamental da depressão: relato de caso. Rev. Ciênc. Méd. Biol., Salvador, v.12, especial, p.512-519. ISSN 1677-5090. Recuperado de https://portalseer.ufba.br/index.php/cmbio/article/view/9203/6765.

Neto, M. G. F (2014). Intoxicação por agrotóxicos e surgimento de depressão: um estudo de caso. Pós-graduação em Ergonomia: produto e processo - Faculdade Sul-Americana/FASAM – Goiânia-GO. In: Guyton, A. C; Hall, J. E.; Tratado de Fisiologia Médica. Ed. 9º. Guanabara.

1997. Recuperado de

http://portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/21/47_IntoxicaYYo_por_agrotYxicos_e_surgimento _de_depressYo_um_estudo_de_caso.pdf.

Organização Mundial da Saúde (OMS). (2015). Relatório: depressão e outros distúrbios mentais comuns: estimativas globais de saúde. Recuperado em 15 de julho, de 2018, de https://nacoesunidas.org/oms-registra-aumento-de-casos-de-depressao-em-todo-o-mundo-no-brasil-sao-115-milhoes-de-pessoas/

Parreira, B. D. M., et al (2017). Sintomas de depressão em mulheres rurais: fatores sociodemográficos, econômicos, comportamentais e reprodutivos. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (USP). Acta Paul Enferm. 2017; 30(4):375-82. DOI http://dx.doi.org/10.1590/1982- 0194201700056.

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