“A luz de Deus em mim saúda a luz de Deus em ti”
“À minha mãe Ana Teia e ao meu pai Joaquim Luís, de quem recebi um
olhar compassivo e apaixonado pelo mundo e pela vida”
Fotografia: Paulo Teia sj paulo.namaste2016@sapo.pt
(Canon 6D lente Tamrom 28-75 mm 2.8)
Design e paginação Francisca Cardoso
Impressão e acabamentos Clássica – Artes Gráficas, S.A.
Depósito Legal nº 416317/16
ISBN
978-989-98322-6-8
Outubro de 2016
Com todas as licenças necessárias
©
Frente e Verso
Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 BRAGA Tel.: 253 689 440 * Fax: 253 689 441 www.apostoladodaoracao.pt
Índice
Prefácio 5
Introdução 7
Pequeno Glossário 9
A dor de uma beleza sofrida 12
Namasté Parte 1 | Retratos de Dalits e Adivasi 15
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Prefácio
A grande paixão surgiu sem avisar... paixão por Deus e pelos mais pobres!
Foi um menino igual a todos os meninos, irreverente como todas as crianças sabem ser, doce como só ele. Um dia, a tia desafiou-o para uma missão de tempos livres no Hospital de S. João de Deus. O avô refilou, «...ainda dá padre, o rapaz...». Não soube, mas profetizou. Ao ver a pobreza de corpo e de espírito que se lhe apresentou, a vocação surgiu no meio de bocas distorcidas, baba e esgares da ausência do que, em princípio, define o homem e continuava lá, sem se ver. Questionou a vida e a morte e fez a sua opção, tinha somente 15 anos!
Jesuíta, o caminho traçado «pelos mais pobres», singrou, orientado sobretudo para os mais pequeninos, as crianças. De uma sensibilidade à flor da pele, fez obra em terras de Portugal. Há um ano, uma oportunidade de Deus levou-o ao Oriente, num ano sabático. E de novo Ele Se revelou – servir os «mais pobres dos pobres». Acabou em Tete, Moçam-bique, onde pastoreia agora.
Uma paixão terrena, paralela e insidiosa, vinda do mesmo Criador, brotara, entre-tanto, nele – a fotografia. A beleza dos rostos, das gentes, dos ambientes, das culturas, das religiões... Juntar as duas resultou neste livro, a que chamaria «As paixões do meu filho muito amado...» e que se esmagam numa só, a paixão por Deus.
A crónica que as acompanha é a sua descrição, em palavras simples e imbuídas da força da sua alma... o que viveu e sentiu, por terras de Ásia. A vontade de falar, com a imagem, de toda a beleza escondida em gentes que vivem abaixo das condições humanas... lembro as viúvas que, culpabilizadas das mortes dos maridos, mesmo que mortos de acidente ou causas naturais, ficam sem qualquer apoio de sobrevivência mas, ironia das ironias, com a responsabilidade de criarem os filhos!...
Leiam sobre estas pessoas, vejam a sua beleza e dignidade espelhadas nas fotos e este livro já cumpriu as suas promessas de livro... e de mensageiro de Deus.
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Este livro nasceu de uma experiência vivida no ano sabático de 2014. Depois de sete meses em Madrid a estudar fotografia, decidi dedicar os últimos três meses a um projeto pessoal fotográfico. Com ele queria expressar uma das minhas mais profundas inquietudes como ser humano e como padre: dar a conhecer a vida dos mais pobres a partir da força da sua dignidade. Tratava-se de captar a luz da sua resistência ao caos, a força com que desafiam o estado de injustiça em que vivem sem perderem os contornos de pessoa, e de seres humanos que são. Quis também fazê-los primeiras testemunhas dessa mesma luz. Por isso, esforcei-me por entre-gar-lhes os retratos, os seus retratos, para que ex-perimentassem a beleza e a verdade que partilha-ram comigo.
A viagem realizou-se entre os inícios do mês de agosto e finais de outubro. Passei o meu primeiro mês no Camboja e os dois últimos na Índia. Duran-te todo esDuran-te Duran-tempo opDuran-tei por fotografar exclusiva-mente os mais pobres que fui encontrando nestes dois países, as suas vidas e as suas lutas. Evitei fo-tografar o contexto da pobreza em que se encon-travam, pois sinto que já é sobejamente conhecido por todos nós.
No presente livro encontramos apenas o trabalho realizado na Índia. São retratos de Dalits e Adivasi,
os dois grupos humanos mais marginalizados e per-seguidos desta sociedade de castas. Encontrei-os nas cidades e nos campos, sobretudo onde os meus companheiros jesuítas têm alguma obra social ao seu serviço. Tornei-me impuro na sua impureza e deixei que me batizassem com a sua verdade. Embora existam muitos retratos espontâneos des-tas pessoas, houve, em algumas circunstâncias, necessidade de trabalhar a pose e de escolher um fundo mais apropriado para tirar o maior partido da sua beleza. Isso sim, sem nunca desvirtuar o contexto em que se encontravam.
No final de cada jornada, em diferentes estados da Índia, reservei sempre dois ou três dias para reve-lar as fotografias e entregá-las pessoalmente aos seus legítimos proprietários, “dando o seu, a seu dono”. No total entreguei mais de doze mil fotogra-fias, graças à ajuda de benfeitores que financiaram este projeto, e a quem muito agradeço. A alegria das pessoas, ao reverem-se nas fotografias, daria material suficiente para um outro trabalho fotográ-fico que não pude realizar.
Ao mesmo tempo, fui partilhando o vivido nesta viagem com inúmeros amigos, através da internet. Nasceu assim a ideia de uma crónica diária onde ia descrevendo cada momento vivido e postando cinco fotografias, sempre que possível. Esta
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ca ganhou contornos de um verdadeiro diário de viagens. É a esses amigos leitores que agradeço o verdadeiro estímulo à publicação deste livro. A presente obra está dividida em duas partes. A primeira, e mais importante, está dedicada intei-ramente aos retratos dos Dalits e Adivasi, esses mesmos retratos que depois entreguei aos seus proprietários. São fotografias que falam por si, re-velando a intensidade do olhar e dos gestos. A segunda parte do livro está reservada à crónica da viagem, corrigida e acrescentada. Introduzi também novas fotografias nesta crónica, que não publiquei na internet, para melhor ajudar a contextualizar o narrado e vivido. Alguns nomes foram alterados para assegurar o anonimato das pessoas fotografadas. O título do livro, “Namasté”, por certo, dificilmen-te encontrado, expressa o sentido mais profundo desta obra. Um profundo agradecimento feito de luz. Esse é o significado que escolhi da palavra “Namaste” , numa das suas múltiplas referências, e que significa literalmente, “A luz de Deus em mim saúda a luz de Deus em ti”.
Agradeço desde já a amabilidade de me terem deixado entrar nas suas e vossas vidas; que o mes-mo Deus que une Hindus e Cristãos vos abençoe e vos dê a sua paz,