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ESTIMATIVAS PRELIMINARES DA EXPORTAÇÃO LÍQUIDA BRASI- LEIRA E PARANAENSE DE ÁGUA VIRTUAL

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ESTIMATIVAS PRELIMINARES DA EXPORTAÇÃO LÍQUIDA

BRASI-LEIRA E PARANAENSE DE ÁGUA VIRTUAL

Jaquelini Gisele Gelain1

Márcia Istake2

Resumo

No Brasil ainda há poucos trabalhos que abordam o tema água virtual, mas este já vem sendo discutido em outros países desde a década de 1990 e recebe cada vez mais atenção. Água virtual é definida por Renault (2002) como sendo a quantidade de água necessária para que ocorra a produção de um determinado produto. Busca-se com o desenvolvimento do presente estudo estimar a exportação líquida de água virtual para o Brasil e para o Paraná, com des-taque para suas macrorregiões. Para atender ao objetivo aqui proposto, estimou-se uma ba-lança de água virtual para o País e uma para o Paraná como um todo, e por microrregião. Confrontou-se o resultado obtido da balança de água virtual com a disponibilidade hídrica nas bacias hidrográficas do Paraná. Verificou-se que tanto o Brasil como o Paraná são exporta-dores líquidos de água virtual confirmando a hipótese inicial desse estudo.

Palavras chave: Água virtual; Pegada hídrica; Balança de água virtual.

Abstract

In Brazil there are still few works that address virtual water, but this is already being discussed in other countries since the 1990s and increasingly receives attention. Virtual water is defined by Renault (2002) as the amount of water needed for the production of a product occurs. Search with the development of this study was to estimate the net virtual water export to Brazil and Paraná, with emphasis on its macro-regions. To meet the goal proposed here, we esti-mated the scale of virtual water for the country and for Paraná as a whole, and micro. Con-fronted the result of the balance of virtual water by water availability in river basins of Paraná. It was found that both Brazil and Paraná are net exporters of virtual water, confirming the initial hypothesis of this study.

Key words: Virtual water; Water footprint; Virtual water balance.

1 Graduanda do 5° ano de Ciências Econômicas Universidade Estadual de Maringá – jaque_gelain@hotmail.com 2 Professora Dr.ª do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá – mistake@uem.br

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1 Introdução

Desde o início da civilização a água é um recurso importante, tanto para localização da produção, quanto para geração do excedente e consequentemente para o comércio. Como exemplo pode-se citar o rio Nilo para o Egito e os rios Eufrates e Tigre para a Mesopotâmia. Para que as necessidades básicas do ser humano sejam atendidas, todos os países do mundo consomem produtos cuja origem encontra-se, entre outros setores, no agropecuário. Entretanto, a produção dos mesmos não pode ocorrer, muitas vezes, na quantidade neces-sária para atender o consumo interno do país em virtude de fatores climáticos, quebra de safra, falta de terras cultiváveis, água necessária, dentre outros. Surge então a necessidade do comércio internacional, ou seja, buscar em outros mercados o que não se consegue pro-duzir internamente. Cabe ressaltar que, quando há o comércio não é apenas o produto final que está sendo vendido, mas também todos os insumos e recursos naturais, incluído a água, nele presentes para que a produção possa ser realizada.

O termo é “água virtual” é utilizado para determinar a quantidade de água necessária para que a produção de um determinado bem ocorra. Allan (2003, p. 5) o define como “water

needed to produce agricultural commodities. The concept could be expended to include the water needed to produce non-agricultural commodities”. O termo foi posteriormente redefinido

por Renault (2002, p.01) “By definition virtual water is the water embedded in a product, i.e.

the water consumed during its process of production. (…)”. Renault (2002) refere-se a água

virtual como sendo a água incorporada em um produto, durante o seu processo de produção e ressalta que os processos produtivos agrícolas, mais especificamente, os de alimentos são os que mais agregam quantidade de água, ao longo de sua cadeia produtiva.

A água se faz presente nas diferentes etapas do processo produtivo seja ele agrícola, pecuária ou na industrialização. Algumas vezes a mesma não está ali efetivamente na forma líquida, como é conhecida, mas encontra-se indiretamente no produto, pois foi utilizada ao longo de seu processo produtivo. Um exemplo são os alimentos em grãos que, em tese, são “secos” quando observados, mas necessitaram da água para se desenvolver, serem limpos e preparados para a comercialização. Considerando a soja triturada, principal produto agrícola exportado pelo Brasil, para produzir um quilo da mesma utiliza-se 2.197 litros de água, ou seja, mais de duas caixas d’água de mil litros, de acordo com Mekonnen e Hoekstra (2010b), considerando a média para o Brasil.

O Brasil é um país onde os produtos agrícolas são relevantes tanto para sua economia doméstica, quanto para o comércio exterior. Segundo o IBGE (2013) em 2013 o setor agro-pecuário foi responsável por 5,7% do PIB brasileiro. Em conformidade com o MAPA (2014) nesse mesmo ano as exportações do setor atingiram 34,76% do total das exportações brasi-leiras, enquanto as importações deste segmento representaram apenas 5,21%, o que contri-bui para gerar um saldo positivo na balança comercial do setor.

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Considerando que a água é um importante insumo necessário para a produção agrí-cola e que o Brasil, assim como o Paraná, reúnem as condições necessárias para produção e exportação desses produtos, surgem alguns questionamentos. O balanço de água virtual brasileiro é superavitário ou deficitário? Observando as microrregiões paranaense aquelas com maior volume de recursos hídricos são exportadoras líquidas de água virtual?

Busca-se com o desenvolvimento do presente estudo construir uma balança relativa à água virtual presente nas relações de comércio internacional de produtos de origem agrícola exportados e importados nos anos de 2008 e de 2013, para o Brasil e para o Paraná como um todo, bem como para as microrregiões do estado do Paraná. Para atingir o objetivo aqui proposto, será estimada a balança de água virtual para produtos agrícolas selecionados, sendo: a) 153 produtos para a balança brasileira e paranaense; b) 195 produtos para a ba-lança referente às microrregiões do Paraná. A hipótese inicial do presente estudo é de que o Brasil, como um todo, e o Paraná sejam deficitários na exportação líquida de água3.

Conside-rando as microrregiões paranaenses, a hipótese é de que aquelas cuja disponibilidade hídrica for menor, sejam importadores líquidos de água virtual, enquanto as que apresentarem maior disponibilidade hídrica sejam identificadas como exportadoras líquidos de água, na sua forma virtual.

O presente trabalho traz, além dessa introdução, os conceitos relevantes para o de-senvolvimento do tema, tais como: água virtual; pegada hídrica; água azul; água verde; e, água cinza. Apresenta uma discussão acerca da disponibilidade hídrica, na seção dois. Na seção três é apresentada a análise descritiva a respeito do comércio internacional. A metodo-logia, bem como, a fonte dos dados utilizados, é descrita na seção quatro. Já a quinta seção é dedicada à análise dos resultados obtidos, a partir da estimativa da balança de água virtual. Por fim, a seção seis é destinada às considerações finais.

2 Revisão de literatura

O termo água virtual, conforme aponta Allan (2003, p.4), foi inicialmente pensado por um economista israelense, Gideon Fishelson, em meados de 1980, mas não com o nome água virtual. Inicialmente foi utilizado o termo “água embutida”, em inglês “embedded water”. Este observou que não era sensato exportar mercadorias ricas em água quando a mesma era escassa na região exportadora. Por volta de 1994 o termo foi redefinido como “virtual water” pelo professor A. J. Allan e popularizado pelo professor A. Y. Hoekstra. Na publicação World Water Concil (2004) A. J. Allan comenta sobre a origem do termo “virtual water”:

3 Faz-se necessário, entretanto, destacar uma diferenciação entre a balança de água virtual proposta pelo trabalho e a balança comercial como se conhece, onde as exportações são positivas e as importações negativas. Na ba-lança de água virtual as exportações passam a ser negativas, pois “sai” água do país; enquanto as importações se tornam positivas, pois “entra” água no país, mesmo que implicitamente. A água aqui considerada é a água embutida no processo produtivo dos diferentes produtos.

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The concept of Virtual Water was coined in London in about late 1994 some years after finding that the term 'embedded water' did not have much impact. The idea is derived from Israeli analysis by Gideon Fishelson et al in the late 1980s which pointed out that exporting Israeli water in water intensive crops did not make much sense (Allan, 2004, p. i).

Água virtual, de acordo com Hoekstra e Hung (2002, p.7), é a quantidade total de água utilizada no processo de produção de um produto agrícola ou industrial. Os autores destacam que um país com escassez de água pode necessitar importar produtos intensivos em água e exportar produtos menos intensivos neste recurso, o que implica necessariamente em expor-tação e imporexpor-tação de água na forma virtual. Hoekstra et al (2011, p. 42) afirmam que “um termo alternativo para a pegada hídrica de um produto é ‘conteúdo de água virtual’”, mas chamam a atenção para o fato de que “o significado deste último é mais restrito”. Hoekstra et

al (2011, p.42) enfatizam que “a pegada hídrica de um produto é semelhante ao que se chama

em outras publicações de ‘conteúdo de água virtual’ do produto, água embutida, incorporada, exógena (...)”. Cabe destacar, entretanto, que o termo pegada hídrica diz respeito ao tipo da água utilizada no processo produtivo, enquanto o termo água virtual, que considera o total de água embutida no produto, é melhor utilizado no contexto internacional, quando se trata da exportação ou importação da água na forma virtual, que é o objeto de estudo do presente trabalho.

Os termos conteúdo de água virtual e água incorporada, no entanto, referem-se ao volume de água incorporado no produto em si, enquanto o termo ‘pe-gada hídrica’ se refere não somente ao volume, mas também ao tipo de água que foi utilizada (verde, azul, cinza), bem como quando e onde. Portanto, a pegada hídrica de um produto é um indicador multidimensional, enquanto o ‘conteúdo de água virtual’ ou a ‘água incorporada’ refere-se somente ao vo-lume (HOEKSTRA et al, 2011, p. 42).

Como Hoekstra et al (2011) destacam, o termo água virtual é mais restrito que o termo pegada hídrica. Consideram que o primeiro é melhor utilizado no contexto de comércio inter-nacional ou inter-regional, pois trata da exportação ou importação da água na forma virtual, presente nos produtos que estão sendo comercializados e refere-se somente ao volume total de água comercializado.

(...) o termo ‘pegada hídrica’ pode também ser utilizado em um contexto onde falamos sobre a pegada hídrica de um consumidor ou produtor. (...). Usamos o termo ‘água virtual’ no contexto internacional (ou inter-regional) de fluxos de água virtual. Se um país (ou região) exporta/importa um produto, ele está exportando/importando água de modo virtual. Neste contexto, pode-se falar sobre a exportação ou importação da água virtual ou, de forma mais geral, sobre os fluxos ou o comércio de água virtual (HOEKSTRA et al, 2011, p. 42).

A pegada hídrica de um produto é a soma das pegadas azul, verde e cinza. Essa diferenciação é necessária, pois no estudo da pegada hídrica de um produto deve-se observar

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separadamente a quantidade de cada tipo de água (azul, verde, cinza) utilizada no seu pro-cesso produtivo, já para a água virtual basta informar o total dessas, em conjunto. Nas seções seguintes serão apresentados os conceitos das diferentes pegadas hídricas, azul, verde e cinza, conforme Hoekstra et al (2011), que compõem a quantidade total de água virtual de um produto.

2.1 Água azul e pegada hídrica azul

A água azul diz respeito à água doce superficial, dos rios e lagos que se encontram na superfície terrestre; e subterrânea, aquelas que estão no subsolo ou podem ser descritas como umidade de solo. Segundo Hoekstra et al (2011) a pegada hídrica azul é definida con-siderando o:

(...) volume de água superficial e subterrânea consumida pela produção de

um bem ou serviço. O consumo se refere ao volume de água usado e então evaporado ou incorporado ao produto. Ela também inclui água captada de uma fonte superficial ou subterrânea em uma bacia e lançada em outra bacia ou no mar. Ela é a quantidade de água captada de uma fonte superficial ou subterrânea que não retorna para a bacia da qual ela foi retirada (HOEKSTRA

et al, 2011, p. 188).

No cálculo da pegada hídrica azul Hoekstra et al (2011) utilizam a equação (1).

PHproc,azul= Evaporação da água azul + Incorporação da água azul + Vazão de retorno perdida

(Volume/tempo)

Onde os autores definem: PH𝑝𝑟𝑜𝑐,azul como sendo o volume total da água azul do

duto “i”; a evaporação de água azul engloba toda a evaporação de água azul durante o pro-cesso produtivo, seja no armazenamento, no transporte, no processamento e na coleta ou lançamento da água (por exemplo, nos canais de drenagem); a incorporação da água azul refere-se à água incorporada pelo produto em seu processo produtivo; e, a vazão de retorno diz respeito “à porção do fluxo de retorno que não está disponível para o reuso dentro da mesma bacia hidrográfica, no mesmo período de retirada” (HOEKSTRA et al, 2011, p. 23).

2.2 Água verde e pegada hídrica verde

Hoekstra et al (2011) definem a água verde como sendo aquela relacionada à precipi-tação.

A água verde refere-se à precipitação no continente que não escoa ou não repõe a água subterrânea, mas é armazenada no solo ou permanece tempo-rariamente na superfície do solo ou na vegetação. Eventualmente, essa parte da precipitação evapora ou é transpirada pelas plantas. A água verde pode ser produtiva para o desenvolvimento das culturas (mas nem toda água verde pode ser absorvida pelas culturas, pois sempre haverá evaporação de água

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do solo e porque nem todas as áreas e nem todos os períodos do ano são adequados para o crescimento de culturas) (HOEKSTRA et al, 2011, p. 27).

No que se refere à pegada hídrica verde, os autores a definem como sendo a água proveniente da chuva que foi consumida ao longo do processo produtivo.

(...) volume de água de chuva consumida durante o processo de produção.

Ela é particularmente relevante para produtos agrícolas e florestais relativa à evapotranspiração total da água precipitada (dos campos e plantações) mais a água incorporada no produto colhido ou na madeira (HOEKSTRA et al, 2011, p. 190).

O cálculo da pegada hídrica verde encontra-se descrito na equação (2).

PHproc,verde = Evaporação da água verde + Incorporação da água verde (Volume/tempo)

As variáveis são definidas, de acordo com os autores, como: PHproc,verde volume total

água verde do mesmo produto “i”; a incorporação da água verde diz respeito à água verde que fica retida no produto em seu processo de produção; e, a evaporação da água verde refere-se à evapotranspiração feita das plantas.

2.3 Água cinza e pegada hídrica cinza

Hoekstra et al (2011) definem a água cinza como sendo o volume de água limpa ne-cessária para diluir a água poluída, que resulta do processo produtivo de um determinado produto, até que esta fique dentro dos níveis aceitáveis. A pegada hídrica cinza é conceituada pelos autores como sendo:

(...) um indicador da poluição da água que pode ser associado com a elabo-ração do produto ao longo de toda sua cadeia produtiva. Ela é definida como o volume de água necessário para assimilar a carga de poluentes baseada nas concentrações naturais e em padrões de qualidade de água existentes. Ela é computada como o volume de água necessário para diluir os poluentes em um nível em que a qualidade da água permanece acima dos padrões definidos (HOEKSTRA et al, 2011, p. 188).

Assim como para as pegadas anteriores, Hoekstra et al (2011) apresentam a equação (3) que se refere ao cálculo da pegada hídrica cinza.

PHproc,cinza = 𝐿

(𝐶𝑚𝑎𝑥−𝐶𝑛𝑎𝑡) (Volume/tempo)

Hoekstra et al (2011, p.29) definem as variáveis da equação (3), onde: PHproc,cinza

indica o volume necessário de água dos rios em seu estado natural para assimilar efluentes químicos; L (em massa/tempo) refere-se à carga poluente; (𝐶𝑚𝑎𝑥− 𝐶𝑛𝑎𝑡) é a “diferença entre

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a concentração do padrão ambiental de qualidade da água para um determinado poluente (a concentração máxima aceitável 𝐶𝑚𝑎𝑥, em massa/volume) e sua concentração natural no corpo

d’água receptor (𝐶𝑛𝑎𝑡, em massa/volume)”.

Para melhor compreensão a respeito do cálculo da água virtual, a Tabela 1 apresenta os valores de cada tipo de pegada hídrica e, consequentemente, da água virtual de alguns produtos. Os valores considerados na Tabela 1 referem-se à média brasileira, estimados por Mekonnen e Hoekstra (2010b).

Tabela 1 – Pegada Hídrica (verde, azul, cinza e total), em m3/tonelada, para alguns produtos

selecionados de origem agrícola, considerando a média brasileira

NCM Descrição do produto

Média brasileira de pegada hídrica (m³/ton)

Verde Azul Cinza Total

200911 Sucos de laranja 685 4 29 718 170111 Açúcar de cana 968 43 80 1.091 100590 Milho 1.621 1 125 1.747 100110 Trigo 1.989 1 135 2.125 120100 Soja 2.181 1 15 2.197 090121 Café torrado 12.798 216 313 13.327 180500 Cacau em pó 23.733 43 541 24.317 180400 Manteiga de cacau 51.512 92 1.173 52.777

Fonte: Elaboração própria, adaptado de Mekonnen e Hoekstra (2010b)

De acordo com as estimativas apresentadas na Tabela 1, considerando como exemplo o café torrado, pode-se verificar que em seu processo produtivo, para se ter uma tonelada do produto é necessário o equivalente a 13.327 m3 de água. Ou seja, em um quilo de café torrado

que é comercializado estão presentes 13.327 litros de água. Desse total a água verde, relaci-onada à precipitação, tem a maior parcela 12.798 m3/ton., ou seja, 96% da água necessária

para a produção do café torrado. A água azul, relativa à água superficial e subterrânea, ne-cessária é de 216 m3/ton. (1,6%) e da água cinza, compreendida como água limpa necessária

para diluir a água poluída, são necessários 313 m3/ton. o que corresponde a 2,4% do total da

água utilizada em seu processo produtivo.

Uma vez conceituados os diferentes tipos de pegada hídrica, ressalta-se que no pre-sente estudo não será avaliado o impacto de cada uma delas separadamente, mas sim o somatório das mesmas. Esse resultado é definido como pegada hídrica do produto ou água virtual, como já destacado. De acordo com Hoekstra et al (2011) a pegada hídrica é um indi-cador multidimensional, mais utilizado para análise, por exemplo, do melhor local para se cul-tivar um determinado produto ou então formas de aprimorar as técnicas de produção, para que se tenha um menor consumo de água ou, ainda, diminuir a carga poluente. Mesmo não sendo utilizadas no presente estudo separadamente, a conceituação e a demonstração de cada um dos diferentes tipos de pegadas hídricas são importantes, para que se entenda como se dá o cálculo da pegada hídrica de um produto e, consequentemente, de sua água virtual.

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A produção dos bens de origem agrícola demandam uma quantidade relativamente grande de água, como destaca Renault (2002). Este afirma que os processos produtivos agrí-colas, mais especificamente, os de alimentos são os que mais agregam quantidade de água ao longo de sua cadeia produtiva. Considerando a importância da água, para a produção dos produtos que são objeto de estudo nesse trabalho, busca-se na subseção seguinte apresentar a situação disponibilidade hídrica para o Brasil como um todo. Para o Paraná, a disponibili-dade hídrica será apresentada de acordo com suas bacias hidrográficas.

2.4 Disponibilidade hídrica superficial brasileira e paranaense

O Planeta Terra, também chamado de Planeta Água, é constituído por 71% de água4.

Porém nem toda essa água é considerada própria para consumo direto. De acordo com a FAO (2007), 1,400 milhões de km³ é o volume de água disponível no mundo. No entanto, a água própria para o consumo humano, denominada “água doce”, representa apenas 0,003%, algo em torno de 45.000 km³. É essa água que pode ser utilizada no consumo humano (beber, cozinhar, higiene), na agricultura e na indústria, o restante refere-se à água salgada dos oce-anos, imprópria para o consumo direto. Desse volume total de 45.000 km³ de água doce, parte está congelada na Antarctica e nas calotas polares da Groelândia e outra parte está presente no subsolo ou existe como umidade do solo. Restando, aproximadamente, 9.000 a 14.000 km³ disponíveis para o uso humano direto.

De acordo com o Banco Mundial (2014), os recursos internos renováveis de água doce (em bilhões de m³) do Brasil representam 12,8% de todo o recurso mundial. A Figura 1 apre-senta os 10 principais países que detêm recursos de água doce, em proporção ao total mun-dial. Esta situação perdura desde 1962, exceto para a Rússia, cuja primeira informação consta apenas no ano de 1992.

Figura 1: Distribuição percentual entre os 10 países que mais detêm recursos renováveis de água doce – 2011

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do Banco Mundial (2014).

4 Em conformidade com NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration. Disponível em:

<http://www.noaa.gov/>. Acesso em 13/07/2014. Brasil 12,8% Russia 10,2% Canadá 6,7% EUA 6,7% China 6,6% Colombia 5,0% Indonésia 4,8% Peru 3,8% Índia 3,4% Mianmar 2,4% Outros 37,7%$

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Os 10 países detêm 62,3% de toda a água doce do mundo, com destaque para o Brasil e para a Rússia que possuem as maiores parcelas (Figura 1). O Brasil destaca-se com o país que possui o maior volume de recursos renováveis de água doce do mundo, 12,8% do volume mundial, e a Rússia detém 10,2% do mesmo. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA) a situação do Brasil, em relação à disponibilidade de recurso hídricos superficiais, é favorável. A Agência destaca que para o país como um todo não há grandes preocupações, em relação ao volume de água disponível. Entretanto ressalta a condição esgotável desse recurso natural, que se não for gerido com cuidado, pode se tornar um problema no futuro (ANA, 2013). Lembra, também, que a distribuição dos recursos hídricos não é uniforme ao longo de todo o território nacional.

O Brasil apresenta uma situação confortável, em termos globais, quanto aos recursos hídricos. (...). Entretanto, (...), existe uma distribuição espacial desi-gual dos recursos hídricos no território brasileiro. Cerca de 80% de sua dis-ponibilidade hídrica estão concentrados na região hidrográfica Amazônica, onde se encontra o menor contingente populacional (ANA, 2013, p. 38).

Conforme destaca a ANA (2013) a distribuição espacial dos recursos hídricos no Brasil é desigual, e mais concentrada em áreas com menor população e produção. A disponibilidade hídrica nos Estados brasileiros pode ser observada na Figura 2.

A maior concentração dos recursos hídricos superficiais está nos Estados situados na bacia Amazônica: Acre; Amazonas; Rondônia; Roraima; Amapá e em parte do Pará e do Mato Grosso (ANA, 2013). Nota-se que os Estados da região nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), são os que apresen-tam menor disponibilidade hídrica superficial, de acordo com a Figura 2. O relatório conjuntural da Agência Nacional de Águas, ANA (2013), descreve que o problema na distribuição dos recursos hídricos no Brasil diz respeito à disponibilidade hídrica ser abundante nas regiões de menor densidade populacional e, de forma contrária, escassa em regiões de maior concen-tração populacional.

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Figura 2: Disponibilidade hídrica superficial, por Estado no Brasil – 2010 – atualizada em 06/11/2013

Fonte: Agência Nacional de Águas5

As informações hidrológicas existentes indicam uma distribuição bastante he-terogênea dos recursos hídricos no território brasileiro, abundantes na região Norte (81%), onde vive cerca de 5% da população total brasileira, enquanto que nas bacias junto ao Oceano Atlântico, onde há maior concentração po-pulacional (45,5% da população total), estão disponíveis apenas 2,7% dos recursos hídricos do País. O problema de disponibilidade hídrica no Brasil vem sendo principalmente sentido na Região do Semiárido, que tem enfren-tado eventos críticos recorrentes de prolongada estiagem e seca, com sérios prejuízos sociais, ambientais e econômicos (ANA 2013, p.353).

Apesar do Brasil ser um país tropical, alguns Estados, principalmente os da região Nordeste, sofrem com as prolongadas estiagens, fato que torna a disponibilidade hídrica ainda mais grave nessa região do país. ANA (2013, p. 39) chama atenção ao fato da sazonalidade da precipitação em todo o país durante o ano, com chuvas abundantes na região hidrográfica Amazônica (Acre, Amazônia, Roraima, Rondônia, Amapá e partes do Mato Grosso e Pará) de novembro à maio (6 meses de chuva); já na região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) as chuvas concentram-se nos meses de março e abril (2 meses de chuva). O que denota que não somente a variação espacial, mas também a sazonalidade os períodos de chuva provocam a distribuição da dis-ponibilidade hídrica crítica no Nordeste (Figura 2).

Como se pode verificar nessa seção o Brasil, como um todo, tem uma situação privi-legiada, em relação a disponibilidade de água. Foi observado também que sua distribuição se dá de forma desigual entre os Estados, ou seja, é mais concentrada na região amazônica, e tem problemas nos Estados localizados no Nordeste. Na seção seguinte será observada a disponibilidade hídrica do Paraná.

2.5 Disponibilidade hídrica no Paraná

O Estado do Paraná faz parte da região hidrográfica do rio Paraná, juntamente com São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Distrito Federal. Essa região hidrográfica é responsável pela segunda maior disponibilidade hídrica do Brasil (6,4%), so-mente perdendo para a região Amazônica (81,0%). O Estado tem o mesmo nome da bacia hidrográfica que ocupa a maior parcela do mesmo.

A Figura 3 apresenta as principais bacias hidrográfica do Estado.

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Figura 3: Bacias hidrográficas do Paraná

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IPARDES (2014) – Software ArcView GIS

O Paraná, em conformidade com essa divisão de bacias aqui apresentada, possui um total de 16 bacias: Cinza; Iguaçu, Itararé, Litorânea, Ivaí, Paraná 1, Paraná 2, Paraná 3, Pa-ranapanema 1; PaPa-ranapanema 2; PaPa-ranapanema 3; PaPa-ranapanema 4; Piquiri; Pirapó; Ribeira; e, Tibagi. A Tabela 2 mostra a importância de cada uma das bacias, em relação a disponibili-dade hídrica total do Estado.

A bacia hidrográfica mais importante para o Estado é a Iguaçu, responsável por 24,8% do total de disponibilidade hídrica disponível no Paraná, de acordo com a Tabela 2. Essa é seguida pelas bacias do Ivaí (19,9%) e do Piquiri (13,4%). Juntas essas bacias respondem por 58,1% do total da disponibilidade hídrica do Estado. As menores disponibilidades hídricas encontram-se nas bacias: Paranapanema 2 (0,2%); Paranapanema 1 (0,3%); Paraná 1 (0,8%); Paraná 2 (1,4%); Paranapanema 3 (1,4%) e Paranapanema 4 (1,7%).

Tabela 2 Participação percentual da disponibilidade hídrica das bacias hidrográficas do Pa-raná em 2004 Bacias hidrográficas % Cinzas 2,4 Iguaçu 24,8 Itararé 2,9 Ivaí 19,9 Litorâneas 6,6 Paraná 1 0,8 Paraná 2 1,4 Paraná 3 4,9 Paranapanema 1 0,3 Paranapanema 2 0,2 Paranapanema 3 1,4 Paranapanema 4 1,7

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Piquiri 13,4 Pirapó 2,6 Ribeira 7,3 Tibagi 9,5 Paraná 100,0 Fonte: Ipardes (2014)

Pode-se observar que, assim como no Brasil, no Paraná a disponibilidade hídrica não está espalhada igualmente ao longo de todo Estado. Esta encontra-se mais concentrada em três bacia hidrográficas: Iguaçu, Ivaí e Piquiri. A seção seguinte busca observar a importância do comércio internacional, onde serão apresentados os dados relativos ao comércio brasileiro e estadual no ano de 2013, em especial o comércio relacionado ao setor agrícola, para os produtos analisados nesse estudo.

3. Comércio externo

Desde 2000, a produção agropecuária brasileira, de acordo com IBGE (2013), tem apresentado participação no Produto Interno Bruto (PIB) acima de 5%. Em se tratando do comércio exterior as exportações agropecuárias, segundo os dados levantados pelo Ministé-rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mostram que em 2013 as exportações do setor agropecuário atingiram 34,8% da exportação total brasileira, enquanto que as impor-tações do setor representaram apenas 5,2% (Figura 4). Para o período compreendido entre os anos de 2008 e de 2013 pode-se verificar na Figura 4 a importância dos produtos de origem agropecuária, principalmente, considerando as exportações. Essas superam as importações, o que nos levam a crer que para este setor o saldo da balança seja superavitário.

As exportações de produtos agropecuários representam mais de 1/3 da exportação total brasileira (Figura 4), fato que por si só aponta a importância do setor na pauta de expor-tações do País. Entretanto, no que tange às imporexpor-tações, o setor não representa mais que 6% do total importado. Em sua publicação, Plano Agrícola e Agropecuário 2013/2014, MAPA (2013), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento apresenta a situação brasileira no ranking mundial, para o ano de 2012, no que se refere à produção e exportação brasileira para alguns produtos do setor agrícola.

29.5 4.7 35.9 5.6 31.6 4.9 32.0 5.3 34.4 5.2 34.8 5.2 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 30.0 35.0 40.0 % 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Exportação Importação

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Figura 4: Participação percentual das exportações e importações de produtos agropecu-ários, em relação ao total no Brasil entre 2008 e 2013.

Fonte: Elaboração própria, adaptada de MAPA (2014)

A Tabela 3 apresenta este ranking para alguns dos produtos abordados no presente estudo. O Brasil encontra-se como um dos principais países produtores e exportadores de produtos agrícola do mundo. Considerando a soja, principal produto exportado pelo Brasil (12,79%i da exportação total em 2013), a Tabela 3 aponta o Brasil como segundo maior país

produtor e exportador de soja. Em 2013 os principais países compradores da soja brasileira foram a China (57,08%) e a Holanda (10,14%), de acordo com a pesquisa realizada através do Sistema AliceWeb.

Tabela 3 – Produção e exportação brasileira, para alguns produtos agrícolas selecionados –

Ranking Mundial 2012

Produto Produção Exportação N° Países Principal Comprador

Açúcar 1° 1° 126 Rússia

Café 1° 1° 133 EUA

Suco de Laranja 1° 1° 68 Bélgica

Soja e seus produtos 2° 2° 95 China

Milho 4° 4° 48 Irã

Fonte: Elaboração própria, adaptado de MAPA (2013, p.16)

O MAPA (2013) expõe alguns fatores que explicam o bom posicionamento do Brasil no comércio agrícola internacional. Um deles refere-se ao fato da crescente inserção brasileira no mercado agrícola internacional que “revela sua capacidade de responder às oportunidades ditadas pela crescente demanda por alimentos, impulsionada principalmente pelo aumento de renda dos países emergentes e em desenvolvimento” (MAPA, 2013, p.5). Destaca também que a:

“(...) insuficiência da oferta agrícola mundial, aliada ao aumento dos preços agrícolas, sobretudo a partir da crise de 2008, e aos ganhos de produtividade e competitividade da agricultura brasileira, contribuiu para assegurar sua crescente inserção no mercado internacional e consolidar o status desfrutado pelo país, como sendo um dos principais produtores e exportadores mundiais de produtos agrícolas (MAPA, 2013, p.11).

Outros fatores positivos para o setor agrícola brasileiro referem-se ao aumento da pro-dutividade e ao bom desempenho interno e externo do setor.

O bom desempenho interno e externo do setor agropecuário se caracteriza pelos elevados níveis de produtividade e pelo continuado crescimento da pro-dução e das exportações, cuja diversificação de sua pauta e de seus merca-dos de destino constitui avanço importante que contribui para consolidar a inserção do Brasil no mercado agrícola internacional e sua posição de desta-que entre os principais produtores e exportadores agrícolas mundiais (MAPA, 2013, p.15).

(14)

No que tange às importações o setor agropecuário representou somente 5,2% do total importado no ano de 2013, segundo MAPA (2014). O principal produto agrícola importado pelo Brasil é o trigo, que em 2013 representou 1,07%ii do total importado. Os principais países

que venderam trigo para Brasil em 2013 foram: Estados Unidos, 44,30%; Argentina, 37,29%; Paraguai, 7,76%; e Uruguai, 5,77%.

A importância de cada Estado no volume total das exportações e importações brasi-leiras é apresentada na Figura 5. Observa-se que o estado de São Paulo teve a maior repre-sentatividade nas exportações brasileiras (23,25%), seguido por Minas Gerais (13,81%), Rio Grande do Sul (10,36%), Rio de Janeiro (8,78%) e Paraná (7,53%). Quando se observa as importações São Paulo também se destaca como principal Estado a importar (37,43%) no ano de 2013, seguido pelo Rio de Janeiro (9,00 %) e o Paraná (8,07%). Ressalta-se então a importância do Paraná no setor externo brasileiro figurando entre os Estados que mais expor-tam e imporexpor-tam.

Figura 5: Participação percentual das Unidades da Federação nas exportações e importações brasileiras em 2013

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Sistema AliceWeb

Verifica-se a grande importância de São Paulo no comércio exterior brasileiro, consi-derando todos os produtos. No entanto, cabe lembrar que o presente estudo abrange duas cestas de produtos de origem agrícola selecionados6. Considerando-se esta informação, os

principais Estados exportadores dessas cestas em 2013, de acordo com MIDIC (2014), foram:

6 Descritos na seção 4.

(15)

Mato Grosso, 22,09%; São Paulo, 18,89%; Rio Grande do Sul, 14,69%; Paraná 13,89%; Mi-nas Gerais, 8,57% e Goiás 5,66%; que somados representaram 83,79% do total dos produtos agrícolas exportados.

A China foi o principal parceiro comercial do Paraná. Considerando os produtos abor-dados pelo presente estudo, 42,53% das exportações paranaenses tiveram como destino a China. Dentre esses o principal produto importado pela China foi a soja brasileira, de acordo com MIDIC (2014). Em 2013 a China importou 57,08% de toda exportação da soja brasileira. Para os demais produtos compreendidos pelo estudo, em 2013 a China importou 32,05% do total exportado pelo país. Outros países que também se apresentaram como parceiros co-merciais representativos, foram: Holanda, 7,11%; Coreia do Sul, 3,33%; Alemanha, 3,19%; Japão, 3,12%; Indonésia, 2,31%; e Irã, 2,1%, que somados à China representaram 53,21% das exportações no ano de 2013 (MIDIC, 2014). Os principais Estados importadores dos pro-dutos pesquisados no presente estudo foram: São Paulo, 24,79% e Paraná, 14,63%; de acordo com MIDIC (2014).

Uma vez apresentada a disponibilidade hídrica estadual, assim como as definições de pegada hídrica e água virtual e a importância de cada um dos Estados no comércio externo, a próxima seção tem como objetivo demonstrar a metodologia utilizada para se calcular a exportação líquida de água virtual. Nela também pode-se observar a fonte dos dados neces-sários para compor a balança de água virtual proposta no presente estudo.

4. Metodologia e fonte de dados

Os produtos utilizados para estimar as balanças de água virtual propostas pelo estudo, bem como o volume de água embutida em seu processo produtivo estão disponíveis em Me-konnen e Hoekstra (2010b). Neste ponto é importante que sejam feitas algumas observações:

i) são considerados apenas os produtos para os quais há informação a respeito da quantidade de água virtual,

ii) a informação relativa ao volume de água embutida na elaboração dos produtos do Brasil e do Paraná como um todo diz respeito à média brasileira. Para os resultados relativos às microrregiões paranaense, utilizou-se a média do Pa-raná; e,

iii) Fazem parte da cesta brasileira e paranaense 153 produtos do agronegócio, relacionados com o setor agrícola. Entretanto, a cesta de produtos utilizados para as microrregiões paranaense é composta por 195 produtos, também rela-cionados ao setor agrícola.

Os dados sobre exportação e importação dos produtos, a serem utilizados foram obti-dos junto ao Sistema de Análise das Informações do Comércio Exterior (AliceWeb), que é uma plataforma de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

(16)

As balanças de água virtual propostas pelo estudo foram obtidas de acordo com as equações (4) e (5):

153 1 i ,

export

i i i j e

Qimport

Q

QAV

BAV

195 1 i

export

i i i m

Qimport

Q

QAVM

BAV

Em que:

𝐵𝐴𝑉𝑒,𝑗 corresponde à Balança de Água Virtual para a localidade e (Brasil e Paraná), para o

ano j;

𝐵𝐴𝑉𝑚 corresponde à Balança de Água Virtual para as microrregiões paranaense;

𝑄𝑖𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑖 refere-se ao peso (em ton.) do produto i importado;

𝑄𝑒𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑖 referente ao peso (em ton.) do produto i exportado;

𝑄𝑉𝐴𝑖 é a quantidade de Água Virtual (em m³), média brasileira, presente no produto i.

𝑄𝑉𝐴𝑀𝑖 é a quantidade de Água Virtual (em m³), média paranaense, presente no produto i.

Faz-se necessário destacar uma diferenciação entre a balança de água virtual pro-posta pelo trabalho e a balança comercial como se conhece. Nessa última as exportações são positivas e as importações negativas. Na balança de água virtual as exportações passam a ser negativas, pois “sai” água do país; enquanto as importações se tornam positivas, pois “entra” água no país, mesmo que implicitamente. A água aqui considerada, como já observado na seção dois, é aquela embutida no processo produtivo dos produtos agrícola abordados no estudo. Os resultados serão apresentados em mapas elaborados com o auxílio do software ArcView GIS.

De posse das estimativas da balança de água virtual, será feito o confronto dessas com o mapa da disponibilidade hídrica por bacia hidrográfica no Paraná (Figura 3). Com isso pretende-se fazer uma primeira análise exploratória para se verificar se as microrregiões pa-ranaense, que apresentam dificuldades com disponibilidade hídrica, comportaram-se como importadores de água virtual e, de forma análoga, se as microrregiões cuja disponibilidade hídrica é abundante se comportaram como exportadores de água virtual.

5. Resultados e análises da balança de água virtual

Os resultados da estimativa da balança de água virtual, para o Brasil e para o Paraná como um todo, nos anos de 2008 e de 2013 encontram-se descritos nessa seção. Será apre-sentado, ainda, o resultado da balança de água virtual por microrregião paranaense. Pre-tende-se a partir dessa estimativa verificar a situação do Brasil e do Paraná no que se refere ao volume total de água virtual líquida exportada.

(4)

(17)

De acordo com os resultados obtidos, o Brasil como um todo se apresenta como ex-portador líquido de água virtual, tanto em 2008 quanto em 2013 (Figura 6). Ao longo desses cinco anos o país aumentou sua exportação liquida de água em aproximadamente 65%, ou seja, está exportando mais produtos que utilizam água em seu processo produtivo. Para se ter uma ideia do volume de água virtual exportada pelo Brasil em 2013, mesmo considerando o volume total da água importada por todos os Estados importadores esse é inferior ao total exportado, somente pelo Mato Grosso, maior exportador brasileiro de água virtual, de acordo com os resultados obtidos.

Figura 6: Balança de água virtual para o Brasil nos anos de 2008 e 2013, em milhões

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados obtidos

Na Figura 7 pode-se verificar que o Paraná é exportador líquido de água virtual, assim como o Brasil. Em 2013 a exportação de água virtual pelo Paraná foi 33% maior que a obser-vada em 2008. Isso indica que estamos exportando mais produtos que utilizam em seu pro-cesso produtivo, um volume maior de água, em relação aos importados.

Figura 7: Balança de água virtual para o Paraná nos anos de 2008 e 2013, em milhões

Fonte: Elaboração própria com base nos resultados obtidos

-200.000 -150.000 -100.000 -50.000 0 -120.725 -199.757 -em m ilh õ es

Brasil

2008 2013 -40.000 -30.000 -20.000 -10.000 0 -22.509 -30.038 -e m mi lh õ e s

Paraná

2008 2013

(18)

As estimativas da balança de água virtual para o Paraná por microrregião, comparando com a disponibilidade hídrica pode ser observada nas Figuras 8 e 9. Na Figura 8 pode-se verificar que para o Paraná, observando-se as microrregiões as que mais exportam água vir-tual foram: Astorga; Porecatu; Maringá; Londrina; Apucarana; Cornélio Procópio; Cascavel; Paranaguá; Curitiba e Ponta Grossa.

Considerando as microrregiões importadoras de água virtual, destaca-se: Francisco Beltrão; Foz do Iguaçu; Toledo; Prudentópolis; Rio Negro; Jaguariaíva e Cianorte.

Figura 8: Balança de água virtual por microrre-gião no Paraná em 2013

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa – Software ArcView GIS

Figura 9: Bacias hidrográficas do Paraná

Fonte: Elaboração própria com base nos da-dos do IPARDES (2014) – Software ArcView GIS

Ressalta-se que as microrregiões de Foz do Iguaçu e de Toledo que encontram-se na Bacia do Paraná 3, que são importadoras bem definidas de água virtual, e tem a sétima melhor disponibilidade hídrica do Estado. Nesse aspecto também se ressalta a microrregião de Cia-norte que destaca-se como importadora de água virtual, mesmo estando na bacia do Ivaí, que detém a segunda melhor disponibilidade hídrica. Esta análise também pode ser estendida para as microrregiões de Francisco Beltrão Rio Negro que encontram-se na bacia do Iguaçu, a principal do Paraná. Essas microrregiões aparentemente tem uma boa disponibilidade hí-drica, mas são importadoras de água virtual.

Algumas microrregiões que são exportadoras liquidas de água virtual encontram-se em bacias hidrográficas com uma disponibilidade hídrica baixa, com destaque para as bacias do Paranapanema 1, 2, 3, e 4. Nesse sentido destacam-se as microrregiões: Paranavaí; Po-recatu; Cornélio Procópio e Jacarezinho.

(19)

6. Considerações finais

O objetivo geral do presente estudo foi estimar a balança de água virtual para o Brasil, e para o Paraná. O resultado da balança de água virtual obtida para o Brasil confirma a hipó-tese inicial, ou seja, o país é deficitário na exportação líquida de água7, exportando mais do

que importando água virtual. Cabe ressaltar, ainda, que verificou-se que a exportação de água virtual, no Brasil, cresceu 65% nos últimos cinco anos. Para o Paraná esse aumento foi de 33% no mesmo período.

A hipótese inicial desse estudo de que o Brasil e o Paraná, como um todo, são expor-tadores líquidos de água virtual, foi confirmada. Considerando a análise das microrregiões do Paraná, pode-se verificar que a hipótese foi confirmada para a maior parte das mesmas.

Chama-se, ainda, a atenção para o fato de que esse trabalho é a primeira estimativa de uma balança de água virtual, para as microrregiões do Paraná. Como tal o mesmo não tem a pretensão de esgotar o assunto e nem de responder a todos os questionamentos. Seu intuito é de abrir a discussão sobre o tema, assumindo suas limitações. Sua relevância vem no sentido iniciar um debate a respeito de uma vantagem, frente ao comércio internacional que o Brasil tem em relação a alguns de seus parceiros comerciais e diz respeito a água necessária para que a produção ocorra. Como é um recurso natural esgotável e localizado, a mesma não permite que a produção agrícola se desenvolva em qualquer lugar. Cabe ainda fazer uma outra ressalva em relação à quando se observa as exportações por microrregião. Essa diz respeito ao comércio interno que há entre as mesmas e que não é considerado nesse estudo. Destaca-se também que a base de dados aqui utilizada, trata a região que exportou o produto, que algumas vezes não necessariamente é a mesma em que a produção ocorreu. Outros trabalhos futuros serão desenvolvidos pelas autoras, com intuito de aprofundar o tema e buscar alternativas para contornar esses problemas observados, além de considerar outros produtos.

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CANONICE, B. C. F. Normas e Padrões para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. 2 ed. Maringá: Eduem, 2007.

7 Considerando a diferenciação entre a balança de água virtual proposta pelo trabalho e a balança

(20)

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i Produtos considerados para análise, por NCM: 23040010, 23040090, 12010010, 12010090, 12011000, 12019000, 12081000, 15071000, 15079010, 15079011, 15079019, 15079090;

ii Produtos considerados para análise, por NCM: 11081100, 10011010, 10011090, 10019010, 10019090, 10011100, 10011900, 10019100, 10019900, 11010010, 11010020, 10081010, 10081090, 11031100, 11090000.

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