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O FUTEBOL NAS CRÔNICAS DE JOÃO ANTÔNIO LEVANTAMENTO E CATALOGAÇÃO

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Academic year: 2021

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O FUTEBOL NAS CRÔNICAS DE JOÃO ANTÔNIO LEVANTAMENTO E CATALOGAÇÃO

Douglas Fernando de Araújo CRUZ1 (Unesp – Univ Estadual Paulista/Assis)

RESUMO: O propósito desta pesquisa é fazer a catalogação e o levantamento das crônicas escritas por João Antônio, no Caderno de Esporte do Jornal O Estado de São Paulo. O escritor escreveu no jornal mencionado durante a copa do mundo de futebol de 1990 e nelas João Antônio mostra seu refinamento da escrita através do tema futebol. Trata-se de tema aparentemente simples, mas complexo na ótica do escritor. O conjunto de crônicas encontra-se no acervo João Antônio, junto à FCL/Assis. Ressalta-se, assim, a importância desta pesquisa, que pretende servir de auxílio para futuras pesquisas sobre o escritor.

Palavras-chave: João Antônio; Futebol; Crônicas. 1. Introdução

A pesquisa em desenvolvimento no Acervo João Antônio visa catalogar e fazer o levantamento do conjunto de crônicas escritas por João Antônio no Caderno de Esporte do jornal O Estado de São Paulo. João Antônio escreveu nesse jornal durante a Copa do Mundo de Futebol de 1990, sediada na Itália. Para entendermos a razão desta catalogação é necessário contar um pouco sobre o próprio escritor João Antônio e sua literatura, como também sobre a crônica e o futebol na literatura.

João Antônio Ferreira Filho (1937-1996) produziu uma vasta obra, sobretudo composta por contos. Nascido na grande São Paulo, mais precisamente, em Osasco, João Antônio ainda na infância, conheceu o cotidiano sofrido das camadas mais carentes da população da cidade. Na adolescência, freqüentou muitos salões de sinuca, onde o escritor descobriu os malandros, boêmios, prostitutas, jogadores e todos os personagens que viriam a povoar sua obra.

O escritor lança, em 1963, Malagueta, Perus e Bacanaço, seu primeiro livro de contos, e recebe dois Prêmios Jabuti, como autor Revelação e Melhor Livro de contos. No ano seguinte, em 1964, começa a trabalhar no Jornal do Brasil, em seguida torna-se um dos fundadores da

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revista Realidade, em 1966. Na década de 70, João Antônio, entre outros, funda o diário

Panorama, em Londrina (PR). Escreve também no Pasquim e é autor da expressão “imprensa

nanica” para se designar jornais de menor circulação. Pública seu segundo livro,

Leão-de-chácara, em 1975, e Malhação do Judas carioca no mesmo ano, incluindo nesse último o

manifesto intitulado “Corpo-a-corpo com a vida”.

Na década de 80, João Antônio lança Abraçado ao meu rancor, que tem como tema a crítica e a denúncia das desigualdades sociais, colocando-se ao lado dos que vivem na marginalidade. No fim da mesma década, João Antônio viaja para Alemanha, ficando alguns meses nesse país, realizando diversas conferências em universidades alemãs, sobre a literatura brasileira. Em meados da década de 90, assina crônicas no jornal O Estado de São

Paulo, e essas são nossos objetos de estudo. Publica ainda os livros Guardador em 1992 e Patuléia, Sete vezes rua e Dama do Encantado, no ano de 1996, ano de sua morte.

O engajamento da literatura joãoantoniana pode ser constatado pela escolha do enfoque de personagens da zona de exclusão e pela busca de uma definição da identidade nacional brasileira, representada na literatura, pois, segundo atesta o próprio escritor (ANTÔNIO 1975), “um produto cultural legitimamente brasileiro deve, antes de tudo, ter a cara da gente e ser elegante, fino na sua fatura final, extremamente original, original na essência como a gente brasileira, forma e no fundo”. Nesta originalidade, entra seu olhar aguçado sobre a realidade brasileira, nos mostrando sua cosmovisão lírica do cotidiano, através de suas crônicas e seus contos.

O ato de ser escritor foi, para João Antônio, toda sua vida, pois o escritor, ao longo de toda a sua carreira, revelou-nos a face quase sempre esquecida de um Brasil de inúmeras caras e nos aproximou das pessoas mais humildes, compartilhando as dúvidas, fraquezas, ambições e esperanças dessa parcela da sociedade. Com essa revelação, lembramos que essa parcela da sociedade, habitualmente retratada pelo escritor, é composta por mais da metade da sociedade brasileira, e nisto revela-se seu empenho para elevar tal parcela da sociedade, para lhe dar um lugar digno junto à sociedade e à cultura nacional.

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Ao revelarmos essa busca da identidade nacional defendida em sua literatura, temos que salientar sua preocupação estilística, pois seu trabalho com a linguagem dita “coloquial” é extremamente árduo, levando o lirismo da fala e da vida às personagens comumente tidas como secundárias na sociedade como um todo. Dessa forma, como afirma (SILVA, 2003, p 201) “dizer que a prosa de João Antônio é uma prosa realista é dizer muito pouco, pois o autor, à moda de Guimarães Rosa e tantos outros gênios da nossa literatura, transfigura o real e explicita o lirismo da linguagem e da vida dos que até nisso foram espoliados”.

Feita uma síntese da vida de João Antônio, de seu compromisso com a literatura e a parcela da sociedade, que habitualmente encontramos em suas obras, podemos nos referir particularmente à relação do escritor com a crônica. Nessa relação escritor e crônica, J. J. Veiga nos orienta previamente (VEIGA, 1994, p. 10): “E aqui é preciso acender uma luz de advertência, porque é onde entra o talento do escritor. Captar falas de gente do povo é muito fácil, basta ligar o gravador. Mas em suas crônicas João Antônio não está fazendo reportagem, está criando literatura”.

Partindo do pressuposto que o cronista tem como sua função primordial conscientizar o povo, João Antônio explora ao máximo as potencialidades da língua. Tratando do tema futebol, que por muitos poderia ser visto como questão objetiva, o escritor transforma o tema objetivo em subjetivo, apresentando uma sensibilidade particular no tratamento do tema. Com isso, utiliza a expressividade da língua portuguesa, transformando o simples relato circunstancial do futebol em textos repletos de lirismo, como conseguimos observar em crônicas do conjunto daquelas escritas para o Caderno de Esportes do jornal O Estado de São Paulo.

2. Metodologia

Para constatar a incidência de textos líricos valendo-se do tema futebol e de toda a sua esfera, que não se restringe a gol, time ou seleção, mas também a torcedor, magia, lúdico e alegria, elaboramos um cronograma, constituído por quatro etapas, que descrevemos abaixo,

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a) a fotocópia dos textos originais para evitar o excessivo manuseio, causando danos aos mesmos;

b) o levantamento e a catalogação de todas as crônicas, organizando-as cronologicamente e descrevendo o conteúdo destas;

c) o rastreamento em sua obra, para localizar a incidência parcial ou integral de textos análogos lançados em seus livros;

d) a elaboração de fichas, com os temas tratados em cada crônica e a criação de um índice onomástico de personalidades do meio artístico, ou pessoas ligadas à academia, citados por João Antônio nestas crônicas.

3. Resultados/Discussões

A pesquisa em andamento é importante, na medida em que trabalha com crônicas que têm como temática o futebol e suas esferas, pois João Antônio, como cronista, consegue nos levar, a partir deste tema, para um melhor entendimento da própria população brasileira, como afirma (ROSENFELD, 2001, p 75): “Uma apresentação concisa de alguns aspectos do futebol como fenômeno social de primeiro plano na vida brasileira poderia contribuir com alguma coisa para o conhecimento da atual sociedade brasileira”.

Dadas as características do escritor João Antônio, é quase impossível este, ao retratar o futebol e suas peculiaridades, não falar também das condições do povo brasileiro, de desigualdade social perversa, de uma irresistível vocação dos brasileiros para “driblar” problemas. Compreende-se aqui o futebol como um jogo criador de uma experiência comunitária, mais significativa que qualquer outra atividade da cultura de massa.

O futebol, na nossa visão de análise, rompe com a realidade, transformando todos os heróis, perdedores, vencedores em um só, para uma única celebração do espetáculo do jogo, pois, conforme afirma Ramadam (1999, p. 274):

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o futebol em nossa cultura é um fato catalisador das emoções populares, é natural que os escritores, pelo compromisso com o referente factual, pela comunhão catártica com o leitor, carreiem para seus textos os significativos que dele emanam. Assim, ao converterem em matéria de escrita o espaço lúdico que vai de um gol a outro, estão apenas legitimando pela palavra o que está consolidado socialmente (RAMADAM, 1999, p. 274).

Roberto DaMatta, por sua vez, compara o futebol a uma tela gigantesca, na qual se projeta não somente um drama técnico mas também um entrelaçamento sutil de insinuações às relações sociais, à vida e ao destino. Este entrelaçamento sutil, segundo nossa análise, é a função referencial que deixa de existir em algumas crônicas do conjunto, dando lugar à função poética da linguagem, não tendo com isso a crônica uma existência de apenas um dia, tornando-se atemporal.

Segundo Hug (2006, p. 58) “Na arte e no futebol, o espaço, delimitado mas permitindo um número infindo de combinações e configurações, é organizado constantemente para ser depois rompido e reordenado”. Esse rompimento se dá, nas crônicas escritas por João Antônio, no âmbito textual, através de uma constante organização do cotidiano que acaba por proporcionar também uma desorganização do mesmo.

O levantamento deste conjunto de crônicas trará ainda benefícios ao Acervo João Antônio, localizado junto ao CEDAP (Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa) da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp – Campus de Assis, uma vez que, junto ao acervo, encontram-se vários documentos do escritor, como biblioteca pessoal, originais de textos publicados, correspondências, artigos de jornais e muitos outros itens ainda em fase de catalogação.

No que se refere à criação do Acervo João Antônio, devemos chamar a atenção para o fato de que inúmeras pesquisas têm sido feitas a seu respeito, em nível de iniciação cientifica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. A importância do presente pesquisa encontra-se nesse âmbito, pois este levantamento e a criação de fichas, como também de um índice onomástico, vem contribuir para organização de seu acervo e proporciona um amplo material indexado para futuras pesquisas.

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Dessa forma, esta pesquisa visa, de alguma maneira, contribuir para o conhecimento tanto da obra de João Antônio como da face da população brasileira, através da literatura presente em suas crônicas sobre o futebol.

4. Referências

ANTÔNIO, J. Malhação de Judas Carioca. São Paulo: Clube do Livro, 1987 __________. Malagueta, Perus e Bacanaço. São Paulo: Clube do Livro, 1987.

_________.Abraçado ao meu rancor. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

AZEVEDO FILHO, C. A. F de. João Antônio: repórter de Realidade. João Pessoa: Idéia, 2002. CANDIDO, A. A vida ao rés-do-chão. In: ____.Recortes. São Paulo: Companhias das Letras, 1993, p. 24.

CHAUÍ, M. Cultura do Povo e Autoritarismo das Elites. In:_____. A cultura do povo. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1988.

HUG, A. Futebol: desenho sobre fundo verde. In:____. Revista Humboldt. Bonn: Goethe - Institut: n. 48, p. 58-59. junho – dezembro. 2006.

KRAFT, T. Do medo do goleiro diante do pênalti. Um roteiro literário pelo tema futebol. In:____.

Revista Humboldt. Bonn: Goethe - Institut: n. 48, p. 54-57. junho – dezembro. 2006.

OLIVEIRA, A. M. D. João Antônio, profissão escritor. In:_____. PETERLE, Patrícia et al.

Escritura e sociedade: o intelectual em questão. Assis: UNESP, 2006. p. 205-212.

PEREIRA, L. A. M. O jogo dos sentidos: Os literatos e a popularização do futebol no Rio de Janeiro. In____CHALOUB, S; PEREIRA, A. (org). História social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

RAMADAM, I. B. Mito, Crônica, Futebol. In:_____ COSTA, Márcia Regina da et al. Futebol:

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REMATE DE MALES. João Antônio. Departamento de Teoria Literária. IEL/ Unicamp, n. 19, Campinas, 1999.

ROSENFELD, A. Negro, Macumba e Futebol. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 75. SÁ, J. A Crônica. 6. ed. São Paulo: Ática, 2001.

SILVA, A. I. Crônicas de futebol: Lirismo e Drama. Tese (Mestrado em Comunicação e Letras) – Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2003.

SILVA, T. M. da. João Antônio: intelectual dos sem-eira-nem-beira. In:_____. PETERLE, Patrícia et al. Escritura e sociedade: o intelectual em questão. Assis: UNESP, 2006. p. 195-203. VEIGA, J, J. O Escritor João Antônio. In:_____. ANTÔNIO, João. Guardador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.

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